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REVISTA BRASILEIRA DE EDIÇÃOL

ESPECIA
BELO
MONTE

COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS ANO IV Nº 04 MAIO 2017


Fotos: Divulgação Belo Monte
COMITÊ EXECUTIVO
BRASIL PINHEIRO MACHADO
CARLOS HENRIQUE MEDEIROS
Publicação de responsabilidade do CBDB
COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS
RICARDO AGUIAR MAGALHÃES
COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS – CBDB
REPRESENTANTE DA COMISSÃO INTERNACIONAL DE GERÊNCIA DE PUBLICAÇÕES
A Revista Brasileira de Engenharia de
GRANDES BARRAGENS (ICOLD-CIGB) NO BRASIL PEDRO PAULO SAYÃO BARRETO
Barragens (RBEB) é uma publicação
COORDENAÇÃO EDITORIAL
técnica aperiódica do Comitê Brasileiro
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de Barragens (CBDB), distribuída em RICARDO AGUIAR MAGALHÃES
PRESIDENTE BRASIL PINHEIRO MACHADO
todo o território nacional e direcionada JORNALISTA RESPONSÁVEL
VICE-PRESIDENTE FABIO DE GENNARO CASTRO
aos profissionais que atuam na
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Engenharia de Barragens em geral e em
DIRETOR DE COMUNICAÇÕES RICARDO AGUIAR MAGALHÃES PROJETO GRÁFICO
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são de expressa responsabilidade E DIAGRAMAÇÃO
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PE - AURÉLIO ALVES DE VASCONCELOS A Revista Brasileira de Engenharia de Barragens (RBEB) tem por objetivo a
RJ - CELSO JOSÉ PIRES FILHO publicação de artigos científicos e de relatos técnicos inerentes à Engenharia de
RS - LÚCIA WILHELM VÉRAS DE MIRANDA
Barragens em geral, de modo a explicitar os conhecimentos técnicos atualizados,
SC - SÉRGIO CORRÊA PIMENTA
que sejam úteis tanto para a operação das empresas que projetam, constroem ou
SP - FABIO LUIZ RAMOS DE ABREU
operam barragens, como para os centros de pesquisa e as universidades que se
COMISSÕES TÉCNICAS NACIONAIS - COORDENADORES dedicam ao desenvolvimento da Engenharia de Barragens.
BARRAGENS DE CONCRETO O Conselho Editorial, abaixo nominado, é o órgão responsável pela definição
JOSÉ MARQUES FILHO da linha editorial e pela qualidade técnica dos trabalhos. Está composto por
BARRAGENS DE ENROCAMENTO COM FACE DE CONCRETO membros selecionados entre os sócios do Comitê Brasileiro de Barragens
E NÚCLEO DE ASFALTO (CBDB) com comprovada experiência profissional ou acadêmica em cada um
BAYARDO MATERON dos 16 temas a seguir relacionados.
BARRAGENS DE REJEITOS
JOAQUIM PIMENTA DE ÁVILA TEMAS E COMPOSIÇÃO DO CONSELHO EDITORIAL
BARRAGENS DE TERRA E ENROCAMENTO
HIDRÁULICA E VERTEDORES
RICARDO AGUIAR MAGALHÃES
MARCELO GIULIAN MARQUES, NELSON LUIZ DE SOUZA PINTO
CONDICIONANTES REGULATÓRIOS À REALIZAÇÃO DE
GEOTECNIA E FUNDAÇÕES
BARRAGENS E RESERVATÓRIOS
ALBERTO DE SAMPAIO FERRAZ JARDIM SAYÃO, MILTON ASSIM KANJI
RAYMUNDO GARRIDO
GEOLOGIA DE ENGENHARIA
FORMAS DE CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE ENGENHARIA
RICARDO ANTÔNIO ABRAHÃO
E CONSTRUÇÃO
HIDROLOGIA
RICARDO HEY ANDRZEJEWSKI
HEINZ DIETER FILL, MÁRIO CICARELLI PINHEIRO
HIDRÁULICA EM BARRAGENS
ENERGIA
BRASIL PINHEIRO MACHADO
FLÁVIO MIGUEZ DE MELLO, JERSON KELMAN, FRANCISCO LUIZ SIBUT GOMIDE
IMPACTO AMBIENTAL DE BARRAGENS E RESERVATÓRIOS
CONCRETO, TECNOLOGIA E MATERIAIS
SANDRA ELISA FAVORITO RAIMO
SELMO SHAPIRA KUPERMAN, WALTON PACELLI DE ANDRADE, JOSÉ
OBRAS DE PROTEÇÃO E CONTENÇÃO DE FLUXO DE DETRITOS
MARQUES FILHO
DIMITRY ZNAMENSKY
EQUIPAMENTOS HIDROMECÂNICOS
REGISTRO DE BARRAGENS
PAULO CEZAR FERREIRA ERBISTI, JOÃO CARLOS MATHEUS
SÉRGIO CORRÊA PIMENTA
BARRAGENS DE TERRA E DE ENROCAMENTO
SEGURANÇA DE BARRAGENS
CIRO HUMES, PAULO TEIXEIRA DA CRUZ, CÁSSIO BAUMGRATZ VIOTTI
CARLOS HENRIQUE MEDEIROS
BARRAGENS DE FACE DE CONCRETO E DE NÚCLEO ASFÁLTICO
USOS MÚLTIPLOS DE RESERVATÓRIOS
BAYARDO MATERÓN, CIRO HUMES
FÁBIO DE GENNARO CASTRO
INSTRUMENTAÇÃO
ARSENIO NEGRO JR., JOÃO FRANCISCO ALVES SILVEIRA, RUBEN JOSÉ
CBDB - Comitê Brasileiro de Barragens
RAMOS CARDIA
Rua Real Grandeza, 219 - Bloco C - Sala1007
BARRAGENS DE CONCRETO COMPACTADO A ROLO (CCR)
Bairro Botafogo - Rio de Janeiro/RJ - Brasil
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CEP 22281-900 FAX 055 21 2528 5959
MEIO AMBIENTE
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SEGURANÇA DE BARRAGENS
ICOLD - International Commission on Large Dams CARLOS HENRIQUE DE A. C. MEDEIROS, TERESA CRISTINA FUSARO
CIGB - Commission Internationale des Grands Barrages TÚNEIS
Comissão Internacional de Grandes Barragens TARCÍSIO BARRETO CELESTINO
61, avenue Kléber - 75116 - Paris - France RECURSOS HÍDRICOS
TÉL. FAX +33 1 4704 1780 FAX +33 1 5375 1822 BENEDITO PINTO FERREIRA BRAGA JÚNIOR
E-MAIL secretaire.general@icold-cigb.org MUDANÇAS CLIMÁTICAS
WEB http://www.icold-cigb.net MARIA ASSUNÇÃO FAUS DA SILVA DIAS
SUMÁRIO EDITORIAL

Edição Especial - Belo Monte


ARTIGOS
Nesta Edição Especial dedicada ao Complexo Belo
05 A construção do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte Monte, localizado no rio Xingu, no Estado do Pará,
- quarta maior do mundo em capacidade instalada
apresentamos inovações de Engenharia resultantes de
Tema: Energia
muito empenho na interpretação do sítio e amplo
22 UHE Belo Monte - Canal de Derivação: maior debate sobre formas de aproveitamento responsável
canal artificial do mundo para geração hidrelétrica da Amazônia. Os artigos aqui publicados fornecem visão geral e detalhes técnicos
Tema: Hidráulica e Vertedores relevantes sobre este grandioso empreendimento, com soluções que comprovam a
qualidade e expertise da Engenharia de Barragens brasileira.
31 Reservatório Intermediário conecta
A logística complexa das estruturas do empreendimento é compartilhada pelos
Canal de Derivação à Casa de Força Principal
Tema: Hidráulica e Vertedores autores, bem como o planejamento construtivo, inclusive de aspectos importantes
em relação às barragens de terra e terra-enrocamento. Veremos os desafios para a
39 Segurança de Barragens da UHE Belo Monte construção dos diques e do Canal de Derivação, considerado o maior canal artificial
Tema: Segurança de Barragens do mundo, com extensão de 16 km. Conectado pelo Reservatório Intermediário, que
consiste em um lago artificial paralelo à calha do rio Xingu, o Canal de Derivação não
52 Condicionantes geológico-geotécnicos e soluções
de tratamento dos arenitos do Graben do Macacão possui precedente em termos de vazão de adução.
Tema: Geotecnia e Fundações Seu volume de escavação foi superior a 100 milhões de m3, fato que exigiu
rigoroso estudo das etapas de construção e da disposição dos materiais escavados.
59 Material cimentício para o Projeto Belo Monte Conceitos de Engenharia conduziram para a definição da geometria e o resultado foi
Tema: Concreto, Tecnologia e Materiais
a concepção do manejo e sistema de drenagem dos igarapés que afluem ao Canal.
69 Análise da eficiência dos A Revista aborda também os condicionantes geológico-geotécnicos e as soluções
concretos do Projeto Belo Monte adotadas para construir, na área do Graben do Macacão, um espigão de arenito que
Tema: Concreto, Tecnologia e Materiais funciona como barragem natural na região geológica. Segundo os autores, as técnicas
utilizadas para este desafio são diferentes das usadas nas fossas tectônicas, com
79 Verificação da estabilidade de revestimento
flancos trapezoidais não alongados e arcabouço estrutural controlado por linhas de
em enrocamento no fundo do Canal de Derivação
da UHE Belo Monte fraqueza, constituindo zonas de falhas em degraus.
Tema: Hidráulica e Vertedores A UHE Belo Monte é do tipo fio d’água, ou seja, ela permite a geração de mais
energia no período de cheia e menos energia no período de seca, com foco nos
86 Revisão de conceitos para projetos de vertedouros
condicionantes sociais e ambientais inerentes ao entorno do local de implantação
de baixa queda com elevado grau de submergência –
aplicação ao Vertedouro de Belo Monte do empreendimento. Em outras palavras: a UHEBM não opera com reservatório de
Tema: Hidráulica e Vertedores regularização.
Chama a atenção a estrutura do Vertedouro com elevado grau de afogamento
92 Estudos hidráulicos de alternativas por jusante, o que diferencia sua concepção. Tabelas, fórmulas e muitas imagens
de defletores de gabiões para o Canal de
demonstram aos leitores dados de projeto, construção e controle tecnológico das
Transposição de Peixes da UHE Belo Monte
Tema: Hidráulica e Vertedores estruturas de concreto. Cabe ressaltar o conteúdo sobre a avaliação do desempenho
das dosagens de concreto à resistência à compressão axial, com foco na economia
99 O sítio Belo Monte e seus desafios para de recursos e no consumo de material cimentício.
atingir 11.000 MW 100% brasileiros
Acompanhe a descrição do sistema AutoLab, que gerencia processos de coleta,
Tema: Energia
análise das informações da Central de Concreto e Laboratório, em tempo real, para
108 Autolab - Sistema de Gerenciamento Controle de Qualidade. São relatados os procedimentos e aspectos do monitoramento
do Controle Tecnológico e do desempenho através do Plano de Segurança de Barragens (PSB), que monitora
Tema: Concreto, Tecnologia e Materiais as barragens, os diques e as demais estruturas - apoiadas sobre os mais diversos
tipos de fundação.
122 Minimização de infiltrações entre concreto de
primeiro e segundo estágios para turbinas tipo Bulbo Esperamos que vocês tenham uma boa e proveitosa leitura sobre projeto,
Tema: Concreto, Tecnologia e Materiais construção e operação do Complexo UHE Belo Monte e seus grandes desafios.

129 UHE Belo Monte - sítio Pimental e o desvio do Xingu


Carlos Henrique Medeiros
Tema: Hidráulica e Vertedores Diretor Técnico CBDB

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 3


HOLOFOTE

Atualização dos Inventários Hidroenergéticos dos rios brasileiros


Erton Carvalho

O Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) dá sequência aos dois projetos selecionados como os
mais importantes pela entidade para todo o País: a implementação da Lei de Segurança de Barragens
(lei nº 12.334 de 20 de setembro de 2010) e a campanha para priorizar o uso múltiplo da água. Dentro
dessas relevantes tarefas, convém ressaltar a análise da atual situação do Inventário dos Potenciais
Hidroelétricos das Bacias Hidrográficas Brasileiras. Afinal, após a década de noventa, o referido
Inventário vem sendo limitado mediante o uso exclusivo de reservatórios sem contemplar volumes para
a regularização de vazões.
O sistema elétrico nacional tem como suporte os grandes reservatórios, implantados no período de 1960 a 1980, que totalizam mais
de 250 bilhões de m3 de volume útil. A atual política é de disponibilizar para o nosso sistema elétrico aproveitamentos denominados a fio
d’ água, isto é, com reservatórios sem volumes para a regularização de vazões. Basta dizer que no período de 1990 a 2015, o volume
útil total disponibilizado nos reservatórios foi somente da ordem de 8,5 bilhões de m3.
A proposição do CBDB é implementar e disponibilizar os reservatórios para atender ao uso múltiplo da água. Recentemente, as
crises de abastecimento para o uso do homem foram marcadas pela falta de água em cidades brasileiras do porte de São Paulo, por
exemplo. A capital paulista foi precisou enfrentar um rigoroso racionamento. As justificativas são as limitações impostas pelos órgãos
ambientais devido aos impactos causados pelos reservatórios ao meio ambiente.
Eles deveriam ser também analisados considerando as consequências devido à obrigatória substituição da energia hidráulica pela
energia gerada com o uso de combustíveis fósseis - que emitem gases de efeito estufa, o que contribui para as mudanças climáticas
no globo terrestre. Ambas são responsáveis pelo suporte de energia na base do sistema elétrico brasileiro.
O principal impacto ambiental produzido pelos reservatórios ocorre com maior importância no próprio curso d’água, com ou sem
reservatório de regularização de vazões. O impacto complementar com o acréscimo dos volumes para obter regularização de vazões
pode ser compensável com reposição ou indenização de bens tangíveis, e assistência educacional e social às populações atingidas.
O Inventário das Bacias Hidrográficas Brasileiras foi iniciado com o trabalho realizado pelo grupo CANAMBRA, que fez o Inventário
Hidrelétrico de toda a região Centro-Sul do País. Tal produção contou com o fundamental apoio organizacional e técnico da Companhia
Energética de Minas Gerais (CEMIG), de Furnas Centrais Elétricas S.A. e da Companhia Energética de São Paulo. Surgiram, então, as
primeiras grandes hidrelétricas nacionais. Entre elas estavam: as usinas de Furnas (no rio Grande), Três Marias (no rio São Francisco) e,
ainda, as hidrelétricas do Complexo Urubupungá e as usinas de Jupiá e Ilha Solteira, no rio Paraná.
Os Inventários das Bacias Hidrográficas dos rios Tocantins e Araguaia e da Bacia Amazônica foram realizados pela Centrais Elétricas
do Norte do Brasil S.A. (ELETRONORTE). Desse inventário, destaque para os empreendimentos em fase de geração no rio Madeira
(Santo Antônio e Jirau), Tucuruí no rio Tocantins e Belo Monte no rio Xingu.
Em decorrência da importância em aperfeiçoar o uso dos nossos recursos hídricos, o CBDB enviou, em dezembro de 2013, uma
carta dirigida para a Presidência da República. O documento solicitava providências para que o órgão responsável providenciasse uma
atualização do citado inventário, de modo a considerar os reservatórios de regularização de vazões.
Ressalvamos que tal providência vem ao encontro das atuais e futuras necessidades do Brasil.

Erton Carvalho. Engenheiro Civil, especialização em Hidrologia e Hidraúlica. Foi Professor Assistente da Universidade Federal de Goiás e Professor
Adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Experiência de 50 anos em estudo e projetos de empreendimentos hidráulicos tais como
Aproveitamento Hidrelétrico de Capanda (Angola), UHE Santo Antonio, Itumbiara, Corumbá , Serra da Mesa e Teles Pires, entre outros. Experiência
em inspeção e auditoria de barragens construídas. Publicou 32 artigos em Congressos Internacionais e Nacionais. Palestrante sobre os temas:
Matriz Energética Brasileira, Desvio de Rios, Desempenho de vertedouros e Segurança de Barragens. No Comitê Brasileiro de Barragens - CBDB:
Diretor Administrativo -Financeiro, Diretor de Comunicações, Diretor Técnico e Presidente.

4 WWW.CBDB.ORG.BR
ENERGIA

A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO
HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE:
QUARTA MAIOR DO MUNDO EM
CAPACIDADE INSTALADA
José BIAGIONI de Menezes | Diretor de Construção – Norte Energia S.A.
Oscar Machado BANDEIRA | Superintendente de Engenharia – Norte Energia S.A.
Daniel Teixeira LEITE | Engenheiro Civil Sênior – Norte Energia S.A.

RESUMO ABSTRACT

O Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, cujo objetivo é a geração de energia Belo Monte HPP, whose objective is the generation of power has been
elétrica, está sendo construído no rio Xingu, no Estado do Pará, abrangendo áreas built on the Xingu River, in the State of Pará, Brazil, it encompassed
dos municípios de Altamira e Vitória do Xingu. A operação comercial de sua areas of the towns of Altamira and Vitória do Xingu, it started the
primeira unidade geradora iniciou em abril de 2016. commercial operation of its first generating unit in April 2016,.
Até março de 2017, já tinham sido instaladas cinco unidades geradoras com By March 2017 had already been installed with five generating units
turbinas Francis e potência nominal igual a 611,1 MW, no sítio Belo Monte, e mais with Francis turbines with nominal power equal to 611.1 MW in Belo
seis unidades geradoras do tipo Bulbo com turbinas Kaplan de eixo horizontal e Monte site and six generating units of type bulb with Kaplan Horizontal
potência nominal igual a 38,85 MW, no sítio Pimental. Com isso, o total de potência Axis turbines, with nominal power equal to 38.85 MW in Pimental site,
instalada foi de 3.288,6 MW. O número representa 29% da potência total a ser totaling 3,288.6 MW of total amount of 11,233.1 MW to be installed.
instalada: 11.233,1 MW - o que corresponde a 24 unidades geradoras nas duas The layout of the structures comprises four distinct and distant sites,
Casas de Força. since the works of the main dam on the Xingu River in the Pimental
O arranjo das estruturas compreende quatro sítios distintos e distantes entre si, site to Belo Monte, the site of the the main powerhouse, with a straight
desde as obras do barramento principal no Xingu, no sítio Pimental, até o local onde distance of about 40 km.
está sendo construída a Casa de Força Principal, no sítio Belo Monte. A distância em This one makes this project different from any other one already
linha reta de cerca de 40 km torna esse empreendimento diferente de qualquer outro built in Brazil or abroad, in complexity and logistics, with six earth
já construído no Brasil ou no exterior, em complexidade e logística. São seis barragens and earth-rockfill dams, thirty dikes, a power canal considered the
de terra e terra-enrocamento, 30 diques, um Canal de Cerivação (considerado o largest artificial one in the world, two powerhouses and a spillway
maior canal artificial do mundo), duas Casas de Força, e um Vertedouro com 18 with eighteen gates, with a flow capacity of 62,000 m³/s.
comportas e capacidade de vertimento de 62.000 m³/s. The entire civil works complex necessary carried out to allow the
Todo esse complexo de obras civis necessário para permitir o início enchimento start of the filling of the main and intermediate reservoirs in a record
dos reservatórios principal e intermediário, foi executado num tempo recorde de time of 4.2 years, in November and December 2015 respectively, and
4,2 anos. Sua conclusão ocorreu em fevereiro de 2016. Aproximadamente 35 mil its conclusion in February 2016, involving approximately thirty-five
trabalhadores estiveram envolvidos com a empreitada durante o pico das obras. thousand workers at the peak of construction.
Atualmente, as obras civis se concentram na montagem das unidades geradoras Currently, the civil works are concentrated in the assembly of the
remanescentes e na execução do concreto de 2° estágio da Casa de Força de Belo remaining generating units and in the placement of the concrete of
Monte. second stage of Belo Monte powerhouse.

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A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA

1. INTRODUÇÃO

C
onstruir uma das maiores usinas hidrelétricas do
mundo na região Amazônica foi um dos grandes
desafios de engenharia, logística e socioambiental
que a Norte Energia S.A. (empreendedora do Complexo
Hidrelétrico) e todas as demais empresas envolvidas com
a construção da UHE Belo Monte tiveram que enfrentar.
O Complexo Hidrelétrico de Belo Monte está sendo
construído no rio Xingu, nos municípios de Altamira
e Vitória do Xingu, no Estado do Pará. Quando estiver
totalmente construído, em 2020, terá uma capacidade
nominal instalada de 11.233,1 MW e será a quarta maior
FIGURA 1 – Comparação dos volumes de produção das principais usinas hidrelétricas
hidrelétrica do mundo em capacidade instalada, com 24
unidades geradoras, sendo seis do tipo Bulbo com 233,1 MW, no
2. ARRANJO GERAL
sítio Pimental e 18 unidades do tipo Francis com 11.000 MW, no
sítio Belo Monte. A UHE Belo Monte se caracteriza por ser uma grande usina de
O Arranjo Geral do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, que é derivação, onde o barramento principal ocorre no sítio Pimental
uma usina a fio d´água, se caracteriza por apresentar sítios de obras e a derivação do rio Xingu ocorre pelo maior canal artificial para
distintos e distantes entre si, desde as estruturas do barramento geração hidrelétrica do mundo, com extensão 16,2 km. Ele alimenta
propriamente dito do rio Xingu, no sítio Pimental, até o sítio o Reservatório Intermediário, que faz a adução da Casa de Força
Belo Monte, onde será construída a Casa de Força Principal do Principal, no sítio Belo Monte.
empreendimento. O empreendimento não possui reservatório de acumulação,
A distância entre estes dois sítios, em linha reta, é de operando em regime de fio d´água, sendo que o nível do Reservatório
aproximadamente 40 km. Entre estes dois sítios, o sistema de Principal se situa na elevação 97,00 m. A queda bruta da Casa de
adução da Casa de Força Principal é constituído pelo Canal Força Principal no sítio Belo Monte é da ordem de 91,50 m e a vazão
de Derivação, com 16,2 km de extensão, e pelo Reservatório máxima turbinada é de 13.950 m³/s, possibilitando uma potência
Intermediário, conformado por diques e canais de transposição. total nominal instalada de 11.000 MW.
Dentre os principais
desafios de engenharia al-
cançados nesta obra, des-
taque para a produção de
69 milhões de m³ de aterro,
a escavação de 166 milhões
de m³ de terra e rocha, e o
lançamento de 3 milhões
de m³ de concreto em um
período de 4,2 anos. Em
termos de movimentação
de obras de terra e rocha, a
UHE Belo Monte supera as
maiores usinas hidrelétricas
do mundo, conforme evi-
denciado pela Figura 1.

FIGURA 2 –
Arranjo Geral da
UHE Belo Monte

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São apresentados alguns números 2.1 SÍTIO PIMENTAL
referentes à UHE Belo Monte na Tabela 1.
O sítio Pimental compreende o barramento principal do empreendimento, que
EMPREENDIMENTO contém o Reservatório do rio Xingu, a partir do qual a água é desviada por um canal de
POTÊNCIA TOTAL INSTALADA: 11.233,1 MW derivação para a formação do Reservatório Intermediário.
GARANTIA FÍSICA: 4.571 MW MÉDIOS As principais estruturas que fazem parte do sítio Pimental são: Barragem Lateral
PRAZO DA CONCESSÃO PARA A NORTE ENERGIA, Esquerda, Casa de Força Complementar com Tomada d’Água incorporada, Vertedouro,
A PARTIR DE 26/08/2010: 35 ANOS Barragem do Canal Direito, Subestação, Sistema de Transposição de Peixes e Sistema de
ÁREA DOS RESERVATÓRIOS Transposição de Embarcações. A Figura 3 apresenta o Arranjo Geral do sítio Pimental.
PRINCIPAL: 359 KM²; INTERMEDIÁRIO: 119 KM²
E TOTAL: 478 KM²
CASAS DE FORÇA: PRINCIPAL, EM BELO MONTE
COMPLEMENTAR, EM PIMENTAL

SÍTIO BELO MONTE

TURBINAS: 18 TIPO FRANCIS


POTÊNCIA INSTALADA: 11 MIL MW
GARANTIA FÍSICA: 4.419 MW MÉDIOS
POTÊNCIA DE CADA UN.: 611,11 MW

SÍTIO PIMENTAL

TURBINAS: 06 KAPLAN DE EIXO HORIZONTAL


POTÊNCIA INSTALADA: 233,1 MW FIGURA 3 – Arranjo do sítio Pimental

GARANTIA FÍSICA: 152,1 MW MÉDIOS


As principais características das estruturas do sítio Pimental são apresentadas na Tabela 2.
POTÊNCIA GERADORA UNITÁRIA: 38,8 MW
02 DIQUES VERTEDOURO
O Vertedouro apresenta perfil vertente do tipo Creager, com crista da ogiva na
CANAL DE DERIVAÇÃO El. 76,00 m e com 18 comportas com dimensões de 20,0 m de largura e 22 m
EXTENSÃO: 16,2 KM de altura (cada). O Vertedouro foi dimensionado para uma vazão de projeto
PROFUNDIDADE TOTAL: 25 M de 62.000 m³/s, com nível do reservatório na El. 97,50 m, correspondente à
LÂMINA D’ÁGUA: 22 M Cheia Máxima Provável (CMP).
LARGURA NA BASE: 210 M
LARGURA NA SUPERFÍCIE: 359 M

DIQUES DO RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO

QUANTIDADE: 28 DIQUES
ATERRO: 31.000.000 M³ DE VOLUME TOTAL
DIQUES
MAIOR ALTURA: DIQUE 8A, COM 68 METROS
MAIOR EXTENSÃO: DIQUE 13, COM 1.987 M
MAIOR VOLUME: DIQUE 13, 5.757.662 M³

TABELA 1 – Números da UHE Belo Monte

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A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA

CASA DE FORÇA E TOMADA D’ÁGUA construídos píeres para a operação de pórticos tipo Travell
Lift. No nível do píer foi construída uma plataforma para a
A Casa de Força é composta por seis unidades geradoras do
manobra e o posicionamento de uma carreta especial auto
tipo Kaplan de eixo horizontal (Bulbo), com potência unitária
propelida, denominada transporter.
de 38,85 MW. A Casa de Força possui três blocos com 38,10 m
O volume de movimentação de escavação, aterro e concreto foi
(cada um abrigando duas unidades geradoras). Por se tratar de
415.000,00 m³, 155.000,00 m³ e 9300,00 m³, respectivamente.
um aproveitamento de baixa queda, a Tomada d’Água e a Casa
de Força formam uma única estrutura.

SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES


O Sistema de Transposição de Peixes está localizado adjacente à
Casa de Força. Este sistema apresenta um comprimento total de
1.200 m e é constituído por quatro partes principais: canal com
diques dotados de aberturas para passagem dos peixes, canal
de entrada, canal de saída e o sistema de água de atração. O
Sistema de Transposição de Peixes foi dimensionado para uma
vazão de 40,0 m3/s, sendo 12,0 m3/s no Canal de Transposição
de Peixes e 28,0 m3/s de água de atração de peixes. BARRAGEM DO CANAL DIREITO
Localizada na margem direita do rio Xingu, possui 834 m de
comprimento e 40 m de altura. Ela possui seção homogênea,
com enrocamento incorporado a montante, totalizando um
volume de 1.142.121 m³ de aterro.

SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO DE EMBARCAÇÕES


O sistema de transposição de embarcações foi implantado BARRAGEM LATERAL ESQUERDA (BLE)
na ombreira da margem direita do rio Xingu. O sistema é Com 5.100 m de comprimento e altura máxima de 14 m, vai
composto por três semi-canais escavados para aproximação da margem esquerda do rio Xingu até as estruturas de geração
das embarcações. Sobre as estruturas dos semi-canais, foram e vertedouro (passando pelas ilhas do Forno, Pimental,

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2.2 SÍTIO CANAIS
Marciana / Reinaldo e pelos canais do rio Xingu). O maciço
da BLE apresenta seção homogênea em solo compactado,
Para o escoamento da vazão máxima turbinada de 13. 950 m³/s,
coroamento de crista na El. 100,00 m, e cut off desincorporado
desde a calha do rio Xingu até o Reservatório Intermediário, que
a montante, totalizando um volume de 3.920.000 m³ de aterro.
alimenta a Tomada d’Água principal em Belo Monte, foi construído
um dos maiores canais de derivação do mundo.
Com seção trapezoidal com largura no fundo de 210 m, 25 m
de altura e aproximadamente 16,2 km de comprimento, o Canal de
Derivação foi totalmente revestido com enrocamento, com a finalidade
de controlar e uniformizar a rugosidade ao longo do canal. As obras de
Manejo de Igarapés que interceptavam o canal exigiram um projeto de
drenagem para desviar e amortecer o fluxo de água afluente à região de
escavação. O objetivo foi conduzir as águas dos igarapés interceptados
TABELA 2 – Características das estruturas de Pimental pelo canal para possibilitar a escavação do mesmo, conforme
mostrado nas Figuras 4 e 5.

FIGURA 4 – Arranjo do Canal de Derivação [2]

FIGURA 5 – Fotos ao longo do Canal de Derivação

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A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA

2.3 RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO - DIQUES

O Reservatório Intermediário é formado por 28 diques que fecham sete Canais de Transposição, além de três canais para possibilitar o
selas ou talvegues de igarapés e estão distribuídos ao longo de todo o enchimento do Reservatório Intermediário.
Reservatório. Os diques, todos com seção homogênea em terra e construídos com
Além destes diques, na região de Belo Monte, o Reservatório é solos migmatíticos, totalizam 31 milhões m3 de aterro. O Dique 8B é
limitado pela Barragem da Vertente de Santo Antonio, pelas Barragens o mais alto, com 68 m de altura, enquanto que o Dique 13 é o mais ex-
de Fechamento Lateral Esquerda e Lateral Direita, e pela própria tenso, com 1.987 m de comprimento. Ele é também o de maior volume
Tomada d’Água. de aterro, com 5.757.662 m³, cuja seção típica é mostrada na Figura 7.
Para possibilitar a condução das vazões ao longo do Reservatório A Tabela 3 apresenta um resumo das principais características dos
Intermediário sem perdas de cargas excessivas, foram escavados diques do Reservatório Intermediário.

FIGURA 6 – Arranjo do Reservatório Intermediário [2]

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FIGURA 7 – Seção Típica do Dique 13 [3]

EXTENSÃO EXTENSÃO
ALTURA EXTENSÃO
ALTURA
VOLUME ALTURA
VOLUME
A Tomada
VOLUME
d’Água, o Muro Central e os Muros Laterais foram
ESTRUTURA ESTRUTURA ESTRUTURA executados (m³)
num misto de concreto convencional e Concreto
(m) (m) (m) (m)
(m) (m³) (m)
(m³)
QUE 1 DIQUE 1 80,00 80,006,00 80,00
6,00 5.120 Compactado
6,00
5.120 com
5.120Rolo (CCR).
QUE 1A DIQUE 1A 185,00 185,00
23,00 185,00
23,00
140.882 23,00
140.882 140.882
A Tomada d’Água, do tipo gravidade, é constituída de 18 blocos
QUE 1B DIQUE 1B 100,00 100,005,00 100,00
5,00 5.902 5,00
5.902 5.902
QUE 1C DIQUE 1C 740,00 740,00
33,00 740,00
33,00
844.466 844.466 33 m de
com
33,00 largura, dos quais partem os condutos forçados em
844.466
QUE 6A DIQUE 6A 850,00 850,00
53,00 850,00
53,00
1.020.221 igual número,
1.020.221
53,00 expostos e paralelos entre si, sendo um para cada
1.020.221
QUE 6B DIQUE 6B 300,00 300,009,00 300,00
9,0036.112 9,00
36.112 36.112Esses blocos são dispostos em dois grupos, sendo
unidade geradora.
QUE 6C DIQUE 6C 1.515,00 1.515,00
63,00 1.515,00
63,00
4.134.404 4.134.404
63,00 4.134.404
QUE 7B DIQUE 7B 1.270,00 1.270,00
49,00 1.270,00
49,00
1.786.684 que oito blocos
1.786.684
49,00 se agrupam na esquerda hidráulica e os dez restantes
1.786.684
QUE 8A DIQUE 8A 1.030,00 1.030,00
68,00 1.030,00
68,00
5.227.785 na direita. Esses
5.227.785
68,00 dois grupos são separados por um muro central de
5.227.785
QUE 8B DIQUE 8B 672,00 672,00
48,00 672,00
48,00
1.864.570 1.864.570
48,00 1.864.570
gravidade, também com 33 m de largura.
QUE 10B DIQUE 10B 353,00 353,00
24,00 353,00
24,00
219.734 24,00
219.734 219.734
QUE 11 DIQUE 11 617,00 617,00
10,00 617,00
10,00
154.063 10,00 A Casa de
154.063 Força Principal da Usina de Belo Monte abriga 18
154.063
QUE 12 DIQUE 12 74,00 74,006,00 74,00
6,00 4.642 unidades com4.642
6,00
4.642 turbinas do tipo Francis de eixo vertical. O rotor da
QUE 13 DIQUE 13 1.987,00 1.987,00
53,00 1.987,00
53,00
5.757.662 5.757.662
53,00 5.757.662
turbina pesa 316,6 t e possui um diâmetro de 8,68m. O rotor do
QUE 14A DIQUE 14A 852,00 852,00
29,00 852,00
29,00
404.620 29,00
404.620 404.620
QUE 14B DIQUE 14B 235,00 235,009,00 235,00
9,0034.954 gerador pesa 1.250,0
9,00
34.954 34.954 t e possui um diâmetro de 18,73 m. O conjunto
QUE 14C DIQUE 14C 820,00 820,00
54,00 820,00
54,00
2.564.501 total de uma
2.564.501
54,00 unidade pesa 2.160 t. Eles são acoplados a um gerador
2.564.501
QUE 14D DIQUE 14D 651,00 651,00
40,00 651,00
40,00
458.346 40,00
458.346 458.346
QUE 14F DIQUE 14F 511,00 511,00
19,00 511,00
19,00
160.043
trifásico de corrente
19,00
160.043 160.043
alternada.
QUE 14G DIQUE 14G 242,00 242,006,00 242,00
6,0017.253 6,00 A
17.253 potência 17.253 unidade geradora é de 611,11 MW, totalizando
de cada
QUE 18 DIQUE 18 180,00 180,00
18,00 180,00
18,0093.191 uma potência93.191
18,00
93.191 instalada de 11.000 MW.
QUE 19B DIQUE 19B 1.500,00 1.500,00
43,00 1.500,00
43,00
4.161.829 4.161.829
43,00 4.161.829
QUE 19C DIQUE 19C 295,00 295,007,00 295,00
7,0020.063 7,00
Os
20.063
blocos das
20.063
unidades geradoras possuem 33 m de largura cada,
QUE 19D DIQUE 19D 300,00 300,00
12,00 300,00
12,0062.783 sendo oito na62.783
12,00
62.783 margem esquerda, denominados Circuito de Geração
QUE 19E DIQUE 19E 190,00 190,00
18,00 190,00
18,0039.811 18,00
39.811 39.811 direita, denominados Circuito de Geração 2.
1, e dez na margem
QUE 27 DIQUE 27 358,00 358,00
14,00 358,00
14,0062.647 14,00
62.647 62.647
QUE 28 DIQUE 28 1.141,00 1.141,00
32,00 1.141,00
32,00
1.508.779 Eles são separados
1.508.779
32,00 1.508.779fisicamente por um septo natural de rocha rema-
QUE 29 DIQUE 29 521,00 521,00
21,00 521,00
21,00
207.869 nescente da escavação
21,00
207.869 207.869 do local. Este septo possui aproximadamente
TABELA 3 - Principais características dos diques do Reservatório Intermediário 32 m de largura e se estende ao longo do canal de fuga, dividindo-o
em dois canais.
2.4 SÍTIO BELO MONTE A Subestação de Manobra que interliga a usina ao sistema de
transmissão é do tipo blindada, isolada a gás SF6, na tensão de 500
O arranjo das estruturas localizadas no sítio Belo Monte kV, e está localizada a montante dos transformadores elevadores, no
compreende o circuito de geração propriamente dito, formado por: deck principal da Casa de Força Principal.
Tomada d’Água, Condutos Forçados, Casa de Força, e Canal de Fuga, A Tabela 4 apresenta as principais características das barragens
duas Barragens de Fechamento Laterais de terra e enrocamento e a do sítio Belo Monte.
Barragem da Vertente do Santo Antônio. A restituição das águas turbinadas ao rio Xingu é feita por um
As estruturas de concreto do barramento do sítio de Belo Monte Canal de Fuga escavado em solo e rocha, com cerca de 1,2 km de
são formadas por 18 blocos de Tomada d’Água, um Bloco Central comprimento e 620 m de largura média.
de concreto-gravidade e dois Muros Laterais de Fechamento e de Sobre o canal de fuga: a cerca de 700 m a jusante dos blocos da
abraço das barragens de terra e enrocamento das margens, com Casa de Força, foi construída uma ponte com 614 m de extensão e
extensão total de cerca 819 m e coroadas na El. 100,00 m. que faz parte da rodovia Transamazônica (BR 230.)

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A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA

FIGURA 8 – Arranjo da UHE Belo Monte [3]

FIGURA 9 – Circuito de Geração da UHE Belo Monte [3]

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A Barragem de Fechamento Direita está coroada na El.
100,00 m, altura máxima da ordem de 54 m e extensão de
780 m, totalizando 1.374.839 m³ de aterro.

A Barragem de Fechamento Esquerda tem o coroamento


na El. 100,00 m, altura máxima da ordem de 88 m e
extensão de 1.100 m, totalizando 7.790.326 m³ de aterro.

A Barragem da Vertente do Santo Antonio está à esquerda


das estruturas da Tomada d’Água em posição vizinha à
Barragem de Fechamento Esquerda. A barragem apresenta
a crista coroada na El. 100,00 m, com a cota mais baixa da
fundação aproximadamente na El. 30,0 - que resulta em
uma estrutura com altura de 70 m. A crista possui uma
largura de 7 m e extensão da ordem de 1.310 m, totalizando
6.122.390 m³ de aterro.

TABELA 4 – Descrições das barragens do sítio Belo Monte

FIGURA 10 – Fotos do sítio Belo Monte

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A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA

3. A CONSTRUÇÃO DE BELO MONTE

3.1 PRINCIPAIS VOLUMES DE ATERRO, ESCAVAÇÃO


E CONCRETO

Para se ter uma ideia da escala do Projeto, as quantidades


previstas e executadas acumuladas até novembro de 2016 estão
mostradas na TABELA 5.

TABELA 5 – Volumes gerais de serviços previstos e executados acumulados

3.2 PRINCIPAIS EVENTOS CONSTRUTIVOS DA OBRA

São apresentados a seguir os principais eventos construtivos


da UHE Belo Monte, em ordem cronológica.
ANO DE 2011
- Início da construção das obras civis.
ANO DE 2012
Dentre os desafios enfrentados na construção da UHE Belo
Monte, a execução do primeiro acesso para interceptar o rio
Xingu, no sítio Pimental, foi um deles.
Para dar condições de andamento nas obras do canteiro
de obras da Ilha Marciana, a execução deste acesso era
fundamental. Entretanto, a vazão de 20.078 m³/s, ocorrida
em 31/01/2012, não permitiu o fechamento do acesso na
ilha Pimental. Com a proximidade do acesso à ilha e o
estrangulamento do fluxo de água houve um aumento da
velocidade da água, o que favoreceu a ocorrência de erosões
na margem da ilha Pimental. Com isto, a continuidade da
execução do acesso teve que aguardar o período seco.
A Figura 11 mostra fotos deste evento. No mês de maio
de 2012, com o rio Xingu apresentando vazões menores,
a execução dos acessos foi concluída, dando condições ao
andamento do Desvio de 1ª Fase em Pimental, conforme
mostrado nas Figuras 12 e 13.
FIGURA 11 – Execução do acesso de jusante em Pimental em 31/01/2012

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FIGURA 12 – Ilustração do Desvio de 1ª Fase – Pimental [1]

FIGURA 16 – Inauguração do Sistema de Transposição de Embarcações, no sítio Pimen-


tal, em janeiro de 2013

FIGURA 13 – Execução do acesso de jusante em Pimental em maio de 2012

As Figuras 14 e 15 mostram outros eventos ocorridos no ano de 2012.

FIGURA 17 – Desvio de 1ª Fase até as ilhas Marciana e da Serra, em janeiro de 2013

Dentre as metas alcançadas em 2013 estão o início da concretagem


das Casas de Força de Pimental e do sítio Belo Monte.

FIGURA 14 – Escavação do Canal de Derivação em novembro de 2012

FIGURA 15 – Escavação do Circuito de Geração do sítio Belo Monte em novembro de 2012

ANO DE 2013
Em janeiro de 2013, grandes metas foram alcançadas com a
conclusão do Desvio de 1ª Fase e início da operação do Sistema
de Transposição de Embarcações.

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A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA

ANO DE 2014
A montagem eletromecânica ganhou relevância em 2014 com o
início da operação da ponte rolante no sítio Belo Monte. Na ocasião,
houve a descida do pré-distribuidor da Unidade Geradora 1 (UG 1)
da Casa de Força.
A montagem das comportas do Vertedouro no sítio Pimental foi
iniciada em julho de 2014.
As fotos da Figura 20 mostram respectivamente esses dois eventos.

FIGURA 18 – Avanço das estruturas de concreto no sítio Belo Monte e Pimental em


outubro de 2013

As obras nos sítios Canais e Bela Vista avançaram também


neste período. As fotos a seguir, ilustradas na Figura 18,
mostram a execução da escavação do Canal de Derivação e do
aterro do Dique 19B, respectivamente.

FIGURA 20 – Descida do pré-distribuidor da UG 1 de Belo Monte em junho e início da


montagem das comportas do vertedouro em Pimental, em julho de 2014

Ao final de 2014, a UHE Belo Monte atingiu o pico de


construção da obra com mais de 35 mil trabalhadores. Grandes
avanços foram alcançados nesta época!
Em novembro de 2014, as escavações já haviam superado 160
milhões de m3, bem como tinham sido executados 40 milhões de
m3 de aterro e mais de 2 milhões de m3 de concreto.
As Figuras 21 a 23 representam o estágio da obra em novembro
FIGURA 19 – Avanço das obras do Canal de Derivação e no sítio Bela Vista, em outubro de 2013 de 2014 nos principais sítios.

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FIGURA 21 – Sítio Pimental em novembro de 2014 FIGURA 23 – Sítio Belo Monte em novembro de 2014

ANO DE 2015
Dois eventos de magnitude foram realizados em 2015 no sítio
Pimental: o Desvio de 2ª fase do rio Xingu pelo Vertedouro em
julho e o fechamento do canal direito com as ensecadeiras de 2ª
fase em agosto. Com isso, foi possível começar o enchimento do
Reservatório em novembro de 2015.
Dando início ao desvio de 2ª fase, em 31 julho de 2015 ocorreu
a remoção da ensecadeira de 1ª Fase. Sequencialmente ocorreu o
FIGURA 22 – Canal de Derivação em novembro de 2014 fechamento do Canal Direito em 07 de agosto, conforme mostram
as Figuras 24 e 25.

FIGURA 24 – Desvio de 2ª Fase – sítio Pimental [1]

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A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA

FIGURA 26 – Praça de trabalho da Ensecadeira Barragem, em setembro de 2015

A Ensecadeira Barragem atingiu a cota de coroamento em


22 de outubro de 2015, conforme evidenciado na Figura 27.

FIGURA 27 – Coroamento da Ensecadeira Barragem em outubro de 2015


FIGURA 25 – Abertura da Ensecadeira de 1ª Fase e fechamento do Canal Direito
Após o coroamento das estruturas, em 24 de novembro de 2015,
Construir um barramento no leito do principal braço do rio foi iniciado o enchimento do Reservatório Principal do rio Xingu e,
Xingu, com 1,2 milhões de m3 em 80 dias e 40 metros de altura, foi em 12 de dezembro de 2015, começou o enchimento do Reservatório
o grande desafio que a Norte Energia, junto com todos envolvidos Intermediário por meio de um Vertedouro com duas comportas,
na construção da UHE Belo Monte, teve que enfrentar. localizado na margem direita, no início do Canal de Derivação.
As incertezas quanto às condições de fundação no leito do Canal As fotos da Figura 28 mostram o Vertedouro de Pimental
Direito levaram os projetistas a desenvolverem uma Ensecadeira durante a etapa de enchimento do Reservatório Principal, localizado
Barragem, ver Tabela 6, para suportar por um ano o reservatório até no rio Xingu, e o enchimento do Reservatório Intermediário pelo
a construção definitiva da Barragem do Canal Direito. Vertedouro de enchimento no Canal de Derivação.

A Ensecadeira Barragem possui seção homogênea, com


o coroamento na El. 99,00 m, altura máxima da ordem
de 40 m e extensão de 948 m, totalizando um volume de
1.183.475 m³.

TABELA 6 – Características da Ensecadeira Barragem

Para cumprir esse desafio, foi necessário montar uma


verdadeira “operação de guerra”. Eram três turnos de trabalho
durante 24h/dia. Foram alocados equipamentos de alto
desempenho de compactação (CAT 825 de 35t), mostrados na
Figura 26.
FIGURA 28 – Enchimento dos reservatórios

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ANO DE 2016
CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS
A conclusão do enchimento dos reservatórios ocorreu em 15
EQUIPAMENTOS ELETROMECÂNICOS
de fevereiro de 2016, conforme registrado na Figura 29.
UHE BELO MONTE

FIGURA 29 – Conclusão do enchimento dos reservatórios


UHE PIMENTAL

Em outubro de 2016, foi concluída a barragem do Canal Direito,


em Pimental, pois entre o início do enchimento do Reservatório,
em novembro de 2015 e outubro de 2016, o barramento no Canal
Direito vinha sendo desempenhado pela Ensecadeira Barragem.
Na Tabela 7 são relacionadas as principais metas atingidas de
geração comercial durante 2016 e início de 2017.

META DATA
SÍTIO BELO MONTE (5x 611,1 MW= 3.055,5 MW) TABELA 8 – Características dos principais equipamentos eletromecânicos

Início da operação comercial da UG 1 Abril 2016

Início da operação comercial da UG 2 Julho 2016 3.4 POTÊNCIA INSTALADA, ENERGIA FIRME, FATOR
DE CAPACIDADE E AREA DE RESERVATÓRIO
Início da operação comercial da UG 3 Novembro 2016

Início da operação comercial da UG 4 Janeiro 2017 A capacidade total instalada das Usinas de Pimental e Belo
Inicio de operação comercial da UG 5 Março 2017
Monte será de 11.233,1 MW, com garantia assegurada de 4.571
MW médios, assim distribuídos: Casa de Força Principal no sítio
SÍTIO PIMENTAL (6x 38,85 MW= 233.1 MW)
Belo Monte com capacidade instalada de 11.000MW e garantia
Início da operação comercial da UG 1 Abril 2016 assegurada de 4.418MW médios, e Casa de Força complementar
no sítio Pimental, com capacidade instalada de 233.1 MW e
Início da operação comercial da UG 2 Junho 2016
garantia assegurada de 151,1 MW médios.
Início da operação comercial da UG 3 Agosto 2016 A usina é do tipo fio d’água e isso significa que ela vai gerar mais
Início da operação comercial da UG 4 Novembro 2016 energia no período de cheia e menos energia no período de seca, ou
seja, devido aos aspectos sociais e ambientais, o empreendimento
Início da operação comercial da UG 5 Janeiro 2017
foi construído sem reservatório de regularização.
Início da operação comercial da UG 6 Janeiro 2017 O empreendimento terá um fator de capacidade de 41% como
consequência dos seguintes fatores:
TABELA 7 – Principais metas de geração atingidas em 2016 e 2017 no empreendimento
i. Redução da área do reservatório de 1.225 km2 para 478
km2 com a eliminação da capacidade de regularização das
3.3 CARACTERÍSTICAS DOS EQUIPAMENTOS vazões afluentes a Belo Monte e com a finalidade de evitar
ELETROMECÂNICOS PRINCIPAIS inundação de áreas indígenas;
ii. Retirada de outros aproveitamentos a montante na bacia
A Tabela 8 apresenta as características dos principais equipamentos que permitiriam maior regularização das vazões, conforme
eletromecânicos dos sítios Belo Monte e Pimental. Resolução 06/2008 do Conselho Nacional de Política

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A CONSTRUÇÃO DO COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE BELO MONTE: QUARTA MAIOR DO MUNDO EM CAPACIDADE INSTALADA

TABELA 9 – Principais características de geração e área de reservatórios de usinas hidrelétricas brasileiras

Energética (CNPE) que estabeleceu Belo Monte como o possibilidade de armazenamento em Belo Monte diminui também
único aproveitamento hidrelétrico possível no rio Xingu; fortemente os riscos de carência de energia.
iii. Adoção de um hidrograma de consenso mínimo com os Apesar do fator de capacidade de Belo Monte ser de 41%, ela
órgãos ambientais para permitir vazões defluentes mínimas se situa bem entre a média das hidrelétricas brasileiras, que têm
mensais a jusante de Pimental (para assegurar as condições de um fator de capacidade estimado em valores situados entre 50%
pesca, navegação e outros usos das comunidades indígenas e e 55% Além disso, ela fica acima das hidrelétricas internacionais.
ribeirinhas). Na Europa, este fator fica entre 20% e 35%, em média, sendo um
Apesar de ser a única hidrelétrica autorizada a ser construída no pouco maior na China. Nos EUA, os valores atingem 45%.
rio Xingu, pela Resolução 06/20018, ela não pode ser considerada Se considerarmos a área alagada do reservatório, Belo Monte
como uma usina isolada e, sim, como hidricamente intercomunicada. tem um dos maiores índices de energia firme gerada relacionada
Isto por que ela é interligada eletricamente ao SIN com o resto do País. com a área de reservatório - representado pela relação entre a
Uma vez que o rio Xingu tem suas cheias quase dois meses depois energia firme gerada e a área alagada (MW/km2), evidenciado na
das cheias dos rios das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, a Tabela 9. [4], [5], [6]

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4. PICOS DE PRODUÇÃO Temáticos ANEEL 3 – Energia Assegurada. Brasília, DF, Abril de 2015.
[6] Silva, P. J. Usinas Hidrelétricas do Século 21: Empreendimentos com Restrições

A UHE Belo Monte, um motivo de orgulho nacional, foi à Hidroeletricidade. Tabela 3, pg. 87. Disponível em <http://www.brasilengenharia.

construída no Brasil por mais de 35 mil brasileiros e quebrou vários com/portal/images/stories/revistas/edicao619/619_energia.pdf >. Acesso em 6 de

recordes de produção nos serviços de terra e rocha: fevereiro de 2017.

- PICO DE PRODUÇÃO MENSAL DE CONCRETO


ESTRUTURAL: 110.000 m³ no mês de setembro / 2014;
- PICO DE ESCAVAÇÃO COMUM MENSAL: 6.600.000 m³ no José Biagioni de Menezes
Engenheiro Civil graduado pela Escola de Engenharia
mês de julho / 2015;
Kennedy, em Belo Horizonte (1978).
- PICO DE ESCAVAÇÃO EM ROCHA MENSAL: 2.500.000 m³
Possui experiência em Fisca-lização, Acompanhamento,
no mês de julho / 2015; Gerenciamento Técnico e Comercial de Obras para
- PICO DE PRODUÇÃO MENSAL DE ATERRO: 6.280.000 m³ implantação de usinas hidrelétricas.
no mês de julho / 2015. Trabalhou nas empresas VSL Protensão, Itaipu Binacional,
Monasa Engenharia e ELETROBRAS ELETRONORTE, onde foi Gerente das

5. AGRADECIMENTOS áreas Técnica e Comercial nas obras de Balbina e Tucuruí, de 1982 a 2012.
Desde 2012 trabalha na Norte Energia S.A., onde exerceu as funções de
Superintendente de Obras e de Contratos e atualmente responde pela Diretoria de
Em nome da Norte Energia, os autores agradecem aos mais Construção.
de 35 mil trabalhadores que participaram da construção deste
empreendimento. Construída e projetada pelas maiores empresas Oscar Machado Bandeira
Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal
nacionais, parabenizamos a engenharia brasileira e a todos os
de Campina Grande (PB) em 1969, tem 40 anos de
envolvidos na construção deste empreendimento. Apesar das
experiência na Supervisão e Construção de hidrelétricas.
adversidades, conquistamos todos juntos a vitória de construir uma
Atuou como Engenheiro Residente, Engenheiro Consultor,
das maiores usinas hidrelétricas do mundo na região Amazônica. Coordenador de Obras Civis, Superintendente de
Engenharia e Construção nas hidrelétricas de Itaparica,
6. PALAVRAS-CHAVE Xingó, Tucuruí e Belo Monte (Brasil), Tianshengqiao 1
(China), Bakun (Malásia) e Siah Bishe (Irã).
Desde abril de 2011 atua na Norte Energia S/A como Superintendente de
Belo Monte, Arranjo Geral, construção, ficha técnica, volumes.
Engenharia e Construção da UHE Belo Monte e Coordenador dos Trabalhos de
Segurança de Barragens do empreendimento.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Daniel Teixeira Leite
[1] IEP – Consórcio Projetista. Projeto Básico Consolidado da Usina Hidrelétrica Coordenador de Segurança de Barragens e Geotécnico
de Belo Monte. 2012. na UHE Belo Monte, atuou nos projetos e execução de 33
[2] IEP – Consórcio Projetista. Projeto Executivo da Usina Hidrelétrica de Belo barragens e diques, duas casas de força, um vertedouro, do
Monte. 2012 2016. maior canal do Brasil (com aproximadamente 20 km de
extensão), e na Coordenação e Implantação do Plano de
[3] CCBM – Consórcio Construtor Belo Monte. Relatório Mensal de Progresso. 2016.
Segurança de Barragens.
[4] ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. BIG – Banco
Possui experiência em Estudos de Arranjos de usinas
de Dados de Informações de Geração. Atualizado em 06 de fevereiro de
hidrelétricas, tendo participado na elaboração de diversos projetos: UHE Caçu (65
2017. Disponível em http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/ MW), UHE Coqueiros (90 MW), UHE Ferreira Gomes (252 MW), UHE Ribeiro
energiaassegurada.asp. Acesso em 06 de fevereiro de 2017. Gonçalves (113 MW), UHE Riacho Seco (276 MW), UHE São João (60 MW),
[5] ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Cadernos Cachoeirinha (45 MW), entre outros.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 21


HIDRÁULICA E VERTEDORES

UHE BELO MONTE -


CANAL DE DERIVAÇÃO:
MAIOR CANAL ARTIFICIAL
DO MUNDO PARA GERAÇÃO
HIDRELÉTRICA
Franciele REYNAUD | Engenheira Civil – Intertechne Consultores S.A.
Marcus Fernandes ARAÚJO Filho | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A.
Renato GRUBE | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A.
Rogério PIOVESAN | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A.

RESUMO ABSTRACT

O Canal de Derivação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, com uma The Belo Monte Hydroelectric Plant Diversion Channel, with a length
extensão de 16 km, não tem precedente no mundo em termos de vazão de of 16 km, is unprecedented in the world in terms of magnitude of flow with
adução: 13.950 m³/s. Este Canal interliga o Reservatório Principal, na calha do its 13,950 m³/s. The Channel connects the Main Reservoir in the Xingu
rio Xingu, com o Reservatório Intermediário e conduz a vazão de geração para a River with the Intermediate Reservoir and takes the water to the Main
Casa de Força Principal com capacidade total instalada de 11.000 MW. Power House, which has a total installed capacity of 11,000 MW.
O presente artigo descreve as principais características do Canal de This article describes the main characteristics of the Diversion
Derivação, bem como os estudos de engenharia que conduziram à definição Channel as well as the engineering studies that led to the definition of
da geometria e à concepção do manejo e do sistema de drenagem dos igarapés the geometry and to the design of the water management and drainage
que afluem no traçado do Canal. Os volumes de escavação do Canal de system of the streams that flow into the channel. The excavation
Derivação superaram 100 milhões de m3 e, estando no caminho crítico do volumes of the channel exceeded 100 million cubic meters and, being
empreendimento, exigiram minucioso planejamento das etapas de construção part of the critical path of the scheduled, required careful planning of the
e da disposição dos materiais escavados em pilhas de bota-fora. construction steps and the disposal of the excavated material.

22 WWW.CBDB.ORG.BR
1. INTRODUÇÃO 2. CANAL DE DERIVAÇÃO

O
aproveitamento hidrelétrico de Belo Monte está A conexão entre o Reservatório Principal na calha do rio Xingu
no rio Xingu (Pará) onde há uma queda natural e o Reservatório Intermediário é feita pelo Canal de Derivação,
desenvolvida ao longo de um trecho de corredeiras cuja configuração geral é apresentada na Figura 2. O canal foi
denominado de Volta Grande do Xingu. No trecho a montante, dimensionado para escoar a vazão máxima de 13.950 m³/s. O
o rio Xingu é represado por um barramento, denominado de comprimento do canal é de 16,2 km e seu desenvolvimento é
sítio Pimental, no qual se localizam o Vertedouro e a Casa de intercalado por trechos retilíneos e curvos, que possuem
Força Complementar. Logo a jusante desse local iniciam as raios de curvatura tipicamente de 600 m. Aproximadamente
corredeiras. Ao término das corredeiras está o sítio Belo Monte, a 1.000 m do início do Canal de Derivação, foi construído,
onde está situada a Casa de Força Principal. O empreendimento na lateral direita do canal, o vertedouro de enchimento, cuja
não possui reservatório de acumulação, operando em regime a finalidade foi propiciar a alimentação de forma controlada de
fio de água, sendo que o nível do Reservatório Principal fica na vazões de até 1.000 m³/s para o enchimento do Reservatório
elevação 97,00 m. A queda bruta da Casa de Força Principal é Intermediário e Canal de Derivação. Para ligação entre as
da ordem de 91,50 m e a vazão máxima turbinada de 13.950 duas laterais do Canal de Derivação foi construída uma ponte
m³/s, possibilitando a implantação de 18 unidades geradoras de acesso aproximadamente a 13,5 km do início do Canal de
tipo Francis, com potência instalada total de 11.000 MW [1]. Derivação.
A interligação entre o sítio Pimental (Reservatório Principal) Junto ao Reservatório Principal, o canal apresenta um
e o sítio Belo Monte (Casa de Força Principal) é propiciada patamar com cerca de 160 m de comprimento na elevação
pelo Canal de Derivação e pelo Reservatório Intermediário, 87,00 m com 500 m de largura. Em seguida vem uma rampa
sendo que o Arranjo Geral do empreendimento pode ser visto descendente com comprimento de 270 m até o fundo do canal
na Figura 1. O Reservatório Intermediário consiste num lago na elevação 75,00 m, onde então apresenta 210 m de largura até
artificial situado fora da calha do rio Xingu, onde se encontram o seu final. Na fase de construção do canal, uma ensecadeira
28 diques (barragens) que servem para o fechamento de de solo foi implantada na elevação 87,00 m para proteger as
drenagens que afluem esta área. atividades de construção.
No trecho final, o Canal
de Derivação se conecta ao
Reservatório Intermediário,
formando um canal submerso.
Neste trecho submerso, o canal
é escavado possuindo cerca
de 4 km de extensão, fundo
horizontal na elevação 75,00
m e largura do fundo de 280
m. Neste trecho final que está
submerso no reservatório, o
canal é parcialmente contido por
diques laterais submersos que
causam o espraiamento do fluxo.
A Figura 3 apresenta seções
transversais típicas que con-
figuram o Canal de Derivação.
Nas laterais do piso do canal
estão canaletas de drenagem
utilizadas durante a fase de
construção. O piso do canal foi
sistematicamente revestido com
FIGURA 1 – UHE Belo Monte – Arranjo Geral

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 23


UHE BELO MONTE - CANAL DE DERIVAÇÃO: MAIOR CANAL ARTIFICIAL DO MUNDO PARA GERAÇÃO HIDRELÉTRICA

3B). Os taludes verticais são


escavados com declividade
de 0,5H:1,0V com a largura
das bermas escavadas em
rochas ampliadas de modo
a manter o gabarito de
escavação em solo do canal.
Como pode ser observado
na Figura 3C, os taludes
de escavação em solo ou
constituídos por aterro são
revestidos por material de
enrocamento denominado
5D com 0,60 m de espessura
aplicado sobre uma camada
de transição de 0,20 m de
espessura. Este material
possui granulometria mais
grossa que o material 5D´

FIGURA 2 – Planta geral do Canal de Derivação [2]

enrocamento processado denominado


5D´, com 0,60 m de espessura, sendo a
finalidade deste revestimento propiciar
uniformidade da rugosidade do canal.
Nos trechos em que o fundo do canal
se encontrava em solo, foi aplicada
uma camada de transição de 0,20 m de
espessura sob o material 5D´.
Os taludes laterais escavados
em rocha do Canal de Derivação
possuem declividade de 0,5H:1,0V, e
os taludes escavados em solo possuem
declividade de 2,5H:1,0V. Nas laterais
do canal existem pistas de acesso na
elevação 100,00 m, que delimitam a
borda do canal (linha A) distante a
179,50 m do eixo. Nas elevações 84,00
m e 93,00 m, os taludes são intercalados
com bermas intermediárias que, para
uma configuração de escavação em
solo (Figura 3A), possuem 6,00 m de
largura. Esta configuração de seção
escavada em solo (ou conformadas por
aterros) se constitui no gabarito típico
e nas situações em que o topo rochoso
fica acima do fundo do canal (Figura FIGURA 3 – Seções típicas do Canal de Derivação

24 WWW.CBDB.ORG.BR
(aplicado no piso), tendo sido obtido diretamente das escavações Os sistemas podem ser divididos em três tipos. No primeiro
obrigatórias do canal. A declividade dos taludes laterais em solo grupo, as cheias produzidas pelas sub-bacias são contidas por
foi adotada como 2,5H:1,0V de modo a permitir o trânsito diques nas regiões de bota fora, sendo a vazão efluente reduzida em
de equipamentos (tratores) ao longo do próprio talude para relação à afluente por efeito de amortecimento. As vazões efluentes
aplicação do revestimento de enrocamento [2]. são drenadas para fora da região de amortecimento por galerias
de passagem e canais coletores. A Figura 5 ilustra este método de
desvio utilizado nos sistemas Galhoso, Xingu e Di Maria. O segundo
3. MANEJO DOS IGARAPÉS tipo de sistema também considera o amortecimento de cheias em
reservatórios criados por diques. No entanto, as vazões efluentes são
O eixo do Canal de Derivação é desenvolvido ao longo da conduzidas para dentro do Canal de Derivação através de galerias
calha de dois igarapés perenes, o Galhoso e o Paquiçamba. Estes localizadas sob os acessos nas margens do canal. Este sistema foi
igarapés são alimentados por outros pequenos igarapés com utilizado para as Bacias Intermediárias que, por estarem localizadas
vazões perenes e intermitentes. na região central do Canal de Derivação, não possibilitavam o
Para a construção do Canal de Derivação, foi necessária esgotamento da água da chuva para fora da região de construção do
a implementação de um sistema de drenagem para desviar e mesmo. Esta concepção está apresentada na Figura 5.
amortecer o fluxo de água afluente ao canal. Este sistema de O terceiro tipo de sistema é composto por canais de ligação
drenagem foi denominado de Manejo dos Igarapés. No total entre as sub-bacias, onde o amortecimento ocorre nas áreas de
são sete sistemas de drenagem, conforme apresentado na Figura bota-fora e também ao longo dos próprios canais de drenagem.
4: Sistema Galhoso, Xingu, Di Maria, Bacias Intermediarias, Este tipo foi utilizado nos sistemas Paquiçamba, Ticaruca e
Ticaruca, Paquiçamba e Interno do Canal [1, 2]. Interno do Canal. A Figura 6 ilustra um destes sistemas.

FIGURA 4 – Sistemas de Manejo dos Igarapés

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UHE BELO MONTE - CANAL DE DERIVAÇÃO: MAIOR CANAL ARTIFICIAL DO MUNDO PARA GERAÇÃO HIDRELÉTRICA

FIGURA 5 – Galhoso, Xingu e Di Maria (esquerda) | Bacias Intermediárias (direita)

FIGURA 6 – Amortecimento por canais – exemplo: Sistema Ticaruca

4. ESTUDOS DE ENGENHARIA menores escavações para a execução da obra. A seleção deste


alinhamento foi resultado de um amplo estudo de alternativas
PARA DEFINIÇÃO DO ARRANJO e configurações, onde se avaliaram canais únicos, dois canais
SELECIONADO separados e canais que se bifurcam em dois tramos ou separados
que se unem num único tramo comum. Assim, durante a fase
4.1 DEFINIÇÃO DO EIXO E SEÇÃO de Projeto Básico, foram analisadas 12 variantes principais [1]. A
TRANSVERSAL ÓTIMA Figura 7 ilustra estes estudos de alternativas.
Simultaneamente, foi realizado o estudo da seção transversal
O alinhamento do Canal de Derivação se desenvolve ao longo do canal. Devido à configuração variável da topografia do
do eixo de dois igarapés, o Galhoso e o Paquiçamba, que por terreno e do horizonte do topo rochoso, a seção transversal do
se situarem em região com elevações mais baixas, resultam em canal é variável, o que resulta em várias configurações. Para a

26 WWW.CBDB.ORG.BR
definição das características da seção transversal ótima, com e revestimentos) que atendesse aos requisitos hidráulicos de
menor custo total, foi desenvolido um programa em CAD para dimensionamento.
análise das alternativas. Como dados de entrada do programa, Ao longo dos estudos de otimização, realizados durante
foram fornecidas as restrições hidráulicas de vazão e perda o Projeto Básico, foram analisados também os diversos
de carga, restrições geométricas, materiais constituintes e a componentes do Circuito de Geração, incluindo Canal de
configuração topográfica do terreno. De posse desses dados, Derivação, Canais de Transposição e Unidades Geradoras
o programa selecionava a geometria de seção transversal (rendimentos) buscando a redução dos custos associados a obras
mais econômica, com base nos custos unitários das principais civis (escavações, aterros e revestimentos) de modo a se obter
quantidades associadas (escavações em solo e em rocha, aterros perdas de carga ao longo do circuito compatíveis com os requisitos

FIGURA 7 – Estudos de alternativas do Canal de Derivação

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 27


UHE BELO MONTE - CANAL DE DERIVAÇÃO: MAIOR CANAL ARTIFICIAL DO MUNDO PARA GERAÇÃO HIDRELÉTRICA

energéticos do empreendimento
(Energia Firme).
Nos Estudos de Viabilidade
Técnica-Econômica (EVTE) era
previsto volumes de escavação
comum e em rocha da ordem de
176,6 milhões de m³. Os volumes
finais dos estudos de otimização
resultaram em 121,9 milhões de m³.
Ou seja, houve uma redução de 54,7
milhões de m³. Adicionalmente,
o EVTE considerava o Canal de
Derivação revestido parcialmente
com concreto convencional, o que
gerava um volume de 1,1 milhões.
Ao término da otimização, o
revestimento em concreto foi
substituído por revestimento de
enrocamento num volume da
ordem de 3,9 milhões de m³ no
Canal de Derivação e 2,8 milhões
FIGURA 8 – Distribuição de velocidades (m/s)
de m³ nos Canais de Transposição
do Reservatório Intermediário.
necessária uma avaliação mais detalhada dos efeitos das curvas
4.2 DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO do canal no escoamento ao longo do mesmo. O estudo buscou
tanto avaliar o comportamento em si do escoamento nas curvas,
Uma vez definida a seção transversal ótima, o como avaliar o impacto na estabilidade dos revestimentos
dimensionamento hidráulico foi confirmado por meio do do canal (enrocamento). Por essa razão, foi desenvolvido em
software HEC-RAS (unidimensional). Este dimensionamento conjunto com a equipe do Laboratório de Hidrossistemas Ven
consistiu na determinação da perda de carga levando em conta Te Chow (Universidade de Illinois), um estudo de modelagem
suas características geométricas e de revestimento (rugosidades). computacional tridimensional do Canal de Derivação. O estudo
Conforme descrito anteriormente, o Canal de Derivação possui foi realizado em duas etapas com dois modelos numéricos
uma seção transversal que sofre variações ao longo de sua distintos. O primeiro modelo avaliou toda a extensão do canal
extensão. Definida de forma a evitar perdas de cargas localizadas, utilizando o programa TELEMAC3D. Para a segunda etapa do
o fluxo é totalmente confinado dentro do canal. estudo, estudo foi selecionado o trecho mais crítico do canal
Para as superfícies escavadas em rocha, revestidas com (curvas mais acentuadas e próximas entre si). Então, foram
materiais 5D e 5D´, foram obtidos coeficientes de Manning- estudados os efeitos tridimensionais do escoamento com o
Strickler de 32,0, 34,0 e 35,67, respectivamente. Para se programa Ansys-Fluent.
determinar a rugosidade equivalente se foi utilizado o método de O modelo foi composto por três partes principais: (i) uma
ponderação proposto por Lotter. Tal metodologia acabou sendo pequena porção do Reservatório de Principal a montante
a mais adequada para as características do canal. Para a vazão de do Canal de Derivação, a qual teve por objetivo reproduzir
13.950 m³/s, a perda de carga atribuída ao Canal de Derivação é as condições de entrada do canal, (ii) o Canal de Derivação
de 2,03 m. propriamente dito e (iii) um trecho de jusante que representa
as condições de escoamento no Reservatório Intermediário.
4.3 MODELAGEM COMPUTACIONAL A Figura 8 ilustra a configuração estudada e o resultado da
simulação em termos de velocidades do fluxo [3].
Tendo em conta as dimensões atípicas do Canal de Ao analisar a Figura 8, pode ser notado que a distribuição de
Derivação e a própria vazão de adução (13.950 m³/s), se julgou velocidades ao longo do canal, até as proximidades da curva 3,

28 WWW.CBDB.ORG.BR
são muito semelhantes a um canal retilíneo. O efeito devido às foram considerados adequados, uma vez que as tensões tangenciais
curvas começa a ser mais pronunciado quando o escoamento se máximas admissíveis para os revestimentos são de 44 N/m² para
aproxima da curva 3 e em seguida está sujeito a uma sequência de o material do fundo (5D´) e 56 N/m² para o material dos taludes
curvas próximas entre si. Existe uma concentração de velocidades laterais (5D).
em algumas regiões do escoamento, representada pela região Apesar do estudo com modelagem de águas rasas
avermelhada, principalmente no talude direito da curva 4. Esse efeito (TELEMAC3D) ter concluído pela condição de estabilidade
de concentração de velocidades (regiões com velocidades da ordem dos revestimentos, se optou por estudar a porção mais crítica
de 3,5 m/s) segue até praticamente o final do Canal de Derivação. do Canal de Derivação: curvas 3 e 4, com um modelo numérico
A concentração de velocidades resulta em um acréscimo de tridimensional Ansys-Fluent para a solução das equações
tensões tangenciais com potencial erosivo superior ao existente no de Navier-Stokes. A Figura 9 mostra o perfil de velocidades
trecho retilíneo. Enquanto que nos trechos mais retilíneos do canal as resultante do modelo e o mapa de tensões tangenciais junto aos
tensões tangenciais são da ordem de 20 a 25 N/m², na margem direita revestimentos do canal. Ao se analisar esta figura, é possível
da curva 4 aparecem valores da ordem de 40 N/m². Esses valores observar que os padrões e magnitudes, tanto da distribuição de
velocidades quanto das tensões tangenciais, resultaram muito
semelhantes aos obtidos pelo TELEMAC3D, ratificando as
conclusões quanto à estabilidade dos revestimentos [3].
Adicionalmente, para auxiliar o projeto do Canal de Derivação
foram desenvolvidos estudos em Modelo Hidráulico Reduzido. As
pesquisas foram realizadas nos laboratórios do Centro de Hidráulica
e Hidrologia Prof. Parigot de Souza - Lactec (CEHPAR). Em linhas
gerais, foram feitas as seguintes avaliações: (i) Estabilidade dos

FIGURA 9 – Distribuição de velocidades (m/s) e tensões FIGURA 10 – Aspecto final do canal antes do enchimento
tangenciais do modelo Ansys Fluent (N/m²) (acima) e em operação (logo abaixo)

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UHE BELO MONTE - CANAL DE DERIVAÇÃO: MAIOR CANAL ARTIFICIAL DO MUNDO PARA GERAÇÃO HIDRELÉTRICA

revestimentos, (ii) Impacto do processo de enchimento sobre os Franciele Reynaud


revestimentos e (iii) Comportamento do fluxo nas curvas 3 e 4. Engenheira Civil formada em 2006 e mestra em
Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental desde 2008

5. FOTOS DA OBRA pela Universidade Federal do Paraná. Atua na Intertechne


Consultores S.A. desde 2008.
Possui experiência de 10 anos em atividades de Projeto,
A Figura 10 mostra fotos do Canal de Derivação, durante sua
Planejamento, Execução, Coordenação de Interfaces
construção e operação respectivamente. e Gerenciamento de empreendimentos hidráulicos e
hidrelétricos no Brasil e no exterior. Foi Coordenadora Técnica dos Estudos Básicos
6. CONCLUSÕES da UHE Belo Monte.
Atualmente é a responsável pela Gerência Geral do AH Molineros, na Bolívia e da
Barragem de Palo Redondo, no Peru.
No presente artigo estão as principais características do Canal
de Derivação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. São justamente
Marcus Fernandes Araujo Filho
estes aspectos que possibilitam a condução de uma vazão de 13.950
Engenheiro Civil formado em 2008 e mestre em Engenharia
m³/s. Trata-se do maior canal do mundo para geração hidrelétrica. de Recursos Hídricos e Ambiental desde 2014 pela
Para viabilizar a construção do Canal de Derivação foi executado Universidade Federal do Paraná. Concluiu a pós-graduação
um amplo conjunto de obras de drenagem (denominado Manejo em Gestão de Projetos pela FAE Business School em 2016.
dos Igarapés). Foram também apresentadas, de forma sintética, Trabalha desde 2007 na Intertechne Consultores.
os estudos de engenharia que conduziram à configuração do Tem experiência de oito anos em projetos de

referido canal. Foram várias etapas até a conclusão da empreitada. empreendimentos hidráulicos e hidrelétricos no Brasil e no
Exterior. Engenheiro hidráulico responsável por dimensionamentos de estruturas
Entre elas estão: seleção de eixos, estudos para seção transversal
hidráulicas da UHE Belo Monte, incluindo o Canal de Derivação.
ótima, dimensionamentos hidráulicos unidimensionais, análises
Há um ano e meio faz parte do Grupo de Desenvolvimento de Projetos em Energia
numéricas bidimensionais e tridimensionais, além de estudos Renovável (solar e eólica).
hidráulicos em modelo reduzido.
Renato Grube
7. PALAVRAS-CHAVE Engenheiro Civil formado em 1994 com mestrado em
Engenharia Hidráulica em 2001 pela Universidade Federal
Belo Monte, Canal de Adução, revestimento de canais, do Paraná.
Experiência de 22 anos atuando como Engenheiro
perdas de canais, rugosidade de canais, manejo de igarapés,
Hidráulico, Chefe de Departamento, Coordenador e
análises numéricas, Modelo Reduzido.
Supervisão Técnica em projetos hidráulicos e hidrelétricos
(Inventário, Viabilidade, Básico e Executivo) no Brasil e
8. AGRADECIMENTOS exterior. Seus projetos de maior destaque são: Belo Monte, Santo Antonio, Teles
Pires, Irapé, Chaglla, Baixo Iguaçu, Sinop, Estreito, São Salvador, Cana Brava,
Capim Branco, Santa Clara, Fundão, Manduriacu, Múgica, Picachos, Salto,
Os autores agradecem aos engenheiros Kamal F. S. Kamel,
Verdinho e Itiquira.
Lourenço J. N. Babá e Roberto E. Bertol pelos ensinamentos ao
longo do desenvolvimento do projeto. Rogerio Piovesan
Engenheiro Civil formado em 1998 pela Universidade
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Federal do Paraná com pós-graduação em Administração
de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas em 2002.
Experiência de 18 anos em atividades de Construção,
[1] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto Básico
Projeto, Planejamento, Execução, Coordenação de interfaces
Consolidado. 2012.
e Gerenciamento de empreendimentos hidráulicos e
[2] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto
hidrelétricos no Brasil e no exterior.
Executivo. 2012-2016.
Atualmente é o responsável pela Gerência Geral do Consórcio Projetista da UHE Belo
[3] GARCIA, H. M. DUTTA, S. FYTANIDIS, K. D. SANTACRUZ, S. S.
Monte, bem como pela Gerência do Projeto da UHE Santo Antonio (RO). Atuou
WARATUKE, A. Identification of potential high shear stress zones in the 16
também como Gerente dos Estudos Pré-leilão da UHE São Luiz do Tapajós (PA).
km-long diversion channel of Belo Monte Hydroelectric Project using multiple
3-Dimensional numerical model. Ven te Chow Hydrosystems Laboratory.
University of Illinois. Urbana-Champaign. 2013.

30 WWW.CBDB.ORG.BR
HIDRÁULICA E VERTEDORES

RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO
CONECTA CANAL DE DERIVAÇÃO
À CASA DE FORÇA PRINCIPAL
Franciele REYNAUD | Engenheira Civil – Intertechne Consultores S.A.
Marcus Fernandes ARAUJO Filho | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A.
Renato GRUBE | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A.
Rogerio PIOVESAN | Engenheiro Civil – Intertechne Consultores S.A.

RESUMO ABSTRACT

A UHE Belo Monte possui um circuito de geração do tipo derivação, no The Belo Monte HPP has a derivation type generation circuit, in
qual a Volta Grande do Xingu, que se desenvolve ao longo de 100 km de which the Xingu Big Bend, with a length of over 100 km, is bypassed
extensão, é cortada pelo circuito de geração composto pelo Canal de Derivação, by the generation circuit composed of the Derivation Channel,
Reservatório Intermediário e Canal de Fuga. O Reservatório Intermediário da Intermediate Reservoir and Tailrace Channel. The Intermediate
UHE Belo Monte é um reservatório artificial criado em uma área já antropizada, Reservoir is an artificial reservoir created in an already anthropized
conformado por 28 diques e barragens de fechamento de terra e enrocamento. area, made up of 28 dikes and dams of earth and rockfill, and has
Ele conta ainda com sete canais de transposição de selas topográficas, seven channels for the transposition of basins, with a total superficial
totalizando uma área alagada de 119 km². Este Reservatório Intermediário se area of 119 km². This Intermediate reservoir connects to the Main
conecta ao Reservatório Principal do rio Xingu por meio do Canal de Derivação Reservoir of the Xingu River, through the Derivation Channel, to
e integra o circuito de geração da Casa de Força Principal com capacidade the Main Powerhouse generation circuit, which has an installed
instalada de 11.000 MW. Os estudos de engenharia que contemplaram as capacity of 11,000 MW. This article presents the engineering studies
otimizações em termos de área de inundação e de disposição dos diques e canais that included the optimizations of superficial area and the general
de transposição, e as análises de perdas de carga ao longo de todo circuito de layout of dikes and transposition channels and the analysis of head
geração, são apresentados de forma sintética no presente artigo. losses along the generation circuit.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 31


RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO CONECTA CANAL DE DERIVAÇÃO À CASA DE FORÇA PRINCIPAL

1. INTRODUÇÃO do canal está na elevação 75,00 e apresenta uma largura de fundo de

P
280,0 m, onde o mesmo também é revestido com enrocamento [2].
ara possibilitar a adução da vazão de 13.950 m³/s, o Para a formação do reservatório foram construídos 28 diques
Canal de Derivação e o sítio Belo Monte são conectados de terra-enrocamento além da Barragem da Vertente Santo
pelo Reservatório Intermediário - um lago artificial fora Antonio, Barragem de Fechamento Esquerda, Barragem de
da calha do rio Xingu. Com o nível de água máximo normal na Fechamento Direita e a própria estrutura da Tomada dÁgua no
elevação 97,00 m, o Reservatório Intermediário inunda uma área sítio Belo Monte. A título de exemplo, a Figura 2 apresenta o
de cerca 119,0 km² [1]. arranjo do Dique 8A e os diversos diques executados. É possível
A criação do Reservatório Intermediário decorre do fato de que perceber que alguns se constituem em estruturas de grande porte.
o terreno natural na região que interliga o Canal de Derivação e o Em linhas gerais, o Reservatório Intermediário ocupa total ou
sítio Belo Monte se situa predominantemente abaixo da elevação parcialmente oito áreas de drenagem (bacias) denominadas de:
97,00 m, sendo necessária a criação de diques de contenção para Paquiçamba, Ticaruca, Cajueiro, Cobal, Santo Antonio, Aturiá,
possibilitar esta interligação. Vertente do Santo Antonio e Tomada dÁgua. Para diminuir as
A Figura 1 apresenta a configuração geral do Reservatório perdas de carga ao longo do Reservatório Intermediário, foram
Intermediário. O trecho inicial é um prolongamento do canal de escavados sete Canais de Transposição denominados de: CTPT1,
derivação submerso numa extensão de cerca de 4,0 km, sendo que CTPT2, CTPT3, CTTC, CTCS, CTCA e CTSA. A título de
nesta região ocorre o espraiamento do fluxo. Neste trecho, o piso exemplo, a Figura 3 apresenta o arranjo do Canal de Transposição
Paquiçamba-Ticaruca 2 (CTPT2) [1].

FIGURA 1 – Arranjo Geral do Reservatório Intermediário

32 WWW.CBDB.ORG.BR
deste reservatório. Ao considerar as
escavações dos Canais de Transposição
distribuídos ao longo do reservatório,
a partição das vazões e das perdas de
carga são alteradas. Para um mesmo
volume escavado, é viável configurar
diferentes alternativas de disposição
de Canais de Transposição que,
pela complexidade do escoamento,
resultam em distintos valores de perdas
de carga. A própria delimitação do
Reservatório Intermediário, associada
à disposição dos diques, influencia
as características hidráulicas do
escoamento e perdas associadas.
Tendo em conta esta complexidade
do fluxo, para o cálculo de perdas de
carga ao longo do escoamento, foi
utilizado o software de modelagem
bidimensional River 2D. O sistema
te como base as equações de
Saint-Vennant, sendo as mesmas
solucionadas por uma formulação
de elementos finitos. Para as análises
numéricas, os dados de entrada
necessários foram: (i) caracterização
FIGURA 2 – Dique 8A [2] topográfica do terreno incluindo a
configuração dos canais escavados
Os Canais de Transposição apresentam revestimento de (transposição e enchimento); (ii) parâmetros de rugosidade das
enrocamento somente em regiões nas quais se buscou evitar processos superfícies e (iii) Condições de contorno (vazão escoada total
erosivos nas suas margens. Além dos Canais de Transposição, foram e níveis junto à Tomada d’Água). A Figura 4 é um exemplo de
escavados três canais de enchimento com a finalidade de propiciar, resultado do modelo, na qual são apresentadas as velocidades
de forma controlada, a operação de enchimento do Reservatório ao longo do Reservatório Intermediário. Nessa figura é possível
Intermediário após a conclusão da construção. constatar a complexidade do escoamento: características
tipicamente bidimensionais com fluxo dividido em diversas
ramificações. A perda de carga resultante para a vazão máxima
2. ESTUDOS DE ENGENHARIA PARA turbinada de 13.950 m³/s foi de 1,19 m [2].
DEFINIÇÃO DO ARRANJO Devido à natureza do Reservatório Intermediário, existem
diversas configurações possíveis para a geometria e localização
Comparativamente ao Canal de Derivação, o Reservatório dos canais de transposição, bem como inúmeras variantes de
Intermediário apresenta maior grau de complexidade no que disposição dos diques e barragens que delimitam o reservatório.
concerne aos dimensionamentos hidráulicos. Isso porque o fluxo Assim, a metodologia adotada para definir a melhor configuração
no reservatório é predominantemente bidimensional, enquanto técnica-econômica para o Reservatório Intermediário teve como
que no Canal de Derivação o fluxo é predominantemente base a análise de diversas alternativas de disposição de canais
unidimensional. e diques,. Foi preciso identificar os locais mais efetivos para
No Reservatório Intermediário, o fluxo se divide em implantação destas estruturas, ou seja, onde as escavações dos
inúmeros braços com distintas partições de vazões, levando a Canais de Transposição traziam uma maior redução nas perdas
uma determinada distribuição das perdas de carga ao longo de carga (em confronto com o custo das obras civis associadas).

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RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO CONECTA CANAL DE DERIVAÇÃO À CASA DE FORÇA PRINCIPAL

FIGURA 3 – Canal de Transposição Paquiçamba-Ticaruca 2 (CTPT2) [2]

Nessas análises, além das simulações hidráulicas de perdas de conforme o exemplo apresentado na Figura 5. Destas análises
carga, foram avaliados os custos de escavações e revestimento se concluiu que a partir de uma configuração hipotética com
dos canais e o volume de aterro dos diques. Ao longo dos o reservatório não escavado (volume de escavação nulo),
estudos também foram avaliados aspectos associados à utilização a execução de escavações com proporções relativamente
das escavações obrigatórias e a disponibilidade de jazidas pequenas resultavam em benefícios significativos na redução
para a construção dos diques - sempre buscando um melhor das perdas de carga. À medida em que se ampliavam as
aproveitamento dos materiais e diminuição da distância média de escavações (aumento do custo), o beneficio (redução da perda
transporte durante a construção. de carga) decorrente do aumento das escavações diminuía,
Cada alternativa estudada era composta por um determinado existindo configurações intermediárias que resultavam em
arranjo de Canais de Transposição associado a um determinado relação custo-benefício mais atrativa.
arranjo dos diques. Para cada alternativa, eram alteradas, de Analisando o gráfico da Figura 5 é possível notar que para
maneira paramétrica, as dimensões dos canais, calculando as uma determinada perda de carga existem diversas alternativas
perdas de carga e os volumes de escavação da alternativa em de arranjo que satisfazem essa condição. Analogamente, para
questão. Em cada alternativa estudada de arranjo dos canais um determinado volume de escavação podem corresponder
foram feitas diversas variantes (largura, elevações de fundo dos distintos valores de perdas de carga. Dessa maneira, a seleção da
canais, etc.) de modo a definir a configuração mais atrativa para configuração dos canais de transposição foi realizada em busca
os Canais de Transposição. da configuração ótima. Ou seja, em linhas gerais, atende a curva
O resultado da aplicação dessa metodologia gerou gráficos envoltória inferior das alternativas estudadas.
comparativos de perda de carga (para a vazão de 13.950 m³/s) A seleção da alternativa de arranjo foi feita através de uma
versus volume de escavação dos Canais de Transposição, análise em conjunto com o Canal de Derivação e o Canal de

34 WWW.CBDB.ORG.BR
Fuga. No local foi determinado o menor custo global de
implantação do sistema de adução. Nestas análises foram
estudadas distintas partições de perdas de carga entre o
Canal de Derivação, o Reservatório Intermediário e o
Canal de Fuga, para manter os requisitos energéticos do
empreendimento (Energia Firme). Neste processo de
busca da condição ótima, que incluiu também aspectos
de eficiência energética dos equipamentos de geração
(rendimentos do conjunto turbina-gerador), foram
obtidas expressivas reduções nos custos de implantação
do sistema de adução.
Outro aspecto importante, que deve ser ressaltado,
foram os diversos estudos de alternativas de arranjo com
o intuito de aperfeiçoar os impactos técnicos, financeiros
e ambientais do projeto. Dentre essas diversas alterações,
duas delas se destacam, como segue.
A primeira foi a eliminação das estruturas do sítio
Bela Vista, presente no arranjo original do Estudo de
Viabilidade. Esse sítio era composto por vários diques e
um vertedouro complementar, sendo que a sua eliminação
(com respectivo aumento da capacidade de descarga do
vertedouro no sítio Pimental) resultou em benefícios
econômicos e redução da área inundada do Reservatório
Intermediário. A Figura 6 mostra comparativamente essa
FIGURA 4 - Análise numérica do Reservatório Intermediário /velocidades (m/s) alteração.

FIGURA 5 – Estudo de alternativas de arranjo do Reservatório Intermediário [1]

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RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO CONECTA CANAL DE DERIVAÇÃO À CASA DE FORÇA PRINCIPAL

FIGURA 6 – Eliminação do sítio Bela Vista [1]

A segunda alteração importante


na configuração do Reservatório
Intermediário ocorreu no sítio
Belo Monte, local da Casa de Força
Principal, onde o eixo da barragem da
Vertente Santo Antonio foi rotacionado
em aproximadamente 90º. Com
essa alteração, foi possível encontrar
condições geológicas mais favoráveis
para implantação desta barragem com
redução significativa de sua altura
e, consequentemente, do volume de
aterro a executar. Além disso, houve
redução significativa de área ocupada
pelo Reservatório Intermediário. Essa
configuração está ilustrada na Figura 7.

FIGURA 7 – Mudança de eixo da Barragem Santo Antonio [1]

36 WWW.CBDB.ORG.BR
FIGURA 8 – Configuração Reservatório Principal. A Figura 8 mostra
esquemática para
enchimento do Reservatório esquematicamente esta configuração.
Intermediário na entrada do Foram estabelecidas 16 etapas de
Canal de Derivação
enchimento. Elas foram definidas para que o
processo de transposição do fluxo (enchimento)
entre as bacias não comprometesse a
integridade dos revestimentos dos Canais
de Transposição e do Canal de Derivação.
Para isso, foram determinadas restrições das
vazões de enchimento para atingir, de forma
controlada, os níveis de água e os volumes
acumulados nos vales, bem como os tempos
parciais e totais para o enchimento[2]. Estas
etapas estão apresentadas na Figura 9.
A etapa inicial ocorreu com a abertura
gradual do vertedouro de enchimento, com
controle das comportas até a vazão de 100
m³/s. Esta vazão foi mantida até que o nível de
água dentro do Canal de Derivação alcançasse
a elevação 76,0 m.
Na sequência, as comportas do vertedouro
foram abertas para descarregar uma vazão de
200,0 m³/s, tendo sido mantida esta afluência até
que o nível de água atingisse a elevação 71,0 m
3. ENCHIMENTO DO RESERVATÓRIO entre os vales do Paquiçamba e Aturiá, cumprindo assim as etapas
2 a 11.
O controle do enchimento do Canal de Derivação e do Com o fundo dos vales preenchidos com água até a
Reservatório Intermediário foi necessário em função das possíveis elevação 71,00 m foi possível aumentar o fluxo de água através
erosões que poderiam ser causadas pelas velocidades desenvolvidas do vertedouro para 500 m³/s. Posteriormente, o fluxo subiu
pelo fluxo no Canal de Derivação e nos Canais de Transposição. para 1.000m³/s, diminuindo o tempo total de enchimento
O processo de enchimento foi propiciado pela utilização de um e finalizando o processo. O enchimento total do Canal de
vertedouro controlado por duas comportas radiais. Localizado Derivação e do Reservatório Intermediário ocorreu em um
na margem direita do Canal de Derivação, ele foi interligado ao período de cerca de 45 dias.

FIGURA 9 – Reservatório Intermediário / 16 etapas de enchimento

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RESERVATÓRIO INTERMEDIÁRIO CONECTA CANAL DE DERIVAÇÃO À CASA DE FORÇA PRINCIPAL

4. CONCLUSÕES Franciele Reynaud


Engenheira Civil formada em 2006 e mestra em
No presente artigo foram apresentadas as características e os Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental desde 2008

estudos de engenharia realizados para a definição da configuração pela Universidade Federal do Paraná. Atua na Intertechne
Consultores S.A. desde 2008.
final do Reservatório Intermediário, que tem como função
Possui experiência de 10 anos em atividades de Projeto,
propiciar a conexão entre o Canal de Derivação e a Casa de Força
Planejamento, Execução, Coordenação de Interfaces
Principal da UHE Belo Monte. e Gerenciamento de empreendimentos hidráulicos e
Todas as etapas de desenvolvimento foram importantes para hidrelétricos no Brasil e no exterior. Foi Coordenadora Técnica dos Estudos Básicos
a determinação da perda de carga em função das características da UHE Belo Monte.
dos canais de transposição e diques que compõem o Reservatório Atualmente é a responsável pela Gerência Geral do AH Molineros, na Bolivia e da
Intermediário. Ao longo dos estudos foram obtidas expressivas Barragem de Palo Redondo, no Peru.
reduções nos custos de implantação do circuito de adução
decorrentes da diminuição das escavações do Canal de Derivação Marcus Fernandes Araujo Filho
Engenheiro Civil formado em 2008 e mestre em Engenharia
e dos Canais de Transposição. O mesmo ocorreu com os volumes
de Recursos Hídricos e Ambiental desde 2014 pela
de aterro dos diques e barragens que delimitam o Reservatório
Universidade Federal do Paraná. Concluiu a pós-graduação
Intermediário. A título de exemplo nos Estudos de Viabilidade, em Gestão de Projetos pela FAE Business School em 2016.
o volume de aterros dos diques e barragens que delimitam o Trabalha desde 2007 na Intertechne Consultores.
Reservatório Intermediário era da ordem de 53,2 milhões de Tem experiência de oito anos em projetos de
m3, sendo que ao final dos estudos de otimização os volumes de empreendimentos hidráulicos e hidrelétricos no Brasil e no
aterro resultaram em cerca de 42,2 milhões de m3. Neste processo Exterior. Engenheiro hidráulico responsável por dimensionamentos de estruturas
de otimização, a área inundada do Reservatório Intermediário foi hidráulicas da UHE Belo Monte, incluindo o Canal de Derivação.
Há um ano e meio faz parte do Grupo de Desenvolvimento de Projetos em Energia
reduzida em cerca de 10%.
Renovável (solar e eólica).
Para o início da operação da usina, uma etapa importante
foi o enchimento do Canal de Derivação e do Reservatório
Intermediário: por montante, dentro do prazo estipulado de Renato Grube
Engenheiro Civil formado em 1994 com mestrado em
aproximadamente 45 dias e sem comprometer os revestimentos
Engenharia Hidráulica em 2001 pela Universidade Federal
de proteção dessas estruturas. do Paraná.
Experiência de 22 anos atuando como Engenheiro
5. PALAVRAS-CHAVE Hidráulico, Chefe de Departamento, Coordenador e
Supervisão Técnica em projetos hidráulicos e hidrelétricos
(Inventário, Viabilidade, Básico e Executivo) no Brasil e
Reservatório Intermediário, UHE Belo Monte, Canal de exterior. Seus projetos de maior destaque são: Belo Monte, Santo Antonio, Teles
Derivação, perda de carga, análises numéricas. Pires, Irapé, Chaglla, Baixo Iguaçu, Sinop, Estreito, São Salvador, Cana Brava,
Capim Branco, Santa Clara, Fundão, Manduriacu, Múgica, Picachos, Salto,

6. AGRADECIMENTOS Verdinho e Itiquira.

Rogerio Piovesan
Os autores agradecem aos engenheiros Kamal F. S. Kamel, Engenheiro Civil formado em 1998 pela Universidade
Lourenço J. N. Babá e Roberto E. Bertol pelos ensinamentos ao Federal do Paraná com pós-graduação em Administração
longo do desenvolvimento do projeto. de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas em 2002.
Experiência de 18 anos em atividades de Construção,

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Projeto, Planejamento, Execução, Coordenação de interfaces


e Gerenciamento de empreendimentos hidráulicos e
hidrelétricos no Brasil e no exterior.
[1] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto Básico Atualmente é o responsável pela Gerência Geral do Consórcio Projetista da UHE Belo
Consolidado. 2012. Monte, bem como pela Gerência do Projeto da UHE Santo Antonio (RO). Atuou
[2] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto também como Gerente dos Estudos Pré-leilão da UHE São Luiz do Tapajós (PA).
Executivo. 2012-2016.

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SEGURANÇA DE BARRAGENS

SEGURANÇA DE BARRAGENS
DA UHE BELO MONTE
Oscar Machado BANDEIRA | Superintendente de Engenharia – Norte Energia S.A.
João Francisco SILVEIRA | Engenheiro Civil Sênior – Consultor
Daniel Teixeira LEITE | Engenheiro Civil Sênior – Norte Energia S.A.

RESUMO ABSTRACT

O desafio de garantir a segurança das 36 barragens e diques, duas Tomadas The challenge of ensuring the safety of 36 Dams and Dykes, two
d’Água, Casas de Força e um Vertedouro, apoiados nas mais diversas fundações (tais Intakes and Power Houses and a Spillway, supported in various
como solos areníticos, aluvionares e maciços rochosos), foi um trabalho pioneiro foundations types such as sandstone, alluvium soils and rocky massifs,
que a equipe de Segurança de Barragens da UHE Belo Monte teve que enfrentar. was the pioneer work that the Dam Safety Team managed at the Belo
Aspectos sobre a implantação do sistema de gestão da Segurança de Monte Hydroelectric Plant.
Barragens, bem como do monitoramento das mais de 40 estruturas, serão This paper presents some aspects of the implementation of Dam
abordados neste artigo. Safety management and monitoring systems of more than 40 structures.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 39


SEGURANÇA DE BARRAGENS DA UHE BELO MONTE

1. INTRODUÇÃO
Dentro das exigências da Lei 12.334 e sob as premissas da

O
tema Segurança de Barragens ganhou maior Resolução Normativa ANEEL nº 696, se classificou as estruturas
importância em novembro de 2015 com o rompimento da UHE Belo Monte quanto categoria de risco e dano potencial
da barragem de Fundão, em Mariana, onde ocorreu associado. Todas as estruturas de Belo Monte, foram classificadas
um grande desastre ambiental atingindo 40 cidades no Leste de com ”B”, ou seja, risco baixo e dano potencial alto (ver Tabela 1).
Minas Gerais e causou 18 mortes.
A partir deste evento, a Lei 12.334/2010, sobre Segurança de Dano potencial associado
Barragens, passou a estar no foco dos agentes fiscalizadores e de
Categoria de Alto Médio Baixo
todos envolvidos na execução e operação de barragens no Brasil. Risco
Para garantir a segurança das barragens da UHE Belo Monte, a Alto A B B
Norte Energia implantou o Plano de Segurança de Barragens, que Médio B C C
monitora 36 barragens e diques, duas Tomadas d’Água, Casas de Baixo B C C
Força e um Vertedouro. Convém ressaltar que as estruturas estão
apoiadas sobre os mais diversos tipos de fundação, tais como solos Tabela 1 - ANEEL - Matriz de classificação de barragens
migmatiticos com canalículos, solos areníticos, solos aluvionares
e maciços rochosos, além de um espigão de arenito que funciona Esta classificação estabelece as inspeções de segurança
como uma barragem natural na região geológica denominada como regular que, no caso da UHE Belo Monte, deverão ser realizadas
Graben do Macacão. anualmente - ou sempre que houver alteração do nível de
Neste artigo serão abordados aspectos sobre o Plano de segurança da barragem.
Segurança de Barragens e aspectos sobre o monitoramento e
desempenho das estruturas da UHE Belo Monte. 3. MONITORAMENTO DAS
ESTRUTURAS DA UHE BELO
2. PLANO DE SEGURANÇA DE
MONTE
BARRAGENS
Monitorar as condições de segurança das estruturas da UHE
Acidentes com barragens quando ocorrem acarretam grandes Belo Monte foi um grande desafio que a equipe de Segurança de
prejuízos devido ao volume de água liberado instantaneamente ao Barragens teve que enfrentar.
rompimento, causando prejuízos materiais, ambientais e humanos. A partir do início do primeiro enchimento do Reservatório
Segundo o Relatório Anual de Segurança de Barragens de 2015[1], Principal, em novembro de 2015, começou o processo de
nos últimos quatro anos ocorreram 39 acidentes / incidentes, com inspeção de campo com foco na Segurança de Barragens.
um total de 20 vítimas.
O Plano de Segurança de Barragens é um instrumento de gestão 3.1 INSPEÇÕES DE CAMPO
da segurança com a finalidade de mitigar os riscos associados ao
rompimento de barragens. Ele funciona através de monitoramento As inspeções de campo têm por objetivo identificar anomalias
e manutenção dos barramentos, além de fornecer diretrizes em caso ou condições que possam afetar a segurança da barragem. Assim,
de uma ação emergencial para salvaguardar as vidas nas áreas de é importante observar todas as regiões da barragem: talude de
risco. montante, talude de jusante, crista, ombreiras, reservatório, etc.
Com mais de 40 estruturas distribuídas em quatro grandes sítios, Caminhos preferenciais foram definidos para serem percorridos
com cerca de 40 km de distância entre si, a UHE Belo Monte exigiu de modo que pudessem ser observadas todas as partes relevantes da
um Plano de Segurança de Barragens diferenciado para garantir a estrutura, facilitando as inspeções regulares, otimizando o tempo e
segurança destas estruturas. garantindo a qualidade. A seguir, na Figura 1, está o caminhamento
Dentro do Plano de Ações Emergenciais (PAE), foram realizados proposto para inspeção regular do Dique 7B.
33 estudos de Dambreak. O objetivo foi avaliar a propagação da Para inspecionar todas as estruturas de Belo Monte durante o
onda em caso de rompimento dos diques e barramentos, bem como enchimento dos reservatórios, os mais de 30 técnicos e engenheiros
analisar os impactos nas áreas de risco a jusante de cada estrutura. tiveram que percorrer cerca de 120 km diariamente.

40 WWW.CBDB.ORG.BR
Figura 1 – Caminhamento proposto para inspeção regular do Dique 7B
4.1.1 TIPOS DE INSTRUMENTOS UTILIZADOS
4. INSTRUMENTAÇÃO
Dentre os instrumentos instalados nos maciços de terra-
Conhecer o comportamento das estruturas mediante o enrocamento da UHE Belo Monte, são:
enchimento dos reservatórios e comparar com as análises de • Deslocamentos Superficiais: Marcos superficiais na crista
projetos só foi possível devido aos 1.998 instrumentos instalados das estruturas de concreto e maciços de terra-enrocamento;
nas estruturas da UHE Belo Monte, conforme lista resumo de • Deslocamentos Internos Horizontais: Inclinômetros para
instrumentos na Tabela 2. a medição dos deslocamentos horizontais do aterro e da
fundação nas barragens com problemas particulares na
fundação;
• Deslocamentos Internos Verticais: Medidores de recalque
tipo magnéticos nas barragens de terra de maior porte;
• Supressões e Poro-Pressões: Piezômetros de corda vibrante
na interface aterro-concreto junto aos muros de ligação
dos abraços direito e esquerdo, no sítio Belo Monte;
Piezômetros tipo Standpipe e medidores de NA no aterro e
no filtro horizontal dos maciços de terra-enrocamento;
Piezômetros tipo Standpipe na fundação das barragens de
terra.
• Infiltrações: Medição através de medidores de vazão
triangulares.

4.1.2 ARRANJO GERAL DA INSTRUMENTAÇÃO

Nas figuras a seguir são apresentados a relação de instrumentos,


Tabela 2 - Lista de instrumentos instalados na UHE Belo Monte
as principais seções instrumentadas e o Arranjo Geral da
4.1 INSTRUMENTAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE instrumentação na na Barragem Vertente do Santo Antonio
TERRA-ENROCAMENTO (BVSA), uma das que constitui uma das principais estruturas
de terra-enrocamento da UHE Belo Monte, com 70 m de altura
São apresentados a seguir os principais aspectos referentes máxima e 1.310 m de comprimento.
à seleção dos instrumentos que foram empregados para essas É importante ressaltar que em Belo Monte, mesmo as estruturas
medições, bem como alguns exemplos do arranjo da instrumentação de terra-enrocamento de pequeno porte, como o Dique 1B,
nas estruturas de terra-enrocamento da usina, englobando tanto as por exemplo, com apenas 5 m de altura máxima e 100 m de
estruturas de grande porte, quanto aquelas de pequeno porte - que comprimento, foram bem instrumentadas. Neste caso com cinco
foram também instrumentadas. Os objetivos básicos sempre foram Piezômetros Standpipe, quatro Marcos Superficiais e um Medidor
a avaliação do desempenho dessas estruturas e a comparação com de Vazão a jusante, totalizando 11 instrumentos e atendendo assim
os Valores de Controle previstos em projeto. às atuais recomendações do ICOLD, em seu boletim Nº 157 [2].

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 41


SEGURANÇA DE BARRAGENS DA UHE BELO MONTE

Figura 2 – BVSA - Planta da instrumentação

Figura 3 – BVSA - seção 3 - instrumentação

4.1.3 PLANO DE INSTRUMENTAÇÃO DAS deslocamentos e avaliação de deformação da rocha de


ESTRUTURAS DE CONCRETO fundação.
• Deslocamentos Diferenciais: Medidores triortogonais
São apresentados a seguir os principais aspectos referentes de junta para a medição dos deslocamentos diferenciais
à seleção dos instrumentos que foram empregados para as entre blocos ao longo de todas as juntas de contração nas
medições e suas razões, bem como alguns exemplos do Arranjo galerias de drenagem;
Geral da instrumentação nas estruturas de concreto da usina e • Temperatura do Concreto: Termômetros elétricos
suas fundações. Os objetivos básicos sempre foram permitir a embutidos no concreto;
avaliação do desempenho dessas estruturas e a comparar com os • Deformações autógenas: Rosetas de deformímetros
valores de controle previstos em projeto, particularmente nas fases (strain-meters) para a medição das deformações
de enchimento do reservatório e operação do empreendimento. autógenas do concreto;
• Subpressões: Piezômetros Standpipe e elétricos de
4.1.4 TIPOS DE INSTRUMENTOS SELECIONADOS corda vibrante para os casos em que não havia acesso
diretamente na vertical;
Para a medição dos parâmetros indicados no item anterior • Infiltrações: Medidores de vazão tipo triangular ou
foram selecionados os seguintes tipos de instrumentos: trapezoidal.
• Deslocamentos Absolutos:
Marcos Superficiais para medição dos deslocamentos 4.1.5 ARRANJO GERAL DA INSTRUMENTAÇÃO
absolutos em termos de recalques e deslocamentos
horizontais; A seguir está o Arranjo Geral da instrumentação das
Extensômetros de Hastes na fundação para medição dos estruturas de concreto da UHE Belo Monte. Destaque para os

42 WWW.CBDB.ORG.BR
Figura 4 – Locação em planta dos piezômetros instalados na Tomada d’Água do sítio Belo Monte, com o bloco 4 destacado

206 diversos instrumentos instalados na Tomada d’Água do sítio diâmetro levaram a projetista a adotar a execução de uma
Belo Monte. Ela é uma das principais estruturas de concreto do trincheira exploratória longitudinalmente aos diques, com 3 m
empreendimento e possui 600 m de comprimento. de profundidade, para inspeção das condições de fundação e
Na Figura 6 é apresentada uma seção típica de locação dos tratamento dos eventuais canalículos.
instrumentos na Casa de Força do sítio Belo Monte, outra Nos trechos onde foram encontrados canalículos, esta
importante estrutura de concreto do empreendimento, com trincheira foi aprofundada até 6 m. Os canalículos com diâmetros
quase 800 m de comprimento (incluindo-se a área de montagem). superiores a 2 cm foram injetados com calda de cimento fator a/c
= 0,7. Também foi executado um dreno cego (um filtro de areia
5. DESEMPENHO DAS ESTRUTURAS com ~40 cm espessura para distribuição dos gradientes oriundos
dos fluxos pelos canalículos de menor diâmetro) no talude de
jusante desta trincheira.
A seguir apresentaremos alguns casos mais relevantes para
A Figura 7 apresenta um detalhe típico da trincheira de inspeção
ilustrar o desempenho das estruturas da UHE Belo Monte, que
adotada em todos os diques e barragens da UHE Belo Monte.
estão distribuídas sobre os diversos tipos de fundação:
Logo após o enchimento, alguns instrumentos instalados nas
fundações dos diques e barragens apresentaram resposta rápida. Em
5.1 SOLOS MIGMATITICOS
alguns casos a apresentaram a condição de artesianismo (ver Figura
11). Além disso, foi observado o afloramento de água por meio de
O solo residual de migmatito, predominante nos três sítios da
canalículos - em especial a jusante do Dique 7B, conforme mostra
UHE Belo Monte, serviu como material de aterro para a maioria
a Figura 12.
das barragens e diques, bem como material de fundação destas
Estes fatos vieram indicar que as camadas mais profundas eram
estruturas.
mais permeáveis que as de superfície, ocasionando gradientes de
Este solo possui permeabilidade relativamente baixa, da
saída mais elevados e artesianismo.
ordem de 10-4 à 10-3 cm/s, tanto para o solo residual maduro
A solução adotada pelos projetistas para combater o fluxo de
como o jovem, respectivamente.
água a jusante destas estruturas foi a execução de filtro invertido,
Entretanto, a presença de canalículos de pequeno e de grande
delimitado por um gradiente hidráulico máximo de 15% pela

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 43


SEGURANÇA DE BARRAGENS DA UHE BELO MONTE

Figura 5 – Seção instrumentada do bloco 4 da Tomada d`Água

fundação. Ou ainda, nos casos de surgências


que apresentem carreamento de partículas
de solo e/ou vazões muito elevadas (ver
detalhe do filtro invertido na Figura 14).
Dos 28 diques do Reservatório
Intermediário, até o momento, 12 receberam
(ou estão em fase de implantação) filtro
invertido a jusante devido aos gradientes de
saída elevados (maior que 15%) e surgência
de água a jusante destas estruturas.
Entretanto, estas surgências de água, de
um modo geral, não vieram comprometer
a segurança das estruturas, ao passo que a
execução dos filtros invertidos garantem
a segurança destas estruturas contra
possíveis pipings.
Importante salientar que na maioria
dos diques, alguns com até 60 m de altura,
a piezometria revelou um comportamento
normal com pressões neutras inferiores aos
valores de controle previstos em projeto,
conforme mostra a Figura 15.
Figura 6 – Seção instrumentada da Casa de Força Principal

44 WWW.CBDB.ORG.BR
Figura 7 – Locação da
trincheira de inspeção

Figura 9 – Execução de injeção dos


Figura 8 – Locação canalículos na trincheira exploratória
do “dreno cego” do Dique 19B

Figura 10 –
Canalículo
recuperado
em ensaio
após injeção
Tabela 3 - Dique 7B - Parâmetros de projeto

Figura 11 – Ocorrência de artesianismo a jusante do Dique 7B

Figura 13 –
Detalhe de
canalículo
Figura 12 – Dique com diâmetro
7B - Fluxo d`água aproximado de
por meio de 5cm, fluindo
canalículos água

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 45


SEGURANÇA DE BARRAGENS DA UHE BELO MONTE

Figura 14 – Detalhe de filtro invertido

Figura 15 – Dique 14C - Comparação entre valores medidos e de projeto

Figura 16 – Dique 8B - seção 3 – piezometria

46 WWW.CBDB.ORG.BR
5.2 SOLOS ARENÍTICOS Até o momento as estruturas sobre o Graben, com fundação
arenítica, não apresentaram anomalias. Isto indica uma boa
Na região denominada de Graben do Macacão (ver artigo sobre eficiência no tratamento realizado para interceptar e controlar
o Graben do Macacão) a fundação predominante é o solo arenítico. o fluxo de água.
Este solo tem permeabilidade relativamente alta, variando de 10-3 Valor de controle Leitura em
cm/s na superfície até atingir as regiões mais profundas (até 15m). Instrumento
ATENÇÃO ALERTA 31/01/2017
Nestas regiões mais profundas o arenito possui coerência C4 (que PZ - 11 93,95 96,25 84,27
corresponde a SPT maiores que 3/1 golpes e permeabilidade da PZ - 12 93,95 96,25 88,73
PZ - 13 87,30 88,20 82,19
ordem de 10-4 cm/s). Três grandes diques foram construídos
PZ - 14 87,30 88,20 81,86
sobre esta fundação: Dique 6C (ombreira direita), Dique 8A PZ - 24 - - 72,66
(ombreira esquerda), e Dique 8B (totalmente). PZ - 25 - - 76,26
O grande desafio que a projetista teve que enfrentar foi o de PZ - 27 - - 56,46
interceptar e controlar o fluxo pela fundação destes diques. Por se Tabela 4 - Dique 8B - Comparação entre valores medidos e de projeto
tratar de um arenito com permeabilidade alta e coesão baixa, este
material facilmente era carreado, mesmo com baixo gradiente.
A solução adotada pela projetista foi a adoção de cut-off de até 5.3 FUNDAÇÕES EM ROCHA / ESTRUTURAS DE
12 m de profundidade. Assim, foi possível interceptar as camadas CONCRETO
superficiais do arenito até atingir as camadas mais profundas,
alcançando o arenito com coerência C4 e permeabilidade menor A rocha que serviu de suporte para a fundação das estruturas
(10-4 cm/s). A jusante do dique foi construído um grande filtro da UHE Belo Monte foi o migmatito. No sítio Belo Monte, a
invertido, o qual se estendeu de ombreira a ombreira junto com Tomada dÁgua ficou apoiada em um maciço rochoso bastante
uma linha de poços de alívio a jusante do dique, com espaçamento competente com coesão superior a C2 e pouco fraturado.
de 12m entre si e 15m de profundidade (ver Figura 16). O bloco TA-04 da Tomada d’Água do sítio Belo Monte foi
Conforme observado na Figura 17, os piezômetros locados instrumentado em duas seções com os piezômetros PZC-41/42
na fundação. apresentaram uma resposta rápida. Entretanto, não e PZF-41 instalados na seção distante 9,75 m à esquerda do
houve nenhum registro de surgência de água ou artesianismo no eixo da unidade. Os Piezômetros PZC-43/44 e PZF-42 ficaram
filtro invertido a jusante do dique. afastados 11,25 m à direita do eixo da UG, conforme Figura 18.
Os valores de projeto apresentados na Tabela 4 demostram Na Figura 19 estão estes níveis piezométricos em escala,
que as cotas piezométricas estão bem abaixo dos valores sendo indicados na seção transversal do bloco TA-04.
medidos. A vazão específica medidas nos medidores de vazão Foi rápida a resposta de todos os piezômetros ao enchimento
é da ordem de 2 l.min.m, uma vazão menor do que a de muitos do reservatório. Os níveis piezométricos atingiram um pico
diques com fundação em migmatito. máximo próximo da data de final de enchimento do reservatório.

Figura 17 – Dique 8B – gráfico da piezometria

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SEGURANÇA DE BARRAGENS DA UHE BELO MONTE

Depois, eles mostraram tendência de queda das subpressões. direção ao Muro Direito.
Apesar de se ter constatado em alguns blocos da Tomada d’Água Os maiores deslocamentos diferenciais foram até meados de
subpressões um pouco acima dos valores de projeto, mesmo a outubro/2016. Confira:
jusante da cortina de drenagem, foi verificado que as mesmas não • Recalque diferencial ..................... 0,42 mm;
implicavam em problemas de estabilidade. Importante ressaltar, • Deslizamento horizontal ............... 0,56 mm;
entretanto, que no geral foi constatado um bom desempenho • Abertura da junta .......................... 0,75 mm.
do sistema de drenagem na fundação da T.A., no qual os drenos Esses valores estão bem abaixo dos valores observados em outras
conectavam um túnel de drenagem cerca de 20 m abaixo do barragens, conforme mostrado na Tabela 6.
contato C/R (ver Figura 19). Com relação ao sítio Pimental, distante cerca de 40 km do
Observações importantes: sítio Belo Monte, onde se localizam as estruturas do Vertedouro
• Rápida resposta dos piezômetros ao enchimento do e da Casa de Força secundária, a Figura 20 apresenta o Arranjo
reservatório, tendo o pico das subpressões medidas Geral da instrumentação em um “bloco-chave” no Vertedouro.
ocorrido praticamente tão logo o NA do reservatório Na sequência, estão as análises das leituras realizadas nos
atingiu a El. 97,00 m (NA máx normal); PZ’s desta seção. Os piezômetros foram instalados no contato
• Níveis piezométricos mais elevados a montante da cortina de C/R e na fundação do Vertedouro. As seções principais foram
drenagem com queda expressiva a jusante da mesma, o que instrumentadas com seis Piezômetros Standpipe e dois PZ’s
vem indicar um bom desempenho da cortina de drenagem; elétricos de corda vibrante (a jusante), enquanto as seções
• Tendência geral de queda dos níveis piezométricos após secundárias foram instrumentadas com quatro Piezômetros
o pico ocorrido em meados de fev/2016, quando o NA do Standpipe cada.
reservatório atingiu a El. Máxima. A Tabela 7 apresenta as leituras realizadas nos Piezômetros
Foram instalados 26 medidores triortogonais nas juntas entre tipo Standpipe e elétrico localizados em duas “seções-chaves”:
blocos da Tomada d’Água ao longo da galeria de drenagem, com uma principal (bloco VT-09) e outra secundária (bloco VT-11),
numeração seguindo a ordem crescente do Muro Esquerdo em no dia 17/03/2016. Nesta mesma tabela são apresentados os
valores de “Atenção” e “Alerta” estabelecidos pela projetista para

Figura 18 – Bloco TA-04 e evolução dos níveis piezométricos com o tempo

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Valor de controle Leitura em
Instrumento
ATENÇÃO ALERTA 01/08/2016
PZC-41 73,97 74,17 87,22
PZC-42 56,93 57,06 64,44
PZF-41 46,08 46,18 48,00
Tabela 5 - Comparação entre valores medidos e de projeto para o bloco
TA-04

Deslocamento diferencial máximo (mm)


Deslizamento
Barragem em Abertura Recalque
horizontal
CCR de junta diferencial
Fundação Crista
TA Belo Monte 0,75 0,42 0,56 -
Dona Francisca 2,30 0,75 3,40 -
Monte Claro 1,30 1,20 1,40 3,10
Castro Alves 4,10 0,50 1,50 3,05
14 de Julho 2,00 1,25 1,00 -
Canoas I 3,36 1,65 1,35 -
Canoas II 1,25 0,65 0,35 -
Arvoredo 1,20 1,30 2,00 -
Tabela 6 - Deslocamentos diferenciais máximos entre blocos nas
barragens de gravidade de concreto em CCR

Posição Nível
Valores de
Piezômetro cortina Medido
Controle (m)
drenagem
Atenção Alerta
PC-PI-VT9-1 Mont. 94,57 96,54 90,58 Figura 19 – Comparação entre valores de projeto e medidos em
PC-PI-VT9-2 Mont. 92,08 95,63 66,28 01/08/2016 para o bloco TA-04
PC-PI-VT9-3 Jus. 90,82 95,05 72,69
PC-PI-VT9-4 Mont. 97,00 97,50 91,28
PC-PI-VT9-5 Mont. 93,62 96,21 64,77
PC-PI-VT9-6 Jus. 90,63 94,92 64,69 6. CONCLUSÃO
PE-PI-VT9-1 Jus. 89,53 94,15 72,89
PE-PI-VT9-2 Jus. 88,89 93,70 72,81 Normalmente em um empreendimento de usina hidrelétrica
PC-PI-VT11-1 Mont. 94,02 96,36 75,42 existem poucas estruturas para serem monitoradas, entretanto em
PC-PI-VT11-3 Jus. 90,83 95,06 70,95
Belo Monte, devido ao seu tamanho e extensão, mais de 40 estruturas
PC-PI-VT11-4 Mont. 96,60 97,35 95,42
precisaram acompanhamento.
PC-PI-VT11-6 Jus. 90,44 94,78 65,86
De um modo geral, as estruturas da UHE Belo Monte
Tabela 7 - Valores medidos e de controle para os piezômetros do apresentaram um bom desempenho durante o enchimento dos
Vertedouro do Pimental - blocos VT-9 e VT-11 (mar/16)
reservatórios. Algumas anomalias foram constatadas pela equipe
estes instrumentos, considerando condições de CCN e CCE, de Segurança de Barragens, tais como subpressões um pouco
respectivamente. mais elevadas na fundação da Barragem Lateral Esquerda, no sítio
Todos os piezômetros do Vertedouro apresentam níveis abaixo Pimental, e artesianismo a jusante de alguns diques. Nesses locais
dos valores de controle. Mesmo após oito meses do enchimento houve execução de filtro invertido. A alternativa escolhida vem
do reservatório, todos estão praticamente estabilizados ou com apresentando um bom desempenho.
ligeira tendência de redução. Essa constatação vem indicar A implantação do Plano de Segurança de Barragens na UHE
o bom desempenho da cortina de drenagem na redução das Belo Monte possibilitou um bom monitoramento das mais de 40
subpressões na fundação do Vertedouro. estruturas deste empreendimento e reduziu significativamente os
Na sequência são apresentados os gráficos das duas “seções- riscos de acidentes. Foi necessário organizar um acompanhamento
chaves” típicas da piezometria na fundação do Vertedouro. detalhado ao longo do tempo para enfrentar o desafio.

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SEGURANÇA DE BARRAGENS DA UHE BELO MONTE

Figura 20 – Seção transversal de “bloco-chave” instrumentado no Vertedouro do sítio Pimental

Figura 21 – Subpressões no contato concreto/rocha e fundação - bloco VT-09

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Figura 22 – Subpressões no contato concreto/rocha e fundação - bloco VT-11

7. AGRADECIMENTOS Oscar Machado Bandeira


Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de Campina Grande (PB) em
1969. Possui 40 anos de experiência na Supervisão e Construção de hidrelétricas,
Agradecemos a contribuição das
tendo atuado como Eng. Residente, Engenheiro Consultor, Coordenador de Obras
seguintes empresas:
Civis, Superintendente de Engenharia e Construção nas Hidrelétricas de Itaparica,
- Norte Energia S.A. por ceder as Xingó, Tucuruí e Belo Monte (Brasil), Tianshengqiao 1 (China), Bakun (Malásia) e
informações necessárias para Siah Bishe (Irã).
este artigo; Desde abril de 2011 atua na Norte Energia S.A. como Superintendente de Engenharia e Construção da
- SBB Engenharia pela Usina de Belo Monte e como Coordenador dos Trabalhos de Segurança de Barragens do empreendimento.
contribuição na elaboração deste
João Francisco Silveira
texto;
Atua na área de Instrumentação e Segurança de Barragens desde 1973, tendo
- Pimenta de Ávila e Engecorps,
participado do Projeto e Análise da Instrumentação das Usinas Hidrelétricas
por elaborar o Plano de de Itaipu, Água Vermelha, Marimbondo, Três Irmãos, Xingó, Itá, Itapebi, Dona
Segurança de Barragens da UHE Francisca, Jirau e Belo Monte, dentre outras.
Belo Monte. É autor de cerca de 120 trabalhos técnicos e de dois livros dedicados à Instrumentação
e Segurança de Barragens.

8. REFERÊNCIAS Presidiu a Comissão Internacional “Ad Hoc Committee on Small Dams” do International Commission on
Large Dams (ICOLD), no período entre 2005 e 2011.
BIBLIOGRÁFICAS
Daniel Teixeira Leite
[1] ANA - Agência Nacional de Águas. Relatório Coordenador de Segurança de Barragens e Geotécnico na UHE Belo Monte,
de Segurança de Barragens – 2015. Brasília – DF, atuou nos projetos e execução de 33 barragens e diques, duas Casas de Força, um
Brasil, 2016. Vertedouro e do maior Canal do Brasil, com aproximadamente 20 km de extensão.

[2] ICOLD – International Comission on Large Atuou também na Coordenação e Implantação do Plano de Segurança de Barragens.
Possui experiência em Estudos de Arranjos de usinas hidrelétricas, participando na
Dams. Boletim Nº 157 - Small Dams, Design,
elaboração de diversos projetos: UHE Caçu (65 MW), UHE Coqueiros (90 MW),
Surveillance and Rehabilitation.
UHE Ferreira Gomes (252 MW), UHE Ribeiro Gonçalves (113 MW), UHE Riacho Seco (276 MW), UHE
São João (60 MW), Cachoeirinha (45 MW), entre outros.

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GEOTECNIA E FUNDAÇÕES

CONDICIONANTES GEOLÓGICO-
GEOTÉCNICOS E SOLUÇÕES DE
TRATAMENTO DOS ARENITOS
DO GRABEN DO MACACÃO
Oscar Machado BANDEIRA | Superintendente de Engenharia do Proj. Belo Monte – Norte Energia S.A.
Raimundo Marcondes CARVALHO | Geólogo Sênior do Projeto Belo Monte – Norte Energia S.A.
Nestor Antonio Mendes PEREIRA | Geólogo Sênior do Projeto Belo Monte – Norte Energia S.A.
Martim Afonso de CAMARGO | Geólogo Supervisor do Projeto Belo Monte – Intertechne Consultores S.A.

RESUMO ABSTRACT
Durante os Estudos de Viabilidade da UHE Belo Monte, no início da During the Feasibility Studies of the Belo Monte HPP, in the
década de 1980, foi identificada em região posicionada a cerca de 2 km a early 1980s, a Graben (tectonic depressed block bordered by faults)
montante da usina uma fossa tectônica (Graben), encaixada no embasamento located in the crystalline basement and filled with sandy sediments
cristalino e preenchida com sedimentos arenosos contemporâneos à Formação contemporaneous with the Trombetas Formation was identified in
Trombetas, do Paleozóico. a region located about 2 km upstream of the plant, of the Paleozoic.
Sobre essa estrutura, foi modelado um relevo em espigão relativamente On this structure, a relatively narrow spigot, about 3 km in
estreito, com cerca de 3 km de extensão, que constitui o divisor direito do length was modeled, that forms the right divider of the intermediate
reservatório intermediário, entre os diques 6C e 8A do arranjo da usina. reservoir, between the dikes 6C and 8A of the plant arrangement.
São abordadas as características geomecânicas dos sedimentos, The geomechanical characteristics of the sediments, conditioning
condicionantes da percolação da água do reservatório pelo divisor e the percolation of the water of the reservoir by the divisor, and
apresentados, em linhas gerais, os tratamentos realizados na região do Graben, are presented, in general, the treatments performed in the Graben
à luz do maior conhecimento hidrogeotécnico adquirido após as investigações region, in light of the greater hydrogeotechnical knowledge acquired
da fase de projeto executivo. after the investigations of the executive design phase.

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1. INTRODUÇÃO 2. ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS
DA REGIÃO DO GRABEN

A
UHE Belo Monte está implantada no domínio de
rochas cristalinas de idade Arqueana[1], remobilizadas Geomorfologicamente, o pacote de sedimentos existentes
no Proterozóico Inferior e pertencentes ao Complexo no interior do Graben está modelado na forma de um
Xingu[2], bem próximo da borda da Bacia Sedimentar do platô bastante dissecado por ravinas e vales profundos com
Amazonas. significativo controle estrutural, que nele esculpem espigões
Nos sítios Belo Monte e do Reservatório Intermediário, de topo aplainado a suavemente ondulado, sinuosos e
o embasamento cristalino é constituído por migmatitos, alongados, orientados, principalmente nas direções NNE e
litologia que representa adiantado estágio de remobilização NNW.
das rochas mais antigas do Complexo Xingu.
A Bacia Sedimentar está representada por
ritmitos, folhelhos e arenitos pertencentes à
Formação Trombetas, do Siluriano. Eles estão
presentes não só nas fundações das ombreiras
das barragens e diques próximos à usina, mas
também sustentam um espigão de arenito no
divisor direito do reservatório - localizado
entre os Diques 6C e 8A do arranjo da UHE, no
interior de uma fossa tectônica (Graben).
Além dos sedimentos da Formação
Trombetas, ocorrem ainda nessa região
arenitos pertencentes à Formação Maecuru,
do Devoniano, situados em nível topográfico
mais elevado que a unidade anterior e sem
interferência com o arranjo, além de uma
espessa soleira de diabásio da Formação
Penatecaua, do Mesozóico, intrudida entre
essas duas unidades, igualmente, sem
interferência com as fundações. Por fim, estão
os sedimentos semiconsolidados arenosos com
lentes argilosas da Formação Alter do Chão,
do Terciário, que ocupam o topo dos morros
mais elevados e os depósitos aluvionares do
Quaternário, restritos ao leito e margens do rio
Xingu e dos principais igarapés contribuintes.
A referida fossa tectônica, identificada
durante os Estudos de Viabilidade da UHE Belo
Monte, no início da década de 1980, recebeu a
denominação de Graben do Macacão durante o
desenvolvimento do projeto. A denominação é FIGURA 1 - Localização geográfica da região do Graben do Macacão e a indicação dos
oriunda do nome pelo qual os moradores da região chamavam o principais tratamentos geotécnicos efetuados
relevo elevado: morro ou serra do Macacão. Ela está encaixada nos
migmatitos do embasamento cristalino com arcabouço estrutural O espigão entalhado do lado ocidental do Graben constitui o
controlado por falhas verticais coincidentes com antigas linhas de divisor direito do Reservatório Intermediário ao longo de uma
fraqueza do Complexo Xingu, que lhe conferem uma geometria extensão de aproximadamente 2.600m, entre os Diques 6C e 8B.
aproximadamente trapezoidal [3]. A Figura 1 mostra a localização Ele se apresenta com as encostas de montante (banhadas pelo
dessa estrutura tectônica no arranjo da usina. reservatório) com uma declividade relativamente suave, entre

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CONDICIONANTES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS E SOLUÇÕES DE TRATAMENTO DOS ARENITOS DO GRABEN DO MACACÃO

FIGURA 2 - Modelo esquemático do Graben do Macacão com indicação das seções “A” e “B”

FIGURA 3 - Seção geológica esquemática no sentido longitudinal do Graben (vista de montante)

FIGURA 4 - Seção geológica esquemática no sentido montante-jusante do Espigão de Arenito

1V:4H e 1V:3H. A encosta a jusante é abrupta, com inclinação com capeamento de solo residual de espessura superior a 30 m.
de até 1V:1H, que termina em um extenso vale orientado a NNE, Na sua extremidade Sul, o espigão está dissecado por um vale
com amplo anfiteatro na cabeceira e que se prolonga para jusante, abrupto e amplo até a elevação 50 m, que o separa de um morro
paralelamente ao Dique 6C. testemunho que alcança a elevação 130 m e serve de ombreira para
O espigão banhado pelo reservatório está disposto na direção os Diques 8B, interno ao Graben, e 8A, que cruza o limite Sul da
aproximada Norte-Sul, com largura da ordem de 350 m a 400 m estrutura.
em torno da EL.100,00 m, sustentado basicamente pelos arenitos A principal preocupação do ponto de vista do projeto de
da sequência final de deposição no interior do Graben, que se engenharia em relação à morfologia do espigão é a possível
elevam até a cota aproximada de 135 m, em contraste com o percolação da água através do maciço arenítico localizado entre
relevo arrasado do entorno, na elevação média de 40m, modelado os Diques 6C e 8B, que funcionará como uma barragem sujeita ao
sobre rochas migmatíticas do embasamento, muito alteradas, fluxo de água.

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3. GEOLOGIA DO GRABEN EL.+4,0 no flanco Norte; EL.-9,0 do lado Leste, a jusante do morro
testemunho que serve de ombreira para os Diques 8A e 8B, abaixo
O Graben do Macacão, diferentemente das fossas tectônicas das EL.-80,0 na porção mediana e imediatamente a jusante do
mais frequentemente citadas na literatura geológica, tem os seus espigão banhado pelo reservatório; EL.-51,0 próximo à falha que
flancos de formato trapezoidal e não alongado e seu arcabouço limita a estrutura do lado Oeste, e EL.-29,0 no ponto central do
estrutural controlado por linhas de fraqueza do embasamento, Dique 8B. Projeções do nível do contato basal da Bacia Sedimentar
originadas em eventos deformacionais antigos, do Proterozóico, para essa região sugerem um abatimento da estrutura da ordem
posteriormente reativadas no início do Paleozóico como falhas de 120 m no lado Norte e 190 m no flanco Sul.
normais (subverticais a fortemente inclinadas) e escalonadas, isto Com o objetivo de caracterizar geológica e geotecnicamente
é, constituindo zonas de falhas em degraus. o maciço sedimentar que sustenta esse trecho do divisor do
O abatimento da estrutura no interior do embasamento reservatório, particularmente, em relação à ocorrência de possíveis
cristalino, representado na região pelos migmatitos, começou no camadas de maior permeabilidade ou de zonas mais fraturadas e
período em que se depositavam os folhelhos e ritmitos da base eventualmente mais permeáveis, condicionadas por lineamentos
da Formação Trombetas (Membro Pitinga), propiciando sua estruturais que interceptam o espigão, foram executadas 5.636
ressedimentação no interior da estrutura. Em etapas posteriores m de sondagens mistas verticais e rotativas inclinadas, com
de afundamento do Graben houve a preservação da camada de amostragem e execução de ensaios de perda d’água sob pressão
arenitos finos do Membro Manacapuru, que sucedeu ao Membro em rocha e infiltração em solo. Os números são: 2.372 m (34
Pitinga, inexistente fora da fossa, nessa região da Bacia Sedimentar. sondagens) no espigão, 370 m (12 sondagens) na ombreira
O forte declive criado pelo abatimento dessa região alterou esquerda do Dique 8A, 1.881 m (61 sondagens) no Dique 8B e
a sedimentação marinha, de plataforma a costeira, típica da 1.012 m (18 sondagens) na ombreira direita do Dique 6C.
Formação Trombetas, para deposição gravitacional subaquosa, Essas investigações foram precedidas de inspeções nos
caracterizada por escorregamentos nos taludes instáveis da afloramentos rochosos existentes nas porções mais escarpadas
depressão. Ali se acumularam camadas contorcidas/dobradas das encostas, abaixo da EL. 97,0, tanto do lado de montante do
de folhelhos e ritmitos, entremeadas com blocos de dimensões reservatório como do lado de jusante, com a finalidade de localizar
métricas a decamétricas de migmatito cataclasado/cisalhado possíveis vazios que pudessem ter continuidade no interior
(tombados do talude) e sedimento silto-argiloso, depósito a que do maciço. Foram ainda executadas campanhas de sondagens
se denomina diamictito (mistura caótica de diferentes litologias geofísicas pelo método de eletrorresistividade, que totalizaram
imersas em matriz lamítica) [4], [5], [6]. 8.665m de caminhamento elétrico.
As Figuras 2, 3 e 4 mostram seções geológicas esquemáticas As sondagens executadas no alto do espigão, desde seu topo,
sobre a hipótese de instalação do Graben. acima da EL. 130,0 até a EL. 80,30 (atingida pela sondagem
A deposição dos sedimentos no interior do Graben se alternou mais profunda com fim estratigráfico executada no espigão),z
com ciclos de movimentos verticais de afundamento da fossa, mostraram a ocorrência de um pacote de arenitos de granulometria
o que é evidenciado pela ocorrência, ao longo do espigão, de predominantemente fina com raras intercalações de folhelhos,
camadas de argilitos, siltitos e folhelhos fortemente inclinadas, argilitos e ritmitos, sobreposto a depósitos basais de diamictito.
contorcidas e/ou rompidas e pela quase total ausência de estruturas Os arenitos se caracterizam por intercalações de camadas
de estratificação nos arenitos, onde são frequentes feições de de espessuras métricas de granulação fina a muito fina, com
fluidificação (liquefação), relacionadas à atividade sísmica. pouquíssima matriz, com estratos de granulação média a fina
A sucessão de etapas de abatimento (afundamento) do Graben e matriz caulínica, com pequena fração de grãos grossos de
está também evidenciada junto aos taludes das falhas que o quartzo arredondados a angulosos e granulação grosseira em
delimitam pela intercalação de camadas de diamictito com blocos alguns intervalos. Eles alternam, com lâminas centimétricas a
de grandes dimensões de rocha migmatítica alterada (período de decimétricas de argilitos e siltitos, todo o conjunto de coloração
exposição de novos taludes instáveis, pela movimentação vertical branco acinzentada, com variações para roxo e avermelhado.
nas falhas), e estratos de arenitos, argilitos e folhelhos (períodos de São maciços, localmente com estratos silicificados, com
estabilidade deposicional). frequentes estruturas de fluidização, quase sempre realçadas
As investigações realizadas no interior do Graben permitiram pela variação de cores. Exibem, também, nos intervalos onde
determinar as seguintes profundidades do topo do embasamento ocorrem as alternâncias com argilitos e siltitos, acamamento com
cristalino sob os sedimentos: EL. 10,0 no flanco Sul da estrutura; forte mergulho, raramente sub-horizontal, pelotas centimétricas

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CONDICIONANTES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS E SOLUÇÕES DE TRATAMENTO DOS ARENITOS DO GRABEN DO MACACÃO

interior do pacote de arenitos. Os ritmitos se caracterizam por


laminações centimétricas de siltito, arenito muito fino e folhelho/
argilito. Apresentam estratificação inclinada a sub-horizontal e
porte submétrico.
Os diamictitos são constituídos ora por blocos de dimensões
submétricas a métricas de migmatito, em geral, pouco alterado
com pouca matriz lamítica cinza esverdeada, como na ocorrência
localizada próximo da ombreira do Dique 6C, ora com
predominância de matriz lamítica com clastos centimétricos de
FIGURA 5A - Fotos dos testemunhos (parciais) da sondagem SM-7508 com diversos tipos migmatito, como mais frequente nos depósitos mais profundos.
de arenitos, inclusive com intercalação de argilito (na caixa 17), que ocorrem no maciço
arenítico do Graben Com base nos resultados obtidos nas investigações geológico-
geotécnicas e nos ensaios de campo, foi verificado que, de um
modo geral, esse maciço de arenito está coerente (C2), com estratos
esparsos de material friável (C4), muito pouco fraturado (F1), e
com um comportamento hidrogeológico homogêneo, com valores
de condutividade hidráulica muito baixos a nulos. Em apenas duas
sondagens foram obtidos valores de permeabilidade mais elevados,
variáveis entre 6x10-4cm/s e 3x10-3cm/s, entre as EL. 73,0 m e 84,0
m. Esses dados corroboram o comportamento estanque esperado
para esse maciço sedimentar, tendo em mente a litologia dominante
de arenito fino, maciço e as próprias condições de instabilidade na
sua deposição e consolidação, que não propiciam a ocorrência de
camadas permeáveis persistentes, passíveis de percolação da água
pelo maciço arenítico.
FIGURA 5B - Fotos dos testemunhos (parciais) das SMs 7450 e 7513 exibindo a Uma feição que chamou bastante a atenção durante as
ocorrência de diamictitos em profundidades variáveis no maciço
investigações realizadas no espigão foi a ocorrência de alguns
estratos de arenito friável (C4), particularmente, nas sondagens
de argilito cinza escuro ou esbranquiçado e clastos angulosos executadas mais próximo das ombreiras dos Diques 6C e 8B, como
constituídos de arenito fino e argilito. também nas fundações desses diques, que impediam a realização de
As Figuras 5A e 5B exibem alguns exemplares dessas litologias. ensaios de perda d’água para determinação da permeabilidade do
Mostram, de forma geral, coerentes (C2) e sem fraturas (F1), maciço. Investigações posteriores, utilizando lama bentonítica ou
com raros intervalos friáveis (C4), atribuídos, possivelmente, poliplus na água de perfuração, permitiram uma melhor qualidade
ao processo de perfuração em trechos de rocha praticamente na amostragem e a constatação da real coerência do arenito
desprovida de matriz. Nos afloramentos verticais que ocorrem nas nesses estratos (C4 ou superior). Ele perde a resistência durante
encostas do espigão são igualmente coerentes e cobertos/protegidos o processo de perfuração devido à pouca ou ausência de matriz.
superficialmente por película de sílica microcristalina. Por meio da execução de ensaios de infiltração contínuos, com o
As intercalações de folhelhos, argilitos e ritmitos são pouco simultâneo revestimento do furo, foi também possível determinar
frequentes no pacote de sedimentos e, em geral, com espessuras a permeabilidade dos estratos friáveis. Assim foram obtidos valores
centimétricas a submétricas. Os argilitos, localmente siltitos iguais ou inferiores a 1x10-4 cm/s para esses materiais. Essas
argilosos, têm coloração cinza escuro ou esbranquiçada e arroxeada evidências determinaram o critério para a fundação do cut off nos
a rósea. Apresentam, em geral, contatos com inclinações variáveis diques em material com coerência mínima C4 e coeficiente de
entre 30° e 60° com os arenitos. Apenas em duas sondagens foram permeabilidade k≤ 1x10-4cm/s.
observados estratos mais espessos, com 6 m e 22,5 m, pouco Estudos de percolação (realizados em seções topográficas
coerentes (C3). localizadas em estrangulamentos do espigão com extensão de 350
Os folhelhos são cinza escuro a negros, com espessuras desde m entre a EL.97,00 m a montante e a EL.75,00 m a jusante) são
submétricas a métricas, pouco coerentes (C3) e com estratificação considerados mais críticos em termos de gradientes hidráulicos
fortemente inclinada ou convolucionada e com planos polidos de saída no talvegue a jusante. Foram adotados os parâmetros
ou estriados, evidenciando intenso processo de acomodação no mais desfavoráveis em relação à permeabilidade do maciço e ao

56 WWW.CBDB.ORG.BR
FIGURA 6A - Implantação do cut-off no Dique 8B FIGURA 6B - Implantação do cut-off no Dique 6C

FIGURA 7A - Seção típica


do Dique 8B, exibindo a
implantação do cut-off e
filtro invertido a jusante

FIGURA 7B - Seção típica


do Dique 6C exibindo a
implantação do cut-off e do
filtro invertido a jusante

capeamento de solo. O resultado foi um gradiente máximo de permitiram a caraterização da permeabilidade dos níveis/
0,25, o que recomendou a implantação da proteção do talvegue estratos de arenito friável (C4), dando segurança à escolha do
a jusante do espigão com dreno invertido. projeto mais adequado para o tratamento em questão.
No Projeto Básico Consolidado (PBC) estava prevista a
execução de um tapete impermeável a montante dos Diques
4. CONCLUSÕES
6C, 8A e 8B e filtro invertido a jusante dos mesmos, não se
As investigações geológico-geotécnicas produzidas na tendo previsto, naquela fase, tratamentos no espigão de arenito
região do Graben do Macacão foram realizadas em várias entre os Diques 6C e 8B. O resultado das investigações e ensaios
etapas do projeto e permitiram, com aceitável confiabilidade, geológico-geotécnicos realizados na região do Graben após o PBC
a definição dos limites dessa estrutura e a concepção do possibilitaram um melhor conhecimento dos materiais de fundação,
modelo geológico-estrutural e hidrogeológico do maciço e das permitindo a adoção de uma solução mais adequada do ponto de
fundações na região de interesse do projeto. vista técnico e econômico.
Além da caracterização geológico-estratigráfica do maciço O tratamento preconizado e implantado no Projeto Executivo,
sedimentar do Graben, as investigações e ensaios realizados para o controle do fluxo de água pelas fundações dos Diques 6C, 8A

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 57


CONDICIONANTES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS E SOLUÇÕES DE TRATAMENTO DOS ARENITOS DO GRABEN DO MACACÃO

e 8B, consistiu na escavação de uma trincheira de vedação (cut-off), 6. AGRADECIMENTOS


cuja profundidade variou entre 3 m e 8 m para atender ao critério
imposto (material com coerência mínima C4 e permeabilidade Os autores expressam seus agradecimentos ao Técnico
máxima de 1x10-4 cm/s). Também foi implantado um filtro Cadista Sr. Davi Santos Santana Menezes pelo apoio na
invertido, a jusante desses diques, composto de areia, transições e elaboração das ilustrações apresentadas.
enrocamento. O objetivo foi controlar a saída do fluxo d’água pela
fundação[7]. Figuras 6A e 6B e 7A e 7B.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Igual tratamento com filtro invertido foi aplicado em parte da
região do vale imediatamente a jusante do espigão arenítico, desde o
[1] HASUI, Y. et alii. Elementos Geofísicos e Geológicos da Região Amazônica;
anfiteatro da cabeceira do talvegue (já mencionado no item 2) até as
Subsídio para o Modelo Geodinâmico. In.: SYMPOSIUM AMAZÔNICO, 2, Manaus,
proximidades do Dique 6C, entre a EL.75,0 e o fundo do vale.
Anais ... DNPM /CNPq. Manaus, 1984.
O Projeto Executivo contemplou, também, a proteção do espigão
[2] ISSLER, R. S. et alii. Geologia. In.: BRASIL. DNPM. Projeto RADAM. Folha SA.22.
de arenito, na zona de flutuação do nível d’água do Reservatório
Belém. Rio de Janeiro, 1974.
Intermediário, por meio da implantação de uma camada de
[3] NORTE ENERGIA S.A. Relatório do Projeto Básico, Vol I, Tomo II. Brasília, 2012.
enrocamento (rip-rap) entre a EL.92,5 e a EL. 100,0, com transições
[4] CARVALHO, R.M. Reservatório Intermediário – Graben do Macacão.
de material pétreo até a superfície do terreno, a montante de toda
Apresentação Power Point. In.: 11ª Reunião Setorial de Geologia-Geotecnia da UHE
a extensão da encosta. A crista desta proteção, na EL. 100,0 possui
Belo Monte. Altamira, 2014.
largura de 8,00 m para configurar um acesso permanente, visando a
[5] NORTE ENERGIA S.A. Relatório Técnico RI3-D099-ITT-CGG-RT-0002-00 -
eventuais manutenções. Vide Figura 1.
Graben do Macacão - Consolidação dos Estudos Geotécnicos. Altamira, 2014.
[6] NORTE ENERGIA S.A. Recomendações da Junta de Consultores. In.: 11ª Reunião
5. PALAVRAS-CHAVES Setorial de Geologia e Geotecnia. Altamira, 2014.
[7] NORTE ENERGIA S.A. Tratamentos na Região do Graben do Macacão Nota
UHE Belo Monte. Graben do Macacão. Espigão de Arenito. Técnica RI3-D099-EBM-CTG-NT-0001-00. Altamira, 2015.
Fundação em arenito.

Oscar Machado Bandeira Nestor Antonio Mendes Pereira


Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal Geólogo formado pela Faculdade de Filosofia Ciências
de Campina Grande (PB) em 1969. Possui 40 anos de e Letras de Rio Claro (hoje UNESP). Possui mestrado
experiência na Supervisão e Construção de hidrelétricas, em Geotecnia pela Escola de Engenharia de São Carlos
tendo atuado como Eng. Residente, Engenheiro Consultor, (USP) e especialização em barragens desde 1974.
Coordenador de Obras Civis, Superintendente de Participou de inúmeros estudos sobre a implantação de
Engenharia e Construção nas Hidrelétricas de Itaparica, projetos hidrelétricos, PCH e linhas de transmissão em
Xingó, Tucuruí e Belo Monte (Brasil), Tianshengqiao 1 locais como Instituto de Pesquisas Tecnológica do Estado
(China), Bakun (Malásia) e Siah Bishe (Irã). de São Paulo, Themag Engenharia e Eletronorte. Na Norte Energia S.A. atua
Desde abril de 2011 atua na Norte Energia S.A. como Superintendente de como Coordenador das investigações geológico-geotécnicas e das liberações das
Engenharia e Construção da Usina de Belo Monte e como Coordenador dos fundações das estruturas de terra e rocha da implantação da UHE Belo Monte.
Trabalhos de Segurança de Barragens do empreendimento.

Raimundo Marcondes Carvalho Martim Afonso Cóser Moraes de Camargo


Graduado em Geologia pela Universidade de São Paulo, em Geólogo de Engenharia com mais de 40 anos de atuação
1972, atua no segmento de Consultoria e Projetos de Obras em estudos e projetos de grandes empreendimentos, tais
Geotécnicas desde 1973. Possui experiência na elaboração como: barragens, usinas hidrelétricas, obras de drenagem,
de Inventários Hidrelétricos e Projetos de Viabilidade, túneis, rodovias e ferrovias.
Básico e Executivo de usinas hidrelétricas. Participou Possui experiência no desenvolvimento de Estudos de
do Projeto de Viabilidade do Complexo Hidrelétrico de Inventário e de Viabilidade com Preparação de Programas
Altamira-Belo Monte (17.000MW), do Projeto Executivo de Mapeamento Geológico e de Investigações Geológico-
da UHE Jirau (3.450MW) e na Engenharia do Proprietário da UHE Belo Monte geotécnicas e Geofísicas (com acompanhamento e interpretação). Participação
(11.233MW)Neste último, atuou como Coordenador dos trabalhos da área de do desenvolvimento de Projetos Básicos e Bxecutivos e na Engenharia do
Geologia e foi responsável pela certificação dos documentos de projeto. Proprietário (ATO).

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CONCRETO, TECNOLOGIA E MATERIAIS

MATERIAL CIMENTÍCIO PARA


O PROJETO BELO MONTE
Oscar Machado BANDEIRA | Superintendente de Engenharia do Projeto Belo Monte - Norte Energia S.A.
Walton PACELLI de Andrade | Consultor de Controle Tecnológico do Concreto - Projeto Belo Monte
Reynaldo Machado BITTENCOURT | Engenheiro Civil do Projeto Belo Monte - Norte Energia S.A.

RESUMO ABSTRACT
Além dos aspectos técnicos, com a localização do Complexo Hidrelétrico Besides technical aspects, with hydroelectric complex location
distante dos grandes centros consumidores, as questões de logística, distant from large consumer centers, logistics issues, especially those
principalmente aquelas relacionadas à capacidade de produção, às condições related to production capacity, transport conditions and resulting
de transporte e aos custos, tiveram influência acentuada nas opções de costs, had great impact on supply options of cementitious materials
fornecimento de materiais cimentícios utilizados nas estruturas de concreto used in concrete structures of Belo Monte Project.
do empreendimento de Belo Monte. This article presents a synthesis of the studies and analysis carried
Este artigo apresenta uma síntese dos estudos e análises realizados para a out for the selection of cements and pozzolanic materials for the
seleção de cimentos de materiais pozolânicos para a construção, bem como construction of concrete structures, as well as design specifications
traz especificações de projeto para os requisitos físico-químicos em confronto for physical and chemical requirements, in comparison with their
com o monitoramento de suas propriedades durante o período de construção. monitored properties during the construction period.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 59


MATERIAL CIMENTÍCIO PARA O PROJETO BELO MONTE

1. INTRODUÇÃO Por esta razão, foi especificada a obrigatoriedade de reposição


parcial do cimento por material pozolânico no canteiro para inibir
Custos, requisitos técnicos e fatores como o layout do reações expansivas. Os teores foram definidos por meio de ensaios
empreendimento (com estruturas distribuídas em uma grande área), laboratoriais. A medida também contribuiu para a redução da
o clima, a demanda da obra por material cimentício, a capacidade geração de calor durante a fase de hidratação do aglomerante,
de fornecimento, as condições de transporte, descarga e distribuição, reduzindo a probabilidade de fissurações de origem térmica. [5]
tiveram grande influência nas decisões para a escolha dos cimentos Os materiais pozolânicos adotados foram cinza volante
e dos materiais pozolânicos destinados às estruturas de concreto do (proveniente da Espanha, produzida por Endesa Generación SI.A.
empreendimento da UHE Belo Monte. [1] de Sevilla e distribuída pela fábrica Monjos do Grupo Cementos
São também abordados neste trabalho a demanda da obra por Portland Valderriva), pozolana de argila calcinada Poty proveniente
material cimentício, formas de transporte, descarga distribuição e da fábrica de Paulista (PE), e sílica ativa do fabricante (Elkem,
monitoramento de características e propriedades em confronto com proveniente de Breu Branco (PA)).
os requisitos físico-químicos.
3. TRANSPORTE, ESTOCAGEM E
2. AÇÕES PARA A ESCOLHA DO DISTRIBUIÇÃO DO MATERIAL
MATERIAL CIMENTÍCIO CIMENTÍCIO
A análise dos fatores condicionantes resultou na adoção do À exceção dos cimentos Portland dos tipos CP II F-32 e CP II
cimento do tipo Portland Comum CP I-40, sem filler calcário inerte, E-32 fornecidos em sacos de 50 kg na fase inicial da obra, os materiais
visando a redução do consumo de material cimentício, de forma a cimentícios fabricados no Brasil são transportados a granel por meio
assegurar a estabilidade do conteúdo de material pozolânico na de carretas tipo silo e descarregados diretamente nos silos verticais
composição do concreto produzido na obra. Isso garante a inibição das centrais de concreto dos sítios.
das reações expansivas entre os álcalis do cimento e alguns minerais Os materiais importados são embalados em contêineres flexíveis
contidos nos agregados. tipo “big bags”, transportados em navios até Belém (PA) e por balsa até
O fabricante Votorantim é o responsável pelo fornecimento de
todo o material cimentício, sendo a principal fonte de suprimento de
cimento a sua fábrica localizada em Xambioá (TO) e complementado
com cimento produzido por The Vissai Import and Export One
Member Co. Ltd., de Gian Khau, Gian District, Ning Binh Province,
no Vietnam. Este material foi utilizado durante 17 meses, no período
de fevereiro de 2014 a junho de 2015, quando a demanda da obra por
cimento ultrapassou a capacidade de produção da fábrica de Xambioá.
Na fase inicial da obra, foram também utilizados cimentos tipo
Portland Composto CP II-F-32 e CP II-E-32 fornecidos em sacos,
principalmente em regularizações de fundações sobre rocha, concreto FIGURA 1 – Central de Transilagem em Belo Monte

compactado com rolo e em pré-moldados da Tomada d’Água. A


reposição parcial foi sempre de 8% a 10% de cimento por sílica ativa,
que confere um aumento de resistência de aproximadamente 25%,
alcançando os 40 MPa especificados para serem atingidos aos 28 dias
de idade.
Previamente ao início das concretagens, ensaios de reatividade
álcali-agregado evidenciaram potencial reativo entre os álcalis
contidos na composição dos cimentos e minerais contidos nos
agregados disponíveis na obra (areia natural do rio Xingu e FIGURA 2 – Silos verticais para estocagem de material cimentício das
centrais de concreto de Belo Monte
migmatito das escavações obrigatórias em rocha), com consequente
probabilidade de ocorrência de reações expansivas nas estruturas de Belo Monte. São então descarregados e estocados temporariamente
concreto. [2]; [3]; [4]; [5]; [6] em silos verticais de uma Central de Transilagem localizada no sítio

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TABELA 1 –
Requisitos
físico-químicos
especificados
para o material
pozolânico usado
em Belo Monte e
especificados na
norma ABNT NBR
12653:2015

<< TABELA 2 – Requisitos físico-


químicos para o cimento CP I-40,
conforme as especificações técnicas para
as obras civis do Projeto Belo Monte, BEL
C GR ET GER 100 0001- Rev. 4.

5. CARACTERÍSTICAS
FÍSICO-QUÍMICAS
DO MATERIAL
CIMENTÍCIO
O cimento importado do Vietnã
atendeu aos requisitos físico-químicos
especificados para Belo Monte, exceto
pelo calor de hidratação mais alto. Após
ensaios laboratoriais ficou evidenciada a
equivalência quanto ao calor de hidratação
entre as combinações de cinza volante em
reposição de 25% do cimento proveniente
de Xambioá e em substituição parcial de
35% do cimento do Vietnã.[9]; [10]; [11]

Para inibir reações expansivas e reduzir a geração de calor


Belo Monte. Posteriormente, o material é distribuído para consumo durante a fase de hidratação do cimento, cinza volante, pozolana
por meio de carretas tipo silo, sendo descarregado em silos verticais de argila calcinada e sílica ativa foram os tipos de materiais
das centrais de concreto dos sítios. pozolânicos utilizados na obra como reposição parcial do cimento.
Em função da necessidade de reposição de cimento por cinza
4. REQUISITOS ESTABELECIDOS volante em diferentes teores, conforme a procedência, houve
imposição de não misturar o cimento nacional com o importado
PARA O MATERIAL CIMENTÍCIO em um mesmo silo, tendo sido o cimento vietnamita integralmente
utilizado em estruturas do sítio Belo Monte.
Os requisitos físicos e químicos estabelecidos para cimentos e As características físico-químicas do material cimentício utilizado
materiais pozolânicos utilizados nas estruturas de concreto de Belo nas estruturas de Belo Monte constam nas Tabelas 3 a 13, em
Monte são mostrados nas Tabelas 1 e 2.[7]; [8] confronto com os requisitos especificados.[8]; [9]; [12]; [13]

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 61


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TABELA 3 – Características físicas do cimento Portland Composto CP II F-32

TABELA 4 – Características químicas do cimento Portland Composto CP II F-32


TABELA 5 – Características físicas do cimento Portland Composto CP II E-32

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS


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TABELA 6 – Características químicas do cimento Portland Composto CP II F-32
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TABELA 7 – Características físicas do cimento Portland Comum CP I-40 de Xambioá (TO)

TABELA 8 – Características químicas do cimento Portland Comum CP I-40 de Xambioá (TO)


TABELA 9 – Características físicas do cimento Portland Comum CP I-40 do Vietnã

TABELA 10 – Características químicas do cimento Portland Comum CP I-40 do Vietnã

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS


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TABELA 11 – Características físico-químicas da cinza volante proveniente da Espanha

TABELA 12 – Características físico-químicas da pozolana de argila calcinada Poty, de Paulista (PE)

TABELA 13 – Características físico-químicas da sílica ativa Elkem proveniente de Breu Branco (PA)

6. RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO AXIAL CIMENTO CP I-40


Ambos os cimentos CP I-40 em uso na obra de Belo Monte, probabilidade de conter 90% dos resultados em confronto com as
provenientes de Xambioá (TO) e do Vietnam atenderam aos especificações de resistência mínima em cada idade.
requisitos de resistência à compressão axial, considerando uma faixa A evolução da resistência à compressão axial dos cimentos tipo
com probabilidade de abranger 90% dos resultados, com um máximo Portland CP I-40 é evidenciada de duas formas: referida ao requisito
de 5% inferiores às resistências especificadas em cada idade, coerente de 40 MPa na Figura 5 e à resistência alcançada aos 28 dias, na Figura 6.
com a especificação para os concretos estruturais (t=1,645). A evolução da resistência à compressão axial dos cimentos tipo
As Figuras 3 e 4 evidenciam a evolução dos resultados acumulados Portland CP I-40 é evidenciada de duas formas: referida ao requisito
e apresentados como o limite inferior do intervalo de confiança, com de 40 MPa na Figura 5 e à resistência alcançada aos 28 dias, na Figura 6.

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FIGURA 3 – Evolução da resistência à compressão axial do cimento CP I-40
de Xambioá, considerando a tolerância de 5% dos resultados serem inferiores FIGURA 4 – Evolução da resistência à compressão axial do cimento CP I-40 do
[14]
aos limites estabelecidos Vietnã, considerando a tolerância de 5% dos resultados serem inferiores aos
limites estabelecidos[14]

FIGURA 5 – Evolução da resistência à compressão axial dos cimentos CP I-40 FIGURA 6 – Evolução da resistência à compressão axial do cimento CP I-40
referida ao requisito de 40 MPa aos 28 dias, considerando a tolerância de 5% dos referida à resistência atingida aos 28 dias, considerando a tolerância de 5%
resultados serem inferiores aos limites estabelecidos[14] dos resultados serem inferiores aos limites estabelecidos[14]

7. FORNECIMENTO DE MATERIAL CIMENTÍCIO


A Tabela 14 resume os períodos de fornecimento, as modalidades Norte Energia, atualizadas até outubro de 2016. [15]
de transporte e as quantidades previstas totais e fornecidas A sílica ativa foi fornecida e controlada pelo Consórcio
acumuladas dos materiais cimentícios sob responsabilidade da Construtor Belo Monte.

TABELA 14 – Resumo do fornecimento de materiais cimentícios para o empreendimento

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 67


MATERIAL CIMENTÍCIO PARA O PROJETO BELO MONTE

8. CONCLUSÕES Projeto Belo Monte. Altamira, 28 de fevereiro de 2014.


[11] Pinto, N. L. S.; Brito, S. N. A.; Ávila, J. P.; Cruz, P. T.; Andrade, W. P. Relatório
da 11ª Reunião da Junta Plena de Consultoria do Projeto Belo Monte. Altamira, 16
Os materiais cimentícios utilizados nas estruturas de concreto de junho de 2014.
do empreendimento se mostraram tecnicamente adequados, [12] CONSÓRCIO CONSTRUTOR BELO MONTE. Relatórios Mensais de Con-
tendo sido observados os requisitos técnicos estabelecidos. trole Tecnológico. Altamira, de abril de 2012 a agosto de 2016.
A escolha dos fornecedores e o sistema de transporte se [13] ELETROBRAS FURNAS – LABORATÓRIO DE ENGENHARIA CIVIL.
mostraram adequados à demanda da obra por material cimentício. Relatório GST.E.000.2014-R0 Preliminar. Aparecida de Goiânia, março de 2014.

Considerando a tolerância de 5% de resultados inferiores ao [14] NORTE ENERGIA S.A. Relatórios Mensais de Análise Crítica das Atividades
da Área de Concreto. Altamira, novembro de 2012 a agosto de 2016.
requisito de resistência estabelecida pelo projeto para os concretos
[15] NORTE ENERGIA S.A.- Gerência de Contratos. Resumo do Fornecimento
estruturais, a evolução do crescimento da resistência à compressão
de Material Cimentício. Altamira, outubro de 2016.
axial dos ensaios com o cimento CP I-40 atendeu aos requisitos.

9. AGRADECIMENTOS
Oscar Machado Bandeira
Os autores expressam seus agradecimentos ao Técnico
Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal
Cadista Davi Santos Santana de Menezes pela contribuição de Campina Grande (PB) em 1969. Possui 40 anos
para a edição deste trabalho. de experiência na Supervisão e Construção de
hidrelétricas, tendo atuado como Eng. Residente,

10. PALAVRAS-CHAVE Engenheiro Consultor, Coordenador de Obras Civis,


Superintendente de Engenharia e Construção nas
Hidrelétricas de Itaparica, Xingó, Tucuruí e Belo Monte
Cimento; material pozolânico; material cimentício.
(Brasil), Tianshengqiao 1 (China), Bakun (Malásia) e Siah Bishe (Irã).
Desde abril de 2011 atua na Norte Energia S.A. como Superintendente de
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Engenharia e Construção da Usina de Belo Monte e como Coordenador dos
Trabalhos de Segurança de Barragens do empreendimento.

[1] Bandeira, O. M.; Rufato, L. F.; Franco, H. C. B. Complexo Hidrelétrico Belo


Walton Pacelli de Andrade
Monte. Revista Concreto e Construções do IBRACON - Instituto Brasileiro do
Diplomado em Engenharia Civil e Eletrotécnica pela Escola
Concreto. São Paulo, n°. 63, p. 48-56, julho, agosto e setembro de 2011.
de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora.
[2] Pinto, N. L. S.; Brito, S. N. A.; Ávila, J. P.; Cruz, P. T.; Andrade, W. P.; Andriolo,
Trabalhou no período de 1964 a 1966 na Companhia
F. R. Relatório da 3ª Reunião da Junta Plena de Consultoria do Projeto Belo Monte.
Hidrelétrica do Vale do Paraíba (CHEVAP). A partir de
Curitiba, 29 de abril de 2011.
1967 atuou em Furnas Centrais Elétricas até o ano de 2002.
[3] Pinto, N. L. S.; Brito, S. N. A.; Ávila, J. P.; Cruz, P. T.; Andrade, W. P.; Andriolo,
Consultor em Tecnologia de Concreto, esteve nas
F. R. Relatório da 4ª Reunião da Junta Plena de Consultoria do Projeto Belo Monte. principais obras no Brasil e no exterior nos seguintes países:
Brasília, 12 de agosto de 2011. Uruguai, Paraguai, Argentina, Chile, Equador, Peru, Colômbia, Venezuela, Costa
[4] Pinto, N. L. S.; Brito, S. N. A.; Ávila, J. P.; Cruz, P. T.; Andrade, W. P.; Andriolo, Rica, República Dominicana, Panamá, México, Lesotho, África do Sul, Angola,
F. R. Relatório da 5ª Reunião da Junta Plena de Consultoria do Projeto Belo Monte. Moçambique, Iraque e China.
Brasília, 14 de outubro de 2011.
[5] Andrade, W. P.; Andriolo, F. R. Relatório da 2ª Reunião da Junta Setorial de
Reynaldo Machado Bittencourt
Consultoria do Projeto Belo Monte. Altamira, 27 de abril de 2012.
Engenheiro civil formado pela Universidade Federal do
[6] Andrade, W. P. Relatório da 3ª Reunião da Junta Setorial de Consultoria do
Paraná, pós-graduado em Gerenciamento de Projetos com
Projeto Belo Monte. Altamira, 29 de novembro de 2012.
ênfase na área de Estruturas Concreto.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12653: Materi-
Possui experiência em controle tecnológico, verificação
ais Pozolânicos. Rio de Janeiro, 2015.
de projetos, inspeção, acompanhamento da construção,
[8]NORTE ENERGIA S.A. BEL-C-GR-ET-GER-100-0001- Rev. 4: Especificações
instrumentação para auscultação de estruturas de concreto de
Técnicas para as Obras Civis do Projeto Belo Monte. Altamira, fevereiro de 2013.
obras de usinas hidrelétricas, cálculo e dimensionamento de
[9] Andrade, W. P. Relatório da 6ª Reunião da Junta Setorial de Consultoria do estruturas de concreto, aço e madeira, e em pesquisas na área de concreto.
Projeto Belo Monte. Altamira, 9 de agosto de 2013. Participa atualmente da construção do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, com
[10] Andrade, W. P. Relatório da 8ª Reunião da Junta Setorial de Consultoria do atuação com foco principal em Controle Tecnológico do Concreto.

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CONCRETO, TECNOLOGIA E MATERIAIS

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DOS


CONCRETOS DO PROJETO
BELO MONTE
Oscar Machado BANDEIRA | Superintendente de Engenharia do Projeto Belo Monte - Norte Energia S.A.
Walton PACELLI de Andrade | Consultor de Controle Tecnológico do Concreto - Projeto Belo Monte
Reynaldo Machado BITTENCOURT | Engenheiro Civil do Projeto Belo Monte - Norte Energia S.A.

RESUMO ABSTRACT
Este artigo é sobre a eficiência da resistência à compressão axial do concreto Belo Monte Project concrete axial compressive strength efficiency
do Projeto Belo Monte. A análise é feita com base no comportamento médio is analyzed based on the average behavior of all the concrete mixes
do conjunto das dosagens pertencentes à cada classe definida pelo projeto, belonging to each design class, regardless of the types of cementitious
independentemente dos tipos dos materiais cimentícios utilizados em suas materials used in its compositions and placement methods,
composições e dos métodos de lançamento. Foi considerado que todas elas considering that they all must meet the same requirements specified
devem atender aos mesmos requisitos especificados pelo projeto. by the project.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 69


ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DOS CONCRETOS DO PROJETO BELO MONTE

1. INTRODUÇÃO Os números foram apresentados pelo Controle Tecnológico do


Consórcio Construtor Belo Monte para a empresa Norte Energia
Belo Monte é um empreendimento de usina hidrelétrica, em durante a 15ª Reunião da Junta Plena de Consultoria do Projeto
cuja construção estão previstos a serem utilizados, quando da Belo Monte, realizada entre os dias 4 e 8 de abril de 2016.[1]
sua conclusão, mais de 3 milhões de metros cúbicos de concreto.
Os principais volumes de concreto estão no sítio Belo Monte,
onde está localizada a geração principal, e no sítio Pimental, 2. REQUISITOS ESPECIFICADOS
onde é feito o barramento do rio Xingu e o direcionamento PARA OS CONCRETOS DAS
de parte do seu fluxo para o trecho de vazão reduzida através ESTRUTURAS
do vertedouro e para uma geração secundária de energia. As
Figuras 1 e 2 apresentam visões gerais dessas estruturas. O projeto especificou os requisitos para os concretos
destinados às estruturas das obras principais do Projeto
Belo Monte. Eles foram estratificados segundo classes de
concreto que estabelecem resistências características mínimas
à compressão axial a ser atingida em determinadas idades.
Dentro de cada classeclasse são também especificados
conforme sua destinação e segundo as diferentes tolerâncias
de percentual de resultados inferiores às resistências mínimas
especificadas. Estas são representadas pelo valor do parâmetro
t de Student, conforme resumo da Tabela 1.[2]; [3]; [4]; [5]

FIGURA 1 – Tomada d’Água e Casa de Força do sítio Belo Monte, com 18 unidades
3. AMOSTRAGEM DO CONCRETO
geradoras
PARA ENSAIOS
O Plano da Qualidade Específico (PQE) do Controle da Construção
e dos Materiais Constituintes - Estruturas de Concreto e Obras de
Terra e Rocha do Projeto Belo Monte, parte integrante do contrato
para construção das obras civis do empreendimento, estabelece as
frequências mínimas de amostragem de concreto para ensaios dos
concretos produzidos e destinados às estruturas principais.[6]
Este plano especifica, para cada dosagem de concreto, a frequência
máxima de amostragem destinada aos ensaios de resistência à
compressão axial. É considerado uma amostra a cada 250 m³ de
concreto produzido para os concretos estruturais e uma amostra a
cada 500 m³ para o Concreto Compactado com Rolo (CCR).
FIGURA 2 – Tomada d’Água, Casa de Força com seis unidades geradoras e Vertedou-
ro no sítio Pimental, com 18 vãos

4. APRESENTAÇÃO DOS
A avaliação do desempenho das dosagens de concreto
quanto à resistência à compressão axial é fundamental na RESULTADOS DE ENSAIOS COM AS
construção de usinas hidrelétricas. Devido aos grandes AMOSTRAS
volumes de concreto utilizados, a economia de recursos é uma
prioridade, principalmente em relação ao consumo de material Os resultados dos ensaios de resistência à compressão
cimentício. axial com amostras do concreto produzido são tratados
A análise apresentada foi realizada sobre uma massa estatisticamente pelo Controle Tecnológico do Construtor e
de resultados de ensaios de resistência à compressão axial apresentados em seus relatórios. Os dados são organizados
representativa de todo o CCR e, aproximadamente, 81% do na forma de Tabelas Estatísticas Descritivas com frequência
volume total de concreto convencional do empreendimento. mensal, abrangendo informações do período e acumuladas.

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TABELA 1 - Requisitos especificados para as classes de concreto em função da destinação

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS fundamentação é a teoria das probabilidades.


APRESENTADOS O processo de generalização do método indutivo está associado
a uma margem de incerteza devido ao fato de que a conclusão que
Considerando que todas as dosagens de uma mesma classe devem se pretende obter para a população é baseada em uma parcela do
atender aos mesmos requisitos de resistência mecânica especificados, todo. Entretanto, a Estatística Indutiva evidencia qual a precisão dos
independentemente da composição das dosagens ou do processo resultados (por meio do parâmetro estatístico t de Student) e com que
de lançamento, os resultados acumulados de ensaios com amostras probabilidade se pode confiar nas conclusões obtidas.
do concreto produzido para as estruturas de Belo Monte foram Quando as observações provêm de uma distribuição normal, as
agrupados por classe de concreto para a análise da evolução da médias seguem uma distribuição normal somente se o verdadeiro
resistência à compressão axial. O mesmo foi feito com a especificação desvio padrão da população for conhecido.
dos requisitos a serem observados. Quando o verdadeiro desvio padrão não é conhecido, é necessário
A avaliação do comportamento do concreto é então feita a partir utilizar o desvio padrão da amostra em seu lugar e as médias não
de inferências estatísticas sobre a massa de resultados dos ensaios seguem mais uma distribuição normal. Elas passam a ser associados
das amostras, que tende a seguir um comportamento normal com segurança a uma distribuição de probabilidade estatística
de distribuição de frequências de ocorrência, com dispersões denominada distribuição t de Student, que tem uma forma semelhante
aproximadamente simétricas em torno da média. ao método anterior (distribuição normal).
A Estatística Indutiva, Amostral ou Inferencial cuida da análise Esta distribuição é composta por uma família de curvas que quanto
e da interpretação dos dados e, partindo de uma amostra, permite maior for o tamanho da amostra, mais ela se aproxima da distribuição
tirar conclusões sobre a população de origem e formular previsões. A normal (Figura 3).

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ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DOS CONCRETOS DO PROJETO BELO MONTE

O parâmetro t de Student é representado por uma família de


curvas diferenciadas entre si por duas variáveis:
• Graus de Liberdade, calculados como o número de resultados
de ensaios disponíveis, menos um,
• Um percentual tolerado de resultados com valor inferior ao
requisito estabelecido, que define a precisão dos resultados
(Figura 4).
Quanto menor for o tamanho da amostra, maior será a incerteza
embutida na consideração de que as amostras representam
significativamente o todo, e maior será o valor de t de Student.
Os valores de t de Student para grandes amostras especificados pelo
FIGURA 3 – Confronto entre a distribuição normal de frequências de ocorrências e projeto para Belo Monte e seus significados são apresentados na
uma distribuição da família de curvas de distribuição de probabilidade estatística t
de Student Tabela 2.

6. AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO
DOS CONCRETOS
O desempenho dos concretos, avaliado separadamente para os
sítios Pimental e Belo Monte, não se refere a nenhuma dosagem de
concreto específica, mas ao comportamento médio do conjunto das
dosagens pertencentes a cada classe. Foi obtido pela média aritmética
dos resultados informados, inclusive do número de amostras.
A maior eficiência ou melhor desempenho em termos de
resistência ocorre quando o valor da resistência média dos ensaios
fcm se iguala ao valor da resistência média mínima requerida fcm req.
Nessa condição, como tolerado pelo projeto, um percentual
dos resultados dos ensaios de resistência à compressão axial com
FIGURA 4 – Tolerância de ocorrência (quantil) de um percentual de valores
inferiores a fck as amostras, equivalente ao definido pelo projeto por meio do
parâmetro t de Student, resulta inferior ao valor de fck e o consumo

TABELA 2 – Tolerâncias de projeto (quantis) quanto ao percentual de resultados de ensaios de resistência à compressão inferiores a fck, expressas por meio do
parâmetro t de Student

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de aglomerante será o mínimo viável que permite
atender aos requisitos de projeto.
A resistência mínima requerida à compressão
axial é calculada em função das condições efetivas
de amostragem e resultados apresentados e está
evidenciada pela Equação 1.

[8]
fcm req = fck / (1 – t . v/100)
(1)

fcm req MPa Resistência mínima requerida à


compressão axial
fck MPa Resistência característica mínima à
compressão axial
t --- Coeficiente t de Student para a amostragem
considerada
v (%) Coeficiente de variação

Para o cálculo da resistência requerida foi adotado,


FIGURA 5 – Rendimentos dos concretos de Belo Monte
no período inicial das obras, o valor de 15% para e de Pimental, por classe de concreto
o coeficiente de variação, considerado bastante
conservador.
Mais tarde, durante o andamento da obra, adota-se o valor do Tabela 4, ao sítio Pimental. Os gráficos com a evolução das resistências
coeficiente de variação efetivo, obtido dos ensaios com as amostras, à compressão axial por classe de concreto, considerando a média dos
cujo valor é esperado ser menor. Nesse empreendimento ele foi resultados de ensaios com amostras de todas as dosagens de cada
considerado como máximo 11%, que representa o limite superior do classe, são mostrados separadamente para os sítios Belo Monte, nas
controle de qualidade dito como bom pelo Guia ACI 214R-11, valor Figuras 06 a 20, e Pimental, nas Figuras 21 a 28.
acima do qual será tido como regular ou ruim. [7] Valores das resistências médias fcm superiores aos valores
Da mesma forma, para o valor de t de Student, inicialmente das resistências mínimas requeridas f
cm req evidenciam margens
é adotado o valor correspondente a grandes amostras como o existentes para otimização das resistências e, consequentemente, dos
especificado pelo projeto. Durante o andamento da obra é adotado o consumos de aglomerante.
valor correspondente à amostragem efetiva. Os casos mostrados nas Figuras 8, 10, 17 e 19, todas referentes
ao sítio Belo Monte, devem ser analisados com reserva. Isto porque
7. RENDIMENTO OU EFICIÊNCIA o pequeno número médio de resultados de amostras aumentou a
incerteza da inferência estatística.
Os rendimentos dos concretos, expressos como as relações
entre as resistências alcançadas e os respectivos consumos de 9. CONCLUSÕES
aglomerante equivalentes em cimento, são mostrados na FIGURA
5, separadamente para os sítios Belo Monte e Pimental. Em termos
A análise do desempenho quanto à resistência à compressão
econômicos, quanto maior o rendimento, melhor é o resultado da
axial dos concretos do empreendimento de Belo Monte foi feita pela
dosagem.
média aritmética dos valores referentes às dosagens pertencentes a
cada classe de concreto, considerando que todas elas devam atender
8. RESISTÊNCIAS AVALIADAS POR aos mesmos requisitos especificados pelo projeto para cada classe.
CLASSES DE CONCRETO O melhor rendimento ou a maior eficiência dos concretos de cada
classe são alcançados quando a resistência média dos resultados dos
Os requisitos de projeto, as resistências requeridas e alcançadas nas ensaios com as amostras do concreto produzido se iguala à
idades de controle, os rendimentos, bem como os volumes de concreto resistência média mínima requerida, com base nas condições
lançados, constam na Tabela 3, referentes ao sítio Belo Mont,e e na praticadas na obra.

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TABELA 3 – Resumo da análise das resistências à compressão axial, nas datas de controle de cada classe, para o sítio Belo Monte

TABELA 4 – Resumo da análise das resistências à compressão axial nas datas de controle de cada classe para o sítio Pimental
SÍTIO BELO MONTE

FIGURA 12 – Classe D, t = 1,645 FIGURA 10 – Classe C, t = 1,645 FIGURA 8 – Classe B, t =1,282 FIGURA 6 – Classe A, t = 0,842

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FIGURA 13 – Classe E, t = 1,645 FIGURA 11 – Classe D, t = 1,282 FIGURA 9 – Classe C, t = 1,282 FIGURA 7 – Classe B, t = 0,842

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FIGURA 20 – CCR, t = 0,842 FIGURA18 – Classe J, t = 1,645 FIGURA 16 – Classe H, t = 1,645 FIGURA 14 – Classe F, t = 1,645

FIGURA 19 – Classe L, t = 1,645 FIGURA 17 – Classe I, t = 1,645 FIGURA 15 – Classe G, t = 1,645


SÍTIO PIMENTAL

FIGURA 21 – Classe A, t = 0,842


FIGURA 22 – Classe B, t = 0,842

FIGURA 23 – Classe B, t = 1,282 FIGURA 25 – Classe D, t = 1,648

FIGURA 26 – Classe E, t = 1,645 FIGURA 26 – Classe E, t = 1,645

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FIGURA 27 – Classe F, t = 1,645 FIGURA 28 – Classe H, t = 1,645

A avaliação da eficiência das dosagens de concreto de cada Brasília, 18 de fevereiro de 2011.


classe evidencia o atendimento satisfatório dos requisitos, com [7] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI Committee 214. ACI 214R-11

margem ainda para uma maior otimização. Guide to Evaluation of Strength Test Results of Concrete. 5.3 – Criteria for Strength
Requirements. Farmington Hills, MI, 2011.

10. AGRADECIMENTOS
Oscar Machado Bandeira
Os autores registram a importante atuação do consultor Francisco Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de
Campina Grande (PB) em 1969. Possui 40 anos de experiência
Rodrigues Andriolo na elaboração das especificações técnicas para os
na Supervisão e Construção de hidrelétricas, tendo atuado
concretos e seus materiais componentes para o Projeto de Belo Monte. como Eng. Residente, Engenheiro Consultor, Coordenador de
Também os autores expressam seus agradecimentos ao Técnico Obras Civis, Superintendente de Engenharia e Construção nas
Cadista Davi Santos Santana de Menezes pela contribuição para a Hidrelétricas de Itaparica, Xingó, Tucuruí e Belo Monte (Brasil),
Tianshengqiao 1 (China), Bakun (Malásia) e Siah Bishe (Irã).
edição deste trabalho. Desde abril de 2011 atua na Norte Energia S.A. como Superintendente de Engenharia
e Construção da Usina de Belo Monte e como Coordenador dos Trabalhos de
11. PALAVRAS-CHAVE Segurança de Barragens do empreendimento.

Concreto; classe de concreto; desempenho; rendimento;


Walton Pacelli de Andrade
consumo de aglomerante.
Diplomado em Engenharia Civil e Eletrotécnica pela Escola de
Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora.
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Trabalhou no período de 1964 a 1966 na Companhia Hidrelétrica
do Vale do Paraíba (CHEVAP). A partir de 1967 atuou em Furnas
Centrais Elétricas até o ano de 2002.
[1] Pinto, N. L. S.; Ávila, J. P.; Cruz, P. T.; Andrade, W. P. Relatório da 15ª Reunião Consultor em Tecnologia de Concreto, esteve nas principais
da Junta Plena de Consultoria do Projeto Belo Monte. Altamira, 8 de abril de 2016. obras no Brasil e no exterior nos seguintes países: Uruguai,
[2] Bandeira, O. M.; Rufato, L. F.; Franco, H. C. B. Complexo Hidrelétrico Belo Paraguai, Argentina, Chile, Equador, Peru, Colômbia, Venezuela, Costa Rica,
Monte. Revista Concreto e Construções do IBRACON - Instituto Brasileiro do República Dominicana, Panamá, México, Lesotho, África do Sul, Angola,
Moçambique, Iraque e China.
Concreto. São Paulo, n°. 63, p. 48-56, julho, agosto e setembro de 2011.
[3] NORTE ENERGIA S.A. BEL-C-GR-ET-GER-100-0001- Rev. 4: Especificações
Técnicas para as Obras Civis do Projeto Belo Monte. Altamira, p. 114-115,
Reynaldo Machado Bittencourt
Engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Paraná,
fevereiro de 2013.
pós-graduado em Gerenciamento de Projetos com ênfase na área
[4] NORTE ENERGIA S.A. Relatório de Alteração de Especificação Técnica GR3 de Estruturas Concreto.
GE00 CBM CTC RE-0003-0A. Altamira, p.1-4, 1 de março de 2016. Possui experiência em controle tecnológico, verificação
[5] NORTE ENERGIA S.A. Memorando de Análise de Documentos GR GE00 de projetos, inspeção, acompanhamento da construção,
EBM CTC ME 0005-00. Altamira, 19 de março de 2016. instrumentação para auscultação de estruturas de concreto de
obras de usinas hidrelétricas, cálculo e dimensionamento de
[6] NORTE ENERGIA S.A. Plano da Qualidade do Controle da Construção e
estruturas de concreto, aço e madeira, e em pesquisas na área de concreto.
dos Materiais Constituintes – Estruturas de Concreto e Obras de Terra e Rocha Participa atualmente da construção do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, com
- Adendo do Anexo 21 do Contrato DC-S-001-2011-2 – Obras Civis Principais. atuação com foco principal em Controle Tecnológico do Concreto.

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HIDRÁULICA E VERTEDORES

VERIFICAÇÃO DA ESTABILIDADE
DE REVESTIMENTO EM
ENROCAMENTO NO FUNDO
DO CANAL DE DERIVAÇÃO DA
UHE BELO MONTE
Fernando Ribas TERABE | Engenheiro Civil, M.Sc. – Institutos Lactec – CEHPAR
Fernanda Hiromi Scheffer YAMAKAWA | Engenheira Civil, M.Sc. – Institutos Lactec – CEHPAR
José Junji OTA | Engenheiro Civil, D.Sc. – Institutos Lactec – CEHPAR – UFPR
Ingrid Illich MULLER | Engenheira Civil, D.Sc. – Companhia Paranaense de Energia – COPEL

RESUMO ABSTRACT
Este trabalho apresenta os resultados dos estudos hidráulicos de verificação This paper presents the results of hydraulic studies to verify the
da estabilidade do revestimento em enrocamento do fundo do Canal de stability of rockfill coating for the Main Diversion Canal of Belo
Derivação da UHE Belo Monte. O projeto considera a necessidade de controlar Monte Hydroelectric Power Plant. The design considers the need to
a rugosidade do revestimento e garantir que a perda de carga ao longo do control the surface roughness of the coating to ensure that the head
canal resulte dentro de valores aceitáveis ao projeto. Considerando a lacuna loss along the channel results in acceptable design value. Considering
de conhecimento sobre o tema, o desafio foi determinar com segurança uma the lack of knowledge on the subject, the challenge was to determine
granulometria adequada da camada de revestimento para resistir aos esforços a proper grain size of the coating to withstand the hydrodynamic
hidrodinâmicos impostos pelo escoamento em termos de flutuações de pressões efforts imposed by the flow in terms of fluctuations of pressures and
e velocidades e tensões tangenciais junto ao fundo do canal. O estudo em modelo velocities and shear stresses along the channel bottom. A reduced
reduzido foi desenvolvido para compreender os fenômenos físicos envolvidos e scale model study was developed in order to understand the involved
avaliar o grau de segurança do projeto. physical phenomena and assess the project security level.

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VERIFICAÇÃO DA ESTABILIDADE DE REVESTIMENTO EM ENROCAMENTO NO FUNDO DO CANAL DE DERIVAÇÃO DA UHE BELO MONTE

1. INTRODUÇÃO 3. ESTUDOS HIDRÁULICOS EM


MODELO REDUZIDO

A
utilização de blocos de enrocamento para o
revestimento do fundo em canais escavados em O objetivo principal deste estudo consiste em avaliar a
rocha ou solo pode ser uma solução efetiva para a estabilidade do revestimento em enrocamento no fundo
melhora do desempenho hidráulico, com redução significativa do Canal de Derivação da UHE Belo Monte para garantir
da perda de carga do escoamento. Com a vantagem de poder condições adequadas de escoamento com perdas de carga
ser executado quase diretamente sobre o substrato, resultante aceitáveis. Para a realização do estudo foi construído um
da escavação em rocha ou em solo e sem a necessidade da modelo reduzido parcial, operado em acordo com o critério de
trabalhosa remoção de blocos e fragmentos de rocha soltos, semelhança de Froude, na escala geométrica 1:10, em função da
a utilização de blocos de enrocamento pode ser uma opção necessidade de reproduzir adequadamente os esforços impostos
promissora, desde que se consiga definir uma granulometria pelo escoamento junto ao fundo do canal e, especialmente, os
adequada da camada de revestimento para resistir aos esforços fenômenos de turbulência. Considerando a escala adotada e a
hidrodinâmicos em termos de flutuações de pressões e capacidade de vazão disponível no laboratório, não foi possível
velocidades. O presente trabalho apresenta o estudo em modelo reproduzir no modelo condições de escoamento semelhantes
reduzido (escala geométrica 1:10). Ele foi desenvolvido para geometricamente ao protótipo, com profundidades da ordem
verificar a estabilidade do revestimento em enrocamento para de 21 m e velocidade média de 2,5 m/s. Neste estudo, se optou
o fundo do canal de derivação da UHE Belo Monte, composto por simular em modelo distorcido condições de escoamento
por blocos de rocha com diâmetro máximo de 20 cm [1]. com velocidade média de 2,5 m/s e profundidade de 6 m, em
um canal de seção transversal retangular com 10 m de largura
2. CARACTERÍSTICAS DO CANAL DE (dimensões de protótipo). Observa-se que, considerando a
DERIVAÇÃO DA UHE BELO MONTE mesma velocidade média (2,5 m/s) e o mesmo coeficiente de
Strickler (37 m1/3.s-1), o escoamento com profundidade de 6 m
O canal de derivação da UHE Belo Monte é horizontal e tem gera tensões tangenciais junto ao fundo 52 % maiores que o
seção trapezoidal com largura no fundo de 200 m e comprimento escoamento com a profundidade de 21 m (ver item 7). Portanto,
aproximado de 17 km. Ao longo do seu comprimento, a a condição de escoamento proposta para realização dos ensaios
geometria da seção transversal apresenta pequenas variações. é conservadora sob o ponto de vista de avaliação da estabilidade
A geologia local condiciona a geometria das margens em do revestimento de enrocamento no fundo do canal.
alguns trechos escavados em solo, com taludes mais abatidos
(1V:2,5H), em outros escavados em rocha com taludes mais 4. CONFIGURAÇÃO DO MODELO
íngremes (1V:0,5H) e bancadas horizontais. O projeto considera REDUZIDO
o revestimento do fundo do canal em enrocamento com a
finalidade de controlar a rugosidade final e garantir que a perda No modelo reduzido (escala geométrica 1:10), o canal
de carga ao longo do canal resulte dentro de valores aceitáveis ao representado é retilíneo, tem seção retangular (0,6 m de
projeto. Dessa forma, o fundo do canal é revestido ao longo de profundidade por 1,0 m de largura) e comprimento aproximado
toda sua extensão, independente de ter sido escavado em solo de 30 m. A pista experimental com aproximadamente 5 m de
ou em rocha. O revestimento previsto para o fundo do canal extensão (dimensão de modelo) foi implantada no trecho central
é composto por blocos de rocha com diâmetro máximo de 20 do canal. A Figura 1 apresenta uma vista de montante do canal.
cm, produzido na obra a partir da britagem de rocha sã pelo
equipamento Lokotrack LT106. Considerando a rugosidade da
superfície do revestimento resultante no canal, o projeto adotou
o coeficiente de perda de carga de Strickler Ks igual a 37 m1/3.s-1,
que corresponde à rugosidade média k igual a 0,12 m. A vazão
máxima de operação do Canal de Derivação é igual a 13.950
m³/s, que resulta em velocidades médias do escoamento da
FIGURA 1 - Vista de
ordem de 2,5 m/s na seção transversal de menor área do canal. montante do canal
A profundidade média do escoamento no canal é de 21 m. experimental

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A montante e a jusante da pista experimental, foi implantada tensões tangenciais críticas que provocam seu arraste. A partir
uma rugosidade composta de pedrisco uniforme com diâmetro dos diâmetros do enrocamento no protótipo, foram determinadas
médio de 0,012 m, visando gerar no modelo uma resistência ao as velocidades de corte críticas (condição incipiente baseada
escoamento compatível com o coeficiente de Strickler igual a no Critério de Shields). A estes valores, foi aplicada a escala de
37 m1/3.s-1, conforme especificado no projeto do protótipo. As velocidades (semelhança de Froude) para obter a velocidade de
paredes laterais do canal no modelo foram executadas para obter corte crítica para o material do modelo. Para estes valores, foram
a superfície mais lisa possível para minimizar os efeitos de parede calculados os diâmetros dos blocos para o modelo. A Figura 3
(a parede lateral esquerda foi revestida com vidros e a parede lateral mostra a comparação entre a granulometria do material utilizado
direita foi revestida com argamassa de cimento “queimado” e no modelo (baseado na semelhança geométrica) e a granulometria
lixado). As condições de escoamento impostas no modelo reduzido obtida baseada no critério de semelhança de condição incipiente.
foram verificadas e, em todos os casos, o regime de escoamento
resultou turbulento plenamente rugoso, garantindo a semelhança
pelo critério de Froude.

5. REPRESENTAÇÃO NO MODELO
REDUZIDO DO REVESTIMENTO
DO FUNDO DO CANAL EM
ENROCAMENTO
Antes do início do estudo no modelo do revestimento do fundo
do canal em enrocamento, engenheiros do laboratório visitaram a
obra para observar o processo de produção e as características finais
do revestimento do fundo do Canal de Derivação. O enrocamento,
definido pela curva granulométrica apresentada na Figura 2, é FIGURA 3 – Granulometria do material utilizado nos ensaios em modelo
reduzido
produzido na obra a partir da britagem de blocos de rocha sã pelo
equipamento Lokotrack LT106. Após o processo de britagem, o
material é depositado formando uma mistura bastante homogênea Na obra, após a britagem, o enrocamento é carregado em
de tamanhos. caminhões e levado diretamente para implantação no fundo do canal,
onde é basculado sobre um trecho de revestimento já executado para
ser espalhado com trator de lâmina, formando uma camada de 60
cm, que posteriormente é compactada com rolo. Com esse processo
de execução, a superfície do leito formado apresenta um aspecto
bastante homogêneo, composta pela mistura de blocos de todos os
diâmetros da curva granulométrica. No laboratório, foram testadas
diversas formas de mistura e espalhamento do material com o objetivo
de obter uma pista experimental satisfatoriamente semelhante à
observada no protótipo, conforme apresentado na Figura 4.

FIGURA 2 – Curva granulométrica – protótipo

O material utilizado para simulação do enrocamento no modelo


teve sua granulometria definida com base na escala geométrica b. Modelo
a. Protótipo
1:10 e foi verificado através de um critério de semelhança de FIGURA 4 – Comparação entre protótipo e modelo

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VERIFICAÇÃO DA ESTABILIDADE DE REVESTIMENTO EM ENROCAMENTO NO FUNDO DO CANAL DE DERIVAÇÃO DA UHE BELO MONTE

6. ESTUDOS REALIZADOS muito pequena de blocos foi arrastada para jusante da pista
experimental (1,66 g ao longo de 40 horas de ensaio).
Os ensaios foram realizados considerando a velocidade média do Para verificação da estabilidade do enrocamento foram
escoamento equivalente a 2,5 m/s. Primeiramente, foi realizado um realizados levantamentos topográficos da superfície do enro-
ensaio com tempo de exposição de 80 horas (10 dias de oito horas camento antes e após a realização dos ensaios. Os levantamentos
de simulação) e, em seguida um ensaio com tempo de exposição de foram executados com o equipamento Scanner Optico 3D – ATOS
40 horas (cinco dias de oito horas de simulação), para confirmação (Software GOM – Inspect Professional), cuja precisão é da ordem
dos resultados. A Tabela 1 apresenta as quantidades de material de 0,03 mm. O levantamento feito por esse equipamento resulta
arrastado para jusante da pista experimental ao final de cada dia em uma superfície bastante precisa, permitindo a comparação
de ensaio no modelo para o ensaio de 80 horas de exposição. É da topografia do leito antes e após a execução do ensaio. A partir
perceptível que uma quantidade pequena de blocos foi removida desses levantamentos foi observado que o transporte de blocos
da pista experimental (7,16 g ao longo de 80 horas de ensaio). No para fora da pista experimental foi pequeno, como indicado nas
primeiro dia de ensaio, a quantidade arrastada foi significativamente Tabelas 1 e 2. Além disso, foi verificado que ao final dos ensaios
maior que nos outros dias (4,54 g). Foi visto também que 69% dos havia alguns blocos de enrocamento salientes espalhados ao
blocos arrastados tinham diâmetros variando entre 1,19 mm e 6,35 longo de toda superfície da pista experimental, conforme a
mm (equivalentes a 1,19 cm e 6,35 cm no protótipo) e que foram Figura 5. Esses blocos aparentemente foram deslocados por
arrastados somente três blocos de diâmetro maior que 6,35 mm, esforços pontuais gerados pelo escoamento de forma aleatória
sendo dois com diâmetro entre 6,35 mm e 9,52 mm, e um com junto ao leito. Em geral, após o movimento inicial, estes
diâmetro entre 9,52 mm e 12,7 mm. Após o último dia do ensaio blocos permaneceram parados durante vários dias de ensaio
nenhum bloco foi encontrado fora da pista experimental. e raramente foi possível verificar uma nova movimentação dos
A Tabela 2 apresenta as quantidades de materiais removidos da mesmos.
pista experimental ao final de cada dia de ensaio no modelo para o Na Figura 6, que apresenta a comparação entre os levantamentos
ensaio de 40 horas de exposição. Observa-se que uma quantidade topográficos da superfície do leito antes e depois da execução do

Diâmetros   Material  Arrastado  para  Jusante  da  Pista  Experimental  


Mínimo   Máximo   1º  dia   2º  dia   3º  dia   4º  dia   5º  dia  
(mm)   (mm)   (g)   (%)   (g)   (%)   (g)   (%)   (g)   (%)   (g)   (%)  
12,7   19,1   0   0   0   0   0   0   0   0   0   0  
9,52   12,7   1,14   25   0   0   0   0   0   0   0   0  
6,35   9,52   1,08   24   0   0   0   0   0   0   0   0  
4,76   6,35   0,29   6   0,20   38   0,16   13   0   0   0   0  
2,83   4,76   1,51   33   0,30   57   0,80   67   0   0   0,20   95  
1,19   2,83   0,52   11   0,03   6   0,24   20   0,06   100   0,01   5  
Total     4,54   100   0,53   100   1,20   100   0,06   100   0,21   100  
Diâmetros   Material  Arrastado  para  Jusante  da  Pista  Experimental  
Mínimo   Máximo   6º  dia   7º  dia   8º  dia   9º  dia   10º  dia   Total  
(mm)   (mm)   (g)   (%)   (g)   (%)   (g)   (%)   (g)   (%)   (g)   (%)   (g)   (%)  
12,7   19,1   0   0   0   0   0   0   0   0   0   0   0   0  
9,52   12,7   0   0   0   0   0   0   0   0   0   0   1,14   16  
6,35   9,52   0   0   0   0   0   0   0   0   0   0   1,08   15  
4,76   6,35   0   0   0   0   0,21   91   0   0   0   0   0,86   12  
2,83   4,76   0,15   88   0,15   83   0   0   0,04   100   0   0   3,15   44  
1,19   2,83   0,02   12   0,03   17   0,02   9   0   0   0   0   0,93   13  
Total     0,17   100   0,18   100   0,23   100   0,04   100   0   0   7,16   100  

TABELA 1 – Material arrastado para jusante da pista experimental – dimensões de modelo – 80 horas de exposição

Diâmetros   Material  Arrastado  para  Jusante  da  Pista  Experimental  


Mínimo   Máximo   1º  dia   2º  dia   3º  dia   4º  dia   5º  dia   Total  
(mm)   (mm)   (g)   (%)   (g)   (%)   (g)   (%)   (g)   (%)   (g)   (%)   (g)   (%)  
12,7   19,1   0   0   0   0   0   0   0   0   0   0   0,00   0  
9,52   12,7   0   0   0   0   0   0   0   0   0   0   0,00   0  
6,35   9,52   0   0   0   0   0   0   0   0   0   0   0,00   0  
4,76   6,35   0   0   0   0   0   0   0   0   0   0   0,00   0  
2,83   4,76   0,51   71   0,45   63   0,04   67   0,05   100   0,06   55   1,11   67  
1,19   2,83   0,21   29   0,27   38   0,02   33   0   0   0,05   45   0,55   33  
Total     0,72   100   0,72   100   0,06   100   0,05   100   0,11   100   1,66   100,00  
TABELA 2 – Material arrastado para jusante da pista experimental – dimensões de modelo - 40 horas de exposição

82 WWW.CBDB.ORG.BR
FIGURA 7 –
Perfil de
velocidades
medido ao
longo do
ensaio

FIGURA 5 – Fotografia após o ensaio – blocos salientes no leito

ensaio, se verifica o movimento de alguns blocos sobre o leito. A partir da equação do perfil logarítmico de velocidades [2] foi
As áreas em verde indicam que não houve modificação no leito. calculada a velocidade de corte do escoamento para cada ponto
Pontos vermelhos indicam locais onde ocorreu elevação do leito experimental medido do perfil de velocidades pela equação (1).
(deposição de blocos movimentados) e pontos azuis são locais
onde surgiu uma depressão (remoção de bloco). (1)

7. ANÁLISE DO ESFORÇO
TANGENCIAL JUNTO AO LEITO Onde:
− v*: velocidade de corte do escoamento (m/s);
IMPOSTO PELO ESCOAMENTO − κ : Constante de Von Karman (igual a 0,4);
− v: velocidade do escoamento à distância vertical y do fundo do canal;
Os perfis verticais de velocidades medidos durante a − y’: distância vertical medida a partir do fundo do canal até a posição onde
a velocidade do escoamento é igual a zero. O valor de y’ foi obtido através da
execução dos ensaios permitiram a avaliação no modelo do
extrapolação do perfil de velocidades (medido experimentalmente) plotado
esforço tangencial exercido pelo escoamento junto ao fundo e, em um gráfico mono-logarítmico.
também, de sua capacidade de transporte relativa aos diâmetros
de materiais disponíveis na superfície do leito. A Figura 7 Adotando o valor médio da velocidade de corte em cada perfil
mostra um perfil de velocidades medido durante o ensaio, com foi possível o cálculo do perfil logarítmico de velocidades e seu
grandezas transpostas ao protótipo. confronto com os pontos experimentais, conforme apresentado na
Figura 7. A tensão tangencial junto ao
leito imposta pelo escoamento [3] pode
ser calculada a partir da velocidade de
corte do escoamento pela equação (2):

(2)

Onde:
− τ: tensão tangencial junto ao fundo (N/m²);
− v*: velocidade de corte do escoamento (m/s);
− ρ: massa específica da água (1000 kg/m³).

A Tabela 3 apresenta os valores da


velocidade de corte obtidos para cada
perfil de velocidades e a respectiva tensão
tangencial gerada junto ao leito.
FIGURA 6 – Comparação entre as superfícies antes e após o ensaio

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 83


VERIFICAÇÃO DA ESTABILIDADE DE REVESTIMENTO EM ENROCAMENTO NO FUNDO DO CANAL DE DERIVAÇÃO DA UHE BELO MONTE

Velocidade  de  corte  do   Tensão  tangencial  junto  ao  


Perfil   escoamento  (m/s)   fundo  (N/m²)  
Protótipo   Modelo   Protótipo   Modelo  
Ensaio  com  80  horas  de  exposição   0,207   0,065   43,02   4,30  
Ensaio  com  40  horas  de  exposição   0,192   0,061   37,29   3,73  
TABELA 3 – Velocidades de corte do escoamento e tensão tangencial junto ao leito

Considerando a equação de Manning-Strickler [3], a equação de canal. A tensão calculada a partir dos resultados do modelo
Du Buat [3], o coeficiente de Strickler igual a 37 m1/3.s-1 (valor de (apresentados na Tabela 3) leva em conta a resistência ao
protótipo definido como critério de projeto para cálculo da perda escoamento exercida pelas paredes do modelo. Por esse motivo,
de carga no canal de derivação da UHE Belo Monte) e a velocidade ela resulta maior que o valor estimado para o caso bidimensional
média do escoamento igual a 2,5 m/s, é possível calcular a tensão de mesma profundidade no protótipo (24,65 N/m²).
tangencial junto ao leito estimada para o protótipo, considerando
o escoamento bidimensional, pelas equações (3) e (4):
8. ANÁLISE DA ESTABILIDADE DO
ENROCAMENTO NO FUNDO DO
u=Ks.Rh2/3.S1/2 (Manning-Strickler) (3) CANAL

τ=γ.Rh.S (Du Buat) (4) A estabilidade dos materiais do leito pode ser avaliada em
função do critério de condição crítica de arraste proposto
por Shields [4] para materiais uniformes. A tensão tangencial
Onde:
adimensional “θ” e o número de Reynolds de corte da
− u: velocidade média do escoamento (2,5 m/s);
partícula de diâmetro D são definidos pelas expressões (5) e (6),
− Ks: coeficiente de Strickler (37 m1/3.s-1);
respectivamente:
− Rh: raio hidráulico (m);
− S: declividade da linha de energia;
(5)
− τ: tensão tangencial junto ao leito (N/m²);
− γ : peso específico da água (9810 N/m³).

(6)
A Tabela 4 apresenta o cálculo da tensão tangencial junto ao
leito estimada para o protótipo considerando escoamentos com
Onde:
profundidades iguais a 6 m (considerada nos estudos em modelo
− τ : tensão tangencial junto ao fundo do canal;
reduzido) e 21 m (profundidade real do escoamento no protótipo).
− ρs : massa específica das partículas (2780 kg/m³);

Rh  (m)   S   − ρ : massa específica da água (1000 kg/m³);


τ (N/m²)
6   0,00042   24,65   − g: aceleração da gravidade (9,81 m/s²);

21   0,00008   16,23   − D: diâmetro da partícula (m);


− v*: velocidade de corte do escoamento (m/s);
TABELA 4 – Cálculo da tensão tangencial estimada no protótipo
− ν : viscosidade cinemática da água (10-6 m²/s).

Nos cálculos apresentados na Tabela 4 se observa que para a Os valores da tensão tangencial adimensional e o número de
mesma velocidade média do escoamento e o mesmo coeficiente Reynolds de corte, calculados para os diâmetros componentes do
de Strickler, o escoamento com a profundidade menor (6 m) enrocamento e plotados no Diagrama de Shields, revelam que o
gera uma tensão tangencial junto ao leito 52% maior que o escoamento no modelo do canal é capaz de transportar partículas
escoamento com a profundidade real do protótipo. Portanto, com diâmetros inferiores a 5 mm (equivalente a 0,05 m no protótipo)
a condição de escoamento ensaiada no modelo pode ser expostas na superfície do leito, em acordo com o observado durante
considerada conservadora sob o ponto de vista de avaliação o ensaio, conforme indicado nas Tabelas 1 e 2. Ali é verificado que
da estabilidade do revestimento de enrocamento no fundo do os diâmetros arrastados da pista experimental são inferiores a 5 mm,

84 WWW.CBDB.ORG.BR
predominantemente. Os diâmetros arrastados da pista experimental Enrocamento. LACTEC CEHPAR: Curitiba, Brasil, 2013.
são inferiores a 5 mm. No entanto, a quantidade de material removido [2] DAILY, Y. W.; HARLEMAN, D. R. F. Fluid Dynamics. U.S.A.: Addison-Wesley
da pista experimental é muito pequena. Esse resultado se deve ao fato Pub. Co., 1966.
de que o processo de implantação do enrocamento resulta em uma [3] HENDERSON, F. M. Open Channel Flow. New Jersey, U.S.A.: Prentice-Hall
superfície sem segregação de materiais e composta por diâmetros Inc., 1966.
de toda faixa granulométrica, como pode ser visto na Figura 4, [4] GRAF W. H. Hydraulics of Sediment Transport, Chelsea, Michigan, U.S.A.: Book
conferindo maior estabilidade ao revestimento. Crafters, Inc., 1984.

9. CONCLUSÕES Fernando Ribas Terabe


Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal do
A implantação das pistas experimentais no modelo foi baseada em Paraná (1992) e mestre em Recursos Hídricos e Ambiental
observações das pistas implantadas no protótipo. A superfície do leito pela UFPR (2003). Atua há 20 anos no Centro de Hidráulica
formado no protótipo apresenta um aspecto bastante homogêneo, e Hidrologia Prof. Parigot de Souza CEHPAR (LACTEC/
composto pela mistura de blocos de todos os diâmetros da curva UFPR/COPEL) na execução e coordenação de estudos
hidráulicos em modelo físico reduzido de usinas hidrelétricas.
granulométrica (Figura 4).
Desenvolveu estudos em modelos reduzidos para 16 UHEs,
Nos dois ensaios realizados a quantidade de blocos removidos
sendo as obras mais relevantes: Belo Monte, Machadinho, Dona Francisca, Barra
das pistas experimentais no modelo foi pequena (ensaio de 80
Grande, Campos Novos, Itapebi, Colider, Sinop, Baixo Iguaçu (Brasil), Palomino
horas: 7,16 g; ensaio de 40 horas: 1,66 g), confirmando a estabilidade (República Dominicana), Paute Mazar (Equador), Ituango (Colômbia).
do enrocamento no fundo do canal, considerando que a pista
experimental implantada no modelo tem aproximadamente 472 kg de Fernanda Hiromi Scheffer Yamakawa
material. Foi constatado que a grande maioria dos blocos removidos Engenheira Civil formada pela Universidade Federal do
Paraná (2009) e mestre em Engenharia de Recursos Hídricos
das pistas experimentais apresentavam diâmetros inferiores a 0,05 m
e Ambiental pela UFPR (2015). Atua como pesquisadora no
(dimensão de protótipo), estando em acordo com a capacidade de
Laboratório de Hidráulica do CEHPAR (Institutos Lactec),
transporte do escoamento estimada a partir dos perfis verticais de com experiência na área de modelos físicos reduzidos.
velocidades do escoamento. Embora tenha ocorrido pouco transporte Participou dos estudos dos aproveitamentos hidrelétricos
de blocos para jusante da pista experimental, se observou que ao final de Belo Monte, Baixo Iguaçu e Colider e integra equipes de
dos dois ensaios que havia blocos com diâmetros variando entre 0,07 projetos de pesquisa e desenvolvimento nesse campo.
m a 0,20 m (dimensão de protótipo) deslocados sobre a superfície do
fundo do canal. Durante os ensaios se verificou que estes blocos, após José Junji Ota
Possui graduação em Engenharia Eletrônica pela
inicialmente deslocados, permaneceram parados durante vários dias
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (1981),
de ensaio e raramente foi possível verificar uma nova movimentação
graduação em Engenharia Civil pela Universidade
dos mesmos. Federal do Paraná (1975), mestrado em Engenharia Civil
O estudo foi realizado em um modelo reduzido distorcido pela Universidade de Kanazawa (1983) e doutorado em
(escoamento com velocidade reduzida, conforme critério de Froude, Engenharia - Newcastle Upon Tyne (1999). Professor
porém, sem a reprodução da profundidade). Entretanto, foi tomado o adjunto da UFPR e consultor no Laboratório de Hidráulica
cuidado de garantir que a tensão tangencial no leito fosse 52% maior, do CEHPAR (Institutos Lactec), onde atua há 40 anos desenvolvendo e coordenando

verificando a estabilidade do enrocamento com segurança. estudos sobre obras hidráulicas, transporte de sedimentos, modelos físicos reduzidos
e modelos matemáticos.

Ingrid Illich Muller


10. PALAVRAS-CHAVE Engenheira Civil com mestrado e doutorado em Recursos
Hídricos (UFPR). Atuou durante 30 anos no CEHPAR
Canal de derivação, estabilidade de enrocamento, UHE Belo Monte (LACTEC/UFPR/COPEL) nas áreas de Recursos Hídricos,
Hidráulica e Meio Ambiente, onde desenvolveu e coordenou
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS estudos para usinas hidrelétricas.
Atua na área de Hidrologia de Operação da COPEL. Tem
produção técnica e científica relevante, com artigos publicados
[1] TERABE, F. R., YAMAKAWA, F. S., OVELAR, C. S. Projeto HL-178 – Estudos em revistas nacionais e internacionais. Ex-presidente da Associação Brasileira de
Hidráulicos em Modelo Reduzido Parcial do Canal de Derivação da Usina Recursos Hídricos, membro dos Conselhos Nacional e Estadual de Recursos Hídricos
Hidrelétrica Belo Monte. Relatório Nº02 – Estudo do Revestimento do Fundo em e presidente do Comitê do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira/PR.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 85


HIDRÁULICA E VERTEDORES

REVISÃO DE CONCEITOS PARA


PROJETOS DE VERTEDOUROS
DE BAIXA QUEDA COM ELEVADO
GRAU DE SUBMERGÊNCIA –
APLICAÇÃO AO VERTEDOURO
DE BELO MONTE
Paulo Henrique Cabral DETTMER | Engenheiro Civil, M.Sc – Institutos Lactec – CEHPAR
José Junji OTA | Engenheiro Civil, D.Sc. – Institutos Lactec – CEHPAR – UFPR
Fernando Ribas TERABE | Engenheiro Civil, M.Sc. – Institutos Lactec – CEHPAR
Ingrid Illich MULLER | Engenheira Civil, D.Sc. – Companhia Paranaense de Energia – COPEL

RESUMO ABSTRACT
O vertedouro da UHE Belo Monte está sujeito a um elevado grau de The spillway of Belo Monte Hydroelectric Power Plant is subjected
afogamento por jusante que faz com que o seu funcionamento seja mais to a high degree of downstream submergence that makes it complex
complexo em relação aos vertedouros livres a jusante. Este trabalho mostra compared to free spillways. This work focus on an important concept
um conceito importante a respeito do formato da ogiva do vertedouro: o regarding the spillway crest shape: the conventional nappe-shaped
perfil convencional baseado no jato inferior efluente de vertedouro de lâmina profile based on the lower surface of the nappe from fully aerated
delgada não é apropriado para vertedouros com elevado grau de afogamento. sharp-crested weir is not suitable for spillways with high degree of
Um perfil não convencional pode conduzir à melhora do escoamento e submergence. An unconventional profile can lead to the improvement
aumentar a capacidade de descarga do vertedouro. Outra questão abordada of the flow and to the increase of the discharge capacity of the spillway.
neste artigo é o efeito do afogamento sobre a operação do vertedouro com Another issue addressed in this article is the downstream submergence
comportas parcialmente abertas. effect on the partially opened gate operation of the spillway.

86 WWW.CBDB.ORG.BR
1. INTRODUÇÃO (1)

O
funcionamento dos vertedouros afogados por jusante é Estudos detalhados do U.S. Bureau of Reclamation [1] resultaram
mais complexo que os vertedouros comuns (jato livre). O na equação 1, na qual o expoente n e o coeficiente k são funções
afogamento por jusante pode ter grande influência em sua da velocidade de aproximação do Vertedouro e da inclinação do
capacidade de descarga, sendo apropriado o uso de modelo reduzido paramento de montante do Vertedouro.
para confirmar a capacidade do vertedouro. Nesse caso, a utilização A vazão Q (m³/s) liberada pela abertura total de um vertedouro
de um perfil de soleira vertente convencional pode não ser o mais é dada pela equação 2:
apropriado para um vertedouro nessas condições.
(2)
Este trabalho apresenta um novo conceito para a definição do
perfil da soleira vertente de vertedouros afogados por jusante, cuja
aplicação ao Vertedouro de Belo Monte resultou em ganho na Onde C (m1/2/s) é o coeficiente de descarga, L (m) é a largura do
capacidade de descarga. vertedouro e H (m) é a carga de operação medida a partir da crista.
A capacidade de descarga para
operação com comportas parcialmente
abertas de Belo Monte também é mais
complexa, pois o afogamento por jusante
faz com que se possa ter diferentes
capacidades de descarga para uma mesma
abertura de comporta, sendo necessário
considerar o afogamento para se definir
a vazão liberada para uma determinada
situação de operação. Este trabalho
apresenta a metodologia de como foi
obtida a curva de descarga para operação
com abertura parcial das comportas,
levando em conta a influência do nível
de jusante no escoamento (afogamento). FIGURA 2 – Coeficiente de descarga de vertedouros livres

2. VERTEDOUROS – SOLEIRA O coeficiente de descarga varia com a altura relativa da soleira P/


HD, com a relação entre a carga de operação e a carga de erojeto
VERTENTE E CAPACIDADE DE (H/HD), e com a inclinação do paramento de montante (Figura 2).
DESCARGA Para um vertedouro que segue o perfil do jato livre, as pressões ao
longo da crista são levemente positivas. Para vazões superiores à carga
de projeto para qual se definiu a crista, as pressões são negativas, que
leva ao aumento da capacidade de descarga. Na definição do projeto
é comum adotar uma carga de projeto HD inferior à carga máxima
prevista. É comum encontrar projetos de vertedouros cuja soleira
é projetada com uma carga projeto HD da ordem de 75% da carga
máxima de operação, para obter ganho da capacidade de descarga [2].
No entanto, para estruturas com o nível do escoamento de jusante
acima da crista do Vertedouro esse efeito pode não ocorrer, pois o
aspecto do escoamento após a soleira não se assemelha ao jato livre
de vertedouros retangulares de borda delgada. Estudos realizados
FIGURA 1 – Forma da soleira do Vertedouro por RAJARATNAN e MURALIDHAR [3] mostraram que o perfil
A forma clássica de soleira de vertedouros é baseada no perfil de velocidades do escoamento afogado em vertedouros retangulares
de jato livre de vertedouros retangulares de parede delgada sem de parede delgada resultam em um escoamento dividido, com
contração lateral (Figura 1). perfil de velocidades bem definido, onde na parte superior está um

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 87


REVISÃO DE CONCEITOS PARA PROJETOS DE VERTEDOUROS DE BAIXA QUEDA COM ELEVADO GRAU DE SUBMERGÊNCIA – APLICAÇÃO AO VERTEDOURO DE BELO MONTE

escoamento principal com fluxo desenvolvido e na parte inferior


uma região de separação com formação de vórtices, como pode ser
visto na Figura 3. A comparação entre os perfis dos escoamentos
afogado e livre sugere que o perfil para um vertedouro afogado pode
ser mais suave, não fazendo sentido utilizar o perfil padrão.

FIGURA 5 – Redução da capacidade de descarga calculada pela Figura 4 versus redução da


FIGURA 3 – Perfil do escoamento afogado [3] capacidade determinada experimentalmente

Os efeitos do nível do canal a jusante na capacidade de descarga Na ocasião do estudo, o projeto do vertedouro requeria 20 vãos com
do vertedouro podem ser estimados pelo grau de submergência, 20 m de largura, crista na El. 76,00 m e nível máximo do reservatório
conforme apresentado na Figura 4 (segundo BRADLEY [4], e na EL. 97,50 m para a cheia de projeto (62.000 m³/s – H = 21,50 m).
posteriormente publicada no livro Design of Small Dams) [1]. Devido à complexidade em se definir a capacidade de descarga,
Um estudo com mais de 400 testes realizados pelo laboratório foram propostas seis alternativas de soleira para otimização da
do CEHPAR [5] mostrou que a redução da capacidade de descarga configuração da soleira no modelo reduzido, sendo todas do
dada pela Figura 4 apresenta bons resultados em termos médios, tipo padrão com pequenas diferenças de tamanho do paramento
porém com considerável dispersão entre a capacidade de descarga de montante e na posição do canal a jusante. Para uma rápida
calculada com base na Figura 4 e a obtida experimentalmente. A convergência dos estudos, o laboratório estudou os Perfis 1, 3 e 6
Figura 5 mostra a dispersão
dos pontos experimentais
que justifica a necessidade
de um estudo mais refinado
sobre o assunto.

3. ESTUDO
DE CASO –
APLICAÇÃO AO
VERTEDOURO
DA UHE BELO
MONTE
Os primeiros estudos so-
bre a capacidade de descarga
do Vertedouro de Belo Mon-
te foram conduzidos em um
modelo seccional do verte-
douro na escala geométrica
1:70, construído no labo-
ratório do CEHPAR, em
Curitiba [6]. FIGURA 4 – Redução da capacidade de descarga pela submergência e nível do canal a jusante

88 WWW.CBDB.ORG.BR
FIGURA 7 - Zona de separação com formação de vórtices a
jusante da crista - Perfil1

FIGURA 6 – Perfis de soleiras do Projeto Básico do Vertedouro da UHE Belo Monte

para a vazão de projeto.


Os testes em modelo reduzido revelaram que a capacidade de descarga
dos Perfis 1, 3 e 6 eram praticamente iguais para a cheia de projeto, N.A.R.
da ordem de 97,40 m (ver Tabela 1). Portanto, as modificações na altura do
paramento de montante e o nível do canal a jusante não influenciavam a
capacidade de descarga do Vertedouro.
Durante os ensaios foi verificado que o escoamento sob a ogiva com perfil
padrão (tipo Creager) não era eficiente, formando, logo após a crista, uma
zona de separação com formação de vórtices (ver Figura7). Esse padrão de Figura 8 - Redução significativa da zona de separação -
escoamento similar ao que ocorre em uma expansão brusca possui aspecto Perfil 3B (no alto) e 3C (abaixo)
semelhante ao escoamento sobre um vertedouro de borda delgada afogado
por jusante visto por RAJARATNAM e MURALIDHAR [3].
Baseado no escoamento observado para os Perfis 1, 3 e 6, o CEHPAR Os resultados mostram que as alterações no
propôs o estudo de dois perfis não convencionais de formato mais suave e paramento de montante e no nível do canal a jusante
hidrodinâmico (conforme indicado pelas linhas tracejadas da Figura 6). Um não modificaram a capacidade de descarga de forma
composto por uma contracurva com raio de 130 m (Perfil 3B) e outro com significativa. No entanto, a mudança do perfil da
um trecho reto (Perfil 3C), ambos ligando a crista ao canal de restituição a soleira vertente resultou em ganho significativo na
jusante [6]. capacidade de descarga – entre 30 a 40 cm no nível
Os testes realizados mostraram que os Perfis 3B e 3C eliminam a expansão de água no reservatório. Os resultados obtidos no
brusca que ocorre logo após a soleira, reduzindo as perdas no escoamento e modelo levaram o Consórcio Projetista a adotar
aumentando a capacidade de descarga (Figura 8). Os perfis estudados reduziram o Perfil 3B para o Projeto Básico consolidado do
o N.A.R. em aproximadamente 0,35 m para a cheia de 62.000 m³/s. Ou seja, os Vertedouro da UHE Belo Monte. Apesar do Perfil
Perfis 3B e 3C se mostraram mais eficientes que os perfis convencionais do tipo 3C apresentar a melhor capacidade de descarga,
padrão. A Tabela 1 compara os resultados obtidos com os perfis convencionais e foi adotado o Perfil 3B como solução para a obra
os propostos pelo laboratório para a cheia de projeto. devido ao menor consumo de concreto.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 89


REVISÃO DE CONCEITOS PARA PROJETOS DE VERTEDOUROS DE BAIXA QUEDA COM ELEVADO GRAU DE SUBMERGÊNCIA – APLICAÇÃO AO VERTEDOURO DE BELO MONTE

Posição  do   (4)


Carga  de   Grau  de   Coeficiente  
Carga   piso  a  
Projeto   N.A.R.   N.A.J.   submergência   de  Descarga    
Alt.   Perfil  da  Soleira   (H)   jusante  
(HD)   (hd/H)   (C)   (5)
(hd+D)/H  
(m)   (m)   El.  (m)   El.  (m)   -­‐   -­‐    (m1/2/s)  
1,85 (6)
1   Y  =  -­‐0,0476  x   15,90   21,41   97,41   95,45   0,09   5,02   1,565  
1,85
3A   Y  =  -­‐0,0476  x   15,90   21,43   97,43   95,45   0,09   4,87   1,562  
1,85
6   Y  =  -­‐0,0476  x   15,90   21,41   97,41   95,45   0,09   5,02   1,565  
3B   CURVA  R=  130  m   -­‐   21,10   97,10   95,44   0,08   4,95   1,599   Onde C é o coeficiente de descarga do
3C   RETO   -­‐   21,03   97,03   95,42   0,08   4,97   1,607  
orifício e .
TABELA 1 - Comparação dos níveis de água no reservatório para os perfis estudados

líquida das comportas (m). A equação 3 é obtida pela modificação da


equação padrão do orifício conforme descrito a seguir:
4. OPERAÇÃO COM COMPORTAS Para obter a relação de Cs x hs/G0, foram realizados ensaios em
PARCIALMENTE ABERTAS modelo reduzido. Nestes ensaios foi determinada a curva-chave
300m a jusante da crista vertedouro (local onde o escoamento possui
O elevado grau de submergência do Vertedouro de Belo Monte pouca energia residual). Essa curva-chave a jusante é importante
faz com que o orifício formado entre a soleira e a borda inferior porque dela se obtém a relação de Q x hs. Adicionalmente foi obtido
da comporta opere afogado para a maioria das configurações
operacionais. Isso faz com que para uma dada abertura das (7)

comportas seja viável obter vazões diferentes, pois a capacidade


de descarga depende dos níveis de água a montante e a jusante do
Vertedouro, e do grau de submergência da crista (que depende da
vazão total efluente do Vertedouro).
Assim, foi adotada a metodologia sugerida no Hydraulic Design
Criteria-chart-320-8 [7], que sugere a equação 3 para calcular a vazão

(3)

para comportas parcialmente abertas de vertedouros de baixa


queda.
Onde Q é a vazão em m³/s, Cs é o coeficiente de descarga afogado
FIGURA 10 – Curva Cs x hs/G0 do Vertedouro da UHE Belo Monte
(função da relação entre a abertura da comporta e submergência da
crista), L é a soma da largura dos vãos abertos (m), hs é a diferença
de elevação entre a crista e o nível de jusante, g é a aceleração da o valor do coeficiente Cs para diversas condições de operação. Com
gravidade (9,81 m/s²) e h é a carga hidráulica (m) (desnível entre o os resultados desses ensaios foi obtida a relação de Cs em função de
hs/G0 (Equação 7), conforme curva ajustada
na Figura10.
Com as equações 3 e 7 é possível
determinar a vazão a ser descarregada por
uma determinada condição de abertura.
O procedimento de cálculo é feito através
de interações. Para uma determinada
abertura G0 varia-se a vazão até igualar o
FIGURA 9 – Escoamento com controle de comportas afogado por jusante
valor de Cs calculado pelas equações 3 e 7. A vazão que satisfaz
nível de água no reservatório e o nível do escoamento a jusante do esta condição corresponde à vazão liberada pela condição de
vertedouro), conforme ilustra a Figura 9. aberturas (G0) imposta no Vertedouro. Este método foi testado no
A equação 3 apresenta uma boa correlação dos dados experimentais modelo reduzido e foi eficiente na determinação da abertura das
quando Cs é plotado como função de (hs/G0), onde G0 é a abertura comportas para diversas condições de operação [8].

90 WWW.CBDB.ORG.BR
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES [6] DETTMER P.H.C.Estudos Hidráulicos em Modelo Reduzido da Usina Hidroelétrica
Belo Monte. Relatório Técnico – Modelo Seccional do Vertedouro, LACTEC / CEHPAR.
Curitiba, Brasil. HL-180 rel. 1, 2011.
Vertedouros de baixa queda com elevado grau de submergência [7] U.S. ARMY CORPS OF ENGINEERS. Hydraulic Design Criteria. Chart 320-8.1987.
- (hd/H)<0,2, como o da UHE Belo Monte, têm o seu perfil da [8] DETTMER P.H.C.Estudos Hidráulicos em Modelo Reduzido da Usina Hidroelétrica
soleira vertente projetado com base no perfil inferior de um jato Belo Monte. Relatório Técnico – Estudo do Vertedouro, LACTEC / CEHPAR. Curitiba,
descarregando livremente na atmosfera. Os ensaios em modelo Brasil. HL-174 rel. 8B.2015.
reduzido evidenciaram que esse tipo de perfil não é eficiente
para vertedouros quando o afogamento é muito elevado, devido Paulo Henrique Cabral Dettmer
à formação de uma zona de separação com vórtices que levam Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal do Paraná
à dissipação de energia e consequente redução da capacidade de (2007) e mestre em Recursos Hídricos e Ambiental pela UFPR
descarga do vertedouro. (2013). Atua há nove anos no Centro de Hidráulica e Hidrologia
Os perfis não convencionais testados no laboratório (Perfis 3B e Prof. Parigot de Souza CEHPAR (LACTEC/UFPR/COPEL) na
3C) praticamente eliminaram a zona de separação a jusante da crista, Execução e Coordenação de estudos hidráulicos em modelo
físico reduzidos de usinas hidrelétricas. Desenvolveu estudos
aumentando a capacidade de descarga no caso do Vertedouro de
em modelos reduzido para oito UHEs, sendo as obras mais
Belo Monte. O Perfil 3B foi adotado para o Projeto Executivo por ser
relevantes: Mauá, Cambambe (Angola), Gibe III (Etiópia), Belo Monte, Baixo Iguaçu
mais econômico em termos de volume de concreto.
(Brasil), Palomino (República Dominicana), Ituango (Colômbia) e Itaocara I.
É recomendável que seja feita uma análise especial para
vertedouros com elevado grau de submergência ((hd/H)<0,2).
José Junji Ota
Os resultados obtidos para o Vertedouro da UHE Belo Monte
Possui graduação em Engenharia Eletrônica pela Universidade
evidenciam que um perfil não convencional pode ser mais eficiente Tecnológica Federal do Paraná (1981), graduação em
para se descarregar a cheia de projeto. Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná
Aplicando os resultados obtidos em modelo reduzido à (1975), mestrado em Engenharia Civil pela Universidade de
metodologia sugerida no chart 320 8 do Hydraulic Design Criteria Kanazawa (1983) e doutorado em Engenharia - Newcastle
foi possível obter uma curva de descarga para operação com abertura Upon Tyne (1999). Professor adjunto da UFPR e consultor no

parcial das comportas para o Vertedouro de Belo Monte. Essa curva Laboratório de Hidráulica do CEHPAR (Institutos Lactec),
onde atua há 40 anos desenvolvendo e coordenando estudos sobre obras hidráulicas,
pode ser utilizada para se quantificar a vazão liberada pelo vertedouro
transporte de sedimentos, modelos físicos reduzidos e modelos matemáticos.
cobrindo diversas situações de funcionamento das comportas. Essa
metodologia é bastante prática e eficiente. Fernando Ribas Terabe
Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal do
6. PALAVRAS-CHAVE Paraná (1992) e mestre em Recursos Hídricos e Ambiental
pela UFPR (2003). Atua há 20 anos no Centro de Hidráulica
e Hidrologia Prof. Parigot de Souza CEHPAR (LACTEC/
Perfil do vertedouro, afogamento por jusante, capacidade de
UFPR/COPEL) na execução e coordenação de estudos
descarga, curva de descarga, UHE Belo Monte hidráulicos em modelo físico reduzido de usinas hidrelétricas.
Desenvolveu estudos em modelos reduzidos para 16 UHEs,
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS sendo as obras mais relevantes: Belo Monte, Machadinho, Dona Francisca, Barra
Grande, Campos Novos, Itapebi, Colider, Sinop, Baixo Iguaçu (Brasil), Palomino
(República Dominicana), Paute Mazar (Equador), Ituango (Colômbia).
[1] U. S. BUREAU OF RECLAMATION. Design of Small Dams. 3 ed. Washington D.C.:
U.S. Government Printing Office, 1987.
Ingrid Illich Muller
[2] OTA, J. J. Considerações sobre a capacidade de descarga e pressões na região da
Engenheira Civil com mestrado e doutorado em Recursos
crista de vertedouros de encosta. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE
Hídricos (UFPR). Atuou durante 30 anos no CEHPAR
HIDRÁULICA. São Paulo: ABRH AIPH. 1986. p. 142-148.
(LACTEC/UFPR/COPEL) nas áreas de Recursos Hídricos,
[3] RAJARATNAM, N.; MURALIDHAR, D.Flow below deeply submerged rectangular Hidráulica e Meio Ambiente, onde desenvolveu e coordenou
weirs. Journal of hydraulic research, Delft, v. 7, 355-374, 1969. estudos para usinas hidrelétricas.
[4] BRADLEY, J. N.Discharge coefficient for irregular overflow spillways, U.S. Bureau of Atua na área de Hidrologia de Operação da COPEL. Tem
Reclamation. Denver, 1952. produção técnica e científica relevante, com artigos publicados
[5] DETTMER P.H.C.; FABIANI A. L. T.; OTA J.J.; ARAUJO A. L.; FRANCO H.C.B. em revistas nacionais e internacionais. Ex-presidente da Associação Brasileira de
Estudo da capacidade de descarga de vertedouros de baixa queda com elevado grau de Recursos Hídricos, membro dos Conselhos Nacional e Estadual de Recursos Hídricos
submergência. VII Citenel. Rio de Janeiro, Brasil, 2013. e presidente do Comitê do Alto Iguaçu e Afluentes do Alto Ribeira/PR.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 91


HIDRÁULICA E VERTEDORES

ESTUDOS HIDRÁULICOS DE
ALTERNATIVAS DE DEFLETORES
DE GABIÕES PARA O CANAL DE
TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES DA
UHE BELO MONTE
Renata Ribeiro de BRITO | Engenheira Civil – Institutos Lactec – CEHPAR
Fernando Ribas TERABE | Engenheiro Civil, M.Sc. – Institutos Lactec – CEHPAR
José Junji OTA | Engenheiro Civil, D.Sc. – Institutos Lactec – CEHPAR – UFPR
Carlos Olavo Slota OVELAR | Engenheiro Civil – Institutos Lactec – CEHPAR

RESUMO ABSTRACT
O Canal de Transposição de Peixes da UHE Belo Monte, de 1,2 km de The 1,2 km long Fish Transfer Channel of Belo Monte
extensão, tem seção trapezoidal. A série de tanques e passagens de peixes foi Hydroelectric Power Plant has trapezoidal section and the
concebida por série de defletores em gabião espaçados de 14,2 m e dispostos series of tanks and fish passages was made by a series of 14,2
perpendicularmente ao canal formando brechas (ranhuras verticais). A primeira m spaced gabion baffles arranged perpendicular to the channel.
alternativa estudada, com arranjo convencional, apresentou grandes oscilações The first alternative, a conventional arrangement, showed large
periódicas, tais como as que ocorrem em esteiras de Von Karman, causando periodic oscillations such as that occur in Karman vortex trails,
grandes instabilidades do escoamento e provocando o galgamento dos espigões. causing large instabilities of flow, with overtopping of the baffles.
O presente estudo envolveu oito alternativas e chegou, experimentalmente, a This study involved 8 alternatives, reaching experimentally to a
uma solução com o escoamento estável e com a satisfação dos requisitos básicos solution with stable flow and the satisfaction of basic requirements
de profundidades e de velocidades ao longo do Canal de Transposição. O of depths and velocities along the transposition channel. The flow
comportamento do escoamento para a solução adotada é mostrado em detalhe. behavior for the adopted solution is shownin detail.

92 WWW.CBDB.ORG.BR
1. INTRODUÇÃO 2. ESTUDOS DE ALTERNATIVAS

E
m projeto de uma usina hidrelétrica estão as suas diretrizes a Foram ensaiadas oito configurações distintas dos defletores
serem implementadas para mitigação do impacto ambiental. posicionados ao longo do canal. Os defletores foram
Uma delas é a implantação de um Sistema de Transposição confeccionados em módulos soltos de argamassa de cimento
de Peixes, visando a preservação das espécies locais. e areia (blocos impermeáveis) para facilitar o estudo de
Na UHE Belo Monte essa estrutura é constituída por um canal alternativas e possibilitar a variação da abertura da passagem
de concreto com declividade do fundo de 1,40845% e 1,2 km de no sistema para garantir a ocorrência da profundidade média
extensão. Ele é composto por uma série de tanques separados por requerida. A Tabela 1 apresenta uma breve descrição das
defletores transversais construídos em gabião, espaçados 14,20 m, alternativas estudadas. As alternativas 3 a 8 têm configuração
que possuem uma abertura para a passagem do escoamento e dos simétrica da abertura da passagem entre os tanques em relação
peixes (brecha - ranhura vertical). O canal possui seção trapezoidal ao eixo longitudinal do canal.
de 6 m de base e paredes com a inclinação de 1,8H:1,0V. As Os ensaios foram realizados para a vazão de 12 m³/s, vazão
passagens devem proporcionar ao escoamento desníveis de 0,2 m de dimensionamento do Sistema de Transposição de Peixes, e as
entre dois tanques sucessivos. alternativas dos defletores foram avaliadas através da observação
Este artigo apresenta os estudos hidráulicos de alternativas visual das condições gerais de escoamento, para obter uma
de defletores em gabião para garantir um escoamento estável e configuração em que a amplitude das oscilações de níveis de água e
com a satisfação dos requisitos básicos à passagem dos peixes. as circulações no interior dos tanques resultassem menos intensas.
O estudo foi desenvolvido em um modelo físico construído Entre as opções estudadas, a Alternativa 8 foi a que resultou
na escala geométrica 1:10, que reproduz um trecho de 187 m em escoamento estável (circulações menos intensas e menor
de comprimento de canal, suficiente para a reprodução de 10 amplitude de oscilação de nível de água). Ela foi selecionada para
tanques de 14,20 m de comprimento. o ensaio de caracterização do escoamento. Para esta alternativa,

Descrição Comentário Arranjo

Configuração inicial Defletor


Apresentou grande amplitude de
de Projeto do canal
oscilação do nível de água no
constituído por
interior dos tanques, cujas ondas
1 defletores com
galgavam os defletores de forma
abertura de 2m em
intermitente, e ocorrência de
lados alternados dos
circulações intensas Tanque Tanque
tanques.

Defletor
Apresentou melhoras nas
Implantação de
condições de escoamento com a
defletores
diminuição na intensidade das Tanque Tanque
2 intermediários na
circulações no interior dos
configuração da
tanques e na amplitude das
Alternativa 1
oscilações de nível de água.

As condições de escoamento Defletor


foram semelhantes ao
observado na Alternativa 1, com
Alinhamentos das
grandes oscilações de nível de
aberturas de 2m dos Tanque Tanque
3 água e circulações intensas no
defletores da
interior dos tanques. Também
Alternativa 1
resultou em galgamento
intermitente dos defletores pelas
ondas do escoamento.

Resultou em pequena redução Defletor


REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 93
Implantação de da oscilação do nível de água do
foram semelhantes ao
observado na Alternativa 1, com
Alinhamentos das
grandes oscilações de nível de
aberturas de 2m dos Tanque Tanque
3 água e circulações intensas no
defletores da
interior dos tanques. Também
Alternativa
ESTUDOS HIDRÁULICOS 1
DE ALTERNATIVAS DE DEFLETORES DE GABIÕES PARA O CANAL DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES DA UHE BELO MONTE
resultou em galgamento
intermitente dos defletores pelas
ondas do escoamento.

Resultou em pequena redução Defletor


Implantação de da oscilação do nível de água do
soleira semicirclular escoamento, entretanto causou Tanque
com raio de 50 cm na aumento do nível de água no Tanque
4
abertura dos interior dos tanques causando
defletores da galgamento muito frequente dos
Alternativa 3 defletores pelas ondas do
escoamento.

Redução significativa das


circulações no interior dos
Implantação de tanques. No entanto, do mesmo
defletores modo que observado no teste
Tanque
5 intermediários na com a Alternativa 4, os níveis de
configuração da água do escoamento no interior
Alternativa 4 dos tanques resultaram altos
causando galgamento
intermitente dos defletores.

O galgamento dos defletores


observado na Alternativa 5 Defletor
deixou de ocorrer. Da mesma
forma que o observado nos
Remoção da soleira ensaios com as Alternativas 2 e
6 semicircular da 5 (com defletores Tanque Tanque
Alternativa 5 intermediários), verificou-se a
redução na amplitude das
oscilações do nível de água e na
intensidade das circulações no
interior dos tanques.

A divisão do escoamento
melhorou a dissipação da Defletor
Divisão da abertura
energia no interior dos tanques,
central da Alternativa
resultando em oscilações do
3 através da
nível de água com menor
implantação de Tanque Tanque
7 amplitude e circulações menos
gabião central e
intensas. As condições gerais de
soleira de seção
escoamento observadas ao
semicircular com raio
longo do canal resultaram mais
de 50 cm
adequadas que nas outras
configurações estudadas.

Resultou no abaixamento do Defletor


nível de água no interior dos
tanques. As oscilações do nível
Corresponde a
de água do escoamento e as Tanque
8 Alternativa 7 com a Tanque
circulações no interior dos
remoção das soleiras
tanques resultaram semelhantes
ao observado no teste com a
Alternativa 7.

TABELA 1 – Alternativas de configurações dos defletores

foram ainda efetuados testes para a determinação das aberturas largura (configuração inicial de projeto). O valor da profundidade
dos defletores para obter a profundidade média do escoamento média é um dos principais requisitos definido pelos especialistas
ao longo do canal igual a 2,50 m. Isto resultou em duas aberturas em função da biomassa e porte de peixes esperado no Sistema de
de 0,85m cada uma, ao invés de uma única abertura de 2,0m de Transposição de Peixes da UHE Belo Monte. As velocidades do

94 WWW.CBDB.ORG.BR
escoamento foram medidas a partir dos ensaios efetuados para a
caracterização do escoamento da alternativa selecionada (item 3)
e resultaram em valores médios de 2,21 m/s a 2,43 m/s.

3. CARACTERIZAÇÃO DO
ESCOAMENTO
FIGURA 1 – Trecho do Canal de FIGURA 2 – Trecho do Canal de
Transposição de Peixes - modelo Transposição de Peixes - modelo
A caracterização do escoamento para o Canal do Sistema reduzido - defletores impermeáveis reduzido - defletores permeáveis
de Transposição de peixes foi efetuada utilizando defletores
com módulos permeáveis (gabião) e defletores com módulos
impermeáveis, levando em conta a hipótese de futura obstrução
do gabião por material flutuante ou em suspensão. Os defletores
impermeáveis foram confeccionados em argamassa de cimento
e areia e os defletores permeáveis foram executados em tela
de malha quadrada de abertura igual a 15 mm (equivalente
a 15 cm no protótipo) e preenchidos com pedra britada com
diâmetro variando entre 12,7 mm e 19,1 mm (diâmetro médio
de 15,9 mm equivalente a 15,9 cm no protótipo).
As Figuras 1 e 2 ilustram trecho do canal, em modelo reduzido,
FIGURA 3 – Trecho do Canal de Transposição de Peixes - protótipo
com defletores impermeáveis e permeáveis, respectivamente. A
Figura 3 mostra um trecho do Canal de Transposição de Peixes pelo gabião. Dessa forma, para a configuração permeável
em protótipo. (configuração de projeto), se optou por testar para uma vazão
A Tabela 2 apresenta as profundidades do escoamento para maior, de 12,5 m³/s, buscando as condições apropriadas para
a vazão de 12 m³/s medidas a montante (M) e a jusante (J) de o início da operação do Sistema de Transposição de Peixes.
três tanques típicos. A permeabilidade do maciço deve mudar com o tempo e as
As condições de escoamento no interior dos tanques condições de escoamento almejadas no interior dos tanques
consideradas apropriadas à passagem dos peixes, para a vazão de devem ocorrer para a vazão de projeto de 12 m³/s. A Tabela 3
projeto (12 m³/s), foram definidas pelos especialistas ambientais apresenta as profundidades para a condição de 12,5 m³/s.
como profundidade média de 2,50 m, carga hidráulica entre As características gerais do escoamento no interior dos tanques
tanques de Δh = 0,20 m (que deve conduzir a velocidade em resultaram semelhantes independente da configuração dos defletores
torno de = 2,0 m/s), profundidades a montante e a jusante dos (impermeáveis ou permeáveis). Há ocorrência do fluxo principal
obstáculos de 2,60 m e 2,40 m, respectivamente. no meio do canal com uma circulação anti-horária junto à margem
Em termos práticos, a profundidade desejada foi atingida esquerda e uma circulação horária junto à margem direita, conforme
com a configuração impermeável (2,48 m). Porém, com a pode ser visto nas Figuras 4 e 5. Já as amplitudes das oscilações
configuração permeável, resultou em 2,44 m, como pode ser resultaram menores nos ensaios com defletores permeáveis.
observado na Tabela 2. Esse fato ocorreu devido à percolação Quanto às velocidades nas aberturas dos defletores (brechas)

  Defletor  Impermeável   Defletor  Permeável  


Profundidades  do  Escoamento   Profundidades  do  Escoamento  
  de  
Posição   Amplitude  da   Amplitude  da  
Máx  (m)   Mín  (m)   Média  (m)   Máx  (m)   Mín  (m)   Média  (m)  
Medição   Oscilação  (m)   Oscilação  (m)  

PL-­‐3M   2,71   2,44   2,58   0,27   2,63   2,45   2,54   0,17  


PL-­‐3J   2,50   2,27   2,38   0,23   2,38   2,31   2,35   0,07  
PL-­‐5M   2,76   2,41   2,58   0,35   2,62   2,47   2,54   0,15  
Tabela 2 –
PL-­‐5J   2,48   2,26   2,37   0,22   2,38   2,32   2,35   0,06  
Profundidades do
PL-­‐9M   2,73   2,46   2,59   0,28   2,63   2,45   2,54   0,18  
escoamento ao longo
PL-­‐9J   2,48   2,29   2,38   0,19   2,38   2,31   2,34   0,07   do canal – Q=12 m³/s
Ponta Li: ponta linimétrica
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 95
ESTUDOS HIDRÁULICOS DE ALTERNATIVAS DE DEFLETORES DE GABIÕES PARA O CANAL DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES DA UHE BELO MONTE

resultaram em valores médios variáveis de 2,21 m/s a 2,43 m/s e foram


considerados satisfatórios pelos especialistas envolvidos no projeto.

  Defletor  Permeável  
Profundidades  do  Escoamento  
  de  
Posição   Amplitude  da  
Máx  (m)   Mín  (m)   Média  (m)  
Medição   Oscilação  (m)  

PL-­‐3M   2,69   2,51   2,60   0,18  


PL-­‐3J   2,45   2,38   2,42   0,07  
PL-­‐5M   2,73   2,52   2,63   0,21  
PL-­‐5J   2,45   2,39   2,42   0,06  
FIGURA 4 – Defletores impermeáveis – condições gerais de escoamento
PL-­‐9M   2,70   2,51   2,61   0,19  
PL-­‐9J   2,44   2,39   2,41   0,06  

TABELA 3 – Profundidades do escoamento ao longo do canal – Q=12,5 m³/s

As medições de parâmetros hidráulicos, tais como


profundidades, oscilação de nível de água, magnitude e direção
de velocidades “instantâneas”, foram efetuadas para um tanque
típico e são apresentadas nas Tabelas 4 a 6. As posições medidas
estão mostradas na Figura 6.
As velocidades do escoamento no interior do tanque típico,
foram medidas com ADV (medidor acústico Sontek) com
frequência de 25 leituras por segundo (durante 300 s) e revelaram
a ocorrência de valores médios de até 2,45 m/s e máximo
FIGURA 5 – Defletores permeáveis – condições gerais de escoamento
instantâneo de 3,33 m/s na região central do canal.

4. CONCLUSÕES apresentou grandes oscilações periódicas causando instabilidades


no escoamento, não sendo possível a sua correção através de
O estudo revelou que o conceito inicialmente proposto para pequenos ajustes. Os ensaios em modelo reduzido permitiram
o Sistema de Transposição de Peixes (Alternativa 1), com uma a definição de uma alternativa com duas passagens (brechas)
abertura simples nos defletores em lados alternados do tanque, de 0,85 m de largura, que conduz a um escoamento estável com

(1) (2)
  Defletores  Impermeáveis   Defletores  Permeáveis  
Profundidades  do  Escoamento   Profundidades  do  Escoamento  
Posição   Máxima   Mínima   Média   Oscilação   Máxima   Mínima   Média   Oscilação  
(m)   (m)   (m)   (m)   (m)   (m)   (m)   (m)  
A2   2,45   2,27   2,36   0,18   2,51   2,35   2,43   0,17  
B1   1,28   1,02   1,15   0,26   1,31   1,20   1,25   0,11  
B2   2,46   2,29   2,37   0,17   2,52   2,42   2,47   0,10  
B3   2,48   2,31   2,40   0,17   2,55   2,38   2,46   0,16  
C1   1,35   1,09   1,22   0,26   1,36   1,24   1,30   0,12  
C3   2,50   2,26   2,38   0,24   2,54   2,41   2,47   0,13  
C4   2,49   2,37   2,43   0,12   2,54   2,43   2,48   0,11   TABELA 4 – Tanque
C6   2,53   2,27   2,40   0,26   2,56   2,40   2,48   0,16   típico - profundidades
D3   2,57   2,42   2,50   0,15   2,59   2,51   2,55   0,08   do escoamento
D4   2,60   2,38   2,49   0,22   2,59   2,47   2,53   0,13  
Notas:
D5   1,47   1,17   1,32   0,30   1,41   1,29   1,35   0,12  
(1) Vazão ensaiada: 12 m³/s
E1   2,61   2,42   2,52   0,19   2,64   2,52   2,58   0,11   (2) Vazão ensaiada: 12,5 m³/s

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os testes de caracterização, foram utilizados também defletores
em forma de gabiões. As características gerais do escoamento
no interior dos tanques resultaram semelhantes, independente
da configuração dos defletores (impermeáveis ou permeáveis)
com fluxo principal no meio do canal e circulação anti-horária
junto à margem esquerda e horária junto à margem direita. Já as
amplitudes das oscilações resultaram menores nos ensaios com
defletores permeáveis. O campo de velocidades do escoamento no
interior do tanque típico, medidas com ADV (medidor acústico
Sontek), é mostrado em detalhes neste artigo e poderá ser de
interesse para futuros projetos.

5. PALAVRAS-CHAVE
FIGURA 6 – Tanque típico - posições de medições Sistema de Transposição de Peixes, UHE Belo Monte, modelo
reduzido.
profundidade em torno de 2,45 m e velocidades médias na brecha
de 2,21 m/s a 2,43 m/s com a satisfação dos requisitos básicos de 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
profundidades e de velocidades ao longo do canal. Para facilitar
o estudo de alternativas e possibilitar a variação da abertura da [1] TERABE, F.R., OVELAR, C.O.S. (2013) “Projeto HL-183 – Estudos Hidráulicos
passagem entre os tanques, foram utilizados defletores em módulos em Modelo Reduzido do Canal de Transposição de Peixes da UHE Belo Monte.
soltos e impermeáveis de argamassa, de cimento e de areia. Para Relatório N.o 02 –Estudos de Alternativas Geométricas e Otimização”,LACTEC
CEHPAR, Curitiba, Brasil.
[2] TERABE, F.R., OVELAR, C.O.S. (2013)
Direção X Direção Y Direção Z
“Projeto HL-183 – Estudos Hidráulicos em
Posição Máxima Mínima Média Moda Máxima Mínima Média Moda Máxima Mínima Média Moda
(m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) Modelo Reduzido do Canal de Transposição
A2 3,23 -0,05 2,04 2,26 1,63 -0,70 0,51 0,38 0,67 -1,08 -0,19 -0,37
de Peixes da UHE Belo Monte. Relatório N.o
B1 0,13 -1,51 -0,71 -0,57 0,53 -1,00 -0,29 -0,28 0,33 -0,51 -0,07 -0,12
B2 0,55 -1,07 -0,22 -0,16 0,63 -1,19 -0,23 -0,14 0,46 -0,61 -0,07 -0,07 03 – Caracterização das Condições Gerais de
Proximo à Superfície

B3 2,71 -0,20 1,46 1,66 1,82 -1,53 -0,07 -0,94 1,05 -0,97 -0,04 0,07 Escoamento – Configuração Final”,LACTEC
C1 0,39 -1,66 -0,72 -0,59 0,86 -0,80 -0,04 -0,14 0,72 -0,57 0,03 0,00
C3 2,65 -0,55 1,01 1,10 1,39 -1,32 0,08 0,37 1,28 -1,10 -0,04 -0,23
CEHPAR, Curitiba, Brasil.
C4 2,96 0,62 1,84 2,29 1,45 -1,24 0,07 0,01 0,74 -0,93 -0,06 -0,06
C6 1,38 -1,35 -0,18 0,02 1,24 -1,21 0,10 0,16 1,10 -0,92 -0,04 -0,12
D3 2,74 0,00 1,52 1,79 1,40 -1,29 0,07 -0,06 0,79 -0,92 -0,08 -0,03
D4 1,55 -0,89 0,13 0,17 1,13 -1,28 -0,06 0,19 1,20 -1,06 -0,07 -0,01
D5 0,71 -1,36 -0,37 -0,48 0,80 -1,00 -0,08 -0,06 0,75 -0,65 0,04 -0,04
E1 2,44 -0,58 0,92 0,89 1,40 -0,98 0,25 0,36 1,27 -1,05 -0,08 -0,24
A2 3,26 0,55 2,25 2,44 1,48 -0,83 0,35 0,32 0,69 -1,29 -0,22 -0,25
B2 0,97 -0,99 0,00 0,05 0,76 -1,08 -0,17 -0,05 0,53 -0,70 -0,10 -0,11
Meia Profundidade

B3 3,04 0,31 1,94 2,14 1,91 -1,84 -0,06 -0,73 1,09 -1,03 0,01 0,14
C3 2,83 -0,75 1,12 0,41 1,43 -1,09 0,10 0,26 1,17 -1,21 -0,06 -0,26
C4 3,33 0,89 2,10 2,03 1,53 -1,22 0,06 0,24 0,93 -1,00 -0,04 -0,05 Tabela 5 – Velocidades do escoamento
C6 1,84 -0,94 0,26 -0,19 1,31 -1,36 -0,08 0,00 1,08 -1,02 0,01 -0,14 no interior dotanque típico – vazão de
D3 2,91 0,51 1,83 2,05 1,29 -1,10 0,08 -0,28 0,76 -0,91 -0,04 -0,15
12 m³/s – defletores impermeáveis
D4 2,03 -0,86 0,42 0,39 0,98 -1,69 -0,24 -0,17 1,14 -1,23 0,01 0,02
E1 2,45 -0,28 1,07 1,31 1,63 -0,90 0,33 0,30 1,09 -1,15 -0,02 -0,03 Notas:
A2
- Direção X: direção do eixo longitudinal do canal
3,23 0,14 1,86 2,23 1,75 -1,03 0,41 0,57 0,66 -1,02 -0,05 0,05
B2
no sentido do fluxo (valores positivos);
1,10 -0,76 0,19 0,11 0,75 -0,94 -0,13 -0,23 0,37 -0,43 -0,05 -0,08
Próximo ao Fundo

B3
- Direção Y: direção transversal ao eixo longitudinal
2,93 0,33 1,71 1,85 1,75 -1,47 0,02 -0,55 0,77 -1,02 -0,08 0,00
C3 do canal no sentido da margem direita para a margem
3,01 -0,62 1,32 1,26 1,52 -0,97 0,14 0,19 0,70 -0,82 -0,04 -0,03
C4 esquerda do canal (valores positivos);
3,10 0,77 2,02 2,17 1,51 -1,11 0,07 0,01 0,58 -0,68 -0,05 0,00
C6 - Direção Z: direção vertical no sentido do fundo
2,24 -1,11 0,63 0,15 0,90 -1,50 -0,21 -0,14 0,64 -0,66 0,02 0,04
D3 2,93 0,48 1,79 1,59 1,51 -1,14 0,08 -0,11 0,50 -0,60 -0,03 -0,04
para superfície do escoamento (valores positivos);
D4 1,80 -1,27 0,33 0,09 0,89 -1,25 -0,20 -0,25 0,59 -0,60 0,02 0,07
- As posições A2, B1, B2, B3, C1, C3, C4, C6, D3,
E1 D4, D5 e E1 estão apresentadas na Figura 6.
2,16 -0,43 0,98 0,90 1,49 -0,80 0,34 0,27 0,60 -0,63 0,00 0,09  

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 97


ESTUDOS HIDRÁULICOS DE ALTERNATIVAS DE DEFLETORES DE GABIÕES PARA O CANAL DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES DA UHE BELO MONTE

Direção X Direção Y Direção Z


Posição Máxima Mínima Média Moda Máxima Mínima Média Moda Máxima Mínima Média Moda
(m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s) (m/s)
A2 3,22 1,57 2,45 2,55 1,01 -0,85 0,10 0,09 0,48 -0,94 -0,24 -0,18
B1 0,74 -1,07 -0,17 0,06 0,56 -0,84 -0,19 -0,14 0,41 -0,60 -0,11 -0,11
B2 0,79 -0,85 -0,02 0,20 0,39 -1,16 -0,35 -0,36 0,38 -0,55 -0,09 -0,06
Proximo à Superfície

B3 2,08 -1,38 0,32 0,16 2,25 -2,38 -0,01 -0,03 2,05 -1,41 0,36 0,45
C1 -0,06 -1,32 -0,73 -0,74 0,45 -0,64 -0,10 -0,12 0,34 -0,44 -0,03 0,02
C3 2,82 -0,39 1,21 0,87 1,08 -1,30 -0,10 0,06 0,87 -0,98 -0,03 -0,09
C4 3,23 0,45 1,88 1,71 1,48 -1,45 -0,06 -0,06 1,00 -0,93 0,09 0,25
C6 1,24 -0,93 0,06 0,08 0,91 -0,89 0,11 0,01 0,68 -0,81 -0,05 0,05
D3 2,84 0,61 1,73 1,78 1,07 -1,07 -0,04 0,01 0,77 -0,74 0,02 -0,05
D4 1,27 -0,93 0,14 -0,02 0,76 -1,14 -0,13 -0,05 0,95 -0,83 0,00 -0,10
D5 0,14 -1,27 -0,59 -0,55 0,59 -0,78 -0,14 -0,12 0,68 -0,50 0,08 0,01
E1 2,14 -0,31 1,06 1,22 1,19 -0,69 0,29 0,33 0,95 -0,88 0,01 0,09 Tabela 6 – Velocidades do
A2 3,26 0,70 2,12 2,37 1,19 -0,56 0,27 0,36 0,70 -0,91 -0,13 -0,18 escoamento no interior do tanque
B2 0,82 -0,93 0,01 0,01 0,42 -1,05 -0,33 -0,34 0,36 -0,63 -0,15 -0,11
típico – vazão de 12,5 m³/s –
Meia Profundidade

B3 2,85 -1,09 0,84 0,35 1,92 -2,51 -0,17 -0,14 1,64 -0,96 0,38 0,27
defletores permeáveis
C3 2,72 -0,30 1,15 1,03 1,15 -1,39 -0,10 -0,17 0,93 -1,09 -0,04 -0,01
C4 3,09 0,49 1,86 2,00 1,22 -1,42 -0,08 -0,31 0,79 -0,95 0,02 0,07
C6 1,18 -0,64 0,24 0,21 0,96 -0,76 0,11 0,11 0,68 -0,82 -0,04 0,05 Notas:
D3 2,71 0,43 1,67 1,76 1,08 -1,14 -0,04 0,00 0,82 -0,68 0,01 -0,09 - Direção X: direção do eixo longitudinal
D4 1,63 -1,12 0,29 0,21 1,02 -1,37 -0,16 -0,04 0,84 -0,86 0,02 0,19 do canal no sentido do fluxo (valores
E1 2,33 -0,07 1,08 1,07 1,27 -0,70 0,28 0,29 0,85 -0,81 0,03 0,08 positivos);
A2 3,02 0,34 1,89 2,25 1,37 -0,78 0,28 0,27 0,71 -0,91 -0,12 -0,07 - Direção Y: direção transversal ao eixo
B2 0,78 -0,89 0,02 -0,02 0,42 -0,96 -0,29 -0,40 0,23 -0,52 -0,14 -0,13 longitudinal do canal no sentido da margem
Próximo ao Fundo

B3 2,32 -0,43 1,04 1,00 1,88 -2,03 -0,11 0,47 0,97 -0,90 0,06 0,03 direita para a margem esquerda do canal
C3 2,36 0,07 1,13 1,03 1,16 -1,16 -0,04 -0,07 0,51 -0,63 -0,04 -0,03 (valores positivos);
C4 - Direção Z: direção vertical no sentido
3,00 0,67 1,84 1,92 1,36 -1,34 -0,03 -0,27 0,59 -0,65 -0,04 0,06
C6
do fundo para superfície do escoamento
1,26 -0,57 0,44 0,40 0,80 -0,65 0,09 0,02 0,38 -0,44 -0,04 -0,07
(valores positivos);
D3 2,51 0,26 1,49 1,55 1,13 -1,28 0,01 0,01 0,45 -0,53 -0,02 0,01
- As posições A2, B1, B2, B3, C1, C3, C4,
D4 1,58 -0,88 0,30 0,55 0,78 -1,15 -0,19 -0,18 0,49 -0,48 0,03 0,06
C6, D3, D4, D5 e E1 estão apresentadas
E1 2,17 -0,29 0,97 0,85 1,30 -0,73 0,29 0,24 0,49 -0,49 0,00 0,00   na Figura 6.

Renata Ribeiro de Brito Carlos Olavo Slota Ovelar


Engenheira Civil e mestranda de Engenharia de Recursos Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal
Hídricos e Ambiental pela Universidade Federal do Paraná do Paraná (2008) e mestrando em Recursos Hídricos
(UFPR). Possui experiência em projetos hidrelétricos e e Ambiental pela UFPR (PPGERHA). Exerce cargo de
hidráulicos para fins de irrigação e contenção de cheias, nas Pesquisador pelo Centro de Hidráulica e Hidrologia
diversas etapas de projeto, desde viabilidade a executivo. Prof. Parigot de Souza - CEHPAR (LACTEC/
Atuou durante 10 anos na Intertechne nas áreas de UFPR/COPEL), atuando em estudos em modelos
Hidráulica e Coordenação de equipe multidisciplinar de hidráulicos reduzidos de usinas hidrelétricas.
engenharia para projetos hidrelétricos. Atualmente atua no CEHPAR (LACTEC) Participou dos estudos da UHE Belo Monte e UHE Sinop.
na Coordenação de Estudos para usinas hidrelétricas e projetos de pesquisa e
desenvolvimento na área de hidráulica.
Fernando Ribas Terabe
José Junji Ota Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal do
Possui graduação em Engenharia Eletrônica pela Universidade Paraná (1992) e mestre em Recursos Hídricos e Ambiental
Tecnológica Federal do Paraná (1981), graduação em pela UFPR (2003). Atua há 20 anos no Centro de Hidráulica
Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná e Hidrologia Prof. Parigot de Souza CEHPAR (LACTEC/
(1975), mestrado em Engenharia Civil pela Universidade de UFPR/COPEL) na execução e coordenação de estudos
Kanazawa (1983) e doutorado em Engenharia - Newcastle hidráulicos em modelo físico reduzido de usinas hidrelétricas.
Upon Tyne (1999). Professor adjunto da UFPR e consultor no Desenvolveu estudos em modelos reduzidos para 16 UHEs,
Laboratório de Hidráulica do CEHPAR (Institutos Lactec), sendo as obras mais relevantes: Belo Monte, Machadinho, Dona Francisca, Barra
onde atua há 40 anos desenvolvendo e coordenando estudos sobre obras hidráulicas, Grande, Campos Novos, Itapebi, Colider, Sinop, Baixo Iguaçu (Brasil), Palomino
transporte de sedimentos, modelos físicos reduzidos e modelos matemáticos. (República Dominicana), Paute Mazar (Equador), Ituango (Colômbia).

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ENERGIA

O SÍTIO BELO MONTE E


SEUS DESAFIOS PARA ATINGIR
11.000 MW 100% BRASILEIROS
Pilar Alejandra Grasso RODAS | Engenheira Civil – Engevix Engenharia S.A.
Lailton Vieira XAVIER | Engenheiro Civil – Engevix Engenharia S.A.

RESUMO ABSTRACT
A Usina Hidrelétrica Belo Monte é a terceira com maior capacidade Belo Monte HPP main power plant is the third greatest installed
instalada do mundo e a atual maior usina inteiramente brasileira, com 11.000 capacity in the world and presently the biggest entirely Brazilian power
MW de potência e energia firme de 4.226,3 MW médios. Com queda líquida plant, with an installed capacity of 11,000 MW and firm power of
de 87,00 m, obtida através da formação do Reservatório Intermediário até o 4,226.3 MW, on average. The net head is 87.00 m, from the intermediate
Canal de Fuga - local onde as águas do rio Xingu finalmente retornam ao seu reservoir to the tailrace channel, where the waters of Xingu River finally
curso natural após um grande percurso iniciado no Reservatório Principal, return to its natural river bed after a great course since its diversion from
localizado no sítio Pimental. A concepção inovadora do projeto permitiu que the main reservoir located in Pimental Site. The innovative conception
a construção desta obra gigantesca fosse executada praticamente a seco sem a of the design allowed the construction of this huge project to be executed
necessidade de qualquer obra de desvio do rio para a execução das estruturas almost completely independent from the course of the River, with no need
principais, o que manteve as águas do Xingu praticamente intactas neste local. for river diversion while the main structures were being built, keeping the
A estrutura da Tomada d’Água direciona as águas captadas no Reservatório Xingu River virtually unaltered during the construction. The water from
Intermediário à Casa de Força Principal por meio de Condutos Forçados the intermediate reservoir is diverted to the Power House by the Intake
com 11,6 metros de diâmetro. Esta dimensão é maior que a dos existentes na Structure through 11.6 m diameter penstocks, which are bigger than the
Usina de Itaipu. O presente artigo contempla o detalhamento das estruturas ones of Itaipu HPP. This paper complies the description of the detailed
que compõem o Circuito de Geração Principal do empreendimento da UHE structures that are part of the main generation circuit of Belo Monte HPP,
Belo Monte, destacando o processo de planejamento das etapas construtivas highlighting the planning process of the construction phases, which led
visando a execução praticamente a seco. toward a practically off stream construction.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 99


O SÍTIO BELO MONTE E SEUS DESAFIOS PARA ATINGIR 11.000 MW 100% BRASILEIROS

1. INTRODUÇÃO enrocamento e pela Barragem da Vertente do Santo Antonio.


As estruturas de concreto do barramento do sítio de Belo Monte

O
arranjo das estruturas localizadas no sítio Belo são formadas por 18 blocos de Tomada d’Água, um Bloco Central de
Monte compreende o Circuito de Geração concreto-gravidade e dois Muros Laterais de Fechamento e de abraço
propriamente dito, formado por: Tomada d’Água, das barragens de terra e enrocamento das margens adjacentes, com
Condutos Forçados, Casa de Força e Canal de Fuga, duas extensão total de cerca de 819 m e coroadas na elevação 100,00 m.
barragens de Fechamento Laterais de terra e enrocamento e a A Tomada d’Água, o Muro Central e os Muros Laterais de
Barragem da Vertente do Santo Antonio. Fechamentos, foram executados num misto de concreto convencional
A estrutura da Tomada d’Água direciona as águas captadas e compactado com rolo (CCR).
no Reservatório Intermediário à Casa de Força Principal por A Tomada d’Água Principal, do tipo gravidade, é constituída de 18
meio de 18 Condutos Forçados com 11,6 metros de diâmetro. blocos de 33 m de largura, dos quais partem os Condutos Forçados
A potência instalada do Circuito de Geração Principal, em igual número, expostos e paralelos entre si, sendo um para cada
localizado no sítio Belo Monte é de 11.000 MW e energia firme de unidade geradora. Esses blocos são dispostos em dois grupos, sendo
4.226,3 MW médios, sendo a terceira maior capacidade instalada que dez blocos se agrupam na direita hidráulica e os oito restantes à
do mundo e a atual maior usina inteiramente brasileira [1]. esquerda. Esses dois grupos são separados por um bloco de gravidade,
A Figura 1 apresenta o Arranjo Geral do sítio Belo Monte e fechando o barramento.
a disposição de suas estruturas. A Casa de Força Principal da Usina de Belo Monte abriga 18
unidades com turbinas do tipo Francis de eixo vertical, acopladas a um
gerador de corrente alternada, trifásico. A potência unitária de cada
2. DETALHAMENTO DE CADA unidade geradora é de 611,11 MW, totalizando uma potência instalada
ESTRUTURA DO SÍTIO BELO MONTE de 11.000 MW.
Os blocos das unidades geradoras possuem 33,00 m de largura cada,
O arranjo das estruturas localizadas no sítio Belo Monte sendo oito deles localizados no lado esquerdo e dez no lado direito,
compreende o Circuito de Geração propriamente dito, formado pela separados fisicamente por um bloco central com 33,00 m de largura.
Tomada d’Água, pelos Condutos Forçados, pela Casa de Força pelo Existem cinco blocos de Área de Montagem na margem
Canal de Fuga, por duas barragens de Fechamento Laterais de terra e esquerda, com 33,00 m cada e mais dois blocos de Áreas de

FIGURA 1 -
Arranjo
Geral
sítio Belo
Monte

100 WWW.CBDB.ORG.BR
enrocamento lançado a montante e jusante
para garantir a estabilidade das mesmas.
A Barragem da Vertente do Santo
Antonio está à esquerda das estruturas
da Tomada d’Água em posição vizinha à
Barragem de Fechamento Esquerda. A
barragem apresenta a crista coroada na EL.
100,00 m com a cota mais baixa da fundação
FIGURA 2 – Vista geral das estruturas de concreto do sítio Belo Monte situada aproximadamente na EL. 30,00 m, o
que resulta numa estrutura com altura de 70,00
Descarga (AD), com 20,70 m de largura na margem direita e 36,50 m. A crista possui largura de 7 m e extensão da ordem de 1.310,00 m.
m de largura na margem esquerda. A restituição das águas turbinadas ao rio Xingu é feita por um Canal
A Subestação de Manobra, que interliga a Usina ao Sistema de de Fuga escavado em solo e rocha, com cerca de 2 km de comprimento
Transmissão, é do tipo blindada, isolada a gás SF6, na tensão de 500kV e 620,00 m de largura.
e está localizada a montante dos transformadores elevadores, no deck Cerca de 800,00 m a jusante dos blocos da Casa de Força existe
principal da Casa de Força Principal. uma ponte sobre o Canal de Fuga, que faz parte do trecho relocado da
A Barragem de Fechamento Esquerda tem o coroamento na EL. Rodovia Transamazônica e possui cerca de 720,00 m de extensão [2].
100,00 m, altura máxima da ordem de 88,00 m e extensão de 1.100,00 A Figura 3 mostra a seção do Circuito de Geração do sítio Belo
m. A Barragem de Fechamento Direita está coroada na EL. 100,00 m, Monte, com destaque para as elevações das estruturas e níveis
altura máxima da ordem de 54,00 m e extensão de 780,00 m. Ambas operacionais. As Figuras 4 e 5 representam as seções das Barragens de
possuem duas seções típicas, sendo o trecho próximo à Tomada d’Água Fechamento Direito e Esquerdo com seus materiais e níveis. As Figuras
em enrocamento com núcleo de solo compactado, e o restante das 6 e 7 ilustram tridimensionalmente as unidades do circuito hidráulico.
barragens com seção homogênea, tendo sido consideradas bermas de A Tabela 1 mostra os principais volumes, segmentados por tipo de
atividade.

FIGURA 3 – Circuito de Geração – Tomada d’Água e Casa de Força

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 101


O SÍTIO BELO MONTE E SEUS DESAFIOS PARA ATINGIR 11.000 MW 100% BRASILEIROS

FIGURA 4 – Barragem de Fechamento Direita (tipo enrocamento com núcleo de argila)

FIGURA 5 – Barragem de Fechamento Esquerda (tipo homogênea de solo)

FIGURAS 6 e 7 – Concepção tridimensional de uma unidade do sítio Belo Monte

* Concreto Massa é aquele que


apresenta dimensões de magnitude
suficientes para exigir que sejam
tomadas medidas para controlar
a geração de calor e a variação
de volume decorrente, a fim de
minimizar a sua fissuração. Pode ser
armado ou não. Grandes estruturas
e CCR em usinas hidrelétricas
são estudadas quanto ao
comportamento térmico-tensional.

TABELA 1 – Volumes por atividade do sítio Belo Monte

3. SEQUÊNCIA CONSTRUTIVA Inicialmente, as atividades de construção na área da Casa de Força


e da Tomada d’Água se concentraram nas escavações obrigatórias, nas
A sequência construtiva da Casa de Força Principal e da Tomada áreas que abrangem as estruturas de concreto para liberar com maior
d’Água no sítio Belo Monte prevê a construção em duas etapas, rapidez os serviços de concretagem. Para esta fase, a área prioritária
sendo na primeira etapa a construção de oito unidades geradoras de escavação ficou completamente protegida pelo terreno natural,
(unidades 1 a 8) e na fase seguinte a conclusão das dez unidades proporcionando uma segurança para o pico da cheia com tempo de
restantes (unidades 9 a 18). Na Tabela 2 são apresentadas as recorrência de 500 anos do rio Xingu.
vazões de pico utilizadas para o dimensionamento das estruturas Para a escavação do Canal de Fuga foi executada a Ensecadeira
de proteção durante o manejo do rio Xingu no sítio Belo Monte. de 1ª Fase no trecho mais a jusante do canal, proporcionando uma

102 WWW.CBDB.ORG.BR
TABELA 2 – Volumes por atividade do sítio Belo Monte

proteção para vazões com período de recorrência de 25 anos. de concreto já protegidas. Na Figura 11 é apresentada a 2ª etapa
Na Figura 8 é apresentada a seção da Ensecadeira de 1ª Fase, e a construtiva.
Figura 9 apresenta a 1ª etapa construtiva. Entre os dois conjuntos de unidades geradoras foi deixado um
Com a proteção da Ensecadeira de 1ª Fase foram executadas septo de rocha. Com isso, é possível desvincular a construção
as escavações em solo e rocha do trecho final do Canal de dos dois conjuntos, o que traz flexibilidade no planejamento de
Fuga para possibilitar a construção da ensecadeira de 2ª fase, construção e picos de concreto.
assente em rocha sã na elevação final do Canal de Fuga. Esta A jusante das unidades 9 a 18 foi construída uma ensecadeira
ensecadeira proporcionou proteção contra cheias com tempo para a proteção deste conjunto, fechando o trecho entre o septo
de recorrência de 250 anos. Na Figura 10 é apresentada a seção rochoso e o talude direito hidráulico da escavação do Canal de
da Ensecadeira de 2ª fase. Fuga. Esta ensecadeira proporciona proteção contra cheias de
Após o término da construção da Ensecadeira de 2ª fase, as 250 anos de recorrência. Na Figura 12 é apresentada a seção da
escavações do Canal de Fuga prosseguiram com as estruturas Ensecadeira de 3ª fase.

FIGURA 8 – Seção Ensecadeira de 1ª Fase

FIGURA 9 –
1ª etapa das
obras civis

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 103


O SÍTIO BELO MONTE E SEUS DESAFIOS PARA ATINGIR 11.000 MW 100% BRASILEIROS

Na 1ª etapa das obras civis foram executados os acessos Na 3ª etapa das obras civis foi iniciada a execução dos concretos
internos e foram iniciadas as escavações comuns nas áreas das convencionais das Áreas de Montagens da Margem Esquerda e das
seguintes estruturas: Tomada d’água, Casa de Força, Área de Unidades 1 a 8, prosseguiram as escavações em rocha do Canal de
Montagem e Canal de Fuga. Foi lançada a Ensecadeira de 1ª Fase Fuga e o lançamento do Concreto Compactado com Rolo (CCR) nas
para possibilitar a escavação em rocha do canal de fuga na região Unidades 1 a 8 e nos Muros Laterais da Tomada dágua. Foi executada
entre as Ensecadeiras de 1ª e 2ª Fases. a 1ª etapa das Barragens de Fechamentos Direita e Esquerda e a
Na 2ª etapa das obras civis, foi executada a ensecadeira de 2ª fase e a construção da ponte da rodovia transamazônica BR 230.
continuidade das escavações em rocha do Canal de Fuga e nas regiões Na 4ª etapa das obras civis foi realizado o lançamento do concreto
das estruturas de concreto do Circuito de Geração 1 (Tomada d’água, convencional da Tomada d’água bem como finalizadas as escavações
Casa de Força – Unidades 1 a 8 e Área de Montagem da Margem em rocha das Unidades 9 a 18 da Casa de Força, executada a
Esquerda). Nesta etapa foi iniciado o lançamento do Concreto Ensecadeira de 3ª Fase, continuada a concretagem das Unidades 1
Compactado com Rolo (CCR ) dos Muros Laterais e das Unidades 1 a 8 da Casa de Força e iniciada a remoção da Ensecadeira de 1ª Fase.
a 8 da Tomada d’Água. Nesta etapa, foi iniciada a montagem eletromecânica das

FIGURA 10 – Seção Ensecadeira de 2ª Fase

FIGURA 11 –
2ª etapa das
obras civis

104 WWW.CBDB.ORG.BR
Unidades Geradoras da Casa de Força, sequencialmente, a partir da Foi também iniciada a montagem eletromecânica das
Unidade 1 e a execução da Linha de Transmissão de 500 kV. Unidades Geradoras 9 a 18 e foram finalizados os ramais de
Na 5ª etapa das obras civis, foi finalizada a concretagem das saída da Linha de Transmissão referentes das Unidades 1 a 8.
estruturas da Tomada d’Água e das Unidades 1 a 8 da Casa de Força Na 6ª etapa das obras civis foi finalizada a escavação em
bem como concluídos os aterros das Barragens de Fechamento rocha do Canal de Fuga; serão concluídas as concretagens das
Direita e Esquerda, colocadas as comportas das 18 unidades da Unidades 9 a 18 da Casa de Força, assim como da montagem
Tomada d’Água e das Unidades 1 a 8 da Casa de Força, executado o eletromecânica do segundo Circuito de Geração, bem como
enchimento do Reservatório Intermediário removida a Ensecadeira será concluída a execução dos ramais da Linha de Transmissão
de 2ª Fase e realizado o enchimento do Canal de Fuga. das Unidades 9 a 18. Será também removida a Ensecadeira de
Nesta fase foi iniciado o comissionamento das Unidades 3ª Fase e iniciado o comissionamento das Unidades Geradoras,
Geradoras 1 a 8 da Casa de Força, para entrada em operação sequencialmente a partir da Unidade 9 até a 18 da Casa de
com previsão de aproximadamente três meses cada Unidade, Força, com entrada em operação prevista sequencialmente e
sequencialmente partindo da Unidade 1. aproximadamente a cada três meses (por Unidade).

FIGURA 12 – Seção Ensecadeira de 3ª Fase

FIGURA 13 – 3ª etapa
das obras civis

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 105


O SÍTIO BELO MONTE E SEUS DESAFIOS PARA ATINGIR 11.000 MW 100% BRASILEIROS

FIGURA 14 –
4ª etapa das
obras civis

FIGURA 15 –
5ª etapa das
obras civis

106 WWW.CBDB.ORG.BR
FIGURA 16 –
6 ª etapa das
obras civis

3. CONCLUSÕES 4. PALAVRAS-CHAVE
No presente artigo foram apresentadas as características que Sítio Belo Monte, UHE Belo Monte, barragem, Casa de Força,
definem as configurações do sítio Belo Monte, que tem como função Tomada dÁgua, Conduto Forçado, Canal de Fuga, perda de carga.
propiciar a geração do circuito principal da UHE Belo Monte.
O grande desafio foi conceber uma sequência executiva que
possibilitasse a geração das Unidades Geradores sequencialmente 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
sem a necessidade da finalização de todas atividades das obras civis e
montagem eletromecânica. [1] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto
A sequência permitiu a execução a seco em praticamente na maior Básico Consolidado. 2012.
parte do empreendimento, o que facilita e viabiliza uma obra de [2] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto
tamanho porte, sem grandes interferências com o curso do rio Xingu. Executivo. 2012-2016.

Pilar Alejandra Grasso Rodas Lailton Vieira Xavier


É formada pela Universidade Federal de Santa Catarina Engenheiro Civil graduado pela Universidade
(1997) com pós-graduação em Gerenciamento de Projetos Federal do Paraná. Possui pós-graduação em
pela Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Busines Administração Global pela UDESC/UNI de Lisboa
School (2006), e MBA Setor Elétrico pela Fundação Getúlio e MBA em Gerência de Projetos pela Fundação
Vargas (2014). Trabalha na Engevix Engenharia desde 1998. Getúlio Vargas (SP).
Possui experiência de 19 anos em atividades de engenharia É Vice-Presidente de Engenharia e Gerenciamento
de infraestrutura e energia no Brasil e no exterior, na área de Energia da Engevix Engenharia S.A..
desenvolvento atividades de projeto e gerenciamento. Atualmente é responsável pela Durante 26 anos de experiência profissional trabalhou em grandes projetos de
Coordenação do Projeto Executivo Civil da UHE Belo Monte. geração de energia e infraestrutura no Brasil e no exterior.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 107


CONCRETO, TECNOLOGIA E MATERIAIS

AUTOLAB - SISTEMA
DE GERENCIAMENTO DO
CONTROLE TECNOLÓGICO
José Flauzino MOREIRA | Chefe de Laboratório, Consórcio Construtor Belo Monte - CCBM
Bruno Cesar Oliveira CARLETO | Engenheiro Civil, Consórcio Construtor Belo Monte - CCBM
Geovane Boaz dos Santos MOTA | Engenheiro Civil, Consórcio Construtor Belo Monte - CCBM
Marcelo de Lima FOZ Rodrigues | Engenheiro Civil, Consórcio Construtor Belo Monte - CCBM

RESUMO ABSTRACT
O controle tecnológico de grandes obras vem sendo feito através de processos The technological control of large works has been done through manual
manuais de planilhas. Foi iniciado em 2012, na UHE Belo Monte, o projeto processes of spreadsheets.A project for the development of a computerized
para desenvolvimento de um sistema informatizado denominado AutoLab. system, called AutoLab, was started in the UHE Belo Monte in 2012,
O objetivo era gerenciar os processos de coleta e análise das informações which aimed to manage these processes of collecting and analyzing the
da Central de Concreto e do Laboratório. Com isso, foi possível entregar Concrete Production Plant and Laboratory information to be able to
informações imprescindíveis em tempo real, permitindo que o controle deliver essential information in real time, allowing that the quality control
de qualidade pudesse ser realizado com maior assertividade e agilidade. A could be carried out with greater assertiveness and agility, avoiding losses,
medida evitou perdas, desperdícios e retrabalho. Além do gerenciamento das waste and rework. In addition to the management of the Laboratory and
informações dos Laboratórios e Centrais de Produção de Concreto, o escopo Concrete Production Plants information, the initial scope was expanded
inicial foi ampliado para a gestão de outras áreas como Custos, Planejamento, to the management of other areas information, such as Costs, Planning,
Área Industrial, Suprimentos, Produção de Concreto e Geotecnia. Industrial Area, Supplies, Concrete Production and Geotechnics.

108 WWW.CBDB.ORG.BR
1. INTRODUÇÃO das obras de concreto e geotecnia, certificando se os mesmos

P
atendem a especificação técnica da obra.
ara a construção do Complexo de Belo Monte, foi desenvolvido Na UHE Belo Monte, assim como em outras obras, o
um sistema informatizado e conectado à internet, denominado método tradicional de controle dessas informações era feito
AutoLab, com a finalidade de gestão integrada do controle de forma manual através de formulários e arquivos físicos que
tecnológico nas áreas de Concreto e de Geotecnia. Todos os ensaios requerem cuidados para conservação dessas informações.
realizados nos laboratórios da obra são monitorados e arquivados Outra característica relevante do método tradicional de
eletronicamente, permitindo rastreabilidade total. O plano de controle é devido ao fluxo de informações ter um caminho
calibração de todos os equipamentos laboratoriais, o fornecimento e longo, o que gera uma maior probabilidade de erro e perda
o consumo de materiais são monitorados e controlados. O sistema de dados.
AutoLab é totalmente integrado com as centrais de produção de Na Figura 01 podemos notar o longo caminho no qual a
concreto, permitindo monitoramento e gerenciamento das liberações informação passa até que o resultado do ensaio seja gerado e
para concretagem e da produção de concreto. posterior liberação da camada de aterro.
Na Figura 02, com o uso do Sistema AutoLab, o caminho
2. IDEIAS INCORPORADAS de informação ficou menor e as informações são inseridas
diretamente no banco de dados.
2.1. SITUAÇÃO ANTERIOR ÀS INOVAÇÕES Na Figura 03 é confrontada a forma de correção dos
pesos de materiais da dosagem, em função de variações
O controle tecnológico tem como função realizar os ensaios granulométricas e de umidade, com a utilização do sistema
e estudos necessários para garantir a qualidade das estruturas usual de planilhas e com o AutoLab.

FIGURA 1 – Método tradicional


- fluxograma de realização de
um ensaio de geotecnia

FIGURA 2 – Método com AutoLab - fluxograma de realização FIGURA 3 – Comparativo método tradicional x AutoLab – rotina de
de um ensaio de geotecnia correção de dosagem

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 109


AUTOLAB - SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO CONTROLE TECNOLÓGICO

2.2. IDEIAS E AÇÕES INCORPORADAS 3. METODOLOGIA


− Automação, gerenciamento e confiabilidade nas infor-mações: O AutoLab é um sistema WEB gerenciador de dados de controle
Como iniciativa, a ideia principal da equipe foi desenvolver um tecnológico, instalado em um servidor lotado dentro do laboratório
sistema de interface intuitiva e amigável, no qual as informações principal de Belo Monte. É acessado por diversas estações de trabalho
pudessem ser inseridas e visualizadas em tempo real pelos usuários espalhadas por todos os sítios e vários departamentos da obra.
do sistema. O AutoLab propicia a exportação das informações nele
No desenvolvimento do sistema foi feito um levantamento armazenadas para programas comumente utilizados no controle
de todas as rotinas realizadas no Laboratório e na Central de tecnológico como o Excel, facilitando de forma expressiva a análise
Concreto. Depois, foi feita a análise de requisitos (entradas e saídas dessas informações e uso das mesmas em relatórios e documentos
do sistema) para criação da base de dados e interface de entrada externos (quando necessário).
de informações. Contudo, o AutoLab conta com mais de 100 telas de trabalho,
Vale ressaltar que existem dados que são inseridos manualmente mais de 60 relatórios estatísticos e de ensaios e mais de 10 e-mails
através de interface de usuário (como leituras de ensaios) e dados que enviados de forma automática, com informações variadas e
são inseridos automaticamente através de interface de comunicação resumos periódicos de resultados de ensaios, produção de concreto,
entre sistemas, como a comunicação do AutoLab com os sistemas análise de estoque, tratamentos estatísticos e alertas. Na Figura 04
da Centrais de Concreto. é mostrada a arquitetura do Sistema AutoLab na UHE Belo Monte.

FIGURA 4 – Fluxograma de informações no Sistema AutoLab

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FIGURA 5 – Tela principal do Sistema AutoLab
Resumo de liberações de concreto e companhamento Acesso aos módulos do sistema
em tempo real da evolução das concretagens

Gráfico com acompanhamento da Produção X Meta de Produção do mês corrente


FIGURA 6 – Módulo concreto fresco

Lista de betoneiras atualizada em tempo real. Assim que


a Central de Concreto termina de produzir, o AutoLab
coleta a informação e disponibiliza para o Laboratório.
O AutoLab informa:
• Traço batido;
• Liberação de concreto e destino;
• Central de Concreto que produziu;
Quadro de acompanhamento das liberações em andamento • Volume produzido;
Neste quadro é possível acompanhar em tempo real: • Identificação do caminhão betoneira.
• Volume total produzido por liberação e por traço; O AutoLab alerta para:
• Volume total produzido no turno atual; • Variações de pesagens (teórico x real);
• Volume de saldo antes da próxima moldagem e/ou • Diferença entre traço batido e traço da tabela;
ensaio; • Quantidade batida;
• Controle dos ensaios através dos volumes produzidos x • Necessidade de ensaiar;
freqüências estabelecidas com alerta para execução • Necessidade de moldar.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 111


AUTOLAB - SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO CONTROLE TECNOLÓGICO

FIGURA 7 – Correção
Painel com traço de tabela Painel com traço atual na central Painel com campos para correção do traço de dosagem assistida

Na janela mostrada na Figura 07 é possível corrigir qualquer um simples clique, o AutoLab usa os valores do último ensaio de
traço para qualquer Central sem necessidade de nenhuma umidade e último ensaio de granulometria para fazer a correção.
parada na produção. Assim que o laboratorista envia a correção Também, nesta janela, é possível cadastrar variações para um mesmo
dos valores para a Central, o próximo ciclo batido já vai traço, especificando quantidades diferentes de gelo e de aditivo. Assim,
automaticamente com os valores corrigidos. um mesmo traço que está atendendo diferentes frentes de serviço, pode
Ainda é possível realizar correções dos módulos de finura dos ser monitorado e corrigido mantendo as especificidades de cada frente,
agregados para manter o módulo de finura das dosagens. Com propiciando a economia de gelo e aditivo.

FIGURA 8 –
Acompanhamento de
pesagens da Central de
Concreto

112 WWW.CBDB.ORG.BR
Na Figura 08 é exibido o painel de acompanhamento, em tempo exemplo, mostramos uma pesagem de gelo que deveria ter sido de
real, de pesagem dos insumos para produção de concreto. Assim, é 228 kg, mas foi registrado 222 kg. Essa variação ultrapassa o limite
possível que o laboratório verifique qual foi o tipo de desvio da pesagem crítico de 2%.
e possa fazer as devidas correções evitando perdas de concreto. Devido aos grandes volumes de insumos constituintes de uma
Caixas destacadas com fundo vermelho indicam que alguma dosagem, as caixas mostram apenas as três piores pesagens de cada
das pesagens teve valor fora do limite crítico aceitável. Neste caso de ciclo e a quantidade total de água.

FIGURA 9 – Acompanhamento do consumo de gelo

Este gráfico mostra uma relação entre a produção de gelo por hora (m³/h em marrom) e o consumo de gelo (kg/m³ em azul). Assim, com
o passar do dia é possível perceber comportamentos que iriam resultar na parada da produção devido à falta de gelo. Como esse dado é
informado em tempo real, os responsáveis pela área industrial, juntamente com o responsável pelo Laboratório, podem discutir estratégias para
não parar a produção por falta de gelo antes mesmo que essa parada venha a acontecer, mantendo a produtividade sem perda de qualidade.

Painel lateral para escolha Painel com o estoque Painel com o gráfico da relação Painel com todos os registros
FIGURA 10 –
de quais insumos serão em tempo real dos entre entradas e saídas dos de entradas e saídas do Acompanhamento de
mostrados insumos selecionados insumos selecionados insumo selecionado estoque de insumos

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 113


AUTOLAB - SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO CONTROLE TECNOLÓGICO

FIGURA 11 – Pesagem de carretas

Neste módulo, acessado pelo profissional da balança e pelo Laboratório, é feito o controle de todas as carretas (de materiais cimentícios
e aditivos) que entram no canteiro. Com o AutoLab, o controle das carretas é feito em três etapas:

• Pesagem inicial na entrada da carreta;


• Recebimento e verificação do Laboratório, seguido da coleta do material para caracterização;
• Pesagem final na balança.

Cada etapa, para ser finalizada, precisa da conclusão da etapa anterior. Isso facilita o monitoramento do serviço e aumenta a
rastreabilidade de possíveis problemas com o destino dos insumos.
O líder consegue, sem sair da sua sala, saber a exata situação de determinada carreta.

FIGURA 12 – Controle de cimento

Controle de Carretas referentes Moldagens realizadas Todos ensaios


lotes de coleta ao lote de coleta com cada lote coletado realizados com
de cimento esse lote

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FIGURA 13 – Agenda de ensaios de compressão axial

Módulo para o acompanhamento da agenda de ruptura


Neste módulo, o laboratorista tem toda a informação das amostras que devem ser ensaiadas, bem como o status do agendamento. Desta forma, é
possível evitar atrasos e erros na execução do ensaio. Antes de iniciar qualquer ensaio, o AutoLab faz uma validação de horário em relação à norma,
bloqueando a execução do ensaio quando fora do período estipulado. Sendo assim, o responsável pelo Laboratório deve ser comunicado para
efetuar o desbloqueio. A medida facilita o gerenciamento da equipe envolvida no processo. Após executado o ensaio, a agenda se transforma numa
consulta temporal de todos os resultados.

Este relatório mostra


todos os dados da
produção de concreto
no período selecionado.
Nesta primeira página, o
resumo mostra:

• Total produzido;
• Total produzido por
Central de Concreto;
• Total produzido por
liberação e por traço;
• Total produzido por
tipo de obra;
• Total produzido por
tipo de traço;
• Consumo total de
cada material.

FIGURA 14 –
Relatório de produção de
concreto - resumo

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 115


AUTOLAB - SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO CONTROLE TECNOLÓGICO

FIGURA 15 –
Relatório com taxas médias de produção Produção de
Essa informação gera um comparativo das produtividades atingidas entre os turnos de trabalho. A terceira parte do relatório concreto –
análise de
de produção de concreto mostra todos os dados da produção no período selecionado separados por traço. Este relatório turnos
ainda mostra todos os desvios e descartes de concreto que ocorreram no período.

FIGURA 16 – Relatório de acompanhamento de concretagem


Este relatório mostra
a análise dos desvios e Relatório para acompanhamento em tempo real da concretagem com:
descartes corridos no • Liberações sendo executadas, com informação de camada e bloco;
período selecionado. • Traços e temperatura de concreto;
Mostra quantidades e • Datas de início da concretagem e último lançamento;
percentual de cada motivo. • Volume Previsto x Volume Executado por liberação de concretagem.

FIGURA 17 – Relatório de desvios e descarte de concreto

116 WWW.CBDB.ORG.BR
Geração automática do tratamento
estatístico e gráfico com a curva
de tendência de resistência à
compressão axial para cada traço

FIGURA 18 –
Relatório de
resultado de
ruptura – curva
de tendência

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 117


AUTOLAB - SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO CONTROLE TECNOLÓGICO

FIGURA 19 – Relatório lote de concreto – método ACI 214


Controle dos lotes de moldagens de cada dosagem pelo método ACI 214 /
Método adotado pelo Controle Tecnológico da UHE Belo Monte

118 WWW.CBDB.ORG.BR
FIGURA 20 – Geotecnia – tela principal (amostras)
Tela principal do
módulo de Geotecnia.
Neste módulo, todas
as amostras coletadas
ficam organizadas
por estrutura, seção e
material podendo ser
filtradas pelos mesmos
parâmetros.

Com o sistema, o
laboratorista apenas
insere as leituras das
balanças (quadros
vermelhos). Os
gráficos e resultados
são calculados
automaticamente pelo
sistema, garantindo
rapidez e assertividade
dos resultados

Relatório para
acompanhamento
diário e em tempo real
do índice de retrabalho,
em camadas de aterro
detalhados por turno e
FIGURA 21 – Geotecnia – ensaio Hilf/Proctor estrutura

FIGURA 22 – Relatório de acompanhamento do índice de retrabalho em aterros

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 119


AUTOLAB - SISTEMA DE GERENCIAMENTO DO CONTROLE TECNOLÓGICO

FIGURA 23 – Comparativo
do Método tradicional x Uso
do AutoLab, observa-se que
com o uso do AutoLab foi
possível atuar diretamente
no processo de aterro num
tempo hábil, conseguindo
assim uma consequente
redução no índice de
retrabalhos das estruturas
de geotecnia (aterros).

4. EQUIPAMENTOS, INSUMOS E
INSTALAÇÕES ENVOLVIDAS
O AutoLab foi desenvolvido nas instalações e com os equipamentos
disponíveis no Laborátorio da UHE Belo Monte. Os equipamentos
utilizados foram:
− 1 Notebook para engenheiro responsável pelo desenvolvimento.
O AutoLab necessita de equipamentos de informática comumente
já encontrados nas obras para operar:
− 1 Servidor de aplicação e banco de dados;
− 1 Licença do Microsoft SQL Server 2008 R2 Standard;
− 1 Licença do Microsoft Windows Server 2008 R2;
− 1 Estação de trabalho para o Concreto Fresco;
− 1 Estação de trabalho para a Sala de Prensa;
− 1 Estação de trabalho para a Sala de Solos; FIGURA 25 – Comparativo do Método Tradicional x Uso do AutoLab para liberação
− 1 Estação de trabalho para a Sala de Cimento; de uma praça de aterro. O gráfico representa o tempo necessário para liberação
da praça após coleta de material para ensaio.
− 1 TV 42’’ para acompanhamento da produção de concreto.

FIGURA 24 – Comparativo do método tradicional x uso do AutoLab para realização FIGURA 26 – Gráfico comparativo do método tradicional x uso do AutoLab para
de um ensaio de compactação Proctor/Hilf. O gráfico representa o tempo gasto em correção da dosagem de concreto. O gráfico representa o tempo necessário para
Laboratório (não considerando o tempo de deslocamento e coleta do material). correção das dosagens.

120 WWW.CBDB.ORG.BR
5. PRODUTIVIDADES ALCANÇADAS 9. AGRADECIMENTOS
Com o uso do AutoLab, foi possível obter ganhos de Os autores agradecem ao Sr. Hugo Sávio Moreira pelo
produtividade, uma vez que o caminho do fluxo de informações desenvolvimento e contribuição no acompanhamento e
se tornou menor. Eliminando grande parte dos processos manuais, implantação do Sistema AutoLab, fundamentado em seu
se obteve uma maior velocidade e confiabilidade dos resultados conhecimento de Engenharia de Computação.
nos ensaios e menor tempo na execução de rotinas internas do
Laboratório. Como consequencia tivemos perdas por retrabalhos
nas frentes de serviço, pois o feedback dos resultados em tempo real José Flauzino Moreira
favoreceu na atuação e no direcionamento do processo. Isso ocorreu Técnico de Laboratório, atua na área de Construção de
nas estruturas de Geotecnia ou no concreto (Laboratório, Central Barragens desde 1987. Foi Chefe de Laboratório nas

de Concreto e produção de campo). Os gráficos abaixo mostram a usinas hidrelétricas UHE Serra da Mesa, UHE Lajeado,
UHE Peixe Angical, UHE Simplício, UHE Santo
evolução dos indicadores com o uso do AutoLab.
Antonio e UHE Belo Monte. Fez Supervisão Técnica
nas usinas hidrelétricas UHE Batalha, UHE Serra do

6. RESULTADOS OBTIDOS Facão, UHE Foz do Chapecó e UHE São Salvador.


Atualmente trabalha na área de Controle Tecnológico de Concreto,
Geotecnia, Sondagem e Instrumentação pela ELETROBRAS FURNAS.
Na aplicação do sistema houve diversos ganhos e melhorias, cuja
quantificação é de difícil mensuração. Abaixo segue relação dos
Bruno Cesar Oliveira Carleto
resultados obtidos, com a utilização do sistema AutoLab: Engenheiro Civil formado em 2011 pela Universidade
• Otimização de recursos e mão de obra; Estadual de Goiás, com pós-graduação em
• Confiabilidade e segurança na informação, rastreabilidade dos dados; Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio
• Acesso e acompanhamento em tempo real das informações e ensaios; Vargas em 2015.
• Tomada de decisões em menor tempo; Trabalha desde 2011 no Consórcio Construtor Belo

• Aumento da eficiência no ciclo de betoneiras; Monte (CCBM ) na função de Engenheiro do Controle


Tecnológico. Atualmente é o responsável pelo Controle
• Atuação mais expressiva no índice de perdas de concreto;
Tecnológico do empreendimento UHE Belo Monte.
• Redução de impactos em produtividade e consequente cumprimento
de prazos (cronograma);
Geovane Boaz dos Santos Mota
Engenheiro Civil formado em 2013 pela Faculdade de

7. ÁREAS DE APLICAÇÃO Rondônia (Faro). Possui experiência de oito anos em


obras de usinas hidrelétricas (UHE Santo Antonio e
UHE Belo Monte), atuando nas áreas de Planejamento,
Com o sistema AutoLab, temos as informações consolidadas em Engenharia e Instrumentação de Barragens e Diques.
um banco de dados concentrado, permitindo acesso rápido e em Atualmente é responsável pela Análise de Projetos das
tempo real às informações. Sua aplicabilidade é ampla em obras obras de Geotecnia da UHE Belo Monte pelo Consórcio
de infraestrutura, tais como usinas hidrelétricas, estradas, pontes e Construtor Belo Monte (CCBM).
barragens, entre outras obras. Além disso ele não tem seu uso limitado,
pois as informações que o sistema gerencia alimentam e contribuem Marcelo de Lima Foz Rodrigues
com o gerenciamento de outras áreas como Suprimentos, Produção, Engenheiro Civil formado em 1996 pela Universidade
Custos, Apropriação, Qualidade e Engenharia. Estadual de Maringá, com pós-graduação em
Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio
Vargas em 2004. Possui Certificado PMP pelo Project
8. PALAVRAS-CHAVE Management Institute em 2004. Trabalha desde 2007 na
Construções e Comércio Camargo Corrêa S.A. (CCCC).
AutoLab, Controle Tecnológico, concreto, geotecnia, ensaios Possui experiência de 20 anos em obras de Construção Civil (indústria,

laboratoriais, UHE Belo Monte. refinaria e termelétrica) e em usinas hidrelétricas (PCHs Plano Alto e Alto
Irani, UHE Foz do Chapecó e UHE Belo Monte).
Atualmente é o responsável pelas Gerências de Interface e Engenharia do
Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM).

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 121


CONCRETO, TECNOLOGIA E MATERIAIS

MINIMIZAÇÃO DE INFILTRAÇÕES
ENTRE CONCRETO DE PRIMEIRO
E SEGUNDO ESTÁGIOS PARA
TURBINAS TIPO BULBO
Anthony Rick Teixeira SANTOS | Engenheiro Civil, Consórcio Construtor Belo Monte - CCBM
Marcelo de Lima FOZ Rodrigues | Engenheiro Civil, Consórcio Construtor Belo Monte - CCBM

RESUMO ABSTRACT
Este trabalho apresenta o que foi idealizado e desenvolvido na execução da This paper presents what was designed and developed during the
UHE Pimental, com o intuito de minimizar as infiltrações de água que comumente execution of the Pimental Hydro Power Plant (HPP) to minimize the
percolam entre os concretos de primeiro e segundo estágios - os quais fazem parte water infiltration in the concrete case of the Stay Column that commonly
do envolvimento do Stay Column (pilar de sustentação da turbina tipo Bulbo). percolates between the first and second stages.
A UHE Pimental possui seis turbinas do tipo Bulbo, totalizando 233,1 MW de The Pimental HPP has 6 Bulb-type turbines totaling 233.1 MW of
potência instalada, um Vertedouro com 18 vãos e capacidade de 62.000 m³/s, duas installed capacity, a 62,000 m³/s spillway with 18 spans, two earth dams
barragens de terra e ainda um Sistema de Transposição de Peixes com um canal and a fish transposition system with a channel 1,200 meters long and a
de 1.200 metros de comprimento e um Sistema de Transposição de Embarcações. boat lock system.

122 WWW.CBDB.ORG.BR
1. INTRODUÇÃO

A
s percolações observadas na parede de montante do
poço de turbinas, nos blocos das Casas de Força com
turbinas tipo Bulbo, são recorrentes e foram observadas
nas usinas deste tipo construídas no Brasil: Igarapava, Baguari,
Queluz e Lavrinhas, Santo Antonio do Rio Madeira e Jirau [1].
Com a experiência adquirida na UHE Santo Antonio e a FIGURA 2 –
troca de conhecimentos com alguns profissionais envolvidos Parede esquerda –
poço da turbina
na construção da UHE Baguari, foi observado que na junta
de concretagem, prevista em projeto, entre os concretos de
primeiro e segundo estágios, sendo este último o concreto Diante da experiência acima, ao contatar profissionais da UHE
que envolve o Stay Colunm da turbina Bulbo, havia após Baguari foi percebido que a mesma manifestação patológica vista
o comissionamento com água da turbina, uma grande e na UHE Santo Antonio se apresentara naquela obra também,
sistemática infiltração de água. Esse fato resultava em diversos o que de certa forma acabou inferindo que as infiltrações
transtornos de interface de projeto por possibilitar a presença constatadas não foram geradas por execução inadequada por
da água junto aos equipamentos eletromecânicos. E, também, parte das equipes de produção. A causa raiz do problema poderia
devido aos consequentes aumentos de custos em função das estar atrelada à concepção de projeto, pois se notou que os pontos
injeções com resinas de poliuretano, necessárias para conter e de infiltrações para ambas as obras eram em seu maior volume e
estancar definitivamente as infiltrações. Para a construção da com reincidência na região do poço da turbina.
UHE Pimental, foram então estudadas formas de contenção da
percolação pela junta de concretagem, bem como foi analisado
quais materiais poderiam contribuir para minimizar ou evitar
as infiltrações ou ao menos minimizá-las.

2. CENÁRIO ANTERIOR
A UHE Santo Antonio possui 50 unidades geradoras, e,
em função do layout em que o empreendimento foi projetado,
propiciou a diversos profissionais envolvidos em sua construção
uma experiência pouco comum e valiosa para obras de hidrelétricas.
Ou seja, havia unidades em geração enquanto ainda se executam
escavações da fundação das últimas unidades previstas no projeto. FIGURA 3 –
Infiltrações de água – poço
Com isso, foi possível visualizar algumas manifestações patológicas da turbina
na estrutura de concreto após o comissionamento com água,
seguida da operação comercial das unidades geradoras iniciais.

FIGURA 1 –
Injeção de
poliuretano – poço da
turbina
FIGURA 4 – Equipe de injeção trabalhando – poço da turbina

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 123


MINIMIZAÇÃO DE INFILTRAÇÕES ENTRE CONCRETO DE PRIMEIRO E SEGUNDO ESTÁGIOS PARA TURBINAS TIPO BULBO

Aproveitando o cronograma da Usina de Santo Antonio, com 3. SOLUÇÕES ADOTADAS NA UHE


as primeiras unidades geradores entrando em operação, foram
verificados os problemas de infiltração no poço de turbinas. Na PIMENTAL
sequência, foi realizada uma pesquisa para descobrir quais eram
os fatores que contribuíam para essa manifestação patológica, Com a experiência adquirida nos projetos supracitados,
bem como para tentar entender o caminho de percolação, para execução da UHE Pimental, foram pensadas ações para
para executar a obstrução. As Figuras de 1 a 4 apresentam as mitigar as possíveis infiltrações que surgiriam advindas da junta
percolações observadas e algumas fases das injeções executadas. de concretagem entre primeiro e segundo estágios do concreto
Ao percorrer as unidades geradoras ainda em construção, envoltório do Stay Column.
na fase de concretagem, foi possível observar que a junta de A solução propõe a instalação de fitas hidroexpansivas entre os
concretagem (formada entre os concretos de primeiro e segundo concretos de primeiro e segundo estágios, criando três barreiras
estágios do envolvimento do pilar de sustentação da turbina impermeabilizantes com esse material. Uma fica à montante da
(Stay Column)) era um caminho propício para a condução da camada e duas a jusante, com as mesmas percorrendo todo o
água da face de montante até a face de jusante do concreto de perímetro da camada de concretagem (piso e paredes). Para cada
envolvimento do Stay Column. Isto resultava no aparecimento etapa de concretagem do Stay Column seria repetida essa aplicação.
das infiltrações no poço de turbina. Como segunda medida mitigatória estava a instalação de mangueiras
Outro ponto que se pode notar, foi que a metodologia executiva de pós-injeção para fazer a aplicação de calda de cimento antes
utilizada para a execução das formas contribuía para percolação do enchimento das máquinas para comissionamento. O objetivo
da água. Afinal, foi empregado para execução do concreto de era minimizar possíveis injeções com resina de poliuretano (este
primeiro estágio formas metálicas construídas in loco com a último produto muito mais oneroso). O ponto de injeção (início
utilização de tela expandida e vergalhões para estruturar. Por da mangueira) seria na face jusante da camada de concreto do Stay
sua vez, essa forma era perdida em cada concretagem, ou seja, Column (região do poço de turbina) e a mangueira seguiria até o
a mesma não era removida e não era realizado o tratamento da eixo da camada. Foram utilizados os mesmos critérios que as fitas
superfície do concreto de primeiro estágio para receber o de hidroexpansivas, ou seja, percorrendo todo o perímetro da camada
segundo estágio. Esse tipo de forma por utilizar a tela expandida (piso e paredes), repetindo essa aplicação para cada etapa da
acaba gerando um concreto poroso próximo a sua face. Ao concretagem. A Figura 6 apresenta esquematicamente a colocação
vibrar o concreto parte da argamassa escorre pelas aberturas das fitas e das tubulações de injeção.
da tela metálica expandida. Assim, a água
aproveitará essa região mais permeável
do concreto para percolar, chegando até
o poço da turbina. A Figura 5 apresenta o
conjunto de formas na região da percolação
e seu caminho provável.

< FIGURA 5 –
Caminho de
percolação
da água na
junta de
concretagem

FIGURA 6 >
Planta da
proposta
das fitas
hidroex-
pansivas e
mangueiras
de pós-
injeção

124 WWW.CBDB.ORG.BR
Além disso, seria prevista a utilização da metodologia de adaptação aos substratos irregulares e aos diferentes tipos de
forma deslizante para execução do concreto de primeiro estágio materiais, além de suas características tixotrópicas, permitindo
na região do Stay Column para minimizar a possibilidade de sua aplicação em superfícies horizontais e verticais.
existir um concreto mais poroso nesse trecho, o que facilitaria
a percolação da água de montante para jusante.

4. PESQUISA DOS MATERIAIS

Para utilização entre as juntas de concretagem de primeiro


e segundo estágios foram pesquisados os materiais a serem
instalados, visando o melhor desempenho do resultado que era
esperado (estanqueidade da estrutura).

4.1. FITA HIDROEXPANSIVA FIGURA 7 – Aspecto da amostra 2 após ensaio

Para a seleção da fita hidroexpansiva a ser aplicada, foi


realizado uma pesquisa de mercado dos produtos existentes
e disponíveis. Em seguida, um ensaio foi feito com algumas
amostras de produtos selecionados para avaliar o desempenho
de cada um dos materiais. O ensaio consistiu em medir a
geometria das amostras, comprimento, largura e espessura, em
seu estado inicial. Depois, as amostras foram colocadas na água
durante sete dias. Após este período, foram realizadas novas
medições de suas geometrias. Na Tabela 1 são apresentados os
TABELA 2 – Características das amostras
resultados desse ensaio.
Cabe ressaltar que a amostra 3 não possui resultados para a
coluna espessura em função de sua geometria triangular, sendo 4.2. MANGUEIRA PARA PÓS-INJEÇÃO
sua “largura” e “espessura” as mesmas. Outro ponto relevante
a respeito dos resultados do ensaio é que apesar da amostra 2 Inicialmente se pensou em utilizar tubos de mangueiras flexíveis
ter obtido o maior aumento de espessura quando submersa, convencionais para a realização da pós-injeção,. Porém, após a
a mesma apresentou um aspecto desfavorável no quesito realização de uma pesquisa de mercado, se identificou um produto
integridade, vide Figura 7. que poderia ter melhor desempenho quando das futuras injeções
Foi então definido que a fita hidroexpansiva a ser utilizada para preenchimentos dos eventuais vazios entre concretos de
seria a da amostra 3, levando em conta também que a aplicação primeiro e segundo estágios. Dessa forma, ficou definida a utilização
dessa última possuía um diferencial. Seu fornecimento é feito de mangueiras tipo Fuko, sendo a mesma composta por uma parte
em cartuchos e para sua aplicação basta extrusar o conteúdo central feita de PVC perfurado e envolto por um filme plástico
com uma pistola (similar a aplicação de silicone), o que torna expandido com pequenas aberturas escalonadas para permitir a
muito prática a execução do serviço. Outro item fundamental passagem dos produtos de injeção (água, calda de cimento, resina de
para sua escolha foi sua facilidade e eficiência quanto à poliuretano, etc), conforme Figura 8.

TABELA 1 – Ensaio de desempenho - fita hidroexpansiva

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 125


MINIMIZAÇÃO DE INFILTRAÇÕES ENTRE CONCRETO DE PRIMEIRO E SEGUNDO ESTÁGIOS PARA TURBINAS TIPO BULBO

FIGURA 8 – Mangueira Fuko para pós-injeção FIGURA 9 – Planejamento tridimensional detalhado das etapas de serviços

5. PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES


Antes do início das atividades relacionadas à concretagem do
segundo estágio do Stay Column, foi elaborado um planejamento
detalhado de cada etapa, incluindo todos os serviços relacionados tais
como armação, forma, cimbramento, embutidos, limpeza, interfaces
com montador da turbina, concreto, cura e desforma, conforme
mostrado nas Figura 9 e 11.
FIGURA 10 – Treinamento com as equipes de produção de campo
A partir do planejamento elaborado,
foram realizados diversos treinamentos
com as equipes de campo que estariam
envolvidas na atividade, de maneira a
garantir que aquilo que se havia previsto
seria de fato executado. Todas as equipes
participaram do treinamento, bem
como foram envolvidos os responsáveis
pela empresa de montagem
eletromecânica, fornecedora dos
equipamentos eletromecânicos e da
fiscalização pelo cliente. O esquema
foi montado para atender todas as
especificações, detalhes e cuidados para
que quando houvesse a execução do
concreto envoltório do Stay Column, as
informações fossem transmitidas para
as pessoas que realizariam o trabalho
- tudo para garantir a qualidade dos
serviços (ver Figura 10).
FIGURA 11 – Etapas de aplicação das fitas hidroexpansivas e mangueiras de pós-injeção

126 WWW.CBDB.ORG.BR
6. EXECUÇÃO dentro do bloco. A facilidade que o produto demonstrou em sua
aplicação foi fundamental para garantir a qualidade final.
O concreto de primeiro estágio foi executado conforme Para a aplicação das mangueiras de pós-injeção houve algumas
metodologia prevista, ou seja, foram utilizadas formas deslizantes dificuldades. O produto parece simples de ser aplicado, porém
para garantir um melhor acabamento para a junta de concretagem. existe uma série de detalhes e particularidades do sistema Fuko
Porém, ainda assim, foi preciso realizar um tratamento mais que não foram observadas, como por exemplo:
rigoroso. Foram montados andaimes para executar o apicoamento • Inicialmente (nas duas primeiras unidades geradoras)
e rompimento do concreto de primeiro estágio, de forma a garantir se instalou a mangueira com uma das extremidades
uma melhor aderência com o concreto de segundo estágio. terminando dentro da camada de concreto, o que não
A aplicação da fita hidroexpansiva foi efetuada conforme possibilita a reinjeção da mangueira.
planejado, mostrando o produto escolhido versatilidade, pois • Outro ponto relevante é a montagem das extremidades,
a densidade de armação para as camadas de concretagem do já que não foram seguidas as recomendações intrínsecas
envoltório do Stay Column é muito grande, além dos diversos do fabricante, comprometendo completamente a
embutidos metálicos, o que dificulta qualquer tipo de serviço funcionalidade do sistema.

FIGURA 12 – Concreto de primeiro estágio executado com forma deslizante FIGURA 14 – Aplicação da mangueira de pós-injeção

FIGURA 13–- Andaime montado para FIGURA 15 – Dificuldade dos trabalhos devido a FIGURA 16 – Aplicação da fita hidroexpansiva
tratamento do concreto densidade da armadura

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 127


MINIMIZAÇÃO DE INFILTRAÇÕES ENTRE CONCRETO DE PRIMEIRO E SEGUNDO ESTÁGIOS PARA TURBINAS TIPO BULBO

O concreto de segundo estágio seguiu rigorosamente o para eliminar todas as infiltrações que surgiriam. O resultado
planejamento, sendo realizado através da metodologia de obtido atingiu redução em 75% da incidência de infiltrações,
forma deslizante. Os desníveis tiveram limite de no máximo utilizando apenas 180 litros de resina de poliuretano para deixar
40 cm com velocidade de concretagem em 12 cm/h, o que a região do poço de turbina da unidade geradora estanque.
auxiliou no não surgimento de fissuras nas camadas em
questão e evitou a infiltração de água. As Figuras de 12 a 16
ilustram o processo executivo. 8. PALAVRAS-CHAVE

Infiltração, concreto, UHE Pimental, turbina Bulbo, Stay Column.


7. CONCLUSÕES
Com as experiências adquiridas em outros empre- 9. AGRADECIMENTOS
endimentos, foi possível estudar o comportamento das
estruturas de concreto no que tange à sua estanqueidade, na Agradecemos pela contribuição das seguintes pessoas:
região do poço de turbina de usinas hidrelétricas com turbinas - Ao eng. Oscar Bandeira da empresa Norte Energia S.A.
tipo Bulbo. pelo incentivo para a produção desse artigo,
Na UHE Pimental houve a oportunidade de aplicar algumas - Ao eng. Walton Pacelli pela insistente cobrança para que a
soluções para tentar minimizar as infiltrações nessa região, experiência adquirida na UHE Pimental fosse documentada e
geradas a partir (principalmente) da junta de construção entre transmitida para a comunidade de barragens.
os concretos de primeiro e segundo estágios.
De uma forma geral, as ações implantadas foram
satisfatórias, fato esse observado pelos consultores da empresa 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
concessionária do empreendimento (Norte Energia S.A.) [2],
com exceção da aplicação da mangueira de pós-injeção. O [1] Andrade, W. P. Relatório da 9ª Reunião da Junta Setorial
que se pode concluir na aplicação da mangueira é que para de Consultoria do Projeto Belo Monte. Belo Horizonte, 07 de
a utilização do sistema Fuko é necessário treinamento muito agosto de 2014.
específico e detalhado, já que sua aplicação requer uma [2] Pinto, N. L. S.; Ávila, J. P.; Cruz, P. T.; Andrade, W. P. Relatório
supervisão pari passu do processo - existem detalhes que da 15ª Reunião da Junta Plena de Consultoria do Projeto Belo
comprometem todo o sistema caso não sejam seguidos. Monte. Altamira, 8 de abril de 2016.
Quanto ao desempenho de estanqueidade, era previsto, [3] Sika. Ficha de Produto SikaFuko Eco 1. Osasco, 28 de
inicialmente, e com base nas estruturas já concluídas e obras novembro de 2014.
anteriores, que seriam necessários em torno de 700 litros de [4] Sika. Ficha de Produto SikaSwell S-2. Osasco, 02 de agosto
resina de poliuretano (entre espuma e gel) por unidade geradora de 2015.

Anthony Rick Teixeira Santos Marcelo de Lima Foz Rodrigues


Engenheiro Civil formado em 2012 pela Faculdade de
Engenheiro Civil formado em 1996 pela Universidade Estadual
Rondônia (Faro), com pós-graduação em Engenharia de
de Maringá, com pós-graduação em Gerenciamento de Projetos
Túneis pela Faculdade Redentor em 2015. Trabalha desde 2006
pela Fundação Getúlio Vargas em 2004. Possui Certificado PMP
na Construtora Norberto Odebrecht S.A.
pelo Project Management Institute em 2004. Trabalha desde 2007
Possui mais de 10 anos de experiência em obras de usinas
na Construções e Comércio Camargo Corrêa S.A. (CCCC).
hidrelétricas (PCH São Lourenço, UHE Santo Antonio,
Possui experiência de 20 anos em obras de Construção Civil
UHE Pimental e UHE Belo Monte), tendo atuado nas áreas
(indústria, refinaria e termelétrica) e em usinas hidrelétricas (PCHs Plano Alto e
de Comercial, Custos, Administração, Qualidade, Controle Tecnológico, Topografia,
Alto Irani, UHE Foz do Chapecó e UHE Belo Monte).
Produção e Engenharia.
Atualmente é o responsável pelas Gerências de Interface e Engenharia do Consórcio
Atualmente é responsável pela Coordenação da área de Engenharia de Projetos da
Construtor Belo Monte (CCBM).
UHE Belo Monte pelo Consórcio Construtor Belo Monte.

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HIDRÁULICA E VERTEDORES

UHE BELO MONTE -


SÍTIO PIMENTAL E
O DESVIO DO XINGU
Aurélio LOPES | Engenheiro Civil – PCE – Projetos e Consultoria de Engenharia Ltda
Libério Alves SILVA | Engenheiro Civil – PCE – Projetos e Consultoria de Engenharia Ltda
Anderson Moura FERREIRA | Engenheiro Civil – PCE – Projetos e Consultoria de Engenharia Ltda

RESUMO ABSTRACT
O sítio Pimental, localizado no rio Xingu, 40 km a jusante da cidade The sítio Pimental, located on the Xingu River, 40 Km downstream of the
de Altamira (PA), é a denominação do conjunto de obras que barram as city of Altamira (PA), is the name of the set of works that bar the waters and
águas e as direcionam, através do Canal de Derivação, para a Casa de direct them, through the Derivation Channel, to the Main Powerhouse of the
Força Principal da Usina Hidrelétrica de Belo Monte - com capacidade Belo Monte Hydroelectric Power Plant, which has a total installed capacity
instalada de 11.000 MW. of 11,000 MW.
Este artigo apresenta as características das principais estruturas do sítio This article presents the characteristics of the main structures of the sítio
Pimental e suas particularidades, bem como trata do desvio do rio Xingu. Pimental, its peculiarities and also deals with the deviation of the Xingu River.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 129


UHE BELO MONTE - SÍTIO PIMENTAL E O DESVIO DO XINGU

1. INTRODUÇÃO Nos trechos sobre as ilhas, a barragem tem seção em terra


homogênea, com altura média de 14,00 m, apoiada em solos

O
sítio Pimental é o conjunto de obras, localizado antes aluvionares, tendo sido necessária a implantação de uma trincheira
da Volta Grande do rio Xingu, que efetivamente barra de vedação (cut-off) assente em rocha, para interceptação do fluxo
o rio. Neste local começa o Reservatório Principal, das águas de percolação pelos referidos solos.
com área de 386 km2, o qual permite que as águas do Xingu Nos trechos das ilhas Pimental e Marciana, a trincheira de
sejam direcionadas para o Canal de Derivação formando o vedação foi deslocada para montante da barragem, onde as
Reservatório Intermediário com área de 130 km2. A área de camadas aluvionares tem menos espessura.
reservatório totaliza 516 km2 com nível de água máximo normal Nos trechos dos canais,a altura média é de 23,00 m e está
na El. 97,00. Então, finalmente, se chega ao sítio Belo Monte. apoiada em rocha.
Ali está localizada a Casa de Força Principal do Complexo, com No trecho junto às estruturas de concreto, a seção é de
potência instalada de 11.000 MW[1]. enrocamento com núcleo argiloso central, com fundação em
rocha sã.
Na Figura 2(a) é apresentada a seção típica dos trechos sobre
2. ARRANJO GERAL DAS OBRAS EM as ilhas Pimental e Marciana.

PIMENTAL
4. BARRAGEM DO CANAL DIREITO
Neste sítio, o barramento é formado por estruturas de terra e
de concreto, tendo um Vertedouro com capacidade para escoar A Barragem do Canal Direito, localizada no trecho de maior
62.000m³/s e uma Casa de Força Complementar com seis turbinas profundidade do rio Xingu, com uma extensão de 714,00 m,
Bulbo com potência unitária de 38,85 MW. A vazão mínima de 700m3/s tem seção de terra/enrocamento no trecho central, apoiada em
na Volta Grande do rio Xingu, obrigatória em termos ambientais, é rocha sã, com altura máxima de 41,00 m e de terra homogênea
excepcionalmente garantida pelo Vertedouro, sendo normalmente nas margens - apoiada em solo residual de migmatito. A
mantida pela operação da Casa de Força Complementar, o que a torna jusante, a barragem também se apoia na Ensecadeira de Jusante,
uma das maiores casas de forças ecológicas do mundo, com 233,1 MW incorporando-a parcialmente.
de potência instalada. Para mitigação de impactos socioambientais, Na Figura 2(b) é apresentada a seção típica da Barragem do
além das turbinas Bulbo, foram projetados um eficiente Sistema de Canal Direito e as Ensecadeiras da 2º fase de Desvio.
Transposição de Embarcações e um Sistema de Transposição de Peixes.
Os estudos definiram a escolha de uma Ensecadeira Barragem para o
desvio de segunda etapa, agilizando assim os prazos de construção e 5. BARRAGEM DE LIGAÇÃO DA ILHA
garantindo com segurança o início do enchimento do reservatório
e da geração de energia, sem a necessidade de conclusão de todas as
DA SERRA
estruturas em uma primeira etapa.
A Barragem de Ligação da ilha da Serra, que interliga as
As principais estruturas de barramento são: Barragem Lateral
estruturas de concreto com a Barragem do Canal Direito,
Esquerda, Barragem do Canal Direito, Barragem de Ligação da
apresenta uma seção de terra homogênea e está assente sobre o
ilha da Serra, Casa de Força Complementar com Tomada d’Água
solo residual de migmatito que ocorre na ilha da Serra.
incorporada, Vertedouro e Subestação.
Na Figura 1 é apresentado o Arranjo Geral das estruturas do sítio
Pimental. 6. CASA DE FORÇA COMPLEMENTAR/
TOMADA D’ÁGUA
3. BARRAGEM LATERAL ESQUERDA
A Casa de Força Complementar possui seis unidades geradoras
A Barragem Lateral Esquerda (BLE), que interliga as estruturas de tipo Bulbo com potencia unitária de 38,85 MW, totalizando uma
concreto com a ombreira esquerda, tem extensão de 5.100 m. Ela passa potência instalada de 233,1 MW. Na lateral esquerda da Casa de
sobre três grandes ilhas (Marciana, Pimental e do Forno), sendo que o Força está disposta a Área de Montagem e a Área de Descarga dos
trecho sobre a ilha Pimental corresponde a uma extensão de 2.900 m. equipamentos eletromecânicos. Este espaço propicia também acesso

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FIGURA 1 – Arranjo Geral

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 131


UHE BELO MONTE - SÍTIO PIMENTAL E O DESVIO DO XINGU

FIGURA 2 – Seções típicas das barragens

ao interior da estrutura. Na lateral direita se encontra o Muro Divisor curta de dissipação. O Vertedouro possui duas pontes de serviço,
de ligação com o Vertedouro, sendo que neste bloco estão situados uma a montante com tabuleiro na El. 100,00 e outra a jusante com
os poços de esgotamento e drenagem da Casa de Força. Integrada tabuleiro na El. 98,00.
na Casa de Força está a Tomada d’Água, formando assim uma única Para atender ao cronograma de obras e aumentar a velocidade
estrutura. de construção, a elaboração do projeto tomou em conta a utilização
O deck principal da Tomada d’Água está situado na El. 100,00 e de formas deslizantes, pré-montagem de armaduras e estruturas
coincide com a crista das diversas estruturas do barramento. O deck de concreto pré-moldadas.
de jusante fica na El. 98,00.
Para atender ao cronograma de obras e aumentar a velocidade
de construção, a elaboração do projeto tomou em conta a utilização
8. SUBESTAÇÃO PIMENTAL
de formas deslizantes, pré-montagem de armaduras e estruturas de Esta subestação, do tipo convencional, ao tempo, é composta
concreto pré-moldadas. pelos setores 230, 69 e 13,8 kV e por instalações complementares.
Na Figura 3 é apresentada uma seção transversal do conjunto O escoamento da energia gerada no sítio Pimental é feito
TA/CF. através da linha de transmissão em 230 kV, circuito simples,
entre a Subestação de Pimental e a Subestação de Altamira
(Eletronorte), com extensão aproximada de 65 km.
7. VERTEDOURO
O Vertedouro está localizado à direita da Casa de Força 9. SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO
Complementar e foi dimensionado para descarregar uma cheia
de 62.000 m3/s, com o Reservatório na El. 97,50 (nível máximo DE PEIXES E SISTEMA DE
maximorum). É provido de 18 vãos com 20,00 m de largura TRANSPOSIÇÃO DE EMBARCAÇÕES
cada e crista da ogiva na El. 76,00. Sua vazão é controlada por
comportas tipo segmento, sendo que a montante e jusante estão Para mitigação de impactos socioambientais, foram projetados e
previstas comportas ensecadeiras para manutenção. A dissipação construídos um Sistema de Transposição de Peixes e um Sistema de
da energia das vazões vertidas é feita por meio de uma bacia Transposição de Embarcações, descritos a seguir em linhas gerais:

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FIGURA 3 – Seção Tomada d’Água / Casa de Força

9.1 - SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO DE PEIXES (STP) as condições naturais de escoamento no rio. A estrutura de
entrada dos peixes está localizada junto ao Canal de Fuga e é
O Sistema de Transposição de Peixes, projetado de acordo com provida de uma estrutura de controle por comporta mitra para
as recomendações do Programa de Conservação da Ictiofauna, atração dos peixes. A estrutura de saída fica junto ao barramento,
está localizado à esquerda da Casa de Força Complementar, em posição afastada da Tomada d’Água, e é provida de uma
parcialmente apoiado no talude de jusante da Barragem Lateral estrutura para controle de fluxo e do monitoramento dos peixes.
Esquerda. Compreende um canal de derivação que busca simular Na Figura 4 é apresentado o Arranjo Geral do STP.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 133


UHE BELO MONTE - SÍTIO PIMENTAL E O DESVIO DO XINGU

FIGURA 4 – Sistema de Transposição de Peixes

9.2 - SISTEMA DE TRANSPOSIÇÃO DE localizado entre as ilha Marciana e da Serra, foi fechado por três
EMBARCAÇÕES (STE) ensecadeiras, sendo uma a montante e duas a jusante - entre as ilhas
Marciana e do Reinaldo e entre esta e a da Serra. Para construção
O Sistema de Transposição de Embarcações, localizado da Barragem Lateral Esquerda, foram executadas ensecadeiras para
na região da ombreira direita, se destina a transposição das fechamento dos canais entre as ilhas Marciana, Pimental e do Forno.
embarcações que normalmente trafegavam neste trecho do rio Assim, toda a água do rio Xingú foi desviada para o Canal Direito,
Xingu antes da construção da UHE Belo Monte. entre a ilha da Serra e a ombreira direita.
Para a transposição dos barcos, foi projetado e construído um A cheia máxima de desvio, com tempo de recorrência de 100 anos,
píer provisório a montante do barramento (que operou durante foi de 40.262 m³/s.
a primeira fase de desvio do rio), um píer definitivo a montante Na Figura 6 é apresentado um arranjo das referidas ensecadeiras.
e um píer definitivo a jusante do barramento.
O Sistema também possui as seguintes instalações: Estação 10.2 - 2ª FASE DE DESVIO
de Apoio aos Passageiros, Estação de Controle Operacional,
Estacionamento, Oficina, Almoxarifado, Casa de Diesel, Sistema Na segunda fase de desvio do rio, para permitir a construção
Incêndio, Reservatório e Estação de Tratamento de Água. da Barragem do Canal Direito, este canal foi fechado por duas
Na figura 5 é apresentado o Arranjo Geral do STE. ensecadeiras, a montante e a jusante, sendo as águas desviadas
para o Vertedouro já praticamente concluído nesta etapa da obra.
Tendo em vista o curto prazo para construção da Barragem
10. DESVIO DO RIO
do Canal Direito, com elevado risco de atraso para o início da
10.1 - 1ª FASE DE DESVIO geração, se optou pela construção, em condições de compactação
diferenciadas em relação ao convencional, de uma Ensecadeira
Na primeira fase de desvio do rio Xingu, para permitir a Barragem a montante, com a crista na elevação 99,00m, apenas
construção de todas as estruturas de concreto, o Canal Central, 1,00m abaixo da crista da barragem definitiva. Esta ensecadeira,

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FIGURA 6 – Desvio do rio – 1ª Fase – Arranjo Geral

FIGURA 5 – Sistema de Transposição de Embarcações

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 135


UHE BELO MONTE - SÍTIO PIMENTAL E O DESVIO DO XINGU

FIGURA 7 –
Desvio do rio – 2ª
Fase – Arranjo Geral

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com altura máxima de 40,00m, extensão de 923,00m e um
14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
volume de 2.277.000,00m³, permitiu iniciar o enchimento e a
entrada em operação das primeiras turbinas no prazo previsto
[1] Intertechne, Engevix, PCE. Usina Hidrelétrica de Belo Monte – Projeto Básico
no cronograma.
Consolidado. 2012.
Na Figura 7 está apresentado o arranjo das ensecadeiras
de 2ª fase. As seções típicas estão apresentadas na Figura 4,
referente à Barragem do Canal Direito. Aurélio Lopes
Graduado em Engenharia Civil com especialização em

11. CONCLUSÕES Mecânica dos Solos e Fundações (1972).


Possui experiência de 44 anos em Projetos Geotécnicos de

Foram apresentadas neste artigo as principais características barragens, tendo atuado nas empresas IESA, ENGEVIX,

das obras de barramento do rio Xingú no local denominado ENGE-RIO, SONDOTÉCNICA e PCE.

de sítio Pimental. O lugar é composto pelo único Vertedouro Responsável pela Supervisão Geotécnica em Estudos de

da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, com capacidade Viabilidade, Projeto Básico e Projeto Executivo, ressaltando-se os seguintes

para 62.000 m3/s, uma Casa de Força Complementar, com projetos: UHE Belo Monte, UHE Picada, UHE Ilha dos Pombos, UHE Sobragi,

potência instalada de 233,1 MW, por três barragens de terra UHE Balbina, PM Baba (Equador).

e enrocamento, tendo a Barragem Lateral Esquerda uma Atualmente é como Consultor Geotécnico junto às empresas PCE Engenharia

extensão de 5.100 m, um Sistema de Transposição de Peixes e e BVP Engenharia.

um Sistema de Transposição de Embarcações.


Convém ressaltar que a Casa de Força Complementar se Libério Alves Silva
destina à geração de energia apenas com as águas destinadas Engenheiro Civil formado em 1975 pela Universidade
à vazão ecológica no trecho denominado de Volta Grande do Santa Úrsula.
Xingú, entre o sítio Pimental e o Canal de Fuga da Casa de Possui experiência de 34 anos em Projetos Executivos de
Força Principal. Usinas Hidrelétricas no Brasil e no exterior.
O Sistema de Transposição de Peixes foi concebido com a Tendo atuado em diversos Projetos Executivos de Usinas
finalidade de reduzir o impacto na migração de peixes ao longo Hidrelétricas, tais como: Samuel, Manso, Serra da Mesa,
do rio. San Francisco e Baba, sendo esses dois últimos no Equador.
O Sistema de Transposição de Embarcações, em operação Coordenou o Projeto Básico da UHE Belo Monte e atualmente coordena o
desde a época do desvio de 2ª fase, permite o livre trânsito das Projeto Executivo Civil da Usina de Belo Monte.
embarcações das populações ribeirinhas, silvícolas ou não,
reduzindo substancialmente o impacto do empreendimento na
vida local. Anderson Moura Ferreira
Graduado em Engenharia Civil com ênfase em Fundações

12. PALAVRAS-CHAVE e Estruturas pela Universidade do Estado do Rio de


Janeiro (2007). É mestre também pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (2010).
Belo Monte, sítio Pimental, desvio do rio Xingu
Atualmente é Engenheiro Civil Geotécnico da PCE. Tem
experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em
13. AGRADECIMENTOS Mecânicas dos Solos, tendo atuado no Projeto Básico
Consolidado e Executivo da UHE Belo Monte e em outros projetos na área de
Os autores agradecem aos Engenheiros José Eduardo Moreira e Energia e Rejeitos. Recebeu o prêmio Oscar Niemeyer (concedido pelo CREA/
Ronei Carvalho pelos ensinamentos ao longo do desenvolvimento RJ) de reconhecimento técnico-científico pela dissertação de mestrado (2011).
do projeto. E, também, a colaboração dos Engenheiros Breno Sales,
Daniela Louvain e Othon Rocha.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 137


NORMAS EDITORIAIS

1. INTRODUÇÃO
Os trabalhos a serem apresentados ao Conselho Editorial da A página de rosto deve ser limitada a uma única página, ou seja, todas
Revista Brasileira de Engenharia de Barragens do CBDB deverão as informações necessárias devem estar nela contidas (título, nome e
ser inéditos, não tendo sido antes publicados por quaisquer meios. cargo dos autores, Resumo e Abstract).
Apenas profissionais qualificados deverão ser aceitos como autores. 7.1 - Cabeçalho
Profissionais recém-formados ou estagiários poderão ser aceitos, O Cabeçalho, a ser apresentado apenas na página de rosto, está
desde que participem como colaboradores. indicado no exemplo a seguir. A fonte é Arial 10, iniciais em maiúscula
ou versalete (conforme a versão do Word 97 for Windows ou superior).
2. EXTENSÃO DO TRABALHO Na primeira linha deve ser digitado: Comitê Brasileiro de Barragens.
Os trabalhos, para serem aceitos para divulgação, deverão ter no Na segunda linha: Revista Brasileira de Engenharia de Barragens do
máximo dez páginas, incluindo as ilustrações, esquemas e o sumário CBDB.
em português e inglês. Os trabalhos que excederem este número de Na terceira linha: a data; exemplo: 11 de abril de 2013.
páginas serão devolvidos aos autores para sua eventual redução. 7.2 – Título do trabalho
O título do trabalho deve ser digitado em letra maiúscula, negrito e
3. TIPO DE ARQUIVO MAGNÉTICO alinhamento centralizado. Este é o único item do trabalho que recebe
Os trabalhos a serem recebidos pelo Conselho Editorial da Revista negrito.
Brasileira de Engenharia de Barragens do CBDB deverão estar em 7.3 – Autores e coautores
formato Word 97 for Windows ou superior. Não serão recebidos Os nomes dos autores deverão ser apresentados com apenas um
arquivos em separado, isto é, com o texto e as ilustrações em arquivos dos sobrenomes todo em letras maiúsculas. Abaixo do nome de cada
diferentes. As ilustrações deverão ser agrupadas no corpo dos um dos autores deverá ser indicado, com letras maiúsculas iniciais,
trabalhos em formato JPEG. o título profissional (Consultor, Título Universitário, Diretor Técnico,
Coordenador Geral, etc) e ao lado, separado por um traço, a empresa
4. NÚMERO DE AUTORES E COAUTORES ou instituição do autor (ver também item 4).
Os autores e coautores estão limitados a um número máximo de 7.4 – Resumo / Abstract (item sem numeração)
quatro, ou seja, um autor e até três coautores. Os trabalhos com mais Cada trabalho deverá ser iniciado por um resumo em português, não
de quatro participantes serão devolvidos aos autores para atendimento excedendo dez linhas, seguido de um resumo (também de no máximo
a esta diretriz. Caso haja mais colaboradores no trabalho, os mesmos dez linhas) em inglês (Abstract), para permitir seu cadastramento por
poderão ser citados em Agradecimentos (ver item 10). organismos internacionais. Para auxiliar na versão dos resumos para o
inglês, consultar os dicionários técnicos do CBDB/ICOLD disponíveis
5. CONFIGURAÇÃO DE PÁGINA no site www.cbdb.org.br.
A configuração de página deve obedecer a seguinte formatação: Serão devolvidos os trabalhos que não apresentarem adequadamente
Margens: o Resumo e o respectivo Abstract.
- Superior: 2,5 cm; Quando houver necessidade, o Resumo e o Abstract poderão ter
- Inferior : 2,0 cm; mais que dez linhas, desde que caibam na página de rosto e não haja
- Esquerda: 2,5 cm; discordância com os demais itens desta diretriz.
- Direita: 2,5 cm;
- Medianiz: 0 cm. 8. ITEMIZAÇÃO GERAL
A partir da margem: Os itens principais do trabalho deverão ser numerados sequencialmente,
- Cabeçalho: 1,27 cm; com a Introdução recebendo o N° 1 e as Referências Bibliográficas
- Rodapé: 1,27 cm. recebendo o número final. Estes deverão ser digitados com letra
Tamanho do Papel: maiúscula e centralizados na linha, com recuo esquerdo de 0,50 cm.
- A4 (21 x 29,7 cm); Exemplo:
- Largura: 21 cm; 1. INTRODUÇÃO
- Altura: 29,7 cm; Os itens secundários serão alinhados sempre à esquerda, com a
- Orientação: retrato em todo o trabalho. designação sequencial, por exemplo: 2.1, 2.2, 2.3, etc., em minúsculo
com apenas a primeira letra em maiúsculo, usando a formatação em
6. PADRÃO DE LETRAS E ESPAÇAMENTO maiúscula ou versalete, conforme a versão do Word 97 for Windows
Os trabalhos deverão ser digitados em arquivo Word 97 for Windows ou superiror. Caso haja a necessidade de nova itemização, a mesma
ou superior, com as seguintes formatações de fonte: deverá ser, por exemplo: 3.1.1, 3.1.2, 3.1.3, etc., em itálico, com as
Fonte: letras minúsculas e somente a primeira letra maiúscula.
- Arial; Exemplo:
- Tamanho 12 em todo o trabalho. 2.1 Item Secundário
Parágrafo: 2.1.1 Item Terciário
- Espaçamento entre linhas: simples; O primeiro parágrafo, após cada item ou subitem, deverá ser iniciado
- Alinhamento: justificado; uma linha após o título do item (ou subitem), com alinhamento justificado.
- Marcadores como o desta linha (traço) poderão ser utilizados sempre A primeira palavra deverá começar junto à margem esquerda.
que necessário. Entre um parágrafo e outro deverá sempre ser deixada uma linha de
espaçamento, sendo que entre a última linha do último parágrafo e o
7. PÁGINA DE ROSTO item seguinte deverão ser deixadas duas linhas.
Apenas na primeira página deverá constar o Cabeçalho (ver item 7.1).
O título do trabalho deverá ser escrito a 60 mm do topo (configurar 9. CONCLUSÕES
apenas esta página com margem superior de 6 cm), em letra Neste item o(s) autor(es) deverá(ão) apresentar de forma bem sucinta as
maiúscula, em negrito e centralizado na página. Na sequência deverão principais conclusões ou recomendações que resultaram de sua pesquisa,
ser apresentados os nomes dos autores, com os respectivos títulos trabalho ou relato de um determinado evento técnico. (Adaptado das
profissionais e instituição (ver item 7.3). Em seguida, o Resumo e o “Diretrizes para apresentação de trabalhos para seminários, simpósios
Abstract (ver item 7.4). e workshops organizados pelo CBDB” do XXIX Seminário Nacional de

138 WWW.CBDB.ORG.BR
Grandes Barragens (SNGB), Porto de Galinhas, PE, 2013). em cores, sempre que necessário. Caso sejam utilizadas cores
Trabalhos sem uma conclusão final serão devolvidos aos autores para para representar desenhos e figuras, deverá haver convenções de
as devidas complementações. representação que permitam identificações independentes da cor.
As ilustrações poderão ser apresentadas com a orientação retrato ou
10. AGRADECIMENTOS (item opcional) paisagem, ou seja, poderão ser giradas na página de forma a mudar a
A critério do autor, poderão ser apresentados agradecimentos às sua orientação. A configuração da página deve permanecer sempre
empresas e/ou pessoas que contribuíram para a elaboração do orientada como retrato para garantir a posição do rodapé uniforme em
trabalho, sempre após o item Conclusões. todo o documento (ver item 5). Desta forma, o título da ilustração também
permanecerá com a orientação retrato. Não serão aceitos trabalhos com
11. PALAVRAS-CHAVE as ilustrações em separado ou em outro programa que não seja o Word 97
Após os Agradecimentos, deverá ser apresentada uma relação de no for Windows ou superior.
mínimo três e no máximo cinco palavras-chave, para possibilitar a
localização do trabalho em função das mesmas na versão eletrônica 14. TABELAS
dos anais (CD). Caso não haja Agradecimentos, o item Palavras-Chave As tabelas deverão ser incorporadas ao texto, não devendo ser
deverá ser apresentado após o item Conclusões. apresentadas em separado. A tabela deverá ter alinhamento centralizado.
O tamanho da fonte pode ser inferior ao especificado para todo o trabalho
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (Arial 12), desde que o conteúdo permaneça legível e a fonte não seja
O item Referências Bibliográficas é o último. Ele encerra o trabalho. inferior a Arial 7. Todas as referidas tabelas deverão ser identificadas pela
Deverá estar posicionado após o item Palavras-Chave. O padrão para palavra “TABELA” e numeradas sequencialmente. A palavra “TABELA”,
a apresentação das referências bibliográficas é o mesmo da Comissão sua numeração e título deverão ser apresentados abaixo da mesma e
Internacional das Grandes Barragens (ICOLD), conforme diretrizes a também centralizados. O título das tabelas deverá ser escrito com a
seguir, com exemplo ilustrativo: primeira letra em maiúsculo. A referência a elas no texto do trabalho deve
Todas as referências bibliográficas deverão ser indicadas no texto com ser em minúsculo, apenas com a inicial em maiúscula.
a numeração respectiva; As tabelas poderão ser apresentadas com a orientação retrato ou paisagem,
Todas as referências apresentadas deverão ser numeradas ou seja, poderão ser giradas na página de forma a mudar a sua orientação.
sequencialmente (na ordem em que aparecem no texto) mostrando o A configuração da página deve permanecer sempre orientada
número em destaque e entre colchetes após a citação; como retrato, para garantir a posição do rodapé uniforme em todo
O nome do(s) autor(es) deverá(ão) ser apresentado(s) em letras o documento (ver item 5). Desta forma, o título da tabela também
maiúsculas, com o sobrenome por extenso, seguido das iniciais do permanecerá com a orientação retrato.
primeiro nome e dos nomes intermediários, separadas por ponto;
Na sequência, deverá ser indicado, entre parênteses, o ano de 15. SIMBOLOGIA E FÓRMULAS
publicação dos anais ou do livro consultado, com hífen ao final; Todas as grandezas físicas deverão ser expressas em unidades do
Na sequência, indicar entre aspas o título do trabalho ou do livro Sistema Métrico Internacional. As equações e fórmulas devem ser
consultado, com apenas a primeira letra maiúscula e com vírgula ao localizadas à esquerda e numeradas, entre parênteses, junto ao
final; limite direito na mesma linha, deixando uma linha em branco entre
Indicar na sequência os anais em que o trabalho foi apresentado, as equações/fórmulas e o texto. Todos os parâmetros das equações
seguido do tema, volume dos anais e país ou cidade em que o mesmo e fórmulas deverão ser indicados com suas respectivas unidades.
foi realizado. A referência a elas no texto do trabalho deve ser com a palavra
Exemplo: “Equação” ou “Fórmula” e o respectivo número ao lado, ou seja, em
O texto deverá estar com alinhamento justificado e recuo especial com minúsculo, apenas com a inicial em maiúscula.
deslocamento de 1,00 cm (Formatar Parágrafo).
Exemplo: 16. TEMÁRIO / CONTRIBUIÇÕES
[1] DUNNICLIFF, J. (1989) – “Geotechnical Instrumentation for Field O tema deverá ser indicado pelo autor, quando do encaminhamento
Performance”, livro editado pela John Wiley & Sons, Inc., New York; do trabalho ao Conselho Editorial da Revista Brasileira de Engenharia
[2] HOWLEY, I., McGRATH, S. e STEAWRT, D. (2000) – “A Business de Barragens do CBDB.
Risk Approach to PrioritizingDam Safety Upgrading Decisions”, Anais Caso o Conselho Editorial não concorde com o assunto selecionado
Congresso Internacional ICOLD, Beijing, Q.76 – R.17; pelo autor, este poderá ser eventualmente deslocado para outro tópico.
[3] SILVEIRA, J.F.A. (2003) – “A Medição do Coeficiente de Poisson em Se o trabalho não se encaixar em nenhum dos temas selecionados
uma de Nossas Barragens”, Anais XXV Seminário Nacional de Grandes para o evento mas apresentar bom nível ténico, poderá ser publicado
Barragens – CBDB, Salvador, BA. como Contribuição Técnica.

13. ILUSTRAÇÕES 17. LÍNGUA


As eventuais ilustrações dos trabalhos técnicos, sejam elas figuras, Todos os trabalhos a serem publicados na Revista Brasileira de
gráficos, desenhos ou fotos, deverão estar sempre incorporadas ao Engenharia de Barragens do CBDB deverão ser elaborados em língua
texto, não devendo ser apresentadas em separado. Ao formatar a portuguesa, assim como todas as ilustrações que o acompanham
figura, o layout deve ter a disposição do texto alinhada e o texto deve deverão conter legenda também em português. Apenas os trabalhos
estar com o alinhamento centralizado. Todas as referidas ilustrações citados como referências bibliográficas deverão estar na língua original
deverão ser identificadas pela palavra “FIGURA” e numeradas em que os mesmos foram elaborados.
sequencialmente. A palavra “FIGURA”, sua numeração e título deverão Os trabalhos eventualmente recebidos pelo Conselho Editorial em
ser apresentados imediatamente abaixo das respectivas ilustrações, outro idioma (que não seja o acima mencionado) serão encaminhados
também com o alinhamento centralizado. O título de cada figura de volta aos autores para sua tradução para o português.
deverá ser escrito com a primeira letra em maiúsculo. A referência a
elas no texto do trabalho deve ser em minúsculo, apenas com a inicial 18. LICENÇA PARA PUBLICAÇÃO DOS TRABALHOS
em maiúscula. Para que o trabalho seja aceito é necessário que um dos autores envie
As fotos ou outras ilustrações quaisquer poderão ser apresentadas autorização devidamente preenchida e assinada.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 139


RR AP

AM PA
MA CE
PI RN
BRASIL PB
AC TO PE

CBDB: Água e energia para a vida


AL
RO
MT BA SE

DF
GO
MS MG
ES
O Comitê Brasileiro de Barragens - CBDB - é uma instituição técnico-científica criada em 1961, sem fins lucrativos, SP
que incentiva a cultura de segurança de barragens. Tem como missão “estimular o desenvolvimento, a aplicação PR RJ

e a disseminação das melhores tecnologias e práticas da engenharia de barragens e obras associadas”. Defende SC
institucionalmente os interesses da sociedade e das empresas privadas e públicas, além de propiciar o debate e o RS
Núcleos
Regionais
desenvolvimento dos assuntos técnicos e legais associados ao setor. Coordena o Cadastro Nacional de Barragens, que do CBDB
concentra dados técnicos das barragens brasileiras, e mantém extensos bancos de dados sobre obras de barragens Sócios
do CBDB
brasileiras e diversos trabalhos relacionados. São mais de 50 empresas sócias e mais de 1.400 sócios individuais.

SEJA SÓCIO DO CBDB - VANTAGENS & BENEFÍCIOS REPRESENTAÇÃO INTERNACIONAL


O CBDB representa no Brasil a Comissão Internacional de Grandes
▶ Acesso a apresentações e discussões de artigos técnicos em congressos e Barragens (CIGB-ICOLD), organização não governamental que congrega
eventos de amplitude nacional e internacional. os interesses profissionais de construtores e idealizadores de barragens e
▶ Participação em comissões técnicas cujo objetivo é a preparação e edição reservatórios de cerca de 96 países membros.
de boletins técnicos e normativos. NÚCLEOS REGIONAIS
▶ Participação no desenvolvimento de artigos técnicos e de divulgação Sediado no Rio de Janeiro, o CBDB possui núcleos em vários estados
de obras executadas por empresas brasileiras na Revista Brasileira de brasileiros, incentivando a disseminação do conhecimento sobre
Engenharia de Barragens. barragens e o intercâmbio técnico entre os associados.
▶ Acesso à extensa bibliografia internacional do CIGB-ICOLD cobrindo todos ATUAÇÕES ESTRATÉGICAS
os aspectos ligados à realização de barragens e reservatórios.
O CBDB teve atuação decisiva para a criação da Lei de Segurança de
▶ Participar do Banco de Especialistas em Barragens do CBDB. Barragens, nas Recomendações de Interesse Público Contra
▶ Realizar contatos e networking visando o desenvolvimento técnico e a Redução da Capacidade de Armazenamento de Água nos Reservatórios
criando a oportunidade de novos negócios. das Hidrelétricas Brasileiras e tem Acordos de Cooperação Técnica com
o CEASB - Centro de Estudos Avançados em Segurança de Barragens, e
▶ Realizar intercâmbio com especialistas em aspectos particulares de com a ANA - Agência Nacional de Águas.
projetos de barragens, construção e operação de reservatórios.
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
▶ Participar de cursos, palestras, workshops e simpósios sobre temas como
Mantém Comissões Técnicas nas quais se pesquisam e organizam
segurança de barragens, projetos e operação de empreendimentos e
informações com emissão de Boletins Técnicos, referência para a
equipamentos associados.
engenharia brasileira em diversas áreas do conhecimento técnico.
▶ Acesso às informações completas do Cadastro Nacional de Barragens.
EVENTOS
A cada dois anos, o CBDB promove o Seminário Nacional de Grandes
Categorias Cotas
Público alvo Barragens e, anualmente, cursos, palestras, workshops e simpósios onde
de Associação mínimas*
são discutidos os progressos da engenharia de barragens.
SÓCIO INDIVIDUAL Profissional atuante no setor 2
PUBLICAÇÕES
SÓCIO CORPORATIVO Empresa interessada no 10
desenvolvimento do setor O CBDB promove a discussão de assuntos técnicos e institucionais por
meio das Comissões Técnicas, prepara e edita a Revista Brasileira de
Empresa interessada no desenvolvimento
SÓCIO MASTER do setor, com direito exclusivo de eleger parte 50 Engenharia de Barragens, boletins de notícias e boletins normativos. Nos
do Conselho Deliberativo do CBDB livros editados, destacam-se Brazilian Dams I, II e III, entre outros.
* Valor da cota estipulado para o ano de 2017: R$ 85,00

CBDB - COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS


www.cbdb.org.br | +55 21 2528.5320
facebook.com/comitebrasileirodebarragens

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