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7.0S TEMPLARIOS NA FUNDAGAO DEPORTUGAL, Pelo Major de Infantaria ABILIOAUGUSTO PIRES LOUSADA, 183 Nota Pre Este texto decorre de um artigo publicado pelo autor na Revista de Administragao. Militat! e «tetém» 0 conteiido do Trabalho de Investigagac de Grupo redigido (e presentado) pelos Majores-Alunos do Curso de Estado-Maior Exército 2007 (IESM), no Ambito da Visita xo Continente - Distrito de Castelo Branco (Julho de 2007) 1, Enquadramento Medievo aia muitos ideatificada como a wera das trevasy, da estagnagao civilizacional ¢ do retrovesso da arte militar, a Idade Média permanece como uma época que importa analisar © compreender. Prensar @ Idade Média entre a Antiguidade Classica e 0 Renaseimento, equivale a reduzi-la a uma mera fase histbrica de transigdo. O que, ‘manifestamente,ndo foi caso. A Idade Média existiu de mom propriae, particularmente 0 Feudalismo (século X-XV), encerrou um momento em que. sociedade internacional cra regulada pela Respiiblica Christiana. Uma sociedade normalizada onde as tes ordens interagiam ¢ evoluiam de forma interdependente. O Clero (Oratore) estava no topo da pirimide, classe letrada que efectuava a ligago de Deus aos homens, velava pela ordem social e controlava o poder politico, A Nobreza (bellatore) cingia a sua actividade priméria & pritica politica e ao manejo guerreito, detendo, com o clero, 0 usufruto de bens patrimoniais. O Povo (laboratore) trabalhava a terra, o fendo das autoridades eclesiésticas e nobilidrquicas, Ou seja, o Clero garantia a seguranca spiritual, a nobreza a seguranga espacial e 0 povo o bem-estar Em finais do séeulo XI, os Estados viviam oesparilho interno de poderes, politico, militar ¢ patrimonial, a sociedade, anarquizads, sentia dificuldades em sustentar 0 desenvolvimento quotidiano e o sobressalto bélico era uma constante. Na Europa Crista, em termos militares, sobressaiam os cavaleiros, que fizeram d . guerra uma ‘wcoutaday quase exclusiva e do espaco onde interagiam campus bellis por exceléncia |As guerras privadas e inter-estados eram uma prtica quotidiana, 0s morticinios entre (0s cristdos tuma recorréneia e a depredagao das culturas e da insolvéncia econémica Allin Pes Loud, “A Exc Mia dos Teplss em Ponca, n Revs de Adtech Mla, N* infers Jot Banat, Annie Oia, Aces Caros,Banoames Baio, Jorge Pino, Lounge Azriel LUtescaveg, Orfenplirio ca Rcongults Crem Porte ADeles da ish Teo a Boecifinde 4e Creo Branco, Lisbon, TEM, Jo de 2007 (TI pleopac) uma consequéncia do lavrer desregulado dos combates pela honra ¢ pela bravura individuais Esta é, em sintese, @ envolvente que presencia o aparecimento das ordens ‘monstico-militares, onde se inserem os Templérios. Uma Ordem que, durante 200 anos, consttuit a mais importante e temida organizagao medieval. Extinta hi cerca de 700 anos (1312), # ordem do Templo permanece um mito, com «contomos obscures» que importa compreender. Nela entronca um duplo carécter rligioso e militar, pois 0 Cavaleiro do Templo ostensava nas vestes brancas a Cruz vermelha, identificativa da Ordem, mas empunhava tembém a espada, simbolo do poder e da forga, nascendo desta simbiose & designagao de monges-guerreiros. ‘Atendendo que a interpretagio escrita se tem debrugado mais sobre as questdes religiosas ¢ esotéricas ligadas a Ordem © menos sobre a sus componente militar © forma de actuagio estratégica, o texto iri privilegiar, exclusivamente, a vertente militar ‘da Ordem do Templo. 2. AFormagao dos Templirios A partir de meados doséculo XI, oClero sentiu necessidade de restringir as lutas entre principese nobres crisos,limitando-as espacial e temporalmente, Neste contexto, impOs as Tréguas de Deus ¢ a Paz de Deus’, submetendo a guerra as exigéncias da ‘recuperagio da vida sécio-econdmica e da reforma da cristandade. Assim, sem anular armas, ombreiras, calgas e sapatos de ferro, no escudo ou braguel largo ¢ triangular, no manto branco, de linho, dois mantos (um para o Verdo e outro para o Inverno), numa tinica © ‘num Cristo de couro sobre o corpo, na espada, langa, maga de armas etrésfacas (uma aca de armas, espé:ie de adaga, outra para o pdo e uma pequena limina flexivel). Cada cavaleiro tinha direito a trés alforges, um para ele e dois para os escudeiros. Em 1131, S. Bernardo escreveu a Carta de Louvor da Ordem, a Liber ad Mites ‘Templi- de Laud Novae Militae, uma espécie de praxis espiritual destinada a glorificar ea emprestar & Cavalaria do Templo uma orientagao estratégica para a sua actuago militar, Assim, drigindo-se aos Templrios, o monge cisterciensecomegou por erticar ‘o guerreiro tradicional, censurando-lhe a arrogancia, o devancio,o esplendor ea sede de gloria, “Matar ou morrer por tals objectivos”, segundo S. Bernardo, “ndo punha a alma em seguranca”. A essa guerra de rendas, fil, contrapunha a dos monges guerreiros. Anunciava entio que “o cavaleiro templario combate sem medo sem censura, fazendo a guerra pelas forcas do espirito contra os vicios ¢ 0 deménio (..) ‘protegendo a sua clma com a armadura da fé, tal como cobre o corpo com uma cota de matha’” Assim, "a fé ea espada actuavam de comum acordo, combatendo para 0 triunfo do dogma e para a unidade catélica. Matar ou morrer por Cristo”, preconizava 0 monge, “nada tinka de criminoso merecend, isso sim, uma imensa gloria” Ficava justfieado, dessa forma, o cardcter monastico e militar da Ordem, bem. como © facto de um monge ter a prerrogativa de pegar em armas para matar. Efectivamente, para S. Bemardo era necessiria uma religido armada, acreditando na tutilidade de uma milicia permanente, composta por cavaleiros cistdos de todas as nacionalidades, suficientemente poderosa para impor a universelidade crst. Foi devido a todo este idealismo, a esta conviegto, rigor organizativo e conduta na acglo que a Ordem Militar do Templo se transformou na mais poderosa organizagao. ‘da dade Média, A supranacionalidade da Ordem, que nfo reconheciafronteiras, embora espeitando a identidade de cada Nagao e a sua dependéncia direc ao Papa, favorecia~ "dem. 3688 188 -os lrgamente¢isentava-os do pagamento de qualquer tipo de impostos, permitindo- -Ihesriar um impérofinanceiro sem prevedentes. A gre dento da lgreja uo «Estado ‘Templirio»", como chegou a ser designada a Ordem, foi guardito de bens dereis edo clero, redares de muitos outros e chegou a possuir,espalhados por toda a Europa & Préximo Oriente, dez mil omendas, inimeroscastlos, damicilis, propriedadesesreas, de ultivo, Empreenderam actividades bancarias sem precedents, chegando, inclusive, da uma intensa acividade comercial terrestre ¢ maritima, de Ocidente a Oriente, pois os Templirios foram eximios navegadores, possuidores de excelentes conhecimentos néuticos. Tendo em conta a orientagio estratégica que norteavaos Templirios, o Proximo ainventara letra de cémbio, Efectuarem: Orieste ea Peninsula Tbérica foram os locais ideais para imprimir a sua actividade guerreira, reservando-se o resto da Europa a uma conduta mais monecal. Mas no Oriente, apesar da presenga dos Templirics, dos Hospitalérios, dos Cavaleiros Teuténicos e das sucessivas Cruzadas enviadas", 0 sucesso inicial foi esmorecendo ao longo dos anos, atingindo a curva descendente em 1187, quando as. tropas do Crescente Verde, comandadas por Saladino, se apossaram de Jerusalém'. 3. Os Templirios na Fundago de Portugal Sempre que se procuraram explicar os primeiros tempos da Nacionelidade Portuguesa comummente enumeramos um rl de protagonist € descrevemos uma série de acontecimentos, objectivando o Portugal talhado é espada, numa incessante Tuta em duas frentes: a sul do tertério contra os mugulmanos e a norte contra 0s leoneses; a guerra ofensivaa sul conducente ao alargamento das frontiras defensiva 4 norte, vsando preservaro seu tragado. Dentro desta forma simplist, Portugal apresent-se-40s como que um produto leatirio, quase obra do acaso, unicamente decorrente das lutas fratrcidas entre inimigos de fe irmos desavindos. Sendo verdade o referido, em nosso entender, existem motivagSes adicionas justiicativas da capacidade de pequeno teritério costeir libertar-se das amarras que 0 igavam ao reino de Ledo e, em pouco tempo, conquistar todo o teritério do actual Portugal “Lox Cabo Tepe 0 9 38 ‘De 96, aa do evo a Cras, «120, ano em ee epistou ina fa deseesens oo ras ‘om deo Ter Sart ver Steve Rcinan, Hira rs Greta, 3 vol irs Honore Lisbon 193 » Stpen Howat Os Cavales Temps, ston, Eup Lives do Bras 198, ps 157-13 189 Origindria, como vimos, da ‘lerra Santa, a introdugao da Ordem do Templo na ‘Peninsula, particularmente em Portugal, foi feta quase de imediato! Assim, em 1125 ou 1126, instalou-se em Portugal e D. Teresa doou-lhe Fone _Arcada (Penafiel)e, em 1128, Soure", Aqui instalaram a sede, no castelo confluente ‘aos rios Arunca, Angos e Arlo, que funcionava como guarda avangada de Coimbra. [Nesse mesmo ano, apésavitéria emS. Mamede, o Principe Dom Afonso Henriques toma as «rédeas» da Terra Portucalense, confirmando as doagdes recebidas pelos ‘Templitios. ‘A Ondem firmava ‘que @ favoreciam, concretamente, as investidas contra os mouros e a proximidade ‘afirmava-se no nosso pais, havendo duas circunstancias geogrifica em relagdo aas grandes centros que entio enviavam os seus guerreios ‘para libertar 0 Santo Sepulcro, assegurando, dessa forma, uma costa livre para os cruzados € 0s peregrinos oriundos do Norte da Europa”. Em 1131, 0 Principe sai de Guimaries, transferindoa Corte para Coimbra, libertando- se, assim, das incSmodas pressdes da nobreza de entre Douro e Minko, que nfo 0 ‘acompanha no processo de Reconquista. Proximo dos Templirios que, posicionados ‘em Soure, funcionam,simultaneamente, como ponta de langa e tampao face aos mouros nas éreas de fronteira, e apoiado pelos vildes dos concelhos, o principe portucalense inicia as acgbes agressivas para sul do Mondego. A partir desta altura, Dom Afonso Henriques apoia-se sobremaneira na cavalaria templria para empreender a sua gest Constituindo uma forga militar permanente ao servigo do soberano, possuidora de ‘uma eapacidade combat.va impar, a Cavalaria do Templo integrava a vanguarda da hoste rel, constituindo a sua forga profissionalizada. Realmente, os Temnplérios eram. altamente disciplinados, combatiam de forma coesa e devidamente enquadrados, o ‘que era raro na época, nunca se rendiam ¢ eram possuidores de uma forga moral inigualavel ‘Ao longo de todo o processo de Reconquista, estavam cometidas aos Templirins dois objectivos fundamentais: a actividade militar contra os mouros ¢ 0 povoamnento. do teritério. "Sour foi sd da Orem 6 1283 117, data de Set pr D, Afonso Heriqus, pr onde se «fos pros do cose de Sourequtce Temps coneseam mat opios dot mite Portage 188, ante ope de Abu arin 3 Sate "Fang Tenure Edtrde Amarin, Temple, Aspect Secretar de Ore, ison, Elges Nowa Acie, 1996-33 190 No campo de batalha, comandados pelo Mestre, os Templirios organizavam-se em esquadres, com a Balsa (estandarte)& frente, que servia de fman galvanizador para todos, mantendo o dispositive de combate firme. Para fcarmos com uma ideia da forge combstiva que epresentavam e do ideal que os movia no campo de batalha, acompanhemos descrigio feita por Alexandre Herculano sobre a conduta dos Templérios no campo de batalha: “..) A severa aiscipina da Orem, as solenidades com que envavam nas batalhas produziam (..) 0 entusiasmo (..) nagueles que os viam ao ladcfas outras componentes da host]. Os esquadrdes do Templo ao formarem- se para a batalha guardavam profundo silencio, que sé era cortado pelo ciciar do balsdo (.) que as guiava (..) e dos longos e alvas mantos dos cavaleiras que se ‘agitavam. A vor do Mestre, uma trombeta dava 0 sinal do combate, e as feires, erquendo os olhos ao céu, entoavam o hymmo de David: Nao a nés senhor, nfo a ‘nds! mas di gloria ao Tew nome!” Entao, abaixando as langas e esporeando os sginetes, arrejavam-se a0 inimigo, como a tempestade, envoltos em turbilhdes de pés Primeiros no ferir eram os iltimos em retirarse quando assim th’o ordenavam. Desprezando os combates singulares, preferiam acommeter em columnas cerradas, € para eles nio havia recuar: ou as dspersavam ou morriam. A morte er, de feito, ‘mais bella para 0 Templirio do que a vida comprada a cobardia® Foi imtuida deste espirtoe vigor que « Ordem partcipou, activamente, em todas as campantas e conquistas de relevo efectuadas: batalha de Ourique, conquistas de Santarém, Lsbos,Aleacer do Sal, Silves. Da mesma maneira, quando oinimigo tacava eram os Templéios que reebiam oprimeiroembte, Era de acordo com este pressupost que a Ordem se acastelava nos locas de fronteira mais vulneriveiseestrategicamente ‘mais importantes. Deste modo, constituiam no s6 uma forga permanentemente vigilante € retardadora, como também auténticas cunhas, que constantemente inquietavam os rmugulmanos Portanto, “em tempo de paz, a funcdo militar do Templo era de vigiléncia e de informagéo; em periodo de guerra, era de primeira resistencia na defensiva e de primeiro ataque, na ofensiva” Basa, de cor ree ranca (ae) euch saz Nw Hobie, Domint Non Nob Se Nomi Tuo Clr len dn Orde, read no Sno 1 de Dai Alnanle Heculeo, Htc de Porapl,Libea, varie Berend, Toma I LIV 1916p. 28.268, Acre seer, AfosaHeariuera etna da Cristandade 2 scala XI, Lies, DSM, 982. 937, Tempio, ue mocap de tua, seins 191 Quanto’ finalidade de povoarem, a Ordem exerceu um continuo€ proficuo esforo colonizador e de arroteamento de tras, que levou a fixagio de moredores nas dress onde se estabelecia, bem como a uma intensa e produtiva acti idade agricole nos campos circundantes. A seguranga eestabilidade que a presenga dos monges-guerreiros transmitia as populagdes s8o reveladoras dos aglomerados po3ulacionais que se -desenvolveram a sua volta. s Templirios fizeram este povoamento em trés direcgBes continuss: a Sul, @ Oriente ea Nordeste, com uma tendEncia marcadamente riana, pera evitarameagas de fanco por parte dos mouros & integridade do reino®. Atente-se que Dom Afonso Henriques confiou aos Templirios, na pessoa do mestre Gualdim Pais®, a defesa da fronteira do Tejo, visando defender “a via romana que de Santarém pelo Vale de Tomar dava acesso ao coracdo do reino, Coimbra’ ara efeito, os Templarios rexeberam uma vastaregido em Ceras local onde foi construido, em 1160, 0 castelo de Tomar, fortaleza dominante e inexpugnavel, que se ‘tornou sede da Ordem eem redor da qual cresceu s localidade do Nabao, contribuindo ainda para o desenvolvimento da zona envolvente (Vila Nova da Barquinha, Torres Novas, Ferreira do Z8zere e Vila de Rei). Localidade templéria de supra importéncia, “Tomar mereceu uma estrutura defensiva prépri, que inclu os castelos de Cardiga, Bode, Zézere, Almourol e Seri, além das forificagdes em Pias e Domes. Dentro do mesmo objectivoestratégico, outros castlos foram edificados ou restaurados e muitas localidades desenvolvidas a norte ea sul do Douro, prticularmente, entre o Mondego € 0 Tejo™. Consttuiam, no seu conjunto, um bem planeado e poderoso sistema de fortficagSes militares, para defesa de um espago que acompanhava 0 esforco conducente 20 respectivo povoamento ¢ valorizago econémics. Efectivamente, como a partirda década de 60 a Reconquista avangasse para sul do Teo, as fortalezas dos Templirios ne regido de Tomar, Almourol ¢ na Beira Baixa garantiam a estabilidade da frontera meridional, consolidando os terrtérios aquém ‘eine Ser, Hit Portal, ol ison Eee Vet, 190, 1670 ® Compenede unas eD. Afonso Henge, Gua Pi 181199 fpr ee arma cama bath Osrgue Mee Poi! do Tempo em Porgal de 15 193, fie conelic prrogaivaUnin Conta "Ns Evo Uta oars as nie Dene Blin Culture norativ ‘da Chua Municipal Tamara, Oust 181,939 © Ver Mapa dos eno, omens «nares de Peale fran pete da Orde do Templo, ex Mani! Cpt, Portugal Tenpirn Lisbon Aron Pobienres, 2003. Aces don prices empl ut {umes ah do Tg Tons Alou, Cass Bane, Manes, Portal, Zea Nova ve Mae Bermroetl, HG CEM-Exobretspp. 1523 192 ‘Tejo, dada a possibilidade de, a qualquer momento, surgirem investidas de mugulmanos langadas do Sul ‘Quando, em 1169, D. Afonso Henriques sofre o desaire de Badajoz, incapacitando- se fisicamente, a Ordem do Templo tina atingido um incomensurdvel poder em teras, fortalezas e dinheiro. Mas isso ndo impediu que o rei, na fase descendente da sua vide, quando recuperava forgas nas caldas de Laffes, oferecesse aos Templérios a tera parte de tudo quanto eles pudessem conquistar e povoar no Alentejo". Esta incrivel

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