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Graduanda do curso de Letras da Universidade Federal de Viçosa.
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Professora do Colégio de Aplicação da UFV - COLUNI, Doutora em Educação pela USP.
Quem primeiro definiu as manifestações desse tipo como Literatura Oral foi
Paul Sébillot (PELLEGRINI FILHO, 1986), onde os aspectos do folclore, integrados
por diversas formas constituíam a tradição oral.
A literatura oral também se caracteriza pela oralidade e usa a palavra como um
instrumento de magia. O "Era uma vez" indica que o relato popular se coloca fora do
tempo e do espaço específicos e reais. As histórias de carochinha e os contos de fadas
são a matriz desta literatura, possuindo conteúdo de experiência humana. Os contadores
eram as figuras-chave das narrativas, desenvolvendo-as e aguçando o gosto das crianças
por histórias desse tipo. MEIRELES (1984:48) afirma o seguinte sobre a arte de contar
histórias:
Não se sabe quando surgiu a Literatura Oral ou a arte de contar histórias, mas
desde que o homem começou a viver em comunidade e socialmente, ele teve e sentiu a
necessidade de diálogo, seja para comunicar as atividades desenvolvidas no seu
cotidiano, seja para organizar mentalmente suas idéias e imaginação através da
linguagem.
Mesmo contendo narrativas com motivos iguais ± aqui no sentido de tema ± os
contos contêm traços marcantes de cada cultura. As histórias vão mudando, recebendo
influências de cada país e de cada época, variando os bichos, os personagens, as
circunstâncias. Como diz o ditado ³quem conta um conto aumenta um ponto´, assim
aconteceu com as versões que não são iguais, mesmo contendo elementos semelhantes.
Alguns até se repetem, a idéia central varia, como no caso da comparação de
V
que reflete atitudes e expectativas de uma determinada
coletividade.
A literatura oral torna-se assim, a redação escrita das tradições populares. Sobre
a natureza oral da literatura infantil, ZILBERMAM e CADERMATORI (1984:16)
afirmam o seguinte:
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O conto V
é, sem dúvida,um dos mais conhecidos entre as
crianças. Segundo COELHO (1982), ele é um conto maravilhoso, onde reina o elemento
mágico, sobrenatural, integrado naturalmente nas situações apresentadas.
Nesse estudo serão analisadas três versões:
, de
Egbert de Liège, V , de Charles Perrault e a , dos
Irmãos Grimm. Todas contêm o ³chapeuzinho vermelho´ como simbologia. Mas,
apenas nas duas últimas, encontramos tal elemento nomeando e tipificando a história.
Maria Luiza Kopschitz Bastos, pesquisadora em literatura medieval em língua
latina, foi a pioneira nos estudos acerca do livro Fecunda Ratis, no qual se encontra a
versão mais antiga de Chapeuzinho Vermelho que se tem conhecimento: a
#
A obra Fecunda Ratis foi escrita por Liège a partir de fontes variadas: literatura
latina, Bíblia, Patrística, provérbios e tradições contemporâneas. A composição De
puella a lupellis seruata é relativa à tradição oral.
A narrativa de
começa com uma apresentação
da história, se referindo à sua provável origem popular: ³o que tenho para contar
também contam os camponeses.
Essa é uma versão em forma de poema, com 14 versos e a história se desenvolve
da seguinte maneira:
Um homem recebe uma menina como afilhada e lhe oferece um capuz vermelho.
Certo dia, a menina sai a passear, distraída pelo bosque, então, um lobo a agarra e a leva
aos filhotes para que servisse de comida. Deixando a braveza de lado, os lobinhos
passam a lamber-lhe a cabeça ao que a menina diz: ³Ratos não estraguem a capinha que
meu padrinho me deu.´
O conto
, como já foi dito, foi colhido por Perrault da
literatura oral. Porém, houve modificações nesse conto. Perrault adaptou-o ao gosto da
burguesia, acrescentando detalhes que faziam referência à vida na Corte e à moda
feminina. Sabemos que nas histórias infantis resolvem-se todos os conflitos, com um
castigo ao vilão, porém, na versão de Perrault não acontece isso. A história se inicia
com uma exaltação à menina: ³e era a coisa mais linda que se podia imaginar.´
E assim, a história vai se desenvolvendo tal qual a conhecemos: a menina
atravessa a floresta e encontra o lobo que lhe pergunta aonde ela está indo e ela
responde que vai à casa da avó. O lobo sai correndo e ela fica a colher flores, distraída.
Ao chegar à casa da avó, a menina entra e o lobo, que tinha chegado antes e engolido a
avó, pede a ela para se deitar com ele, no que ocorre o já conhecido diálogo, finalizando
da seguinte forma:
³__ Vovó, como são grandes os seus dentes!´
³__ É para te comer!´ E assim dizendo, o malvado lobo atirou-se sobre
Chapeuzinho Vermelho e a comeu.
Nesta versão, o desfecho é radical: a avó e a menina são devoradas pelo lobo.
Em Perrault, os princípios educativos são os definidos pela Contra-Reforma: a
valorização do pudor e a cristianização. Portanto, seu conto tem caráter de advertência,
fazendo com que a personagem que desobedeceu as regras estabelecidas seja punida.
Diferente de Perrault, os Irmãos Grimm, no final da história, não castigam a
Chapeuzinho Vermelho por ter violado as regras.
A narrativa se desenvolve de forma semelhante a de Perrault, diferenciando-se
apenas no conteúdo final da história. Tal modificação se deve provavelmente às
modificações entre os séculos e países.
No desfecho aparece um caçador que abre a barriga do lobo, de onde sai a
menina e a avó. Depois, eles a enchem com pedras e, assim ao acordar, ele morre. O
conto termina com uma frase da menina, dizendo que aprendeu uma lição: ³Nunca mais
vou sair do caminho e entrar no bosque quando minha mãe disser para eu não fazer
isso´
Com este desfecho, Grimm amenizou o final da história. Nesse, encontramos
uma menção ao cristianismo, com moral religiosa, uma vez que há o pecado
(desobediência), o castigo, o arrependimento e a promessa de redimir ante as tentações.
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