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BOLSOES, FECHAMENTOS E CL Eni Orlandi Resume Esa rfTexio trata da eid © dh viola ineluindo o sentido do que piblico © do que & ‘mania atimaativa, nfo apagando nem dando wm sentido pejorative a essascategorias Al comprcensie do urbe wil de ck kim das earaterstiensimpostas porim pensamento fxita ue se move "pena enizea inclusio ea exchusdo, propde-se pensara questo doespaxo wan enguanta eoneentriKlo de quanidade de seres em constante mavimeno em que @ realizado esti presente e sempre prestes irromper, Introdugaio © assunto em questo & fundamental para quem procura compreender © que espago publico, a vida urbana, a cidade e os sujeitos que vivem nesse espace. adianto, desde o inicio, que, para um analista de discurso, o espago significa ea relagao dos sujeitos com o espago é determinante para sua forma de vida. Observe-se como se pessoas segundo vivam em haitros ricos (com seus equipamentos piiblivos de qualidade) e nos baitros pobres (sem condigdes, com esgoto jd correndo a céu aberto etc.). Que sentidos de vida publica social esto uf funcionando? Sou coordenadora do Laboratdrio de Estudos Urbanos (Labeurb), que congrega pesquisadores em aniilise de discurso, ede outros departamentos, de out : de outta freas, como antropologia, artes, educagio fisica, histéria, urbanismo.arquitetura, sociologia, economia, biblioteconomia ete. que se reiinem em torno de projetos sobre as instituig Ro, Campinas 9: 7-18, 2003 Bolsies, Fechamentos ¢ Cit cidade. Promovemosacompreensto do espago pico urbano em seu aspecto simbstieo dade como um espago de linguagem em que se cruzam relages smente politico, pensando a de poder. Na perspectiva discursiva, procuramos ver como se produzem ideologt 10 sentidlos ¢ os sujeitos dentro da sociedade e na histéria, Nossa questo de base, em relagiio & cidade, &: como a cidade significa? Em outros jgnificando de maneira propria, por ser termos, como esse espaga se constitu como tal, lum espago que se particulariza como espaco urba Por que “cidade”? Porque, na modernidade, a nogao de cidade & centr trazendo com ela um conjunto de reflexes que interrogam a prOpria nogio de de “sociabilidade”, Leva-nos u refletir sobre o que somos enguanto seres simbslicos & histérieo-sociais. Pensamos como a cidade & posta em sentidos compreender como a linguagem se espaciatiza na cidade, que formas toma el materializando-se num espago que tem como caraeteristiea ser um espago “pablico” por outro Que gestos de interpretagao sia af produzidos? ‘Atualmente, tenho trabalhado com piereing, com tatuagem, grafite, pichagao, rap que s2o manifestagSes Fundamentalmente urbanas, para peteeber coma a cidade se diz através delas. Ha culturas em que pintura corporal & ritualizada, faz. parte dus Formas de culturas ditas primitivas. Mas aquele é um outro corpo, nao um corpo eapitalista, O piercing, a tatuagem ete., se penso 0 corpo capitalista, compoem um fendmeno absolutamente urbano. Isso fem a ver com © modo como o sujeito significa (-se) na cidade, No livro Cidade Atravessada (2001), publicagio coletiv conjunta de nosso Laboratsrio, tratamos destas questées, ent informal (camelés), os sem-teto, a escolarizagao, as grades que lim © [éxico urbano, a existéneia de um conceito como “lingua urbana”. as casas de cultura, a leitura de um mapa da cidade através da semdntica, os meninos de rua, a m Em um outro livro, Discurso e Texto (2001), de minha autoria, rato mais desta questo do piercing, da tatnagem enquanto grafismo préprio ao espago de interpretaciio urbana, ‘como inscrigdo da linguagem no proprio corpo do sujeito, nosso corpo, o corpo urbane. que se textualiza como um corpo de cidade. _ resultado de uma pesquisa coutras, como ocomércio as fam espacose rajetos, ns, Campinas.9:7-18, 2008 Eni Orland 9 Ao trabalhar com meninos de rua, com os camelds, escola ete., comegamos a nos entie cidade & urbanidade, nos mento do social em fungi do urbano, ou seja, 0 social, quando se trata da cidade, € muitas vezes dificil de ser visibilizado porque se confunde com aquilo que & urbano. As relagdes sociais nio se esgotam nas relagdes urbanas, mas, atualmente, social ¢ urbano viraram a mesma coisa, Diese assim © que chamo de sobredeterminagdio do social pelo urbano. A partir day passamos a questionar, perguntar, afinal, 0 que & 0 urbano, Nessa rela demos conta de que havia um apag: em nossas pesquisas, como & que 0 urbano apaga o social. As pessoas se satisfazem em falar das relagdes urbanas e comecam a deixar de lado as questies sociais que se dio no espago espeeitico dla cidade, Para nds politicas urbanas so politicas sociais uurbanas A Laura Bueno (coordenadora do L’Habitat, da PUC) mencionou que fui uma das primeiras pessoas a me manifestar em Campinas sobre a questo dos fechamentos do espago piblico urban. Do ponto de vista da sig e da Tinguagem, fazer um muro, separando grupos de pessoas que vive numa mesma cidade, tem um sentido muito forte, muito violento, Comecava af meu trabalho critico com respeito a duas reduedes: primeito, ada cidude ao discurso da violéncia, pois cidade nai € sinénimo de violencia: e, em seguida, a do que € violento, cireunserito ao tema da “marginalidade do “crime”, da “hostilidade dbvia”. Comecei a desmontaressa circunscrigio da violencia a mostrar que a cidade nao é sempre violEneia, ao contrario, e que, por outro lado, @ violéneia pode estar em gestos de significago do cotidiano da cidade, dispersos no dia- dia, © que sito Lio importantes como esses que acabam configurando uma violgneia explicita como a criminalicade A divisio do espaco urbano ¢ a produgao dos sentidos Faver um mio significa indistinguir relagbes sociais muito importantes. Ha uma meméria social que nos constitu de modo mas eu menos inconseiente, Por vivermos na cidade, ns iitemosem nés una certa meméria de cidade, que fiz com que ni tenhamo todo momento, que nos perguntarimos pelos seus semlidos: jd nos filiamos a certos sentidos, nos signitieamos implictamente como urbanose funcionamos nesse modo e espago. E 0 que tenho designado como “economia do jas recebdas, do senso comm: quem vive noespago urban sabe ua, Campinas, 9: 7-18, 2003, 0 Bolsdes, Fechamentos e Cia que uma nua & uma rua, sem estar definindo isso o tempo todo: sabe que nat rua hi Carros, por exemplo, coisa que € diferente no mciode florestaamazénica, Esse espao especifico tem portanto uma meméria urbana, E um espaco significant, investido de sentidos ede sujeitos,produzidos em uma meméria, Quando se fazem certs gestos em relagdo a essa meméria se esté trunsformando, modificando, ou nao, essa memoria. Ou se est ritificando essa memria ou se esti rompendo com ela. E 0 que acontece entio? Quando se faz um muro para separar um grupo de eas onde normalmente os muros to feitos de uma otra manera, sees rompendo sentidos rntconjuntura anterior de signifeagio,rompenda com umacerta meni estabelecendo- Se um outra forma de trbanizagao, instaarado uma outa forma de relago entre os sujeitos sociais. Historieamente, estamos sigh 0s?) das outras, numa cidad \do nossos “outros” (coneid de outri maneira, Uma coisa é fazer um muro separando um quintal ex casa do viainhos outra coisa, diferente, separar um conjunto de casas das outras, Esses recortes do espago piblico configuram diferentes condigdes de produciio de sentidos em sua materialidade. O que se esta significando com isso? Como se passou a significar a relacio de vizinhanga? Por este gesto, fica “dito” que os que estio do lado de ea do muro so as pessous com as quais Se quer conviver, quem esta para ora so as que Se cexcluiram. O social fica indistinto porque nao sio todos que estiio do lado de fora que *, Entio 0 “hostis” inimigos)¢ 0 “socius” ficam confundidos. Com wr 0 espago social. Também 0 privado se indistingue, pois, no eespago interno, todos no t@m o mesmo estatuto de vizinhangt, de intimidate ‘Ao se fechar um bolstio se est fa violencia social, que & separar sujeitos de sujeitos igualmente cidadiios, mas que se passa. tratar como se Fossern uma ume. Ha grave diminuigao do espago de sociabilidade. Nesse imaginario, eficaz, acabam-se implementando hostlidades que fauzem as pessoas se “estranharem” Esse recorte afeta a prpria nagiio de social, Precisamos nos perguntar 0 que estamos querendo, Que forma estamos dando a sociedade, & cidade em que vivemos? Quilts S30 so nossos" Os sentidos que esto funcionando nessas relagdes, nesse espago € que nos esttio constituindo como sujeitos urbanos de um determinado tipo e no de outro. Hi pessoas que querem o fechamento. Ideologicamente, esas pessoas esto na posigfio de que elas querem um cidade separada, sem sociabilidade, uma cidade de uo, Campinas, 97-18, 2008 Orland n “nichos” e comedores. Nés, enquanto cientistas que elaboramos pesquisas sobre a cidade, precisamos tomar uma posi¢ao: 0 que compreendemos como cidade, que tipo de cidade «estamos projetando para nosso futuro, pois as dificuldades que nés temos hoje certamente as construfmos Id atras ao fazermos gestos, social e historicamente, significativos em relacdo ao que & 0 urbano e ao que € social e com os quais nos comprometemos, num certo momento, Agora encontramos problemas pela frente, problemas que nds ctiamos, 40 Fazermos certos gestos de signifieagio, que materializamos na cidade. Hoje, quando construmos um muro, estamos pré-signifieando nossos concidadiios assim como a nossa propria maneira de viver. A formulagdo das questies: via para propostas Hi.a populago cujo papel é o de ter alguma conseiéneia do que esti fazendo. De outro lado, temos entidades que se constituem, fazendo propostas e querendo se situa Algm dessas instancias, ¢ das mais importantes, hd o poder pablico que toma posigdes institucionais que vio ser fixadas, reguladas. A contribuigdo dessas t8s foreas sociaise politicas sio cents. Ao lado disso, estamos n6s, a Universidade, com nossas forts de reflextio, Nossa tarefia é praticar nosso conhecimento, disponibilizanclo-o para todas esas pessoas, propiciando condigdes para a elaboraciio conjunta das formas de pensit a cidade ‘Vejamos as conseqtiéncias do apagamento da questi social: a cidade € um espago «que fem um sentido particular, que € o de ser espaco social piblico. Se eliditmos isso surgem as grandes rupturas ¢ suas conseqiiéncias. Por exemplo, tomemos o caso do Parque Oziel, em Campinas: o que existe de espago piblico ali? Nada. Ou melhor, no existe espago para que 0 espago piiblico se pratique com condigGes sociais e politic qualificadas. O espago piiblico esti silenciado e quanto mais se vai rarefazendo o espago piiblico mais se esté produzindo uma sociedade violenta. Porque © espago urbano vvivido conjuntamente, socialmente. Depois, as pessoas refletem pela K6gica da violéncia e da repressio: para resolver uma questao que surge pela supressio do social vai-se usar a repressfio, quando deveria se 0 contro: quanto mais o espago sociale o espago pablico puderem se desenvolver, ‘menos nés estamos expostos i violencia e marginalizagio. As medidas devem ser ‘ua, Campinas, 9:7-18,2008 2 Bolsdes, Feehanventos e Cia repressivats mas formadoras, extensivas disso que teimam em chamar de “eidadania’”s a iabilidade. Cidadiios somos desde que nascemos, ern um pais livre, em uma sociedad auionoma, em uma Repablica Chegamos enfim a questao politica: © poder politico de decisio, em funcio dessi sociabilidade, é o poder de regular os processos de exclusfio ¢ de inclusdo, Penso que hg em nossa realidade social uma complexidade de jogo de Forgas que vai além dess relagao simples (exclusiofinclusao). Pergunto: por que ao invés de se discutir © fechamento dos loteamentos, nao se comecaa pensar/praticara “légica” de sociabilidade edo aumento ¢ cuidado com o espago pablico, para que haja possibilidade de vida puiblica, rca, proveitosa, Ao invés de se construfrem bolsées de seguranga, cuidar para que nao se formem bolsdes de violéneia, Na Franca, onde mantenho um intercimbio com pesquisadores sobre cidade, ¢ isto que se tem proposto: quando comegam a se formar os bolsies de violéncia, deve-se ir mais 0 espago pablico, fazer desse espago umespaco social, politica eculturalmente mais arejado, E necessério produzirem-se condigSes, infta-estrutura, colocar escola, programas de cultura, de lazer, cuidar do espago fisico, luminagio, transporte, Medidas que promovem e nig reprimem. Uma outra coisa que me chama a atengdo, quando penso comparativamente as diferentes formas como as sociedades exercem seu controle sobre os cidadaos, modo de controlar a mobilidade no espago. No Brasil, hi guaritas, eercas, guardas com armas. Em Paris, porexemplo, ndo se entra em um prédio sem se passar por um controle. ‘A questo € a exibigao de suas formas, & a sua visibifidade © os sentidos que af so postos. Em Paris, isto é feito porque o cidadao, para entrar no prédio, para visitar © amigo, por exemplo, tem de fer o cédigo da porta (que € mudado com freqiténeia) Nessa visibilidade mfnima do controle ensaia-se um certo respeito ao cidadao, Nao se 0 afronta com armas. Outro exemplo de como o controle pode ser um dos elementos da propria violencia é a maneita como se controla a velocidude no Brasil: colocando-se lombadas pontudas (que na maior parte das vezes nao estiio de acordo com a lei) © ameacando os siijeitos de terem seus earros arrebentados. Muito mais eficiente © ‘socidvel” a mula pelo controle cletr6nico (quando confiivel..). So formas alternativas; tumas jogam com a imagem da violencia ¢ do desrespeito, Outras educam, formam o pins, 9: 7-18, 2008, Bri Onande 3 ‘cidadao para.a vida em comum, com princfpios, ¢ onde direitos e deveres sio distinguidos preservados. Onde os limites sao formas de convivéncia e nfo falta de liberdade & de condigdes de vida © desenho do espaco piblico e seus sentidos P. Henry (1999) relata uma questio interessante posta sobre o espago: “e se 0 espago flo Fosse Seno uma Fungo matemaltica”, pergunta? Ao que responde Heisember espago é azul, pissaros voam dentro”. Quer dizer, a cidade € um espago que se significa onde hi sueitos vivendo dentro. E um espago de sujeitos e de semtidos. E disso que nds temos que cuidar, pois o que existe nio so 86 buroctacia), mas um espago de viet (ptiblica). Como nés estamos significando esse espago, nos significando nele? Quando se aprende, com a anailise do diseurso, que quando a gente fala esta “se” significando, a prética urbana é uma pritica significativa em que nds nos significamos significamos os outros. E podemos signifivar de manciras, muito diferentes mesmo quando nos silenciam: através de pichagio, ¢ também da arte, dda tatuagem, da nuisica ete. O que significam os que estao silenciados? Kém de discutir se se € a favor ou contra o fechamento, dos sentidos & mos dle estar presos nessa argumentagao, nesse modo como @ favor ou contra ofechamento) para nos disponibilizarmos para outras discussdes, onde se criam outras idéias, possibilidades, perspectivas de leulos (abstragdes & Hii outras opgdes a fazer, Podemos mudar o lugar da discussio e pensar justamente na Form dos sujcitos urbanos, Deis os discursos estio “rolando’ significarmos 0 nao-significado, passarmos do nfio-sentido (imealizado) pata os pos sentidas outros, latentes nas novas formas sociais Ao invés de pensar $6 nos foteamentos, nds temos que diseutir o que & esti sendo. posto nessa discussio de fechar ou nio loteamentos. Hii situagbes reais, vividas em Campinas, em que nos defrontamos com situagdes insustenti condominios, loteamentos fechados, bolsdes que Fecham espagos (quase sempre em nome da seguranga), em que muitas vezes hi equipamentos (escolas) piblicos, obrigando ss pessouts que tansitam por af oua dar voltas ou ase identificarem para outros cidadiios, seus "iguais"(), Os cidadios, criangas e adultos, vivem em regime de suspeita, passando pelo vexume de ter de se idemtificar continuamente, Avesso do “Sabe com quem esti Falando?”, que, enquanto fala do poder, si nifica estar aciina de qualquer suspeita. in, Campinas, 9: 7-18, 2003, W Botsdes, Fechamentos e Cia. disso, do ponto de vista da estrutura urbana, complica-se o desenho da espacializago politica do espago piiblico: que lugares sto esses? Transita-se por espagos, na verdade, designados de uma mancira muito complicada (em que lugar voc® tem que estar? que sujeito atravessa esse espago?). A cidade se apresenta, em relagdo ao que €oespago paiblico, cada hora de uma determinada maneita. De um lado, espagos mal definidos, mas cercados, de outro kiddo, invasdes, loteamentos clandestinos, Fazendas (ona rural?),enfim, tudo isso mal significado (e mal nomeado) como € 0 proprio hoje das nossas cidades, Porque esse espago esté deflagrado, £ um espago publico, mas & ‘muito dificil rabalhuar para construir uma sociabitidade que seja capaz de gerira violencia que esti sendo gerada assim. Esse & um espaco piblico (?) que esta sendo formado num espaco que est em constantelitigio (ou sem nome ou pré-significado), As formas da violéne ; marginalizagao ou dispersio da autoridade Podemos assim perceber que a violEneia nijo é uma coisa homogénea, ela tem muitas formas. Ter de se idemtificar para alguém que é seu semelhante nao € uma coisa ace! ddo ponto de vista da convivéncia social. Este alguém se transforma em autoridade por que mecanismo? S30 mecanismos institucionais? A prépria nogtio de autoridade est rompida. Ja é uma relagiio social que entrou em litfgio, que gera mal-estar, equivoco, tensiio, violencia, Se, de um lado, cria-se a “marginalidade”, de outro, banaliza-se a “antoridade” Ha uma in-confiabilidade, uma dis-sociabilidade que vai se formando, Em unt sociedade deflagrada como a nossa, podemos distinguir trés momentos em face dit violneia: © da sua constindied da sua manuiengao e de seu desencadeamento Na suit constituigao, esto as razies mais amplas e com as quals temos de Lidar a mais longo termo jé que sio purte da propria maneira como 0 capitalism ~ que ¢ estruturalmente violento ~ produz.e reproduz suas relagbes na sociedade. Se no podemos resolvé-la por um gesto de vontade ~e isto é verdade ~ no entanto podemos diminuira insist@ncia com que nés a temos mantido. Temos entio 0 momento de manuten um agravante caracteristico desse momento é qule temos uma policia que, em geral, ‘uma polfcia que mantéma violencia porque s6 € chamada para exercer o papel {quando na verdade ela pode ter 0 papel formador. Ein seu papel formador, a pessoa que repressivo, ua, Campinas. 9:7-18, 2008, Eni Oran Is 6 atendida passa a ter conscincia de que a polieia nao s6 reprime mas pode Reata lagos, Dentro da légica da repressao nao hii espago piiblico social. Ha bandidos © hd a repressio, Mas esse espaco esté li, Mado. Sem poder se dizet, sem poder se significar. E preciso dar-Ihe voz. fetivamente Precisamos ter politicns puiblicus sociais de formagao para que a policia niio seja s6 repressiva, que niio faga parte da manutencao da violencia mas de sua solugao pelo realgamento do sujeito urbano, piblico, a seu lugar significativo, hist6rico e social Temos entao que chamo momento do desencadeamento da violgncia. Considero que fazer um muro & um desses gestos. Fsté tudo pronto, engatilhado, aia gente faz um (0 que libera uma enorme hostilidade social: imaginariamente, de um lado, nbs, 0s corretos, os legitimos, os que tém direitos e bens, educagio ete, do outro, o que agride, hostilizado, com um aumento de -ategorizacao. Nao nego que a violéneia seja um problema e que temos medo. S6 que a maneira como solucionarmos isso vai determinar nosso futuro, Se deixamos de lado a nossa sociabilidade, vamos criar uma sociedade que ¢ feita predominantemente de relagdes, de forci, em que as pessoas estardo fechadas, armadas e medindo forgas, O que precisamos saber 6 que nenhum de nds, ou melhor, que nds todos nio estamos suficienternente longe de nada. Porgue somos irremediavelmente seres sociais. Portanto € melhor no mantermos essa ilusio de alto prego ¢ risco. Mudam as formas do crime ‘mas nfio diminui a inseguranga social. Isso pode ser até um modo de exibictio de poder: Mas se no somos assaltados em easat, somos na rut, diminuem os roubos e aumentam Os seqiiestros, os assassinatos ete. Vivemios na sociedade como um todo e se siio reforcamos os nossos lagos soviais, vamos ser cad vez mais vulneriveis. A ilusio de forga Eo equivoco maior danossa onipoténeia, que, na verdade, é uma grande impotén Essa & a I6gica que tem sido alimentada jdt essividade proporcional ao nosso gesta de Algumas observacdes finais Finalizando, eu teria és observagbes pontias. Uma delas ¢ sobre a sociabilidude: é preciso nao “guetificar” as relagdes, porque niio somos animais em interagao, somos sujeilos e, enquanto sujeitos, somos seres que na Campinas, 9: 7-18, 2003 16 Bolsdes, Feehamentos e Cia significam na sociedade e na histéria. Quando se destituem os sujeitos dessa sua condigio social e histériea certamente se o faz em prejuizo do proprio homem. Em vezde rarefi € preciso reafirmar a nossa capacidade de sociabitidade, Os fechamentos diminuem essa nossa capacidade, Do ponto de vista politico, estamos falando do sistema capitalist Quer seja por especulagio imobilidria, quer seja por modismo, quer seja por exibigao de poder, quer seja pela luta social (de classes), trata-se da mesma coisa: € a significacio da diferenga entre pobre ¢ rico. é a reafirmacio das diferengas enquanto desigualdades nna forma de significar capitalista, que declina a diferenga em termes de valores: poder pessoal, impunidade, valorizagdo econémica etc. A violéncia para fora corresponde it vVioléncia para dentro dos espacos fechados, que & a do tipo de pessoa que voce produz, dentro, alimentada pela in-sociabitidade na qual ela &criada, despreparada para enfientar relagdes sociais le qualquer tipo A segunda observagio & que a cidade ~ © lembremos aqui da nocio de metropolitano — vai sendo objeto de deslocamentos, de formas de re-divistio de espago que viio-se refazendo, se recolocando. De toda maneira, todo espaco urbane se caracteriza fortemente pela idgia de concentracto ¢ quantidade. A cidade & uma concentragao de grande quantidade de sujeitos, “Ldgico” que a quantidade do pobre E maior, “légico” que ha mais administrados que administradores, “Igico” que ha mais pobres que ricos etc... Todas as cidades tém_ problemas concentradamente & em quantidade: necessidade de transporte “para todos” ide de comida “para todos”, necessidade de escola “para todos” ete, Propostas que nao consigam qualificar essa quantidade, metaforizar, no sentido de trazé-la para uma solugio social e politica adequada, sio votadas ao fracasso. O fechamento nao trabalha a questao da quantidade adequadamente em relagao ao espago ptiblico social e politico em que os sujeitos vivem. Além disso, o corpo urbano esté sempre em movimento, A maior parte das propostas sio Fixistas e so cereeadoras dessa movimentagfo, dos deslocamentos, das transformagoes. E preciso acolher esse movimento, dar- Ihe um lugar e no cerce‘-lo, porque a quantidade concentrada ¢ em movimento, {quando imobilizada, & algo que se torna explosivo. Um instrumento como o Estatuto da Cidade, por exemplo, que tem forga politica, juridica e administrativa, nao traz.a necessi pala moraclor” como uma das suas Categorias. $6 0 “proprietério” af comparece Rua Campinas. 927-18, 2003 Bint Ota 7 como figura capaz de decisio, Ora, em uma sociedade capilalista temos para cada “proprietério” muitos “moradores” estes niio poclem opinar sobre suas condigdes (por exemplo, quando se fecha um espago nao é a vontade da maioria que esti sendo respeitada), E ¢ assim que a questio da quantidade nio é metaforizada, nao significa ‘como devia, impedindo que as tensdes sociais pablicas se encontrem um ligar para se significarem, Finalmente, chegamos & tereeira © tihtima observagdo. Embora tenha falado dos loteumentos fechados, meu objetivo esté prioritariamente na questo do urbano: 0 qui a cidade enquanto espago real de significagio? Como a cidade esti’ em movimento Constante, retomo o que coloquei no comeco: que cidade nds queremos construir? ‘Certamente haverii posigoes diferentes e contririas, quase 0 tempo todo, sobre isto. O poder paiblico tem que lidar com essas posi necessirio ‘io pensar o social como pequenas comunidades que se agrupam e sim pensar 0 social ‘como um grande espago com-vivido. O que é ser-se contemporuneamente urbano? Para compreender, escutar 0 espago urbano, € que trabalhamos com a andlise de discurso: para perceber como esse espago esti se signilicando, primeiro paso para poder fazer corresponder a ele a forma da cidade que responderia a0 sentido social que testi posto hoje nas nossas formas de organizagao, de relaydes sociais e politics. Como ouvir essa cidade que tem suas necessicides, suuis “vontades”, seus “desejos”? O q essiteidade, enguanto espaco de sujeitos que significam, exige para que seu movimento nao seja rompido, para que hija a possibilidade de harmonis na maneita de administrat © espage piiblico, de convivéncia social no qual estamos imersos, necessariaiment ‘como seres hist6ricos que significam? O desafio ¢ fazer com que essa cidade mais real, conereta, Lome uma Form que torne possivel a con! a dentro de um espago em que se qualifica a vida, considerando as diferengas que existem entre os habitantes dese espago. Para isso precisamos i I da cidade, e conseguir trabalhar com ele, tanto do ponto-de-vista do planejamento, da urbanizagio, como do ponto-de-vista politico geral, pliblico, social Resumé Cet étude poste sur a ville fa violence en ineluam fe sens de ce qui est public et de ee qui est sovial «une mange afirmative, n° eftaant ni atachant pas un sens pSjorai a es eaégories. En Slargissant Tacompreiension de urkain au-de-In des earactristiques imposes par une penséefixistequi citer a, Campinas, 9:7-18, 2003 Is Bolsoes, Fechanventos e Cia. 8 peine entre inclusion et (exchusion, ee travail propose de pense Ia question de I'espace ura en ‘at que goicentration d'un grand nombre de sujetsen mouvement constant ot 'iealisé est présent ct produit des ruptures Referéneias bibliogrsificas ORLANDI, EP. (org.). Cidade Atrayessada: os sentides piiblicos no espago urbano, Campinas: Pontes, 2001 a, Campinas, 9: 7-18, 2008

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