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Acto 1
(Música alusiva ao Natal)
(Em casa do cavaleiro, toda a família está reunida, na noite de Natal)
Acto 2
(Música alusiva à espiritualidade)
(Na Primavera, o Cavaleiro partiu para a Terra Santa e visitou um por um os lugares
santos. Na noite de Natal dirigiu-se para a Gruta de Belém.)
Cavaleiro – Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa
vontade. Pelo fim das guerra, pela paz, pela alegria do mundo. Obrigado por
fazeres de mim um homem de boa vontade, capaz de amar os outros.
(Mesma música)
Cavaleiro (e outros peregrinos) – Vamos para o Porto de Jafa, para depois cada
um voltar para a sua casa.
Acto 3
( Só embarcou no mês de Fevereiro, no porto de Jafa, por causa do mau tempo, para
Itália. Durante a viagem conheceu o Mercador de Veneza.)
(Já no mar, foram surpreendidos por uma tempestade. Ao fim de cinco dias, a
tempestade passou e chegaram a Ravena)
Cavaleiro – Não nos faltava mais nada, uma tempestade em pleno oceano! E eu
não sei nadar!
Mercador – Vamos manter a calma! Não nos adianta nada lamentar. Rezemos
um pouco em silêncio.
Acto 4
(Chegam a Ravena)
Cavaleiro – Que bonita cidade , estou espantado com tanta igrejas. Ficarei aqui
à espera de outro barco, para regressar a casa.
Mercador - Não fiques aqui à espera de outro navio vem comigo até Veneza.
(O Cavaleiro e o Mercador foram para Veneza que nesse tempo era uma das cidades
mais poderosas e bonitas do mundo. Os palácios estavam construídos à beira do mar
sobre pequenas ilhas e estacas.)
(Na Varanda)
(História de Vanina)
Mercador – Era uma vez um homem chamado Jacob Orso, tutor de Vanina, que
quando esta era criança, a prometeu em casamento ao seu parente Arrigo, mas
quando ela chegou aos 18 anos, não quis casar com ele.
Então Orso fechou-a em casa, só podia ir à missa. Durante os dias de semana,
ficava no palácio a bordar, sempre espiada pelas suas aias. Mas uma noite,
quando penteava os seus cabelos, passou na sua gôndola Guidobaldo, um
homem que não temia Jacob Orso.
Guidobaldo – Para tão belos cabelos seria preciso um pente de oiro.
Guidobaldo – Tens este que te trago e que mesmo de oiro brilha menos do que
o teu cabelo.
Mercador - Daí em diante Vanina passou a ter um namorado, assim que soube
Jacob Orso mandou os seus lacaios matar Guidobaldo.
Cavaleiro – Não, tenho que partir, pois prometi à minha família que estaria com
eles no Natal.
(E montado num belo cavalo o Cavaleiro partiu para Florença. O cavaleiro ficou
espantado com a sua beleza. Havia muitos palácios, igrejas e estátuas. Dirigiu-se para
casa do Banqueiro Averardo que era uma bela casa, mas não tinha tanto luxo como os
palácios de Veneza. Nas paredes havia quadros maravilhosos e também havia uma
biblioteca cheia de livros antiquíssimos).
Acto 5
Filippo - Dante foi o maior poeta de Itália que conhecia os segredos deste
mundo e do outro, pois viu vivo aquilo que nós só veremos depois de mortos.
Filippo - Quando Dante tinha nove anos de idade, viu um dia na rua uma
rapariguinha muito bela que era da sua idade. Chamava-se Beatriz, era a
criança mais bela de Florença. Dante amou-a desde essa idade. Mas passados
alguns anos, Beatriz morreu. A morte de Beatriz fez com que Dante começasse
uma vida cheia de loucuras e de erros. Até que um dia, numa Sexta-feira Santa,
dia 8 de Abril de 1300, Dante perdeu-se no meio de uma floresta escura e
selvagem. Aí apareceu-lhe um leão, um leopardo e uma loba. Dante olhou à sua
volta e viu passar uma sombra a falar com ele, era a sombra de Virgílio, o poeta
morto há mais de mil anos e que vinha da parte de Beatriz para o guiar até ao
lugar onde ela o esperava. Dante seguiu Virgílio. Passaram sob a porta do
Inferno, depois atravessaram os nove círculos onde estão os condenados.
Depois de terem percorrido todos os abismos do Inferno, voltaram à luz do sol
e chegaram ao Purgatório. Aí, Dante e Virgílio viram as almas que através de
penitências e preces vão a caminho do Paraíso. Até que chegaram ao Paraíso
Terrestre, onde Dante tornou a ver Beatriz. Beatriz vinha num carro puxado por
um animal metade leão metade pássaro, chamou Dante e disse que o mandara
chamar para o curar dos seus erros e pecados, e disse que o ia levar consigo
para o céu para que ele visse a felicidade e a alegria dos bons e dos justos.
Seguindo Beatriz, Dante atravessou os nove círculos, passou entre estrelas e
planetas rodeados de anjos. Quando chegou ao décimo céu, Beatriz despediu-se
de Dante e disse para ele voltar à terra e escrever num livro, todas as coisas que
vira, para ensinar os homens a detestar o mal e a desejar o bem. Dante voltou e
cumpriu a vontade de Beatriz. Escreveu um poema chamado “A Divina
Comédia” no qual contou a sua viagem. Quando Dante passava na rua as
pessoas olhavam e comentavam.
Cavaleiro - Esta história é extraordinária! Tenho a certeza que Dante passou a
ser um homem conhecido e respeitado.
Filippo - De facto, deveria ter sido assim, mas não foi. Quando Dante voltou,
encontrou a cidade mergulhada em grandes lutas políticas. Havia nesse tempo
dois partidos, o partido dos Guelfos e o partido dos Gibelinos. Dante pertencia
aos Gibelinos, em 1300 foi eleito para o Governo da Cidade. Tempos depois, o
seu partido foi vencido e o poeta foi exilado, e mais tarde, os seus inimigos
queriam que fosse queimado vivo. Mas, felizmente, nessa altura Dante
encontrava-se longe de Florença e conseguiu escapar à morte. Mas por causa
disso Dante nunca mais pode voltar para a sua cidade natal. E foi nesse exílio
separado de tudo, que Dante escreveu a “Divina Comédia”.
Cavaleiro – Fiquei maravilhado com esta história, mas por hoje chega. Parece-
me que vou ficar mais algum tempo nesta cidade magnífica, quero conhecer as
suas ruas, as suas praças, os seus conventos, os seus palácios, as suas bibliotecas
e suas igrejas.
Banqueiro - Faz como entenderes, tens aqui uma casa à tua disposição!
(Saem.)
(Passado um mês.)
(O cavaleiro só parava para dormir e comer, pois ansiava chegar a casa, finalmente
chegou a Antuérpia.)
(O Cavaleiro bate à porta.)
Acto 6
Cavaleiro – Trago aqui uma carta do Banqueiro Averardo, de quem sou amigo.
Cavaleiro – Que boa comida! Tem um óptimo sabor, o paladar é diferente! Não
conheço estas especiarias!
Negociante Flamengo – Vê-se que não conheces o novo mundo! (rindo) Daqui a
pouco, vai chegar alguém que te vai contar histórias ainda mais misteriosas do
que aquelas que já ouviste até agora.
(Passado pouco tempo chegou um homem com 3 cofres e pousou-os em cima da mesa
com mercadorias trazidas da sua viagem. Sentaram-se os três.)
Negociante Flamengo – Este é um dos capitães dos meus navios! Chegou agora
de uma das suas viagens.
Capitão – Estas são amostras das mercadorias que trago.
Capitão - Desde muito novo que sigo a carreira de marinheiro. Viajo sobretudo
entre Flandres e os portos da Península Ibérica. Um dia resolvi ir para as
expedições Portuguesas e depois parti numa caravela para ir explorar África e
dobrámos o Cabo Bojador. Os marinheiros que desembarcavam, não eram bem
recebidos pelos nativos. Havia paragens onde os africanos e os Portugueses já
se conheciam e negociavam. O entendimento entre ambas as partes, muito
poucas vezes avançava, não entendiam as respectivas línguas, e este
desentendimento das línguas causou muitas mortes. Um dia, a caravela
ancorou em frente de uma larga e bela baía, cheia de maravilhosos arvoredos.
Na longa praia de areia branca e fina, um grupo de negros espreitavam o navio.
Então, o capitão mandou dois batéis para tentarem estabelecer contacto com os
africanos. Quando os batéis tocaram na areia, os negros fugiram e
desapareceram no arvoredo. Talvez tenha tido medo porque nós éramos muitos
e eles eram poucos. Pêro Dias, um português, pediu aos companheiros que lhe
deixassem um batel e fossem todos no outro e se afastassem da praia. Mas os
companheiros acharam este plano muito arriscado e não o quiseram aceitar,
mas como ele insistiu muito, eles acabaram por fazer como ele queria. Pêro Dias
caminhou sozinho até meio da praia e ali colocou panos coloridos que tinha
trazido como presente. Depois recuou até à beira do mar e encostou-se ao batel.
Depois apareceu um homem negro que aceitou a oferta, sorrindo. Caminharam
ao encontro um do outro e ele disse-lhe que queria paz e ele respondeu com
palavras desconhecidas. Então Pêro Dias comunicou com ele por gestos, mas
também não deu resultado. Então resolveu cantar e dançar e aí o negro seguiu o
seu exemplo, contudo ele ergueu a sua espada e o negro teve medo e fugiu. Mas
Pêro Dias conseguiu alcançá-lo e o negro que começara a debater-se
assustadamente , fê-lo furiosamente. Com gritos roucos respondia às palavras
que o tentavam apaziguar. No mar, os seus companheiros viam tudo e vierem
socorrê-lo. O negro com medo de estar cercado, apontou a lança a Pêro Dias e
ambos caíram trespassados. Os seus companheiros foram até ele e viram-nos
estendidos no chão a sangrar e um deles disse:« -Olhem, o sangue deles é
exactamente da mesma cor ». Os dois corpos foram sepultados ali mesmo, na
praia, e com uma lança e a espada, os marinheiros fizeram uma cruz espetada
na areia entre os túmulos.
(Silêncio.)
Cavaleiro - As histórias dos mares, das ilhas, dos povos desconhecidos e dos
países distantes são maravilhosas. Mas prometi chegar este Natal a minha casa,
vou partir amanhã.
Cavaleiro – Vai! Mas prometi à minha família chegar no Natal e não os posso
desapontar! Gostei muito de o conhecer e da sua hospitalidade, mas agora é
tempo de partir!
(Música a acompanhar )
Acto 7
(Caminhou durante longas semanas. Enrolava-se bem no capote forrado de peles que
comprara em Antuérpia)
Amigo – Estão à tua espera, afligem-se pela tua demora e rezam pelo teu
regresso.
Velho de grandes barbas – É tarde, o dia já escureceu. Vai nevar e de noite não
poderás caminhar.
Cavaleiro – Não posso! Prometi que estaria hoje em minha casa. Adeus tenho
de partir.
(Montou o cavalo e seguiu o seu caminho, a cair neve tão espessa e cerrada que o
cavaleiro mal via.)
Cavaleiro – Era melhor voltar para trás. Mas se eu não chegar hoje, a minha
família pensará que morri ou me perdi. Passará um Natal de tristeza e aflição. É
preciso que eu chegue hoje.
(Sons)
(O cavaleiro ouvia os lobos a moverem-se em leve passos sobre a neve, sentia sua
respiração ardente e ansiosa, adivinhava o branco cruel dos seus dentes agudos.)
(Sons)
(E ao som destas palavras os olhos recuaram e desapareceram. Mas adiante ouviu-se o
ronco de um urso. O cavaleiro estancou a sua montada e a fera aproximou-se. Vinha de
pé e pousou as patas da frente no pescoço do cavaleiro. O homem ouviu-o respirar,
sentiu a seu pêlo tocar-lhe a mão e viu a um palmo de si o brilho dos pequenos olhos
ferozes.)
(Sons)
(Então o bicho recuou pesadamente e grunhindo desapareceu. E continuou a caminhar
para a frente)
(continuou a caminhar)
Cavaleiro – Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa
vontade.
( continua a caminhar)
Cavaleiro – Deus seja louvado! (murmurou) deve ser algum lenhador perdido
como eu que acendeu uma fogueira. A minha reza foi ouvida. Junto do lume e
ao lado de outro homem poderei esperar pelo nascer do dia.
(Recomeçou a avançar)
(Quando chegou em frente da claridade, viu que não era uma fogueira, era um abeto
escuro, a maior árvore da floresta, estava coberta de luzes.)
(Música final)