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2son2016 ‘Aimprensa e oimpéio colonial em S8o Tomé e Principe (1857-1974) Comunicacao Publica Vol.g n°16 | 2014 Varia Artigas A imprensa e o império colonial em Sao Tomé e Principe (1857- 1974) The press and the colonial empire in Sao Tomé and Principe (1857-1974) Isapora DE ATAIDE FONSECA Resumos Portugués English Analisar a trajectoria ¢ desempenho da imprensa em Sio Tomé e Principe ao longo do colonialismo € 0 abjectivo deste artigo. Observam-se os papéis desempenhados pelo jornalismo no contexto sociopolitica do arquipélago no periodo colonial, entre 1857 © 1974. Para se compreender o pereurso da imprensa e a sua interdependéncia do contexto politico, aplicam-se as teorias do jornalismo e dos sistemas de imprensa em regimes liberais autoritérios. A investigagao envolveu pesquisa em fontes primérias e secundérias, eo artigo sistematiza o legado da imprensa colonial e produz uma sintese sobre as relagies entre a imprensa e o colonialism. ‘The main goal of this paper is to draw a picture of the trajectory and performance of the press in So Tomé and Principe throughout the colonial period. The roles played by journalism are ‘analyzed in the light of the political regimes and social-economic environment of the archipelago between 1857 and 1974. With the goal of understanding the evolution of the press and its interdependence with the political context, the study uses the theories of journalism and press system in liberal and authoritarian regimes, The research explored both primary and secondary sources and summarizes the legacy of colonial press. Entradas no indice Palavras-chave : Sio Tomé e Principe, imprensa, colonialismo, regimes politicas Keywords : Sio Tomé and Principe, press, colonialism, political regimes Notas da redaccao Recebido: 15 Maio 2014 Aceite para publicagior 15 Julho 2014 Notas do autor hipiteprewes.org/2 19 2son2016 ‘Aimprensa e oimpéio colonial em S8o Tomé e Principe (1857-1974) A.autora agradece os comentarios dos revisores anénimos, os quais contribuiram para enriquecer o presente artigo, Texto integral Introdugao Analisar os papéis desempenhados pelo jomalismo, sistematizar o legado do sistema de imprensa do periodo colonial e reflectir sobre as relagdes entre a imprensa, o império € 0 colonialismo em Sio Tomé e Principe (STP) so os objectivos deste artigo. Para tal acompanhou-se o percurso da imprensa no arquipélago através da investigagio em fontes primérias.' Gongalves (1966) identificou os principais periédicos de STP no periodo colonial; porém, nio desenvolveu uma leitura socio-histérica da imprensa no arquipélago. Note-se que diversas dteas do conhecimento sobre STP ainda néo receberam a atengdo dos historiadores (Nascimento, 2012), entre elas a imprensa. Neste sentido, o artigo também quer contribuir para uma andlise socio-histérica da imprensa edo jornalismo, O artigo foca-se na andlise, com o intuito de constituir uma sintese, da emergéncia do desenvolvimento da imprensa durante o colonialismo, do desempenho jornalistico e das relagées entre a imprensa e 0 império. Para se analisar estas relagées adoptou-se ‘uma perspectiva de investigagao multidisciplinar que incluiu as dimensdes politica, econémica e social, seguindo-se o conselho de Porter (2011 [1994], p.181). A pesquisa empirica seguiu principios analiticos e metodolégicos multidisciplinares multicausais, valorizando os processos sociais “enquanto resultados de miiltiplas redes sécio-espaciais interligadas e sobrepostas de poder econémico, ideologico, militar e politico”, como sugerido por Jerénimo (2011, pp. 32-33). O estudo abrange um perfodo de 117 anos, entre o surgimento do boletim oficial, em 1857, eas negociagées para a independéncia de STP, em 1974. Tais marcos, para além. de incluirem todo 0 periodo colonial, permitem a observacdo das rupturas e das continuidades ao longo do tempo e possibilitam uma anilise comparada do impacto dos regimes politicos sobre a imprensa. Assim, numa perspectiva sociopolitica, observa-se a imprensa em interdependéncia com os regimes ¢ adopta-se a seguinte periodizagio: Monarquia Constitucional (1857-1910); Primeira Repiiblica (1910-1926); € Estado Novo (1926-1974)? Na observagio do desempenho da imprensa procura-se superar uma anélise “tradicional” — na qual o jornalismo desempenha os papéis de estabilizar e manter a ordem nos regimes autoritérios e é 0 garante das liberdades nas democracias (Gunther e Mughan, 2000, pp. 3-4). Para tal, aplicam-se teorias do jornalismo e da imprensa em regimes liberais e autoritérios. As teorias desenvolvidas por Christians et al. (2009, pp. 30-31), que assinalam os papéis monitor, facilitador, radical ¢ colaborador como caracteristicos dos regimes liberais, so aplicadas neste estudo. “The term “monitorial” includes the notion of providing advance intelligence, advice, warning, and everything, of general utility for information seekers”. No papel facilitador, “the media provide access for legitimate claimants to public attention”. Sobre o papel radical, “the media enact this role when they provide a platform for views and voices that are eritical of authority”, Por fim, o papel colaborador “refers specifically to the relationship between the media and sources of political and economic power, primarily the state and its agencies”. Para se pensar sobre a imprensa em periodos autoritérios aplica-se a perspectiva de Siebert et al. (1963 [1956)), P. 28), na qual “the first duty of the press is to avoid interference with the objectives of the state”. Para se analisar o sistema de imprensa, o trabalho tem como referéncia as dimensdes desenvolvidas por Hallin e Mancini (2004, pp. 21-44), ¢ incorpora também as eriticas € as revisdes deste campo tedtico (Hallin e Mancini, 2012).* Assim, a sistematizaggo do legado do sistema de imprensa inclui as seguintes dimensdes: 1) desempenho dos papéis jornalisticos; 2) estrutura de mercado; 3) profissionalismo; 4) paralelismo hepiteprewes.org/42 29 2son2016 ‘Aimprensa eo impéro colonial em S80 Tomé e Principe (1887-1974) politico; e 5) intervengao do Estado, Em relagdo & estrutura de mercado, observam-se 0 perfil editorial dos titulos, os grupos/individuos proprietérios da imprensa e o piblico- alvo. Quanto ao profissionalismo, examina-se o perfil dos jomnalistas, a sua articulagao enquanto grupo ea existéncia de praticas comuns entre os profissionais. O paralelismo politico &a expresso das tendéncias e opinides dos grupos através da imprensa, e para © observar analisam-se os contetidos jornalisticos, o pluralismo da imprensa e as conexdes entre os grupos sociais, a imprensa e os jomalistas. Para compreender a intervengio do Estado, observam-se a legislagao e as relagdes dos governos com a imprensa privada. A imprensa, como outras instituigdes coloniais, estenden-se & Africa Portuguesa no contexto dos processos politicos do século XIX.4 A revolugao liberal e a independéncia do Brasil, a crise econémica e os conflitos intemnos que permearam Portugal na primeira metade do século XIX, bem como a afirmacao da esfera piiblica através da imprensa, foram eventos cruciais para que se estabelecesse uma nova politica para a Africa Portuguesa. Entre os resultados destes processos, salienta-se a constituigdo de uma lei organica para as colénias, em 1836, que determinou a publicagao de boletins oficiais nas coldnias africanas.5 Enviar escravos para as plantagies brasileiras foi a principal atribuigdo dos territérios africanos até ao século XIX. Porém, a independéncia do Brasil, em 1822, abalou a estrutura do império, e no fim da década de 1830 o debate sobre os problemas coloniais ganhou relevo, contribuindo para a emergéncia dos mitos do Eldorado, com “a crenga na riqueza inabalavel das colénias afticanas”, e da Heranga Sagrada, que “via na conservagio de toda e qualquer parcela do territério ultramarino um imperativo historico” (Alexandre, 1998, pp.42-43). Os territ6rios afticanos surgiam como uma ‘tébua de salvagdo para Portugal e 0 governo procurava fortalecer a sua acgo para garantir a presenga portuguesa em Africa e fomentar o desenvolvimento econémico. Foi neste contexto que foram implantados os boletins oficiais, ao que se seguiu a emergéncia de uma imprensa que apoiava os propésitos coloniais. Contudo, houve conflitos com a elite nativa, que se manifestou através de um jornalismo afticano que interpelou o projecto colonial ao longo da Monarquia e da Primeira Repiblica. Com 0 Estado Novo as diferencas politicas entre os grupos sociais no arquipélago foram silenciadas ea imprensa serviu a propaganda autoritaria. 1. Monarquia Constitucional, o desembarque da imprensa Descobertas entre 1470 € 1471, as ilhas eram despovoadas, e foi em 1483 que Portugal ali fundou uma colénia, A cana-de-agécar fez do arquipélago uma economia de plantagéo a partir da mo-de-obra escrava. As unides entre brancos e negros foram encorajadas ¢ 0 reino desenvolveu uma politica de alforria para garantir o crescimento populacional ~ dai que os ‘ilhéus’ se tenham originado das unides entre europeus afticanos, desenvolvendo uma identidade com tragos africanos e portugueses € que contribufa para a sua influéneia nas actividades comerciais e politicas. A partir do século XVII deu-se o declinio das ilhas, sobretudo pela concorréncia da industria agueareira do Brasil. A redugdo dos colonos europeus fortaleceu a sociedade africana e os ilhéus tornaram-se os principais proprietérios da terra, A introdugio do café e do cacau no principio do século XIX foi decisiva para o renascer das ilhas. Em 1852, a capital foi transferida do Principe para Sao Tomé, marco do infeio da segunda colonizacao, Pela compra, pela fraude ou pela forga, gradualmente os portugueses apropriaram-se das terras e fundaram rogas nas quais trabalhavam centenas de pessoas e que tinham autonomia administrativa. Coincidente com a segunda colonizagao é o inicio do boletim oficial em STP. Em 03 de Outubro de 1857 circulava a primeira edi¢do do Boletim Official do Governo da Provincia de S. Thomé e Principe. Em particular ao longo do século XIX, 0 Boletim Oficial desempenhou fungées informativas: divulgava a legislagao e ordens oficiais, disseminava noticias locais ¢ intemacionais e trazia conteidos culturais. Semanal, 0 hepiteprewes.org/42 ana 2son2016 ‘Aimprensa eo impéro colonial em S80 Tomé e Principe (1887-1974) boletim estave estruturado em editorias: a Parte Oficial inclufa as ordens do reino, as portarias do Governo da Provincia e as informagoes da Junta da Fazenda; a Parte nao Oficial trazia contetidos como o boletim policial, o mapa nosolégico das ilhas, a lista de obitos, estatisticas populacionais ou o movimento maritimo. Para além do quotidiano do arquipélago, os contetidos néo-oficiais propagavam o projecto colonial portugués € as suas acces em Africa, inclusive com colaboragées pontuais de colonos radicadas em STP e, eventualmente, com a reprodugio de textos publicados na imprensa da metropole. Para ilustrar os eontetidos do Boletim Oficial antes do sungimento da imprensa no- oficial, e para sublinhar a sua relagéo com o contexto sociopolitico, refira-se, por exemplo, a edigio de Fevereiro de 1861, que avisava que tinha sido presa, “por fugir, Felicidade, escrava de Julido Alves de Carvalho”. A populagdo total da ilha do Principe era de 2785 pessoas, 49 brancas, em 1869, informava um boletim de Marco desse ano. AA “relagiio dos libertos passados & condigao de livres” foi publicada numa edigo de Julho de 1875 do Boletim Oficial. Em Outubro de 1884 0 boletim publicava a conferéneia de H. Johnston, na Sociedade de Geografia de Londres, sobre a colonizacdo em STP, outro exemplo da diversidade tematica do Boletim Oficial. A aboligdo da escravatura seguiu-se uma crise bracal na agricultura, para a qual a contratagao de trabalhadores das outras coldnias portuguesas, em especial de Angola, foi a solugdo. O capital estrangeiro chegou ao arquipélago em 1890 e formaram-se companhias que recrutavam méo-de-obra noutras colénias portuguesas em Africa. Mas a crescente intervencao da metrépole na administragao local fragilizou o poder politico e econdmico dos ilhéus. O papel que os nativos tinham nas administracdes municipais tomou-se insignificante a partir de 1902, quando o governo dissolven as cmaras cleitas. A insatisfagdo dos ilhéus associou-se as critieas de alguns sectores entre os colonos europeus em STP (comerciantes ¢ funcionérios piblicos, por exemplo) & administragao no arquipélago e a0 governo na metrépole. A alianga entre ilhéus € europeus traduziu-se no manifesto Ao Parlamento Portugués, em 1908, 0 qual criticava a “subserviéneia” do governo de SIP aos interesses dos roceiros e os crescentes desvios de recursos financeiros por parte da administragdo local. Tais recursos destinavam-se as colénias deficitérias da Africa Portuguesa e as priticas clientelistas do governo de STP com os grandes proprietérios de terra (Nascimento, 2001, p. 224). Equador (1869) {oi 0 primeiro jornal independente do arquipélago, e assumia-se como Semanério Agricola, Comercial e Cientffico. Entre 1881 ¢ 1884 circulou 0 Jornal de S. Tomé, ¢ entre 1887 ¢ 1890 era publicado O Correio de S. Tomé. Em 1892 veio a piiblico O Coméreio de S. Tomé — contudo, s6 se conheceu 0 seu primeira mimero.¢ O semanério A Liberdade (n.° 23, Fevereiro de 1921) noticiava que iria reapareeer o jornal A Acgfo, “sustentado pelos trunfos da agricultura”, e que teria terminado por “ter feito guerra ao govemnador’.’ A Liberdade observava que 0 jomal defendera “o regime monérquico” e “os interesses capitalistas”. Hé registos do Equatorial, referido como defensor da retomada das cleigdes municipais numa noticia em 0 Africano na qual se relata que o Ministério Pablico Ihe moveu um processo (O Africano, n.° 39, Abril de 1910). Os. esea sos registos sobre este periodo dificultam a andlise dos papéis desempenhados pelo jornalismo e das caracteristicas do sistema de imprensa nesta época. Todavia, visto o Boletim Oficial ser propriedade do Estado ¢ publicado pelo governo, e sobretudo pelo tipo de informago que disseminou, desempenhou um papel colaborador. A colaboragéo refere-se & relacio directa entre a imprensa e 0 governo e implica que a informagio corrobore as politicas e praticas do regime para que as metas deste sejam atingidas (Christians et al, 2009, p. 197). Quanto aos semanérios privados, mostram uma imprensa preocupada com a defesa dos interesses da agricultura e do comércio. Jomnais como o Equatorial € A Accdo parecem ter sido os precursores do jomnalismo politico em STP. 2. Republica, a afirmagao da imprensa hepiteprewes.org/42 an9 2son2016 a ‘Aimprensa eo impéro colonial em S80 Tomé e Principe (1887-1974) Os principios culturais e econémicos de preservagéo e desenvolvimento dos territérios ultramarinos foram mantidos pela Repiiblica, A heranga da monarquia em Africa consistia em territérios atrasados onde se enfrentava a resisténcia da populagio autéctone © nos quais prosseguia o trabalho forgado. A Constituigao determinara administragdes descentralizadas nas provincias ultramarinas e as leis de 1914 previam cartas orgdnicas que respondessem ao perfil de cada uma das colénias. © projecto republicano tinha reunido vozes em STP entre europeus € nativos. A presenga de exilados politicos, a critica a administragdo colonial, o problema das infra- estruturas e a auséneia de eleigdes municipais estiveram entre os factores que impulsionaram 0 movimento republicano no arquipélago (Nascimento, 2001, p. 232). Nos ltimos anos da monarquia emergiu o associativismo e destacaram-se a Associagdo de Beneficéncia Pré-Pétria, a Associagao dos Empregados do Coméreio e da Agricultura deS. Toméea Caixa Econémica de S. Tomé. ‘A Liga dos Interesses Indfgenas, activa desde 1910, foi legalizada em Outubro de 1911, Actividades fisicas e de formagio educacional e a protecgao ¢ defesa dos nativos estiveram entre as acgdes desta associagdo. A Liga defendeu os servigais de outras colénias; porém, também procurou demarcar-se destes para preservar a condiglo social politica dos ilhéus, isto porque em STP nao havia politica de assimilacao, sendo estes considerados ‘civilizados’ e tendo direito a participagéo politica. J4 os africanos oriundos das outras colénias eram considerados ‘indigenas’ (em contraposigao a ‘civilizados’), e nao gozavam dos mesmos direitos que tinham ilhéus e colonos. Daf a acgdo ambigua da Liga, a reivindicar direitos para os africanos e em simultaneo a diferencié-los dos ilhéus. Entretanto, a partir de 1920, devido & intensificagao dos conflitos de raga e de classe no arquipélago, ao aumento da represso da organizaga por parte do governo eao refluxo do pan-africanismo, a actividade da Liga suavizou-se, com a adopgdo de um discurso mais conciliador (Nascimento, 1999, p. 426). A partir da ocupacao europeia e portuguesa em Africa, a ordem implantada foi a da existéncia de duas sociedades: a dominadora e a dominada. O dualismo na sociedade colonial manifestava-se nas relages sociais, na divisdo do trabalho e na distribuigéo dos privilégios. Estruturava-se nas oposigdes entre branco e preto, indigena e colonizador, civilizado e primitivo, supersti¢ao e religifo, cédigo de trabalho indigena e Jei do trabalho, entre outros (Cabago, 2010, p. 36). Embora em Sao Tomé e Principe nao houvesse politica de assimilacdo, também se manifestaram as dualidades coloniais.® Estas, ¢ as clivagens, aconteceram entre europeus ¢ ilhéus de um lado e servigais do outro (afticanos oriundos de outras colénias e sem direitos de cidadania), entre ilhéus e servigais, ¢ entre europeus ¢ ilhéus. Contudo, no interior destes grupos também havia diferencas (europeus proprietarios e europeus empregados, por exemplo). Através do poder politico e econémico os europeus (proprietirios e dirigentes piiblicos) impuseram-se aos nativos no controlo do arquipélago. Para tal, foi decisivo 0 sistema produtivo de STP, o qual dependia da politica indigena de Mogambique, Angola e Guiné As rogas alienavam os africanos, retiravam-lIhes os direitos deixavam-nos imobilizados relativamente a qualquer tipo de resisténcia. Assim, coube aos nativos sdo-tomenses 0 protagonismo nas lutas politicas ao longo do periodo republicano, Emengiu ainda uma terceira forga — os europeus comerciantes de média dimensao, funcionarios e empregados (trabalhadores no comércio, nas rogas e nos servigos). Os conflitos entre os grupos foram de cardcter politico, econémico e social e oeuparam as paginas dos jomais. A administragio municipal e 0 governo da colonia estiveram no seu epicentro. Criticas ao Terreiro do Paco e ao projecto colonial foram {eitas por todos os grupos, embora com conteido e tom distintos. ‘No campo econémico, a crise da mao-de-obra e a usurpagao de terras estavam na agenda social e jomalistica. Outros focos de debate foram os saldrios, o custo de vida ea distribuigio dos cargos piiblicos. A riqueza do cacau nao resultou em melhorias para 0 espaco urbano e rural em SIP, e os problemas infra-estruturais foram criticados pelos varios grupos. Os afrieanos de Sio Tomé e Prineipe afirmaram-se como ‘nativos’, mas tinham divergéncias: alguns defendiam o pan-africanismo e falavam da independéncia do territério, enquanto outros se afirmavam portugueses e Iutavam por espago no paradigma colonial, como se verd, hepiteprewes.org/42 a9 2son2016 2» 29 Aimprensa 8 impo clonal em Séo Tomé @ Principe (1857-1976) 2.1 A afirmagao da imprensa ‘Ao longo do perfodo republicano, a imprensa em Sio Tomé e Principe afirmou-se e estruturou-se acompanhando os trés principais grupos sociais: europeus comerciantes e empregados do comércio e da agricultura, a elite nativa de STP, e europeus proprietérios de terra e dirigentes pablicos da colénia. O primeiro segmento da imprensa no periodo republicano é 0 dos jomais ligados aos curopeus comerciantes de média dimensao ¢ empregados. O Africano, A Defesa ¢ A Desafronta compoem este grupo, que se caracteriza por ser critico da administragéo local por ter uma posi¢ao dibia em relagdo aos africanos. O Africano, Semandrio Independente, surgiu em Margo de 1909 e foi propriedade do europeu Américo Augusto Mendes. A falta de “competéncia” do Terreiro do Pago, que “ [..] desconhece e nao resolve os problemas das ilhas [..], num regime de favores e de convengdes mentirosas, alheio a toda a manifestagio da vida progressiva do povo que trabalha, quer na metrépole quet no ultramar’, edo qual “nao podemos esperar nada sem uma transformacao radieal nas camadas dirigentes’, foi apontada pelo jornal no n.° 12 (Maio de 1909)."° O saneamento da ilha ¢ a nomeago de funciondrios puiblicos sem concurso fizeram manchete em O Africano. Contudo, as criticas mais duras 4 administragéo local referiam-se aos gastos piblicos: “as verbas destinam-se para fins distintos dos quais foram aprovados [...], © dinheiro vai parar ao bolso dos funcionarios”, ataca 0 n.° 34 (Novembro de 1909). Para o jomal, a “inutilidade” dos policias justificava-se por estes serem afrieanos, “Como pode alguém, neste século ter a pretensio de impor que gente civilizada (sem discutir cores) respeite um preto bocal, semi-selvagem, a quem albardaram com uma farda?” (n.° 18, Julho de 1909). Os trabalhadores africanos nas rogas tinham um tratamento semelhante, sendo acusados de serem “fracos” por abusarem do Aleool, praticarem a poligamia ¢ acreditarem em feitigos (n.° 36, Janeiro de 1910). A iiltima edigdo deste semanério, n.° 46, saiu em 07 de Julho e criticava o novo governador, Leote do Rego." Com origem no mesmo grupo social, e seguindo uma linha editorial semelhante A de © Africano, apareceu, em 1914, A Defesa ~ Defensor dos Interesses de S. Tomé Principe, um quinzenério regular entre 1915 e 1916. Teve como proprietario e editor Hygino J. Assumpgao, comerciante socialista radicado em STP. O n.° 0g (Setembro de 1915) esclarece os leitores, referindo que o jomal teve uma auséncia “forgada” pela falta de papel e explicando os custos de produgao do titulo." No n.° 03 (Outubro de1915) 0 jomal reclama ser “independente”, ainda que os seus jornalistas fagam parte do nucleo de STP do Partido Socialista portugués. Os interesses dos comerciantes e dos empregados do comércio foram defendidos por este quinzendrio através dos contefidos do jornal. Sobre um concurso para a arrematago de géneros para os militares, o jornal criticava o facto de que “os governantes continuam a julgar que tudo isso é deles e que podem continuar a dispor dos nossos haveres e das nossas pessoas como se estivessem em pleno regime de absolutismo” (n.° 09, 10 de Fevereiro de 1916)."° Para os empregados também havia espago: “os patres no compreendem que os empregados no so escravos”, apelava A Defesa no n.° 04 (Novembro de 1915). 0 jomal criticava o governo central pelo crescimento do défice, pela participagao na guerra e pelos problemas de subsisténcia, e 0 governo local era acusado de fazer nomeagoes a titulo do “seu humor” (n.° 06, Dezembro de 1915). A acumulagéo de cargos e ganhos “que prejudicam 0 erério piiblico” foi denunciada pelo professor que era também o veterinério municipal (n.° 11, Margo de 1916). A fome e as cubatas como reflexo da miséria em Sao 'Tomé foi outro tema abordado por A Defesa Ainda neste sector da imprensa, surge 0 semanario A Desafronta, dirigido pelo europeu Galino Marques, até entdo empregado no coméreio e que langa 0 jomal para atacar 0 seu antigo patrio, Jodo Alberto Xisto, “eseravista, negreiro, cigano” (n.° o1, Fevereiro de 1924). Entretanto, o titulo ganha félego e os problemas locais, privilegiados. No n.° 05 (Margo de 1924), por exemplo, 0 artigo principal aborda hepiteprewes.org/42 a9 2son2016 » a” » ‘Aimprensa eo impéro colonial em S80 Tomé e Principe (1887-1974) défice e os impostos em STP e relaciona-os com os problemas da cidade: caminho-de- ferro, estradas, saneamento. A mé situagio das vilas de SIP e a denincia de irregularidades pelos administradores preocupou A Desafronta. A demissio do regedor da Vila da ‘Trindade foi reivindicada no n.° 40 (Novembro de 1924): além de ser acusado de abusos, era-o também de tentativa de subomo junto do jornal para evitar as deniincias. J4 quanto & cidade de Sio Tomé foi defendido 0 mandato de Frederico Leitdo na comisso camaritia. A diltima edigdo do jomal 60 n.® 82, de 03 de Setembro de 1925. Neste anuncia-se que Galino Marques sera candidato a deputado nas eleigées que iriam decorrer em Novembro, 0 que & indicador das relagdes entre imprensa, jomalismo e politica 2.2 Jornalismo africano © segundo segmento da imprensa republicana foi o dos jomnais afticanos, propriedade dos nativos e defensores dos seus interesses. Folha de Annuncios, A Verdade, A Liberdade e O Combate constituiram a imprensa nativa em STP. “Os nativos desta ilha nao tém outra ambig&o que nao seja lutar pela liberdade, igualdade, fraternidade e pelo interesse moral e material da terra que os viu nascet” — é esta a forma como se apresenta o Folha de Annuncios, Semandrio Politico, Literdrio e Noticioso, no n.® o1 (Julho de 1911), No n° 03, 0 Folha de Annuncios passa a chamar-se A Verdade, Semanério Demoeritico Independente para a Defesa dos Interesses da Provincia. O jornal tem como director e proprietirio o nativo Ezequiel Pires dos Santos Ramos."4 As tematicas do jomal séo essencialmente politicas, como a discussio do futur econémico da provincia (n.° 06, Agosto de 1911) ou as reivindicagdes para a populagao ilhoa: “a populagao nativa esté reduzida a miséria”. A destruigdo da tipografia Africana levou ao fim do jornal, em Agosto de 1912, ¢ os assalariados europeus foram acusados do seu empastelamento a mando do governador. Uma portaria provincial proibiu o jomal em. Setembro de 1912 (Espirito Santo, 2012, pp. 129-130). A Liberdade foi outro importante jomal africano, “fundado por um grupo de naturais” e editado por Josué de Aguiar entre 1919 € 1923. No jornal relatam-se perseguigdes devido as suas deniincias contra o curador Ant6nio Aguiar (n.° 19, Maio de 1920), o que obrigou a que fosse impresso em Luanda ¢ depois em Lisboa. A defesa dos afticanos, naturais e servicais, e a luta politica contra a administragio local foram os focos do semanério. Neste ambito, destacou-se 0 problema das terras: “o alargamento das terras foi o modo mais comum de se roubar terras aos indigenas e aos angolares”, denuncia o jornal no n.® 22 (Dezembro de 1920) ‘No suplemento do n.° 24 (Abril de 1921), o jomal formaliza a acusagéo de que “em pleno século XX ealeam-se os direitos dos povos, esmagam-se-thes as legitimas aspiragdes de progresso ¢ liberdade, espoliam-se-lhes as fazendas, exploram-se-lhes as cenengias em proveito duma oligarquia de traficantes e de bandoleiros sem eseripulos ¢ humanidade’, O artigo fazia saber que se preparava a “deportagéo em massa” dos indfgenas para se lhes roubarem as terras e pedia uma sindicdncia contra o “riquissimo roceiro” e governador Eduardo Nogueira Lemos. A Liberdade reflecte a emergéncia dos ideais africanistas em STP ao divulgar a realizagdo do congresso pan-africano (1921, em Londres) e ao afirmar que sel estivesse ia protestar contra todos os sistemas de colonizacio das nacGes ditas civilizadas, porque elas so conduzidas por procedimentos de pressiio com a brutal extingao das ragas autéctones” (n.° 25, Setembro de 1921). Na mesma edig&o, a Junta de Defesa dos Direitos de Africa publica um manifesto dirigido ao povo de STP no qual apresenta as suas lutas: nacionalizagio das colénias; revogacao das leis de excepeao; garantia da vida e das propriedades indigenas; liberdade de trabalho e aboligéo do servilismo; ensino obrigatério; remodelagdo da administragdo municipal; ¢ realizagdo de cleigoes.'5 ‘Temas frequentes neste jornal foram a polémica da demoligio das casas precdrias, as criticas as obras piblicas e a auséncia de informagao sobre o destino dos recursos ou a nomeagao de funciondrios sem qualificagGes e com altos vencimentos. O administrador do concelho, Frederico Leitdo, foi alvo constante: “este prende e acorrenta cidadaos para hepiteprewes.org/42 m9 2son2016 38 a 38 “ 42 8 ‘Aimprensa eo impéro colonial em S80 Tomé e Principe (1887-1974) condené-los a trabalhos piblicos”. As arbitrariedades do recenseamento eleitoral, a defesa do candidato Augusto Gamboa, poesia satitiea e notas acidas sobre a cidade e suas personagens foram conteiidos que fizeram de A Liberdade um retrato de STP. Por fim, o efémero e ruidoso O Combate (1925). Propriedade do comerciante Jozo Carragoso e tendo como redactor principal o nativo, intelectual e activista politico Augusto Gamboa, O Combate, Jornal semanal defensor dos interesses piiblicos da provincia, dos oprimidos, sem distingdo de cor, raca ou hierarquia durou apenas seis edigdes. Gamboa era, como referido, nativo (deputado eleito em 1922), defensor dos interesses africanos e um erftico mordaz da administragdo da colénia. O jomal foi suspenso pelo governador Eugénio Soares Branco em Abril de 1925 devido as suas criticas ao governo ea sua agenda reivindicativa de direitos para nativos e africanos. “O Combate, nasce para a luta; Iuta sem tréguas nem quartel contra o despotismo, contra a tirania”, apresentava-se o jomal no n.° o1 (Margo de 1925). E acusava os mandatérios de no saberem governar: “E isso que os governadores no tém sabido fazer. Fiados com camarilhas para quem nao ha dinheiro que chegue”. Os dirigentes municipais si atacados no n.° 03 (Abril de 1925): “O presidente da camara é omnipotente quando se trata de defender os seus amigos’ Nos seus trés dltimos niimeros, surgi em O Combate a reivindicagao da retomada das cleigdes camardrias. O n.° 04 (Abril de 1925) denuncia um administrador de propriedade privada que é chefe de uma repartigdo publica “apenas uma vez por més, no dia do pagamento”. O n.° 06, tiltima edigio de O Combate, de 25 de Abril de 1925, aponta a falta de interesse “como uma das consequéncias da nossa desuniao, causa da péssima situagdo em que nés africanos nos encontramos hoje”. 2.3 Suporte colonial 0 terceiro sector da imprensa caracterizou-se por jomais que eram propriedade de ceuropeus ligados ao poder politico e econémico e que apoiavam o governo local. Foram estes O Modesto, O Jornal eA Colénia. Publicado entre 1920 € 1923, 0 semanario O Modesto afirmava as suas opgé politicas, como por exemplo a defesa do candidato Aprigio Augusto de Serra e Moura, director do jornal a partir de 1922, nas eleigdes de 1921. Este, num suplemento da edigdo n.° 24 (Dezembro de 1921), procurava equilibrar os conflitos entre europeus € indigenas: “Nunca notei nem ouvi que eles tivessem quaisquer aspiragies de independéncia, ou édio contra os europeus”. Em O Modesto 0 governo local foi constantemente apoiado. O n.° 35 avisa que “o governador da col6nia est na metropole com muito trabalho para promover o fomento das ihas”. O Terreiro do Paco era criticado pela falta de operdrios no arquipélago (n.° 41, Junho de 1922) e por planear julgar os presos politicos nas colénias: “era s6 0 que faltava, para que a vida aqui fosse um verdadeiro eéu aberto |... era esses prometedores ‘mogos a ensinarem os pretos como se fazem bombas” (n.° 35, Abril de 1922). 0 mesmo tom teve O Jornal, dirigido por Egydio Inso, responsavel pela implantagio dos servigos de agricultura de STP. Trimensal, 0 periédico trouxe muitos contetidos sobre a agricultura e os problemas urbanos. No n.° 03 (Novembro de 1922) deixava a critica de que “na colénia esté tudo por fazer [..] Tudo o que ha é uma vergonha, uma miséria”, A coluna Palavras d'um Patrdo é sintomética dos conflitos entre europeus, e a Associagio dos Empregados do Comércio e da Agricultura era atacada no n.° 12, (Fevereiro de 1923): “tem estatutos mas faltam-lhes ideias, directrizes proprias ¢ auténomas”, Jornal durou um ano. A tiltima edigdo saiu em Setembro de 1923 e justificava-se ai o seu fim pela partida de Egydio Inso para Lisboa. O texto de despedida notava que “o governo da colénia sempre o encontrou [Inso] a seu lado na defesa das belas causas, pela palavra eserita e falada” A Colénia, hebdomadério republicano, chegou as ruas em 29 de Setembro de 1923, como defensor das elites europeias e dos seus interesses. Na altura do langamento, 0 Jomal tinha como director Castro Lopes Alpoim, representante da Liga Pré-Colonias nas ilhas."* Em Abril de 1924, José de Sousa Varela, curador-geral de STP, toma-se hepiteprewes.org/42 ano 2son2016 48 “9 ‘Aimprensa eo impéro colonial em S80 Tomé e Principe (1887-1974) director. Em Junho do mesmo ano, a direcedo passa a ser de Ferreira da Cruz, que tinha sido exonerado como administrador do concelho de Sdo Tomé e exercia fungdes como advogado e notario. Também foi dirigido por Penchy Levy, funcionario piblico que foi suspenso devido instauragio de um inquérito disciplinar, o que pode estar relacionado com o fim do periédico em Setembro de 1925. Para este jornal, a situacio dos servicais era privilegiada, como sublinhava o n.° ot (Setembro de 1923): “Aqui o trabalhador indigena tem boa casa que. lei lhe manda dar, tem sadia e propria alimentagao preserita também na lei e ali perto onde trabalha tem o hospital”. A Colénia foi um canal de suporte dos governos e das politicas locais, e no n.° 03 (Fevereiro de 1924) 0 jomal afirma ao governador “seu apoio leal, amigo ¢ desinteressado”, Temas caros aos europeus ¢ a0 colonialismo estiveram presentes nas suas péginas: a rejeigdo pelo executivo local da lei que proibia a produgao e o consumo de aguardente; a defesa do restabelecimento da emigragdo de Angola e Mocambique e de contratos de cinco anos devido aos custos da mao-de-obra; o8 prejuizos causados pelas lojas do mato ao comércio; a moral e a ordem piiblica; e as queixas dos empregados agricolas europeus sobre os seus salérios. Ao longo da Reptiblica ha igualmente registos do jomnal A Ilha de S. Tomé, que editou oito mfimeros em 1910, e que consta da colegio da Biblioteca Nacional de Portugal mas que nao esta disponivel devido ao seu mau estado. O mesmo se passa com A Voz de S. Tomé, referido por cartas de leitores em A Verdade. Assinala-se também 0 Jornal de S. Tomé, Defensor dos Interesses da Colénia, quinzenério entre 1915 1916, que recebeu uma nota positiva em A Defésa: “o novo jomal pretende também combater as prepoténcias e abusos de que somos vitimas todos os dias”, Editou 12 miimeros. 2.4 Jornalismo de advocacia ‘No conjunto da imprensa identifica-se a diversidade no desempenho da actividade Jomalistica no periodo republicano. Na éptica dos papéis normativos em regimes liberais, o exervieio monitor implica um explorar do mundo, das suas condigdes e dos seus eventos aliado & interpretagdo dos factos com critérios de relevancia piiblica (Christians et al., 2009, p. 140). Com este referencial, observa-se que em STP os jornais dos distintos grupos actuaram na fiscalizagdo do poder piiblico e privado através das dentincias sobre 0 uso do dinheiro piblico e 0 roubo de terras pelos roceiros; na reivindicagio de politicas sociais ¢ estruturais - casos da satide, da enengia e da habitagao; no debate sobre as politicas locais e nacionais ~ na exigéncia de eleigdes para as cdmaras e nas eriticas aos projectos coloniais; na mediacdo entre governo e cidadao, vista a cobertura das acgdes do poder piblico; e na apresentacio das crencas, das, ideologias e dos projectos dos diversos grupos.* © jomalismo desempenha um papel radical quando actua para eliminar a concentragéo de poder politico, econémico e social, ao suportar os grupos de oposi¢ao a0 poder ¢ ao lutar por uma ordem social alternativa (Christians et al., 2009, p. 179). Observa-se 0 papel radical do jomalismo na medida em que os jomnais nativos reivindicavam a efectividade da cidadania dos ilhéus, a ampliagdo dos seus direitos ea revisfo das polfticas coloniais (inclusive com a defesa do pan-africanismo e da independéncia) e se apresentavam como defensores dos servigais.”® Os jomnais africanos de STP contribufram para a construgdo da identidade sdo-tomense e os seus ideais foram retomadas pelos nacionalistas a partir de 1960 (Mata, 1998, pp. 37-38). Por fim, © papel colaborador também teve proeminéncia nesta época, visto que os jornais ligados aos earopeus apoiaram os governos locais ‘Além dos papéis jomalisticos, analisam-se outras quatro dimensdes, de modo a caracterizar-se o sistema de imprensa na sua interdependéncia com 0 sistema politico. Sio elas: estrutura de mercado; profissionalismo; intervengao do Estado; e paralelismo polftico (Hallin e Mancini, 2004, p. 22-44). Em relagio ao mercado de imprensa, predominou 0 jomalismo politico em detrimento de uma imprensa com foco comercial. Com excepeao de A Defesa, que anunciava uma tiragem de 400 exemplares, no ha dados sobre a circulagéo dos jomais. O potencial pablico leitor restringia-se aos europeus e aos nativos, os quais, hepiteprewes.org/42 ano 2son2016 5 ss ‘Aimprensa eo impéro colonial em S80 Tomé e Principe (1887-1974) tinham acesso A educagdo e constituiam uma populagio de cerca de 26 mil pessoas. ‘Todos os jornais tiveram publicidade, e esta ocupava cerca de 50% do espago das edigGes. Politicos, funciondrios piblicos, comerciantes e agricultores aparecem como proprietérios dos titulos. A actividade jomalistica aparece ligada a militancia politica, as erengas ¢ ideologias da época e aos interesses dos grupos em conflito. 0 jornalismo é uma ocupagao de profissionais liberais, comerciantes, politicos ¢ agricultores, que nao dependem da imprensa para sobreviver. Os periédicos e os jomalistas proclamavam apresentar ideias e verdades, promover a defesa dos interesses da provincia e defender a jus Contudo, faziam-no de acordo com os grupos aos quais pertenciam. Na altura, no houve qualquer tipo de articulagéo entre jomalistas ou titulos © clubes e/ow associagdes, Em suma, ndo h4 pardmetros comuns no desempenho jornalistico. Embora o jornalismo se tenha constituido enquanto actividade profissional, nao foi auténomo em relagdo as forgas sociais ¢ as ideias da sua época, visto que esteve associado a intervengao politica ea advocacia dos grupos e das suas opinies, Apesar do aeréscimo de liberdades, o Estado manteve uma intervengdo significativa na imprensa em STP durante a Primeira Repiblica. O Boletim Oficial continuou a ser ‘um importante vefeulo de informagdo e os seus contetidos foram fonte para noticias e polémicas nos jormais. Ao serem reproduzidos na tipografia da Imprensa Nacional, casos de A Colénia e O Jornal, os titulos que apoiavam 0 governo mantinham a sua regularidade, enquanto os jomais que dependiam das tipografias privadas eram afectados pelos problemas ténicos, de material e de recursos humanos destas empresas. Em alguns casos, inclusive, as tipografias privadas, em conluio com governo local, prejudicaram os titulos criticos, como aconteceu com A Liberdade. A censura afectou a imprensa no contexto da Primeira Guerra Mundial, através de legislagdo que se estendeu as coldnias em Julho de 1917, mas também se fez sentir de forma oficiosa, como denunciou, em 1924, A Desafronta: “Conquanto nao estejamos em guerra nem estejam suspensas as garantias, foi reestabelecida a censura prévia nesta provincia”. A Verdade teve a sua tipografia destrufda e foi suspensa em 1912. 0 A Liberdade foi perseguido: “Depois de nos deceparem as maos e nos cortarem a lingua, entdo sim, podem viver deseansados, e a Europa inteira e a América toda nao terao mais conhecimento do vosso esclavagismo” (n.° 21, Setembro de 1920). Por fim, 0 Combate foi suspenso. Note-se que apenas os jomnais africanos foram encerrados, o que demonstra a perseguigio do governo a imprensa critica quanto ao projecto colonial eas suas directivas e defensora dos interesses dos afticanos.”? O paralelismo politico é 0 grau no qual o sistema de imprensa expressa as opinides e tendéncias dos grupos sociais e politicos (Hallin e Mancini, 2004, p. 27). Em STP foi forte o paralelismo entre a imprensa e o regime, com o jornalismo a acompanhar as ‘tendéncias sociais. Embora a organizagéo dos partidos politicos fosse incipiente, a sociedade estava estruturada em forgas activas, que se engajaram nas discussdes ideolégicas da sua época: pan-africanismo, colonialismo e socialismo. Para além dos contetidos © da propriedade, as conexdes entre a imprensa e o governo também expressam o paralelismo politico do periodo. 3. Estado Novo, o siléncio da imprensa O golpe de 28 de Maio de 1926 encontrou Sio Tomé e Principe numa grave crise financeira, decorrente do declinio na produgao agricola, e com importancia reduzida entre as colénias. A populago nativa era enfraquecida pela perda de terras, pela sua redugao entre o funcionalismo piiblico e pelo encerramento dos seus jornais na déeada de 1920, como se viu. Os europeus trabalhadores sofriam com o desemprego e a miséria assolava as ilhas. Os conflitos nas eleigdes de 1926 serviram de argumento para 0 governo ilegalizar a Liga Indigena neste ano. Contudo, até que as forgas sociais fossem_ silenciadas por completo, em 1934, o jomalismo desempenhou uma critica moderada a0 regime. hepiteprewes.org/42 son9 2son2016 56 86 8 60 ‘Aimprensa eo impéro colonial em S80 Tomé e Principe (1887-1974) © Equador, administrado ¢ editado por Hygino J. Assumpgio, que agora se anuncia como procurador e solicitador judicial, cireulou entre 1926 e 1927. “Zurziremos os {fetiches porque nao os adoramos, e todos os papdes locais porque a eles nao estamos ligados por qualquer cordéo umbilical”, comprometia-se O Equador (n.° 01, Julho de 1926). Apesar da promessa, 0 semandirio apoiou o governo da col6nia, A propésito das conflituosas eleicdes para o Conselho Superior das Colénias, O Equador observava que © governador “é uma indefectivel garantia de paz. para a provincia” (n.° 16, Dezembro de 1926). O problema da mao-de-obra continuava na agenda do arquipélago ¢ 0 semandrio fez a apologia da situagdo imposta aos servigais através de uma entrevista a um trabalhador (n.° 01, Julho de 1926): “A vida da roca agrada-me imenso, na minha {terra nao tinha o luxo que disfruto por cé” Apesar de apoiar o regime, O Equador nasceu sob a ditadura e por ela foi afectado. O semandrio explicou o seu atraso em razfo das adequagées & lei e notou que “Rirmos, & ‘imica forma de conseguir triunfar da lei que como o decreto 12271 € um amontoado de incoeréncias’.*¥ Na mesma edicao, o jomal avisava os colunistas e esclarecia os leitores: “ficando desde jé avisados todos os nossos colaboradores que a mais rigorosa censura sera exercida sobre os seus escritos” (n.° 11, Novembro de 1926). 0 n.° 50 (24 de Setembro de 1927) registava que as liberdades da constituigao existiam apenas “in nomine” em Portugal. O jomnal cireulou até Dezembro de 1927. Fundado em 1924 pela Associacao dos Empregados do Comércio e da Agricultura de So Tomé e Principe, o quinzenério O Trabalho foi irregular até 1933, quando iniciou a sua tereeira série. “Continuar sempre, sempre sem desfalecimentos, pugnando pela defesa das centenas de trabalhadores, sem distingdo de cores”, prometia, no n.° 19. 0 Trabalho foi alvo da censura e da perseguigio do Estado Novo, o que tera sido a causa da sua efemeridade. “A suspensio do nosso jomal” é 0 titulo da pagina 6 do n.° 23 (Abril de 1933). O texto denuncia uma intriga na qual um colono teria pedido ao governador a suspensio do jomnal, o que estaria vinculado & eleigio dos vogais do conselho de governo, Embora tenha suavizado o seu tom quando passou a ser reproduzido na Imprensa Nacional, pontualmente O Trabalho abordou alguns dos temas polémicos da época; entre eles, a crise econdmica (n.° 34, Outubro de 1933), a queda na produgio agricola e a necessidade de se substituir culturas (n.° 38, Janeiro de 1934), 0 “deseaso” da metropole com as coldnias (n.° 29, Abril de 1933), a situagio urbana de SIP (n.° 47, Maio de 1934), a crescente violencia no arquipélago (n.° 34, Outubro de 1933) ¢ até o comunismo. A edigio n.® 47, de 20 de Maio de 1934, anunciava a suspensao do jornal. 3.1 Jornalismo de propaganda Apés a Segunda Guerra Mundial, os pregos do cacau subiam e a produgdo declinava em STP devido a escassez de mio-de-obra, A prioridade de Carlos Gongulho, governador desde 1947, era resolver o problema econémico ¢ modemizar as infra- estruturas, Os arquivos e a literatura nfo registam a existéncia de qualquer jomal até 1947, quando a Unido Nacional de STP se tornou proprietéria do quinzenério cultural, noticioso e literdrio A Voz de S. Tomé. O primeiro ntimero saiu em 06 de Julho, e era reproduzido na Imprensa Nacional e dirigido pelo padre Martinho Pinto da Rocha. Como noutras colénias, 0 Estado Novo apropriava-se da imprensa para divulgar as suas politicas. O n.° 06 (Outubro de 1947) sublinhava que a “obra de fomento que nestes iiltimos dois anos se tem realizado nesta colénia 6 um exemplo frisante da actividade que se tem desenvolvido em todo o territério imperial”. As posigdes politicas de Salazar e de Portugal eram apontadas pelo jornal no n.°11 (Dezembro de 1947): politica anticomunista, alianga com a Inglaterra, solidariedade com o Brasil ¢ aproximagao aos Estados Unidos, ‘A Voz de. Tomé tinha como propésito sustentar o regime no arquipélago, em 1950 (n.° 57, Fevereiro) propagandeava o bairro Dr. Oliveira Salazar, o dispensario ‘tubereuloso e 0 acréscimo de estradas. Em Outubro de 1952, 0 jomal passou a semandtio, eo n.° 83 (Novembro de 1952) noticiava o relatério de contas da provincia com o titulo “Boas contas”, apesar do agravamento da crise econémica. O I Plano de hepiteprewes.org/42 mn 2son2016 6 2 ® 5 86 ‘Aimprensa eo impéro colonial em S80 Tomé e Principe (1887-1974) Fomento foi publicado neste ano e pretendia fixar 2500 familias cabo-verdianas para reforyar a produgio. Previa também a distribuigdo de lotes de terra por todos os afticanos € 0 trabalho obrigatério. Os ilhéus ficaram receosos e panfletos anénimos apareceram nas casas a ameagar de morte quem contratasse nativos. massacre de Batep4, em 03 de Fevereiro de 1953, foi quase ignorado pelo jomal. No 1n.° 95, em Fevereiro, publicava uma nota oficiosa, na qual o governo afirmava: “Tendo chegado ao conhecimento do Governo que individuos desafectos a actual situagio politica, conhecidos como comunistas, propalam boatos tendenciosos no sentido de que os fillios de S. Tomé irdo ser obrigados a contratar-se como servigais para trabalhos nas Togas, 0 Governo esclarece que nenhum filho da terra deve dar crédito a estas atordoadas”. Note-se que 0 director do jomnal @ época, Raul Simdes Dias, também presidente da Camara Municipal de Sio Tomé, esteve directamente envolvido nos conflitos, tendo organizado (e integrado) grupos de colonos que promoveram a violencia contra os ilhéus. © comunicado do governo tinha sido afixado nas muas no dia o2 ¢ rasgado pela populacao. No dia og de Fevereiro, um grupo de polfeias armados foi a vila da Trindade repreender os ilhéus, um nativo foi morto e centenas de pessoas armadas cercaram 0 posto de policia. O governador reuniu os colonos e alegou que se tratava de uma conspiragao comunista, exortando-os a pegarem em armas para se defenderem. Diversas pessoas foram detidas e deportadas para o Principe. Outras ficaram presas no quartel da CPI (Corpo de Policia Indigena), onde interrogatérios, torturas ¢ assassinios continuaram até ao més de Abril. A vila da ‘Trindade foi sujeita a violencia extrema, com pilhagens, ine&ndios, violagdes e mortes entre a populagao nativa. Os funcionérios iiblicos nativos foram suspensos e presos (Seibert, 2002, pp. 80-89 Espirito Santo, 2012, pp. 190-207). ‘Todas as barbaridades foram caladas e a edigdo n.° 96 anunciava apenas “reprimiu- se o motim restabeleceu-se a calma [...] Fere-nos este destoar, precisamente naquela provincia em que aos seus nativos se deu acesso, em maior percentagem, a lugares de categoria superior, em que se Ihe proporcionaram condigdes de vida semelhantes as dos individuos da nossa cor’. Em Margo, a Policia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) chegou a STP para investigar 0 ocorrido e concluiu que nao havia conspiragio comunista, Os funcionérios piiblieos foram absolvidos e reintegrados, 0 novo governador, Francisco Anténio Pires Barata, chegou em Setembro de 1953, € o director do jornal passou a ser Anténio Edgar Dias Machado. “As nossas provincias esto dispersas pelo mundo, mas todas so partes integrantes do territério nacional”, alardeava A Voz de 8, Tomé no n.° 141 (Janeito de 1954). Em. Junho de 1958, 0 jomal anotava que a obra de Salazar era “perfeita” (n.° 330). Em Agosto de 1960, 0 semanfrio defendia o colonialismo: “Nenhuma ideia, nenhum movimento humano, por mais nobre e puro que fosse o ideal prosseguido, conseguiu jamais vingar sem dar lugar a injustigas e iniquidades’, lia-se no n.° 443. Em 1961, quando o Estado Novo comega a rever as suas politicas coloniais, o semandrio publica 0 discurso do ministro do Ultramar a garantir que o dever do governo é“o de fazer reinar a Justiga social, em todas as camadas da populagio’, anunciando que a ocupacao dos terrenos, problema crénico no arquipélago, seria regulamentada (n.° 497, Setembro de 1961). Em 1966, a ‘pentiria” mundial do cacau, os conflitos entre os Estados Unidos ea Unido Soviética ¢ a crise nas Nagées Unidas foram temas do n.° 728 (Fevereiro de 1966). A nova tabela de salarios mfnimos, “um passo em frente na promogio social e econémica da provincia”, foi o destaque do n.° 781 (Margo de 1967). A actividade diplomatica do governo de Marcello Cactano foi exaltada no n.° 1000 (ulho de 1971) e 0 n.° 1053 (Agosto de 1972) noticia o ordenamento agririo do arquipélago. Em tempos conturbados para o colonialismo portugués, A Voz de S. Tomé publicava a seguinte frase de Marcello Caetano: “A politica feita calma e racionalmente”. O tiltimo ntimero deA Voz de. Tomé, n.° 1130, de23 de Abril de1974, foi de apelo. O artigo “Unidos numa frente comum” apontava que “O problema que se nos pés nao é de partidarismo politico, mas tao-somente de salvagao nacional, dado estar em jogo nfo o triunfo de um programa, mas a propria sobrevivéncia da Nagao”. Durante o Estado Novo registam-se ainda os jomais catélicos Luz do Evangelho, mensdrio de cultura religiosa e popular (1950-66) € O Dia do Senkor, semandrio hepiteprewes.org/42 vane 2son2016 ‘Aimprensa eo impéro colonial em S80 Tomé e Principe (1887-1974) litiirgico e cultural (1956-66). Tal imprensa limitou-se aos temas religiosos e ditigiu-se a0 piiblico cristao, nfo incluindo na sua agenda conteddos politicos. A Mocidade Portuguesa publicou uma edigdo multicopiada de O Equador a partir de 1956, que se ‘tomou impressa em 1965, a qual se dedicou a propaganda do regime. 3.2 Imprensa de propaganda O regime autoritério da ditadura cerveou a imprensa até que esta se desmantelasse, Foi a necessidade de propagandear o regime, as suas politicas e a acgo colonial em Africa que levou a Unido Nacional a editar A Vor de 8, Tomé. Suportar os projectos do império e as suas acgdes locais foram as fungGes desempenhadas pelo jornal ao longo dos seus 27 anos de existéncia. O contetido informativo tinha como base as decisdes do governo ¢ 0s discursos dos governantes, seleccionados de modo a exalté-los. Ja os contetidos literdrios, histéricos e de entretenimento reflectiam e em simultaneo reforyavam o cariz conservador do Estado Novo. A desarticulagio dos principais grupos sociais e a opressio promovidas pelo regime ajudam a explicar que, apés 1934, nao tenha surgido qualquer tentativa de uma imprensa independente, como aconteceu em Mogambique ¢ Cabo Verde. Contudo, a situagio insular, o tamanho do territério, a prevaléncia do analfabetismo ea actividade econémica da agricultura foram outros factores que dificultaram o aparecimento de uma imprensa auténoma do governo.25 A existéncia de apenas um jomal que servia o regime resultou num sistema de imprensa que tinha a propaganda como fang primordial ao longo do Estado Novo em STP. A tiragem do jornal era de 2000 exemplares (Gongalves, 1966, p. 214) € a sua sobrevivéncia era assegurada pela Unido Nacional e pelos antincios. Todos os directores tinham relagbes directas com o regime e nele acumulavam fungoes politicas ou cargos piiblicos remunerados. Em STP, o Estado e o regime apropriaram-se da imprensa eA Vor de S. Tomé desempenhou um papel caracteristico dos regimes autoritarios (Siebert et al., 1956 (1963, pp. 29-37). 3.3 Jornalismo Politico Os processos de transi¢ao para a ordem politica modema foram graduais, e € como ‘um regime liberal representativo numa sociedade pouco desenvolvida, nem autoritario nem democritico, que Freire (2011, p. 33) caracteriza a Monarquia Constitucional. Se {oi dificil ultrapassar os obstaculos & modemizagao em Portugal (Almeida, 1991, p. 25), a modernidade nao se coneretizou nas colénias portuguesas, inclusive porque 6 incompativel com a auséncia de soberania, pressuposto do colonialismo.** Foi neste contexto politico-social, aliado ao imperativo do desenvolvimento econémico de STP, que o império implantou o Boletim Oficial, ao qual cabia actuar como fomentador do programa colonial. Tal coneretizou-se através da divulgacao, pelo boletim, do enquadramento legal do Estado e da colonia e das relages sociopoliticas no arquipélago, bem como através da disseminagio da ideia e do projecto colonial portugues, num diseurso centrado na missao ‘civilizadora’, Entretanto, foi a partir da necessidade de suportar e reforgar este processo — conjugada com a afirmagao da imprensa e da esfera piiblica no Portugal liberal enquanto plataforma de disputa politica (Tengarrinha, 2013) ~ que as clites europeias no arquipélago promoveram os primeiros jornais, como aconteceu noutras colénias europeias em Africa (Bourgalt, 1995, p. 23). ‘As transformagées econémicas no sistema capitalista foram o factor decisivo na crise das monarquias liberais na Europa, ¢, em Portugal, a revolugao republicana originow- nas massas populares aliadas & pequena burguesia (Rosas, 2009). A democratizagao politica, a descentralizago administrativa, a extensio do sistema de ensino, a moderizagio econémica e social, a independéncia da tutela externa ¢ a atengio aos territérios africanos eram as promessas dos republicanos (Serra, 2009). Porém, @ Primeira Repiiblica ndo tornou o sufragio universal e nao instituiu um Estado social hepiteprewes.org/42 139

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