Vous êtes sur la page 1sur 3

As bases sociais do lulismo, a desideologização e as eleições 2010

José Eustáquio Diniz Alves1

O artigo “Raízes sociais e ideológicas do Lulismo” de André Singer, publicado na


Revista Novos Estudos Cebrap, edição 85 - dezembro de 2009, trás uma importante
contribuição para se entender a dinâmica social e política do país e a compreenção do
processo eleitoral de 2010, conforme explicitado no próprio resumo do texto:

“O artigo sugere hipóteses para compreender o realinhamento eleitoral


que teria ocorrido em 2006. O subproletariado, que sempre se manteve distante
de Lula, aderiu em bloco à sua candidatura depois do primeiro mandato, ao
mesmo tempo em que a classe média se afastou dela. A explicação estaria em
uma nova configuração ideológica, que mistura elementos de esquerda e de
direita. O discurso e a prática, que unem manutenção da estabilidade e ação
distributiva do Estado, encontram-se na raiz da formação do lulismo” (p. 84)

Nas eleições de 1989, Collor se apresentava como o candidato dos “descamisados” e Lula
e o PT tinham um discurso mais à esquerda, ideologizado, e que agradava a classe média
e os setores mais intelectualizados do país. Collor ganhou as eleições conquistando o voto
das camadas pobres e o voto dos “rincões” do país. Nas eleições de 1994 e 1998,
Fernando Henrique Cardoso (FHC) conquistou o voto da maioria da população com a
defesa da estabilidade econômica e o respeito às regras democráticas.

Nas eleições de 2002, Lula, além de escolher um empresário para o cargo de vice-
presidente, colocou em prática o processo de desideologização quando assinou a “Carta
aos Brasileiros” se comprometendo com o tripé da política macroeconômica de FHC:
metas de inflação (com autonomia operacional do Banco Central, câmbio fluante e
superávit primário nas contas públicas. Depois colocou um ex-banqueiro no Banco
Central e tomou uma série de medidas no sentido de conciliação de classes e acomodação
política para garantir a governabilidade do país. Ao mesmo tempo o governo Lula tomou
uma série de medidas para o combate à pobreza e à fome. Implementou medidas para a
redução da desigualdade pessoal da renda, sem afetar a distribuição funcional. Ou seja,
manteve uma política de conciliação de classes, sem provocar rupturas sociais. Segundo
Singer, estas políticas são diferentes daquelas defendidas originalmente pelo PT e
impulsionou o fenômeno do lulismo:

“A desconexão entre as bases do lulismo e as do petismo em 2006 pode


significar que entrou em cena uma força nova, constituída por Lula à frente de
uma fração de classe antes caudatária dos partidos da ordem e que, mais do que
um efeito geral de desideologização e despolitização, indicava a emergência de

1
Professor titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE. Tel: (21) 2142 4696 ou 2142
4689 E-mail: jed_alves@yahoo.com.br. Artigo publicado em 08 de agosto de 2010.
outra orientação ideológica, que antes não estava posta no tabuleiro. Parece-nos
que o lulismo, ao executar o programa de combate à desigualdade dentro da
ordem, confeccionou nova via ideológica, com a união de bandeiras que não
pareciam combinar” (p. 96).

As políticas de valorização do salário mínimo, de expansão da cobertura do BPC/LOAS e


a ampla capilaridade do Programa Bolsa Família (PBF) tornou o governo Lula
extremamente forte nas camadas não organizadas da sociedade e entre os aposentados e
beneficiários dos programas sociais do governo. O próprio Frei Beto, que foi importante
na implementação do programa Fome Zero, criticou o fato do PBF ter abandonado a
proposta inicial de organização autônoma dos trabalhadores e passar a ser tutelado pelo
Estado. Os setores mais vulneráveis da população, especialmente expressivos nas regiões
Norte e Nordeste, são uma base eleitora forte que pode ser caracterizada com a massa
eleitoral do lulismo:

“Em virtude de seu tamanho, o subproletariado encontra-se no centro da


equação eleitoral brasileira, e seu coração está no Nordeste. Não somente porque
nessa região empobrecida, que é a segunda mais populosa do país, habitam boa
parte dos subproletários, mas também porque dela irradiam aqueles que buscam
oportunidade no centro capitalista, o Sudeste. Nucleado no Nordeste, onde conta
com elementos biográficos, mas estendendo-se para o conjunto do país, o lulismo,
segundo indicam os dados eleitorais de 2006, pode ter fincado raízes duradouras
no subproletariado brasileiro” (p. 99).

De fato, nas eleições de 2010 a candidata de Lula, Dilma Rousseff, tem apresentado
maiores percentuais de apoio na camadas mais pobres da população. A perspectiva é que
os índices de apoio de Dilma cresçam ainda mais na medida em que esta massa
populacional deixe o grupo dos indefinidos e passem a seguir as orientações eleitorais do
presidente Lula:

“O subproletariado (...) tende a ser politicamente constituído desde cima,


como descobriu Marx a respeito dos camponeses da França em 1848. Atomizados
pela sua inserção no sistema produtivo, necessitam de alguém que possa, desde o
alto, receber a projeção de suas aspirações” (p.99).

Mas o apoio de Lula não se restringe às camadas menos privilegiadas da população. O


sucesso relativo do segundo mandato se fundamenta nas políticas que aceleraram os
índices de crescimento econômico (sem atingir as médias históricas do país), com
redução do desemprego, da pobreza e das desigualdades. Isto fez de lula uma liderança
bonapartista, isto é, acima das disputas de classes:

“À medida que passou a ser sustentado pela base subproletária, Lula


obteve uma autonomia bonapartista (sem qualquer conotação militar). Com ela,
criou um ponto de fuga para a luta de classes, que começou a ser arbitrada desde
cima ao sabor da correlação de forças” (p. 101).
A pesquisa Ibope, divulgada em 06 de agosto, mostra que o grau de satisfação com a vida
que as diversas parcelas da população vem levando é maior conforme a renda. Para as
pessoas com renda domiciliar acima de 5 salários mínimos, 91% estão muito satisfeitos
ou satisfeitos, contra “apenas” 78% para as parcelas da população com renda domiciliar
até 1 salário mínimo. Contudo, o grau de apoio ao governo é maior entre estes últimos. O
fato é que, com estes altos graus de satisfação, o apoio ao governo Lula é muito alto, o
que favorece o desempenho bonapartista do presidente.

Tabela 1: Qual o nível de satisfação com a vida que vem levando?


Renda domiciliar (em Salários Mínimos)
Respostas TOTAL mais de 5 mais de 2 a mais de 1 a
até 1 SM
SM 5 SM 2 SM
Muito satisfeito 10 15 11 8 8
Satisfeito 76 76 78 78 70
Insatisfeito 12 9 9 13 21
Muito insatisfeito 1 0 2 1 1
Não sabe/ Não respondeu 0 0 0 0 0
Fonte: Ibope realizada de 2 a 5 de agosto de 2010, divulgada no dia 06/08/2010

Foi esta situação peculiar que possibilitou que o presidente Lula construisse uma
coligação partidária entre o PT e o PMDB (mais 8 partidos de vários expectros
ideológicos) e lançasse uma candidata que não fez parte do PT histórico. Porém, o
discurso central da candidatura Dilma é o fortalecimento do estado e das políticas
públicas voltadas para a erradicação da miséria e redução das desigualdades. Resta saber
se esta engenharia partidária vai se sustentar e se o ritmo de crescimento vai ser mantido
ou o Estado vai entrar numa crise fiscal que impossibilite manter este novo “pacto
social”. O fato é que o novo governo vai contar com as condições estruturais mais
propícias dos últimos 30 anos, mas será preciso definir com clareza quais são os objetivos
a serem atingidos.

Referências:
SINGER, André, “Raízes sociais e ideológicas do Lulismo”, Revista Novos Estudos
Cebrap, Edição 85,Dezembro de 2009, Disponível em:
http://novosestudos.uol.com.br/acervo/acervo_artigo.asp?idMateria=1356

Vous aimerez peut-être aussi