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INTRODUCAO AS CIVILIZACOES PRE-COLOMBIANAS Desde o inicio do séeulo XVI, quando se propagou por toda a Huropa a noticia da descoberta de um novo continente, manifestou-se uma grande curiosidade pelos objetos que os primeiros navegadores traziam das terras longinquas. Hatretanto, essas pecas afastavam-se tanto das formas convencionais da. época, que se via nelas apenas um desperdicio extravagante de matérias preciosas em bugigangas de selvagens. O primeiro europeu a discernir seu valor puramente artistico foi o famoso pintor alemio Albrecht Diirer. Em 1520 ele teve o ensejo de ver em Antuérpia o “tesouro” que o chefe asteca Montezuma oferecera a Cortés em honra do soberano da Cristandade e que este — Carlos ‘V —se havia empenhado em mostrar a seus vassalos das diferentes cidades do Império. Diirer escreveu a este respeito no seu didrio: “Vi também as coisas que se trouxe ao rei do novo pafs do ouro: um sol todo em ouro medindo uma toesa de largura; do mesmo modo, uma lua toda de prata e igual mente grande; também dois gabinetes repletos de arma- duras idénticas e toda sorte de armas por eles usadas, eseudos, bombardas, armas de defesa espantosas, vesti- mentas curiosas, atavios de noite e toda espécie de coisas surpreendentes para diversos usos, muito mais belas de ver do que estranhas, Tais coisas eram preciosas ¢ foram estimadas em 100.000 florins. E jamais vi em minha vida algo que rejubilasse tanto meu coracio. Pois vi objetos fe | Quavxo I=Tentativa de correlasao cronolégita das antigas civilizagdes do México ¢ do Peru. res Regios | peru Vale | oaxat Costa embia | Equador [yy ARdinA® | costa Norte Bpora | ao México 8 | do Gélto 4 fs Nit Norte, |e Central Su, Colonial —_ ; 1921 a Monte Winco ibeha, Tacs, N, S| Inca inca Imperialistal Asteca 4 | Albin 5 | Cemposla | Viejo, a | Ifneblito eG. da costa | Ica tardio ou militarista Mixteca Mayapan_¥.| (fairona) a 1450 Manteo, 3 Chaneay itusto ou | Asteca 3 A tere, | Camamarca meer) Tn De emai PanzeteoSe2| epigonal,N.| Wari eae ee a Toltees, ¥ | _Fopayén Ancon médio| 1200 ‘Amatle, Tiahuanaco, | Tishuanaco ‘Asteca 1 ae Aecadeate | "de ona Repansiontsta Tolteca 2 | seonte atin 4 aca, P| sarorea hot aca Ae (Mazgpan) |"on* Pane esa aint a ee ee Ey antigo ottes 1 | Monte | £1 Tajin lcaemnaren 2,8 ica Ccoyotiateco) | Aibin 3 & ae eotinuaeén 4 i cony, N. Deen Reperanm, a Tirradentro Recany, N. sig bee Alban 3 ‘Teaco, b. ta 12 apogen | meotintacin | 17% ae ae 00 nae lose ile! = Nari] Gallinass tardio we ls a Cajamarca eotiuae | Mont angala IN. ein? | Albin 2 Miraflores. jenna ees Chicane, b. | Salinar | Paracas | El Baul, P. 1 iv ic I ‘Teothas- | Siaguin | Pemteo] chav | Guru, erate etic Leal ms Guaiape, 200 Ye formagio La Venta fgg ff ‘Ancon. ate Fa hp Repeseea Mena a iifomcenys| eee chaste | ma das eivi| Guieuileo sin >aracas Taages| (Olmeca) Mamém,”b. ee ae rea one ian | - Tail Hluaca’Prieta| Do inicio dal@/ABeille tL nnn Sam Be] 1500 agriculture I _|.¥a 2000 = Fueris Hormiga 000 faba Fors I Hn dt San Pedro Prtagriak | Tepempan [Diablo F ea) oe | | artificiais admiraveis ¢ surpreendi-me com o génio sutil dos homens de regides estranhas.” A partir da época de Ditrer numerosos foram os sé- bios ¢ artistas que renderam homenagem aos indigenas da América, Entretanto, existe em francés apenas uma obra que trata de maneira extensa da arqueologia_pré- -colombiana, a de Beuchat. Publicada em 1912, foi ela considerada na ocasido téo pertinente quanto monumen- tal. Todavia, 0 americanismo parou de progredir desde entdo e o manual de Beuchat est completamente supe- rado, Nenhuma atualizacéio geral foi publicada na Franca. Nao temos a pretensio de preencher essa lacuna den- tro dos estreitos limites que nos sfic aqui impostos, Para dar uma idéia do estado atual dos conhecimentos sobre a América pré-colombiana, terfamos, inclusive, desejado po- der apoiar-nos num estudo francés moderno to exaustivo quanto 0 de Beuchat. Na falta de uma obra de conjunto, tivemos de recorrer a numerosas publicaedes sobre pontos especificos e consultar textos estrangeiros. Trabathos arqueolégicos Os trabalhos arqueolégicos efetuados nos tiltimos trinta anos na América acarretaram uma mudanca total da cronologia das civilizagdes pré-colombianas, resultado de um século de pesquisas. No México, por exemplo, de- nominam-se hoje “medianas” ou “de formagiio” as cultu- ras outrora qualificadas de arcaicas. Na América do Sul © caso da civilizagdo de Tiahuanaco é ainda mais elo- qtiente: ha alguns anos, era considerada como uma das mais antigas do continente; atualmente, sabe-se que ela se expandiu apenas pouco tempo antes da conquista in- caica, isto & por volta do século XI de nossa era. Hssas novas coneep¢Ges nfo devem fazer-nos subesti- mar o esforeo de nossos predecessores, tanto mais que é ainda com base nas suas classificagdes que se trabalha hoje em dia. No inicio, como os dados histéricos eram totalmente deficientes, a tinica data exata era a da Con- guista. Gradualmente, conseguiu-se balizar a longa his- 10 téria da América com pontos de referéncia cada vez mais precisos. As descobertas contemporaneas sobre a radiati vidade de matérias organicas tais como o carvao de pedra, a madeira e os ossos, permite ainda rever, desta vez talvez de maneira definitiva, a avaliagéo da idade dos monumentos. O método foi tentado nas construcdes egip- cias datadas, com resultados satisfatorios, Como todos 0s métodos novos, este estd ainda sujeito a uma margem de erro; quando for estritamente corrigido, permitiré uma, apreciacio cientificamente exata da situagéo na América. A caga aos vestigios pré-colombianos comecou desde a €poca espanhola, mas no foi o interesse cientifico que guiou os primeiros escavadores, Ao relatar o costume in- digena de enterrar os chefes com seus tesouros fabulosos, os cronistas haviam suscitado a avidex de aventureiros, que se puseram logo 4 procura dos ttimulos antigos da Colombia e do Peru para esvazié-los do metal precioso que pudessem eventualmente conter. No proprio México, e ainda que os estudos se fundamentem mais particular mente sobre a. estrutura arquiteténica, os ndo-especialis- tas obtiveram intimeros objetos dentre os mais interessan- tes para fins comerciais, A primeira escavacio cientifica na América ocorreu na segunda metade do século XVIII, Enviado ao Peru por Luis XVI, o médico naturalista francés Eugéne Dombey ali se fixou de 1778 a 1785 e fez escavacées, Suas colecdes se encontram em Paris, no Museu do Homem ¢ em Madri. Durante o século XIX outros arque6logos: Angrand, de Cessac, Wiener, Ber, Charnay, constituiram colegdes’ pe- ruanas € mexicanas que esto igualmente no Museu do Homem. Todavia, a investigacao arqueologica permaneceu antes andrquica até a Primeira Guerra Mundial. Foi no Peru, com as escavacdes de Uhile, e no México, especialmente em Teotihuacdn, que se comegou a trabalhar metodicamente. Os melhores exemplos de escavacdes cien- tificamente conduzidas so as de Caso ¢, mais tarde, de Acosta e Bernal em Oaxaca, as de Ruz L'Huillier em Pa- lenque, arqueélogos das InstituicSes Carnegie ¢ Peabody e da Universidade da Pennsylvania no Yucatdn e na Gua- Mt Vs temala, bem como as de Vaillant no vale do México, de Heizer em La Venta, etc. Distinguem-se duas espécies de escavacées: 1) esca- -vag6es dos antigos edificios arquiteténicos em ruinas, que se apresentam com o aspecto de monticulos recobertos de vegetacao luxuriante; 2) escavacées nas cercanias das antigas aglomeragdes onde uma grande quantidade de detritos e de objétos de refugo foram acumulados durante séculos. No primeiro caso, comeca-se por eliminar a ve~ getacdo e o Inimus; depois procuram-se os elementos de construcso que permaneceram no local: fundagdes, peda- os de paredes etc. Sitio consolidadas e reconstituidas as partes de construgées que deles decorrem logicamente. Para escavar um amontoado de detritos, efetua-se um corte do terreno que permite estudar, de cima para baixo, depésitos cada vez mais antigos, Gracas & observacéio de todos os pormenores, gracas a uma estratigrafia minucio- sa, consegue-se distinguir as diferentes fases da evoluc: industrial e social num mesmo sitio. Os conhecimentos adquiridos em cada uma das civi- lizagdes do México e do Peru permitem agora tragar um quadro comparativo desses dois grupos de eivilizagdo. (V. pags. 8 e 9.) Por razées de ordem pratica, néo nos conformaremos estritamente a esse plano, Os perfodos mais antigos, os que esto na base do quadro, cujo material néio & muito abundante, serdo descritos ao mesmo tempo em corte ho- rizontal, por assim dizer, no capitulo da pré-histéria. A partir da época de formacdo, preferimos examinar a su- cessiio das civilizacdes em cada zona geogréfiea, por co- Iunas verticais. Deixaremos de lado certos perfodos que so atestados apenas por alguns fragmentos de olaria que néio permitem uma reconstituigao de suas civilizagdes. Em _compensacao, mencionaremos civilizagdes das quais ainda faltam conhecimentos precisos, mas cuja importin- cia aparente justifies. uma desericio aproximativa. De qualquer modo, trata-se aqui de estabelecer uma cronolo- gia provisdria que deverd ser ratificada & medida que se~ jam feitas descobertas futuras. 12 Digamos antes de mais nada que o emprego da. ceré- mica generaliza-se a partir da época de formacéo, A época do florescimento ou classica corresponde as mais brilhan- tes manifestagées das civilizagées locais. Em conseqiién- cia, assiste-se a um expansionismo durante o qual os povos mais fortes tentam impor-se e extravasam os limites de seus territérios. Ao mesmo tempo comeca uma certa de- cadéncia caracterizada por estilos epigonais. Finalmente, apenas alguns séculos antes da conquista espanhola, é que um imperialismo ou um militarismo (termos propos- tos pelo arqueélogo norte-americano Duncan Strong) se impée, tanto no Peru como no México. © periodo pré-histérico, antes do estabelecimento de uma agricultura, teria durado varios milénios, A época de formagdo teria comecado algum tempo antes de nossa era. O periodo clissico ter-se-ia prolongado até cerea do ano 1000. O expansionismo ou fuséo teria. terminado por volta. de 1200 para dar lugar ao imperialismo, ao qual a conquista espanhola devia brutalmente pér fim. Povoamento ¢ pré-histéria da América Antes de abordar o estudo dos diferentes povos que criaram as grandes civilizagées pré-colombianas, falemos sucintamente de seus predecessores. Perguntar-se-6, de inicio, como se povoou o continente americano. Trata-se de uma populacdo autéctone que se desenvolveu in loco on estaremos em presenca de imigrantes vindos de outras partes do mundo? Neste caso, quando, como, e de onde puderam atingir essa terra isolada? Entre todos os investigadores, apenas o florentino Ameghino sustentou a hipétese de uma populacio autéc- tone, tendo mesmo pretendido provar que a espécie huma- na estava representada na América desde a época tercié- ria; mas suas idéias foram julgadas tio fantasistas no mundo erudito que nao nos deteremos nelas. Nao se encontra nenhum vest{gio na América de um homem de uma época primitiva compardvel ao Pitecan- tropo, ao Sinantropo, ou ao Neandertal. Os esqueletos 13 humanos mais antigos quase nfo se distinguem dos dos indios modernos, Mas, dir-se-4 que um mimero considerdvel de desco- bertas provou a contemporaneidade na América do homem ede uma fauna extinta ha varias centenas de milhares de anos, Mencionaremos apenas para lembrar a de um mas- todonte do Equador, no meio de um fogéo que encerra fragmentos de olaria; a de ossos de um mastodonte novo ao lado de um crfnio de um cavalo fossilizado e de um esqueleto humano na caverna Confins, no Brasil. Em Folsom, no Novo México, encontraram‘se restos de um isiio fossil (Bison Taylori) associados a pontas de pedra; em Russel Springs (Kansas), uma ponta de silex na omo- plata de um Bison occidentalis. Ha alguns anos, foi dado a conhecer um cranio humano em Tepexpan (vale do Mé- xico), na mesma camada que os restos de um elefante Esta ‘escavacdo foi recentemente confirmada pela desco- berta no mesmo terreno de um esqueleto de mamute, no qual estavam fincadas varias pontas de silex e de obsi- diana, Na Lagoa Santa (Brasil), onde 800 cavernas foram exploradas, encontraram-se ossos de uma fauna fossil associados a restos humanos, Pareceria portanto que a antiguidade do homem americano nao ¢ inferior em nada do homem das outras partes do mundo. Isto seria exato se os grandes animais tivessem de- saparecido ao mesmo tempo, na terra toda, o que estd longe de estar provado. # bastante provavel que algumas das espécies pré-historieas tenham existido na América até infeios dos tempos modernos. O bom estado em que foi encontrada a pele da grande preguica da caverna Eber- hardt no extremo-sul da Patagdnia, a conservacao de seus excrementos, parecem confirmar tal tese. A antignidade atribuida geralmente ao homem ame- ricano é de 10 a 15.000, no maximo 20.000 anos. & pouco em relaeSo aos 100.000 ou 125.000 anos durante os quais diferentes tipos de homens teriam existido no Velho Mun- do; € muito se nos referimos As grandes civilizagbes ame- ricanas das quais nenhuma provavelmente atingiu seu apogeu antes do inicio de nossa era. 14 Se hé um acordo geral em admitir o povoamento da América por imigrac&o, o mesmo nao acontece quanto & origem dos imigrantes. Uns thes atribuem uma origem comum, outros imaginam de preferéneia, movimentos de populacées convergentes, mas oriundos de pontos diferen- tes, que se teriam produzido senéo contemporaneamente, pelo menos em vagas sucessivas, A configuragao muito especial do Novo Mundo torna seu acesso diffeil, A tinica passagem relativamente fran- ca € 0 estreito de Bering ¢ o rosdrio das ilhas Aleutas, por onde a América se aproxima bastante do continente asidtieo © parece que a grande maioria dos imigrantes seguiram essa rota, Quando a pré-hist6ria da Sibéria for mais bem conhecida, é provavel que nela encontremos os vestigios de sua passagem. Estamos autorizados a supor a existéncia de diversas vagas de migracdes provenientes da Asia. Uma teria leva- doo elemento dolicoeéfalo que encontramos desde o Bra- sil até a Patag6nia. Outra teria trazido o elemento mon- goldide, braquicéfalos de pequeno porte com macas do rosto salientes; este € de longe o elemento mais impor- tante, Braquicéfalos de alto porte como os que se encon- tram entre as populagdes da América do Norte perten- ceriam a uma terceira vaga de imigrantes. Os esquimés, finalmente, sao os tipos mais mongoléides da América, Seria, além disso, muito arriscado tentar explicar 0 povoamento desse continente referindo-nos apenas aos elementos antropologicos. Certamente, grande ntimero de povos da América possum caracteres mongoldides bem mareados; mags salientes, a cor escura dos cabelos, dos olhos, a tez moreno-amareiada ou moreno-cobre so’ tra- gos comuns aos mongdis ¢ aos amerindios, Mas outros elementos mongéis, com os olhos puxados ou o nariz arrebitado quase no se encontram na América, Por outro lado, observam-se af tracos néio asiditicos devidos prova- velmente a contribuicdes diferentes. Paralelamente aos antropélogos, os lingitistas parti- ciparam das pesquisas sobre o povoamento da América. ‘Em nenhuma parte do mundo existem tantas linguas di- 15 } | ferentes; elas se dividiram em determinado ntimero de familias lingiifstieas sem que fosse possivel chegar a um resultado plenamente satisfatorio, intmeras linguas nao se’localizando em parte alguma, Distinguem-se atualmen- te entre 120 ¢ 150 dessas familias, das quais algumas tém uma irradiacio imensa, Mas, os desvios no interior de cada uma delas sfio por vezes tais, que pessoas que falam duas linguas diferentes de uma mesma familia nfo se compreendem. Concordancias estruturais foram constatadas entre certas Iinguas norte-asidticas e americanas, mas elas néio se estendem ao vocabuldrio. Em compensactio, existem semelhancas Iéxicas entre a familia Hoka e 0 malaio-poli- nésio e entre as linguas Con e 0 Australiano, Essas seme- Ihancas levaram o Dr. Rivet a coneluir que ha uma inter- penetracdio dessas Iinguas americanas de um lado e do malaio-polinésio e do australiano, do outro, O que impli- caria, numa época mais ou menos longinqua, em inteream~ bios éntre a América e a Oceania e talvez um deslocamento de populagao da Oceania em direcdo & América. Entre as mais antigas manifestagées do homem na. América é preciso citar as pontas encontradas nas cerea~ nias da aldeia de Folsom no Novo México, Sao laminas delgadas e apontadas tendo geralmente nas duas faces 0 desbastamento de uma lasca longitudinal a partir da base. ‘As pontas de Yuma (Colorado) séo do mesmo tipo, mas de formas mais variadas; sua base 6 pedunculada e as vezes convexa. O tipo de indistria de Folsom e de Yuma encontra-se em numerosas outras partes da América do Norte, Asociados As pontas, encontraram-se raspadores, facas, perfuradores, ralos, em calcedénia, quartzito, dgata, terra’ caleéria ou em jaspe, Pontas mais rudes foram encontradas na gruta da Sandia (Novo México); prova- velmente mais antigas ainda que as de Folsom, parece- riam eoineidir com a tiltima extensdo glaciéria. As pontas de Folsom sfio compardveis ds de Solutré, que datam do Paleolitico superior europeu, mas ¢ impossivel estabelecer ‘uma relaciio de tempo entre os dois continentes 16 A civilizagéio de Cochise, localidade do sul do Arizona, onde foram descobertos seus primeiros elementos, é igual- mente muito antiga, Ela se manifesta sobretudo por pe- dras de moer chatas com os cilindros correspondentes, pildes de almofariz, martelos e pedras de lareira. As po- pulacdes que fabricaram esses instrumentos se alimenta~ vam com vegetais e viviam as margens de lagos hoje secos, Encontraram-se vestigios idénticos no centro do ‘Texas e no litoral californiano meridional. Esta civiliza- Go deve ter-se expandido através do México, até o norte da, América do Sul No que se refere a este tiltimo continente, conhecemos, uma indtstria Iftica pré-ceramica, no norte da Colémbia, em S, Nicolau de Bari, no curso inferior do rio Sinu, assim ‘como na Venezuela, no sitio El Jobo. Essa tltima parece remontar 2 16000 anos antes de nossa cra, segundo a andlise da radiatividade das matérias encontradas nas vi zinhangas. Estamos mais bem informados sobre a Patagénia, gracas a uma escavacio estratigréfica de primeira im- portaneia realizada nas cavernas Palli Aike e Fell, perto do Estreito de Magalhaes. Foi ai que Junius Bird encon- trou cinco camadas superpostas de habitats, correspon- dendo a camada superior aos indios Ona modernos. A mais profunda, separada das outras por uma camada es- téril, contém os restos de guanacos, de preguicas gigan- tes e de cavalo selvagem, associados a uma industria Iitica de pontas de azagaias ¢ de raspadores de feiture bastante rude, utensilios de osso e de objetos cilindroides em lava, Restos humanos foram incinerados; entretanto, foi possi- vel reconstituir um erdnio dolicoeéfalo que lembra um pouco o tipo da Lagoa Santa (Brasil), Hsta escavacio deixa-nos, entretanto, perplexos: o cavalo, presente na ca mada inferior, desapareceu completamente até os tempos modernos, Sabe-se que ele ndo existia quando os espa- nhéis estabeleceram contato com a América, Como expli- car seu desaparecimento? Outras escavacées nos “Kjékkenmiddings” do extre- mo-sul, no canal Beagle, revelaram a presenca antiga de Ww uma populagao de pescadores que fabricavam facas de conchas, pontas de arpao dentadas e colares de ossos de passaros, Outros pescadores instalaram-se nas costas do Chile perto de Arica e Taltal, onde se pode observar dois periodos diferentes de ocupacio. Nenhuma dessas primeiras populagées fabricava ola- ria, na qual se esmerarao mais tarde as grandes civili- zacdes, Sem conhecé-los e tampouco & sua cerAmica, os pri- meiros povos cujos vestigios sao descobertos na costa do Peru, praticavam jé uma agricultura rudimentar; por esse motivo pensa-se que talvez fossem contempordneos dos povos ceramistas de outras regides. Até o presente loca- lizaram-se cinco povos sem cerfimica na costa peruana: em Puemape, perto de Pacasmayo, em Milagro e em Huaca Prieta, no vale de Chicama, em Cerro Prieto, no vale do Viru e em Aspero, no vale de Supe. Huaca Prieta 6 o local mais bem conhecitio; uma es- cavacio excelente estabelecen que varios povos ai se su- cederam. A camada superior, a mais recente, 6 a tinica onde se encontraram fragmentos de olaria, As camadas anteriores néo os continham, mas forneceram material suficiente para que se possa fazer uma excelente represen- tag&io do género de vida dos povos que nao possuiam cerdmica. A populacio devia ser bastante densa. As ha- bitacGes, encostadas em grandes blocos de pedra, eram semi-subterraneas. A alimentaco compunha-se ‘princi« palmente de peixe e de moluscos; a coleta de certas plan- tas selvagens completava-a, assim como algumas culturas: achira (espécie de tubérculo), cabaceiros, feijdes, pimen- to, Iucuma (fruto). O milho, que devia'tornar-se o ali- mento bésico na América, era ainda desconhecido, O co- zimento dos alimentos fazia-se com a ajuda de pedras aquecidas: colocava-se a peca a ser cozida diretamente sobre a pedra ou entfio introduziam-se pedras quentes numa cuia cheia de agua, Este sistema de cozimento con- servou-se mesmo depois da introduedo da cerAmica, Os habitantes de Huaca Prieta cultivavam ainda o algodao, com que teciam as redes de pesca, Fiavam sem 18 fusos. A verdadeira tecelagem era ainda muito rara, mas eles confeccionavam vestimentas com casca de drvore ba- tida, Para todos esses trabalhos empregavam os raspa- dores e facas de silex obtidos por percussao, pesos de redes perfurados e agulhas de ossos. Nos tempos mais afastados dessa, civilizacdo, os mortos eram enterrados em simples fossas; mais tarde construiram tiimulos curvos utilizando blocos de pedra rolados. Entre os primeros habitantes da América que aca- amos de evocar e aqueles que construfram as grandes civilizagdes _pré-colombianas sucederam-se inumerdveis gerac6es, Milhares de anos de estabelecimento no lugar foram necessrios para criar um terreno propfcio ao de- senvolvimento dos diferentes estilos, cujos vestigios ainda hoje admiramos. Areas culturais As altas civilizagdes pré-colombianas encontram-se acantonadas no México, na América Central, nas Antilhas e no interior do sistema andino da América do Sul: Co- lombia, Equador, Peru, Bolfvia, parte da Argentina e norte do Chile, Tudo o que se situa a leste da Cordilheira orien- tal, isto 6, a maior parte da América do Sul, permanece fora. desta zona, antes de tudo as regides amazOnicas par- ticularmente tunidas, que pouco se prestavam ao estabe- Iecimento de populacées sedentarias, assim como as vastas estepes da Argentina, Excetuam-se a ilha‘de Marajé na foz do Amazonas e as vizinhaneas imediatas do grande rio no seu curso inferior, onde foram revelados vest{gios de civilizagGes elevadas, No Norte:do México, sem contar os casos dos Pueblos e dos Mound-Builders, quase nfo en- contramos civilizagSes de destaque. A drea das grandes civilizagdes é portanto relativa- mente limitada; entretanto, elas sfio tio numerosas ¢ de tal forma variadas que & impossivel expor sua evolugio conjuntamente, Os etndlogos tiveram de estabelecer zonas 19 culturais aparentadas. Grosso modo, distinguimos trés zonas dentre as altas civilizagdes: I — Mesoamérica compreende uma grande parte do México, a Guatemala, Honduras e parte da Nicaragua. Se nfio podemos enumerar aqui todos os elementos culturais comuns a todos os povos dessa zona, gostaria- mos de mencionar os mais importantes, sobre os quais voltaremos a falar mais pormenorizadamente quando des- crevermos as diferentes civilizagées, Encontra-se por toda parte a pirmide escalonada, os piitios cobertos de estuque e os jogos de pelota. © sistema numérico vigesimal com meses de 20 dias, 0 duplo calendario solar e littirgico e os ciclos de 52 anos siio de praxe. Quase que em toda parte se cultivava o cacau, o chia, o maquey (espécie de agave), servindo 0 tiltimo ao fabrico do papel. Havia uma escrita hieroglifiea empregada nos manuscritos conhecidos pelo FIG. 1 — Relevo de um dangarino Monte Albin T ‘(Olmeca) 20 nome de cédigos, que siio livros dobrados em sanfona, As armas cram zarabatanas com municgo de bolas de argila. ‘As sandélias possufam saltos, I — A Grea cirowmoaribe tinha seu centro, como 0 nome indica, no mar das Carafbas, Ela compreende as Antilhas, os paises meridionais da América Central, Costa, Rica e Panamé e as costas atlanticas da Colmbia e da Venezuela. Os limites sul passam pelas Guianas sendo os do interior bastante imprecisos. Os elementos culturais tipicos dessa zona séio muito menos numerosos que na Mesoamérica; a maior parte se expandiu alhures, com a cultura da mandioca ou 0 traba- tho do ouro e do tumbaga. A auséncia de qualquer arqui- tetura de pedra € surpreendente, O trabalho da madeira 6 caracteristico; as obras em madeira mais freqiientes sio cadeiras baixas que tornamos a encontrar na. zona andina, prineipalmente os duho, eadeiras com encosto, assim como as tigelas, III — A Grea andina se estende por toda a zona dos Andes, do extremo-norte do continente até o Chile, entre a Cordilheira Oriental e o Pacifico. Em toda essa regido encontramos 0 culto dos mortos, sua conservacao em invélucros e os ttimulos em forma de poco. A cabeca-troféu e uma de suas formas, a cabeca reduzida, o cacete estrelado, o trabalho do cobre e do bronze sio tipicos. Efetuavam-se os edleulos por meio de um sistema de nds, dispostos segundo certas regras cha- mados quip. Entre as culturas de origem andina mencio- namos a coca e a batata — tendo atuaimente a ultima se propagado por toda parte do mundo. 21 FIG, 2 — Plano Teotihuacén 1, Piskmide da Lua. — 2, Praga da Lua, — 3. Templo da Agricultura 4. Praga das Colunas, — 5. Pirimide do Sol. — 6. Museu regional, — 7. Avenida dos Mortos. — 8, Edificios superpostos. — 9. Cidadela. CAPITULO I A AREA MESOAMERICANA Essa drea foi habitada por intimeros povos eujos descendentes Nahua, Otomi, Totonacas, Zapotecas e Ta- rascos falam ainda. hoje linguas diferentes. No século XVI os espanhéis entraram em contato com 03 astecas e os maias e os cronistas descreveram as civi- Tizagdes desses dois povos tais como elas se apresentam atualmente, Por isso so eles os mais conheeidos da. Amé- rica pré-colombiana. Mas as escavacdes dos tiltimos anos permitem conhecer, pelo menos parcialmente, a evolucio dessas civilizagdes e daquelas que se desenvolveram & sua volta. 10 — 0 alto plats mewioano CivilizagGes “medianas”.— O alto platé mexicano nfo forneceu até o presente nenhum vestigio de civilizages paleolitieas dos tipos Folsom-Cochise. “As poucas pontas de lancas e facas de sflex e de obsidiana de Santa Isabel Txtapan, quase nfo se distinguem dos instrumentos cor- rentes em épocas mais recentes. Ao contrério, nele foram encontrados — e ainda se encontram — inumerdveis frag- mentos de ceramica muito primitiva e de pequenos {dolos de torracota, o que vem provar que as populagdes seden- térias e muito densas viveram por muito tempo nessas paragens, na época chamada das “civilizacdes medianas”. Se ainda nos 6 impossivel daté-la com exatidao, pelo menos sabemos que ela foi anterior & nossa era; com efeito, duas 23 localidades pertencentes a tais civilizagdes, Copileo e Cui- cuileo, foram recobertas por uma corrente de lava resul- tante de uma erupgdo do vuledio Xitli que os gedlogos afir- mam ter-se produzido no mfnimo ha 2000 anos. ‘As margens do lago Texcoco, onde se encontra_a cidade atual do México, parecem ter exereido certa atracio sobre as primeiras populagdes, Devemos esclarecer que a superficie do lago foi grandemente reduzida desde os tem- pos antigos, pelas secas sucessivas e que sua atual praia nfio coincide com a da época pré-colombiana, No limite da antiga margom, o arque6logo americano George Vail- lant encontrou sinais de aglomeracdes em Zacatenco, El Arhorillo e Ticomén. Deseobriu Ingares de descarga onde, de geracdo a geracdo, esses antigos povos jogaram o lixo doméstico, Apenas a espessura desses depositos — um tem mais de 8 m — prova a ocupagSo extremamente pro- longada de um mesmo sitio, Ademais, constituiram pre- ciosas fontes de ensinamento revelando pelas escavacdes, verdadeiras camadas de civilizagGes sucessivas, Vaillant reuniu abundante material arqueoldgico clas- sificado cronologicamente. © estudo comparativo desse material e daquele que ele tinha anteriormente encontrado em Copileo e em Cuienileo permitiu agrupar os objetos em duas categorias: os objetos de Zaeatenco séo andlogos ao de Copilco, enquanto que Cuicuileo fornecera um miaterial mais evoluido, cuja réplica foi encontrada em Ticomén. Sabe-se assim, que as civilizagdes medianas englobam duas épocas: a primeira a de Copileo-Zacatenco, deve ter durado muito tempo, talvez sete séculos; a seguinte, a de Cuicuilco-Ticoman, foi mais breve, cerca de trezentos anos. As habitagdes da época Copilco teriam sido cabanas cobertas de colmo; nfo deixaram vestigios, Os habitantes de Cuicuilco ao contrario tinham edificado uma construcio macica de forma circular, com 123 m de diimetro na base e uma plataforma de 20 m de altura sustentando um altar. Essa construcdo parece ser a primeira construcao de pe- dra do México. © modo de enterramento dos mortos diferia segundo os lugares. Geralmente 0 morto fica 86, seja em posicio 24 estendida, seja com os membros dobrados. Os timulos de criancas sio anormalmente numerosos. Encontram-se freqiientemente junto ao morto armas de pedra, laminas, pontas, raladores de obsidiana e vasos de formas muito variadas. A olaria compreende igualmente pequenas esti- tuas antropomorfas, eujos detalhes so obtidos por pasti- Thagem e por incisao, As figurinhas representando mu- lheres so notdveis por uma esteatopigia acentuada: coxas e nédegas particularmente desenvolvidas, enquanto que os bragos e as pernas so simples cotos, ‘Um novo estilo apareceu no fim dessa época, Os pri- meiros espécimes foram descobertos a alguns quilémetros da capital numa carreira de argila de Tlatileo. Descobri- ram-se figurinhas de um estilo muito evoluido e de um nivel artistico bem superior as de Zacatenco ou Ticoman. As figurinhas de Tlatileo parecem ter certo parenteseo com objetos de outro povo do México, do qual falaremos mais adiante, os olmecas, Estes haviam atingido muito cedo um grande desenvolvimento artfstico e formulou-se a hipotese de que o povo olmeca teria sido um dos primeiros a levar a civilizagéio ao alto plato. Civilizagdo de Teotihuacdn. — No declinio das civili- zagdes médias, os estilos que se haviam desenvolvido na margem sudoeste do lago de Texcoco surgiram na zona nordeste, em Teotihuacdn, onde, no decorrer dos séculos seguintes, durante o periodo classico, iria expandir-se uma das maiores civilizacées, cujo teatro seria o vale do Mé- xico. ‘Niio se sabe exatamente quais foram seus criadores; ignora-se-lhes 0 nome e o idioma que falavam. Supée-se apenas que vinham de alguma parte da costa do golfo do México; muitas semelhancas estilisticas sugeririam, como em Tlatilco, um parentesco com os olmecas. Ainda que assim seja, 0 conjunto monumental de Teotihuacdn teste- munha a riqueza e a complexidade da sociedade que lhe deu origem. ‘Teotihuacén, povoagio exclusivamente religiosa, man- teve-se florescente de 600 a 800 anos. Foi construida em 25 26 ae A MAPA I — CivilizagSes mesoamericanas ¢ ciroumcaribe vérias etapas, em estilos nitidamente diferenciados, Duas grandes pirdmides, a do Sol e a da Lua, dominam-na, A pirdmide mexicana, ao contrério da do Egito, é sempre truncada, 1 em stima um terrapleno sustentando um templo, Entretanto, conhecem-se hé alguns anos varios casos em que a piramide recobre um timulo. A piramide do Sol de Teotihuacén, segundo as iltimas avaliagdes, teria sido construfda no inicio da nossa era. Com seus 60 m de altura, cla se destaca nitidamente da povoacdo que se estende a seus pés. 38 uma massa enorme de 1300000 m* de aterro, Ia- deada a oeste por uma escada que leva & plataforma cujo templo atualmente esté destruido, Encontra-se a leste de uma avenida de uns 40 m de largura e cerca de 2 km de comprimento, a qual, partindo da pirdmide da Lua, atra- vessa toda a'cidade de norte a sul, margeada & direita e & esquerda por outros monticulos, restos de pequenas pirdmides e de templos. & a avenida dos Mortos ©) que Teva ao sul diante de uma vasta construcéo chamada a Ciudadela (a Cidadela). Esta “cidadela” € um quadrilétero delimitado por quatro terragos de 400 m de lado, encerrando um pequeno patio, no qual se entra por uma abertura praticada no ter- rago ocidental. Sobre as plataformas e no centro do patio erguem-se pequenas pirdmides com escadas. No fundo do patio vé-se um edificio extremamente interessante: uma piramide com miiltiplos terracos que, durante as escava- g6es, revelou ter sido construida por cima de outra mais antiga, A fim de guardar um espécime de cada um dos dois perfodos de construcdo, os arquedlogos praticaram um corte na espessura pondo & mostra a fachada da an- tiga pirdmide. De tal forma que atualmente as duas cons- trugdes so visiveis: a nova do exterior, e a antiga, atra- yés do corredor praticado. A antiga pirdmide era também construfda em terra~ gos dispostos com recuo uns em relacio aos outros; 4 subsistem dos 6 que a constituiam originalmente, Chama- (1) Os nomes foram dados aos cdificios pelos astecas ou pelos espanhéis. Nada indicam quanto & sua destinagdo original. a7 =< se Templo de Quetzalcoat! em razio das esculturas que ornam suas paredes e onde dominam as representagoes desse deus: cabecas de serpente ornadas com plumas, destacando-se em pleno relevo e sobre um motivo floral também em relevo, A cabeca de Tlaloc, o deus da chuva, alterna com a de Quetzalcoatl; reconhecemo-la pelos olhos cercados de éculos, Hssas esculturas séio as tnicas que possuem atributos que permitem identificd-las. A escultura havia atingido um alto grau de perfeicaio em Teotihucacdn (fig. 3). Produziu grande mimero de méscaras funerdrias em pedras diversas; alabastro, cal- cedOnia, diorita, porfiro etc., de tragos realistas e bem proporcionados, admiraveis pela forea de expressio. Essas mascaras eram fixadas nos fardos que continham os mortos e em geral sfo perfuradas com trés ou quatro oriffeios para. tal fim. 0s teotihuacanos cram, também, além de arquitetos ¢ escultores, pintores de grande habilidade, excelentes na arte do afresco, Os afreseos de Tepantitlin, localidade situada a 1 km do centro, sao de um estilo extremamente vivo e testemunham uma observacéo assidua da natureza. Informam-nos, em parte, das atividades quotidianas dessa €poca; nelas éncontramos representadas, entre outras, a confeceao de bolos de milho, Em Ateteleo 0 embasamento de trés construgdes € decorado com um friso de jagua- res em camafeu vermelho, Por outro lado, os afrescos descobertos em Tetitlin so de uma inspiracdo por assim dizer surrealista. O principal representa uma combinacao de méos com unhas pintadas de vermelho. Por poueo que conhecamos a religifio de Teotihuacén 6 provavel que Tlaloc tenha sido, pelo menos por certo tempo, a divindade principal. Supde-se que um templo, onde foram encontradas numerosas figurinhas possuindo atributos seus, fosse a ele dedicado; os sinais estranhos gravados nas lajes de pedra, geralmente conhecidos por “Cruz de Teotihuaedn”, nao passam, na realidade, de esti- lizagbes muito marcantes dos atributos desse deus: mo- tivo dos labios terminando numa voluta chamada yaca- ‘meatli e presas saindo da boca, As escavagées do templo 28 FIG. 3 — Chalehiuhilicue, deusa da agua ‘Teotihuacan. de Quetzalcoatl revelaram igualmente numeros com a efigie de aloe, Finalmente um ciclo completo de afrescos de Tepantitidn relata a morte e sobrevivéncia no Tlalocén ou paraiso de Tlaloc: o defunto aproxima-se chorando de um rio, que ele atravessa antes de ser admi- tido no paraiso, ¢ volutas floridas pintadas diante da boca indicam que ele canta louvores ao deus. A partir de Teotihuacsn, o deus Tlaloc é reencontrado nas manifestacdes artisticas de todas as civilizagées do antigo México, Reencontraremos igualmente mais tarde 29 ee — i vimos surgir s regiGes a serpente emplumada que ae pemiere ‘vez em Teotihuacdn. Além disso, annie que uma das mais famosas estdtuas encontradas em Teo- fihuaedn, nas proximidades da pirémide da Lua, repre- senta a deusa da agua dos astecas, Chalchiuhtlicue; € pee sivel que ela tenha sido venerada desde essa época, In: dependentemente dessas divindades novas, o pantefo 4 Teotihuacin compreendia Huehueteotl, ‘‘o velho-vel ES deus” ou Deus do Fogo, que é talvez o mais antigo de todos Civilicagdo tolteca, — O declinio do teotihuacanos, que se produziu no séeulo X, continua até o momento Inexplicado, Seus monumentos no fiearam, entretanto, sem emprego, Foram utilizados por membros de uma tribo Nahua que, depois de ter pereorrido as estepes ¢ o8 desertos do noroeste, dispersou-se nas diferentes local dades entre as quais Mazapén, nas portas de Teotihuacdn, Colhuaedn ¢ Tula. Bram os tolteeas, povo semilendérie ia deixar sua marca néo i fon rs ee ee ge perme tempo todas as manifesiagdes culturals que Gaiam das é nteriores aos astecas, Foram eles que thm com og elementos definitivos de civilizagio, em ia ticular o ealendario ¢ sinais gréficos, gracas aos quais registravam as datas, So bem que esses ultimos déem ainda margem a controvérsias, entramos mesmo ssi ‘com os toltecas no perfodo proto-hist6rico, no vale xico, f a © chefe ¢ fundador da primeira dinastia, Mixcoatl, chogando a0 vale, encontrou outras tribos Nahuas insta- Jadas {6 a0 sul e nos estados atuais de Morelos © de Guer- rero; deutnes combate repetidas vers pars expulsé ies i assassinado em 935 — o — por cee nome Thuitimal. Nasceulhe um filho pouco Hempo antes do sua morte, “Ce Acatl Topiltzin”; quando fico adulto vingou seu pal assassinando por sua vez 0 usumpador e fazendo-se reconhecer sacerdote supremo ¢ a encamagao de Quetzaleoatl, ea cmplonads, i sua capital om Tol a) a {etonago0 data em,que, segundo a lenda, teria partido 30 em diregéo ao pafs maia, Entao instaurou-se em Tula, com Matlaexochitl, uma segunda dinastia cujo primeira representante, segundo os dados historicos, foi Huemae (1098-1188), ainda que se mencione em 1246 uma derrota sofrida pelos toltecas em Colhuacdn, A capital dos toltecas, Tula, foi, a julgar pelas ruinas ¢ figuras gigantescas que subsistem, uma metropole im- pressionante, A piramide principal compreende um tem- plo consagrado a Quetzaleoatl. As paredes do norte ¢ leste so decoradas por espécies de métopes esculpidas em baixo-relevo e dispostas em vérias fileiras. Véem-se nelas representagées de Quetzalcoatl: aguias, urubus, coiotes ¢ jaguares. Nos escombros do templo encontra” ram-se algumas caridtides formadas por quatro pecas encastoadas umas nas outras e medindo ao todo 4,60 m. Elas representam um guerreiro ricamente vestido e orna- do por um peitoral em forma de borboleta, Varios pilares da mesma altura séo esculpidos nas quatro faces com guerreiros em relevo, geralmente vistos de perfil e empu- nhando um propulsor e uma espada curva, Uma parte anexa a pirdmide, o “coatepantli”, ou pa- rede das serpentes, 6 decorada por um friso de relevos po- licrémicos que representam serpentes devorando um ca- daver antropomorfo com cranio descarnado. Esse friso est enquadrado por dois outros formados por gregas igualmente policrémicas, Tula possufa dois estédios para o jogo de pelota, j4 nessa ¢poca muito difundido no México e que se conser- vou até nossos dias em Nayarit. Todos os grandes cen- tros pré-colombianos possuem um jogo de pelota; apenas ‘Teotihuacdn constitui exeegéo. Um dos de Tula foi esca- vado e reconstruido; 6 um campo ciija forma esquemé- tica lembra a de um T barrado nas duas extremidades; no meio do campo fixavam-se anéis laterais, A partida era disputada entre duas equipes; os jogadores langavam uma bola de borracha por meio dos quadris ou dos pés, Sem nunca tocé-la com as.méos e esforcando-se por fazé. la passar pelos anéis. Era um jogo de cardter ritual, enjo resultado se prestava a pressigios, 31 ao Xochicaleo, que parece ter sido um segundo centro tolteca, conservou diferentes construgdes escalonadas no flanco de uma encosta; bem no alto se ergue uma pird- mide cujos relevos, de um estilo belo e elegante, traem a influéneia, maidide: personagens sentadas, de fronte fu- gidia, vistas de perfil, alternando com motivos serpenti- formes. Uma inscriciio em relevo, peito da escada central, representa duas datas registradas em caracteres diferen- tes, uma em maia com tracos e circulos, a outra em nahua com cfreulos apenas. So os primeiros caracteres que foram empregados pelos astecas em suas inscrigées © manuscritos, 0 que permite concluir que o sistema numé- rico maia, usado inicialmente, foi suplantado pelo sistema, nahua, empregado pela primeira vez em Xochicaleo; assim fica explicada a tradieao asteca, segundo a qual o calen- dério, em sua forma definitiva, era obra dos toltecas ®. Civilizagéo astecn, — Toda vez que os astecas, her- deiros dos toltecas, os mencionam, fazem-no nos mais elogiosos termos, Haviam entretanto contribuido ativa- mente para seu declinio, ao combaté-los, 0 chefe Huitzi- Jopochtli, numa batatha sangrenta no monte Coatepec, nas cereanias de Tula, ‘A unidade cultural, realizada primeiro em Teotihua- can, depois em zona tolteca, se desagregara em conse- qiiéncia das dissensGes entre as tribos. Os Chichimecas, barbaros vindo do norte, haviam invadido a regido, que conheceu um longo periodo conturbado, marcado por guerras fratricidas, S Estabeleceram-se entéio varias cidades-estados: Co- Thuacdn, ‘Tenochtitlén, Texcoco, Azcapotzalco, Cholula. Cothuacén, que havia sido uma das etapas dos toltecas, desempenhou de inicio o papel dirigente; depois os Colhua foram relegados pelos Tepanecas que, apoiados pelos ‘Te- nocheas, instalaram-se em Azcapotzaleo. Tinham um che- fe que se tornou famoso, Tezozomoc, que se opds aos ha- bitantes de ‘Texcoco, nas margens do lago, Conseguiu de inicio baté-los mas, em seguida, as trés cidades de Te- @ Ver pp. 44 © 58,a 60 32 nochtitlan, Tlacopén e Texcoco uniram-se para se liber- tar do jugo cada vez mais pesado de Azcapotzaleo. A der- rota dos Tepanecas foi completa, sendo o seu chefe, Max- tla, filho de Tezozomoe, morto e sua cidade incendiada. Apesar de estarem sempre em guerra umas contra as outras, essas diferentes tribos eram sempre mais ou menos aparentadas; todas falavam o nahuatl, como os toltecas; tinham os mesmos costumes tribais, 0 mesmo estilo de arquitetura e de escultura. Falaremos aqui ape- nas de uma delas, a que se impés sobre todas as outras e exereeu a supremacia no vale do México, quando os espanhéis ali penetraram: os Tenocheas, Varios manuseritos do século XVI relatam sua ori- gem mais ou menos lendéria: seu habitat ancestral, Aztlan, situar-se-ia num ponto qualquer a noroeste do México, talvez no Michoacin. Numa caverna, teriam en- contrado 0 idolo do “feiticeiro colibri”, Huitzilopochtli, que Ihes teria dado conselhos tao titeis que o transforma- ram em seus deus tribal, Teriam comecado sua longa migracdo em companhia de outras tribos de que se teriam depois separado, Durente suas peregrinagdes pararam em varios lugares do alto platd, entre os quais Tula e Zum- pango. Distingue-se sua passagem em Chapultepec, onde viveram pacificamente durante mais de uma geragdo; em conseaiiéncia e, ao que parece, por sua culpa, guerras opuseram-nos a seus vizinhos e terminaram mal para eles: foram em sua maioria exilados na charneca estéril de Ti- zapan, infestada por insetos e serpentes venenosas. Alguns revoltosos refugiaram-se nas ilhas do lago de ‘Texcoco, onde fundaram, em 1325 ou, segundo resultados dos tiltimos estudos, em 1370, a cidade de Tenochtitlén, atualmente México, que se tornou sua capital (fig. 4) Néo nos deteremos mais nas vicissitudes de Te- nochtitlin nos anos que se seguiram. A conclusio da alianca triplice Tenochtitlin-Texcoco-Tlacopan 6 0 ponto de partida da sua ascenséo definitiva, Com o esmaga- mento dos Tepanecas, os Tenochcas afirmaram sua sU- premacia militar, Bram guerreiros extraordinariamente audaciosos. Armados com clavas de madeira incrustadas 33 UNIOESTE (Gamous de Marechal Candido Rondon BIBLIOTECA lateralmente com lascas de obsidiana de que se serviam para o ataque e com escudos redondos para a defesa, lan- Gavam-se no corpo-a-corpo, com uma audécia que os tor- nava. inveneiveis, Sob 0 comando de Itzcoatl comecaram pela submis- sfo da maior parte das tribos ainda independentes do vale. Depois Montezuma I, que foi chefe de 1440 a 1472, levou a guerra para o outro lado do vale, na direco da regidio de Puebla, ao sul. O filho de Montezuma I, Axaya- catl, conduziu seu exéreito ainda mais longe, até Oaxaca; deu combate igualmente aos Matlazincas e aos Tarascos a este, mas estes, entrincheirados no lago de Patzcuaro, infligiram-lhes uma esmagadora derrota permanecendo independentes, A Tizoc, morto envenenado em 1486, su- cedeu Ahuitzotl, que guerreou até na Guatemala, Foi sob © reino de Montezuma II, filho de Axayacatl, que os espa nhéis chegaram ao México, Eles desembarearam no porto atual de Veracruz, e se dirigiram imediatamente para 0 alto platé. A meio caminho foram acolhidos pelos habi tantes de Tlaxcala que, entao em guerra com os Tenoch- cas, mostraram-se inteiramente dispostos a conduzir os estrangeiros até as portas de Tenochtitlin. Montezuma IL, aprisionado pelos conquistadores, morreu em 1520. Os tiltimos chefes dos Tenochcas foram Cuitlahuae, cujo remado durou apenas alguns meses e Cuauhtemoc, que tentou em vao organizar a resisténcia contra os invasores e foi enforeado em 1523 ou 1524. Internamente, a organizaco politica dos astecas era democratica, As familias eram repartidas em clas patri- lineares ou calpulli, Tenochtitlin contava com vinte clas agrupados em quatro secdes ou fratrias, sendo atribuido a cada uma bairro particular da cidade, 0 cli gozava de certa autonomia: possuia como pré- prio uma divindade, um templo, terras, e uma adminis- tracdo eleita, Seu principal funciondrio, 0 calpullec, de- sempenhava 0 papel de um secretério-fesoureiro: a ele cabia a incumbéncia de manter o equilibrio econémico. 34 FIG. 4 — Placa comemorativa da inauguragio do grande templo de Tenochtitlan 8 Canigo = 1487 Cada cla enviava um delegado ao conselho supremo de Tenochtitlén. Chamavam-se flatoani, isto 6, oradores, os membros desse conselho, Tinham funcGes administra- livas, politicas e juridieas, Repartiam as terras que cram cultivadas em comum entre os clas, designavam as par- celas cuja renda devia cobrir as despesas ocasionadas pelo culto, pelo Estado e pelas guerras, Bram eles ainda que elegiam os quatro oficiais comandantes das forgas mi- litares das 4 fratrias da cidade. 35 © chefe supremo era escolhido entre esses quatro oficiais, Chamava-se tlacatecuhtli, isto é, chefe dos ho- mens. Suas fungoes eram quase exclusivamente militares, enquanto que a politica interna dos Tenocheas era diri- gida pelo cihwacoatl, ou serpente fémea, 0 mais impor- fante dignitario depois do ehefe dos homens e que geral- mente o sucedia depois de sua morte. ‘Teoricamente, 0 conselho supremo podia revogar os dois grandes chefes. De fato, cle nao exereia jamais esse direito; parece mesmo que, no momento da conquista, 0 sistema politico dos astecas se havia quase que inteira- mente transformado numa monarquia hereditéria. Os cronistas dio, alids, o titulo de rei ao “chefe dos homens”. A jurisdig&o asteca era estabelecida sobre bases s6- lidas. © castigo tendia principalmente & reparagdo da ofensa, O ladrao devia restituir integralmente seu roubo, se ndo quisesse ser condenado A escraviddo; os delitos irrepardveis acarretavam a pena capital: o assassino era enforeado, 0 adiiltero, lapidado, o traidor, esquartejado. Bram ainda passiveis de pena de morte o ladrao de milho, ouro, prata ou de jade, o incesto e 0 feiticeiro que havia praticado a magia negra, Aos difamadores cortavam-se 0s ldbios ¢ as orelhas. A sociedade asteca dividia-se em classes nitidamente diferenciadas. No alto da hierarquia estavam os nobres. Pertenciam @ vétias categorias, ostentando, cada uma, uma vestimenta particular: sacerdotes, membros da fa- milia do “chefe dos homens” ou de seu circulo imediato, guerreiros que se tinham destacado nas batalhas; estes iltimos podiam elevar-se & ordem dos cavaleiros-dguias; recebiam algumas vezes terras nas regides conquistadas, mas 0s privilégios inerentes & nobreza — dos quais o prin- cipal era a isenedo de impostos. — no lhes eram conce- didos, a niio ser a titulo pessoal, e néo se transmitiam a seus descendentes. © povo era constituido pelos cultivadores e artesdos. Cada clé dedicava-se a uma atividade particular e, como 03 elds recebiam uma atribuico bem delimitada no inte- rior da cidade, as corporagdes eram ai divididas em bair- 36 ros; havia 0 bairro dos ourives, 0 do mosaico, o das pedras preciosas, o das plumas etc. Os servidores ¢ os escravos ocupavam 0 tiltimo de- grau da escala social. Kram os descendentes de popula- (Ges submetidas ou delingtientes de direito comum ou prisioneiros de guerra, Estes tltimos eram na maioria das vezes sacrificados aos deuses, mas alguns eram pou- pados, sobretudo os operérios especializados, Os eseravos nao eram maltratados, de tal modo que vagabundos can- sados dos trabalhos fastidiosos da vida quotidiana, ou pessoas do povo muito miseraveis empregavam-se volun- tariamente ou vendiam seus filhos como escravos, Os mereadores ou pochteoa formavam uma classe & parte, Percorriam todo 0 México levando os produtos do alto platd para trocé-los pelos das terras quentes, Mas sua atividade excedia o quadro comercial. Nas regides que percorriam entregavam-se a uma espionagem inten- siva e relatavam em Tenochtitlin todas as informacdes que tinham podido reeother sobre as forcas militares das tribos vizinhas, Eram assim preciosos auxiliares para os chefes militares. Na eidade tinham sen proprio bairro e uma divindade especial. A continnidade dessa _organizacdo social rigida era garantida por um sistema de edueacio muito estrito, cuja finalidade principal era a formagao profissional e civica do individuo. Por volta dos 15 ou 16 anos, antes de serem considerados maiores, os rapazes deviam fazer um estagio numa escola, Havia duas espécies de escolas: 0 calmecac, espécie de semindrio onde eram edueados os jovens nobres © rapazes que deviam abracar a carreira religiosa, e 0 telpochealli, onde se iniciavam as criangas do povo no manejo das armas, na histéria, na religiao e onde eram preparadas para preencher exatamente o papel que Ihes era destinado no seu cla. Os rapazes podiam casar-se a partir dos 20 anos, as mocas a0s 16, Antes de decidir um casamento, consul tava-se um padre para saber se os deuses eram favordveis, ao projet. Depois desenrolava-se um estranho ritual: 0 pai do jovem enviava duas velhas para oferecer presentes 37 ao pai da moga; em geral, este comegava por recusar os presentes, pois seu valor devia corresponder ao do lote da moca; as velhas iam e vinham entre as duas casas até que seus pais chegassem a um acordo, Fixava-se entio a data das nipcias. Na véspera, uma das venerdveis mu- Theres transportava a noiva nas costas até a porta da casa do rapaz; o casamento era celebrado primeiro sim- bolicamente, por uma festa durante a qual absorvia-se grande quantidade de bebida embriagadora chamada pul- ca; 0 jovem casal jejuava em seguida por 4 dias; somente pos esse periodo de purificacao consumava-se 0 casa~ mento, © divéreio era admitido: um homem podia mandar a mulher embora se esta néo Ihe desse filhos, uma mulher podia deixar seu marido se este ndo provesse as necessi- dades da famflia ou mesmo simplesmente por ter mau cardter, A mulher divorciada tinha direito de casar-se novamente, a sua escolha; mas a vitiva era proibido tomar ‘como segundo esposo o irméo de seu falecido marido. Quanto aos homens, podiam ter virias mulheres, mas a primeira esposa tinha prioridade sobre as outras. Admi- fia-se que os homens tivessem, fora do casamento, rela- Ses sexuais com outras mulheres, com a condi¢do de que essas néo fossem casadas; a prostituiedo existia; aconte- cia freqlientemente gente do povo dar suas filhas aos no- bres, como coneubinas, Como todas as tribos astecas, os Tenochcas foram originariamente agricultores. Sentindo-se demasiado aper- tados em sua ilha para fazer culturas, tiveram a idéia de construir chinampas ou jardins flutuantes, ilhas arti- ficiais formadas com lama amontoada e firmada com yelva e arbustos, entre as quais a agua circulava em ca- nais, Existem ainda em nossa época chinampas em Xo- chimilco, de onde provém a maior parte das hortaligas consumidas na capital. Os astecas conheciam o milho, diferentes espécies de feijfio, o chia, o melo, a baunilha, o pimento e os toma- tes, varias qualidades de algodao, Cultivavam o cacau fazendo uma espécie de mingau que chamavam chocolatl, 38 vocdbulo nahuat! que os espanhéis trouxeram em sua ba- gagem. O maguey fornecia-lhes a seiva com que faziam 2 pulea por fermentacio ¢ as fibras téxteis de suas folhas. Havia enfim plantacGes de tabaco, fumado nas cerimé- nias religiosas. A criacio de animais era muito reduzida, Criava-se uma espécie de edo, sem pélos, muito apreciado por sua carne. A tiniea ave conhecida era o peru. Comiam-se per- dizes, patos e gansos selvagens, Um ramo importante da economia era 0 comércio, Todas as cidades astecas e especialmente Tenochtitlin ti- nham um mereado muito movimentado onde se encontra- vam milhares de pessoas vindas de muito longe, Sendo a moeda desconhecida no seu sentido moderno, permuta- vam-se produtos, Sua maior ou menor raridade deter- minava seu valor: assim, as pedras preciosas como os jades, jadeftas, nefritas ¢ turquesas valiam mais que o ouro, Para facilitar as trocas, fazia-se o arredondamento com gros de cacau. A arte dos astecas é essencialmente religiosa. Sua arquitetura permaneceu na via indicada pelas civilizacdes médias ¢ que haviam atingido o apogeu com a construcao das grandes piramides de Teotihuacén. Infelizmonte a grande pirdmide de Tenochtitlin foi destrufda pelos ¢s- panhdis e os poucos vest{gios revelados déio apenas uma imagem muito imperfeita de seu antigo esplendor, A verdadeira forca artistiea dos astecas manifesta-se na esoultura de pedra, # geralmente uma combinacio de sinais simbélicos, com motivos mais ou menos realistas, ‘As mais célebres representam a serpente emplumada Quetzaleoatl e Coatlicue, deusa da Terra, Conhecem-se intimeros manuscritos astecas ilustra- dos com iluminuras que representam divindades e sinais referentes ao calendério, Houve varias escolas de pintu- ra das quais algumas atingiram um nfvel artistico muito elevado, O centro ficava provavelmente ao sul da zona 39 asteca, na regio chamada Mixteca. A pintura asteca sobreviveu varias dezenas de anos depois da Conquista, mas sob forte influéncia espanhola, Nas artes menores, a cerfmica produziu grande ni- mero de estatuetas representando freqtientemente deuses domésticos como Zochiquetzal, Quetzalcoatl, Xipe Totec, Chalchiuhtlicue ete, © trabalho na madeira produziu algumas obras-pri- ‘mas como os “tambores com lingiietas” (teponaztli) © os tambores verticais (huehwetl). Enfim, varios museus da Europa conservam maravilhosos espécimes da arte deco- rativa asteca: mosaicos de jade e de turquesa que reco- brem méscaras, erdnios humanos e cabos de instrumentos de madeira. A civilizagdo dos asteeas, — sua hist6ria, sua socie- dade, suas artes, — s6 pode ser explicada em correlacio dircta com sua religido, religidio tirdinica em que ndo se encontra nenhum elemento de esperanca, nem mesmo de virtude no sentido cristdo. © principio que domina o mundo espiritual dos aste- cas € 0 dualismo: luta quotidiana do dia e da noite, do Sol ¢ da Lua... Freqiientemente, ele 6 coneretizado em formas inesperadas: assim é que a dguia opde-se ao tigre, encarnando o primeiro a luz e 0 segundo, as trevas. © mesmo duslismo manifesta-se ostensivamente no pantedo asteca, Os deuses foram criados por Ometecutli Omecihuat] — nomes cuja tradueao é “dois macho” ¢ “duas fea” (Ome = dois) — que reinam no Omeyocan (“dois lugar”). A humanidade tem dois criadores: Tez- catripoca ¢ Quetzalcoatl, que lutam um contra o outro. ‘Tezeatlipoca, o “espelho que fuma”, vem da regiéio mixteca “), onde reinava sobre as quatro diregdes, tendo cada qual uma cor diferente. De seu lugar de origem seu culto expandiu-se até o vale do México, mas, ao mes- mo tempo, de certa forma se esfacelou: 0 Texcatlipoca @ Vip. 61, 5 40 vermelho do oeste tomou o nome de Xipe Totec; 0 azul do sul, Huitzilopochtli; 0 branco do leste tornou-se Quet- zalcoatl; apenas o Tezcatlipoca negro do norte conservou sua identidade. & geralmente representado com um tinico pé, sendo o outro substitufdo por uma cabeca de serpente. # talvez o deus mais poderoso, aquele que se apresenta. sob as mais diversas formas; ele é a providéncia, o in- ventor do fogo, preside as beberagens e os banquetes, liberta a deusa das flores, Xochiquetzal, mulher do vento Tlaloc, 0 deus da chuva, %, além disso, um deus estrangeiro adotado pelos as- teeas; encontramo-lo jem Teotihuacdn. Em Tenochti- tlén sua imagem encontra-se no grande templo, ao lado da de Huitzilopochtli com atributos distintos, olhos cerea- dos com deulos, grandes presas saindo da boca e orna- mento em voluta tecobrindo 0 labio superior, Quanto a Quetzalcoatl, que havia sido o deus tribal dos toltecas, os astecas, ao adoté-lo, transformaram-no no deus da vida e dos gémeos. Ele é'a estrela da manhi e também a do creptisculo, o que significa que as duas estrelas sio apenas uma, o planeta Vénus, representado de manha. por Quetzalcoatl e, & tardinha, por seu irméo gémeo Xolotl, Mas nfo é tudo: Quetzaleoat! é também @ deus do vento ¢ neste eaco postul atributos determi. los, ‘Como vemos, a mitologia asteca é de extrema com- plexidade, conseqiténcia das contribuicdes sucessivas das populacées conquistadas, cujas concepcées se amalgama- ram mais ou menos bem com as dos conquistadores. As divindades so inumerdveis; além dos criadores ¢ dos grandes deuses, existem as divindades das estrelas, da terra, da morte, da fertilidade, da chuva, da agua, do fogo, da bebida cerimonial chamada pulca, ¢' outras ainda que se contam as dezenas. © impossivel dar uma lista completa dentro dos limites deste estudo. Mencionemos apenas algumas daquelas que regem os elementos e a vegetagdo e que conseqiientemente os astecas se esfor- caram por conciliar entre si 4 Veneravam especialmente duas divindades da agua: ‘Tlaloc era a mais poderosa; mas numerosas estatuctas re- presentam também Chalchiuhtlicue, eujo nome, “aquele que usa saia de pedras preciosas”, fala elogiientemente do apreco que se tinha pela chuva nessa regiao que conhece oito meses de seca anualmente. © mitho dependia também de duas divindades, uma masculina, Cinteotl, a outra feminina, Chicomecoat! (‘‘se- te serpentes”); esta iltima traz amitide espigas na cabe- leira, Xochipilli e Xochiquetzal, divindade das flores da juventude e da beleza, sto inseparéveis; Xochiquetzal ¢ talver, a mais popular; encontrava-se em todos os lares e a maior parte dos deuses domésticos Ihe eram consa~ grados. Lembremos finalmente 0 deus jovem que personifica a primavera eterna, Xipe Totec, “Nosso Senhor esfolado”, assim chamado porque era revestido com a pele de um homem esfolado. Huitzilopochtli, o deus tribal dos Tenochcas, 6 um recém-chegado, Ele é a0 mesmo tempo o deus da guerra © uma manifestagao do Sol, senhor do mundo. Todas as manhas nasce do seio da Terra, e morre todas as noites. ‘As estrelas, seus irmaos, e a Lua, sua irmi, opdem-se a ele, O Sol tem fome e sede. S6 a carne dos inimigos o nutre, s6 0 sangue dos inimigos mitiga sua sede; para saciéi-lo é preciso oferecer-lhe regularmente vitimas sa- crificiais escolhidas dentre os prisioneiros. Assim se ex plica por que a historia dos astecas é uma longa enume- ragdo de guerras: era-lhes necessério renovar incessan- temente seu estoque de cativos. Montezuma I trouxe entretanto um abrandamento relativo 4 cruel exigéncia de Huitzilopochtli. Quando, em tempo de paz, acontecia faltarem prisioneiros para as ce- rimonias religiosas, ele organizava torneios chamados “guerras floridas” (wochiyaoyotl); os sacerdotes ficavam: de posse dos vencidos para os sacrificios, 0 deus era apa- ziguado e os gastos da guerra evitados. Os toltecas ofereciam apenas flores a suas divinda- des. Os sacrificios humanos so uma inovagdo dos aste- a cas, Sua repeticdo com intervalos fixos sublinha ainda mais a ferocidade fandtica dos Tenocheas, De inicio pouco numerosos, os sacrificios se multip! caram a partir do reino de Ahuitzolt, Na ocasiio da Con- quista, no dizer dos cronistas espanhéis, nfo se passava um dia sem que se sacrificasse pelo menos uma pessoa. O sacriffcio tradicional mais dramético dava-se uma vez por ano, no 5.° dia do més Toxeatl, em honra a Tez- catlipoca, Um ano antes os padres designavam um jovem prisioneiro para representar um deus, Durante 0 ano que precedia & ceriménia ensinavam-lhe as artes nobres, den- tre as quais a de tocar a flauta de argila, Vestido com trajes suntuosos, todos o reverenciavam como a imagem viva do deus. No comeco do més Toxeatl casavam-no com quatro virgens (que usavam o nome das deusas Xochi- quetzal, Xilonen, Atlatonan e Uixtociuat!). Quanto mais se aproximava a data fatidiea, tanto mais as festas orga- nizadas em sua honra eram faustosas. No dia aprazado, ele embarcava com suas companheiras num barco que 0 conduzia a uma pequena ilha onde ficava o templo. En- ‘Go as mulheres o abandonavam e ele se dirigia sozinho para a pirdmide. Lentamente subia a escadaria, quebran- do sucessivamente sobre os degraus todas as flautas que the haviam servido durante 0 ano em que personificara, o deus, Assim que chegava a plataforma do templo, qua- tro padres estendiam-no sobre a pedra sacrificial ‘segu- rando seus bracos e pernas; um quinto homem abria-the com presteza o peito com uma faca de silex e metendo a mao dentro do peito arrancava-he o coracdo que levan- tava para o céu em oferenda & divindade (fig. 5). A fa- mosa “pedra do sacrificio”, que data do reino de Tizoc, é "um vaso enorme onde se quelmava 0 coragdo das vi mas. Os astecas procediam ainda a uma outra forma de sacrificio humano que pode ser comparado ao suplicio dos cristiios, entregues aos gladiadores, nas arenas de Roma antiga: a vitima devia combater sucessivamente com ar- mas facticias contra vérios guerreiros bem armados; se a FIG. 5 — Vaso de pedra que servia para receber 0 sangue ‘das vitimas.sacrificadas. conseguisse defender-se contra o primeiro, cafa inevita- yelmente aos golpes dos seguintes. Todas essas ceriménias eram reguladas por um ca- lendério littirgico chamado Tonalpohualli, de par com o calenddrio solar relacionado com a vida rural. ste duplo calendirio equivale ao calendério maia de que falaremos Jongamente mais adiante (fig. 6). Cada més possufa sua divindade e suas festas deter- minadas, Hxistem varios calendarios da época pré-cor- tesiana, dentre os quais o mais famoso, 0 Codes Borbo- nious, 6 conservado na Biblioteca da Assembléia Nacional. Nao comportam texto algum, apenas imagens, sendo 0 sistema em vigor tao complicado, e os desenhos to eso- téricos, que talvez nao se tivesse conseguido 1é-los jamais, 44 OS SIMBOLOS DOS DIAS DOS ASTECAS ED Gl Ssh Fl crpactit EMEcaTL 1 CURTZPALIN COATL Crocodila "Vento ‘Casa Lagarto’ Serpente Qe ar ~ MIQUIZTLE MAZATL TOCHTLE «ATE, rTzcUNTLT Morte” Cabrito Coelho Agua ca & & 8 we x OZOMATLE MALINALLI ACATL OCELOTL QUAUHTLT ‘Macaco rea Cenigo “aguar agule ah Yee COxCAQUAUITLE OLIN -TECPATL QUIAHUITL XOcHITL ‘Condor movimento Silex Chuva Flor FIG. 6 no fossem as anotacdes que os primeiros cronistas espa- nhéis Ihes apuseram, segundo as explieacdes verbais dos proprios astecas. A grande “pedra do calendério” que foi erigida em ‘Tenochtitlan no reinado de Axayacatl nos revela em hie- réglifos esculpidos a concepeao asteca da origem do mun- do. Véem-se ai as representacdes das quatro idades que, como pensavam os astecas, haviam precedido nossa era ¢ que haviam desaparecido nos cataclismos sucessivos. O primeiro, presidido por Tezcatlipoca, chamava-se ‘4 ja- guar”; os homens e os gigantes dessa época tinham sido devorados por jaguares enquanto que Tezcatlipoca trans- formava-se em sol. O segundo, “4 vento”, chefiado por Quetzalcoatl, foi destruido por tempestades, tendo os ho- mens se transformado em macacos, Tlaloc dirigia o ter- 45 i: | ceiro, “4 chuva”, destruido pelo fogo, Chalehiuhtlicue, a deusa da dgua, presidia a quarta idade que tinha desapa- recido num diltivio transformando os homens em peixes. ‘Nosso mundo, chamado “4 movimento”, deveria, por sua vez, ser destruido por tremores de terra, e ent&o 0 sol, ‘Tonatiuh, que nos controla, desapareceria, O universo asteca era dividido, horizontal e vertical- mente, em varias zonas com significacdo religiosa. A di- vistio horizontal distinguia cineo diregdes: os quatro pontos cardeais ¢ o centro, cada qual governada por um deus. O deus do fogo, o mais antigo do pantedio mexicano, Xiuhtecuhtli (outro nome do ‘velho deus” Huehueteot! que ja encontramos entre os Teotihuacanos) presidia o centro. As outras direcdes tinham por divindades: o les- te, Tlaloe, deus da chuva e Mixcoatl, deus das nuvens; o sul, Xipe Totee, “nosso Senhor esfolado” e Macuilxochtl, “5 flor”; 0 oeste, Quetzalcoatl, “serpente ornada de plu- mas do passaro quetzal”; o norte, Mictlantecuhtli, deus da morte, A divisiio vertical distinguia treze mundos superiores nove inferiores. Os deuses viviam nos mundos superio- res, estando o criador no céu mais elevado. Os guerreiros mortos em combate ou sacrificados, e as mulheres mortas no parto (considerava-se que elas tinham-se sacrificado para trazer ao mundo futuros guerreiros) tinham accesso 20s mundos superiores. Todos 03 outros mortos iam para © Mictlin, 0 mundo inferior — que nao corresponde, de modo algum, ao inferno cristo, pois qualquer idéia sobre castigo ou recompensa na vida além-ttimulo esté ausente da religifo asteca. Antes de chegar ao Mictlin deviam os mortos sofrer uma série de provas, no decorrer de uma terrivel viagem de quatro dias: defender-se de serpentes e crocodilos, deslizar sobre montanhas oscilantes, atraves- sar desertos, suportar um vento carregado de cortantes Haminas de sflex, atravessar um rio As costas de um cao vermelho, Quando o defunto se encontrava, finalmente, na presenga do deus dos mortos, devia ainda comprar sua admissdo para uma das nove regides com os presentes que seus parentes Ihe houvessem colocado no timulo para esse fim, 46 Essa religifio exerceu dominio total sobre a tribo dos Tenocheas e absorveu a maior parte de sua energia, Os deuses reinavam tanto sobre 0 Estado como sobre o indi- viduo. Do dia do nascimento até a morte este estava im- placavelmente sujeito a disciplina decretada pelos sacer- dotes, tinieos intérpretes dos deuses. Nao havia, alids, divisdo propriamente dita entre o Estado e o clero, sendo a organizaglo politien dos astecas apenns uma teocracia militar, Isto constituiu sua forca: a tirania sanguindria de seus deuses estimulou-os de tal forma que em alguns sé- culos eles conseguiram impor seu regime de terror a todo © vale do México e bem além. Foi também sua perda: entre os mitos toltecas transmitidos aos astecas havia 0 de Quetzaleoatl que, na forma de deus civilizador bran- co com barba, tinha desaparecido no oeste, mas devia reaparecer a leste, Surgiu Cortés; era branco e usava barba; numerosos foram os que o tomaram por Quetzal- coatl que teria voltado para reinar sobre seus stiditos; seguiu-se tal confusio, que algumas centenas de espa- nh6is bastaram para liquidar com 0 povo mais belicoso da América. 2.9 — Costa do golfo do México ‘Trés grandes grupos de civilizagées desenvolveram-se na costa atlaintica. Designam-se pelos nomes de olmeca, totonaca e huaxteca. Civilizagdo olmeca, — O problema dos olmecas ainda nfio foi resolvido; parece, entretanto, que, entre as gran- des civilizagdes moxicanas, aquela que se designé pelo nome de olmeca foi a mais antiga, Durante as escava- Ses dos tltimos anos, constatou-se que a civilizacao ol- meca aparecia nas camadas mais profundas de varios contros arqueologicos, de que j4 falamos quando nos re- ferimos a Tlatileo (perto do México) e de Teotihuacdn ‘Tornaremos a menciond-la igualmente na descrig¢ao das camadas mais antigas do Monte Albin (regifio zapoteca @ V. pp. 24 € 25. a ao sul) e na do territério maia “, Seu verdadeiro centro situar-se-ia na costa atlintica, no estado de Tabasco, onde as grandes estituas monoliticas, as cabecas gigan- tescas de La Venta, que se contam entre as esoulturas mais extraordindrias dos tempos pré-colombianos, marca- riam o apogeu de sua arte, ‘Uma evolugdo da arte olmeca foi revelada em Trés Zapotes (Hstado de Veracruz) onde eseavagies metédicas demonstraram a presenca prolongada desse povo. ‘As personagens olmecas distinguem-se pelas faces di- latadas, um grande ventre e uma expressao particular dos ldbios denominada “boca desdenhosa”. O "Deus gordo” € tipico. Uma categoria é conhecida pelo nome de baby face. Fistatuetas desse tipo, em jade, sao freqtientes © particularmente apreciadas pelos amantes da arte pré- -colombiana, Uma estétua de lutador, proveniente de Uxpanapéin (Wstado de Veracruz) inclui-se entre as mais perfeitas da arte mexicana, podendo ser comparada as melhores escul- turas da arte grega. © extraordindrio desenvolvimento da arte olmeca, numa époea aparentemente bem anterior ao apogeu dos outros povos mexicanos, 6 um dos enigmas da arqueologia pré-colombiana, 6 evidente que a producdo olmeca nao representa o inicio de uma, evolueéo, apesar de sua anti- guidade, Somos pois levados a indagar se a civilizago se desenvolveu in loco ou, ao contrério, aproveitou-se de contribui¢des estrangeiras. A questiéo esté em estudos. Civilioagdo totonaca. — A civilizacéo totonaca, que se desenvolven entre os séculos V e XT, proxima a regio onde vivem os atuais indios totonacas, tinha seu centro em El Tajin, perto da Papantla (go norte do Estado de Veracruz). A piramide de El Tajin é uma das constru- bes mais caracteristicas de todo 0 México, Suas quatro (S)_Na Guatemala, na cosia do Pacifico (La Demoeracia ¢ Santa Lucia Cozumalhuapa), ‘foram encontradas esculturas de cstilos| muito pessoais © vigorosas, ‘As de La Democracia podem ser atribuidas. aos ‘olmecas, Quanto a Santa Lucia, tudo o que se sabe desta regifo € que foi habitada mais tarde pelos Pipil, de souché nahua. 48 faces so perfuradas por nichos, 365 ao todo, cada um correspondendo a um dia do ano,’ A algumas centenas de metros dessa piramide ergue-se um outro conjunto de cinco construgées, chamado o Tajin Chico, mas que per- tence a uma época posterior, Os artistas totonacas pos- sufam um sentido decorative muito desenvolvido, a jul- gar pelos painéis de motivos geométricos entrelagados. Parece que, a um dado momento, El Tajin sofreu in- fluéncia maia, mas nem por isso perdeu seu eardter pro- prio. Certos arquedlogos atribuiram aos Totonacas a construgéo dos grandes monumentos de ‘Teotihuacén, mas néo Ihes foi possivel fornecer qualquer prova comproba- t6ria de sua suposic&o, ‘Tudo leva a crer que se estabe- leceram no decorrer dos tempos relagGes entre a zona to- tonaca ¢ 0 alto plat6, mas isto s6 deve ter ocorrido em época relativamente recente: um baixo-relevo do jogo de pelota de Bl ‘Tajin representa um sacrificio humano, tal como era praticado somente em épocas tardias, no vale do México, A maior parte dos objetos totonacas conhecidos fo- ram revelados acidentalmente, de forma que temos ape- nas nogées muito imprecisas sobre essa civilizacdo. Por exemplo, nao se sabe absolutamente a. que correspondem as estranhas pecas chamadas “jugos” e “palmas” em ra- zo de sua forma, que so as mais tipicas desse povo, Mas © polimento da pedra e a perfeic&o da gravura colocam 08 Totonacas como escultores muito evoluidos. Encontraram-se igualmente vestigios dos Totonacas na ilha dos Sacrifieios, perto de Veracruz, onde uma olaria. pintada lembra, pelo adorno de motivos entrelagados, os baixo-relevos da pirdmide de Tajin. A decadéncia do Tajin corresponde o desenvolvimento de Cempoala que, por sua arquitetura, assemelha-se mais aos estilos do alto platé. Em especial, sua pirdmide cir- cular lembra muito a de Calixtlahuaca (Hstado do Me xico). A olaria apresenta semelhancas com a de Cholula, geralmente classificada na época asteca. Civilizagtio huasteca. — A civilizagio huaxteca loca- liza-se ao norte da dos Totonacas, Seu centro parece ter 49 sido 0 curso do rio Pénuco. Sendo a lingua dos huaxtecas atuais um dialeto maia, poder-se-ia aereditar que sua ci- vilizag&io antiga se aproximasse igualmente da civilizacdo maia, Isto nao é verdade e € preciso considerar que eles se separaram muito cedo de sua linhagem. Escavagées es- tratigraficas revelaram, além disso, uma ocupagéo pro- Jongada dos Huaxtecas. © apogeu de sua arte, que atingiu um grande refina- mento, é de data relativamente recente, As estdtuas de pedra sao caracteristicas pelo tratamento do detalhe; sao elas cobertas por ornamentos gravados ou modelados tan- to na face como nas costas ¢, entretanto, nfo se tem a sensacéo de estétuas em pleno relevo; sao estétuas-rele- vos, destinadas a serem vistas de frente ou de trés, mas jamais de perfil; os ombros so pronunciados e a fronte, geralmente, fugidia. ‘Na cerdmica encontram-se estranhas formas, que ja- mais se repetem. Os vasos séio freqtientemente em relevo € sempre com asas; a ornamentacao € em geral pintada a preto sobre fundo branco. Esses vasos néio se assemelham a nenhum do tipos conhecidos, Apesar de terem sido grandes escultores, os artistas huaxtecas descuidaram-se da arquitetura. 3.° — 0 mundo maia Um célebre arqueélogo afirmou que os maias foram ‘os gregos do Novo Mundo, A civilizaco maia foi, com efeito, a mais prestigiosa de todas as da América Central e teve sobre as outras, especialmente sobre o mundo aste- ca, uma influéneia muito semelhante & dos gregos sobre os romanos. ‘A zona ocupada pelos antigos maias compreendia os Estados atuais de Yucatén, Campeche, Tabasco, uma par- te de Chiapas e o territério de Quintana Roo no México; a quase totalidade da Guatemala; a sec&o ocidental de Honduras e toda a Honduras britfnica, ao todo quase 325.000 km,, A Iingua maia e seus dialetos so ainda fa- Jados em todas essas regides, assim como na orla da costa 50 atlantica do México chamada Huaxteca, de que falamos no capitulo precedente). Avaliam-se os maias atuais em 2 milhées, dos quais um milhdo e 400 mil na Guate- mala, Dentre eles mencionamos algumas centenas de in- dividuos da tribo dos Lacandones que até o momento escaparam a influéncia dos brancos. Esses territ6rios s%io povoados desde cerea de 5 mil anos, ainda que a histéria dos maias comece apenas na nossa era. Designam-se seus predecessores com 0 nome de pré-maias. No inicio nao conheciam nem ceramica, nem agricultura; comecaram a cultivar o milho somente por volta do ano 1000 antes de nossa era, sem dtivida pelo exemplo de seus vizinhos ocidentais , Foi igual- mente nessa época que apareceu a cerdmica, cujos pri- meiros exemplares (vasos, estatuetas e cabecas modela- das do tipo Mamom), encontrados em diferentes pontos da Guatemala, Honduras, Salvador, nfo deixam de apre- sentar certa analogia com as mais antigas ceramicas do alto platd mexicano e da regiio de Trés Zapotes (zona olmeca). A iltima fase dessa civilizaco aborigine teria comegado cerea de 350 antes de nossa era; viu suas pri- meiras construges em pedra, terracos e piramides em Uaxacttin e no Yucatén, # a época da ceramica Chicanel, cujas formas e decoracdo sio mais variadas que durante a €poca Mamom. Este periodo, o tiltimo possivel de ser datado, durou até o inicio do séeulo TV de nossa era Quanto & origem da civilizagio maia propriamente dita, as opinides se dividem. Alguns eruditos pensam que ela teve origem em algum local na costa de Veracruz; outros, em Hil Petén, Tikal ou Uaxacttin. Seja como for, a data conhecida mais antiga, que se encontra numa este- Ja de Tikal, corresponde ao ano 292 de nossa era. ©) CE. pp, 49-50. (1) Assinuiemos aqui que recentemente em Tehuacin (México) foi encontrado milho que a anélisc do Carbono 14 faz remontar a 4000 anos antes de nossa era (8), Antes da descoberta da estela de Tikal, fazia-se comecar a hist6ria maia no ano 320, data da placa de jade proveniente da mesma regio © conservada no Museu de Leyde. 51 52 MAPA II — Sitios arqueol6gicos das Areas mesoamericana ¢ circumearibe © territério maia compreende trés zonas: a zona sul, isto 6, a costa do Pacifico e os platés da Guatemala; a zona do centro que engloba as regides tropicais do Chia- pas e do Petén e se prolonga até o golfo de Honduras; e a zona norte que corresponde & peninsula do Yucatan. Em toda parte, o perfodo de apogeu designado sob 0 nome de ‘clissico precedido de um pré-clissico (talvez pré- -maia) que nao conhece ainda arquitetura em pedra; as estruturas so de terra argilosa; na escultura, manifes- tam-se determinados tracos olmecbides. © cldssico da zona central principia com o apareci- mento de inscrigdes hieroglificas sobre monumentos, e de uma arquitetura monumental em pedra. Os hierdglifos encerram verossimilmente numerosas informagdes sobre a historia dos maias; os que se relacionam com o calen- dario e que esto decifrados permitem datar os monu- mentos com exatidio, As cidades maias da zona central criginm uma. estela, cada vinte anos em comemoracao do perfodo de tempo escoado, Algumas delas também comemoravam os semiperiodos, ¢ mesmo os quartos, como Piedras Negras e Quirigud. A mais antiga data conhe- cida até agora é a de Tikal, j4 mencionada; a mais re- cente € a de Uaxactiin, Suas datas correspondem res- pectivamente a 292 e a 889 de nossa era. © estudo das estelas datadas permitiu distinguir duas fases: 0 cléssico antigo e 0 cléssico recente, 0 pri- meiro aproximadamente entre 300 ¢ 600, o segundo entre 600 e 900. Durante o classico antigo ja existiam impor- tantes cidades; a ceramica caracteristica desta fase 6 do tipo Tzacol, O eldssico recente se subdivide numa primei- ra parte relativamente curta no curso da qual aparece um novo tipo de ceramica dito Tepeu, seguida, a partir do século VII, de uma. segunda parte que assinala 0 ponto culminante da arte maia; é entio que a escultura atinge a sua maxima expressio nos grandes centros como Palen- que, Yazchilén, Piedras Negras. Porém o desenvolvimen- to cultural ndo se mantém por muito tempo nesse alto nivel; a decadéncia aparece desde o século IX e, num bre- vissimo lapso de tempo, todas as grandes cidades da zona central sio abandonadas. 53 Nenhum acontecimento histérico permite explicar este abandono, Emitiram-se a respeito imimeras hip6- teses: esgotamento do solo pela cultura sobre queimadas, método que pode ter criado em volta das cidades zonas estéreis cada vez mais extensas; epidemias; ou ainda re- voltas do povo agricultor contra os sacerdotes, que exi- giam sempre mais mfo-de-obra, para a construcio das pirdmides e dos templos, Este fendmeno néo se produziu de resto na zona norte, isto é, na peninsula do Yucatén, onde o periodo classico, florescente entre os séculos VIII e X, é seguido de diversas migragdes, Um novo sistema cultural e reli- gioso & estabelecido, diferente do que funcionara ante- riormente, F a época post-cldssica, Uma das migracdes mais prenhes de conseqiiéneia, foi a da tribo dos Itzis que abandonou Chacanputiin, na costa sudoeste, para instalar-se num sitio do Yucatén jd ocupado durante o Antigo Império, Chichén, onde fundou uma nova dinastia, Depois um chefe mexicano chamado Kukulkén, que é 0 mesmo Quetzalcoatl, que vimos partir de Tula & frente dos Tolteeas a caminho do Yucatén \, passou por Chichén Itz, mas afastou-se logo para fixar- se numa nova cidade, Mayapén. Na mesma época, Uxmal foi fundada por um chefe de familia Xiu, eujo nome pa- rece ser de origem mexicana. As trés cidades se confederaram na Liga de Maya- pn que governou a regido durante mais de 200 anos. Esses dois séculos testemunharam uma extraordindria expansiio de todas as artes; é possivel que esse movimento de “Renacenca”’ se tenha dado gracas 4 contribuicéo tol- teca; os monumentos de Chichén Itz4 dessa época se fi- liam nitidamente ao estilo tolteca. Ignora-se 0 que provocou a ruptura da Liga, mas era um fato consumado em 1194, quando se travou uma guerra entre Chichén Ttzé e Mayapan, que saiu vitoriosa; submeteu & escravidao a populagao de Chichén e dominou toda a regido durante mais de dois séculos. Depois, em ©) Cp at 54 1441, os maias de Chichén revoltaram-se, ocuparam por sua vez Mayapan, aprisionaram seu chefe ¢ mataram-no, assim como a seu filho, Toda autoridade desapareceu com 0 fim de Mayapén, a desorganizacdo politica foi com- pleta e quando, cingiienta anos mais tarde, os espanhdis ‘ocuparam a regidio, o esplendor da civilizagéo maia havia sido substituido por um estado caético, onde as grandes tradig6es dos séculos precedentes jé estavam esquecidas. Sem diivida, 03 manuscritos indigenas encerravam 0 se- gredo dessas tradi¢es, mas o primeiro bispo de Mérida, Diego de Landa, mandou queimé-los em 1531. Os relatérios desse mesmo bispo séo 08 tinicos do- cumentos que nos fornecem algumas nogées da organiza- go politica e social dos maias, Paralelamente ao desenvolvimento do Yucatdén na época post-cldssica tinham-se formado nos platés da Gua- temala um certo mimero de pequenos reinos de tribos rivais Guiché, Kakchiquel, Mam, Pokomam, que foram todas submetidas pelo capitéo espanhol Pedro de Alva- rado em 1524 e 1525. Politicamente, a zona maia compreendia certo mime- ro de Estados-cidades, situacdo semelhante & da antiga Grécia, na época de Atenas e de Esparta. Cada Estado era governado por um halach uinic (o verdadeiro homem). Se bem que seu cargo fosse hereditdrio, nao era um mo- narea absoluto; era secundado por um conselho de Esta- do, composto pelos principais chefes, sacerdotes e por 2 guns conselheiros especiais. O halach uinic dirigia a po- litica interna e externa de seu Estado e percebia os impostos. Uma de suas principais atribuicées era subme- ter a exames os candidatos ao posto de batab. © batub era um chefe local, encarregado de garantir o bom andamento de sua aldeia, na qual representa 0 ha- lach uinic, mas nao pereebia os impostos; era ele, todavia, alimentado por seus administrados. Nos negdcios locais era assistido por dois ou trés conselheiros que se encarre- gavam cada um de um bairro e sem 0 consentimento dos quais nada podia fazer. O batab era encarregado da juris- digo da aldeia e do comando de seus soldados, mas devia 55 = submeter-se aos planos estratégicos elaborados pelo chefe militar ou nacom. Este tiltimo era eleito por um periodo de trés anos. Geralmente muito venerado, devia seguir um regime espe- cial, ndo comer carne e abster-se de qualquer relaciio com mulheres. Os funciondirios menores eram os tupiles, espécies de policiais encarregados de fazer respeitar a lei, A sociedade maia era dividida em quatro classes: os nobres, os sacerdotes, 0 povo e os escravos, Os nobres, “aqueles que tinham pai e m&e”, forne- ciam em geral os chefes locais. Os espanhdis atribufram- Ihes 0 titulo de caciques. Davam muita importincia ao seu nascimento, como 0 provam as diferentes drvores ge- nealogicas que se conservaram, A classe dos sacerdotes tinha talvez ainda maior pres- tigio. Um. grao-sacerdote existia, ao menos no fim do Novo Império. Seu cargo era hereditario, como a maior parte dos postos administrativos, Os sacerdotes parecem ter tido as mais diversas atribuicées; uns zelavam pelo culto propriamente dito e por tudo que este comportava: sacrificios, oferendas etc.; os outros dedicavam-se as artes ¢ as ciéncias: astronomia, cronologia, escritura, adivinhacao... Os chilanes ou adivinhos eram especial- mente estimados pelo povo, Ao contrério 0 nacom ou saerifieador (no confundi-lo com o chefe militar) era muito mal visto; tinha quatro auxiliares chamados chaces, © nome genérico para sacerdote era ahkin, que se conservon até hoje, mas os maias atuais chamam ahkin ao padre catélico. O povo — a grande maioria da populacéo — fornecia a mo-de-obra para a agricultura e para a construcao, Os maias foram, certamente, um dos povos mais industriosos da América pré-colombiana, £ dificil imaginar o mtimero de horas de trabalho que representa a construgo dos miiltiplos terragos sobre os quais se erguem as constru- des de Uxmal, por exemplo, levando em conta o instru- 56 mental rudimentar dos pré-colombianos, que ignoravam © uso do ferro. A tiltima classe da sociedade era formada pelos esera- vos. Hram geralmente prisioneiros de guerra ou delin- giientes de direito comum; estes tiltimos eram privados da liberdade e condenados a trabalhar até o resgate de seu crime. Comprava-se um escravo como uma mereadoria. Malinche, a famosa amante de Cortés, que Ihe servi de intérprete junto aos chefes mexicanos facilitando sua vi- toria, era uma eserava de lingua maia. A economia maia era essencialmente baseada na agri- cultura, Fazia-se o trabalho da terra segundo métodos primitivos: desbravava-se pelo fogo a parte que se queria semear e, sem nenhum adubo, depositavam-se as sementes nos buracos cavados por meio de um pau pontudo. Culti- vava-se prineipalmente 0 milho, mas também o algodao e uma especie de agave de fibras téxteis (hennequen). O cacaueiro é originario da regiéio maia, mais especialmente de Tabasco. A agricultura em Yueatén choca-se com um problema dificil de resolver: 0 da agua. Uma estagio seca de oito meses e a auséncia de qualquer curso d’4gua obrigavam 0s maias a escolher, para instalar-se, a vizinhanca de lagos naturais ou cenotes como em Chichén Itza, Na falta dos ‘conotes, cles recolhiam a égua da chuva nas cisternas, Foi apenas na époea moderna que se cavaram povos. 2B a suas manifestacdes culturais que a civilizagao maia deve seu prestigio, Os maias elaboraram um sistema hieroglifico muito complexo. Paredes inteiras, todas as estelas, ¢ os trés manuscritos que eseaparam destrui- go, estdo reeobertos de hierdglifos que nfo lembram ne- nhum sistema de escrita conhecido, e que até hoje puseram em xXeque os mais competentes especialistas. Apenas os sinais relativos ao cOmputo do tempo puderam ser tradu- zidos, A aritmética tinha-se desenvolvido extraordinaria~ mente, permitindo edleulos astronémicos de uma exatidao admirével, Baseava-se no sistema vigesimal, isto é as unidades dos maiores graus, em lugar de serem de 10 em 57 10 vezes maiores ou menores como no nosso sistema de- cimal, eram-no de 20 em 20 vezes. Assim, a unidade do primeiro grau = 1; a do segundo grau = 20; a do 3.° grau = 400 ete. Para a numeragio eserita empregavam-se pontos (valendo 1) e tracos (valendo 5) até 19. O mimero 20, que equivale a uma unidade de segundo grau, era repre- sentado por meio de um ponto colocado acima da linha reservada as unidades do primeiro grau, Por exemplo, 24 eserevia-se: Note-se que os maias haviam inventado o zero, fa- zendo-o intervir nos seus cdlculos e representando-o por um sinal especial, © cémputo do tempo baseava-se num sistema anélo- go, com uma leve infracdo a regra para as unidades do ferceiro grat, a fim de que 0 calendario se assemelhasse ao ano solar. A unidade de tempo era o dia ou kin, A unidade do segundo grau, o winal, compunha-se de 20 dias. O tun ow ano correspondia a 18 uinad, ou seja, 360 dias, aos quais se juntava um curto winal suplementar de 5 dias. O sistema, vigesimal era retomado com o Katun ou 20 tun, depois 0 baktun ou 20 katun, Jé dissemos que os fins de katun (ou periodos de vinte anos) eram celebrados pela ere¢so de uma estela comemorativa, As datas historicas eram calculadas a partir do ini- cio da era maia, que, por razdes que ignoramos, corres ponde, ao que parece, ao ano 3113 a.C. Essas datas ex- primem o niimero de dias convertido em baklun, katun, tun, uinal e Kkin, decorridos desde 0 inicio da era. Por exemplo: 9.8.15.0.0, deve traduzir-se por 9 baktun, 8 Katun, 15 tun, 0 uinal, 0 kim, ou seja, a0 todo 1.459.600 dias. Hsta data corresponde pois povavelmente ao ano 628 de nossa era, As datas extremas, reveladas nas estelas gravadas de Uaxactun, so 8.14.10.13.15 para a mais anti- ga, ou seja, 328, e 10.3.0.0.0., ou seja, 889 para a tltima. 58 0S VINTE SIMBOLOS DOS DIAS MAIAS 6900890088 IIx AKBAL, cHICcHAN e@080ea00 ® CIM MANIK = LAMAT = MULUG OG ©0896 ®6e86 CHUEN = EB BEN MEN cus cABAN WE CAUAG © AHAU FIG. 7 Cada um dos vinte dias tinha um nome cuja lista 6 a seguinte: (fig. 5) Imix, Ik, Akbal, Kan, Chicchan, Cimi, Manik, Lamat, Mulue, Oc, Chuen Eb, Ben, Ix, Men, Cib, Caban, Bznab, Cauac, Ahau. Do mesmo modo, os 18 ‘winal eram designados pelos seguintes nomes: Pop, Uo, Zip, Zotz, Tzec, Xul, Yaxkin, Mol, Chen, Yax, Zac, Ceh, Mac, Kankin, Muan, Pax, Kayab, Cumhu. Quanto a0 winal de cineo dias complementares ‘chamava-se Uayeb. Os dias no interior de cada winal eram numerados. O primeiro levava 0 mimero 0, o tiltimo 19, Um dia deter minado era designado por set ntimero no winal e 0 nome particular desse winal. Exemplo: 13 Yax, O mesmo dia encontrava-se portanto no mesmo lugar em todos os winal de um mesmo ano, mas, no ano seguinte, em razio do 19.° winai de cinco dias, aparecia cinco ntimeros antes. No fim de cinco anos, voltava & posieio inicial, O que signi- fica que 86 quatro dias podiam ter o ntimero 0 Pop no calendério solar, data que corresponde ao primeiro dia do 59 ano maia, Hstes quatros dias, que se chamavam os por tadores do ano, sao Ik, Manik, Eb ¢ Caban. Independentemente desse calendério solar, os maias possuiam um calendario littrgico, o Tzolkin. O ano littr- gico contava apenas 200 dias, compunha-se da série dos 20 nomes de dias, repetidos 13 vezes e de uma série dos 13 primeiros ntimeros, repetidos 20 vezes, Hm outras pa~ lavras, o primeiro dia da série levava o mimero 1, 0 13.0 dia levava o mimero 13, mas 0 14° levava novamente 0 ntimero 1; o tiltimo da série dos dias, o 20. tinha o ntime- ro 7; depois recomegava-se uma nova série dos 20 dias numerando 8 primeira ete. Dessa maneira 260 dias de- corriam antes que o mesmo nome de dias se repetisse com © mesmo ntimero. © nome e o ntimero reunidos situavam, portanto, com exatidio, o dia no ano litirgico, Ex.: 2 Tk Os dois sistemas, calendario solar e Tz0kin, combina- vam-se, uma data maia era formada por quatro clemen- tos: dois para o Tkolicin (cifra de 1a 13 e nome de dia) ¢ dois para o ealendério solar (cifra de 0 a 19 e nome de uinal), Ex.: 2 Tk 0 Pop. Um determinado dia, levando uma determinada cifra e ocupando num determinado uinal uma determinada posicao, s6 podia repetirse apés 52 anos. Esse ciclo tinha um papel consideravel na vida reli- giosa dos maias. Enfim, os maias tomavam em consideragéio 0 ano ve- nusino, Para que a reunio dos signos que designa um dia se reproduzisse conjuntamente nos trés calendarios, sagrado, solar e venusino, eram precisos 104 anos, ou. seja, dois ciclos de 52 anos, acontecimento que era celebrado por uma festa de um brilho todo especial. A civilizagio maia deu origem a certas obras de arte que sao as mais notdveis de todos os tempos. A arquite- tura é antes de tudo religiosa: os ediffcios séo agrupados para formar um centro consagrado ao culto, enquanto o Povo vivia disperso nas cabanas das imediagées. Os prin- cipais centros sdo, entre outros, Copan, Quirigua, Piedras Negras, Tikal, Uaxacttin, Palenque e Yaxchilan, na zona central; Chichén-Itzi, Uxmal, Mayapén e Labné no Yuca- tan; Kaminaljuyu, Mixco Viejo, Iximché e Zaculeu nos 60 platés da Guatemala, Os edificios da zona maia estio mais bem conservados que os do centro do México gracas, aos materiais de construcao de qualidade superior ea uma melhor alvenaria, i Distinguem-se duas espécies de edificios: os templos € os paldcios. Os templos, de forma retangular, séo edit. cados no cimo de uma pirdmide truncada & qual se sobe por escadas laterais, das quais a principal é construida na fachada (fig. 8). f= Ee ci | le zzz FIG. 8 — Esquema de um templo maia, Palenque. O interior dos templos comporta uma ou varias salas, sendo a principal consagrada ao santudrio propriamente dito. & em Palenque que se encontrou pela primeira ver um téimulo sob uma pirimide, Um sareéfago fechado com uma laje suntuosamente esculpida e contendo os restos de um grande chefe paramentado de grande quantidade de jades, estava disposto numa camara funeréria com paredes cobertas de relevos. Os paldcios, provavelmente residéncia dos sacerdotes, so construidos sobre plataformas mais baixas; contém geralmente grande niimero de salas que recebem luz pela 61 porta; algumas tém, além disso, pequenas janelas triloba- das ou aberturas muito pequenas retangulares ou em for- ma de T. ‘Todas as construcées internas sfio cobertas por uma falsa abobada ou abdbada sustentada por traves, tipica dessa civilizago, Os maias jamais se arriscaram a cons- truir tetos planos e, apesar de terem se aproximado muito da concepeao da abdbada, nao chegaram a realizd-la ver- dadeiramente, Limitaram-se a construir duas paredes opostas, de espessura crescente e aproximando-se uma da outra na diregao de cima até que uma pedra bastasse para fechar a abertura, Devemos limitar-nos a uma breve vista panoramica de um dos conjuntos arquitetOnicos maias. scolhamos Uxmal, um dos mais tipicos. Uma grande pirdmide cha- mada El Adivino, com declive extremamente ingreme, sus- tenta dois templos encostados um ao outro e acessiveis por duas escadas diferentes, Bem ao lado eleva-se 0 Quadrilé- tero das Monjas, que se compde de quatro corpos de edi- ficios dispostos em volta de um patio retangular e cujas fachadas dio para o lado do patio. © acesso a esse ponto é feito por uma porta em forma de arco em falsa abobada aberta no centro do edificio meridional, A construcao setentrional defronte a porta possui uma fachada proeminente com decoracio especial- mente rica. Os outros edificios de Uxmal, cada um construido sobre um terraco, esealonam-se na direcio sul, Na parte mais baixa existia um jogo de pelota cujos vestigios ainda se véem. Uma primeira plataforma destinava-se a uma construgdo relativamente pequena; desta passava-se a uma plataforma mais elevada de grandes dimensdes sobre a qual estava construfda uma outra que servia de base a uma das mais belas construcdes de toda a arquitetura maia, 0 Palicio do Governador. Com uns cem metros de comprimento e de forma retangular, ele é de uma elegin- ‘ia rara; toda a fachada é ornada com relevos geométricos ¢ figurinhas que dao a impresso de um tapete decorativo, interrompido somente por dois grandes arcos em galeria 62 de cada lado da parte central da construgo, Diante do Paldcio encontrava-se outra plataforma, ainda mais ele- vada que as outras, destinada sem diivida a sustentar uma piramide jamais construida, Tal como se apresenta, este grandioso conjunto de terracos sucessivos forma uma perspectiva de um equilibrio tao perfeito que parece ter sido concebido de uma sé vez. As estruturas arquitetOnieas maias poderiam parecer pesadas sem os baixo-relevos modelados em estuque ou 8 blocos de pedra esculpida que as revestem. Um dos tracos mais caracteristicos da arte maia é a habilidade ‘com que os escultores e modeladores colaboraram com os arquitetos; a harmonia de seu adorno e as proporedes de suas figuras, a maneira pela qual utilizaram os jogos de sombra ¢ luz, classificam esses escultores entre 03 melho- res. O pleno relevo é relativamente raro, embora se tenha encontrado em Copan admirdveis estelas. Essencialmente ascultura maia é decorativa. Em toda parte encontram- -se decoragées esculpidas; espléndidos baixo-relevos repre- sentando divindades, sacerdotes ou chefes, decoram as grandes estelas de Copan, Em certos casos essas figuras So esculpidas tao profundamente que dao a ilusao de ple- no-relevo; em outras, elas so tao levemente incisas que evocam a gravura. A escultura do Patén ¢ do Chiaspas diferencia-se mui- to claramente da do Yucatan, A primeira é realista. Atinge uma qualidade nunca superada em parte alguma do mun- do com os relevos em estuque e pedra do Paldcio de Pa- Jenque, onde se véem varias séries de personagens repre- sentadas em atitudes diversas, e com os de Yaxchiliin, entre os quais é preciso citar 0 homem que se inflige a peniténcia ritual fazendo passar uma corda através da ingua (fig. 9). A escultura do Yucatén é, a0 contrério, simbélica ¢ abstrata, Uma simples voluta’ basta para representar o deus da chuva, Chaak, As fachadas da parte anexa do Templo das Monjas e da Igreja em Chichén Itz, por exemplo, sdio ornamentadas com motivos dos quais 0 prin- cipal é a estilizagdo desse deus repetida nas duas alas. 63 0 que representa o suplicio izagto mais, Yaxchilén, 64 © mesmo motivo é 0 assunto dominante na fachada da construgao principal de Kabah, A decoragéo invade todas as superficies com uma profuséio que esmaga um pouco a arquitetura, O estilo é anguloso; ele quebra freqtiente- mente o quadro e torna-se inorgdnico. Pouca coisa resta da pintura maia. Entretanto, os afrescos de Bonampak testemunham o alto grau de per- feicdo que havia atingido igualmente essa arte, Hsses afrescos so to belos que se comparam aos da Renas- cenca italiana, Revelam um senso da perspectiva e um senso muito vivo da composigao. A olaria maia nio é menos notivel pela sua elegan- cia ¢ variedade de ornamentacao policrémica, B necess4- rio ainda mencionar figurinhas de argila que representam talvez divindades, objetos de jadeita, e outras obras-pri- mas representativas de todas as artes menores, exceto 2 ourivesaria, quase inteiramente desconhecida nessa. civi- Tizagao; as poueas pecas de ouro dela provenientes so de data tardia e de importagdo estrangeira. A religidio dos antigos maias é-nos obscura. Por fal- ta de documentos precisos, supde-se que os pré-maias das épocas Mamom e Chicanel deificaram os fenémenos do mundo fisico, Nos mitos dos maias atuais encontram-se personagens tais como deuses da chuva, gnomos dos cam- pos de milho, sereias malignas ete., que séo talvez remi- niscéncias das primeiras religides, enquanto que a cosmo- gonia, a teogonia, o ritual das grandes épocas cujos rele vos e esculturas, assim como 0s cédices, nos fornecem ilustracées, foram totalmente abolidos pela cristianizacao. Segundo a cosmogonia maia, nossa época foi prece- dida por trés outras idades que pereceram sucessivamente por um cataclismo universal, A primeira era habitada por andes, a segunda por gente chamada dzoloob, a ter- ceira pelos maias, A quarta idade, em que coabitavam to- dos 0 povos sucessivos, via expandir-se a civilizagdo maia, mas estava ameagada por um destino andlogo ao das trés primeiras. 65 universo consistia em treze céus superpostos cha- mados Osrlakuntikw; nossa terra era o céu inferior; sob ela escalonavam-se nove mundos subterraneos chamados Bolontilu, dos quais o mais profundo pertencia ao senhor da morte, Cada um desses mundos tinha, aliés, 0 seu deus pré- prio, assim como todos os fendmenos da’ natureza e tam- bém os dias, os winal, os katwn; pois o pantefio maia era extremamente povoado. Entre os maias, assim como entre os astecas, o dua- lismo era uma das caracteristicas da religiio: divindades tais como as da chnva, do trovao, do raio tmham um ca- riiter benfazejo e se opunham a uma série de deuses mal- fazejos, os da seca, da tempestade, da guerra ete., funestos, aos homens. O eriador do mundo era Hunab; acreditava-se que seu filho, o Senhor dos céus, da noite e do dia, Itzamna, pre- senteara aos maias com a escrita, os eddices € talvez 0 calendério; invocavam-no nas ceriménias propiciatérias do Ano Novo para evitar desastres piblicos. Seu culto era freqiientemente associado ao do Kinch Ahau, deus do Sol. Chaak, deus da chuva, desempenhava um papel im- portante em razéo do clima, sobretudo no Yucatan. & ge- ralmente representado com um grande nariz, tanto nos cédices como nas esculturas. Associavam-no com Kulul- kkén, 0 deus do vento. © deus do milho ou da agricultura era representado com os tragos de um homem jovem, carregando algumas vezes uma espiga de milho, Seu nome é Yum Kax. Ah Puch era o deus da morte, Sua cabeca era um erfnio descarnado, e carregava grande quantidade de cascavéis. Divindade malfazeja, era associado ao deus da. guerra, Bk Chuah, Todos esses deuses eram objeto de um culto muito complexo de ritual estritamente observado. As cerimd- nias religiosas eram precedidas de jejuns ou de abstinén- cias severas. Os sacrificios desempenhavam um papel 66 muito importante: um deles consistia em fazer escoar seu proprio sangue perfurando o ldbulo da orelha com uma faca de silex ou com uma espinha de peixe. Os sacrifi- cios representados durante a época cldssica sao quase sempre pacificos: oferendas de alimentos, de animais, ou de objetos preciosos. Posteriormente, no Yucatan apare- cem mais amitide representagées de sacrificios humanos, Notemos, para concluir, que um dos ritos dos antigos maias subsiste ainda, entre a maior parte dos maias atuais: o que consiste em queimar copal durante as ceri- ménias, 4.9 — Zona meridional do México Civilicagdes zapoteca ¢ micteca. — A civilizacdo dos zapotecas é uma das mais bem conhecidas de todas as que se desenvolveram entre os maias e no vale do México. Seu centro era o Monte Albin, montanha de altura média que comanda o ponto de jungao dos vales de Zaachilén e de Oaxaca, onde se encontra atualmente a capital do Hsta- do de Oaxaca, Na década de 1930 foram realizadas no local escavacées metédicas, continuadas durante mais de quinze anos, Quase no inicio dos trabalhos deseobriu-se © famoso “ttimulo ntimero 7” que encerrava 0 tesouro de um chefe mixteca; 6 0 mais fabuloso conjunto de jéias de ouro encontrado no México. Exploraram-se uma a uma as pragas, as habitag6es ¢ os templos; tornou-se evidente que os vestigios datavam de épocas diferentes, Para classifi- cé-los cronologicamente, procederam-se a comparagdes de cacos de ceramica extraidos em niveis de pocos estrati- graficos. Sabemos atualmente que, antes mesmo dos zapotecas, © Monte Alban foi ocupado por uma populacdo olmecdide A qual se devem varias construgdes e os famosos relevos dos dangarinos esculpidos sobre grandes lousas de forma irregular. Esse povo atingira alto grau de perfeicdo artis- tica; preocupava-se antes de mais nada com o contorno, sem se deter no detalhe, Uma das estelas, provavelmente da mesma época, possui inscrigdes hieroglificas. Na ceré- mica, as formas simples so as mais fregtientes. 67 FIG. 10 — Mosaico de pedras do Palacio de Mitla. Atribuem-se os dois primeiros periodos de Monte Al- ban a esta civilizagao; ela teria existido durante os seus primeiros séculos de nossa era. Os zapotecas teriam che- gado ao fim do segundo periodo, Hles construfram a maior Parte dos grandes euificios em terracos que emprestam a Monte Alban seu cardter grandioso. Mas encontra-se igualmente sua marca em muitas outras partes do Estado de Oaxaca. Sao os artesdos das urnas funerdrias de cera- mica cuja ornamentacao é to rica e tao detalhada que se poderia falar de um estilo barroco da época pré-colom- biana (fig. 11). Curioso é que quase nao se conhecam esculturas de pedra da época zapoteca, Monte Alban parece ter sido ocupado pelos mixtecas no século XV. Eram eles artesfios habeis, mas nao arqui- tetos, Nenhuma das construgdes de Monte Alban revela influéneia deles, Entretanto, atribui-se-thes a construgio de ediffcios da localidade vizinha Mitla, eujas paredes so cobertas de gregas em mosaicos de pedra (fig. 10). O seu senso decorative manifestou-se igualmente nos afres- cos, infelizmente muito deteriorados, mas que tém certas relagGes com as civilizages do alto platé mexicano. Além disso, uma das principais escolas de pintura, de onde sai- ram 0s manuscritos hieroglificos, conhecidos geralmente pelo nome de eédices, situava-se na Mixteca “, Ourives refinados, os mixtecas introduziram o trabalho do ouro no México. Fabricavam jéias de todo tipo, colares, pin- gentes, brincos, diademas etc., de uma finura eneantado- ra, em metais preciosos assim como em jade e em tur- quesa, 5° — Civilizagées do Nordeste Colima Nayarit. — Estamos muito mal informados sobre as civilizagdes que existiram na parte noroeste do México na época pré-colombiana. Foram, entretanto, nu- merosas, ¢ possulam um senso art{stico muito pessoal. Durante muito tempo foram designadas em bloco pelo nome da populacio que ocupa atualmente uma grande parte desse territério, os tarascos. Mas, a0 que tudo in- dica, a civilizacdo tarasca propriamente dita localizou-se 69 em torno do lago de Patzcuaro (Michoacén) e em Chupi- cuaro (Guanajuato). As civilizagdes mais importantes do noroeste foram as de Colima ¢ de Nayarit. A ceramica é de uma técnica bastante rudimentar mas de um estilo todo especial que revela um senso de observacéo muito agudo, Ela com- preende numerosos personagens e animais representados em atitudes tao expressivas que fazem pensar em titeres assim como cenas domésticas e grupos de dangarinos. AS pecas mais notéveis so pequenas casas ou templos, con- tendo no interior intmeras figurinhas. Infelizmente, ne- nhuma escavagdo sistematica foi efetuada nessas regides, de modo que nao é possivel, por enquanto, estabelecer um quadro cronolégico das civilizagées que ai se sucederam, (10) CE p. 39. FIG. 11 — Uma zapoteca, 70 CAPITULO IL A AREA CIRCUMCARIBE 1° — América Central # particularmente dificil classi América Central, Ao norte, isto é, nas proximidades da zona maia, encontra-se grande quantidade de elementos mexicanos, de modo que se poderia ver ai um anexo da rea mesoamericana, Mais ao sul, a partir de Honduras, certos elementos fazem antes pensar na América do Sul. Sem ser totalmente satisfatorio, tem-se nos ultimos anos ineorporado todas essas civilizagdes particulares & drea cireumcaribe, Justifica-se essa reunifio pela auséncia, nesta zona, de certo ntimero de elementos culturais pre~ sentes nas outras reas, sobretudo a arquitetura em pedra e as piramides que servem de base aos templos. As esculturas sfio numerosas na América Central. As estelas localizadas na Fiérida (Honduras) e em diferentes locais de Uloa so de um estilo muito diferente. A superposicéo de determinados motives, assim como 0 tratamento de diversos detalhes, fazem pensar em paren- tesco com as civilizacées colombianas (San Agustin e Po- paydn). Os intimeros objetos revelados A margem do lago de Nicardgua (Ometepe) e ao norte de Costa Rica foram atribuidos aos Chorotegas que subsistiram até a época histérica. Hm Ometepe encontraram-se ocarinas de terra- cota de um estilo muito especial, enquanto que em Costa 7

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