Vous êtes sur la page 1sur 8

2010: marco do crescimento do poder das mulheres brasileiras

José Eustáquio Diniz Alves1

Introdução

O ano de 2010 vai entrar para a história da luta das mulheres pela conquista de mais espaços de
poder na política. O Brasil, que ocupava um vergonhoso lugar no bloco dos lanterninhas no ranking
internacional de participação feminina nos poderes Legislativo e Executivo, pode mudar o quadro
de sub-representação e iniciar um novo capítulo rumo à conquista da paridade de gênero nos
espaços de decisão das políticas públicas.

As mulheres brasileiras já são maioria no número de eleitores no país, desde o ano 2000. A cada
ano que passa se consolida e se amplia o poder de voto do eleitorado feminino. A cada nova eleição
cresce o número de candidatas e eleitas e aumenta o time de mulheres experientes nos cargos de
direção e com amplo respaldo da opinião pública. Não é de se estranhar, portanto, que duas
mulheres – Dilma Rousseff e Marina Silva – tenham conseguido ocupar o pódio da corrida
presidencial, em uma campanha que conta com dez homens candidatos e somente duas mulheres.

As questões de gênero entraram definitivamente para a pauta da mídia. No dia 10 de abril, o


jornalista Fernando Rodrigues, do jornal Folha de São Paulo mostrou como o eleitorado feminino
tem um comportamento eleitoral diferente do eleitorado masculino e como é necessário as
candidaturas responderem aos anseios das mulheres. Em seguida, a ex-prefeita de São Paulo, Marta
Suplicy, respondeu sobre o assunto, em entrevista à repórter Ana Flor (Folha de São Paulo,
13/04/2010). No dia 25 de abril, o jornalista Gilberto Scofield, de O Globo, publicou artigo
afirmando que “Mulheres vão decidir a eleição”, especialmente as balzaquianas, isto é, aquelas com
mais de 30 anos de idade. Dando continuidade, os meses seguintes foram ricos em reportagens e
artigos sobre as questões de gênero e política, abrindo-se a temporada de análises que têm
contribuído para retirar as questões eleitorais femininas da escuridão e da invisibilidade.

Finalmente, o Brasil percebe que não pode jogar para debaixo do tapete o grave problema das
desigualdades de gênero. E mais importante, o país começa a perceber que as desigualdades entre
homens e mulheres na política podem ser superadas em um curto espaço de tempo. Novos
horizontes se abrem e a equidade na política entre os dois sexos deixou de ser uma fantasia
inimaginável e está mais próximo do que se costumava sonhar.

Envelhecimento e feminização do eleitorado brasileiro

Em decorrência das mudanças demográficas, o Brasil deixou de ser uma nação predominantemente
jovem. O país assistiu, desde o início do século XX, a uma queda das taxas de mortalidade e, em
um segundo momento, a uma queda das taxas de natalidade. Este fenômeno conhecido como
transição demográfica teve e continuará tendo reflexos no século XXI, com a mudança da estrutura
etária e o processo de envelhecimento populacional. Paralelamente, devido ao fato das mulheres
terem menores taxas de mortalidade e serem mais longevas, existe também o fenômeno da

1
Doutor em Demografia e Professor titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE. Tel: (21) 2142
4689 E-mail: (jed_alves@yahoo.com.br).

1
feminização da população brasileira, isto é, a cada ano cresce o superávit de mulheres no país,
conforme pode ser observado gráfico 1, que mostra as pirâmides demográficas do Brasil para os
anos de 1980 e 2010. Nota-se que a base da pirâmide está se reduzindo e o lado direito (das
mulheres) ficando maior do que o lado esquerdo (dos homens), principalmente nas idades
superiores.

Gráfico 1: Pirâmides etárias brasileiras, 1980 e 2010


1980 2010
80+ 80+
70-74 70-74
60-64 60-64
50-54 50-54
40-44 40-44
30-34 30-34
20-24 20-24

10-14 10-14

0-4 0-4
(10000) (8000) (6000) (4000) (2000) 0 2000 4000 6000 8000 10000 (10000) (8000) (6000) (4000) (2000) 0 2000 4000 6000 8000 10000

Fonte: IBGE, 2008 (atualização das projeções populacionais)

O processo de feminização e envelhecimento da população brasileira tem um reflexo imediato sobre


o eleitorado brasileiro. Segundo dados do TSE, o número de brasileiros aptos a votar em fevereiro
de 2010 era de 132,6 milhões de eleitores, sendo que 55,98 milhões tinham entre 16 e 34 anos,
representando 42% do eleitorado; e 76,64 milhões tinham 35 anos ou mais, representando 58% do
eleitorado.

Gráfico 2: Percentagem de mulheres no eleitorado brasileiro, por grupos de idade, 1992 e 2010
55,00
% de mulheres no eleitorado

50,00

45,00
Total 16-17 18-24 25-34 35-44 45-59 60-+
Grupos etários

fevereiro 2010 outubro 1992

Fonte: TSE, 1992 e 2010

2
Este envelhecimento ocorreu com mais destaque para o sexo feminino. O gráfico 2 mostra que, em
outubro de 1992, as mulheres eram menos de 50% do eleitorado em todos os grupos etários. Porém,
em fevereiro de 2010, as mulheres já tinham ultrapassado a barreira dos 50% em todas as idades,
especialmente aquelas acima de 35 anos. O destaque deste processo encontra-se no grupo etário de
60 anos e mais, já que em 1992 as mulheres eram apenas 47,9% e passaram, em 2010, para 54,8%.

O gráfico 3 mostra como se deu a reversão do hiato de gênero entre o eleitorado brasileiro. Em
outubro de 1988, quando foi promulgada a Constituição Brasileira, havia 38,3 milhões de homens
registrado no cadastramento eleitoral e 37,2 milhões de mulheres, que representavam 49,2% do
eleitorado. Em 1998, aconteceu a última eleição em que as mulheres foram minoria do eleitorado
(49,9%). As eleições do ano 2000 foram as primeiras, na história do Brasil, com maioria feminina
(50,6%), pois houve 54,2 milhões de homens e 55,4 milhões de mulheres.

Gráfico 3: Evolução do número de eleitores (em milhões), segundo sexo. Brasil, 1988-2010
80
70
Eleitores/as em milhões

60
50
40
30
20
10
0
1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010
Anos eleitorais (mes de outubro)

Homens Mulheres

Fonte: TSE, vários anos

Esta diferença em favor das mulheres cresceu rapidamente e, em fevereiro de 2010, as mulheres já
superam os homens no eleitorado em aproximadamente 5 milhões de votos. Em 22 anos, as
mulheres praticamente dobraram sua força eleitoral, passando de 37 milhões, em outubro de 1988,
para quase 70 milhões de eleitoras, em maio de 2010.

Desta forma, nota-se que o eleitorado brasileiro tem se tornado, progressivamente, mais
envelhecido e mais feminino. As mulheres de 35 anos ou mais constituem 30,3% do eleitorado
brasileiro, segundo dados do TSE para fevereiro de 2010. Ou dito de outra forma: as mulheres
“balzaquianas” vão ter um peso cada vez maior no processo eleitoral brasileiro, influindo na decisão
do voto e na agenda dos candidatos. Já não há como ignorar o poder de voto das mulheres.

3
Mulheres candidatas à Presidência e “indecisão” do voto

A primeira mulher a disputar a Presidência da República, no Brasil, foi Lívia Maria Ledo Pio de
Abreu, do Partido Nacionalista (PN), em 1989. Na cédula eleitoral havia 22 candidatos, sendo
apenas uma mulher, que terminou o primeiro turno em 16º lugar, com 190 mil votos. Na eleição de
1994 não houve mulheres na disputa. Em 1998, Thereza Ruiz, do Partido Trabalhista Nacional
(PTN) disputou a Presidência em uma lista com 12 homens, conseguindo 166 mil votos, ou 0,24%
do eleitorado. Na eleição de 2002 não houve mulheres na disputa. Nas eleições passadas, de 2006, a
ex-senadora Heloísa Helena, concorrendo pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) conquistou
6,5 milhões de votos, cerca de 7% do eleitorado brasileiro. Até hoje foi a mulher que mais obteve
votos numa disputa presidencial. Também concorreu à Presidência, em 2006, Ana Maria Rangel, do
Partido Republicano Progressista (PRP), que obteve 126 mil votos, correspondentes a 0,13% do
total de votos, o pior resultado obtido por uma mulher até hoje.

Nas eleições de 2010, existem duas mulheres e dez homens concorrendo à Presidência da
República. Os dez homens são: Américo de Souza (PSL), Ivan Pinheiro (PCB), José Maria Eymael
(PSDC), José Serra (PSDB), Levy Fidelix (PRTB), Mario de Oliveira (PT do B), Oscar Silva
(PHS), Plinio de Arruda Sampaio (PSOL), Rui Costa Pimenta (PCO), e Zé Maria (PSTU). Na
pesquisa do Instituto Vox Populi, de maio de 2010, o ex-governador de São Paulo, José Serra ficou
com 35% das intenções de voto. Os outros 9 “nanicos” juntos não pontuaram, e no máximo devem
somar 3% dos votos. Portanto, somando a intenção de votos de todos os homens, a percentagem
fica em torno de 38% no total.

Já as mulheres candidatas são somente duas, mas Dilma Rousseff (PT) com 38% de intenções de
voto e Marina Silva (PV) com 8%, somam um total de 46% de intenções de voto, fazendo com que
as candidaturas femininas, na pesquisa Vox Populi de meados de maio, tenham maior simpatia do
eleitorado do que as candidaturas masculinas. Na pesquisa IBOPE/CNI, realizada entre os dias 18 e
21 de junho de 2010, as duas mulheres atingiram 49% das intenções de votos totais, representando
mais de 50% dos votos válidos. Este fato representa uma grande novidade no cenário político
nacional, como veremos mais à frente.

Uma tendência recorrente nas eleições presidenciais do Brasil, durante a Nova República, é o maior
percentual de intenção de votos brancos, nulos, nenhum e não sabe entre as mulheres. As pesquisas
eleitorais ocorridas em 2010 mostram que as mulheres superam os homens quando se trata de
intenção de voto branco, nulo, nenhum ou não sabe. Ou seja, as mulheres são menos propensas a
definir o voto nas candidaturas presidenciais, pelo menos antes da decisão final no segundo turno.

Alguns políticos e analistas interpretam este fenômeno como fazendo parte de um processo de
fraqueza feminina, pois as mulheres seriam mais indecisas e, de certa forma alienadas da política.
Elas acompanhariam menos os noticiários políticos e tenderiam a seguir os homens (pais, maridos,
colegas de trabalho, vizinhos, lideranças locais, etc.) na hora de definir o voto. Por isto, elas estão
sempre atrás no processo de definição do voto e apresentam maiores taxas de indecisão. Desta
forma, a candidatura que conquistasse os homens, levaria as mulheres a reboque.

Contudo, gostaria de apresentar uma outra interpretação. Considero que a recusa em definir o voto
com rapidez deve ser uma reação feminina ao fato da maioria das mulheres estar alijada dos cargos
de direção dos partidos e do governo. Pode ser uma reação também à linguagem da política, que é

4
muito machista e dominada por um discurso falocêntrico e que privilegia a agenda masculina. Desta
perspectiva, as mulheres resistem em definir o voto em função do seu alijamento do processo
político e da falta de uma liderança que seja capaz de tocar o “coração e mente” do eleitorado
feminino. Ao invés de serem indecisas, as mulheres, na realidade, são exigentes e não seguem
integralmente o caminho apontado pelos homens.

Um exemplo de como as mulheres são alijadas da política pode ser ilustrado pelo baixo número de
mulheres nas direções dos partidos e pela pouca divulgação dos temas relacionados às
desigualdades de gênero nos programas eleitorais e no cotidiano das práticas políticas. Além de
tudo, os constantes escândalos de corrupção e a má gestão da coisa pública afastam o interesse das
pessoas, em geral, e das mulheres, em particular, com o acompanhamento das ações
governamentais e o processo legislativo.

Desta forma, não é de se surpreender com o fato das mulheres apresentarem menor interesse com a
política, esta política tal como é feita hoje no Brasil. De fato, as mulheres são excluídas das
instâncias de decisão dos partidos e dos espaços do poder e depois são acusadas de serem eleitoras
alienadas da política. Contudo, este quadro pode mudar nas eleições de 2010, tanto nas eleições
majoritárias, quanto nas proporcionais.

As pesquisas de intenção de voto e a conquista da liderança feminina

Os gráficos seguintes mostram os resultados das pesquisas de intenção de voto, de quatro Institutos,
para as três principais candidaturas à Presidência, entre janeiro e junho de 2010. Os dados são do
cenário sem Ciro Gomes. São apresentadas, de maneira agregada, as alternativas de voto branco,
nulo, nenhum, não sabe (Branco/nulo/N/NS). A vantagem de se analisar pesquisas de diversos
institutos, ao longo do tempo, é evitar a sazonalidade e as inevitáveis diferenças amostrais e
metodológicas. A reta linear representa a média das pesquisas e aponta para as tendências das
intenções de voto no longo prazo.

O gráfico 4 mostra as intenções de voto para o eleitorado total (ambos os sexos) no primeiro
semestre de 2010. Nota-se que nos meses de janeiro e fevereiro o candidato José Serra (PSDB)
tinha cerca de 40% das intenções de voto, Dilma Rousseff (PT) tinha menos de 30% e Marina Silva
(PV) tinha cerca de 9%. As intenções de voto branco, nulo, nenhum e não sabe estavam acima de
20%. Nos meses seguintes, a despeito de algumas oscilações, houve uma clara tendência de queda
do candidato José Serra e uma tendência de subida da candidata Dilma Rousseff, enquanto a
candidata Marina Silva se manteve constante no mesmo patamar de 9%. Em parte a subida de
Dilma se deve à diminuição da intenção de votos branco/nulo/nenhum/não sabe, mas por outra parte
se deve à conquista de votos antes declarados para o candidato do PSDB. São duas retas espelhadas,
uma – a de Serra – apontada para baixo e a outra – a de Dilma – apontada para cima.

A candidata do PT assumiu a liderança da corrida eleitoral no mês de maio e se beneficiou da saída


oficial do ex-candidato Ciro Gomes, da transmissão do programa do PT na mídia e da forte defesa
realizada pelo Presidente Lula em prol de sua ex-ministra da Casa Civil. Todas as pesquisas
apontam que a maioria do eleitorado tende a votar no candidato indicado pelo Presidente Lula e são
mais favoráveis à continuidade das políticas do atual Governo Federal.

5
Gráfico 4: Intenção de voto para as três principais candidaturas à Presidência da República nas
eleições de 2010, segundo 15 pesquisas nacionais, para o eleitorado total (ambos os sexos), Brasil
Eleitorado total
45

40

35

30

25

20

15

10

0
Vox Sensus Ibope Data Ibope Data Vox Sensus Data Ibope Vox Sensus Data Ibope Ibope
17/01 29/01 09/02 25/02 10/03 26/03 31/03 09/04 16/04 16/04 13/05 14/05 21/05 03/06 21/06
Serra Dilma Marina
Branco/nulo/N/NS Linear (Serra) Linear (Dilma)
Linear (Marina) Linear (Branco/nulo/N/NS)

Fonte: 15 pesquisas de intenção de voto de quatro institutos: DataFolha, Vox Populi, Ibope e
Sensus, de janeiro a junho de 2010. A data no eixo da abscissa é do último dia da pesquisa.

O gráfico 5 mostra os mesmos dados do gráfico anterior, mas para o eleitorado masculino. Nota-se
que Dilma já havia ultrapassado Serra no mês de abril e ampliou a diferença nos meses seguintes.
Na pesquisa Ibope, divulgada dia 23 de junho, a diferença era de 10 pontos percentuais, pró Dilma.

Gráfico 5: Intenção de voto para as três principais candidaturas à Presidência da República nas
eleições de 2010, segundo 15 pesquisas nacionais, para o eleitorado masculino, Brasil
Eleitorado masculino
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Vox Sensus Ibope Data Ibope Data Vox Sensus Data Ibope Vox Sensus Data Ibope Ibope
17/01 29/01 09/02 25/02 10/03 26/03 31/03 09/04 16/04 16/04 13/05 14/05 21/05 03/06 21/06

Serra Dilma Marina Branco/nulo/N/NS

Linear (Marina) Linear (Dilma) Linear (Serra) Linear (Branco/nulo/N/NS)

Fonte: 15 pesquisas de intenção de voto de quatro institutos: DataFolha, Vox Populi, Ibope e
Sensus, de janeiro a junho de 2010. A data no eixo da abscissa é do último dia da pesquisa.

6
O gráfico 6 mostra os dados de intenção de voto para o eleitorado feminino. Nota-se que, o
candidato Serra se manteve à frente nas intenções de voto, entre as mulheres, ao longo do primeiro
semestre de 2010, embora a diferença tenha apresentado uma tendência de redução. No mês de
janeiro, a diferença entre Serra e Dilma, no eleitorado feminino, era algo em torno de 15 pontos
percentuais, caindo para algo em torno de 5% no mês de maio, sendo que a pesquisa Ibope,
divulgada dia 23 de junho, indicou empate entre os dois primeiros colocados na disputa eleitoral. A
tendência linear da média das pesquisas indica que a ultrapassagem da candidata Dilma, também no
eleitorado feminino, é apenas uma questão de tempo.

Gráfico 6: Intenção de voto para as três principais candidaturas à Presidência da República nas
eleições de 2010, segundo 15 pesquisas nacionais, para o eleitorado feminino, Brasil
Eleitorado feminino
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Vox Sensus Ibope Data Ibope Data Vox Sensus Data Ibope Vox Sensus Data Ibope Ibope
17/01 29/01 09/02 25/02 10/03 26/03 31/03 09/04 16/04 16/04 13/05 14/05 21/05 03/06 21/06
Serra Dilma Marina Branco/nulo/N/NS

Linear (Serra) Linear (Dilma) Linear (Marina) Linear (Branco/nulo/N/NS)

Fonte: 15 pesquisas de intenção de voto de quatro institutos: DataFolha, Vox Populi, Ibope e
Sensus, de janeiro a junho de 2010. A data no eixo da abscissa é do último dia da pesquisa.

O fato de a candidata Dilma ter ficado, praticamente todo o primeiro semestre de 2010, atrás do
candidato Serra nas intenções de voto, entre o eleitorado feminino, mesmo após ter ultrapassado
entre os homens, gerou muitas análises e discussão. De fato, é, no mínimo, inesperado haver uma
mulher vencendo entre o eleitorado masculino e um homem vencendo entre o eleitorado feminino.

Uma hipótese aventada foi de que mulher não vota em mulher. Contudo, não existe base empírica
que sustente esta hipótese. As mulheres não votaram em mulheres no passado, para a Presidência,
porque, como vimos, existiam poucas alternativas. Mas, havendo candidatas competitivas, o quadro
muda. É o que mostram as últimas pesquisas que apontam Dilma e Marina na frente dos dez
candidatos masculinos que concorrem à Presidência da República, em 2010.

O fato de Dilma ter uma preferência maior entre o eleitorado masculino está ligado a dois fatores:
1) o PT sempre teve menos votos no eleitorado feminino, mesmo quando Lula era candidato; 2)
existe uma maior parcela de mulheres que ainda não definiram o voto, mas que não foram
convencidas ainda a votar nas candidatas mulheres. Portanto, os três meses finais da campanha vão

7
ser decisivos para a conquista desta parte do eleitorado que pode definir quem vencerá a disputa
eleitoral e se a mesma será resolvida no primeiro ou no segundo turno.

Conclusões

O ano de 2010 ficará marcado com destaque na longa trajetória de conquistas de espaços no poder,
por parte das mulheres. Nas eleições proporcionais deve haver um expressivo aumento de mulheres
candidatas e, provavelmente, eleitas, pois a nova redação da política de cotas (Lei 12.034, de 29 de
setembro de 2009, que regula as eleições de 2010) mudou o verbo “reservar” para “preencher”. Este
fato deve obrigar os partidos a lançarem e investirem nas candidaturas femininas para deputadas
estaduais e federais, com a possível redução do déficit democrático de gênero no Poder Legislativo.

Porém, a maior conquista pode acontecer no Poder Executivo. As últimas pesquisas confirmam as
tendências que mostram que o Brasil poderá ter uma mulher no comando do Palácio do Planalto. A
candidata Dilma Rousseff tem maiores chances de vencer as eleições deste ano, pois existe um
desejo de continuidade por parte do eleitorado que percebe que o Brasil conseguiu melhorar o
desempenho econômico, especialmente nos últimos 6 anos, com redução da pobreza e das
desigualdades sociais, territoriais, de gênero, etc. Além disto, a candidata do PT conta com o apoio
de um Presidente com alta popularidade e uma coligação partidária muito forte eleitoralmente.

A presença de mulheres no comando do Poder Executivo é fundamental para uma maior equidade
de gênero. Contudo, isto não basta. Para superar séculos de exclusão, além da presença feminina é
preciso uma agenda feminista que aponte caminhos para superar a segregação ocupacional e a
discriminação salarial no mercado de trabalho, políticas que garantam os direitos sexuais e
reprodutivos, ações para enfrentar todas as formas de violência contra as mulheres, etc. Ou seja, a
maior presença das mulheres na política, por si só, já é uma conquista histórica. Mas é apenas mais
um passo na longa luta para conquistar e implantar, em conjunto com os homens, uma sociedade
justa, próspera, socialmente inclusiva e com equidade de gênero.

Bibliografia

ALVES, J.E.D. A reversão das expectativas de gênero nas eleições 2010, IE-UFRJ, Rio de Janeiro,
09/04/2010. Disponível em:
http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/art_70_expectativa_de_genero.pdf
ALVES, J.E.D. Feminização e envelhecimento do eleitorado e as eleições 2010, IE-UFRJ, Rio de
Janeiro, 13/04/2010. Disponível em:
http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/feminizacao_e_envelhecimento_12abr10.pdf.pdf
ALVES, J.E.D, CORREA, S. Igualdade e desigualdade de gênero no Brasil: um panorama
preliminar, 15 anos depois do Cairo. In: ABEP, Brasil, 15 anos após a Conferência do Cairo,
ABEP/UNFPA, Campinas, 2009. Disponível em:
http://www.abep.org.br/usuario/GerenciaNavegacao.php?caderno_id=854&nivel=1
JORDÃO, F.P. O poder do voto feminino. Instituto Patrícia Galvão, SP, junho de 2010. Disponível:
http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=448&catid=80
PINTO, C. Por que mulher não vota em mulher, jornal Zero Hora, Porto Alegre, 06/05/2010.
http://expressaomulher.blogspot.com/2010/05/por-que-mulher-nao-vota-em-mulher-por.html

Vous aimerez peut-être aussi