MOD a rat ewiigie
0)
Ke Da eae ices
Cyro dos Anjos
Vinicius de Moraes
EVALUCe) Merete (ovtaet
ubem Ey
Mario de Andrade
Mrsew agent cotso nn
ae Meireles
araes Rosa
ye ee TEM Ere oloy
ar ins do Rego
Rachel de Queiroz
Pees Q maT
Cassiano Ricardo
Guilherme de Almeida
Jorge Amado
Erico Verissimo
Graciliano Ramos
urilo Mendes
rel de Andrade
a
eas
DEL Ty
HilMODERNISMO
IDEM — Manifesto Regionalista, Recife, Regio, 1952.
HOURCADE, Pierre —Tendéncias e Individualidades do Romance
Brasileiro Contemportneo, Coimbra, Universidade de Coim-
bra, 1938.
LEssa, Luiz Carlos — O Modemismo Brasileiro ¢ a Lingua Portu-
‘guesa, Rio de Janeiro, Fundagio Getilio Vargas, 1966.
Lima, Alccu Amoroso — Quadro Sintéico da Literatura Brasileira,
Rio de Janeiro, Agir, 1956.
‘MACHADO, Lourival Gomes —Reirato da Arte Moderna do Brasil,
Sao Paulo, Departamento de Cultura, 1948,
Marrins, Wilson —A Literatura Brasileira —vol. VI —O Moder-
rismo, So Paulo, Cultrix, 1965.
MIOUEL-PEREIRA, Liicia — Cingiienta Anos de Literatura, Rio de
Janeiro, M.E.C. — Servigo de Documentagao, 1952.
MILUET, Sérgio — Panorama da Moderna Poesia Brasileira, Rio de
Janeiro, M.E.C. —Servigo de Documentacao, 1932.
MuRicy, José Candido Andrade —A Nowa Literatura Brasileira,
Porto Alegre, Globo, 1936.
Nust, John — The Modemist Movement in Brazil A literary study,
‘Austin and London, University of Texas Press, 1967.
PEREGRINO JUNIOR — O Movimento Modemista, Rio de Janeiro,
M.E.C. —Servigo de Documentagio, 1954.
SILVEIRA, Tasso da —Definigdo do Modemismo Brasileiro, Rio de
Taneiro, Forja, 1932.
‘victor, Nestor — Cartas & Gente Nova, Rio de Janeiro, Anuério
do Brasil, 1924,
MODERNISMO
Um movimento ¢ 0 seu tempo
A denominagio de Modernismo abrange, em nossa li-
teratura, tés fatos intimamente ligados: um movimento, uma
estética e wm perfodo. O movimento surgi em Sao Paulo
com a famosa Semana de Arte Moderna, em 1922, ¢ se ra-
mificou depois pelo Pats, tendo como finalidade principal su-
perar a literatura vigente, formada pelos restos do Naturalis-
‘mo, do Parnasianismo e do Simbolismo. Correspondeu a ele
uma teoria estética, nem sempre claramente delineada, e mui-
to menos unificada, mas que visava sobretudo a orientar
definir uma renovagao, formulando em novos termos 0 con-
ceito de literatura e de escritor. Estes fatos tiveram 0 seu mo-
‘mento mais dindmico e agressivo até mais ou menos 1930,
abrindo-se a partir dat uma nova etapa de maturacdo, cujo
sérmino se tem localizado cada vez mais no ano de 1945. Con-
én, portanto, considerar encerrada nesse ano a fase dindmi-
ca do Modernismo,
Uma simples inspecdo dos niimeros mostra queo Moder-
nismo se vincula estreitamente a certas transformacées da so-
ciedade, determinadas em geral por fendmenos exteriores, que
910 MODERNISMO
vvém repercutir aqui. 1922 6 uo ano simbdlico do Brasil moder-
no, coincidindo como Centenério da Independéncia. A Guerra
Mundial de 1914-1918 influiu no crescimento da nossa indis-
tria e no conjunto da economia, assim como nos costumes €
nas relacées politicas. Nao apenas surge uma mentalidade re-
novadora na educacdo e nas artes, como se principia a ques-
tionar seriamente a legitimidade do sistema politico, dominado
pela oligarquia rural. Torna-se visivel, principalmente nos esta~
dos do Sul, que dominam a vida econémica e politica, a influ-
éncia da grande leva de imigrantes, que fomneceram méo-de-
‘obra e quadros técnicos depois de 1890, trazendo elementos
‘novos ao panorama material e espiritual
Em 1922 irrompe a transformacio literéria, ocorre o pri-
‘meio dos levantes politico-militares que acabariam por triun-
far com a Revolucdo de Outubro de 1930, funda-se o Partido
‘Comunista Brasileiro, etapa significativa da politica de massas,
que se esbocava e que avultaria cada vez mais.
Em 1930, segunda data-chave, sofriamos, como todo 0
mundo civilizado, os efeitos da grande crise econdmica mun-
dial, aberta em 1929, que motivou um decénio de depresséo.
Golpeando na base o nosso produto de exportacao, o café, ela
abalou a oligarquia dirigente, apoiada na economia rural, ¢
permitiu a vitdria dos liberais na Revolugdo de Outubro. Um
‘grande sopro de esperanca percoreu 0 Pats, criando um clima
favordvel para as renovacoes. A arte e a literatura modernas —
‘antes postas & margem e consideradas capricho de alguns ico-
noclastas irresponsdveis — sdo agora reconhecidas como ex-
pressio legitima da nossa sensibilidadee da nossa mentalidade;
‘ocore uma intensa radicalizacdo politica, tanto para a esquer-
da quanto para a direita; e a comogao das velhas estruturas
sociais favorece 0 desejo de descrever ¢ esquadrinhar a realida-
de sociale espiritual do Pats.
MODERNISMO i
Esse vagalhito renovador niio chega a ser quebrado pelo
regime de forca instaurado no fim de 1937, pois a Segunda Guer-
ra Mundial, niciadaem 1939ena qualentramosem 1942, airow
as melhores correntes da nacdo no campo democritico. A ter-
ceira data-chave, 1945, corresponde ao ano em que terminou 0
conflito. Como ocorrera no de 1914-1918, ele influiu decisiva-
‘mente em nossa economia e mentalidade, fazendo-nos entrar na
era industrial, formando um proletariado numeroso, que passou
«@ exigira sua participacdo na vida politica, liquidando nas éreas
adiantadas 0 mandonismo local. Ao voltarem as liberdades de-
mocriticas abafadas pelo regime ditatorial de 1937, inclusive as
da imprensa, o Pais verificou, meio atbnito, que tinha ingressado
numa fase nova, de industrializacdo e progresso econémico-so-
cial acelerado, que nos vai agora transformando rapidamente em
poténcia moderna, apesar das graves e perigoses problemas do
subdesenvolvimenio,
Portanto, seja tomado como movimento renovador, seja
como nova estética, seja como sindnimo da literatura dos
timos quarenta anos, o Modemismo revela, no seu ritmo his-
{6rico, uma adesao profunda aos problemas danossa terrae da
‘nossa histéria contemportnea. De fato, nenhum outro momen-
10 da literatura brasileira € tao vivo sob este aspecto; nenhum
‘outro reflete com tamanha fidelidade, e ao mesmo tempo com
tanta liberdade criadora, os movimentos da alma nacional.
Caracteristicas estéticas
Os modemistas de 1922 nunca se consideraram compo-
nnentes de uma escola, nem afirmaram ter postulados rigorosos
em comum. O que os unificava era um grande desejo de ex-
ressio live e a tendéncia para transmit, sem os embeleza-R MODERNISMO.
‘mentos tradicionais do academismo, a emocéo pessoal ea rea-
lidade do Pats. Porisso, nao.se cansaram de afirmar (sobretudo
Mario de Andrade) que a sua contribuigdo maior foi a liberda-
de de criagdo e expressao. “Cria o teu ritmo livremente’, disse
Ronald de Carvalho.
Este conceito € relativo, pois em arte niio ha originali-
dade absoluta. No Brasil, ele significou principalmente liberta-
do dos modelos académicos, que se haviam consolidado entre
1890¢ 1920, segundo vimos. Em relagio a eles, os modernistas
afirmaram a sua libertagio em vérios rumos e setores: vocabu-
lirio, sintaxe, escolha dos temas, a prépria maneira de ver 0
mundo.
Do ponto de vista estilistico, pregaram a rejeigao dos pa-
dries portugueses, buscando uma expressiio mais coloquial,
préxima do modo de falar brasileiro. Um renovador como
Mario de Andrade comecava os periodos pelo pronome obli-
quo, adotava a funco subjetiva do pronome se, abandonava
inteiramente a segunda pessoa do singular, acolhia expressbes
@ palavras da linguagem corrente, procurava incorporar @ es-
crita 0 ritmo da fala e consagrar literariamente 0 vocabu-
Iério usual. Em certos casos, chegou a imitar a sintaxe das
inguas indigenas, com um sentido experimental que depois
abandonou.
‘Mesmo quando néo procuraram subverter a gramética,
‘0s modemistas promoveram uma valorizagéo diferente do Ié-
-xico, paralela é renovacio dos assuntos. O seu desejo principal
{foi de serem atuais, exprimir a vida didria, dar estado de li
teratura aos fatos da civilizacdo moderna. Neste sentido, nao
apenas celebraram a méquina, como os futuristas italianos,
‘mas tomaram por temas as coisas quotidianas, descrevendo-as
‘com palavras de todo dia, combatendo a literatura discursiva
pomposa, o estilo retdrico e sonoro com que os seus ante-
MODERNISMO B
cessores abordavam as coisas mais simples. Dat tenderem por
vezes ao estilo epigramético, & concisio eliptica, visando jus-
tamente a comrgir esta orientagdo monumental. Um poema
de Mério de Andrade se chama (verdadeiro desafio as conven-
‘¢6es) “Opoeta come amendoim’. Replicando ao famoso verso
de Gonzaga —"Euienho um coragio maior que 0 mundo” —
Carlos Drummond de Andrade diré: “Nao, meu coracdo nao
é maior que o mundo. E muito menor”.
Nao espania que, neste sentido, utilizassem como técnica
eatitude de espiito a valorizaio do prosaico e do bom humor,
que, em todas as suas gamas, lavou e purificou a atmosfera
sobrecarregada pelos académicos. Ha no Modernismo uma
extraordindria alegria criadora ("O claro riso dos modemos’,
escreveu Ronald de Carvalho), que invade todos os géneros,
atinge as alturas picarescas de Macuna{ma, tempera a obra de
Anténio de Alcantara Machado, é elevada por Oswald de An-
drade a instrumento de andlise e por todos manejada como
arma de luta.
Esta atitude no fundo é um desejo de retificagao, de des-
mascaramento e de pesquisa do essencial; a ela se prerde 0
nacionalismo pitoresco, que os modemistas alimentaram de
etnografia e folciore, rompendo o nacionalismo enfeitado dos
predecessores. No indio, no mestico, viram a forca criadora do
primitivo; no primitivo, a capacidade de inspirar a transforma-
¢do da nossa sersibilidade, desvirtuada em literatura pela ob-
sessdo da moda européia.
Doutra parte, dedicaram carinho especial a tudo queindi-
casse a presenica da civlizagéo industrial: a méquina, a metré
pole mecanizada, o cinema, a vida excitante de uma sociedade
que liquidava os seus resqutcios patriarcais e adotava rapida-
‘mente os novos ritmos da vida contemporinea. Na andlise psi-
colégica, no lirismo, aprofundaram:se com um senso do quei MODERNISMO
hi no homem de infantil, mas também de complicado, retor-
cido, utilizando as sugestées da psicandlise, do surrealismo e
da antropologia.
Grupos e tendéncias
A Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro de
1922, teve sinais precursores, que a partir de 1920 se tomam
cada vez mais conscientes e planejados. Em 1917, a exposigao
de quadros de Anita Malfatti, em Sdo Paulo, deu lugar a uma
primeira divisao virtual entre os partidérios da arte nova e os
conservadores, estes representados violentamente por Monteiro
Lobaio. De 1916 é a primeira redacdo das Memrias Senti-
mentais de Joo Miramar, de Oswald de Andrade, que as
aproximaré cada vez mais de um estilo experimental, em suces-
sivas verses. Em 1920, tanto ele quanto Menotti del Picchia
abrem nos jomais a campanha renovadora, que encontra 0 seu
poeta em Mario de Andrade, cuja Paulicéia Desvairada fot
‘composta naquele ano, incluindo “Prefécio Interessantissimo”,
equivalente a um primeiro manifesto estético. Nem se esqueca
que Manuel Bandeira, no Rio, imprimira a muitos dos seus
poemas wn cunho nitidamente renovador, pelo verso livre e
pela deliberada atitude antipamasiana. De 1921 so os Epi-
‘gramas IrGnicos € Sentimentais (publicados em 1922), com
que Ronulid de Curvalho, consagrado por dois livros de ins-
iragho pamasiana, buscava uma expressio nova. No fim da-