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“obra foi publicacia originalmentte mt inglés com 0 titulo on COMPLETE CHRONICLES OF NARNIA por Harper Collins, Londres, 2001. pm anc de rece pre rie “0” St Oty er ee cog © CS tas PL 8 Fssetrinho do mago copyright © CS Lewis Pte Ltd 1955. vrceira eo guarda-roupa copyright © CS Lewis Pte Ltd 1950, O tees Alo cu aenino copyright © CS Lewis Pte Lid 1954, ° Principe Caspian copyright © CS Lewis Pte Ltd 1951. Pho Peregrino da Alvorada copyright ‘© CS Lewis Pte Ltd 195). Avasem cadeira de prata copyright © CS Lewis Pte Ltd 1953. ae i copurgnt © CS Lewis Pe Li 1956 vrei, Nami tes 0 tl des IC, Percongens as in en cde Nr a mares tan oe ee tessa Oo do Reino Unido deC. 5. Lee Pie Lid mia ra mares ay ear aces of Narn rie. 5. Lewis Pre registrada u uma marca regist 1950, 1951, 1952, 1953, 1954, 1955, 1956. Copyright das ‘tlustragdes de Pauline Baynes. Te nt Es ata ne rt Eatigto encadernada publicada emt 2002 a rere ree aaa nn ang Copyright Traduca PAULO MENDES CAMPOS SILEDA STEUERNAGEL (A itima batalha) Revisio da traducio Silvana Vieira Dados Intemacionais de Catalogacéo na Publicacéo (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Lewis, C. S., 1898-1963. ‘As cronicas de Narnia / C. S. Lewis ; [tradugao Siléda sreuemagel Paulo Mendes Campos ; ilustragées de Pauline Baynes}. ~ 2" ed, ~ Sao Paulo : Editora WMF Martins Fontes, 2008. ‘Titulo original: The complete chronicles of Narnia ISBN 978-85-7827-069-8 1. Literatura infanto-jtrvenil I. Baynes, Pauline. II, Titulo, 08-2262 cpp-0285, a catélogo sistematico: Indices ps 1. Literatura infantojuvenil 028.5 2. Literatura juvenil 028.5 ‘Todos os direitos desta ediga ad 8 igo reservados & ua Prof taerte Ritota WM Martins Fontes Ltda. erte Ramos de Carvalho, 133 01325.030 Sao Paulo SP. Brasil eal inferomp et ty 3299-8150 Fax (11) 3101.1042 insfontes.com.br http:/fwww.tomfmartinsfontes.com.br www.narnia.com Trés maneiras de escrever para criangas A meu ver, quem esereve para criancas pode abordar seu trabalho de trés maneiras: duas s4o boas, ¢ uma, em geral, é ma. A maneira ma, fiquei conhecendo ha pouco tempo, a partir de dois tes- cemunhos involuntarios. Um desses testemunhos me foi dado por uma sn nhora gue me enviou o original de um conto que ela havia escrito, no qual uma fada punha a disposiciio de uma crianca um mecanismo maravilhoso. Digo “mecanismo” porque nio se tratava de capa, anel ou chapéu magico, ou de alguma outra coisa tradicional. Era uma maquina, um aparelho cheio de registros, alavancas ¢ botdes que deveriam ser apertados. Se a crianga apertasse um boto, ganharia um sorvete; se apertasse outro, ganharia um. cdozinho de verdade, e assim por diante. Fui obrigado a dizer 3 autora, com toda a sinceridade, que eu nao gostava nem um pouco daquele tipo de cot sa. Ela respondeu: “Eu também nao gosto, acho muito aborrecido, Mas é isso que a crianga moderna quer.” O outro fato foi o seguinte: ro livro que escrevi, fiz uma longa descrigio de um ché complet pareceu delicioso — oferecido por um fauno hospitaleiro A min uma garotinha. Um homem, pai de varios filhos, no primei- ‘0 — que me ha heroina, me disse: “Ah, jd sei como teve essa ideia. Se vocé quisesse agradar a leitores adultos, escreveria uma cena de sexo. Entdo, decerto pensou: ‘Para criancas, nao da. Em vez de sexo, © que posso oferecer-thes? Ja sei! Os pirralhos adoram se encher de gulosei- mas.’ Na realidade, porém, eu é que gosto muito de comer e beber. Escrevi © que eu gostaria de ter lido quando crianca e que ainda gosto de ler agora, com mais de cinquenta anos. ‘Tanto a senhora do primeiro exemplo quanto o pai de familia do san ‘ a aes do concebem que escrever para criangas é um departamento especial, 0 741 | As crénicas de Narnia “dar ao piiblico o que ele quer”. As criangas, evidenteme, piblico especial; basta descobrir 0 que elas querem e | vente isso, por menos que nos agrade. ‘Uma outra maneira, a principio, pode parecer idénti penso que a semelhanca é superficial. Ea maneira de Lewis Ca an Grahame e Tolkien. O livro publicado nasce de uma Hien TOM Kens viva voz e talvez espontaneamente a uma determinada crianga contada FA visneira é semelhante & primeira porque o autor, sem duvida, ; A sepungs } crianga o que ela quer. S6 que nesse caso ele esta lidando eprocura dae sos concreta, uma crianga especifica que, evidentemente, é diferent, uma pe a outras. Nao concebe as “criangas”, de modo nenhum, como ae de today seeeanha cujos habitos ele precisa “identificar”, como faria um MP pie go ou um caixeiro-viajante. Também suspeito que nao seria Possivel pole fuente a frente, entreter a crianga com coisas calculadas para agra, eh 28sim, imag que 0 proprio autor visse com indiferenga ou desprezo. Tenho wea ela fe que a crianga nao se deixaria enganat. Quem estivesse contando se tera cena um pouquinho diferente por estar falando com uma crianga, ea a gas se tornaria um pouguinho diferente por estar ouvindo as palavras dy tim adulto. Nesses casos, cria-se um acordo, uma composigao de persona. lidades, da qual surge a historia. teyceira maneira, a vinica que sou capaz de usar, consiste em escrever uma histéria para criancas porque é a melhor forma artistica de expressar algo que vocé quer dizer. Do mesmo modo, um compositor pode criar uma Marcha Fiinebre, nao em vista de um funeral puiblico, mas porque certas ideias musicais que Ihe ocorreram se encaixam melhor nessa forma. Esse método pode ser aplicado a outros tipos de literatura infantil, e nao sé as historias, Ouvi dizer que Arthur Mee nunca conversou nem quis conver- sar com uma ctianca. Na opinido dele, era pura sorte os meninos gosta- sam de ler o que ele gostava de escrever. Pode ser que essa historieta tenha Sido inventada, mas ela ilustra o que quero dizer. Dentro da espécie “hist6ria para criangas”, a subespécie que por acaso me convinha era a fantasia, ou (num sentido bem amplo do termo) 0 conto te fadas. Evidentemente, existem outras subespécies. A trilogia de E. Nes- bit sobre a familia Bastable é um excelente espécime de outro tipo. uma “historia para criangas” no sentido de que as criangas podem Ié-la e, de fato, mas também é a Gnica forma pela qual E. Nesbit poderia nos trans- atmosfera da infancia. E verdade que as bém figuram, apresentadas de modo bem- rte, hes oft Oferecer gn Ym Ata, ca & Prime; a leem; mitir com tanta intensidade a criangas da familia Bastable tam! -sucedido do ponto de vista adulto, num dos romances que ela escreveu para adultos, mas nele s6 aparecem por um momento. Acho que ela n30 teria condigdes de manté-las. Quando escrevemos longamente sobre crian- ¢as vistas pelos olhos de adultos, o sentimentalismo tende a se introduzis, 742 Trés maneiras de escrever para criancas a realidade da infancia, tal como todos nés a vivemos, tende a Sra, todos nés nos lembramos de que nossa infancia, tal como excluit “ra infinitamente diferente de como os adultos a viara, For por # jvemo® “ado perguntaram a Sir Michael Sadler qual sua opinigio so- sho quer "escola experimental, cle respondeu: “Nao vou dar nenhuma 2 8 re nenhum desses experimentos enquanto as criangas nao cres- osiniio Sonos dizer 0 que realmente aconteceu.” Assim, a trilogia dos enn por mais improvaveis que sejam muitos de seus episédios, propor, past2® (g aos adultos, em certo sentido, uma leitura mais realista sobre a in- jona al’ {que se poderia encontrar na maioria dos livros escritos para adul- oa outro lado, no entanto, também Proporciona as criangas que a leem 5 muito mais maduro do que imaginam. O livro inteiro é am estudo do algo reagens de Oswald, um autorretrato inconscientemente Satirico, que ae inteligente € plenamente capaz de apreciar; mas nenhuma ein es ia sentar-se para ler um estudo sobre um personagem se fosse escrito de # ra forma. Ha outro aspecto em que as histérias para criangas servem Ge veroulo a esse interesse psicolégico, mas tratarei disso mais adiante. Nesse breve exame da trilogia dos Bastable, Parece-me que tropecamos sum principio. Nos casos em que a hist6ria para criancas simplesmente a forma adequada para o que o autor quer dizer, € evidente que os leitores que quiserem ouvir o que cle tem a dizer vao ler ou reler a histéria, seja qual for a idade deles. S6 aos trinta anos conheci O vento nos salgueiros ¢ os li- vos da familia Bastable, e acho que nem por is: i SO OS apreciei menos, Incli- no-me quase a afirmar como regra que uma hi ne @ no que se refere ao tipo par- Orla Para criangas de que mais gosto, a fantasia ou come de fadas. Hoje em dia, a critica moderna usa o adjetivo “adulto” como marca de aprovacao. Ela é hostil ao que denomina “nostalgia” e tem absoluto des- prezo pelo que chama de “Peter Panteismo” um homem de cinquenta e trés anos admite ainda adorar andes, gigantes, bruxas ¢ animais falantes, € menos provavel que ele seja louvade por sua perpétua juventude do que seja ridicularizado e lamentado por seu retar. damento mental. Se dedico algum tempo a defender-me dessas acusagoes, nao é tanto porque me importe muito em ser ou nio ridicularizado e la. mentado, mas porque a defesa tem uma relagdo intima com toda a minha concepgao do conto de fadas e até mesmo da literatura em geral. Essa de- fesa consiste em trés proposicées. - Por isso, em nossa época, se criticos dulto 1. Respondo com um tu quoque. Os criticos para quem a eae ful € um termo de aplauso, e nao um simples adjetivo descrtiva, no slo oem a irar podem ser adultos. Preocupar-se em ser adulto ou nao, admii 743 me As crimes de Norma Gules, corar de verconha diante da msinuacio de g poe wr a fg anais caracteristicos da infincia © da adolescent” Bh ee ae iplescéncia, quando moderados, 30 sintomay e oe as cosas NOVAS QUCIFAM Crescer, Porém, quando rec ede ‘au meamo na juventude, 6S Preocupagao em “ser agen merrnlade ON p de retardamento mental. Quando tinha dez ay snal ined ai vondido € ficava envergonhado quando me pilhac, qos de fadas nta anos, leio-os abertamente. Quando me tort ie ci le ser fans hay Avery, ter tom go nat 1a, com cinque sm ce a aecl para tris as coisas de menino, inclusive o medo d mem, dev muito adulto. Se a ere oe vee terna, a meu ver, envolve uma falsa concepao do Somos acusados de retardamento porque nao perdemos um oe oe eesnfincia. Mas, na verdade, o retardamento consinge °° que tinhamos der as coisas antigas, mas sim em no aceitar coisas Se a Per inbo branco alemao, coisa de que tenho certeza don > deixei de gostar de limonada. Chat'® crescimenro ou desenvolvimento, porque ele me enrign? See eka um unico prazer, agora tenho dois. Porém, se eu the ceur se antes cut 1 0 Mor limonada para adquirir © gosto pelo vinho, is. se de perder 0 Bowe Pinas simples mudanga. Hoje em dia, j4 no gosto ae no seria erescimen” ts, mas também de Tolstéi, Jane Austen e Trollope mente de contos “On Fairy-Stories”, Essays Presented to Charles Williams (1947). 745, As eronicas de Niirnia antica co! ossa, ainda € Siv veme antirromancica come 2 nossa, ainda & possi cl escrever ce re gdultos (embora em geral seia preciso fazer nom, String qistical Stepante para acranjar quem as publique). Porg nt Renen erario Mais . rem™ Benen fire a -eeritor que, £7 determinado micencncss encontre ni, Pa Pode ho” ver ul riangas a forn 9 som, a ntasia para criang ma exata para en fancasia, mas na fa! Para dizer @ueM® ng tende dizer. A distinsao € suril. Suas fantasias para criangay ¢ fie Dre- eee ferio muito mais coisas em comum uma com a ours a eee convencional ou com o que as vezes se denomina = do que fantil”. Alias, € provavel que os mesmos leitores leiam ¢o"""> ia ieee infantis” © suas historias fantésticas para adiane Ses he vros fanedsticos ico a quem me dirijo de que a classificagao ri Ss. Nao mbrar 0 Peg etirias, tio cara a nossos editores, tem meee Rabitos dos leitores reais. Aqueles que sio censursse? para com 0 rom. ce da vida in preciso le livros segu! ‘vaga com OS si sf as muito, se ihos por lerem livros de crianca também eram censurados ae 8 uando crit os mais vell ni] . n= quam angas por lerem livros escritos PAM hos. Nenhum leitor que ansas Pol pedientemente de acordo com um cronograma. A distin: se PreZe ava Gutil; ¢ nao sei exatamente o que me fez sentir, num deter sao, portanto, € Br vida, que o que eu devia escrever — ou deixar lores minado see mente ie conto de fadas, mas exatamente um conto de eas = nO cre ot Em parte, acho que essa forma me permite, ov obriga, a dei- para eriangas, Fm Pork; que eu queria mesmo deixar de fora: obriga-me « xar de fora ia a forga do livro nal palavras € atos dos personagens. Ela Sled a meroso, mas perspicaz, chamou de “o demOnio ex. bém impée certas restrigdes muito fruti concentr: i critica coibe o que um cr x positive” que vive em mim ¢ tam anho da obra. feras ao taman! : ist6ria infantil dominass: oe Geixel que o tipo fantastico de histor se esta dis- foi porque é 0 tipo que conbego melhor ¢ de que mais gosto, e nao vais de condenar algum outro. Porém, os adeptos dos outros nee eeeondend-lo. Mais ou menos uma vex a cada cem anos, al- eet chao se levanta e tenta acabar com 0 conto de fadas. Talvez, en- ‘0 Sa dizer algumas palavras em defesa desse tipo de leitura cussao, por ter a inten gum sabicl tao, conven! para criangas- daeetatE : ie Te ria ie fadas € acusado de dar as criangas uma falsa impressio do mde om que vivem. Na minha opinido, porém, nenhum outro tipo de li- ree que as eriangas poderiam ler thes daria uma impressdo tao verda rane As historias infantis que se pretendem “realistas” tendem muito mais sensanar as criangas. Quanto a mim, nunca achei que o mundo real pudes- geset igual aos contos de fadas. Acho que eu esperava que escola fosse igual 3s historias da escola. As fantasias ndo me enganavam, as histérias de es- cola, sim.. Todas as histérias em que as criangas passam por aventuras ¢ sucessos que so possiveis, no sentido de que nao rompem as leis da nature- 14, mas quate infinieamente improvaveis, tendem muito mais que os con- tos de fadas a criar falsas expectativas. 746 Trés maneiras de escrever para criancas mesmo argument responde a popular acusagio de escapismo, quase © MeTj0, MESSE CASO, NiO seja to simples. Sera que os contos de fa port 2 INS criangas a se recolher num mundo em que todos os desejos « ensinam ‘uma “fantasia” no sentido técnico-psicolégico do termo — em 335 entar os problemas do mundo real? Bem, é aqui que o problema Zez de enti" Mais uma vez, vamos comparar 0 conto de fadas com a hie, x2 107 far ou qualquer outra hist6ria que seja rotulada como “Livro para (30 Gu “Livro para Meninas” em ver de “Livro Infantil”. Nao ha dit Meninotjue ambos despertam desejos e os satisfazem imaginariamente. Te- vide Of grade de passar através do espelho, de chegar ao pais das fadas. Tam. 108 Voros vontade de ser aquele aluno ou aluna imensamente popular e Beare .dido, de ser 0 menino ou a menina de sorte que descobre a trama be gspido ou monta o cavalo que nenhum caub6i consegue domar. Os dois anseios, porém, so muito diferentes. O segundo, especialmente quando vol- aydo para algo tao proximo como a vida escolar, € voraz e extremamente serio. Sua realizacao no nivel imaginario é de fato compensadora: nés a bac, gamos, fugindo das decepgdes ¢ humilhacdes do mundo real, e somes man. dados de volta a ele com uma insatisfagao nem um pouco divina. Trata-es sempre de lisonjear 0 ego. O prazer consiste em imaginar-se objeto de adwai. racdo. O outro anseio, o anseio pelo pais das fadas, é muito diferente, Eras certo sentido, a crianga no anseia pelo pais das fadas da mesma mancira que © garoto anseia por ser o herdi da sexta série. Ser que alguém supoe que ele, de fato € prosaicamente, anseia pelos perigos e desconfortos de um an to de fadas? — que seu desejo € de fato que houvesse dragées na Inglaterra contemporanea? De jeito nenhum. Seria muito mais verdadeiro dizer que o pais das fadas desperta no menino um anseio por algo que ele nd0 sabe ence é, Comove-o e perturba-o (enriquecendo toda a sua vida) com a vaga sen. sagao de algo que esta além de seu alcance, e, é longe de tornar ins{pido ou vazio 0 mundo exterior, acrescenta-lhe uma nova dimensio de profundi- dade. O menino nao despreza as florestas de verdade por ter lido sobre flo. restas encantadas: a leitura torna todas as florestas de verdade um pouco encantadas. Trata-se de um tipo especial de anseio. © menino que Ié a his. téria “escolar” do tipo que tenho em mente deseja o sucesso e fica infeliz (quando termina o livro) porque esse sucesso Ihe escapa; 0 menino que Ié 0 conto de fadas simplesmente deseja e sente-se feliz no proprio ato de desejar. Sua mente nao esteve concentrada nele mesmo, como acontecee frequen- temente nas histérias mais realistas. Nao quero dizer que histérias escolares para meninos e meninas nao de- veriam ser escritas. $6 afirmo que elas tendem, muito mais do que as histé- rias fantasticas, a tornar-se “fantasias” no sentido clinico do termo. E a mes- ma distingao vale para a literatura adulta. A fantasia perigosa € sempre su- perficialmente realista. A verdadeira vitima do devancio em que todos os 747 As crénicas de Narnia desejos se realizam nao se inspira na Odisseia, em A temp, eee Pes come Uroboros. Prefere histérias que falam de miliong seas ou . éi i ° Petncis, hotéis de luxo, praias tropicais ¢ cenas picantes sb ~e eldades Se sever realmente acontecer, que deveriam acontecer, que te iss que we ri Po. teci. Serco leitor tivesse tido a justa oportunidade. Isso porque, co sen dois tipos de anseio. Um deles é uma askesis, um exere o outro € uma doenga. rere raque muito mais severo ao conto de fadas como literatura é desferido pelos que ndo querem que as criancas sintam medo. Ey na infancia, sentia tanto medo A noite que nao corro o risco de subest; tesa objegao. Nao gostaria de acender a fogueira desse inferno partion para nenhuma crianga. Por outro lado, nenhum dos meus medos naseeu contos de fadas. ‘Minha especialidade eram os insetos gigantes, ¢ os fant de mas ocupavam um péssimo segundo lugar. Suponho que os fantasmas te mas ouPajo, direta ou indiretamente, de algo que li, mas certamente nao vc historias de fadas. Ja os insetos nao se originaram de nenhuma leitura Nao havia nada que meus pais pudessem fazer ou deixar de fazer para ae salvar das garras, mandibulas ¢ olhos daquelas abominagées multipedes, E o problema, como tantos ja observaram, é exatamente esse. Nao sabe- mos quais sao os objetos que podem despertar esse tipo de medo na crianga. Digo “esse tipo de medo” porque precisamos, a esta altura, fazer uma dis- tingao. Os que afirmam que as criangas nao devem sentir medo podem es- tar querendo dizer duas coisas. Podem querer dizer (1) que nao devemos fazer nada que possa despertar na crianga medos fantasmag6ricos, debi tantes e patologicos contra os quais a coragem comum nada pode: as cha- madas fobias. Se possivel, a mente da crianga deve manter-se isenta de coisas em que nao suporta pensar Ou podem querer dizer (2) que devemos ten- tar manter a crianga alheia 20 fato de que nasceu num mundo onde ha mor- te, violéncia, ferimentos fisicos, aventura, herofsmo e covardia, onde ha o bem e o mal. Se querem dizer a primeira coisa, concordo com eles; se que- rem dizer a segunda, nao concordo. Esta Gltima éa atitude que da As crian- gas uma falsa impressao € alimenta-as de escapismo, nO mau sentido da pa- lavra. Ha algo de absurdo na ideia de educar desse modo. as criangas de uma geracao da era da OGPU* € da bomba atémica. Como é muito provavel que venham a encontrar inimigos cruéis, convém que pelo menos ougam falar de audazes cavaleiros € da coragem heroica. Caso contrario, o desti- no delas se tornar4 nado mais Juminoso, porém mais sombrio. Além disso, a maioria das pessoas constata que a violéncia e o derramamento de san- gue, numa histéria, nao produzem nenhum temor assombroso nas mente: das criangas. Quanto a isso, tomo sem remorso O partido da raga huma: iam acon infansiy mesmo, * Policia secreta soviética. (N. do T.) 748 res MANENAS BE ESCFEUET PATE CANES adores modernos. Que venham os reis malvados e cof acai € 28 masmorras, os gigantes ¢ os dragées, e que i rods cabalmente, no final do livro. Nada me convencera di ca numa crianga normal um tipo ou um grau de medo < Pela quer e precisa sentir. Pois é claro que ela quer ae ei poudinh ss — as fobias — j4 so uma questao diferente, Na i ee controlados por meios literdrios. Parece que, ao nasees. amaze 08 prontos conosco. Sem duvida, a imagem particular em noe i? a 0 terror da crianga pode Aas vezes remontar a um determinad rao livroa fonte ou somente a ocasiao do medo? Se a cri: Foro: POTS poupada daquela imagem, nao haveria outra, igualmente vessel, que teria o mesmo efeito? Chesterton nos conta de um gar . im ue tinha mais medo do Albert Memorial* que de qualquer oa a rinho oe indo. Conheco um homem cujo grande terror, na infanci ora coisa we encyclopedia Britannica em papel da China — por eras pea desafio voce 2 identificar. E parece-me possivel que, se vocé s6 dcicar gue seu filho leis hist6rias inocentes sobre a vida infantil, em que nada de aeeustador jamais acontece, além de nao conseguir eliminar os terrores. jcabard por eliminar da vida dele tudo 0 que possa torna-los respeitdveis gem paportaveis. OFA, NOS CONEOS de fadas, ao lado das figuras terriveis, wm contramos OS seres radiantes, Os eternos protetores e consoladores; e = fi. guras terriveis nao sao meramente terriveis, mas também sublime Seria gutmo se nenhum menino, deitado em sua cama, ao ouvir ou imaginac ouviu um ruido, jamais sentisse medo. Mas, se o medo € inevitavel, é me. thor que a crianga pense em gigantes e drag6es do que em meros ladrées. echo que Sao Jorge, ou qualquer outro paladino armado, é um lo hem maior que a ideia da policia. an TE vou mais longe. Se me fosse possivel escapar de meus medos notur- nos a custa de nunca ter conhecido a “terra encantada”, sera que eu teria eeido ganhando com a troca? Nao estou sendo leviano. Os medos eram terriveis. Mas parece-me que 0 prego a pagar teria sido alto demais. Porém, afastei-me demais do tema, e isso foi inevitavel, pois, dos trés métodos, s6 conhego por experiéncia o terceiro. Espero que meu titulo nao tenha levado ninguém a pensar que eu seria presungoso a ponto de querer dar conselhos sobre como escrever para criangas. Tive duas excelentes ra- z6es para nao fazer isso. Em primeiro lugar, muita gente escreveu historias bem melhores que as minhas, e prefiro aprender sobre essa arte a preten- dar ensina-la. Em segundo lugar, em certo sentido, jamais “criei” uma hist6 5 a observacao de passaros tia, Comigo, o processo assemelha-se muito mai = Um monumento londrino. (N. do T) 749 — As cron a wate he Naber, rine do que ao falar ou construn. Eu veo fm sabor em comum, quase um inesmen ene Algu smo m3 grupy. Fique quicto, simplesmente othe aroma, Proce de, Se vocé tiver muita sorte (eu nunca ¢ ando, © clas cyan Tune A nr iv 1 ny unied numa forma tio cocrente que voee nay cenesarao ay precisar fazer nada. Mas, com mais fre Océ tera uma hig? S¢ * “ ueNci WStGr; algumas lacunas. E entio que, quéncia (para min, . 7 que, por fim, sera ra mim, mente, criar raz6es para que determinados Preciso inventa, rreitdos lugares fazendo determinadas coisas. Nacnaa’ esteia ei s. Nao ee tei usual de escrever hist6rias, € menos aindaseéo “the SCi Se € es, aes i A me! Sire o que conheso: para mim, as imagens sempre nelhor. No entante Métods, ‘Antes de terminar, gostaria de voltar ao que di © primeiro Ig. '" isse n. Ba toda e qualquer abordagem que parta da pergunta: “Do © comeco. Ren, : > i re a ‘i ci dernas gostam? Poderiam me perguntar: “Vocé ote ic as ctiancas met ‘Do - ™ rejcit o- que as criangas modernas presing Po cisam> dagem que parte da pergunta: eesutras palavras, a abordagem moral ou didtica?” Achy 2 © ue a resposta oigim™. Nao porque eu nao goste de que as histéri : ‘ias tenham u: ¢ menos ainda por pensar que as criangas nao gostam da moral ar moral, £ antes porque tenho certeza de que a pergunta “Do que as Boe historia, ii ” na A ‘lan vecnas precisam?” nao nos levard a uma ton ronal. Aus face cen worn gssumimos uma atitude de excessiva superioridade. Seria melhor pewe® é ico?” er, tar: “Qual é a moral de que 68 preciso?”, pois penso que, com * Pergun- preocupa profundamente nio interessard profundamente ano. é nai me m, € ndo fazer pergunta nenhuma. Deixe a s- jue que nao nos : aps leitores. O melhor pore as imagens Ihe contem qual é a moral delas, pois sua moral intrinseca nas- iruais que vocé conseguiu langar no decurso ce naturalmente das raizes espir de sua vida. Por outro lado, se elas nao Ihe mostrarem moral nenhuma, nao 3 inventa-la. A moral ’ aventada provavelmente sera um lugar-comum, ou mesmo uma falsidade, colhida a esmo da superficie da sua consciéncia, Nao cabe oferecer jsso as criangas, uma vez que uma autoridade inques- vel nos garantiu que, na esfera moral, elas sao pelo menos tao sabias o nés. Quem consegue escrever uma historia para criangas sem mo- huma deve fazé-lo — desde que, é claro, esteja mesmo disposto a es- nica moral que vale alguma coisa € a que brota m da. ar deter, queir tiona quant ral nen! crever para criangas- A a jnevitavelmente de toda a estrutura de carater do autor. deve brotar da estrutura de carater do autor. Para tos de nossa imaginagao ‘Alids, tudo na historia para criangas, tem os em comum com el: por nos interessarmos de que estamos tratando, mas por te! cas nao compartilham. A matéria de noss: biliatio habitual de nossa mente. Foi essa, a m 750 os de partir dos elemen' as. Somos diferentes de nossos pequenos lei- iamente, pelas coisas menos, ou menos Serl mos outros interesses de que as crian- a historia deve fazer parte do mo- eu ver, uma caracteristica de escrever que tem! tores nao Trés maneiras de escrever bara criancas ndes escritores de literatura infantil, mas nem todos o com. ‘a = i ‘ - a nao muito tempo, paral clogiar um conto de fadas bastante nen * citico afirmou que o autor Nao disse nada ©m tom de pilhéria” 0,8 ve deveria dizé-lo se nao estava contan, er or «de: Mas “ha € 10 fatal para essa arte quanto a ideia de que 0 que temos yess 92° om as criangas é, no sentido Privativo, ym C i 3 OF 7 e que 'S Criangas como Nossos iguais Ja regiao da nossa natureza em que efetivamente somos iguais, rioridade consiste, por um lado, e sa® jx outro (e mais pertinente), em termos mais habilidade que elas para © | tar historias. A crianca, como leitora, nao con! endéncia nem idealizada: desc as indistintamente Como uma espécie de mat€ria~prima que temos de mani- ¢ ular. E claro que temos de nos esforcar para ea a Onipoténcia assim quiser, ter a ousada ¢ a ais que A bem — mas nado mais que o bem de trat4 tino. Nao digo que um funcio- nario do Ministério da Educacao nfo possa escrever uma criangas, pois tudo é possivel. Mas nao apostaria nisso, Certa vez, num refeitério de hotel, eu disse em vo: “Odeio ameixas secas.” De outra mesa, inesperada menino de seis anos: “Eu também.” A simpatia e Nem eu nem ele achamos aquilo engragado. Amb: s xas secas sao ruins demais para serem engracadas. E esse o encontro ade- Zum pouco alta demais: mente, Ouvi a voz de um. Ntre nés foi instantanea. 0s sabiamos que as amei- quado entre o homem e a crianca como personalidades independentes. Quanto as relagdes muito mais elevadas e mais dif iceis entre uma crianga e seus pais ou entre crianga e professores, nada digo. Um escritor, um mero escritor, esta fora disso. Nao é nem mesmo um tio. E um homem livre, um igual, um par, como 0 carteiro, o agougueiro e 0 cachorro do vizinho.

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