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Nas eleições de 1989, Collor se apresentava como o candidato dos “descamisados” e Lula
e o PT tinham um discurso mais à esquerda, ideologizado, e que agradava a classe média
e os setores mais intelectualizados do país. Collor ganhou as eleições conquistando o voto
das camadas pobres e o voto dos “rincões” do país. Nas eleições de 1994 e 1998,
Fernando Henrique Cardoso (FHC) conquistou o voto da maioria da população com a
defesa da estabilidade econômica e o respeito às regras democráticas.
Nas eleições de 2002, Lula, além de escolher um empresário para o cargo de vice-
presidente, colocou em prática o processo de desideologização quando assinou a “Carta
aos Brasileiros” se comprometendo com o tripé da política macroeconômica de FHC:
metas de inflação (com autonomia operacional do Banco Central, câmbio fluante e
superávit primário nas contas públicas. Depois colocou um ex-banqueiro no Banco
Central e tomou uma série de medidas no sentido de conciliação de classes e acomodação
política para garantir a governabilidade do país. Ao mesmo tempo o governo Lula tomou
uma série de medidas para o combate à pobreza e à fome. Implementou medidas para a
redução da desigualdade pessoal da renda, sem afetar a distribuição funcional. Ou seja,
manteve uma política de conciliação de classes, sem provocar rupturas sociais. Segundo
Singer, estas políticas são diferentes daquelas defendidas originalmente pelo PT e
impulsionou o fenômeno do lulismo:
1
Professor titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE. Tel: (21) 2142 4696 ou 2142
4689 E-mail: jed_alves@yahoo.com.br. Artigo publicado em 08 de agosto de 2010.
outra orientação ideológica, que antes não estava posta no tabuleiro. Parece-nos
que o lulismo, ao executar o programa de combate à desigualdade dentro da
ordem, confeccionou nova via ideológica, com a união de bandeiras que não
pareciam combinar” (p. 96).
De fato, nas eleições de 2010 a candidata de Lula, Dilma Rousseff, tem apresentado
maiores percentuais de apoio na camadas mais pobres da população. A perspectiva é que
os índices de apoio de Dilma cresçam ainda mais na medida em que esta massa
populacional deixe o grupo dos indefinidos e passem a seguir as orientações eleitorais do
presidente Lula:
Foi esta situação peculiar que possibilitou que o presidente Lula construisse uma
coligação partidária entre o PT e o PMDB (mais 8 partidos de vários expectros
ideológicos) e lançasse uma candidata que não fez parte do PT histórico. Porém, o
discurso central da candidatura Dilma é o fortalecimento do estado e das políticas
públicas voltadas para a erradicação da miséria e redução das desigualdades. Resta saber
se esta engenharia partidária vai se sustentar e se o ritmo de crescimento vai ser mantido
ou o Estado vai entrar numa crise fiscal que impossibilite manter este novo “pacto
social”. O fato é que o novo governo vai contar com as condições estruturais mais
propícias dos últimos 30 anos, mas será preciso definir com clareza quais são os objetivos
a serem atingidos.
Referências:
SINGER, André, “Raízes sociais e ideológicas do Lulismo”, Revista Novos Estudos
Cebrap, Edição 85,Dezembro de 2009, Disponível em:
http://novosestudos.uol.com.br/acervo/acervo_artigo.asp?idMateria=1356