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Pensando sobre um outro aspecto dentro do tema Graça, lembreime da narrativa da
criação nos capítulos 1, 2 e 3 de Gênesis que servirá de base para esse assunto.
Segundo o texto bíblico, no princípio Deus tinha um acordo com o homem. O acordo
era o seguinte: o homem governaria toda a criação e Deus governaria o homem. Mas todos sabemos
que este foi seduzido por uma proposta que continua sendo irresistível nos dias de hoje: ser igual a
Deus. Ter poder parece ser um desejo que continua dentro do homem, em alguns de forma latente
como nos ditadores, nos manipuladores e opressores; em outros, um desejo escondido no
subconsciente mas que determina suas atitudes.
Mas que ligação tem isso com a Graça?
Bem, o aspecto que quero abordar da Graça neste texto, é o da liberdade para o próximo.
Sabemos que a liberdade sempre é comprada com um alto preço. No caso dos cristãos,
segundo a nossa fé, a liberdade foi conquistada com um preço altíssimo: a morte de Jesus Cristo
numa cruz. Então quando pensamos num preço tão alto, nos dispomos a qualquer coisa para fazer
valer essa liberdade. O problema é que, com o intuito de manter a liberdade, muitas vezes alguns
tiramna de outras pessoas! Sempre que privamos alguém de decidir sobre sua própria vida,
também o privamos da liberdade. E sempre que forçamos alguém a uma direção, que pode até ser
boa, roubamoslhe também a liberdade de escolher. É algo muitas vezes sutil que não percebemos, e
que alguns fazem porque “amam” (esse tipo de “amor” seria um bom tema para outro texto). Com o
desejo de ver o bem de alguém, sem perceber, podemos cometer o pecado de interferir na
particularidade de sua vida e de sua decisão.
No princípio, Deus pôs o homem e sua mulher num jardim no Éden e os cercou de
bençãos. Mas um detalhe importante é que, o mesmo Deus que fez isso, também pôs no jardim uma
árvore que poderia trazerlhes a morte espiritual e a consequente quebra da comunhão. E esta estava
ao lado da árvore da vida.
Parece um descuido mortal da parte de Deus, mas não é. O que podemos ver ali é uma
grandiosa lição de Graça! Deus estava dando ao homem a oportunidade de ser aquilo que fora
criado para ser: humano! E com isso, estava dando a oportunidade de errar. Isso mesmo, a
oportunidade de errar, pois isso marcaria definitivamente o maior presente que o homem recebeu, o
livre arbítrio. Sem a oportunidade de errar o homem seria apenas uma marionete nas mãos de Deus.
Isso é Graça! É também dar e garantir aos outros o direito de escolher o que querem de
suas vidas sem nenhum tipo de manipulação. E vemos isso em Cristo, dandonos hoje a
oportunidade de escolher entre uma vida com ele, ou uma vida sem ele. E mesmo que escolhamos
viver sem ele, não recebemos dele nenhuma discriminação ou acusação, ainda que também sejamos
responsáveis pelas consequências de nossa escolha.
Enquanto pensava sobre isso, lembreime de algo que li no livro “O despertar da graça”
de Charles Swindoll. Tratase de um poema de autor desconhecido:
Deixar partir
“Deixar alguém partir não significa não se importar, significa que não posso fazer algo
por outra pessoa.
Deixar alguém partir não significa afastarme, mas a compreensão de que não posso
controlar a outrem.
Deixar partir é admitir falta de poder, o que significa que o resultado não está em
minhas mãos.
Deixar partir não é tentar mudar ou culpar a outrem, só posso mudar a mim mesmo.
Deixar partir não é cuidar de alguém, mas se preocupar com alguém.
Deixar partir não é fazer, mas apoiar.
Deixar partir não é julgar, mas permitir que o outro seja um ser humano.
Deixar partir não é ficar no meio providenciando todos os resultados, mas permitir que
os outros preparem os seus próprios resultados.
Deixar partir não é ser protetor; é permitir que outrem enfrente a realidade.
Deixar partir não é negar, mas aceitar.
Deixar partir não é importunar, repreender, discutir, mas examinar minhas próprias
falhas e corrigilas.
Deixar partir não é ajustar tudo aos meus desejos, mas aceitar cada dia como ele é.
Deixar partir não é criticar e regular quem quer que seja, mas tentar tornarme aquilo
que sonho ser.
Deixar partir não é lamentar o passado, mas crescer e viver para o futuro.
Deixar partir é temer menos e amar mais!”
Então, pensando nisso, quero propor com esse texto que sejamos tão amantes da
liberdade, que possamos desejála para os outros tão intensamente e com a mesma paixão com que
nos agarramos a ela quando brilhou em nossa noite e nos mostrou que havia um horizonte de
oportunidades à nossa frente.
Nelício Júnior
09/02/2010