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Aureliana de Cássia Miranda1


Elisa Cristina Lopes2
Universidade Federal de Viçosa

A Literatura Oral, segundo Sébillot (In: PELLEGRINI FILHO, 1986),


compreende tudo que, para o povo que não lê, substitui as produções literárias. Indo
mais adiante, acrescentamos que a literatura oral é a que se transmite de boca em boca,
de geração a geração, adquirindo caráter formador de uma cultura de um povo. Em
meados do século XVII, adquiriu novo sentido: compilada por alguns poetas e
escritores, passou a ser voltada às crianças ± formando, assim, a Literatura Infantil.
Quanto à definição de Literatura Infantil, há controvérsias, pois alguns acreditam
que ela seja pertencente à área pedagógica e outros, à arte literária. Se compararmos os
livros que são classificados como infantis, veremos que estes possuem as duas noções:
divertir e ensinar.
Para COELHO (1982), as grandes obras que atravessaram os tempos e se
destacaram como literatura infantil pertencem às duas áreas distintas: a da Arte, como
objeto que provoca emoções, dá prazer, diverte e, acima de tudo, modifica a consciência
de mundo do seu leitor; por outro lado, enquanto pedagógica, ela é um instrumento que
visa uma intenção educativa. Sabendo que a literatura para crianças é carregada de
ludismo, característico de um texto literário, e procura divertir, transformar e
emocionar, como toda criação literária, classificaremos, então, como arte literária.
As histórias que mais chamam a atenção das crianças são os contos de fadas,
onde há presença do fantástico e do maravilhoso.
Com base nos contos populares que passaram a fazer parte do universo infantil,
encontramos V  
  , uma das narrativas mais conhecidas em todo o
mundo. Neste trabalho, a proposta será estudar o desfecho de três versões:  
V   , de Charles Perrault;  , dos Irmãos Grimm e    
   , de Egbert de Liège com base nos aspectos históricos e culturais da cada
versão.

—



 





A Literatura Oral há séculos se manifesta, possuindo vertente popular, com


contos, ditos e provérbios que servem de elo entre raças e gerações. Os primitivos
compunham seus cânticos, lendas e as transmitiam de memória em memória e de boca
em boca, como forma de se manter viva a tradição de seus povos.
As manifestações orais eram passadas às pessoas através de reuniões de famílias,
festas, horas de descanso, pousos, onde as conversas enriqueciam-se e arrastavam a
experiência do mundo e a sabedoria dos povos Eram tradicionalmente repetidas e
ouvidas com encanto e convicção, principalmente pelas crianças que possuíam a seu
favor o imaginário, tornando-a um ser diferente do adulto e com mentalidade lúdica.

1
Graduanda do curso de Letras da Universidade Federal de Viçosa.
2
Professora do Colégio de Aplicação da UFV - COLUNI, Doutora em Educação pela USP.
Quem primeiro definiu as manifestações desse tipo como Literatura Oral foi
Paul Sébillot (PELLEGRINI FILHO, 1986), onde os aspectos do folclore, integrados
por diversas formas constituíam a tradição oral.
A literatura oral também se caracteriza pela oralidade e usa a palavra como um
instrumento de magia. O "Era uma vez" indica que o relato popular se coloca fora do
tempo e do espaço específicos e reais. As histórias de carochinha e os contos de fadas
são a matriz desta literatura, possuindo conteúdo de experiência humana. Os contadores
eram as figuras-chave das narrativas, desenvolvendo-as e aguçando o gosto das crianças
por histórias desse tipo. MEIRELES (1984:48) afirma o seguinte sobre a arte de contar
histórias:

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Não se sabe quando surgiu a Literatura Oral ou a arte de contar histórias, mas
desde que o homem começou a viver em comunidade e socialmente, ele teve e sentiu a
necessidade de diálogo, seja para comunicar as atividades desenvolvidas no seu
cotidiano, seja para organizar mentalmente suas idéias e imaginação através da
linguagem.
Mesmo contendo narrativas com motivos iguais ± aqui no sentido de tema ± os
contos contêm traços marcantes de cada cultura. As histórias vão mudando, recebendo
influências de cada país e de cada época, variando os bichos, os personagens, as
circunstâncias. Como diz o ditado ³quem conta um conto aumenta um ponto´, assim
aconteceu com as versões que não são iguais, mesmo contendo elementos semelhantes.
Alguns até se repetem, a idéia central varia, como no caso da comparação de
V  
   que reflete atitudes e expectativas de uma determinada
coletividade.
A literatura oral torna-se assim, a redação escrita das tradições populares. Sobre
a natureza oral da literatura infantil, ZILBERMAM e CADERMATORI (1984:16)
afirmam o seguinte:

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Para COELHO (1982:20), "a mentalidade popular e a infantil identificam-se


entre si por uma consciência primária na apreensão do eu interior ou da realidade
exterior". Assim, no povo e na criança, o processo de conhecimento da realidade não se
dá através do racional ou da inteligência, mas por meio dos sentidos, da intuição e da
emoção. Por isso, o popular e o infantil relacionam-se por se atraírem pelas mesmas
realidades.
Para entender o aparecimento da literatura infantil, vamos estabelecer uma
pequena cronologia: primeiro, existia a literatura oral propriamente dita, com seus
contos, lendas, fábulas que iam sendo transmitidos através dos tempos. No Oriente,
durante a Idade Média, surge os livros de fábulas, com narrativas tradicionais, com o
objetivo de transmitir ensinamentos morais. Em grande parte, os relatos primitivos se
encontram nos livros _ ,, V  ,  ,   ,  - e . 
/  &, os quais serviram para as versões que os procederam.
A partir daí, em outros países, principalmente europeus, desenvolveu-se o gosto
pelas publicações provenientes da tradição oral. Charles Perrault (1623-1703),
influenciado por essa difusão e pela crescente fixação da literatura infantil, publicou, em
1697, os V   .0  12-, levando a tradição à criança, pois ele esperava que
as mães passassem a seus filhos a herança do passado. (MEIRELES: 1984)
Além de Perrault, Madame D'Aulnoy (1650-1705), surge na França como
escritora de literatura infantil, introduzindo o elemento fada na literatura para crianças e,
juntos, salvam um tesouro do folclore francês.
Essa literatura, voltada à criança, visava apenas ensinar algo. Outros livros, não
escritos para crianças, acabaram tendo esse destino, por exercerem atração através das
aventuras contidas. É o caso, por exemplo, de  V 3, de Daniel Deföe e
4  , de Swift, escritos para o público adulto, mas acabou fascinando a mentalidade
infantil.
No século XIX, na Alemanha, influenciados pelo Romantismo que buscava
inspiração na literatura medieval e tentando encontrar as origens da realidade histórica,
Jakob (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859) recolhem da memória popular
narrativas, lendas e contos germânicos e de outros países, conservados pela tradição
popular. O material recolhido foi publicado no volume Contos de Fadas para Crianças e
Adultos (Kinder unde Hausmaërchen). O objetivo dos Irmãos Grimm era apenas fazer
um levantamento da literatura oral germânica, respeitando a forma como as narrativas
eram passadas a eles (SOUZA, 1996). Porém, a sua obra se tornou uma das mais lidas
pelo público infantil, encantando com a magia e a forma simples e poética das
narrativas
Além de Perrault, Grimm e Mme. D'Aulnoy, surgem na Europa autores que se
tornam clássicos da Literatura Infantil: Andersen (Dinamarca), Baba-Yága (Rússia),
Lewis Carrol (Inglaterra) e Condessa de Ségur (França). Assim, na Europa, entre os
séculos XVII e XVIII, os livros de natureza infantil foram abundantes, possuindo fins
pedagógicos, com aspectos moral, instrutivo e recreativo.
No Brasil, antes do Movimento Modernista, o que se tinha era apenas traduções
destes livros que se destinavam às crianças da Corte. Em 1921, Monteiro Lobato
escreve o livro &    , tornando-se pioneiro da literatura infantil. Suas
produções eram caracterizadas pelo sentimento nacionalista, valorizando o aspecto das
raízes humanas e as virtudes do sonho. Depois, vieram outros escritores que
catalogaram história populares e folclore: Viriato Corrêa usava o cenário rural para
desenvolver suas narrativas; José Lins do Rego, Lúcio Cardoso, Luís Jardim e
Graciliano Ramos utilizavam o folclore amazônico e nordestino, assim como Lobato,
suas histórias tinham presença marcante do narrador.


        

   

      

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O conto V  
   é, sem dúvida,um dos mais conhecidos entre as
crianças. Segundo COELHO (1982), ele é um conto maravilhoso, onde reina o elemento
mágico, sobrenatural, integrado naturalmente nas situações apresentadas.
Nesse estudo serão analisadas três versões:        , de
Egbert de Liège,   V   , de Charles Perrault e a  , dos
Irmãos Grimm. Todas contêm o ³chapeuzinho vermelho´ como simbologia. Mas,
apenas nas duas últimas, encontramos tal elemento nomeando e tipificando a história.
Maria Luiza Kopschitz Bastos, pesquisadora em literatura medieval em língua
latina, foi a pioneira nos estudos acerca do livro Fecunda Ratis, no qual se encontra a
versão mais antiga de Chapeuzinho Vermelho que se tem conhecimento: a   
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A obra Fecunda Ratis foi escrita por Liège a partir de fontes variadas: literatura
latina, Bíblia, Patrística, provérbios e tradições contemporâneas. A composição De
puella a lupellis seruata é relativa à tradição oral.
A narrativa de        começa com uma apresentação
da história, se referindo à sua provável origem popular: ³o que tenho para contar
também contam os camponeses.
Essa é uma versão em forma de poema, com 14 versos e a história se desenvolve
da seguinte maneira:

Um homem recebe uma menina como afilhada e lhe oferece um capuz vermelho.
Certo dia, a menina sai a passear, distraída pelo bosque, então, um lobo a agarra e a leva
aos filhotes para que servisse de comida. Deixando a braveza de lado, os lobinhos
passam a lamber-lhe a cabeça ao que a menina diz: ³Ratos não estraguem a capinha que
meu padrinho me deu.´

Os elementos presentes na narrativa nos levam a prováveis interpretações sobre


as características da obra: encontramos um cenário camponês, com presença de um
ambiente bucólico ± a menina vai passear no bosque onde aparece um lobo que a leva a
seus filhotes.
É uma narrativa caracterizada ainda como cristã: os elementos que se
apresentam são uma simbologia do sagrado, com valor teológico ± fonte sagrada,
batizado. Nessa história, o vermelho representa uma cor litúrgica: lembra o fogo sobre a
Virgem Maria e os Apóstolos, na passagem Bíblica do livro Atos dos Apóstolos.
(Bastos, 1996)
A menina não desobedece, nem sai do caminho e o lobo não é mau, como nas
variantes posteriores. Neste conto, não há punição, nem ao lobo, nem à menina; o conto
é privado de moralidade, mas é religioso, centrado no cristianismo, terminando com a
frase: ³ Deus, que deles é o autor abranda os espíritos ferozes.´

O conto ˜ 
      , como já foi dito, foi colhido por Perrault da
literatura oral. Porém, houve modificações nesse conto. Perrault adaptou-o ao gosto da
burguesia, acrescentando detalhes que faziam referência à vida na Corte e à moda
feminina. Sabemos que nas histórias infantis resolvem-se todos os conflitos, com um
castigo ao vilão, porém, na versão de Perrault não acontece isso. A história se inicia
com uma exaltação à menina: ³e era a coisa mais linda que se podia imaginar.´
E assim, a história vai se desenvolvendo tal qual a conhecemos: a menina
atravessa a floresta e encontra o lobo que lhe pergunta aonde ela está indo e ela
responde que vai à casa da avó. O lobo sai correndo e ela fica a colher flores, distraída.
Ao chegar à casa da avó, a menina entra e o lobo, que tinha chegado antes e engolido a
avó, pede a ela para se deitar com ele, no que ocorre o já conhecido diálogo, finalizando
da seguinte forma:
³__ Vovó, como são grandes os seus dentes!´
³__ É para te comer!´ E assim dizendo, o malvado lobo atirou-se sobre
Chapeuzinho Vermelho e a comeu.

Nesta versão, o desfecho é radical: a avó e a menina são devoradas pelo lobo.
Em Perrault, os princípios educativos são os definidos pela Contra-Reforma: a
valorização do pudor e a cristianização. Portanto, seu conto tem caráter de advertência,
fazendo com que a personagem que desobedeceu as regras estabelecidas seja punida.
Diferente de Perrault, os Irmãos Grimm, no final da história, não castigam a
Chapeuzinho Vermelho por ter violado as regras.
A narrativa se desenvolve de forma semelhante a de Perrault, diferenciando-se
apenas no conteúdo final da história. Tal modificação se deve provavelmente às
modificações entre os séculos e países.
No desfecho aparece um caçador que abre a barriga do lobo, de onde sai a
menina e a avó. Depois, eles a enchem com pedras e, assim ao acordar, ele morre. O
conto termina com uma frase da menina, dizendo que aprendeu uma lição: ³Nunca mais
vou sair do caminho e entrar no bosque quando minha mãe disser para eu não fazer
isso´
Com este desfecho, Grimm amenizou o final da história. Nesse, encontramos
uma menção ao cristianismo, com moral religiosa, uma vez que há o pecado
(desobediência), o castigo, o arrependimento e a promessa de redimir ante as tentações.

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Na obra        , o aspecto inovador e inédito do final deste


conto é que, ao contrário das outras duas versões, aqui estudadas, não há punição ou
castigo, tanto para o lobo quanto para Chapeuzinho Vermelho, pois a obra é religiosa,
contendo apenas elementos com valores cristãos.
Na de Perrault, o desfecho é trágico e violento, contendo visão bem mais
realista. Por isso, não há saída para o "erro" cometido. Sendo assim, a moral que o conto
nos passa é que a desobediência deve ser punida e considerada como uma falta grave,
sem perdão. Diferente de todas as histórias que conhecemos, há um final triste, com
Chapeuzinho devorada no final.
Reformulando o fim da história, através da ação do caçador, na versão dos
Irmãos Grimm a menina e a avó são salvas. Temos, portanto, a presença de um final
feliz.
A partir do confronto entre as diferentes variantes do conto V  

  , podemos notar que o específico de cada uma não inutiliza o conceito de


universalidade. Porém, registram os diferentes aspectos da cultura e da ideologia,
marcando na entrelinhas que na narrativa existem ideologias que subliminarmente
constituíram um povo, uma nação.
Este estudo trouxe a complexidade de uma narrativa aparentemente banal e
simples que, pela literatura oral e infantil, atravessou as gerações e continua encantando
as pessoas.
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ARROYO, Leonardo. 






. São Paulo: Melhoramentos, 1990

BASTOS, Maria Luiza Kopschitz.   


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  )$ *. In: Anais da IX Semana de Estudos Clássicos da UFJF.
Editora da UFJF: agosto de 1996

CADERMATORI, Lígia.  +  ) 



 
. 4.ed. São Paulo: Editora
Brasiliense, 1987.

COELHO, Nelly Novaes. —




. 2.ed. São Paulo: Quírin/Global, 1982

GÓES, Lúcia Pimentel.   ,% - 



 
  . . São Paulo:
Pioneira, 1984

KHÉDE, Sônia Salomão. / 


 
 

 
0. . São Paulo:
Ática, 1986

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. 



 
12 
  12 
.
2.ed. São Paulo: Ática, 1985

MEIRELES, Cecília. / 


 
 

 
. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984

MIRANDA, José Fernando. 2 


 
  

 

. Porto Alegre: Sulina,
1978

PELLEGRINI FILHO, Américo. 



$2 $
. São Paulo: Nova Stella: Editora
da Universidade de São Paulo, 1986

SOSA, Jesualdo. — 



 
. Tradução de James Amado. São Paulo: Cultri,
s.d.

SOUZA, Ângela Leite de. 



& 



ù
. Belo
Horizonte: Editora Lê, 1996

ZILBERMAN, Regina; CADERMATORI, Lígia. 





 


$
,%. 2.ed. São Paulo: Ática, 1984

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