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(Gee Tirerv artim O PODER NO PENSAMENTO SOCIAL Dissonancias ure aac Coca ereue tg Howanita$ © 2008, Os autores © 2008, Editora UFMG Este livro ou parte dele nio pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizagao escrita do Editor. © poder no pensamento social: dissondincias / Renarde Freire Nobre Corganizados). ~ Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008. 178 p. ~ (Humanitas) ‘Trabalhos apresentados na “IV Jomada de Ciéncias Sociais", ocorrida entre 27 ¢ 29 de novembro de 2006 na Facuktade de Filosofia, CCiéncias Humanas da UFMG. 742 Inclui referéncias. ISBN: 978-85-7041-694-0 1. Ciéncias sociais - Coletinea. 2. Ciéncia politica - Coletinea. 3, Poder (Ciéncias sociais). 1. Nobre, Renarde Freire. Il, Série. DD: 300 DU: 316 Elaborada pela Central de Controle de Qualidade da Catalogacao da Biblioteca Universitaria da UFMG Este livro recebeu apoio do Programa de Pés-Graduagio em Sociologia, por meio do convénio CAPES-PROF/UFMG. DIRETORA DA COLEGAO Heloisa Maria Murgel Starling ASSISTENCIA EDITORIAL Euclidia Macedo e Leticia Ferres EDITORAGAO DE TEXTO Maria do Carmo Leite Ribeiro REVISAO E NORMALIZAGAO Michel Gannam REVISAO DE PROVAS Lira Cordova € Renata Passos PROJETO GRAFICO Gloria Campos ~ Manga FORMATACAO E CAPA Luiz Flivio Pedrosa PRODUGAO GRAFICA Warren M. Santos EDITORA UFMG. Ay. Antnio Carlos, 6627 Ala direita da Biblioteca Central Térreo Campus Pamputha 31270-901 Belo Horizonte/MG_ Brasil Tel. (31) 3409-4650 Fax (31) 3409-4768 wwwaeditora.ufmg.br editora@ufmg.br ‘reire Nobre, Natilia Salgado Bueno, Camila de Cau, Guilberme de Lima, Vinicius Soares Lopes JESTAO DA ETICA NA POL{TICA © QUE HAVIA DE ERRADO COM A UDN?) EO LIBERALISMO el Gomes Filipe SONTRADICAO ENTRE © ESTADO E A SOCIEDADE CIVIL € 0 dilema da modemidade politica ‘AS SOBRE O CONCEITO DE PODER SOCIOLOGIA AMERICANA CONTEMPORANEA SUMARIO uw 29 59 69 83. 109 127 SOUZA, Jessé. A invisibilidade da desigualdade brasileira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. SOUZA, Jessé. A construed social da subcidadania: para uma sociologia politica da moderidade periférica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003, RENATO M. PERISSINOTTO PODER: INPOSICAO OU CONSENSO ILUSORIO? POR UM RETORNO A MAX WEBER © poder esta inserido numa estrutura de dominaglo! APRESENTACAO E trivial dizer que “poder” constitui-se num dos mais contro- versos conceitos das ciéncias sociais. Trivial, mas verdadeiro. De fato, qualquer um que decida se embrenhar na literatura sobre 0 tema encontrard trés dificuldades recorrentes: primeira, a multipli- cidade de definiges, em geral, apresentadas como excludentes sem que 0 sejam de fato; segundo, os problemas de operaciona- lizacao das definig6es, sendo algumas delas muito precisas, mas muito superficiais, e outras mais sofisticadas, porém de dificil aplicagao empirica; por fim, a justaposicao de definicdes, ja que alguns utilizam palavras diferentes para designar os mesmos fendmenos ou lancam mao dos mesmos termos para designar relagdes sociais distintas. A discussio sobre 0 conceito de poder pode ser dividida em dois grandes campos conceituais. Um deles entende as relagoes de poder como relagdes hierirquicas, baseadas no predominio € no conflito (ainda que a natureza do predominio ¢ do conflito seja compreendida de maneira bastante diversa); 0 outro se re- fere ao poder como um conjunto de interagées voltadas para a consecucao de interesses coletivos. Neste texto discutirei apenas © primeiro campo conceitual € isso por duas razdes: primeira mente, as definicdes ai formuladas me parecem francamente hegeménicas na literatura sobre o poder; segundo, os autores vinculados ao segundo campo conceitual produziram, a meu ver, definigdes muito peculiares, pouco utilizadas em pesquisas empiricas e que, em meu entendimento, geraram mais problemas do que solucées.? O primeiro campo conceitual €, contudo, ele proprio perpas- sado por outra divisao. De um lado, encontramos aqueles que definem poder como uma interagao entre atores conscientes dos seus interesses e do carater antag6nico de suas preferéncias. Neste tipo de interac, os atores buscam realizar seus objetivos de maneira estratégica, lancando mao de algum tipo de “coacao” contra os demais atores envolvidos. Dessa forma, exerce o poder quem consegue impor ao outro 0 curso desejado de acao. Poderiamos dizer, na falta de expresso melhor, que esses autores adotam uma “concep¢ao subjetivista” de poder. De outro lado, ha os que entendem o poder como uma relagao social instituciona- lizada, que distribui desigualmente recursos sociais (econdmicos, politicos, simbélicos), mas cujo funcionamento ocorre, em geral, @ revelia da consciéncia dos atores, Nesses casos, 0 dominado nao se percebe como tal gracas ao funcionamento de processos de socializacao que operam fora do controle dos agentes e que moldam suas preferéncias. Surge, assim, uma interagao baseada num “consenso ilusério”, que conduz sutilmente o dominado para a aceitagio de sua posicao. Também, na falta de uma expressao melhor, poderiamos dizer que esses autores adotam uma “con- cep¢ao objetivista” de poder. Este ensaio tem dois objetivos. Primeiramente, pretendo expor com mais detalhes as divisOes atinentes ao primeiro campo con- ceitual com o intuito de identificar as exigéncias metodologicas que as diferentes definigdes de poder (subjetivista e objetivista) imp6em ao estudioso. Trata-se de saber que tipo de evidéncias cada uma dessas definicdes exige apresentar a fim de que suas proposicées sejam comprovadas. Em segundo lugar, busco refutar a idéia de que essas concepgdes sejam excludentes. Ao contrario, creio que a boa anilise sociolégica deve operar sempre com as duas perspectivas. Para tanto, sugiro ser recomendavel um retorno as consideragoes classicas de Max Weber. O texto esti dividido da seguinte maneira: na primeira parte, exponho 0s tragos fundamentais da concep¢ao subjetivista do “poder ¢ as exigencias metodologicas que Ihe correspondem; na segunda, faco o mesmo com relacdo & concep¢ao objetivista; por fim, na conclusdo, aponto as vantagens de se pensar o problema “a partir das definigdes weberianas de “poder” e “dominacao”, CONCEPGAO SUBJETIVISTA: ODER COMO IMPOSIGAO DA VONTADE Podemos dizer sem receio de errar que 0s autores que desen- lveram uma concepgio subjetivista do poder sao tributarios la famosa definicao de Max Weber, encontrada no paragrafo 16 primeira parte de Economia e sociedade. Weber nos legou definicio admiravelmente sintética, que contém em si todas implicacdes metodolégicas que viriam a ser desenvolvidas teriormente. Por essa raza, convém cité-la e destrincd-la que possamos acompanhar passo a passo os seus aspectos damentais. Segundo Weber: “Poder significa a probabilidade impora prdpria vontade dentro de uma rela¢do social, mesmo le contra toda resisténcia e qualquer que seja o fundamento sa probabilidade.”* Os termos fundamentais desta definigao sao: probabilidade, ig4o, vontade, relacao social, resisténcia e fundamento. rtante discutir cada um e a relagdo entre eles para que iquemos claramente as exigéncias metodol6gicas que uma lico dessa natureza impée ao analista. sto nao pode ser dada sem que levemos em considerago tro termo da definigao, qual seja, “fundamento”. Todo poder, ara que possa ser exercido, exige certo fundamento ou, para aS expressdes de Robert Dahl, uma “base” ou um “recurso”. S recursos geram diferentes espécies de poder. Desse ©, 0 poder econdémico langa mao de recursos econémicos, © poder politico utiliza a forca, ¢ assim por diante. Ou seja, 0 “fundamento” nao apenas viabiliza 0 exercicio do poder como permite diferenciar “espécies de poder’. No entanto, um recurso por si s6 nunca é poder, mas apenas uma “base provavel” para o seu exercicio. E por essa razio que Weber define poder, em principio, como uma probabilidade. Quem controla um dado recurso tem a probabilidade de exercer poder sobre outras pessoas caso queira. Ao fazer essa distincdo, ‘Weber evita aquilo que Dahl chamou de a “falécia dos recursos”,° que consiste em confundir 0 quantum de recurso que um agente controla com 0 quantum de poder que ele exerce. A definicao de Weber aponta para o fato de que os recursos representam uma condic’o necesséria, mas no suficiente para 0 exercicio do poder. Os recursos s6 esto a servico do poder quando mobili- zados pelo seu detentor numa relagao social que visa fazer com que sua vontade prevaleca. Nesse sentido, a definicao weberiana jamais autoriza o analista a produzir conclus6es sobre 0 poder de um dado agente a partir de uma mera quantificagao de seus recursos, por mais significativos que sejam.° RELAGAO SOCIAL E IMPOSIGAO DA VONTADE Para que os “fundamentos” controlados por um determinado agente deixem de ser apenas uma base provivel para o poder, € preciso que este mesmo agente esteja disposto a mobilizar tais recursos no interior de uma relagao social. Dessa forma, como nos lembra Dahl,’ a frase “‘A’ exerce poder” nao faz sentido, pois o poder s6 pode ser exercido sobre alguém. A definicao weberiana de poder €, portanto, uma definigio relacional,® ou, como nos diz um famoso filésofo contemporaneo (cuja origina- lidade é, em alguns casos, francamente exagerada), o poder nao uma coisa que se possua, mas sim uma relag3o social. Somente quando utilizados em uma relacao social € que os recursos sao © “fundamento” do poder. Mas utilizados em que sentido? Os recursos sao recursos de poder quando utilizados numa relacao social para garantir que a vontade de seu portador prevaleca sobre a vontade de outro ator com 0 qual ele se relaciona. Sendo assim, o poder € sempre uma forma de afetar 0 comportamento do outro da maneira desejada Mas, se reduzissemos 0 poder a uma maneira de obter do outro ‘© comportamento desejado, ele nao poderia ser diferenciado 32 de outras formas de interacao social, como, por exemplo, a xsuasio, a manipulagio, a influéncia ou o prestigio. Poder implica, portanto, uma forma especifica de obter do outro 0 comportamento desejado. £ nesse ponto que a palavra “imposicio” joga o seu papel, pois ela indica que o exercicio do poder implica mobilizacao de recursos estratégicos e escassos, em uma dada relacao social, de modo a produzir ameacas de “privagdes severas”” que conven¢am ‘0 outto “a fazer algo que de outro modo nao faria’."” Como nos Jembra Hobbes, nas relacdes de poder “a paixto com que se pode « ar € 0 medo”," isto é, o medo (ou o “receio”, se preferirmos , € preciso dar toda importancia ao verbo “impor” utilizado Weber em sua definigao, pois quem exerce o poder tem a acidade dle aplicar aquilo que Parsons"? chamou de “sangdes ituacionais negativas’." Evidentemente, o fato de que 0 poder nha uma dimensao essencialmente coativa nao quer dizer que Je se baseie apenas no uso da violéncia. A violéncia fisica é as uma dentre varias outras formas de sancio, mas nem de ge a mais corriqueira. Quanto a este ponto, as referencias de ber"* aos “meios pacificos de luta” esclarecem completamente roblema. \ciais na definicdo weberiana de poder: 0 da intencionalidade do poder como um calculo estratégico. referéncia 4 “vontade” j4 é, em si mesma, uma referéncia cionalidade, o que impede essa definicio de cometer 0 Robert Dahl chamou de a “falcia dos prémios”.!° Assim, 0 a diz que “A” exerce poder pelo simples fato de ter sido iciado por uma dada deciszio que ele, em momento nenhum, € a intengao de produzir. Seria como considerar culpado o duo que recebeu a heranca de um homem que morreu fassinado,. O fato de ele ter recebido a heranga nao € garantia ficiente de que ele seja o assassino. Nesse sentido, como dizia ll," poder é a capacidade de produzir efeitos pretendidos.” que um determinado efeito seja prova do poder de um ente, € preciso estabelecer uma relacao causal entre o efeito 33 esse ponto, poderiamos formular duas perguntas: primeira, que vantagens um dado agente teria ao impor a sua vontade? Segunda, por que outro agente aceitaria tal imposic’o? Numa relacao de poder, tanto 0 agente que pretende exercé-lo quanto 0 que a ele se submete realizam cilculos em que visam maximizar as suas vantagens. Quem procura exercer 0 poder avalia a relagdo custo- beneficio entre as vantagens a serem obtidas com o comportamento daquele que se submete os custos necessérios, em termos de dispéndio de recursos, para obter a submissio. Da parte de quem se submete, 0 cdlculo diz respeito ao que ele ganharia ou perderia com a obediéncia ou com a insubmissio. Como se percebe, também aqui a dimensio dos recursos é importante, pois a possibilidade de impor a vontade ou de resistir a essa imposigao esta diretamente ligada a quantidade e qualidade dos recursos de poder que os agentes controlam. E evidente, por- tanto, que quem procura exercer 0 poder precisa saber os bens que so valorizados por aquele a quem ele pretende coagir. De nada adiantaria ameaci-lo com a privacao de bens que ele nao valoriza. Desse ponto de vista, 0 poder nunca é “unilateral”, mas sempre, em tiltima instincia, uma decisio produzida a partir do calculo elaborado pelos dois pélos da relacao.” RESISTENCIA E CONFLITO Segundo Giddens,” nao devemos derivar logicamente da defi- nicao weberiana uma concepcao do poder como uma relagao necessariamente baseada no conflito. Em geral, afirma-se que o uso da conjuncao concessiva “mesmo que” (contra toda resistén- cia) sugere que 0 poder pode ocorrer na auséncia de resistencia, ainda que, no caso de surgir alguma, o poder, para ser efetivo, deve mostrar-se capaz de superé-la. A meu ver, a concep¢ao de poder tal como definida por Weber aponta, sim, para uma relagio de conflito. No entanto, para esclarecer esse ponto, duas observacdes sao importantes. Primeiramente, é preciso diferenciar “conflito” de “resisténcia”. A definigao de Weber aponta para a idéia de conflito ao dizer que o poder é uma relagao de “imposi¢io de vontade”. No entanto, nem toda relacao de conflito implica, necessariamente, 0 exercicio aberto da resisténcia por parte daquele que se submete. Numa situacdo ideal, uma relacdo de poder entre “A” ¢ “B” se desenvol- veria da seguinte maneira: “A” € portador da preferéncia x; “B”, 34 da preferéncia y; “A” ordena que “B” faga x e nao y; “B” resiste, %A” 0 ameaca com privagées severas, “B” obedece. No entanto, as relacdes de poder quase sempre se desenvolvem de maneira em mais sutil” E 0 caso da “regra das reagées antecipadas’.” Nessas situacdes, “B” adota o comportamento desejado por “A” sem esbocar resisténcia e sem que “A” tenha que enunciar uma ordem, pois “B”, pela experiéncia pretérita, sabe das con- seqiiéncias negativas que sofreria caso desobedecesse.* Nesse "caso, nao presenciamos nenhuma resisténcia, mas a relacao ainda de conflito, isto é, de antagonismo entre as preferéncias dos " envolvidos na relacao: “B” faria y, € nao x, se nao estive numa “jnteragao com “A”. Portanto, pensar o poder como uma relaco Je conflito nao nos obriga a pensd-lo também como uma relacao resisténcia aberta solucionada pelo uso da forca, como sugere quivocadamente Giddens.» Resumindo, podemos dizer que na tradicao weberiana o oder € uma relacao social de conflito (e eventual resisténcia) e dois atores conscientes do carter antag6nico de suas pre- ncias, na qual “A” consegue fazer com que a sua vontade aleca sobre a vontade de “B”, valendo-se, para tanto, do uso recursos escassos que Ihe permitam ameagar ou efetivamente por a “B” privagdes severas, desde que os custos dessa ame- ‘ou imposicao nao se aproximem ou superem os beneficios tidos por “A”, aplicando-se a “B” o mesmo calculo em relacao ibmissao. !prir e quais evidéncias devemos reunir para comprovar que ma relacdo social é uma relacao de poder? _ Como bem notou Nelson Polsby,” o poder, assim definido, € empre uma dlecisao. Decidir é a capacidade de definir o curso eventos de acordo com os interesses de quem decide e em imento dos interesses de quem se submete. Por essa razao, en Lukes tem razio ao afirmar que esse tipo de definico, ao nder poder como uma relacdo baseada num conflito obser- el entre preferéncias antagénicas, jA fornece em si mesma a ‘idéncia empirica de sua afirmacio. Para ser mais especifico, uma social entre duas vontades antag6nicas, em que uma delas e sobre a outra gracas a ameacas de privages severas, tras go a contraprova necessaria para evidenciar que tal relacao ima relacao de poder. O analista j sabe de antemao que “A” prefere 2 e “B” prefere y, mas observa também que “Br TIVISTA: O PODER nao 9: Sendo tal conflito entre preferéncias observivel, o angie e a CONSENSO ILUSORIO sabe que o fato de “B" adotar 0 comportamento desejadlo por ata puso € a prova do poder deste sobre “B”. A “imposicio da vontages numa relacio entre preferéncias manifestamente antagonicas q constitui, portanto, na evidencia empirica que nos permite digs que uma dada relagao € uma relacao de poder. Nesse sentidlg, Parece-me fora de diivida que quem melhor operacionalizoy este tipo de definicao foi Robert Dahl. Para este autor, o primeitg asso para analisar relagdes de poder numa dada comunidade identificar “objetivos politicos” em torno dos quais alguns atores tenham preferéncias discordantes e, em seguida, detectar quais preferéncias prevalecem ao fim do processo decisério. Uma vex definido o assunto (scope), identificados os agentes envolvidos na interagao (domain) e constatadas suas preferéncias (que devem ser forgosamente antag6nicas), esto dadas as condigées para que se possa comparar o poder dos agentes.” E importante observar: Ac. 5 ial de _formagdo dessas que mesmo uma concepgio ampliada do processo decisério, Bm ges 007! ce forma ks que inclua os momentos de constituigio da agenda publica e ee eens dos Ran cen een de implementacdo das decisdes, pode set analisada nos termos ; Bs eoecctva subouna rel ah? , subs Propostos por Dahl. 6, substitui a andlise do processo social de incias pela anilise de condutas estratégicas antagonismo entre preferéncias que nunca como apareceram na cabeca dos individuos amos aceitar sem contestacao a afirmacao de Tmanifesta em relacoes marcadas pelo conflito ; cientes do antagonismo de suas preferéncias? sepcao como definitiva implica, como lembra pressuposto de que todo consenso € genuino, FFacordo entre iguais e do qual esto ausentes Gio, Para os autores que defendem a con- duvidar dos consensos deve ser 0 ponto de as relacées de poder. ida, entretanto, s6 € possivel porque esses (6s pressupostos da visio subjetivista do poder. 6 vimos, detém-se exclusivamente em relacdes feréncias antagonicas, mas em nenhum mo- Quanto a este ultimo ponto, alias, vale lembrar que o famoso debate que envolveu Robert Dahl, C. Wright Mills e os te6ricos da nio-decisio € marcado, no fundo, muito mais por uma E disputa metodolégica do que epistemoldgica. Guardadas algumas fs i diferencas de formulacao e as inclinagdes “objetivistas” presentes 0 do poder, ao se nos textos iniciais de Bachrach e Baratz, todos sao tributérios da definigio weberiana de poder. Wright Mills refere-se ao poder explicitamente como a capacidade de tomar decis6es mesmO@ contra a resisténcia dos outros, e Bachrach e Baratz optam pelo mesmo caminho.” Sendo assim, Dahl € seus discipulos tém razao- em dizer que 0 método de Mills (a sua “sociologia das posigoes institucionais”) nao combina com a definicao adotada e que # nao-decisao, na medida em que descreve também um conflito observavel entre preferéncias antag6nicas, pode ser analisada adotando-se 0 mesmo procedimento utilizado em seu Wh0 Governs?.® ites de modo que a relacdo de dominacao nao como tal, mas sim como um acordo tacito em €s tides como verdadeiros por todos. alquer autor filiado a esse ponto de partida, identes diferencas tedricas e metodolégicas entre © plausivel a existéncia de um tipo de dominio, & Psiquico, que opera de forma muito mais sutil do que as rudes ameacas de privacOes severas. 37 Tratar-se-ia, assim, de uma “forma suprema de exercicio do po- der”, que consiste em “levar alguém a ter desejos que se quer que ele tenha, isto é, a assegurar sua obediéncia controlando seus pensamentos e desejos’.® Forma suprema e muito mais eficaz de poder, jé que tem “o espirito como superficie de ins- cri¢ao”, e opera “nao pelo direito, mas pela técnica, nao pela lei mas pela normalizagao, nao pelo castigo, mas pelo controle”, ou seja, por meio de uma série de mecanismos sutis que o tornam imperceptivel aos agentes a ele submetidos.* Enfim, um tipo de “poder invisivel, o qual s6 pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que nao querem saber que lhe estao sujeitos”.* As dificuldades metodol6gicas a serem resolvidas por essa Perspectiva sao evidentes. Como vimos, na visio subjetivista de poder, 0 conflito observavel entre os atores e o predominio de uma vontade sobre a outra fornecem a evidéncia necesséria e suficiente Para que uma relagao seja identificada como uma relagao de po- der. Nesses casos, conseguimos observar um determinado agente contrariado, forgado por meio de ameacas a fazer aquilo que de outro modo nao faria. Esse agente, caso questionado acerca de sua situacdo, certamente nao hesitaria em reconhecer-se como dominado. Mas como encontrar 0 poder numa relac4o em que o proprio dominado nao se reconhece como tal? Como € possivel interpretar 0 consenso em torno de determinados valores como Poder? Que tipos de evidéncias so agora necessarias e quais procedimentos devemos adotar para coleté-las? No campo da ciéncia politica, os primeiros que tentaram res- ponder a essas questées foram Bachrach e Baratz. Os problemas enfrentados por esses autores indicam as dificuldades da emprei- tada. Nos seus primeiros textos, Bachrach e Baratz esbocam a critica da abordagem subjetivista do poder em duas dimensées. Primeiramente, afirmam que o poder nao pode ser reduzido a capacidade de tomar decis6es. Ao contrario, defendem que a face mais importante do poder se encontra no processo seletivo Por meio do qual determinados temas sao retirados da agenda politica. Esse processo ocorreria “quando os valores dominantes, as regras aceitas do jogo, as relacdes de poder existentes entre os TUupos e os instrumentos de forca, separadamente ou combinados, efetivamente impedem certas queixas de se apresentarem como questoes plenamente desenvolvidas e que clamam por decisio”. Nesses casos, “pode-se dizer que ha uma situag&o de processo de 38 nio-decisio” produzido consciente ou inconscientemente pelos atores envolvidos.” O resultado final é a redugao da vida politica a. um conjunto de “temas seguros’, cuja discussiio nao ameaca ‘0s interesses dos grupos dominantes nem a estrutura do sistema politico. Portanto, a tarefa primordial do analista Politico nao é identificar quem decide no processo decisério, mas sim detectar _ 0 “viés” que predomina num dado sistema politico e que Pia ~ do processo decisério um conjunto de “questoes latentes”.** Essa perspectiva permitiria identificar os interesses sistematicamente ‘beneficiaclos pelo viés do sistema e nos impediria de cair na ilusto sluralista acerca da fragmentacio do processo decis6rio. Em segundo lugar, esses autores defendem que o processo de sroducao de nao-decisio opera com base na regra das reagoes ntecipadas. Nesses casos, os agentes que participam diretamente processo decis6rio ndo apresentam propostas que ameacem interesses de agentes que estao fora dele, limitando-se a for- ular politicas inofensivas aos interesses desse grupo.” Assim, a tomada de decisio podem ser altamente enganosas se os isores estiverem orientando as suas condutas em func&o dos esses de grupos externos ao processo.”” tesposta dos pluralistas foi contundente e sintetiza-se em ‘titicas fundamentais as proposicées de Bachrach e Baratz. A a delas diz respeito ao problema da identificacao da nao- io ser analisada pelo cientista politico. Segundo Polsby er, € plausivel dizer que certas decisdes que ndo sio podem ser mais significativas para o sistema politico e aquelas efetivamente decididas ou, para usar outra cons- 10, € aceitavel dizer que certos nao-eventos podem ser mais Portantes para caracterizar a natureza de um sistema politico ‘que certos eventos de tomada de decisdo. No entanto, apesar Plausivel, essa posicao sofre de duas dificuldades metodolé- insuperdveis. Primeiramente, nao temos como saber qual ento deve ser encarado como significativo para a vida tica da comunidade. Certamente, diz Polsby, nao todos eles, S para cada evento que ocorre deve haver uma infinidade de lativas que poderiam ter ocorrido.*' Assim, enquanto um ento € facilmente identificavel, um nao-evento é formado, na Por uma infinidade de alternativas dentre as quais € el escolher uma para analisar. A segunda critica, intimamente vinculada a primeira, refere-se a impossibilidade de submeter tal “objeto” a verificacao empitica. Um nao-evento €, por definicao, algo que nao ocorreu e, portanto, cabe indagar, como faz Offe, “como é possivel estabelecer socio- logicamente a evidéncia do nao-existente, ou seja, do excluido” As dificuldades em reunir evidéncias empiricas satisfatorias sao ainda maiores na medida em que “o objeto de tal poder nao tem consciéncia dessa relag4o € 0 sujeito pode também nao saber que esta exercendo 0 poder’. Por fim, é muito dificil diferenciar uma nao-decisio que tenha sido 0 resultado de uma antecipacao das reagdes dos poderosos por parte dos decisores de uma simples abstengio consciente baseada na falta de interesse pelo tema ou de uma apatia resul- tante da falta de consciéncia de um grupo acerca dos seus “reais interesses”. Bachrach e Baratz reconhecem que essas criticas trazem dificuldades 4 sua proposta tedrica. Chegam mesmo a reco- nhecer que a teoria da naio-decisio € menos operacional que a estratégia pluralista de andlise. A saida para resguardar a tese da nao-decisao foi apresentada em Power and Poverty (1970). Nesse livro, os autores aceitam parte significativa das conside- ragdes criticas de Polsby, mas, ao fazerem isso, se aproximam definitivamente dos pressupostos epistemol6gicos de seus criti- cos. Bachrach e Baratz afirmam que, de fato, um “naio-evento” no pode ser observado empiricamente e chegam até mesmo a duvidar da possibilidade de estudos empiricos que tenham a regra das reagdes antecipadas como objeto. No entanto, para salvar sua teoria, afirmam que nem todas as naio-decisées sio nao-eventos, Para eles, a ndo-decisio passivel de estudo empi- rico consiste num processo politico conflituoso e observavel que resulta na exclusdo de um tema que ameaga os interesses dos decisores."” O “conflito observavel” passa a ser visto como metodologicamente fundamental para o estudo cientifico das relacdes de poder, o que implica 0 abandono das sugestdes ini- ciais de que o poder poderia ser exercido ou sofrido de maneira inconsciente, numa relag4o marcada pelo consenso e no pelo conflito. Quanto a esse ponto, so categoricos: € impossivel que, na auséncia de conflitos observaveis, 0 cientista politico possa julgar uma relacio como sendo de poder. Talvez um filésofo, mas nao o cientista politico. ‘A posicao assumida por Bachrach e Baratz em Power and representa, como se vé, uma capitulagao frente as criticas luralistas. A nova definicao de nao-decisao adotada nessa obra plica 0 abandono da regra das reacées antecipadas como um do processo decis6rio stricto sensu. -Orecuo de Bachrach e Baratz revela as enormes dificuldades a n enfrentadas por aqueles que pretendem incluir a construcao ‘consenso como uma dimensao importante do conceito de _ f provavel que uma das causas do insucesso de ambos foi aceitado discutir no mesmo terreno dos adversarios. Para mais especifico: Bachrach e Baratz propuseram inicialmente ‘definicao mais ampla de poder que levava em consideracao canismos sociais de producao do consenso e a distribuigao al dos recursos sociais. No entanto, limitaram-se a aplicar \ceito a esfera da produgao de politicas puiblicas, area de 4 em que o instrumental metodolégico dos pluralistas se ava mais adequado. Viram-se, assim, obrigados a ter o mes- yr e a coletar as mesmas evidéncias exigidas por aqueles sadores. Nesse sentido, uma das formas de salvaguardar a io de que pode haver poder em relacdes de consenso é ar que as evidéncias a serem apresentadas em seu favor S40 4 natureza e seu campo de aplicacao bem mais amplo e a producio de politicas publicas. essa, a meu ver, a saida utilizada por Steven Lukes. Se- "onde nao ha conflito observavel entre A ¢ B, devemos fornecer "Outros claclos para assegurar a contraprova pertinente. Isto é, d fornecer elementos diferentes, indiretos para afirmar que ee “A” no tivesse agido (ou deixado de agit) de certo modo.. nto “B” teria pensado ou agido diferentemente do modo em ‘ter ilegitimo de uma relacdo aparentemente consensual? S, essas evidéncias poderiam ser coletadas em “tempos ” € em “tempos normais”. 41 Os tempos anormais sao periodos de crise, quando 0 apa- rato de poder é removido ou enfraquecido. Nesses tempos, podemos perceber que determinados grupos adotam comporta~ mento diferente do que adotavam até entio, e € essa mudanga no comportamento que pode ser tomada como uma evidéncia indireta, nao conclusiva, de que, na auséncia do exercicio do poder, esses mesmos grupos fariam algo diferente. Esse método de anilise do poder pressupde certa amplitude temporal que permita identificar e comparar 0 comportamento de um mesmo. grupo em dois momentos distintos. Desse modo, no é a presenca de um conflito observavel que nos permite detectar a existéncia do exercicio do poder, mas sim a adogao de comportamentos distintos, em momentos distintos, marcados por situac6es sociais distintas.* A sua operacionalizag3o nao depende, portanto, da presenca de um confronto entre preferéncias antagénicas para ver qual delas prevalece, mas sim da identificac4o de uma situacao em que aquilo que pressupomos ser um “poder” € enfraquecido €, por essa razdo, grupos que pressupomos serem dominados adotam um comportamento distinto do que haviam adotado até aquele momento. Essa adocao de um comportamento distinto seria uma evidéncia, ainda que indireta, que reforcaria aqueles dois pressupostos.* ‘Mas € possivel também, segundo Lukes, apresentar evidéncias de que 0 consenso é fruto do poder em “tempos normais”. Essas evidéncias podem ser fornecidas quando existem oportunidades de mobilidade social que permitem aos grupos e individuos escaparem de posicdes subordinadas em sistemas hierarquicos. Quanto a esse ponto, o autor utiliza exemplos relativos ao sis- tema de castas na India, procurando mostrar que varios grupos escapam da posigao social a que este sistema os condena. Seja através da adesao a outras religides, seja através de possibilidades de mobilidade social oferecidas dentro do préprio sistema, percebe-se que, quando oportunidades de ascensio aparecem, 0s grupos subordinados se apegam a elas quase que invariavel- mente, em geral em busca de estima e prestigio. Desse modo, podemos perceber que, mesmo quando os mecanismos de poder nao param de agir, basta que surja uma alternativa para que os supostos dominados busquem escapar de suas posicGes tradicio- nais a fim de ascender socialmente.™ Através dessa contraprova, reforca-se a tese de que os grupos subordinados em questao se submetem a esse sistema hierarquizado nao em fungao de um 42 consenso genuino, mas por causa do funcionamento de meca- ‘nismos sociais produtores de subordinagao. A contraprova, nesse caso, expressa-se também por meio de um comportamento, mas nao ha aqui qualquer ordem dada por um agente, nao ha uma clara e evidente que demande aos grupos subordinados a jné rejeicao explicita, nem combate entre preferéncias. O que ha é fato -— a mobilidade social — que se constitui numa evidéncia ndireta de que tais grupos nao vivem sob aquele sistema por ue querem, nem aceitam a sua posig20 social voluntariamente. fim, nao ha ordem, nao ha conflito (observavel), nado hé acao es), nao ha inteng&o (consciéncia), mas ha poder. Dois ntos na proposta de Steven Lukes me parecem problemiticos.* primeiro lugar, seria necessario explicar um paradoxo: por [pessoas que sio incapazes de perceber 0 poder operando ao mesmo tempo, capazes de avaliar determinadas situagdes oportunidades de melhora? Como uma pessoa que passou vida atribuindo legitimidade a uma dada relacdo consegue, spente, perceber essa mesma relaco como pior do que uma relaco que ela mal conhece? Creio que a tinica resposta ivel seria dizer que essa mesma pessoa ja trazia consigo to descontentamento com sua situacao anterior. Mas, se for ‘© caso, por que esse descontentamento nao se expressava f de queixas abertas e conflitos observaveis? Uma prova- posta a essa outra questo seria apontar para a existéncia © que Gaventa chamou de “formas de producao indireta , baseadas na repeticao, na inércia, no habito, na o, enfim, numa “resposta adaptativa” a uma situagio de Ppermanentes.” De resto, seria importante discutir se a ta busca pela “melhora” seria evidéncia suficiente do poder. grupo social pode melhorar a sua situag4o econémica saindo Posi¢ao de mando e direcionando-se para uma posi¢ao. ibmissao. Por exemplo: pequenos e médios proprietirios , que controlam meios de produgao e forca de trabalho, aumentar o seu rendimento monetario ao se transforma- ¢m em trabalhadores assalariados submetidos a0 capital.” Em segundo lugar, a proposta metodolégica de Lukes s6 nos tite captar o poder quando ele ja nao existe mais. O desvenda- nto de uma relacao de poder encontra-se sempre num ponto © em que © surgimento de uma crise de hegemonia ou o ito de uma oportunidade de mobilidade social poderia an indicar a existéncia, no pasado, de uma relacao de poder. Por- tanto, na auséncia dessas situagdes-limite, um analista, inspirado. pelas sugestdes de Steven Lukes, nada teria a dizer sobre as rela- g6es sociais no presente. Dessa forma, a abordagem de Lukes s6 nos permite analisar relagdes de poder que j4 se desintegraram em funcao do advento de crises ou oportunidades de mobilidade social. As relacdes presentes sao, para essa perspectiva, uma incégnita.* E em relacao a esse ponto que as contribuigdes de Michel Foucault ¢ Pierre Bourdieu me parecem fundamentais. Nao é nosso objetivo recuperar aqui os tracos essenciais da sociologia do poder presente na extensa obra desses dois autores, mas sim enfatizar 0 que ambas tém em comum, notadamente na sua compreensao acerca do poder e do método mais adequado para analisa-lo. O que Foucault e Bourdieu tém em comum €, por assim dizer, uma desconfianga em relagao ao consenso que caracteriza as re- lagoes sociais presentes. Essa desconfianga estaria autorizada por uma percepcao inicial acerca das desigualdades que caracterizam a distribuigao de recursos sociais. Para Bourdieu, essa desigualdade se expressa por meio do acesso diferenciado que os agentes sociais tm ao capital espe- cifico de determinado campo. Como 0 capital € 0 recurso que determina as possibilidades de ganho, aqueles com menor quan- tidade de capital tém menos chances de produzir ganhos no jogo que caracteriza o campo.® Para Foucault, essa desigualdade se revela por meio das posigdes que os agentes ocupam no “sistema de diferenciagdes”, isto é, 0 sistema que define as “diferencas juridicas ou tradicionais de estatuto e de Privilégios; diferencas econémicas na apropriagao das riquezas e dos bens; diferencas de lugar nos processos de producdo; diferengas lingiiisticas ou culturais; diferenga na habilidade e nas competéncias etc,” Essas diferencas estruturadas seriam, ao mesmo tempo, condigdes e efeitos do poder. Para os dois autores, essa percepeio inicial de que a sociedade se estrutura com base numa distribuicao desigual de recursos, que, por sua vez, produz desigualdades estruturais quanto & capacidade de ago dos atores sociais, torna legitimo supor que a continuidade dessa situagao se deve a mecanismos de poder que “convencem” os dominados a aceitarem a sua PosigAo inferior no sistema de diferenciagdes ou nas relagdes 44 de forca que caracterizam 0 campo. Ou seria licito supor que ‘os dominados gostariam de reverter a sua posicao caso tivessem consciéncia dela. Fsse me parece ser um procedimento metodologicamente Jegitimo. Segundo Gaventa, quando evidentes desigualdades ‘ocorrem na distribuicdo de recursos reconhecidamente valoriza- dos pelos atores no sistema ¢ quando os prejudicados por essa desigualdade adotam uma postura apatica, € licito supor que ~ apatia nao seja “natural”, mas 0 resultado de relagdes de poder.° ‘Com esse procedimento inicial, 0 analista pode elaborar 0 que " Wolfinger® chamou de uma “teoria rudimentar” do que seria eticamente o comportamento racional desses agentes caso. sem plena consciéncia dos seus interesses. Ap6s esse procedimento inicial, Bourdieu e Foucault sugerem ‘© consenso (ou a apatia) em torno dessa situagao de desigual- ide pode ter sido produzido por relacoes de poder, que, pelos is resultados, parece funcionar de maneira bastante diferente juela preconizada pela tradicao weberiana. Ou seja, trata-se de n poder que nao produz ameacas, mas sim convencimento e ibmissdo simbdlica ao estado das coisas. Ambos se referem, , a invisibilidade de um poder que age de maneira sutil e a, moldando sistematicamente as preferéncias dos atores olvidos, inclusive, alids, dos dominantes. Este poder reside, na erdade, em eficientes processos de socializagéo geradores, no © de Foucault, de almas disciplinadas e, no caso de Bourdieu, entes portadores de um habitus adequado a sua posi¢ao so- Nesses casos, como nos lembra Lukes, 0 poder nao opera iS por atos baseados em clculos individuais, mas também, ipalmente, por comportamentos de grupos socialmente iturados, culturalmente padronizados e por meio de priticas icionais que excluem “comportamentos indesejados”.~ Por essa razio, para Bourdieu e Foucault, 0 estudo do poder ve priorizar nao as acOes estratégicas que os atores adotam realizar os objetivos tidos como legitimos no campo, mas © mecanismo social que produz a adesao sincera de todos os S As regras do jogo, regras essas que definem quais so os legitimos e quais sao os ilegitimos (isto é, aqueles que am as regras do jogo). Assim, o poder reside, sobretudo, Aceitacao, por parte de todos os agentes, da distingao entre o vel e o impensavel, entre o dizivel e 0 indizivel, distingao “a essa que legitima a estrutura de relagdes de forca predominante no campo e estigmatiza qualquer visao alternativa. E desse modo que o poder opera com 0 consentimento ativo do dominado.” problema metodolégico que se apresenta aqui é 0 mesmo identificado por Steven Lukes: como provar que uma relacao de consenso constitui-se numa relagao de poder? No entanto, creio que a saida sugerida tanto por Foucault como por Bourdieu é mais interessante do que aquela proposta por Lukes. Para aqueles dois autores, s6 ha uma maneira de descobrir 0 poder ali onde aparentemente predomina o consenso, e essa maneira € langar mao da historia. Nesse sentido, nao se trata mais de aguardar um momento futuro, de crise, como no caso de Steven Lukes, mas olhar para o passado a fim de recuperar a histéria de uma relacdo que, no presente, parece ancorada na aceitagdo. Se essa historia nos revelar que © processo pelo qual “nos tornamos o que somos”® € perpassado por conflitos entre visées de mundo diversas e antagénicas, resultando na derrota sistematica de al- guns € na vit6ria permanente de outros, poderiamos dizer que no momento presente vivemos sob a “ilusio do consenso”.” Assim, as relaces sociais presentes sao a institucionalizagio de lutas passadas ou, melhor dizendo, a cristalizagao das posigdes vencedoras. Por essa razao, Foucault adota a “genealogia do poder” como nova estratégia analitica a partir de Vigiar e punir. O método genealdégico tem claramente uma dimensio hist6rica, ja que a palavra “genealogia” nos remete a elementos antecedentes que redundaram numa situac&o presente. Trata-se de “desconfiar” das relagdes presentes, de rejeitar qualquer tentativa de natu- ralizd-las e de naturalizar os discursos que elas produzem. O objetivo da genealogia do poder é, portanto, captar, por meio da “erudigao hist6rica”,” 0 modo como essas relagées atuais se constituiram. O objetivo é recuperar “um saber hist6rico das lutas" e ver como se da “a utilizagao deste saber nas taticas atuais”, como, nesse processo histérico, varias memorias, varias resisténcias, varios saberes locais foram sepultados e sujeitados a um saber atualmente hegemOnico. Pelas mesmas raz6es, para Bourdieu, a pesquisa historica “é uma ciéncia do inconsciente”, que, ao trazer 4 luz tudo o que estd oculto pela opiniao natura- lizada, “fornece os instrumentos de uma verdadeira tomada de consciéncia”.”! Com esses dois autores, histéria € sociologia se 46 constituem em saberes inseparaveis na busca do conhecimento das relagdes de poder.” Essa estratégia analitica nao é interessante apenas porque per- mite introduzir (e desvendar) a questio do consenso como uma dimensio do poder. Além disso, ela permite perceber 0 poder ‘como uma relacao duradoura e nao como uma relagao, por assim - dizer, “episdica”, tal como na perspectiva subjetivista. Como yimos, 0s autores filiados a essa perspectiva tendem a reduzir ‘9 poder a uma interagao que se estabelece entre alguns atores “que agem estrategicamente para realizar um fim num processo. isGrio qualquer. Uma vez encerrado esse processo, as relagdes poder se desfazem para, se for 0 caso, restabelecerem-se entre ros agentes, num outro processo decisério. E nesse sentido , para Foucault e Bourdieu, nao interessa tanto a mirfade de estratégicas e epis6dicas adotadas pelos atores sociais, mas sim a “estrutura” que enquadra tais ades dentro de um conjunto fins legitimos (autorizados), as vezes perseguidos estrategi- te, As vezes realizados como um habito.” Essa estrutura © poder, 0 poder, assim entendido, é um fato duradouro e vel que s6 pode ser desvendado pela hist6ria do Beeessiono alemao. Avangos tedricos e metodolégicos em re- Tagao ao tema me parecem inegiveis. Mas houve também muita Confusio conceitual desnecessaria, com diversos autores dando © mesmo nome para relages sociais bem distintas.”* Quanto a ‘se ponto, creio que a saida analitica mais adequada é evitar a -antinomia sugerida pela conjuncao alternativa que faz parte do titulo deste trabalho. £ nesse sentido que me parece louvavel um " fetomo as consideragdes de Max Weber sobre 0 problema. Dessa forma, a classica distingao entre “poder” e “dominacao” ‘Me parece ainda muito atual, ao menos como orientacao analitica 8eral. Ainda que enquanto tipos ideais esses dois conceitos des: Ctevam relacdes sociais distintas, baseadas em motivacdes bem diferentes, o fato é que Weber sempre discutiu os dois conceitos juntos e chegou a definir a dominagao como uma espécie de 47 poder. Essa juncao dos dois conceitos é importante exatamente porque permitiria conjugar as duas dimensdes apresentadas como opostas pelas visdes subjetivista e objetivista do poder (ou pelo menos quase nunca pensadas conjuntamente por elas). Como jf vimos, 0 termo “poder”, em Weber, é resguardado para descrever aquele conjunto de interagdes estratégicas baseadas na mobilizacdo de ameagas e que obtém a obediéncia em funcao do receio de um dado agente de se ver privado de um bem que ele valoriza. Penso ser correto reservar 0 termo “poder” apenas para interag6es sociais dessa natureza. Assim, evita-se chamar pelo mesmo nome relagdes sociais tao distintas quanto aquelas descritas pelas duas perspectivas vistas anteriormente. Diria ain- da que, do ponto de vista metodologico, os teéricos da visio subjetivista do poder resolveram de forma muito satisfatoria a maneira de operacionalizar tal definigao na pesquisa empirica. No entanto, como observa Clegg,” esses te6ricos em nenhum momento discutiram 0 importante problema da dominacio, isto é, das regras consensuais e duradouras no interior das quais se desenrolam as relacées de poder.” Como se sabe, essa dimensao das regras consensuais € exata- mente a que esta contida no conceito de dominagao de Weber. Para ele, uma relagdo de dominacao é aquela que funciona como se os dominados tivessem adotado por si mesmos a or- dem emitida pelos dominantes.” Essa “internalizagao” eficaz das regras de mando pelos dominados é que faz da dominacao uma relagao social marcada pela regularidade das condutas, na qual o sentido atribuido pelos agentes é “tipicamente homogéneo”."” A incorporagao das regras pelos dominados e a regularidade da conduta resultante desse fato é o que, a meu ver, leva Weber a usar a expressio “estrutura de dominac&o” como termo adequado para descrever o carter “estavel” dessas relagdes sociais.*' Evi- dentemente, nem toda relagao social estivel € de dominagio, mas toda relacdo de dominagao é estavel. Assim, a “dominacio” € uma “espécie de poder” porque também descreve relaces hierarquicas e de submissao, mas se diferencia dele na medida em que descreve nao relagdes episédicas e conflituosas, mas sim relagdes duradouras, regulares e consensuais. A maneira de mostrar que tal consenso nao € a expressdo de uma relagio de genuina concordancia entre as partes,’ mas sim o fruto de uma relagao de dominag’o, é 0 uso da historia, como mostraram Foucault e Bourdieu. De resto, a propria estabilidade da relacao 48 de dominagio sugere que a sua regularidade se estabeleceu om 0 passar do tempo", podendo, portanto, ser desvendada pelo saber histérico. ‘A necessidade de, na andlise empirica, operacionalizar esses dois conceitos conjuntamente justifica-se pelo fato de que, como disse Weber,” relagSes transit6rias (como 0 poder) podem dar origem a relagdes mais estiveis (como a dominagao), e rela- ‘des mais estaveis podem se desfazer com o tempo.” Assim, a contraposicao entre os dois conceitos s6 faz mesmo sentido na medida em que os tomamos como tipos ideais que descrevem motivacOes qualitativamente distintas. No entanto, a andlise das relacdes politicas nao pode optar por um em detrimento do outro. Fazé-lo significaria menosprezar o fato que as interagoes estratégicas que caracterizam 0 poder ocorrem no interior de estruturas de dominac’o que definem os limites e os objetivos daquelas interagdes e que as estruturas de dominagao, por sua "vez, podem ser alteradas pelos efeitos nao antecipados gerados _ pelas interagdes estratégicas. A conjugacao dos conceitos de poder e dominacio nos permitiria, assim, pensar tanto o problema da - reproduiio social (sempre tio espinhoso para os subjetivistas), ~ como a questio da transformagao social (sempre mal resolvido pelos objetivistas). E nesse sentido, a meu ver, que a epigrafe de Stuart Clegg apresentada no inicio deste texto sintetiza as vanta- _ gens das formulacgdes de Max Weber.** _ NOTAS | CLEGG, 1997, p. 61 ? Refiro-me, em particular, a Talcott Parsons ¢ Hannah Arendt. Para uma Critica do conceito de “poder politico” em Parsons, ver GIDDENS (1998). Em relacio ao conceito de poder de Hannah Arendt, fiz algumas consi- deragdes criticas em PERISSINOTTO (2004). * WEBER, 1984, p. 43, grifo nosso. DAHL, 1969, p. 81; DAHL, 1988, p. 34; DAHL, 1989, p. 273. DAHL, 1988, p. 34 Duas observacdes so importantes quanto a este ponto, ainda que nto Possamos desenvolvé-las neste texto. Primeiramente, Weber utiliza 0 conceito de “luta” para descrever a situagao em que o poder deixa de Ser uma probabilidade para ser efetivamente exercido. “Luta”, portanto, 49 é entendida como uma ago social que se orienta pelo propésito de impor a propria vontade contra a resisténcia de outra ou outras partes. Cf. WEBER, 1984, p. 31. Creio nao haver problema em utilizar 0 conceito de “poder” como sinnimo de “luta’, desde que se tenha sempre em mente que “recursos” geram apenas “probabilidades”. A segunda observaga0 refere-se & dimensio “objetivista” da concepcaio weberiana. Como bem observou Peter Blau, essa definigio de poder, ao incluir os recursos como uma de suas dimens6es fundamentais, aponta para quest6es importantes relativas a estrutura social, j4 que a distribuicao desigual de recursos na sociedade é algo que transcende 0 cardter volitive da aglo. Cf. BLAU, 1969, p. 297. Ver, também, MARTIN, 1978, em especial p. 75. DAHL, 1970. CHAZEL, 1996. KAPLAN; LASSWELL, 1998, p. 111 DAHL, 1969, p. 80. HOBBES, 1983, p. 84. PARSONS, 1969, p. 258. Evita-se, assim, a confusao entre “poder” “autoridade”, feita pelo proprio Parsons. Cf. BLAU, 1969, p. 296, nota 6. WEBER, 1984, p. 31. DAHL, 1988, p. 35. RUSSELL, 1938, p. 35. ‘Nao precisamos, porém, recorrer ao exagero de Dennis Wrong, para quem poder & a capacidade de produzir efeitos pretendidos ¢ antecipados. Desde que os efeitos nao-antecipados nao comprometam a realizagio dos efeitos pretendidos, nao hé por que adotar uma definicio tio rigida. Como a maioria das agdes produz efeitos nao antecipados, a defini¢i0 de Wrong provavelmente nao se aplicaria a nenhuma conduta humana. Quanto a este ponto, cf. WRONG, 2002, p. 2, e CHAZEL, 1996, p. 215. Essa observac4o, como se percebe, constitui-se numa critica ao funciona- lismo marxista, que sempre explica a ocorréncia de um determinado fend- meno com base nos efeitos benéficos que ele produz para a dominagao de classe. Assim, 0 fato de uma politica estatal produzir efeitos benéficos para a burguesia no seria prova suficiente do poder dessa classe, pois tais efeitos poderiam ser simplesmente acidentais. Os defensores da expli- cago funcionalista tm argumentos importantes para rebater esse tipo de critica. Por exemplo, a regularidade na produgio de efeitos benéficos para uma dada classe afastaria a idéia de “efeito acidental” e obrigaria © analista a identificar as causas estruturais dessa regularidade, sem ter que recorrer, necessariamente, as intengdes dos atores. Por exemplo, cf. COHEN, 1982. 1 © desenvolvimento desse raciocinio conduz, como se sabe, a teoria do poder como uma relacao de troca desigual baseada no controle de recursos estratégicos. Cf. BLAU, 1969. Para um resumo dessa teoria, ver PANEBIANCO, 2005, cap. Il. Ver também KORPI, 1985. 2 GIDDENS, 1998. 4 Para outros elementos que tornam as relagdes concretas de poder mais complexas, dindmicas e transformadoras do que sugerem as definigoes abstratas, cf. BENTON, 1981, p. 178. 2 CRENSON, 1971. ® A “regra das reagdes antecipadas” parece sugetir, em principio, um re- tomo a identificac4o do conceito de poder com o conceito de recursos, ‘cometendo, assim, a falcia denunciada por Dahl. Contudo, seria apres- sada uma conclusao nesse sentido. E verdade que, numa relagao social, © fato de um agente controlar uma quantidade significativa de recursos estratégicos pode levar determinados atores a desenvolverem expectativas acerca da reac que poderiam sofrer caso resolvessem desobedecer. E ‘© que CRENSON (1971) chamou de “poder reputacional”. No entanto, a mesma regra chama a atengio para o fato de que tais expectativas nao " precisam ser verdadeiras, isto é, no precisam estar baseadas numa ava liagao correta acerca do tamanho e do impacto dos recursos controlados pelo “poderoso”. Nesse sentido, ha um amplo espago para a dimensio subjetiva na determinacao do fenémeno do poder. Dennis Wrong chama esse tipo de relagio de “poder disposicional’, isto é, uma capacidade que, apesar de nao ser mobilizada, afeta assim mesmo o comportamento de ‘outros por meio da regra das reagdes antecipadas. Quando 0 poderoso tem a consciéncia de que os seus recursos geram nas outras pessoas motivagdes para agir de acordo com os seus (dele) desejos e incentiva essa percepcao de modo a conquistat 0 comportamento desejado, entio ele est exercendo um poder disposicional. Cf. WRONG, 2002, p. 127, € KORPI, 1985. Dahl chama esse poder de “influéncia indireta” e aponta para as dificuldades de captar esse tipo de relacio, ja que, nesses casos, ha motivagdes que nao se traduzem em “comportamentos observaveis’. CF. DAHL, 1989, p. 163-165, e DAHL, 1968, p. 412-413, * GIDDENS, 1998, p. 247. Walter Korpi comete 0 mesmo equivoco de igualar conflito e resistencia a partir da definicaio weberiana. Cf. KORPI, 1985, p. 31, nota 2. As minhas Criticas a essa identificaco seguem as mesmas consideragées encontradas em WRONG (2002, p. 130). * POLSBY, 1974, p. 4. ” DAHL, 1969, p. 85. * Ver também KAPLAN; LASSWELL, 1998, p. 11: “IA relago de poder] é uma relaco triédica. ‘Poder sobre quem’ ainda nao é uma especificacio, completa: deve se acrescentar ‘em relaco a tais € tais aspectos' (0 alcance do poder).” 51 ® Ver, por exemplo, WRIGHT MILLS, 1985, p. 65; DAHL, 1988, cap. III € IV; e BACHRACH; BARATZ, 1983, p. 47. A mesma avaliagao pode ser encontrada em KORPI, 1985, p. 31, nota 1 p. 32, nota 4. E claro que, ao lado da disputa metodolégica, encontramos um debate “normativo", tal como indicado pot LUKES (1976) e WOLFINGER, (197. % DAHL, 1970; POLSBY, 1974, p. 97. 3 LUKES, 1976. LUKES, 1976. 5 a LUKES, 1976, p. 23. Apesar de alguns dos principais autores vinculados a essa perspectiva serem francamente criticos do marxismo (como Foucault e Bourdieu), no seria incorreto dizer que esse tipo de andlise tem, na sua esséncia, alguma proximidade com a teoria marxista da ideologia. Tanto num caso como no outro, 0 dominado € levado inconscientemente a aderir aos valores e crengas que justificam o poder dos dominantes. A proximidade, entretanto, termina por ai, pois a oposicao entre ciéncia € ideologia € 0 vinculo exclusivo da teoria da ideologia com a teoria da classe social, to recorrentes no marxismo, sao pontos categoricamente refutados por alguns dos autores analisados neste texto. % FOUCAULT, 2002a, p. 86; FOUCAULT, 2001, p. 85-86, respectivamente, °° BOURDIEU, 1989, p. 8. *7 BACHRACH; BARATZ, 1969b, p. 109; BACHRACI Pp. 96 € p. 99, nota 30, grifo nosso, ® BACHRACH; BARATZ, 1969b, p. 109. ” BACHRACH; BARATZ, 1969a, p. 98. “ LUKES, 1976, p. 36-37. * POLSBY, 1974, p. 96-137; WOLFINGER, 1971, p. 1.077. © OFFE, 1984, p. 154. * WOLFINGER, 1971, p. 1.069. “ WOLFINGER, 1971, p. 1.065-1.077 € 1.079. *. BACHRACH; BARATZ, 1969b, p. 108. “ BACHRACH; BARATZ, 1970, p. 46. “” BACHRACH; BARATZ, 1970, p. 44. “ BACHRACH; BARATZ, 1970, p. 49-50. SARATZ, 1969a, © A.meu ver, Mathew Crenson segue o mesmo caminho a0 afirmar que “a inagio € um fato tao suscetivel de verificagao empirica quanto a aco” (CRENSON, 1971, p. 26). No seu livro, Crenson analisa 0 comportamento dos decisores de Gary por meio da regra das reagées antecipadas. Esses decisores evitaram ‘adotar uma politica ambiental com medo das reagdes da US Steel, a pode- rosa companhia siderirgica da cidade. No entanto, é importante observar que iss0 foi feito por meio da andlise dos conflitos no processo decisério captadlos com entrevistas feitas com os decisores de Gary. Crenson, em meu fentendimento, enfatiza 0 estudo do que ele chama de “poder de bastidores” (offstage power) em detrimento da analise dos condicionantes institucionais fe estruturais do processo de producao da nio-decisio. 5 LUKES, 1976, p. 20. 3) LUKES, 1976, p. 41. Lembre-se que Lukes nao abre mao do comportamento como evidéncia “importante para comprovar ou refutar hipsteses acerca da atribuicao do exercicio do poder. Lukes apenas rejeita os aspectos metodol6gicos do ‘comportamentalismo que resumem as relagdes de poder aos conflitos observaveis. § LUKES, 1976, p. 47. LUKES, 1976, p. 48-49. % Nao ignoro que o maior problema da teoria do poder de Steven Lukes ‘feside na sua polémica distingao entre “interesses reais” ¢ “interesses manifestos”, distincAo essa problematica do ponto de vista metodolégico _ e sempre perigosa do ponto de vista politico. Nao creio, entretanto, que a tese mais geral de que pode haver poder onde aparentemente hA consenso implica, necessariamente, a adogao dessa distingao. Para ‘nos mesmos exemplos de Lukes, n’io h4 a menor necessidade de que 0 cristianismo ou o islamismo representa o “interesse real” dos ~individuos que ocupam as posigdes inferiores no sistema de casta ou que ~ o.comportamento adotado em situagdes de crise de hegemonia seja a “expresstio dos “interesses reais” dos que buscam escapar do poder. Basta dizer, como faz Gaventa, que nessas situagdes 0s individuos, livres das _ amarras do poder (portanto, autonomamente), definem seus interesses diferentemente. Interesses diferentes n’io sdo nem reais nem falsos, sto "apenas diferentes (GAVENTA, 1980, p. 29). Ver também a critica de _ Ted Benton ao “paradoxo da emancipacao” presente no texto de Lukes (BENTON, 1981, p. 162) * Idemtificar o poder como uma relacdo que impede ao dominado de per- Seguir rotas alternativas ¢ algo que pode ser encontrado em autores de orientagdes te6ricas diferentes. Quanto a este ponto, cf. BLAU (1969) € MARTIN (1978). Poderiamos dizer que toda relagao de poder se baseia a auséncia de saidas alternativas que viabilizariam a fuga do dominado. No entanto, é mais dificil dizer que toda opgao por rotas alternativas ex- Pressa, necessariamente, a existéncia de uma relagio de poder prévia. _™ Podemos perguntar, ainda, como seria possivel saber se “B*, uma vez livre "do poder exercido por “A", nio se insere numa nova relacio de dominacao, Por exemplo, com “C"? Ou por outra, como podemos saber se as novas preferéncias expressas por “B” nessa nova situacdo correspondem de fato aa0s seus “reais interesses”? De qualquer modo, dizer que um dado ator social, submetido a um novo processo de socializacao, desenvolveria uma nova identidade social é uma afirmagio trivial, Cf. BENTON, 1981, p. 167. ” BOURDIEU, 1989a, p. 133-134 ® FOUCAULT, 1995, p. 246. ® GAVENTA, 1980, p. 26 € nota 67. ® WOLFINGER, 1971, p. 1.072. Este procedimento € também utilizado por Mathew Crenson. Primeira- mente, este autor identifica objetivamente altos niveis de poluigao do ar na cidade de Gary. Em seguida, assume o pressuposto razoaivel de que as Pessoas tém interesse em nao serem envenenadas. Pergunta, ento, por que, apesar de nao desejarem ser envenenadas, essas pessoas no agem contra a poluicdo do ar. Por fim, formula a hipotese de trabalho de que essa “inacio" € fruto de relagdes de poder. Cf. CRENSON, 1971, p. 26, nota 67. Quanto a esta questio, ver também a definigio, formulada por Benton, de “objetivo possivel” (nem falso nem verdadeito, mas altemativo), que os dominados poderiam formular em meio & luta simbdlica com os dominantes. Cf. BENTON, 1981, p. 177. “ FOUCAULT, 2002a; BOURDIEU, 1983 € 1989b. © LUKES, 1976, p. 21-22. E verdade que, para os sociGlogos franceses, onde ha poder, ha resistén- cia por meio de praticas sociais que fornecem uma visio alternativa do mundo. No entanto, essa resisténcia ocorre, com muita freqtiéncia, sem que as regras do jogo sejam de fato colocadas em questi. Por essa razo, as transformacées sociais so quase sempre entendidas como “revolugdes regradas” (BOURDIEU, 1983, p. 76), isto é, mudangas parciais que se dao a partir das propria regras que pretendem transformar. Outro autor para quem a resisténcia simbdlica as relagdes de dominio constitui-se em im- portante evidéncia das relagdes de poder 6 BENTON (1981, p. 172-177). © BOURDIEU, 1989c. FOUCAULT, 1995, p. 232. BOURDIEU; PASSERON, 1992, p. 19. ® FOUCAULT, 2002b, p. 7 et seq. 7 BOURDIEU, 1989a, p. 105. ” Observe-se, ainda, que esses dois autores rejeitam categoricamente uma visio teleolégica da hist6ria. As relacdes de poder existentes no presente no sio nem o resultado desejado por um sujeito hist6rico consciente nem fruto das necessidades funcionais da hist6ria. S40, ao contrario, 0 resultado nio antecipado de lutas e estratégias passadas. Cf. FOUCAULT, 1982, p. 18-28, e BOURDIEU, 1989d, p. 75-76 € nota 1. 54 % Certamente, Foucault e Bourdieu nao negam que os atores sociais adotam condutas estrategicamente orientadas, mas insistem na maior importan- cia de outros “principios geradores das priticas’, como 0 habitus ou 0 processo de normalizagao. Cf., por exemplo, BOURDIEU, 1986, p. 40, e FOUCAULT, 2001, p. 90-91 % Do ponto de vista da clareza conceitual, seria © caso de questionar a utilidade de designar a expressio “poder legitimo” para descrever tanto relagdes de troca baseadas na distribuicao de incentivos seletivos (ga- nhos materiais e de prestigio) como aquelas baseadas na distribuicao de incentivos coletivos (sentimentos de identidade coletiva), como faz Panebianco. O proprio autor reconhece a existéncia de diferencas fundamentais entre esses dois tipos de relacdes sociais, entre elas 0 cardter consciente (estratégico ¢ utilitarista) de uma e inconsciente, de outra. Cf. PANEBIANCO, 2005, p. 78-83 ¢ nota 19. % CLEGG, 1975, cap. 3. % A bem da verdade, Dahl reconhece a existéncia de um “controle pelo treinamento” realizado por meio de processos de socializaco que ocorrem nas instituicdes sociais. Diz ainda que esse tipo de controle é “uma forma ubiqua de influéncia’. No entanto, é inegavel que o tema € marginal em sua obra. Cf. DAHL, 1988, p. 49. 7 WEBER, 1984, p. 699. _® Sendo assim, 0 conceito de dominagao difere do conceito de agao social, que mio exige, de modo nenhum, que o sentido atribuido pelos partici- pantes envolvidos seja o mesmo. Cf. WEBER, 1984, p. 22. ” WEBER, 1984, p. 23. ® WEBER, 1984, p. 695 € p. 23. 8 No entanto, € sabido que Weber pouco ou nada disse sobre as condigoes € 05 processos pelos quais uma dada estrutura de dominagao se torna legitima, 0 que s6 poderia ser feito por meio de anilises hist6ricas que o autor nao desenvolveu. Sobre esse ponto e sobre as varias “facetas” do conceito de legitimidade em Weber, cf. BENSMAN (1979). "= WEBER, 1984, p. 695. ™ Essas relacdes genuinamente consensuais poderiam ser chamadas, seguin- do Weber, de “relagdes pactuadas por declaracio reciproca”. Cf. WEBER, 1984, p. 23. ™ WEBER, 1984, p. 22. ® Segundo Bensman, Weber admite explicitamente que uma ordem ini- cialmente imposta pela coacio pode, a longo prazo, tornar-se legitima. ‘Cf. BENSMAN, 1979, Pp. 21-22. Ou, dito de outra forma, “atores podem investir recursos de poder na construcio de estruturas ¢ instituigdes que, a.longo prazo, afetam e constrangem 0 comportamento de outros atores” (KORPI, 1985, p. 38). 5s * Desde que nao incorporemos a tentativa de Clegg de fazer de Weber um estruturalista avant la lettre. Quanto a este ponto, cf. CHAZEL, 1996, p. 230-231, REFERENCIAS BACHRACH, Peter; BARATZ, Morton S. Two Faces of Power. In: BELL, R.; EDWARDS, David V.; WAGNER, H. R. Political Power: A Reader in Theory and Research. New York: The Free Press, 1969a. p. 94-99 BACHRACH, Peter; BARATZ, Morton S. 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Estanislau Ponte Preta _ Na tiltima campanha eleitoral (2006), a oposigao levantou a andeira da moralidade na politica, que pode ter sensibilizado _ muitos, mas nao o suficiente para convencer a maioria dos leitores a mudar seus votos. Ainda hoje, pessoas que insistem tema da ética e da corrup¢&o no trato das coisas publicas so acusadas de “udenistas”, expresso que pode nao fazer uito sentido para quem tem menos de 50 anos, mas lembra as ipanhas da antiga Unido Democratica Nacional, com Carlos acerda, Aliomar Baleeiro e a “banda de miisica” dos politicos e faziam oposicao a Gettlio, primeiramente, e a Juscelino ibitschek, depois. Nos anos de 1950, um artigo famoso nos a 10s de Nosso Tempo interpretava o moralismo udenista © uma manifestacao da alienagio das classes médias em as transformagées que ocorriam no pais, das quais elas alificagao, que era depois explicitada: a perspectiva mo- ralista, no melhor dos casos, era ingénua, porque supunha que +8 Etica da politica devia ser igual a ética das relagdes pessoais, € ao levava em consideracao a realidade da tensao entre meios e que, desde Maquiavel, sabemos ser inerente a acao publica.

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