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Escreveu-o Eugnio Castro Caldas em 1978, num livro que continua a ser,
para quem queira quebrar as cadeias da amnsia, o alerta inquieto em que culmina
um pensamento eticamente tenaz em mergulhar no real, para evitar a alucinao na
aco. Ao escrev-lo, o perturbador agrnomo propunha, consciente, um dos mais
penetrantes e originais programas de pensamento ecolgico em Portugal.
Foi em 1938 que os Servios Florestais entraram nos 400.000 hectares que restavam
de logradouro campons nas montanhas.
Uma lgica muito limitada informava um Plano que afinal se reduzia a dilemas:
floresta ou rebanho, defesa da gua e do solo ou eroso, conservao da flora, da fauna e da
paisagem ou desastre ecolgico. Tais dilemas baseavam-se na realidade incontestvel de que a
multimilenria destruio provocada pelo pastoreio nas montanhas, desde tempos anteriores
aos dos Castros e das Citnias, agravada depois pelo sobrepastoreio e pela cultura de centeios
entre as rochas, onde houvesse ainda nesga de solo a cultivar, pedia o remdio de um
planeamento florestal, com sementeiras e plantaes, aceiros e recifes, e programaes de
espcies pioneiras e depois de rendimento.
Por tudo isto a entrada dos Servios Florestais na montanha foi um desastre social. A
floresta avanou, aps sumrio inqurito economia e vida social exigido por imposio
da Lei e consumado por inquiridores incompetentes. Levou diante de si pastores e cabras dos
rebanhos e os ces serranos, com coleiras de picos, aliados dos homens, rosnaram, em
unssono com o uivar dos lobos, vista dos guardas florestais. Abriram-se estradas e
caminhos, subornaram-se os montanheses pondo o seu nome em folhas de salrios,
colocaram-se tabuletas e letreiros assinalando lugares sagrados, at ento escondidos.
Lanaram-se fios telefnicos, poluram-se os ares com motores. Transfor-mou-se a vida,
comprometeram-se as pessoas com fardas e espingardas, tentaram-se alianas, geraram-se
dios.