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muitas outras possibilidades, mas porque esse modo de ser acoberta em si uma derrocada, um fracasso, uma insuficiéncia, uma covardia, talvez até um querer ser pouco e baixo. Com isso fica claro: a luta se pie a ser no ser, se poe se mantém; ela constitui a esséncia ¢ vigéncia do ser de tal modo que atravessa todo sendo com um cardter de decisdo, a agudeza sempre cortante do ou-ou; ot ela ot eu; out ficar em pé ou cair. ___ Este cardter de luta na decisio de tudo traz para 0 sendo uma disposicao fundamental, que ¢, a0 mesmo tempo, jtibilo e vontade de ia, receio de uma avalanche incontrolada (resistencia) elevacdo ¢ fiiria, numa unidade - 0 que nio podemos dizer com uma palavra, para 0 que os gregos tém uma palavra, a palavra que retorna na grande poesia das tragédias: 10 dervév". Tomada em seu todo, a sentenga de Heréclito é pois, uma sentenca ¢ no uma mera declaragio que constata alguma coisa; no € uma afirmacio cientifica, mas uma palavra filoséfica, que fala da mais elevada plenitude com a maior simplicidade e numa derradeira configuracdo. Tratase de escuti-la em sintonia correspondente, de submeterse a ela e alimentarse da gravidade contida desta palavra origindria, 68. A decisio na luta o debate € o essencial no ser, e este cardferfundamer transforma e, com el, as éreas do set. Mas eno, assim 0 semelhante a0 homem!? Sim e nio! A questéo & ‘modos de poder, somente a remissio deta, sem exposta neles do modo mais prdximo e 69. Angisti, andes e os herdisconhecem. E quem diz que nao conhece, propriamente, medo, om isto ainda nfo prova ter coragem, mas apenas ser embotado e estipido, (flosofia da angistia - racionalisma) “Em nossos dias, a angiistia goza, com razao, dena acsagto em pequna" = que € po a abertira de uma resclugio do que condigdo da grande angsta essencial; caso contévo, seria apenas um jogo inti evario e nada teria de grandezae forea. se em geral se torna 108 § 4, Da verdade da sentenca de Herdclito is de verdade. Verdade como e como corregio a) Dois significados tradi desencobrimento (G-ArjOet Na interpretagdo da sentenca de Herdclito, se disse 0 modo como e o contetido em que a esséncia se essencializa: a saber, a luta. E caso agora alguém queira logo perguntar: em que se funda a verdade desta sentenga ~ como ela se prova e comprova? Em iltima justamente a “verdade” de uma tal sentenca é do tipo especi €, por isso, s de saida, uma pretenséo esptiria exigir aqui uma prove, no sentido corrente, Com outras palavras: nao nos é possi compreender esta sentenca, sem saber da espécie de verdade que Ihe é, precisamente, propria; e como haveriamos de saber, se n&o soubermos da esséncia da verdade e suas possiveis configuragdes. De outro lado, & precisamente esta sentenca que nos ha de dar a indicagao, em que ste a esséncia da esséncia (do ser), a fim de sabermos 0 suficiente sobre o que questionamos, quando pomos a questao da esséncia da verdade. I claro que aqui nds nos movemos em circulo: procuramos primeiro a verdade da esséncia para, entdo, apreender a esséncia da verdade. Aquela nao se da sem esta, nem esta sem aquela. Todavia, este abismo curioso do questionamento, que agora se torna visivel, € sempre um sinal inconfundivel de que estamos investigando algo primeiro e ultimo, isto é, que estamos no seio de uma questao filoséfica. Como, porém, sair deste circulo?” - De forma alguma! Pois, neste caso, abandonarfamos a posico propria. Portanto, andemos sempre em circulo - mas como? No que ha de mais préximo, a saber, como acima, a verdade da esséncia, assim também, agora, tratase de buscar apreender em tal sentenca a esséncia da verdade e, para tanto, 70. Temos de conseguir, do contrério cometeremos o mais elementar erro I6gico, Geduzit b dea e, no mesmo alento, a de b. Um contrasenso e absurde = para 0 pensamento comum, Nao agui, no questionamento do que é primeiroe ditimo, 109 remontar ao principio da filosofia, a fim de sondar a palavra correspondente sobre a esséncia da verdade. Tudo isto, porém, € um esforgo supérfluo, pois justamente esta mesma sentenca, que fala da esséncia da esséncia, informa também sobre a esséncia da verdade. De fato, parece nio falar de forma alguma expressamente da verdade. Todavia, 6 somente uma aparéncia. Para se ver que, de fato, na mesma sentenca também se fala da verdade, basta apenas recordar, antes, a palavra grega para 0 que nds chamamos de verdade: é-ArfQeta, a se traduzir adequadamente por descobrimento, Com isso, porém, nao se ganha muito enquanto néo nos transferirmos para toda a forca significativa, e se nos tornar claro, entdo, que nao se trata de esclarecer um significado qualquer de uma palavra qualquer. ‘Sem diivida, nds compreendemos provisoriamente o significado da palavra greda para verdade: desencoberto, nao velado, nao encoberlo, E como fica, entao, a palavra de nossa lingua: “verdade"? Que € que, propriamente, entendemos com ela, quando constantemente a pronun- ciamos? Caso no nos iludamos, temos, sem divida, de admitir que, primeiro, nés nos movemos ai, numa significagio, p altamente indeterminada da palavra. Em todo caso, o significado no é logo tio preciso e simples como 0 do greso; pois ele nao é nem imaginativo nem sensivel e por isso nao se pode, sem mais, documenté- Jo vivamente, Por outro lado, porém, a palavra, “verdade” nao é um mero som semsentido; com ela nés “pensamos” em alguma coisa e a utilizamos, em decorréncia, para determinadas coisas e, para outras, nao. Por exemplo, diante de fatos que chamamos de “doenga”, dizemos doenga e ndo verdade, diante do fato “valentia", dizemos valentia € nao verdade, porque, com esta palavra, entendemos dizer ‘uma outra coisa, Muito bem! Mas que é que temos em mente, quando utilizamos a palavra tao seguramente? Que € que, entao, entendemos por verdade em geral? Em perguntas desse tipo costumamos, na maioria das vezes, proceder com toda a certeza. Propomos exemplos. Para esclarecer 0 110 ‘que significa a verdade em geral, indicamos alguma verdade qualquer. E como 6 que tal acontece? Dizemos, por exemplo, “2+1 sao 3”, “a terra gira em torno do sol”, “ao outono seguese o inverno”, “a 12 de novembro € eleigao”, “o povo alemdo vai escolher seu futuro”, “Kant 0 maior filésofo alemio", “hd barulho na rua”, “este auditério é aquecido”. - Tais sio verdades particulares. De que modo sido verdades? Sio frases, afirmagées, penso eu. Certamente - mas contém, cada uma, “algo verdadeiro”, uma verdade. “Onde”, porém, esté contido este algo verdadeiro? Onde ele se meteu? E sobretudo - em que consiste o “verdadeiro” que estas frases contém? Em que medida, por exemplo, a “frase”: “este auditério esta aquecido”, é verdadeira? E para que discutir tais arbitrariedades? A frase é justamente verdadeita, porque diz 0 que é. A coisa mai simples e banal do mundo, A frase da de volta o que encontram¢ aquecimento, 0 estar aquecide do auditério, com outras palavrs ., com 0 conjunto das relagdes io, com a sua conjuntura. E justamente esta coincidéncia é o ser verdadeiro, a verdade da frase, A declaracdo coincide com o real ida que rege 0 seu dizer por ele. O ser verdadeiro, a verdade, portanto, das frases esté em sua correcdo. Com isso, apreendemos 0 que pensamos indeterminadamente com a palavra verdade, E “correcao” contém alguma coisa que se pode perceber intuitivamente. Verdade significa, pois, corregao. Nosso conceito de verdade e 0 conceito grego da verdade tiram sua respectiva inteligibilidade intuitiva de dreas e conjunturas de relacoes intuitivamente diferentes, d-AjOe10, descobrimento, provém do feito e do fato de encobrir, velar, respectivamente, desvelar, descobrir. “Correcdo” provém do feito e do fato de reger uma coisa por outta, de medida e medir, “Desvelar” e *medir” sio feitos ¢ fatos inteiramente diferentes. Deixemos isto descansar por enquanto. Ainda nao estamos questionando se talvez e como, por fim, estes dois conceitos de verdade totalmente diversos dependem um do outro, se e como até devem andar em conjunto, Para nds, agora, uma outra coisa é mais importante. ul b) O saber prévio indeterminado da verdade ea superioridade do ser Acabamos de nos esclarecer, seguindo um caminho totalmente natural, o que propriamente temos em mente quando utilizamos tio comumente as palavras “verdade” e “verdadeiro’, a saber: correto correcio. Com isso, porém, percebemos também um outro fato, a saber, que nds jd sempre compreendemos de anteméo o que verdade € verdadeiro significa. Nao foi agora, porém, que pela primeira vez aptendemos e tomamos conhecimento que verdade significa correcao, no maximo notamos € nos demos conta agora que, no fundo, sempre Jd sabiamos antecipadamente, embora de maneira indeterminada, que constantemente e como por nés mesmos nos atemos a este saber. E fato curioso, este! Pois ele nao diz respeito apenas a esta palavra, verdade e verdadeiro, em sua significacdo, mas a muitas outras: casa, rio, animal, espaco, monte, povo, tempo etc., toda linguagem! Sempre pensamos alguma coisa com elas. Compreen- demos, de antemao, a animalidade - somente por isso é que podemos chamar de animal algo que nos vem ao encontro, compreendemos 0 “ser-péssaro” € somente por isso podemos chamar alguma coisa de passaro; nds compreendemos 0 espacial - e somente por isso podemos dizer de algo que se mostra “no” espago; nés compreen- demos o ser-monte... Compreendendo tais coisas, estamos, por assim dizer, além do “real” ~ 0 que assim chamamos: 05 diversos animais dados, passaros, depois espagos, montes - e somente 4 medida que e porque compreendemos 0 ser-animal, ser-péssaro, ser-espago, sermonte & que o real particular e singular, este e aquele, nos pode vir a0 encontro como aquilo que 6. 5 um fato curioso? Nao! Um fato excitante; suposto nao sermos embotados nem demasiado escravos da tirania do que é evidente por si mesmo. Como se este fato fosse evidente por si mesmo. Tentemos existir seriamente, mesmo por um s6 instante, sem a compreensio do ser animal, do ser espacial, do ser coisa etc. Seré que ainda haveria para nés animais, espagos, coisas, em geral, qualquer sendo? Nao! 12 Talvez sobraria apenas algum fluxo, surto de uma confusio insuportavel - 0 que s6 seria suportével na loucura. Mas ha a loucura; portanto, ha também o “normal”, o que nés, como bons burgueses e pretensamente superiores, chamamos assim nao seria, de maneira alguma, 0 “normal”, mas uma singularidade extraordinaria, que 6 seria suportvel se fosse continuamente esquecida e transformada falsamente em algo de todo dia. Diante de qual, ou melhor, em qual fato fundamental nés estamos, pois? Ns nos comportamos € mantemos nossa presenca no ; €, no entanto, nao estamos, de inicio, propriamente abandonados ao sendo, mas, antes, entregues ¢ ligados ao que, cada vez, 0 sendo é, na singularidade de sua vatiedade; dependemos do que e de como ele é, de seu ser, portanto. Caso este ser nio tivesse poder sobre nds, nem estivesse, pois, em nosso saber, todo sendo seria e permaneceria importante. Somente porque 0 homem est pasto e colocado no dominio superior do ser é- Ihe dado, de uma maneira ou de outra, 0 senhorio, é que ele pode manterse no meio do sendo como tal. Esta ligagéo com 0 dominio superior do ser é para nds a esséncia mais profunda do home. $5. Sobre verdade ¢ linguagem a) A ligagao do homem com a soberania do ser ea necessidade da linguagem Porque o homem - e somente porque o homem pertence a esta esséncia, por isso é que ele existe na linguagem, por isso deve até haver algo assim como linguagem do homem. O animal nao fala, por no poder falar. E no o pode, por ndo necessitar falar. Nao necessita falar porque néo deve, E nio o faz porque nao esté na correspondente necessidade. E nao esti numa tal necessidade, por nao Ihe ser forcado. E nao the é forcado porque se acha trancado aos 113, poderes de pressdo. Que poderes sio esses? Sio os poderes da soberania do ser!” Que, portanto, o homem esteja exposto e aberto para a soberania do ser, que ele fale, isso tudo indica um e 0 mesmo fato fundamental na esséncia do homem. Ao contrério, o que si e ficar excluido da possibilidade de falar, pode-se ver, diretamente, uma vaca ou galinha, ou mesmo em qualquer animal e, por outro lado, é igualmente impossivel que um Deus “fale” (“palavra” de Deus). De inicio, resultou do esclarecimento da palavra é-Arf@cto, “verdade”, apenas uma coisa: que as palavras da linguagem, j4 de antemio, guardam em si certa compreensao potencial das coisas. A seguir, também a linguagem entrou para o acervo da esséncia do homem, a saber, 4 medida que 0 homem, somente por acharse dependente do superpoder do ser, pode existir. Existir € ser em si mesmo, sendo, de maneira que este sendo “é” e esté como tal, no meio do sendo em sua totalidade. Nés poderfamos dar-nos por satisfeitos com a indicacéo de que, tal como a linguagem, também outras “manifestagdes” caracterizam, evidentemente, 0 que hé de préprio na esséncia do homem, mas aqui € agora, temos de tratar ndo da esséncia do homem, mas da esséncia da verdade. Decerto, todavia, ainda nao ficou acertado nem bem descontado que a questo da esséncia da verdade nao seja a questio da esséncia do homem e, além disso, se justamente em todo este complexo de questdes néo deve desempenhar um papel preponderante a questao sobre a esséncia da linguagem. Assim de fora, ndo se pode realmente percebé-lo, e sobretudo enquanto ficarmos presos as idéias e opinides correntes sobre a linguagem. Para isso, no entanto, aqui e agora s6 se vai dizer o 71. Nota do editor: talvez acréscimo posterior de Heidegger: ao contrério (umgekehro: 14 b) A concepcao légico-gramatical da linguagem B o que se chama de gramdtica e 0 que nos dé a representagio dominante das diversas linguas e da linguagem. Por grami entendemos a doutrina dos elementos e estruturas ¢ as regras de estruturagdo de uma lingua; grupos de frases isolados, diversas frases € lipos de frases separados; palavras isoladas distribuidas em grupo; palavras divididas em silabas ¢ letras, yocuua, dai o nome de gramatica. A concep¢ao gramatical da linguagem na representagio usual, e sobretudo ni \wilistica e na chamada filosofia da linguagem, é algo evidente por si mesmo, principalmente porque esta concepeio se 1u, numa tradicao secular, e pode reivindicar para si uma ia de naturalidade. Pois que é€ mais palpdvel e do que esta divisio ¢ ordenamento da estrutura de uma lingua viva em fonemas, grafemas, silabas, vocébulos, frases e sentencas. Fora disso a estrutura é inapreensivel. Contudo, € importante saber da origem desta representacéo corrente da lingua, elaborada pela gramdtica, Ela provém dos gregos e se formou na época da sofistica ¢ da retérica, atingindo sua feicio ato e Aristételes. Na sta base, encontrase a é falar e discursar uns com os outros, tribunal; o falar deste tipo ¢ a opinigo e deliberagdo publica, é refletir © pensar. E, no contexto da questio, 0 que € pensar e opinar, compreender e conhecer, a consideracio se depara com a fala, 0 discurso como o que se capta primeiro e se percebe com os sentidos. FE, também, 0 que acontece com muitas outras coi saregos compreenderam 0 ser do sendo, € a vigencia. dispontvel, marcada, constante de alguma coisa. A linguagem € algo dado, ¢ assim dividese e se dispée segundo unidades e formas definidas; e, nisso, 0 que novamente importa é expor o que é mais constante e a configuragao mais bésiea, elementar e permanente, no sentido da concepcao grega do ser. Como esta configuragdo bésica da fala, Aristételes extrai fim, apés longas e dificeis reflexdes, a sentenca simples com o carter 45 de declaragdo e discurso: a pedra é dura ete. O discurso, pois, é a fala, em que, de algo dado, se diz e declara uma outra coisa como estando nela contida. Declaragio: Svoyc, pfia: KaThyopety, assim a sentenca simples, categorica vale como a configuracao fundamental da fala ~ discurso; Aéyetv ~ Adyoc (cf. abaixo). & a Emoryun Aoytxr, a “Igica”, que trata e quer saber (éniotaaBat) do Adyos oO que ele & Nés ja escutamos acima: a oportunidade propriamente dita para se refletir sobre a fala foi a experiéncia do poder determinante, educativo e sedutor do discurso, na medida em que nele age em pensamento e opera uma reflexdo sobre o sentido, De ver que a fala é apenas 0 pensamento vocalizado, comunicado primeiro e, na maioria das vezes, capaz de ser captado, a reflextio sobre a fala (Adyoc) se torna a “légica”, a forma da doutrina do pensamento. Em outras palavras: nao é, de maneira alguma, evidente por si mesmo que a “légica” seja a doutrina do pensamento, mas a tinica razio disso esté no cardter e no curso da filosofia gresa. Entretanto, no fato de a doutrina do pensamento e do saber se ter formado na e como “légica”, incluise também um outro fato essencial, Perfazendo a area de questionamento da I6gica, a reflexao sobre Adyos € dominada como gramatica ou doutrina da finguagem, pela l6gica ou doutrina do pensamento. Com outras palavras: todos os conceitos fundamentais da estrutura da lingua e das formas das palavras nascem da l6gica, isto 6 da doutrina do pensamento entendido como apreensio do sendo, do que é e esta sendo (dado). Substantivum, verbum, adjetivum ~ todos esses termos das formas das palavras remontam as formas de apreensio do sendo em seu ser, realizada, pelo pensamento. Breve: a gramdtica cai sob o dominio da légica e de uma légica grega bem determinada, que tem por fundo e fundamento uma concepcio do sendo inteiramente determinada. Esta gramética domina, por sua vez, os modos e as maneiras de representar da linguagem. & por isso que cresceu a idéia mais ou menos explicita de que linguagem é, em primeiro lugar ¢ em sentido proprio, verbalizacéo do pensamento, na acepcio de uma consideragio ¢ discussio teérica das coisas. Podese ver facilmente que se trata de uma monstruosa violencia contra o desempenho da linguagem. Basta comparar uma 116 poesia ou uma conversa animada de uma pessoa com outra; o timbre, © tom da voz, a melodia e o ritmo das frases etc. Posteriormente e, sobretudo, hoje em dia, tentouse complementar e diminuir o primado da concepeao Iégico-gramatical da linguagem - e nao obstante continuou reinante a antiga representacao Iégico-gramatical, e vai continuar enguanto 1. permanecer em vigor 0 modo de pensar e representar que a Idgica dos gregos introduziu no pensamento ocidental; 2. nao se desenvolver pela base a questo da esséncia da Jinguagem, Esta tarefa, porém, s6 se poderd cumprir descontruindo-se, ao mesmo tempo, 0 modo légico-gramatical de representagio, isto é, reconduzindoo a seu principio limitado e preciso, 0 que abalando-se e@ derrubando-se a representagéo gramatical da linguagem. Aqui ha de servir de guia e orientacdo delimitar, positiva ¢ fundamentalmente, a esséncia da linguagem. ©) A caracterizagio da linguagem como sinal e expressio A primeira coisa que deve ser decidida nesta tarefa € 0 seguinte conjunto de questdes: a que “categoria” pertence a linguagem? Pode- se estabelecer uma determinagao superior acima da linguagem ou serd que esta é algo tiltimo e derradeiro que nao se pode reconduzir a uma outra coisa? Neste ‘iltimo caso, como é que se podera compreendéla por si mesma a partir de si mesma? Dito mais claramente: jé desde os primérdios da concepgio Iégico-gramatical da linguagem aparece uma caracterizagio que se vai manter futuramente até o presente: falar é externar o pensamento, por isso toda fala é expresso e sinal do pensamento. Com os fendmenos da expressio e do sinal acreditouse ter encontrado, finalmente, os caracteres em que a linguagem se enquadra e subordina; a linguagem € - junto com o gesto - um modo de expresso, de externalizacao. Com isso, ent3o, o termo linguagem recebe sua significacio: falamos de “linguagem do gesto”, “linguagem das flores”, “linguagem da natureza” e sempre entendemos, cada vez, lizagdo, expressdo; a linguagem 6 uma espécie de dar sinal e, com isso, enquadrase num fendmeno geral. Ao mesmo tempo, isso diz € 7 nifica: também os outros fendmenos, conectados diretamente com a \gvagem como sinal, so assim entendidos. Isso quer dizer: primeiro, que o som e a letra, respectivamente, grupos de sons letras, s40 como sinais daquilo que as palavras significam. A significagao das palavras, 0 que entendemos em seu uso (ao ouvir ler} 6 expressio e sinal da coisa a que remete a significagao. Temos, pois, trés niveis: a formulacio, a significacio e a coisa significada. ‘Todas as tr@s estdo em conexao entre si, designadas pela assinalacio do sinal, Esta determinacdo da maneira de apreender a estrutura da lingua jé se tinha formado entre os gregos, sobretudo por Aristételes (Gov, vonna, mp&yyo). Depois, vénpiae mpéyyer foram reivindica- dos pela e para a légica, enquanto se deixou govrj para a fisiologia e psicologia (fonétical), ) Para uma determinacio positiva da esséncia da linguagem © que, portanto, se configura com linguiéstica (ciencia da lingua) resulta de uma mescla dessas questdes e perspectiva de investigagdo totalmente diferentes. Sem divida, revelamse sempre novos fatos, mas sobre uma base e numa pista ja irrevogavelmente desgastada; pois ja ndo é possivel que da lingiifstica, como ciéncia da lingua, surja uma concepgdo origindria e essencial da e para a esséncia da linguagem, visto que a propria lingitéstica, por sua vez, ja a pressupée, Devese, primeiro, dispor de uma percepgio real da esséncia da linguagem, proveniente de experiéncias mais origindrias, para se poder, ento, construir, em seu solo, a respectiva ciéncia, Tal percepcdo de esséncia deve atravessar a decisio da seguinte questo: estard a linguagem sob a égide superior e mais ampla do gesto, da expresso e do sinal, ou, a0 contrério, s6 se dé gesto, expressio e sinal entre os homens, porque 0 homem ja existe na linguagem? Mas entao, que é a linguagem, se nio for expressio ¢ sinal? Seré algo tltimo? Todavia nao, decerto, em si e por si mesma, mas numa correlagdo de esséncia com a presenca do homem? Ser que o homem sé fala porque quer anunciar e dizer algo, coisas, seres, de tal modo que a linguagem se reduziria a um instrumento de expressio € comunicagdo, que designa e expde 118 alguma coisa? Ou sera que 0 homem s6 tem algo a dizer e anunciar, porque e enquanto fala, isto é, enquanto pode falar, por estar jé na linguagem? Seré a linguagem um decalque do sendo, em sua totalidade, embora rica de dimensées e niveis? Ou sera que, como sendo em sua totalidade, 0 que é e esté sendo so tem poder e desenvolvimento na e pela linguagem? O homem fala por pretender indicar e comunicar alguma coisa ou o homem fala por ser aquele sendo que pode calar-se e ficar em silencio, no siléncio? O que isso significa? Sera, entao, que, em titima andlise, a origem da esséncia da linguagem esta em poder calarse guardar silencio? 0 silencio sera apenas algo negativo, nao falar, e meramente um dado externo, a auséncia de som, a calada? Ou seré que 0 siléncio ¢ algo positivo e mais profundo, e toda fala nao € senio 0 naosiléncio, o ja nao e ainda nao calarse? Quem nao tiver feito, em sua profundeza, a experiéncia ¢ nao tiver investigado estas questoes, faltalhe toda pressuposicdo para empenharse e dedicarse & esséncia da linguagem; logo, cairé vitima de opinides herdadas e muito corretas. Sem o desenvolvimento e elaboragao das questées menciondas, nao ha nem se dé um saber suficiente, em que poderia nascer e crescer uma ciéncia. A possibilidade do silencio é, pois, a origem e 0 solo da linguagem™. Toda fala é mera interrupeao do siléncio, mas que nao precisa ser entendida apenas negativamente. ¢) A possibilidade do siléncio como origem e solo di inguagem Nossa maneira de aprender a esséncia da linguagem exige, primeiro, para um maior esclarecimento, caracterizarse a possibilidade do silencio. Voltamos, entao, para a situacio prépria da filosofia, que j4 encontramos: o moverse em circulo, Ela se mostra agora na necessidade de se falar sobre o silencio. B alguma coisa altamente capeiosa; pois quem fala sobre o silencio, expbe-se a0 72, Cl. Martin Heidegger, Ser ¢ fempo, Braganga Paulista, Edusf; Petrépolis, Vozes, 2008, § 34, p. 223s, 119 perigo de provar, da maneira mais direta, que nem conhece nem compreende o silencio, Por outro lado, com a observacao de que sobre o se deve falar, poderseia retirarse da abandonar 0 siléncio, como coisa “mistica” e obscura, ao chamado pressentimento emocional e a cisma de uma esséncia. B 0 que nao pode acontecer enquanto estivermos na filosofia, Entretanto, nao poderemos também acreditar ter compreendido 0 siléncio com a ajuda de alguma “definicdo”. Para nés, aqui e agora, trata-se apenas daquela medida e daquele grau de esclarecimento mais necessirio, que permita desenvolver adiante a questdo sobre a esséncia da verdade. A tentativa de reconduzir a origem da esséncia da linguagem & possibilidade do siléncio parece contraporse a tudo que, de inicio, dissemos sobre 0 homem e a linguagem, distinguindo 0 homem do animal. Este nao pode falar, porque nao deve falar. Assim, 0 animal estaria na feliz situacdo de poder calar-se e guardar E os fatos comprovam, palpavelmente: os animais no falam, portanto, se calam e guardam siléncio continuamente. Assim como 0 homem, se nao nasceu mudo, nao pode calar, do mesmo modo, com base em nossa concepcao sobre a origem da esséncia da linguagem na possibilidade do silencio, temos de dizer o seguinte: o animal, em gratt muito superior, se acha preparado e € capaz de falar, porque pode calar mais, pode mesmo calar sempre. Em conseqiiéncia de nossa concepgéo, o animal deveria ter ‘uma capacidade de linguagem superior ao homem. Mas este nao € 0 caso. Logo, resulta um estado ansioso e contraditério: os seres com capacidade superior de linguagem nao sabem falar e os que tem uma capacidade inferior, os homens, de vez que nao se podem calar como 05 animais, sabem falar, podem até mesmo construir as linguas mais rieas, A Iinguagem do homem nasce, entio, de no poder nem saber calar e, com isso, de uma incontinéncia, Assim, o fundamento do ‘milagre da fala seria, pois, um fracasso. Aqui algo no esté em ordem. Examinemos 0 que é! Chegamos a estas curiosas conclusdes com base nas seguintes afirmagées: 1, saber e poder calar € a origem e o fundamento da linguagem; 2. os animais sabem calar, ou melhor: porque sempre 120 estao calados ~ em distingdo com os homens. Todavia, seré que os animais sabem mesmo calar? Pergunta va e iniitil ~ pois eles né-lo provam a todo instante. Eles nunca falam. Mas, ser mesmo que néo falar jé 6 sem mais nada, calar? A janela, sera que ela se cala? Claro que nio! No entanto, ela também nao fala! Decerto! Mas, entio, também nao pode calar. Logo, somente os seres, que podem e sabem falar, € que podem calar, O calar-se ¢ um modo de poder e saber falar. E por isso que também 0 mudo nao pode calar, apesar de nao dizer nada. Ele até nao pode nem mesmo provar que pode calar, de vez que, para isso, devia poder falar. Calar, portanto, nao € simplesmente nao falar; pois nao falar € proprio também das janelas e coisas assim. Calar, porém, também nao € apenas ser mudo, A janela também ndo é muda para tanto Ihe falta algo: a capacidade de voz, a vocalizacdo. Os préprios animais no podem ser mudos, embora tenham capacidade de vor e vocalizacio: mugir, berrar, latir, chilrear. Em sentido mais amplo, calar e emudecer é, para nés, deixar de articular sons; em sentido proprio, mais estrito; esta articulagao é da fala. O mudo de nascenca pode ser 0 que € por ter e A medida que tem gana de falar e, de certo modo, pode falar infernamente, cle “fala”. Todavia, mesmo ser mudo ainda no é calar- se, pois calar-se é nao falar no sentido de nao querer falar, enquanto 0 mudo queria justamente falar. Isso mostra: a simples auséncia de articulagio verbal, seja no sentido de impossibilidade (Ganela) seja no sentido da naoocorréncia, ser mudo e calado, nao caracteriza ainda 0 calar do siléncio. E 0 que confirma a sentenga anterior, que néo se pode compreender o calarse do silencio como algo meramente negativo. Calarse é, sem divida, um naofalar, mas nem todo nao-falar id € calarse, Do contrario, o calarse é, a0 menos, um niofalar de quem pode falar; como se é , € um modo determinado, uma maneira distinta e especial de poder falar. & 0 que se mostra jé no fato de, muitas vezes, 0 siléncio poder dizer as muito mais determinadas e precisas do que a fala mais prolixa. Isso basta, de inicio, para esclarecer o silencio. Todavia, com este ganho de clareza na delimitagao diante de uma caracterizacao como nao-‘fala, nés nos enleamos numa dificuldade de esclarecimento. que nossa sentenca-guia foi: poder calar-se no siléncio é a origem € 0 fundamento da linguagem. Agora, porém, dizemos exatamente 0 121 contrério: o siléncio € uma determinada possibilidade de poder falar € do poder da linguagem. Quem pode e sabe falar ~ e somente este ~ 6 que pode essencialmente calar. Quem se cala, pode falar ¢ deve poder falar, assim, 0 poder falar é a suposigao, o fundamento da e para a possibilidade de poder calar, nao ao contrério, como dissemos inicialmente. No entanto, no somente diziamos, de inicio como também agora: poder calar é a origem da linguagem, Note bem: com esta sentenca vou essencialmente muito além do que disse em Ser e tempo, § 34, p. 2238. Aqui se pds, sem duivida, a linguagem numa relacdo essencial com 0 calarse do silencio e se estabeleceu ainda o ponto de partida para uma apreensio ficientemente originéria da esséncia da linguagem, em oposigao & losofia da linguagem” até entdo vigente; apesar disso, ainda nio via propriamente 0 que se deve dar na seqiiéncia necessdria deste ponto de partida: calarse, em altima instancia, como possibilidade de falar; ndo, porém, a fala e a linguagem como oriundas e provindo do siléncio. Nos tiltimos anos, segui estas conexdes e as elaborei. Aqui, porém, n&o é 0 lugar para apresenticlas. Nem mesmo os diferentes modos de silencio, 2 diversidade da ocasiio e motivos, nem, sobretudo, 0s muitos graus e profundezas da calada, do silencio. Agora, sé isto é necessdrio transmitir, para continuar nosso questionamento, Quem tem e quer calarse, deve - como dizemos - “ter algo a dizer". Contudo, que significa isso? Nao que tenha de falar realmente, no sentido de verbalizar. O que femos a dizer, nés 0 femos ¢ guardamos justamente num sentido privilegiado. Temos e 0 conservamos conosco. Todavia, nio simplesmente no sentido de termos conhecimento de algo que os outros ndo tém, Sem duvide, este fer e refer consigo & um modo de ser em que nos fechamos para © ptiblico e nao deixamos sair nada. Isso, porém, nao é decisivo pertence também & desconfianga, ao matreiro e ao “maluco”. Esta iiltima espécie de reter para si remete para uma inibigao, e estreitamento, Ora, 0 reter consigo é algo positivo: aquele tipo de presenca em que o homem nio esta “fechado”, mas justamente aberfo para o sendo e a soberania do ser. Aberto, sem duivida, ndo no sentido de o homem correr atrés de qualquer estimulo e circunstancia € se 122 dissipar em sua variedade, mas, pelo contrério, no sentido da abertura para o sendo, que esta recolhido e concentrado em si. A concentracdo e o recolhimento, por sua vez, nao como uma referéncia obcecada com o prdprio eu nem como mera fascinacdo consigo mesmo, pois algo assim, considerado em sua esséncia [2], nao menos dissipado e menos perdido, é apenas uma dissipacio ainda maior, pois da a impressao de estar preocupado consigo prépr Silencio € concentragio e recolhimento de todo o comportamento, de maneira que este se atenha a si mesmo e, com isso, fique ligado em si e, sobretudo, exposto ao sendo, com que se relaciona e comporta. Siléncio ¢ a abertura concentrada para a pressao e afluencia soberana do sendo em sua totalidade. Tudo que é grande essencial tem sempre - é uma exigéncia de sua esséncia - a seu lado e em sua frente, como aparéncia, a sua contra-esséncia, Assim, o siléncio parece com fechamento e, no fundo, € justo o contrario, 4 medida que e enquanto for de sua prépria esséncia. Nestes termos, o silencio se torna 0 acontecimento daquele calarse origindrio da presenca humana, a partir do qual o silencio, {sto , a totalidade do sendo, em cujo seio est a presenca humana, vem a linguagem. B, assim, a palavra nao é uma c6pia ou decalque das coisas, mas justamente a elaboragdo que contém e retém em si a abertura recolhida e tudo que nela se oferece e patenteia. 0 préximo passo ser mostrar como esta disposicdo fundamental de calar do siléncio entoa, isto é, dd 0 tom fundamental para os sons da voz e a vocalizacao. A palavra quebra o siléncio, mas somente de maneira a tornar- se € manterse testemunha do siléncio, enquanto for verdadeira palavra, A palavra pode virar mero vocabulo, e a fala, mero falatério; @ antiesséncia da linguagem, cuja tentagao é tao grande quanto o milagre da linguagem. Vemos, entio, agora o seguinte: 1. 0 silencio nao é negativo; 123 2. 0 siléncio ndo se pode tomar meramente por fora, pela vocalizagio como interrupgio ou falta da vocalizacio (simples quietude, “o siléncio da floresta”); 3. Ele também nao diz respeito & chamada singularidade prépria de cada eu, recolhimento como encapsular-se; 4, 0 silencio é, antes, 0 cardter distintivo do ser humano, por cujo ser 0 homem esté exposto & totalidade do sendo. 0 calarse do silencio se recolhe concentragio tensa desta exposigéio; 5. 0 silencio também nao € um nAo-dizer como concessdo, 6, com a presenca da esséncia) do siléncio, enquanto concentracio tensa da exposicao, enquanto superioridade, e isto significa poder. O poder, que pos também a articulacio em palavras, € a linguagem, que nos dé a possibilidade de nos oferecer & soberania do ser e de nos instalar nela ~ é isso que significa falar e morar na linguagem. 0 poder calar como siléncio, é a origem e fundamento da linguagem. Devese observar que 0 que se disse s6 pode propiciar um aceno tosco a caracteristica essencial da linguagem. Entretanto, deve bastar para evidenciar que a representagdo gramatical da linguagem, embora nao seja um acaso, continua externa e insuficiente; que, sobretudo, a linguagem e a questdo de sua esséncia se articulam, de modo mais intimo possivel, com a questdo sobre a esséncia do homem. A maneira de se conceber a linguagem é uma sonda para a originariedade e envergadura da questio sobre a esséncia do homem. Todavia, ambas as questdes da esséncia nos movem agora exclusivamente porque se acham ~ segundo afirmago ~ correlacionadas & questo sobre a esséncia da verdade, f) A linguagem como abertura concentrada para a afluencia soberana do sendo Como & que a questo da esséncia da linguagem se articula com a questo da esséncia da verdade? Sobre esta articulacao, 124 sabemos até agora duas coisas: dAr@etc ~ desencobrimento; verdade = correcdo, Nunca afirmamos que, com o esclarecimento do significado da palavra, haviamos alcancado definitivamente a esséncia da verdade e a tinhamos circunscrito completamente, mas somente que, do significado da palavra, tiramos um aceno para a esséncia. Do esclarecimento da linguagem e da palavra dado até aqui, nao sabemos nada ainda, se o significado de uma palavra j4 dé como tal e sem mais nada informagio sobre a esséncia de uma coisa; poderia ser muito bem que 0 significado da palavra desse apenas uma indicacao para uma certa visdo sobre a esséncia da coisa e acobertasse com isso 0 perigo de apreender também a ndo-esséncia da prépria coisa. Como quer que possa ser, esclarecimento de palavra nao é apreensao da esséncia; por outro lado, porém, nao € coisa de somenos nem indiferente, pois mesmo que a ndo-esséncia estivesse af inclutda, aconteceria um aceno . De fato, porém, hi aqui a necessidade de uma . Por razdes bem a filosofia no efetivou até hoje uma critica a seu fento da esséncia. Os significados retirados de darOcia & verdade sio apenas indicios aos dados fundamentais de encobrir e de medir. Se, porém, neles e com eles se esgota a esséncia da verdade ou ‘mesmo seja apenas tocada, fica e permanece em aberto. Para nds levanta'se a questio: seré que, com isso, a esséncia da linguagem se acha em correlagdo e com qué? A uagem quebra o siléncio, isto é, da silencio & palavra. léncio se nos apresentou como a abertura concentrada para a lade. A palavra nao afasta Ora, 0 afluéncia soberana do sendo em sua tot simplesmente o silencio, mas 0 traz em si e consigo, isto é, se torna, por sua vez, a abertura que se transmite e comunica, quer haja ou avra fala @ partir da abertura do sendo em sua totalidade, por mais estreito e indeterminado que apareca 0 seu circuito e ambito, ‘Nao € a palavra mesma que se cunha assim mesmo, como som verbal, mas a sua cunhagem nasce do cunho de abertura do sendo. Devemos precavernos de remeter para a linguagem origindria e criadora a distingao posteri significado e coisa de uma palavra e de compreendéla no sentido da designagao, isto ¢, 125 assimilagio. Ademais, criagio e tradigdo de linguagem nio sio a mesma coisa e condicionam e determinam falas e linguas muito diferentes, Nas linguas hist6ricas se encontra uma interpenetragao de ambas. Na palavra, na fala, 0 sendo mesmo se apresenta em sua abertura, Nem somente o sendo, e junto com ele a palavra, nem a palavra como um sinal sem ele. Nenhum dos dois est4 separado, nem ‘a nenhum dos dois o outro € dado isoladamente, mas sendo na palavra. Com a multiplicidade das palavras e sua conjuncdo, o recolhimento originario do silencio, sobretudo, se perde, dissipase € se desloca. Entretanto, nio de modo que tudo se dissolva em coisas isoladas, mas a palavra e a fala permanecem, porque nascidas do silencio, presas a0 siléncio, e agem como conjuntura pregnante, colegio em sentido derivado. E é este cardter da linguagem que os gregos logo experimentaram e a que deram o nome de Adyos, A€yety, reunir, colher. Nele se expressa que, na fala e como falante, 0 homem jé esti na lida com o sendo, jé quer controlar a variedade, a obscuridade e 0 ilimitado através da simplicidade, clareza e forca de expressio do dizer, Esta reunido no Adyos ajunta e recolhe aquilo de que e sobre que se fala em uma unidade, e assim expde e apresenta. Nesta apresentacdo se recolhe, ¢ assim se abre e aparece, Snhobv, 0 sendo como ele mesmo é. g) A linguagem como reuniao normativa. ¢ abertura da conjungao do sendo Ja escutamos antes: para os gregos, ser ¢ odota, a vigencia cunhada e consiante de alguma coisa; 0 nao-ser simplesmente é sua nao-vigencia, No sentido de vigéncia, ha ainda outra determinagao de que, se o sendo é uma multiplicidade, entdo se di sempre sendo, & sendo por ter co-vigéncia. E é por isso que jé cedo nos deparamos com este cardter do ser - com a cowigéncia de um com o outro. Em sentido rigoroso, 0 sendo nao pode “ser” como sendo, algo nico, uma singularidade por si, pois j4 como = por si ~ ele vive, por assim dizer, numa exclusio diante de todo nao-vigente e, por isso, 126 numa correlagio com ele: Sv € sempre Evvdv, odofa & sempre nropovata. Encontramos em Heréclito uma sentenga que nos ensina a este respeito: 51d Sei EneoOau 7G EVVG [..] TOO Adyou 6” zdvToG Euvod Covey ot ToAAOl tc Llav Exovtes gpdvnawv®. “Por isso tratase de ir atrés do que & covigente [..] embora a fala [recolhendo] va para a co-vigencia (de um com o outro}, @ massa dos homens se comporta como se cada um tivesse seu p16 entendimento”. Nessa sentenga se contrapoe a massa € OS outros? Nao muitos € poucos numericamente tomados, mas tomados em seu modo de ser e falar. A massa € sem freio; cada coisa qualquer coisa a prende e dissipa no fortuito e se dispersa na conversa sobre todo 0 possivel e o impossivel, embora fala e linguagem se encaminhem, jé em si mesmas, para 0 que esté recolhido ¢ articulado, para 0 que é pertinente, constante e delimitado. Quem quiser sair da banalidade e do descompromisso das opinides ha de buscar a conexio do sendo, isto é, deve enquadrar-se € submeterse & estruturacdo e a lei das coisas e, em conseatiéncia, estar na disciplina da linguagem, Nao poder banalizar a fala e gastéla em conversa fiada. Retiramos da sentenga trés coisas: 1. Sobre a esséncia do Adyoc: ele € recolhimento € concentracao, vai para 0 ser-com e 0 serjunto do sendo; 2, Sobre a esséneia do ser: € Evvovata, co-vigencia de um com, outro, estruturacio e remissio; 3. © Adyog como recolhedor ndo remete para outra coisa do que para o sendo e, por recolher em si a estruturagio do sendo, dispde sobre ela, contém em si a regra e, assim, tornase ele mesmo medida ¢ lei". A linguagem 6 @ concentracdo normativa e, com isso, a abertura e manifestagao da estrutura do sendo. Vemos, agora sem 773, Herdcit, frag. 2 (92); ibidem (Dies, 4. cdg), p. 77 A, Note bem: A5yos, “rauaio" ~ perceptibilidade da esséncia, vo; Parménides. 127 dificuldade, a ligacdo entre Adyos € verdade, GAfOeta. A exposicao € constatagdo recolhedora é um por para fora e, com isso, um abrirse € patentear-se das coisas, assim, um acontecimento em que algo antes inacessivel, encoberto se pde, desprovido do encobrimento, no des- encobrimento, darjGeta, isto é, na verdade. h) A linguagem como Adyog € como pOB0g Devese levar em conta aqui que, como tal, Adyos significa apenas uma experiencia e compreensdo hem-determinada da esséncia da linguagem, Os gregos conheciam ainda uma outra mais antiga: a linguagem e a palavra como W500. Todavia, como HO80s, a palavra no tem forga de recolhimento para, por assim dizer, contraporse 20 sendo e resistir-l -omo G00, a palavra, que vem sobre o homem, 6 aquilo em que se indicam e se interpretam dados e fatos de toda sua presenca; ndo é a palavra em que o homem fala de si mesmo, mas a palavra que Ihe anuncia 0 destino. Como 10805, a palavra dé indicagao e interpreta; como Adyos, a palavra intervém, esclarece a si mesma e 20 homem. Aéyoc, a linguagem, sé se faz através e com a filosofia, isto é, no momento em que, ligado e pendente do sendo, o homem se levanta contra o sendo como tal, ¢ de si o interpela, a saber, sobre o que ele, sendo, é Entretanto, 0 Adyos originario da filosofia fica sempre ligado e articulado com 0 wO0og; a separagao de ambos s6 se dé e se cumpre na lingua das ciéncias. Vimos: a linguagem como quebra do siléncio ou a linguagem como ASyog mostra sempre uma referéncia interna e essencial com a verdade, no sentido de Garcia (desencobrimento). Com isso demonstra-se que existe uma conexao, entre o encobrimento (0 dar-se da verdade) e a linguagem”. 75. Cortegio ~ medi? Cf. abaixo, p. 132. 128 §6. A dupla regéncia da tuta (etge~ énoines) como remissdo ao nexo entre ser e verdade ‘Tudo isso, porém, nos ha de servir apenas como preparacio para nossa tarefaguia do inicio. Tal tarefa se indica na afirmacao do fragmento 53 de Heréclito. Ble nos dé abertura para a esséncia do ser e nos abre, ao mesmo tempo, para a esséncia da verdade, embora, na aparéncia, nao fale, nem prépria nem literalmente, de dArf@eva. Agora estamos em condigdes de provar esta afirmacéo. Segundo a sentenca, @ lufa é esséncia da esséncia (do ser) - € no duplo sentido de geragio e dominio. A segunda parte da sentenca cesclareceu 0 modo em que a luta rege e reina: &Seize - Enoine. Foi de propésito que, jé na interpretacio introdutéria, acentuouse que a tradugo, chamada literal e usual, néo atinge o mais importante e decisivo; em seu lugar, ESeike - poe para fora, no{nos, faz surgir. Com isso se hé de esclarecer que o chegaraser de um sendo na pela luta € um processo de par para fora. Para onde - de onde e para onde? Para a visibilidade e perceptibilidade das coisas em geral, isto 6, para a abertura, o desencobrimento e a verdade. Assim, 0 TOLEV jé nao diz apenas um fazer, e sim deixar surgir, no sentido de pro-cessar, em que “pro” indica sair da esséncia e do encobrimento para pro-por- ‘se na apresentagao, de maneira que o sendo esteja na abertura, isto é, “seja”, pois estar na abertura do aparecimento significa “ser”. A luta leva 0 sendo para 0 ser, ¢ isso significa, ao mesmo tempo, também: a luta 0 pée para fora no desencobrimento, na verdade. Por isso, ao traduzir e para traduzir propriamente, devemos completar sempre pelo sentido: a luta expde e deixa aparecer - a saber, na abertura (verdade).. Se, porém, se compreender verdade no sentido de correcao ou segundo uma outra caracteristica, ¢ em vao, sem duivida, que se procurard na sentenca alguma coisa sobre a verdade. Todavia, se se coompreender no sentido grego, isto é, tal como somente se deve compreender uma sentenca originéria dos gregos, entao tornase claro, sem mais, que aqui se fala “também” da verdade. E temos, entio, de perguntar, é um mero acaso ou uma necessidade intrinseca? - Pode-se presumir que seja uma necessidade interna, 129 pois a sentenga nao fala de méAcuos como su lado, da abertura, mas a caracterizacio da rege si mesma, do ex:por-se para e na abertura, O que isso A essencia do ser (da essencia) jd se acha em si mesma numa conexio intrinseca com a esséncia da verdade e vice-versa. Entio, esse caso, a questio sobre a esséncia da verdade, a questo que nos Sula ja é, em si e necessariamente, a questio sobre a esséncia do ser. Mais ainda. Agora no inicio de nosso trabalho, quando apenas reparamos a questio, jd temos uma resposta a questo-uia e - como se vai mostrar - a resposta decisiva, a saber, que a esséncia da verdade pertence, numa unidade, @ esséncia do ser em geral". §7. A transformacao historica da essencia de verdade ¢ presenga Ainda estamos bem distantes de medi toda envergadura e aleance desta percepcao. Trata-se, porém, de um conhecimento a partir do qual poderemos, entao, compreender 0 que hoje acontece conosco, com 0 hosso povo - e com a humanidade em geral, com os homens desta terra. Esta compreensdo da histéria a que nos dirigimos no tem nada a ver com uma filosofia da histéria capenga que, depois a desmembra, mas esta apreensio do ser nos forga 4 luta e nos leva a decisdes que abarcam 0 futuro e jé o determinam, Entretanto, tal conhecimento sobre a correlagdo essencial entre ser e verdade ainda temos de conquistar e prepararthe a conquista por ‘um questionamento correspondente. Nessa perspectiva, a interpretacio da sentenca de Heréclito foi apenas um primeiro encontro com a verdad, que, s6 aparentemente, se afundou e desapareceu no nada do pasado. Sobretudo, porém, para participar realmente do saber sobre a conexdo essencial entre verdade e ser, temos de vencer o grande obstdculo que impede uma percepcio auténtica da esséncia da verdade. E nao se trata de nada menos do que de toda historia ocidental da 76. A verdade da sentenca e cada presenca que a compreende, 130 presenca até aqui, em cuja tradigsio nds nos encontramos; cujo poder se faz agora tanto mais caturro quanto mais origindria e incontida surge € se impoe a grande transformacdo da presenca do homem. ‘Torna-se, pouco a pouco, penoso que cada vez aparecam mais pessoas que julguem ter descoberto a necessidade de refutar 0 liberalismo, Decerto se deva superlo, mas somente quando se tiver compreendido que o liberalismo nao passa de uma manifestacao muito frégil e marginal de grandes realidades ainda néo inacabadas. Hé 0 perigo que os destruidores apressados do liberalismo logo se mostrem ssinalados de um nacional-socialismo liberal que, apenas como que pingue inocéncia, honestidade e jovialidade. [Na questo sobre a essencia da verdade nao se trata de contrapor a alguma teoria erudita sobre 0 conceito de verdade uma outra ou de defender uma posigio filoséfica contra outra ~ disso néo temos nem vontade, nem tempo, nem necessidade. ‘Tratase, com esta questo, exclusivamente, de compreender ou nao compreender ativamente 0 instante atual do mundo, em que entrou o espitito desta terra, Tudo o mais é perda de tempo inécua. Caso seja esta nossa situagio, se deixarmos de lado tudo que as representagbes costumeiras exigem de uma prelecdo filos6fica, se nos concentrarmos no sentido daquilo que, em nosso trabalho, ndo pudermos evitar sem luta, entéo vamos encontrarnos no poder ¢ na disperso de ‘uma tradi¢éo que passa sobre nds tao grandiosa quanto pequena ev 0 fato de retirarmos de um primeiro encontro com Hers indicagdo sobre a constituigo € 0 progtesso de nosso qui este fato nos deve dizer sempre de novo, daqui por diante: né ‘queremos nem podemos retirar a esséncia da verdade de algum lugar, raciocinando com conceitos vazios, nem colhéla em algum lugar sem ponto de vista, mas a esséncia da verdade, nés s6 a conseguiremos, quando empenharmos nossa prépria presenca numa decisdo, com toda e-em toda a sua esséncia, isto 6, na totalidade de seu enraizamento, de seu compromisso e de sua escolha. ‘Algo assim, porém, s6 se pode cumprir ¢ realizar se soubermos onde estamos, 0 que hé com e em tomo de nossa posicéo, qual a tradigdo que nos domina sem 0 sabermos - e nos domina tao ampla € BI profundamente, a ponto de acharmos que a concepeéo rotineira da esséncia da verdade sempre esteve em voga e, sobretudo, sempre estara em voga. § 8.0 desaparecimento da verdade como desencobrimento, na tradi¢ao do conceito de verdade E qual sera esta concepgio? Nés jé the demos uma indicagao: a verdade entendida como correcdo. Devese inculcar sempre de novo que esta caracterizacéo da concepeio corrente da verdade néo é completa, mas indica apenas um esquema basico. a) A concepgio de ha muito tradicional de verdade como correcio, concordancia entre proposicio e coisa Correeao: reger-se por, medir-se por; fatos e dados da medigio. dados e fatos do encobrimento. Este no la? Sera que ambas as coisas estao conectadas? Ou seré um outro conceito ao lado de dAMPeta? Mas, entdo, como, a mesma coisa? E ‘oncepgao de esséncia da verdade hé de se nos tornar no porvir : GAGeta ou correcdo, ou ambas as duas ou nenhuma das duas? Como é que se est com o conceito de verdade, corregio e donde ele provém. 1. Correcao é igual a concordancia; sentencas verdadeiras; correto: “esta moeda é redonda’. A concordancia entre sentenca ¢ a coisa é 0 que ha de mais evidente. 2, Em conseqiiéncia, é o que sempre se defendeu, independente do chamado ponto de vista filos6fico; este conceito de verdade é, por assim dizer, posse e propriedade fundamental do bom senso hhumano; ¢ pensadores de natureza totalmente diferentes entre si concordaram com ele, por exemplo, Santo Tomas e Kant. 132 Kant: “a explicagio do nome da verdade, a saber, que € a concordancia do conhecimento, é a que se oferece e se pressupde” (Critica da razéo pura, A 58/B 82). Verdade, isto é, “concordancia de nossos conceitos com 0 objeto” (A 642/B 670). Santo Tomds de Aquino: Quaestiones de veritate, q. 1. Aristoteles: nepi Epunvetas, cap. 1. onpetov, a6pBorov; Gpotwars”. Nao apenas trés etapas, mas trés mundos e, no entanto, em cada um esta mesma representacdo fundamental de adequagao. Erm ‘um mesmo poder préprio e caracteristico, a que a presenca humana dificilmente poderd esquivar-se. E tanto mais necessério é perscrutar e investigar esta concepedo da esséncia da verdade de maneira mais penetrante ¢ profunda. & 0 que aconteceu com base num exemplo simples: esta moeda é redonda (veja antes: verdades - senteneas). 1. A “aporia” da concordancia. A sentenca é “correta”, “concorda” com a coisa, Concordancia, uma relacio, uma referencia ¢ uma referéncia de diferenca; até a igualdade s6 € po: diferentes e caso a diferenca seja ape mero” (metafisica). Por exemplo, duas moedas iguais concordam no mesmo contetido, na mesma configuracéo e perfil. Assim também uma verdade: como verdadeira, uma sentenca verdadeira “esta em concordancia” com a coisa. Sentenca e coisa: a diferenca esté fora de questo. A moeda é “redonda”, de metal ~ a sentenca no é nada material. A moeda é redonda - a sentenca ndo tem configuragéo no espago. Com a moeda posso comprar alguma coisa - a sentenga nao é meio de pagamento. Como 6, ento, que em toda esta diferenca entre sentenga coisa pode haver concordancia de uma com a outra? De passagem - poderseia, por necessidade, dizer: toda sentenga, por exemplo, escrita num quadro, é sem duivida, algo extenso, a saber, as letras e formas das palavras. Entretanto, isso € sobretudo apropriado para 77. Nota do editor: sobre a determinagio tradicional da verdad, ef, também Anexo Il, aT, 133 se esclarecer qudo pouco se pode fal “forma da sentenca” e a coisa “moeda” de “concordancia” entre a Nao obstante, ndo é, evidentemente, a forma desenhada da sentenga que se pretende que esteja em concordancia, mas 0 que a sentenga denota e significa. Certo, mas onde isto esta? E terd algo, or menor que seja, a ver com a “moeda”? E tanto menos tem a ver com janela, arvore, rua, céu, triéngulo ou com qualquer outra coisa, Tio logo se questiona algo mais decidida e insistentemente, aparece uma dificuldade atrés da outra, e 0 que parecia claro ¢ compreensivel mostra-se totalmente obscuro e incompreensivel. 2. A caracterizacdo da verdade como correcao desloca a verdade para a sentenca. Pois é esta diltima que é verdadeira ou falsa. ~ Uma concepeao que se encontra em Aristételes. Nos ltimos tempos, esta concepgio se desenvolveu ¢ a verdade foi apreendida como “validade”. A sentenca vale. Em parte como saida para as dificuldades inerentes a teoria da concordancia; uma saida, porém, que conduz sobretudo a impasses - nao é para ser seguida. Manter apenas: 0 lugar da verdade & a sentenca; o ser verdadeiro da sentenca, ao mesmo tempo, é e decide sobre o ser das coisas. O sentido do sendo, do que é e esta sendo, nao ¢ sendo o ser verdadeiro, a verdade das sentengas que dele valem, Tratase ainda de um tiltimo reflexo da conexao essencial entre verdade e ser; apenas, agora, de cabeca para baixo: nao é a verdade que se funda No ser, mas o ser, na verdade. +) A diltima luta do conceito anterior (originétio) de verdade e do conceito posterior na filosofia de Platio Estas reflexes sobre 0 conceito de verdade dominante nos convenceram também de que é um conceito muito antigo, sua fradigao remonta hé muito tempo, até os gregos; até mais ou menos 0s tempos em que a outra concepgio da esséncia se impos. Por que seré que a concepgio origindria foi esquecida e rejeitada? Que aconteceu? Seré que a concepedo posterior é mais profunda, mais 134 sustentével, ou seré, ao contrério, a concepcao posterior inferior menor? O aparecimento se funda no fato de a concepgao originaria € do principio ter perdido poder e ter-se tornado sem forca e por qué? Nés ndo vamos questionar quando nem com quem o conceito vigente de verdade como corregio ocorre pela primeira vez. Queremos saber 0 que aconteceu, entio, para o dominio do conceito de yerdade do principio ¢ talvez mais originario ter sido substituido pelo conceito hd muito vigente. E 0 queremos saber, néo para aumentar nosso conhecimento na disciplina hist6ria da_filosofia, obrigatéria nos exames, mas para fazer a experiéncia e saber quais forcas dominam nossa presenga desde quando se encontra sob a tutela do conceito tradicional da verdade. Como © conceito dominante de verdade chegou a dominar? Como é que se chegou a rejeitar 0 mais antigo? O que, entio, aconteceu? Este processo atua ainda hoje? De que modo? E por que aparentemente nao sabemos nada disso? Queremos responder a essas perguntas com 0 propésito de saber o que é que ha com a essencia da verdade. Vamos seguir 0 dominio do conceito tradicional de verdade em sua disputa com 0 conceito do prinefpio, da maneira mais direta, I onde um e outro, 0 anterior e 0 posterior, por assim dizer, se batem numa tltima luta. & 0 que acontece na filosofia de Platéo. Esta nao 6, por dizé-lo assim, sendo este combate. No entanto, ndo a queremos expor como sistema, que ela nao é; nem, de forma alguma, queremos narrar 0 que Plato ensinou na légica, na ética, na filosofia da natureza, da histéria, da religiio; felizmente Platao ainda nao filosofava nem fazia filosofia nessas disciplinas. Haveremos de nos aproximar dele na forma de uma conversa, da forma, portanto, que ele mesmo deu ao seu trabalho, nos didlogos. Dos muitos didlogos talvez pudéssemos dominar, com alguma profundidade, um tnico em um semestre, e entio deveriamos postergar nossa questio-guia. Escolhemos, por isso, um atalho que, de certo modo, nos é prescrito. 135 5.9.0 ponto de partida da investigacdo no mito da “Alegoria da caverna” como centro da filosofia platonica Em um dos grandes didlogos de Platio, na Reptiblica, Tloaitéta, no inicio do livro VII, encontrase um trecho que, Propriamente, poderia encontrar seu devido lugar em qualquer didlogo de Platao. Ele apresenta, por assim dizer, 0 centro da filosofia platonica. Sobretudo, porém, nao se trata de uma discussio qualquer ou mesmo de um debate, mas da narrativa de um pG00c, 0 00g da caverna subterranea, conhecido com 0 nome de “Alegoria da cavern E temos aj, a0 mesmo tempo, a oportunidade de ver que, mais uma vez, na filosofia grega posterior se impde 0 00g ao lado do ‘Adyos, que Ihe é mais adequado. Este fato ja de per si pode indicar que estamos, entao, numa transigao decisiva - e decisiva para dois ‘mil anos, Platéo fala sempre em mito (uG00¢), quando sua filosofia quer dizer algo essencial, de maneira mais penetrante e profunda, © yGO0g conta uma histéria - e é decisivo para sua compreensdo que consigamos realizar, de fato, também em nés es hist6ria, Nao vou ocupar-me das interpretagdes costumeiras de y080c. E claro que esta interpretagdo nao pode ser levada a cabo sem um conhecimento real da lingua, sem um dominio da filosofia de Platao, sem uma familiaridade com a presenca grega em geral. Para nds, nao se trata de uma introdueo no modo de proceder, nem de um controle dos meios para interpretar os dislogos de Platio, mas de despertar e impor a questao sobre a esséncia da verdade. Por isso a compreensio prépria do wos pelos senhores nao depende, de inicio, de os senhores saberem, bem ou mal ou de forma alguma, o grego, nem de os senhores conhecerem muito ou pouco ou mesmo nada de Plato. Depende, exclusivamente, de os senhores estarem dispostos a levar a sério o fato de encontraremse aqui sentados, na sala de uma universidade alemé, isto 6, de algo inevitavel € duradouro nos senhores que toque e diga respeito & historia, a ser interpretada, da caverna subterrinea. 136

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