especial

Nome completo, idade e profissão: Marcio Pan-

Nome completo, nunzio, 26, jornalista. Artista do qual é fã: Xuxa
idade e profissão: Há quanto tempo é fã do seu ídolo? Desde
Vivianne de Melo Souza, bebê. Produtos que possui: Revistas, DVDs, discos
32, Auxiliar de Enferma-
gem. Artistas dos
quais é fã: Xuxa e
Fábio Jr. Há quanto
tempo é fã dos
seus ídolos? Desde
ZZZ debate a relação entre fãs
os oito e três anos, res-
pectivamente. Produ-
e ídolos. Afinal, até que ponto
tos que possui: CDs, essa admiração é saudável? Para
DVDs, fotos, banners e
cartazes de shows tentar responder a essa pergunta,
entrevistamos admiradores e artistas

Fãs x ídolos o dia 30 de junho de 1986 estreava na TV

Globo o “Xou da Xuxa”, programa infantil
POR PIERO VERGÍLIO

gem, a apresentadora saiu de férias. O desejo do jornalista em

que misturava brincadeiras, atrações musicais
e desenhos animados. A receita simples foi
suficiente para encantar milhões de crianças
e consagrar a apresentadora Xuxa Meneghel
como a Rainha dos Baixinhos. Desde então, essa
gaúcha conquistou fãs de diversas gerações,
ao mesmo tempo em que é admirada por
pessoas que acompanham sua trajetória
desde o início.
É o caso do jornalista Márcio Pannunzio, que, naquela épo-
ca, tinha apenas dois anos. “Não me recordo exatamente como
tudo começou, mas acordava cedo todos os dias para assisti-la:
passei a esperar ansiosamente por cada novo LP, aprender as
danças e recriar em casa as brincadeiras. Tinha vontade de em-
barcar na nave dela, que algum tempo depois, descobri que não
voava. Foi um trauma”, relembra.
Por morar em Olinda, Pernambuco, ir a uma gravação do
Xou, no Rio de Janeiro, não era fácil. Ele conta que, quando
a família finalmente conseguiu se programar para essa via-
conhecê-la só se realizaria no ano passado, quando se mudou
para a capital fluminense. Mas Márcio nunca deixou de acreditar
que isso aconteceria: “sonho sempre vem para quem sonhar”,
enfatiza, citando o verso de uma das músicas mais conhecidas do
repertório da Rainha.
“Na semana em que cheguei, uma amiga estava indo à gra-
vação do TV Xuxa e me convidou para ir com ela à plateia. Está-
vamos saindo do estúdio, quando passei a alguns metros da Xuxa
e comecei a gritar, pedindo uma foto. Fiquei descontrolado, pois
não teria chance de voltar ali tão cedo: já estava sendo retirado
pela equipe de segurança, até que ela disse para me deixarem
passar. Pude então me deparar com aqueles lindos olhos azuis e
receber um beijo, um abraço, além de registrar o nosso encontro.
Foi o dia mais feliz da minha vida”.
Márcio faz questão de frisar que admira a “pessoa” Xuxa e
conta como reage quando ouve críticas à apresentadora. “Não
posso impor aos outros que compreendam uma sensação tão
particular, íntima. Conheço várias pessoas que não gostam da
Xuxa e convivo muito bem com isso, pois cada um tem suas
preferências. O que não aceito é o desrespeito, seja em relação

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especial
a mim, a ela ou aos outros fãs. É uma questão de educação”,
ensina o jornalista, que, no trabalho, é chamado de “Paquito”.
Não é difícil deduzir o motivo.
A rainha, o galã e a família
A amiga que estava com Márcio é a auxiliar de enfermagem
Vivianne de Melo Souza. Ela também esperou alguns anos para
se encontrar com a apresentadora pela primeira vez, mas dife-
rentemente do jornalista, transformou-se em presença constante
nas gravações. “Certa vez, estava participando do programa
quando a Xuxa começou a conversar comigo e se lembrou de um
dia em que eu a esperava na portaria do Projac, com os meus
filhos, que são fãs da série ‘Só para Baixinhos’. Na hora, segurei
a onda, mas depois a ficha caiu: caramba, ela me conhece”.
A esse respeito, vale mencionar uma curiosidade: a auxiliar
queria que seu primogênito tivesse o mesmo nome de alguém
especial para a apresentadora. Nasceu então Ayrton – em refe-
rência ao tricampeão mundial Ayrton Senna, que foi namorado
de Xuxa. O segundo filho, Leonardo, é xará do irmão do piloto.
A irmã do corredor, por sua vez, também se chama Viviane. E,
por fim, como coincidência pouca é bobagem, o sobrenome do
marido de nossa personagem é: Senna.
Vivianne, que também admira o cantor Fábio Jr., criou perfis
no Orkut para homenagear os seus dois ídolos: o “Unidos por
Fábio” e o “Unidos por Xuxa”. Ela conta que se tornou muito
conhecida entre os fãs da loira, e não são raras as pessoas que
pensam que a auxiliar de enfermagem faz parte da equipe da
apresentadora. “Várias vezes já me pediram para incluir o nome
em caravanas. Mesmo não trabalhando na produção, sempre
que possível, procuro ajudar e orientar a todos. Como recompen-
sa, eu recebo muito carinho”.
Mas além da popularidade, Vida – como é carinhosamente
chamada – ganhou um presente mais importante: novos amigos.
Com algumas pessoas as afinidades são tantas, que a relação
transcende as fronteiras do universo virtual, como no caso de
Márcio, que hoje ela considera parte de sua família. O jornalista
a acompanhava no programa do Faustão na primeira vez em que
ela viu Fábio “de pertinho” e, por causa disso, chorou durante a
apresentação inteira.
O primeiro encontro com o artista, que Vivianne diz ser fã
desde os três anos – ela conta que beijava a tela da TV a cada
vez que o cantor aparecia – ocorreria cerca de dois meses depois.
“Abracei-o de leve, meio sem jeito, com medo de o segurança
brigar, pois ele tinha uma cara de mau. Percebendo isso, em
determinado momento, Fábio Jr. disse: ‘Sabia que eu adoro um
16 ZunZunZum
Nome completo: Orlando Dias dos Santos. Ar-
tista do qual é fã: Jota Quest. Há quanto
tempo é fã do seu ídolo? Há 13 anos. Pro-
dutos que possui: CDs (duas coleções), DVDs,
camisetas, reportagens de jornais e revistas
abraço de quem me ama pra valer? Só que eu gosto de bem
apertado’”, diverte-se.
Sem preconceito
Márcio e Vivianne relatam um preconceito com relação aos
fãs da Rainha. “Nunca acreditei na cultura machista que dizia
‘menino não pode gostar da Xuxa’. Quem sabe do meu gosto
sou eu”, argumenta o jornalista. Mas não são apenas eles que
têm essa impressão. Orlando Dias dos Santos, moderador da
maior comunidade dedicada ao Jota Quest no Orkut, conta que
algumas pessoas ainda encaram com certa estranheza o fato de
um homem gostar de uma banda. “Conheço alguns casos assim,
mas isso é facilmente esclarecido”, enfatiza.
Ele acompanha a trajetória do grupo há 13 anos e acredita
que a internet mudou a maneira dos fãs se relacionarem. “A rede
possibilita desde uma simples busca por notícias, consulta de
agenda, até ver fotos de shows em diversos lugares do país. Nesse
processo, encontrei pelo caminho muitas pessoas que hoje posso
considerar amigos: alguns nem conheço na vida real, mas eles
fazem parte do meu dia a dia, assim como faço do deles”.
Para Orlando, é preciso manter os pés no chão, priorizando
sempre os compromissos e depois a diversão: com uma rotina
profissional flexível, pode programar suas escapadas “jotaques-
tianas” com antecedência. Mas ainda sim, admite que, de vez em
quando, enfrenta alguns contratempos. A situação mais comum
é ter que procurar alguém para substituí-lo por meia hora no
trabalho enquanto vai preparar o gravador para registrar apre-
sentações da banda no rádio ou na TV.
“Antigamente, saia uma página em uma revista e eu com-
prava dois exemplares. Hoje não faço mais isso, pois todo o con-
teúdo fica disponível na web. O consumo é um reflexo do senti-
mento, basta ficar olhando a barraquinha no show, que vende as
camisetas: as pessoas nem querem saber quanto custa. Mas, em
contrapartida, já vi gente comprando quatro, cinco, seis peças de
uma só vez. Isso é exagero”, pondera o moderador: dono de um
vasto acervo sobre o Jota Quest – CDs, DVDs, publicações – ele
entende que vale a pena ter uma lembrança material.
 Fotos: Arquivo pessoal
Orlando, que já esteve pelo menos
dez vezes com os integrantes nesse
período, tenta explicar a sua
admiração pelo grupo. “São
ídolos que o país precisava
ter em cada esquina: pessoas
de bom coração, com talento
gigantesco, que tratam a todos
com uma simplicidade caseira.
Isso é muito difícil de encontrar
no mundo artístico atual, onde Nome completo, idade e pro-
celebridades surgem aos montes fissão: Fabiana Yoko, 24, jornalista.
do dia para a noite. Salve Jota Artista do qual é fã: Titãs. Há
Quest!”, sentencia. quanto tempo é fã do seu
ídolo? Desde 1997. Produtos
Alegria de viver que possui: CDs, DVDs, VHS, vinis,
Essa simplicidade a que singles, livros, recortes de revistas,
Orlando se refere também camisetas e fotos
encantou a arte-educadora
Michelle Resende. “São nove anos de Jota Quest, e sempre digo
que vou escrever um livro sobre isso, afinal, é a história da minha Entre momento que eu cheguei e o término da apresentação,
vida. Se isso não acontecer, pelo menos já tenho o que contar aos passaram-se sete horas. Sabe onde estava o meu pai? No esta-
meus netos. Não me envergonho disso: acho que quem perdeu cionamento, me esperando dentro do carro o tempo todo. Não é
essa alegria e não gosta de uma determinada canção ou admira lindo?”, questiona.
um artista qualquer, veio no mundo e perdeu a viagem”. Fabiana lembra-se, com orgulho, que o tecladista Sérgio
Durante esse tempo, ela já se encontrou com a banda por Britto, foi a primeira pessoa que ela entrevistou profissionalmen-
quatro vezes, mas a mais marcante foi a primeira. Michelle e as te, em 2006. Nessa mesma época, ela apresentou a ideia – e teve
amigas seguiram a banda até o hotel em que os integrantes esta- o pedido atendido – de produzir um Fanzine online, com o obje-
vam hospedados. Chegando ao local, tiveram uma crise de choro tivo de divulgar a carreira solo do cantor. No começo deste ano, a
no portão do estacionamento, até que Rogério Flausino desceu e publicação deixou de ser distribuída em formato PDF e virou um
pediu que as fãs se acalmassem. Quando foram tirar fotos, perce- blog. Recentemente, o trabalho da jornalista foi reconhecido por
beram que o filme já tinha acabado, mas o cantor garantiu que Britto em seu site pessoal.
não faltariam outras oportunidades. E isso, de fato, aconteceu. “Quando estava montando a discografia, havia semanas em
Mas toda essa paixão já trouxe alguns problemas para a que eu adquiria cinco ou seis álbuns, mas hoje com o quadro
arte-educadora. Algumas pessoas de sua família a recriminam
pela “montanha” de dinheiro gasta em ingressos ou os milhares
Nome completo,
de quilômetros já percorridos em viagens. No trabalho, já houve idade e profissão:
quem criasse antipatia pela banda de tanto que ela fala deles. “Já Michelle Resende, 29, arte-
inventei milhões de histórias para sair mais cedo, ou nem ir tra- educadora. Artista do
balhar nas sextas em que há show. Nunca matei ninguém, mas qual é fã: Jota Quest.
doença, formatura, premiação de marido em empresa, enfim, Há quanto tempo é fã
uma melhor do que a outra”, confessa, aos risos. do seu ídolo? Há nove
Ao contrário do que possa parecer, Michelle demonstra anos. Produtos que
maturidade ao analisar essa relação. Ela acredita que o artista possui: CDs, DVDs, ade-
não tem obrigação de estar sempre disposto a atender o público. sivos, camisetas e bolsa
“Não se pode exigir isso de ninguém: é desumano. Admire, seja (confeccionada por ela)
tiete, pague mico, mas acima de tudo tenha respeito. Lembre-se
sempre que, do lado de lá, em cima daquele palco, tem um ser
humano, cheio de erros e acertos”, aconselha.
A arte-educadora se lembra com carinho do dia em que
Flausino pegou uma peruca Black Power – houve uma época
em que ela se caracterizava com o adereço – para usar enquanto
cantava. “Prezo muito todos que estão a minha volta e sei das
minhas responsabilidades, mas não abro mão de um momento
que me deixa tão feliz e me revigora. Eu escolhi gostar da banda
e assumo as consequências”, arremata.

>>
O sonho virou realidade
Se há os que criticam, também existem os que incentivam.
Que o diga a jornalista Fabiana Yoko, fã dos Titãs. “Fui ao meu
primeiro show em 1997. Este é sempre o melhor: você fica com
o coração na boca, lágrima nos olhos e rouca no dia seguinte.

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especial
completo, compro apenas os lançamentos. Porém, acredito que
a intensidade não pode ser medida pela quantidade de CDs
ou qualquer outro critério. É possível ser fã, mesmo sem ter os
‘objetos fonográficos’ de seus ídolos”, opina Fabiana, que apro-
veita para confessar que a sua canção preferida do repertório
– ela sempre chora ao ouvi-la, mesmo depois de 12 anos – é
“Go Back”.
Toda essa dedicação vale a pena por tudo os que os Titãs
já lhe proporcionaram: alegria, gosto pela música, literatura e
principalmente pelos amigos, provenientes de diversas regiões
do Brasil. A distância é irrelevante, perto do carinho que sentem
um pelo outro. Segundo a jornalista, há pessoas que moram
em outros Estados que são mais presentes do que algumas que
estão na mesma cidade. Para matar as saudades, eles utilizam-se
das redes sociais. Embora não sejam tão frequentes, encontros
também são realizados
Assim como os nossos outros personagens, Fabiana já esteve
com o grupo algumas vezes. Todas foram especiais, conforme ela
faz questão de frisar. “É engraçado quando o ídolo te conhece.
Você dá um CD para autografar e ele nem pergunta o seu nome.
Nunca pensei que um dia isso fosse acontecer. Quando tinha
uns 14 anos, era um sonho. Aos 18, achava que poderia não ser
possível. E hoje, aos 24, é uma realidade”, finaliza.
Busca pelo equilíbrio
Para a professora Sonia Chébel Mercado Sparti, que possui Doutorado
em Psicologia da Educação, o ideal é buscar o equilíbrio, para que essa
admiração traga somente felicidade. Segundo ela, a identificação é um
processo psicológico que pode ocorrer em todas as idades, embora
seja muito frequente na infância e na adolescência.
“No âmbito familiar, é muito comum o pai se tornar um exemplo, mas o
nosso universo social é muito maior. Daí nasce à admiração por canto-
res, jornalistas ou profissionais de qualquer outra área, que poderá ser
facilitada quando fã e ídolo têm características comuns. No entanto,
essa não é uma condição indispensável. Uma pessoa desafinada pode,
por exemplo, gostar de uma cantora porque aprecia sua voz ou seu
profissionalismo”.
Sônia afirma que esse sentimento é positivo quando estimula o desen-
volvimento pessoal e profissional do/a fã. Se, por outro lado, atrofia as
atividades que a pessoa deveria desempenhar – como, por exemplo,
querer faltar às aulas ou ao trabalho para assistir ao show, ou não
cumprir suas tarefas escolares ou profissionais porque ficou assistindo
o DVD ou ouvindo o CD – é sinal de que o “custo-benefício” dessa
admiração deve ser revisto.
A professora faz outro alerta importante. “Pessoas fanáticas não
conseguem perceber que há outros cantores muito bons, além desse
especial, preferido, que é objeto de sua admiração. Concomitantemen-
te, correm o risco de contrair dívidas por gastar mais do que poderiam,
para comprar materiais desse ídolo (livros, CDs, DVDs, revistas, etc.).
Antes de ser um reflexo da intensidade do sentimento, o consumo de
produtos está relacionado ao poder aquisitivo do fã”.
Na outra ponta, ela aponta a causa do comportamento excêntrico de
alguns famosos, o que, obviamente, não é o caso dos entrevistados
por esta reportagem. Sonia acredita que viver no anonimato é mais
fácil do que ter que “administrar” a fama: ser reconhecido nos lugares
onde possa ir, conceder autógrafos, tirar fotos com os admiradores,
atender um por um da multidão que não se contenta com um aperto de
mão! Muitas “celebridades” ainda são estão preparadas porque o reco-
nhecimento veio rápido demais e não houve tempo para amadurecer.
18 ZunZunZum
Com a palavra, os famosos
Depois de conhecer tantas histórias de fãs, fica a
pergunta: e os famosos, como reagem a todo esse assédio?
Qual o peso de ser um ídolo? A reportagem de ZZZ conver-
sou também com Rogério Flausino e Sérgio Britto e ambos
afirmaram lidar com essa situação “numa boa”. “Não
gosto daquela coisa louca, mais invasiva. Trato os fãs
normalmente, para tentar transformar um encontro, uma
relação, numa coisa normal. Faço um trabalho; as pessoas
gostam e acompanham. Sou muito grato a elas e é só: não
sou um cara diferente por causa disso, embora toda pessoa
pública passe a ser reconhecida quando atinge determinado
status e acabe caindo na boca do povo”, conclui o vocalista
do Jota Quest.
Na mesma linha, Sérgio Britto afirma que não se
importa em dar atenção a quem realmente gosta de seu
trabalho e, que mesmo nos momentos de maior sucesso –
quando gravaram Go Back /Acústico – o assédio não che-
gou realmente a incomodá-lo. Ao mesmo tempo, ele admite
que há um lado ruim na fama. “Alguns fãs se comportam
como se a gente tivesse que estar sempre disponível para
tirar fotos, dar autógrafos, falar com o irmão de alguém no
celular, quando você está tentando espairecer ou jantando
com a família”, exemplifica.
Mas isso não é uma regra. O tecladista – que se au-
todefine como uma pessoa de poucos amigos – revela que
possui afinidade com alguns admiradores. “Os nossos fãs
costumam ser muito críticos, mas muitos têm bom senso
e são inteligentes. Sabem se colocar bem e principalmente
sabem quando e como nos abordar. Tenho uma relação
bacana com o pessoal com quem falo no blog, embora não
conheça pessoalmente a maioria deles”, conta.
Em quase 30 anos de carreira, os Titãs tornaram-se
trilha sonora para diversas gerações. No começo, a banda
não tinha um público definido. Depois que gravaram
“Cabeça Dinossauro”, passaram a ter fãs fervorosos que os
defendiam com unhas e dentes. Isso durou mais ou menos
até o final da turnê “Õ Blesq Blom”. “Go Back”, por sua
vez, representou uma fase de transição: o público, até então
basicamente masculino, passou a ser bem equilibrado.
A mudança mais radical, no entanto, aconteceu durante
a fase “Acústica”. “Havia até mesmo hordas de mulheres
enlouquecidas por nós como se fossemos o Menudo ou o
RPM. Confesso que no princípio estranhamos aquele tipo
de reação, mas depois nos acostumamos e passamos a nos
divertir com toda aquela histeria. Hoje em dia, diria que é
tudo mais tranquilo: as pessoas estão mais comedidas”,
avalia Britto.
Quando questionado qual a maior demonstração de
carinho que um fã pode dar a um artista, o tecladista tem a
resposta na ponta da língua. “Acredito que seja ajudar a di-
vulgar o meu trabalho. Sinceramente, não consigo entender
aquelas pessoas que fazem cartas quilométricas escrevendo
o teu nome ou outras loucuras desse tipo”.
Por fim, Britto também assume ser fã de muita gente:
Tom Jobim e João Gilberto pra começar. “Mas também de
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Luis Melodia, Jorge
Ben, Milton Nascimento. Beatles, Jimi Hendrix, etc. A lista
não tem fim”, brinca o tecladista, que encerra dando graças
a Deus por não ser muito reconhecido em seu dia a dia.