O documento resume 9 espécies de flagrante de acordo com o Código de Processo Penal brasileiro: 1) flagrante facultativo, que permite a qualquer pessoa efetuar a prisão; 2) flagrante obrigatório, que obriga agentes públicos como policiais a efetuar prisões; 3) flagrante próprio, quando o agente é encontrado cometendo ou acabou de cometer o crime; 4) flagrante impróprio, quando há perseguição logo após o crime e o agente é encontrado em situação que o incrimine; 5) flagran
O documento resume 9 espécies de flagrante de acordo com o Código de Processo Penal brasileiro: 1) flagrante facultativo, que permite a qualquer pessoa efetuar a prisão; 2) flagrante obrigatório, que obriga agentes públicos como policiais a efetuar prisões; 3) flagrante próprio, quando o agente é encontrado cometendo ou acabou de cometer o crime; 4) flagrante impróprio, quando há perseguição logo após o crime e o agente é encontrado em situação que o incrimine; 5) flagran
O documento resume 9 espécies de flagrante de acordo com o Código de Processo Penal brasileiro: 1) flagrante facultativo, que permite a qualquer pessoa efetuar a prisão; 2) flagrante obrigatório, que obriga agentes públicos como policiais a efetuar prisões; 3) flagrante próprio, quando o agente é encontrado cometendo ou acabou de cometer o crime; 4) flagrante impróprio, quando há perseguição logo após o crime e o agente é encontrado em situação que o incrimine; 5) flagran
So nove as espcies de flagrante: a) facultativo; b)
obrigatrio; c) prprio; d) imprprio; e) presumido; f) preparado; g) forjado, h) esperado; e i) prorrogado.
DO FLAGRANTE FACULTATIVO E DO OBRIGATRIO
O flagrante facultativo e o obrigatrio fazem
referncia ao sujeito ativo da priso, ou seja, aquele que efetua a priso em flagrante.
Consiste o flagrante facultativo na
possibilidade de qualquer do povo efetuar a priso daquele que est praticando o delito ou esteja em outra situao legtima de flagrante. Trata-se de hiptese de exerccio regular do direito, atribuindo a faculdade de qualquer pessoa dar voz de priso quele que pratica (ou praticou) a infrao penal. A situao est regulada no artigo 301, primeira parte, do Cdigo de Processo Penal.
Sobre o assunto, o magistrio de Renato Brasileiro
de Lima: Extrai-se do art. 301 do CPP que qualquer do povo poder prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. Percebe-se, pois, que o particular (inclusive a prpria vtima) tem a faculdade de prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. Para o particular, portanto, a priso em flagrante configura exerccio regular de direito (p. 1276).
Imagine-se a seguinte situao: o proprietrio de
uma loja vtima de um furto. Ao notar a subtrao, quando o sujeito j estava em fuga, o proprietrio, em perseguio imediata, consegue alcanar o autor do delito e det-lo. Nessa hiptese, facultado ao proprietrio/vtima dar voz de priso ao autor do delito e conduzi-lo, coercitivamente, se necessrio for, at a delegacia de polcia. Trata-se, portanto, de exemplo de flagrante delito facultativo.
A segunda espcie de flagrante o obrigatrio,
compulsrio ou coercitivo. Consiste na atuao coativa, isto , compulsria, de certas pessoas, para prender aquele que est em situao de flagrante delito, consoante se depreende da parte final do artigo 301 do Cdigo de Processo Penal. Essas pessoas so agentes pblicos ligados s foras policiais, tais como policiais civis, militares, federais, rodovirios etc. Tais agentes tem o dever legal de efetuar a priso daquele que est praticando (ou praticou) a infrao penal. Para os demais agentes pblicos, incluindo promotor de justia e juiz de direito, no h a obrigatoriedade, mas, sim, mera faculdade.
Para Nestor Tvora e Rosmar Rodrigues Alencar essa
situao de flagrante alcana a atuao das foras de segurana, englobando as policias civil, militar, rodoviria, ferroviria e o corpo de bombeiros militar (art. 144 da CF). Estas tm o dever de efetuar a priso em flagrante, sempre que a hiptese se apresente (art. 301, in fine, CPP). Entendemos que esta obrigatoriedade perdura enquanto os integrantes estiverem em servio. Durante as frias, licenas, folgas, os policiais atuam como qualquer cidado, e a obrigatoriedade cede espao mera faculdade (p. 463). DO FLAGRANTE PRPRIO, DO IMPRPRIO E DO PRESUMIDO
A terceira espcie denomina-se flagrante prprio,
propriamente dito, verdadeiro, perfeito ou real, e tem sua previso legal no artigo 302, incisos I e II, do Cdigo de Processo Penal. Est em situao de flagrante verdadeiro aquele que surpreendido praticando a infrao ou acaba de comet-la. Nesse caso, o agente encontrado executando o delito ou imediatamente aps pratic-lo, havendo uma relao de absoluta imediatidade (rectius: sem intervalo de tempo) entre a prtica do delito e o momento em que surpreendido.
Assim, o flagrante prprio caracteriza-se quando o
agente est cometendo a infrao penal ou acabou de comet-la. (...) Observe-se que, (...) a expresso acaba de comet-la deve ser interpretada de forma totalmente restritiva, contemplando a hiptese do indivduo que, imediatamente aps a consumao da infrao, vale dizer, sem o decurso de qualquer intervalo temporal, surpreendido no cenrio da prtica delituosa (Avena, p. 779).
Exemplificando a situao de flagrante real,
suponha o agente, querendo matar outrem, saca de seu revlver e desfere vrios tiros contra a vtima. No entanto, no momento da execuo, policiais militares intervm ao feito e logram prender o autor dos disparos. Ou, na segunda hiptese, aps acertar o alvo, ocasionando a sua morte, antes de fugir, populares detm o autor do homicdio. Note-se que, no primeiro caso, o crime est ainda em execuo, independentemente da ocorrncia posterior da morte do agente, sendo mais comum a configurao da figura da tentativa. J na segunda hiptese, h a morte da vtima (consumao do crime), porm, o autor preso quase que instantaneamente, ainda no local dos fatos, ou em suas proximidades.
O quarto tipo de flagrante o imprprio, tambm
chamado de imperfeito, quase-flagrante ou irreal. a situao descrita no inciso III, do artigo 302 do Cdigo de Processo Penal. Ocorre quando o agente perseguido pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer outra pessoa logo aps a prtica do fato delituoso, em situao que faa presumir ser autor da infrao (Bonfim, p. 406).
Para que ocorra esse tipo de flagrante,
imprescindvel que a) haja perseguio do agente logo aps a prtica do delito; b) esteja em situao que faa presumir sua autoria. Nas palavras de Renato Brasileiro de Lima, trata-se de requisitos de atividade/temporal e circunstancial (p. 1278). J Paulo Rangel (p. 591) entende que so trs outros os requisitos para caracterizao do flagrante irreal: a) volitivo (vontade das pessoas mencionadas no artigo), b) temporal (logo aps) e o ftico (o agente se encontre em situao que faa presumi-lo autor da infrao).
O fato que tendo o agente praticado o delito e
haja a sua perseguio, logo aps, sendo encontrado em situao que faa presumir sua autoria, possvel a sua priso, por estar em quase- flagrante.
O importante, nesta espcie, definir a expresso
logo aps. A doutrina majoritria, aqui delineada novamente pelo pensamento de Renato Brasileiro de Lima, posiciona nesta linha: Por logo aps compreende-se o lapso temporal que permeia entre o acionamento da autoridade policial, seu comparecimento ao local e a colheita de elementos necessrios para que d incio perseguio do autor (p. 1278/1279).
Eugnio Pacelli de Oliveira prefere adotar a
aplicabilidade da expresso no caso concreto, desde que configure a imediatidade entre a prtica do crime e a priso do agente: O que deve ser decisivo aqui a imediatidade da perseguio (...) para fim de caracterizar a situao de flagrante. A perseguio, como ocorre em qualquer flagrante, pode ser feita por qualquer pessoa do povo (art. 301, CPP) e deve ser iniciada logo aps o cometimento do fato, ainda que o perseguidor no o tenha efetivamente presenciado. No h um critrio legal objetivo para definir o que seja o logo aps, mencionando no art. 302, devendo a questo ser examinada sempre a partir do caso concreto, pelo sopesamento das circunstncias do crime, das informaes acerca da fuga e da presteza da diligncia persecutria (p. 526).
A jurisprudncia j se posicionou no seguinte
sentido, no que se refere ao quase-flagrante: Priso em flagrante. Flagrante imprprio, no qual a autoridade perseguiu os acusados ao logo de estrada de rodagem, at os alcanar j detidos por policiais rodovirios (CPP, 302, III). (STF. RHC 66.444/SP. Rel. Min. Carlos Madeira. 2 T. Julg. 17.06.1988).
Abre-se parntesis a fim de consignar que no h
prazo para a priso em flagrante. Isto , o dito de que a priso em flagrante deve ocorrer at 24 horas conseguintes ao crime no verdadeiro, uma vez que no existe limite temporal legal. Deste modo, havendo continuidade da perseguio (no pode haver interrupo), possvel a priso em flagrante, a qualquer momento, do agente. Destarte, o que deve se levar em mente, para que configure a priso em flagrante imprprio, a imediata e contnua perseguio do agente delituoso, logrando xito em prend-lo em situao que faa presumir ser o autor do fato.
A prxima espcie a priso em flagrante
presumido, assimilado, ficto ou reput flagrant (do direito francs), segundo o qual o agente encontrado logo depois da prtica delituosa com instrumentos, objetos, armas ou qualquer coisa que faa presumir ser ele o autor da infrao, sendo desnecessria a existncia de perseguio. Trs, portanto, so os elementos desse flagrante: a) encontrar o agente (atividade), b) logo depois (temporal), c) presuno de autoria, com armas ou objetos do crime.
Nestor Tvora e Fbio Roque de Arajo, ao comentar
o inciso IV do artigo 302 do Cdigo de Processo Penal, ensinam que Neste caso, no necessrio que haja perseguio. O lapso temporal entre a infrao penal e a efetivao da priso pode ser ainda mais elastecido do que o flagrante imprprio (p. 379). Destarte, embora posicionamentos diversos (vide Renato Brasileiro de Lima, p. 1281), a doutrina majoritria tem entendido que a expresso logo aps e logo depois no so sinnimas (Tourinho Filho, p. 456), atribuindo um lapso de tempo maior para o caso de logo depois, a ser verificada no caso concreto.
O Supremo Tribunal Federal, em precedentes,
dispensa, inclusive, em casos de flagrante presumido, que a priso seja efetuada na mesma comarca. In verbis: Em se tratando de flagrante presumido (art. 302, IV, do CPP), como no caso sub judice, a priso pode ocorrer em localidade diversa daquela onde o crime consumou (STF. HC 102646/PR. Rel. Min. Luiz Fux. 1 T. Julg. 02.08.2011).
A ttulo ilustrativo, suponha-se a hiptese de um
homicdio por arma branca, em que o agente foge do local, porm, fica escondido em um viaduto abandonado. Caso haja perseguio e seja encontrado em situao que faa presumir ser o autor do delito, haver flagrante imprprio. Todavia, no caso de ser encontrado em uma batida policial, com intuito de localizar o agente, de posse da faca utilizada no crime, ainda com sangue da vtima, a hiptese de flagrante ficto. Veja que, no primeiro caso h perseguio logo aps a prtica do delito. Na segunda hiptese, o agente foi encontrado de posse da faca, instrumento utilizado para a prtica do homicdio, presumindo ser o autor.
Enfim, resume a jurisprudncia essas trs primeiras
espcies de flagrante: Para fins de priso em flagrante delito, nos termos do art. 302 do CPP, preciso que o acusado esteja cometendo o crime ou tenha acabado de comet-lo (flagrante prprio); tenha sido perseguido, logo aps, pela autoridade, pela vtima ou por qualquer pessoa, em situao que se fizesse presumir ser o autor da infrao (flagrante imprprio); ou seja encontrado, logo depois, com instrumento, armas, objetos ou papis que fizessem presumi-lo ser o autor da infrao (flagrante presumido). (STJ. RHC 24.027/PI. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima. T5. Julg. 14.10.2008).
DO FLAGRANTE PREPARADO E DO FORJADO
A sexta espcie de flagrante o preparado, tambm denominado como provocado, crime de ensaio, delito putativo por obra do agente ou delito de experincia. Ocorre quando o agente instigado a praticar o delito, caracterizando verdadeiro crime impossvel. Corroborando com essa definio, Norberto Avena afirma que o flagrante preparado aquele pelo qual o agente instigado a praticar o crime, no sabendo, porm, que est sob a vigilncia atenta da autoridade ou de terceiros, que s aguardam o incio dos atos de execuo para realizar o flagrante (p. 788).
Nessa espcie h a figura de um agente provocador
que induz o delituoso a praticar o crime. Na verdade, o autor do fato delituoso na verdade mero ator de uma trama ensaiada para prend-lo em flagrante, uma vez que h adoo de precaues para que o crime no se consume. Portanto, dois so os elementos do flagrante provocado: a) existncia de agente provocador; b) providncias para que o crime no se consume.
Aury Lopes Junior disserta que o flagrante
provocado tambm ilegal e ocorre quando existe uma induo, um estmulo para que o agente cometa um delito exatamente para ser preso. Trata-se daquilo que o Direito Penal chama de delito putativo por obra do agente provocador. Bitencourt explica que isso no passa de uma cilada, uma encenao teatral, em que o agente impelido prtica de um delito por um agente provocador, normalmente um policial ou algum a seu servio (p. 807/808).
J decidiu o Supremo Tribunal Federal no sentido de
que inexistindo induzimento, estimulo ou provocao da autoridade pblica, no h que se falar em flagrante preparado (STF. HC. 82.124/SC. Rel. Min. Celso de Melo. 2 T. Julg. 24.09.2002).
Situao interessante a de venda simulada de
drogas, quando o agente provocador incita o traficante a vender-lhe drogas, e, aps, d-lhe a voz de priso. Na verdade, a priso ocorre no pela venda em si da droga (pois, flagrante preparado), mas, sim, pelo portar, trazer consigo, guardar, ter em depsito a droga. Em outras palavras, h a induo da venda, motivo pelo qual no poder o agente ser denunciado por esse critrio, porm, pelos demais verbos-ncleos que preexistiam venda, ou seja, que o agente praticou antes de vender, possvel a sua priso em flagrante (Avena, p. 789; Lima, p. 1284/1286).
Seguindo. A prxima modalidade de flagrante o
forjado, maquiado, fabricado, urdido ou armado. Consiste em uma situao falsa de flagrante criada para incriminar algum. aquele armado, fabricado, realizado para incriminar pessoa inocente. a ldima expresso do arbtrio, onde a situao de flagrncia maquinada para ocasionar a priso daquele que no tem conhecimento do ardil. (...) uma modalidade ilcita do flagrante, onde o nico infrator o agente forjador, que pratica o crime de denunciao caluniosa (art. 339 CP), e sendo agente pblico, tambm abuso de autoridade (Lei n 4.898/65) (Tvora e Alencar, p. 467).
Ou, ainda, trata-se de flagrante Ai Jesus que
ocorre quando, por exemplo, os policiais jogam, no bolso na vtima do flagrante forjado, no momento da revista pessoal, um pacote de drogas, com intuito de incrimin-lo. Ao retirarem a droga do bolso e indaga-lo sobre aquele invlucro, a vtima, assustada, diz: Ai, Jesus!.
Brincadeiras a parte, essa situao de flagrante
fabricado ocorre reiteradamente no cotidiano policial, a fim de justificar atos ilegais praticados pela polcia, conforme vemos reiteradamente nos noticirios televisivos. No incomum a armao de flagrante no caso de invaso de domiclio, sem mandado, quando nada encontrado no seu interior; quando h o enxerto de drogas ou de armas em um veculo, entre outros inmeros exemplos. Em qualquer dos casos, cuida-se de ilegalidade de flagrante.
O Superior Tribunal de Justia j interpretou a
diferena entre esses dois tipos de flagrante: No flagrante preparado, a polcia provoca o agente a praticar o delito e, ao mesmo tempo, impede que ele se consume, cuidando-se, assim, de crime impossvel, ao passo que no flagrante forjado, a conduta do agente criada pela polcia, tratando-se de fato atpico, (...). (STJ. HC. 204.426/SP. Rel. Min. Jorge Mussi. T5. Julg. 23.04.2013).
Em suma, h flagrante preparado ou provocado
quando h a figura do agente provocador (induo) e h adoo de precaues para que o crime no se consume. Trata-se de crime de ensaio, portanto, ilegal e impossvel, nos termos do artigo 17 do Cdigo Penal e Smula 145 do Supremo Tribunal Federal. Por outro lado, h flagrante forjado, quando uma situao armada a fim de incriminar o agente, legitimando falsamente a priso em flagrante. Ocorrendo qualquer uma das hipteses, causa de relaxamento da priso em flagrante. DO FLAGRANTE ESPERADO E DO PRORROGADO
As duas ltimas hipteses de flagrante so o
flagrante esperado e o prorrogado. Ambas as formas so, em tese, legais.
H flagrante esperando quando terceiros (policiais
ou particulares) dirigem-se ao local onde ir ocorrer o crime e aguardam a sua execuo. Neste caso, no h a figura de um agente provocador, ou seja, no h induo para a prtica do crime. o caso de campanas realizadas pelos policiais que, aps informaes sobre o crime, aguardam o incio da sua execuo no local, com a finalidade de prender o criminoso em flagrante.
Paulo Rangel entende que o flagrante esperado
sinnimo de flagrante diferido ou retardado (p. 602), o que no o caso.
Por sua vez, Pacelli entende que, em regra, no h
uma real diferena entre o flagrante preparado e o esperado, por se tratar, em ambos os casos, de crime impossvel, dando o seguinte exemplo: duzentos policiais postados para impedir um crime provocado por terceiro (o agente provocador) tm a mesma eficcia ou eficincia que outros duzentos policiais igualmente postados para impedir a prtica de um crime esperado (p. 531). Nessa hiptese, conclui: de duas, uma: ou se aceita ambas as hipteses como de flagrante vlido, como nos parece mais acertado, ou as duas devem ser igualmente recusadas, por coerncia na respectiva fundamentao (idem).
Acompanha parcialmente esse entendimento
Rogrio Greco, apud Renato Brasileiro de Lima, aduzindo que o flagrante esperado pode se tornar crime impossvel, no caso de esquema infalvel de proteo ao bem jurdico tutelado, de tal forma que o crime jamais possa se consumar (p. 1283).
A jurisprudncia, contudo, tem decidido pela
validade do flagrante esperado. A propsito confira precedente do Supremo Tribunal Federal: No caracteriza flagrante preparado, e sim flagrante esperado, o fato de a Polcia, tendo conhecimento prvio de que o delito estava prestes a ser cometido, surpreende o agente na prtica da ao delitiva (STF. HC 78250/RS. Rel. Min. Maurcio Correia. 2 T. Julg. 15.12.1998). E tambm: O fato como descrito na denncia amolda-se ao que a doutrina e jurisprudncia tm denominado flagrante esperado, dado que dele no se extrai que o paciente tenha sido provocado ou induzido prtica do crime. Ademais, a denncia imputa ao paciente outros delitos que, antes do flagrante, j teriam consumado (STF. HC 86066/PE. Rel. Min. Seplveda Pertence. 1 T. Julg. 06.09.2005). No menos importante: verifica-se o flagrante esperado na hiptese em que policiais, aps obterem, por meio de interceptao telefnica judicialmente autorizada, informaes de que quadrilha armada pretende realizar roubo em estabelecimento industrial, consegue, por meio de ao tempestiva, evitar a consumao da empreitada criminosa (STJ. HC. 84.141/SP. Rel. Min. Felix Fischer. T5. Julg. 20.11.2007).
Quanto aos sistemas de vigilncia, como o de
monitoramento eletrnico (cmeras), seguranas particulares que acompanham/fiscalizam o agente etc., a jurisprudncia tambm tem decidido no sentido de existir o crime, tendo em vista a possibilidade, ainda que mnima, da consumao do delito. Neste sentido: A existncia de sistema de monitoramento eletrnico ou a observao dos passos do praticante do furto pelos seguranas da loja no rende ensejo, por si s, ao automtico reconhecimento da existncia de crime impossvel, porquanto, mesmo assim, h possibilidade de o delito ocorrer (STJ. HC 216.114/RJ. Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura. T6. Julg. 07.11.2013).
Por fim, o flagrante prorrogado, retardado,
diferido, protelado ou por ao controlada quando, mediante autorizao judicial, o agente policial retarda o momento da sua interveno, para um momento futuro, mais eficaz e oportuno para o colhimento das provas ou por convenincia da investigao. Consiste, pois, no retardamento da interveno policial, que deve ocorrer no momento mais oportuno do ponto de vista da investigao criminal ou da colheita de provas. (Lima, p. 1286). Possui previso legal no artigo 2, inciso II, da Lei n 9.034/1995 (organizaes criminosas), artigo 53, inciso II, da Lei n 11.343/06 (drogas) e artigo 4-B, da Lei n 9.613/98 (lavagem de capitais).
Esse tipo de flagrante tem objetivo o combate
macrocriminalidade e aos grandes criminosos, com a possibilidade de infiltrao de agentes policiais em organizaes criminosas.
Gustavo Badar, citado por Aury Lopes Jr., posiciona-
se no sentido de que esta espcie de flagrante diferido no , a rigor, uma nova modalidade de priso. O que se trata apenas de uma autorizao judicial para a postergao do flagrante. A autoridade policial est autorizada, apenas, a deixar de proceder naquele exato momento, para que possa obter maiores informaes que deem um lastro probatrio mais robusto para a investigao. Depois disso, o que dever ser feito em caso de necessidade demonstrada representar pela priso temporria ou definitiva. Com isso, o flagrante diferido no constitui uma nova modalidade de priso, seno um instrumento-meio, com vistas eficcia da investigao (p. 810).
Embora no se considere verdadeira espcie
de priso em flagrante, o flagrante por apresentao, disposto nos revogados artigos 317 e 318 do Cdigo de Processo Penal, tem- se entendido que a apresentao espontnea do autor do delito polcia no cabe, em regra, a priso em flagrante delito, uma vez que no caracteriza quaisquer das hipteses do artigo 302 do supracitado cdex.
A situao, a princpio, demonstra a ausncia de
periculum libertatis, impedindo a priso em flagrante do agente. No entanto, verificados os pressupostos da priso preventiva, nada impede que seja decretada a sua priso provisria, pela autoridade competente. A propsito, eis a lio de Tvora e Alencar: quem se entrega polcia no se enquadra em nenhuma das hipteses legais autorizadoras do flagrante. Assim, no ser autuado. No obstante, se estiverem presentes os requisitos legais (...) poder a autoridade policial representar ao judicirio pela decretao da priso preventiva (p. 467).
CONCLUSO
A priso em flagrante espcie de priso provisria,
isto , possui natureza cautelar, e consiste em um verdadeiro mecanismo de defesa da sociedade. Trata-se de ato constritivo de liberdade de locomoo, assegurando a qualquer pessoa a possibilidade de prender algum pela prtica de infrao penal.
Nove so as espcies de flagrante. O facultativo,
praticado por qualquer do povo, com base no exerccio regular do direito, e o obrigatrio, em que sujeito ativo da priso a autoridade policial, cujo fundamento se encontra na regra do estrito cumprimento do dever legal.
Do artigo 302 do Cdigo de Processo Penal podem-
se retirar outras trs espcies: o flagrante prprio (aquele que est praticando ou acaba de cometer o delito), o flagrante imprprio (perseguio logo aps a prtica do crime, em situao que faa presumir ser autor do delito) e o flagrante presumido (logo depois da infrao penal, com objetos, instrumentos, que o faam presumir ser o autor).
J o preparado e o forjado so espcies ilegais de
flagrante delito, passvel, portanto, de relaxamento. O flagrante preparado ocorre quando h um agente provocador, que instiga o autor a praticar o crime e, ao mesmo tempo, assegura a no realizao do resultado pretendido (consumao). Por outro lado, h o flagrante forjado quando se cria uma situao para incriminar algum.
Finalmente, o flagrante esperado e o prorrogado. O
primeiro consiste no aguardo da prtica criminosa, que previamente conhecido. No h interferncia de agente provocador. Apenas h prvia informao sobre a prtica delituosa e campana dos policiais para a priso do agente delituoso. O flagrante prorrogado nada mais do que a obteno de autorizao judicial para, em determinados crimes, o retardamento da priso em flagrante dos agentes criminosos, em momento mais propcio para a produo de provas ou para fins da investigao.