Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Em muitos países, como os EUA, há uma linha histórica que liga as iniciativas em Inteligência
Competitiva aos programas militares e de contra-espionagem. No entanto, nos últimos anos, o caráter de
suporte a negócios e a vantagem competitiva tem ganho relevância nas iniciativas governamentais. Além
disso, cada vez mais a sociedade civil, empresas e associações de indústrias têm se voltado para essa
área de decisões.
No Brasil - devido às deformações sofridas ao longo do regime militar e à falta de estudos e discussões
sérias, ou pelo menos abertas, sobre os seus reais objetivos - a Inteligência ficou marcada
negativamente como uma atividade policialesca, voltada para intrigas e perseguições de adversários
políticos do regime, e que colocava em um plano inferior os interesses dos indivíduos e da sociedade. O
aspecto policialesco chegou a ponto de caricaturar os profissionais de inteligência como “arapongas”,
pássaros que permanecem por longo tempo na mesma posição à espera da sua presa.
Após as discussões que culminaram com a criação da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), e em
razão do surgimento e rápido desenvolvimento da chamada "Inteligência Competitiva" ou " Business
Intelligence", essa atividade começa a ser melhor conhecida, apresentando-se como um importante
instrumento à disposição do processo de tomada de decisões.
Uma preocupação recente da sociedade em relação à atividade de Inteligência diz respeito a possíveis
desvios que possam ocorrer e que venham a colidir com a democracia ou com as questões de
privacidade. Em relação a isso, o decisor deve se pautar em última análise pelo respeito ao arcabouço
jurídico existente, de forma que essas atividades se desenvolvam em um contexto de legalidade e em
obediência irrestrita aos parâmetros de um Estado Democrático de Direito. Mesmo antes de se chegar
ao extremo da análise jurídica, não custa nada ao decisor apelar antes ao seu bom senso e à ética.
Sabemos que nada é mais crucial no processo de tomada de decisões do que as relações entre as
informações e a estratégia, ou, num sentido mais amplo, entre o conhecimento e a ação. Em um mundo
cada vez mais confuso, seja pelo paradoxo de globalização x protecionimso e, onde a mídia apresenta
instantaneamente fatos importantes que ocorrem em diferentes partes do planeta, e onde somos
inundados por milhões de informações, cada vez mais os decisores precisam de informações especiais,
necessárias para a melhor condução dos negócios públicos ou privados e fazer pender, em seu favor, a
balança dos eventos futuros. Essa informação especial chama-se Inteligência.
Ou seja, entendemos que a Inteligência é a informação avaliada e analisada com o objetivo de subsidiar
decisores. Assim, deve-se reconhecer a Inteligência como um produto acabado, cujo valor está na
eficiente coleta de informações, na adequada e profissional interpretação das mesmas, e sua rápida e
eficaz difusão aos decisores.
Segundo Porter (1985), o objetivo da estratégia competitiva de uma empresa em uma indústria, é
encontrar nela uma posição onde possa se defender das maneiras possíveis contra as forças
competitivas ou influenciá-las a seu favor. O autor apresenta um modelo para a análise de estratégias
competitivas em indústrias, baseado nos conceitos de economia industrial e estratégia de negócios. De
acordo com o modelo, o potencial de rentabilidade de uma indústria é definido por cinco forças básicas
competitivas:
A utilização do processo de Inteligência Competitiva nas empresas apresenta dois focos principais. Por
um lado, um caráter defensivo e, por outro, um caráter de vanguarda, de proatividade. Este último,
certamente o mais importante, permite que a empresa se antecipe aos movimentos do ambiente
concorrencial e de mudanças no macroambiente.
Nesses tempos de mudanças fortemente influenciadas pela evolução tecnológica e pelo modelo
econômico praticado a nível global, as empresas estão sendo ,constantemente, desafiadas em sua
capacidade de resposta às demandas do ambiente externo. A agilidade e a flexibilidade organizacional
são os requisitos indispensáveis a integração e ao monitoramento do ambiente operacional e geral, e
dessa forma influenciar convenientemente os componentes da cadeia produtiva. Neste contexto, a
Inteligência Competitiva se apresenta como a ferramenta fundamental para que a empresa possa definir
o posicionamento estratégico mais adequado para fazer frente a dinamicidade do ambiente competitivo
em que se contextualiza, pois identifica as oportunidades e ameaças, os pontos fortes e fracos
existentes e potenciais aumentando a competitividade. Ao lidar com as informações, a Inteligência
Competitiva transforma conhecimento em vantagem competitiva e ancorada na Tecnologia da
Informação dá sustentação a cenários , a partir da convicção de que se pode atuar nas tendências e nas
relações entre causa e efeito. Dessa forma, a Inteligência Competitiva busca oferecer aos estrategistas
vários futuros possíveis, para que estes, por meio de ações conscientes, possam contribuir para a
realização do futuro mais favorável. Se os ensaios sobre a utilização dessa ferramenta estratégica ainda
não atingiram a dimensão correspondente à sua importância, credita-se este fato a "juventude" de seu
emprego nos meios empresariais. Por outro lado, se diariamente as empresas travam um verdadeira
batalha na guerra de mercado e o cenário recomenda o emprego de estratégias semelhante a militar
para proteger o seu espaço e garantir a sobrevivência, o monitoramento do ambiente através da
obtenção de informações estratégicas tornou-se crucial. Assim sendo, a Inteligência Competitiva se
apresenta como um instrumento valioso de gestão tanto na esfera empresarial como também na de
governos.
O uso de cenários revela-se particularmente útil no ambiente de turbulência e incerteza em que vivem as
empresas, e no qual os métodos convencionais de formulação de estratégias, calcados principalmente
na análise de tendências, apresentam limitações. A atividade de inteligência e a técnica de cenários
guardam afinidades entre si, e sua aproximação oferece ganhos competitivos às empresas que delas
fizerem uso de forma complementar. Os estudos de cenários possibilitam à inteligência ir além da mera
análise do passado e do acompanhamento de estatísticas correntes, fornecendo ao tomador de decisões
indicações acerca do futuro.
Considerando que cenários são elaborados mediante uma combinação de planejamento, pesquisa,
pensamento analítico e , principalmente imaginação, podemos observar o envolvimento das quatro
funções da inteligência empresarial estratégica : história, rede, análise e direção .
Já através da função rede (networking) teremos acesso a pessoas excepcionais, que tenham uma
percepção especial sobre o que está acontecendo, para obter uma ampla gama de perspectivas, como
por exemplo, cientistas, líderes políticos e empresariais, jornalistas, especialistas, etc. Essa rede,
construída de maneira formal, preferencialmente, ou mesmo de maneira informal, deve ser conduzida
também por pessoas com percepção aguçada e capaz de formular questões que gerem respostas úteis.
A partir das informações obtidas de fontes abertas e da rede, a função análise identifica elementos
predeterminados, forças motrizes e tendências correntes; agrupamento de diferentes visões segundo
padrões de conexão; percebe sinais de mudança, momentos de virada e descontinuidades latentes. Isso
vai além do mero pensamento analítico, e desenvolve habilidades que envolvem imaginação e
criatividade. Afinal, o pensamento linear é insuficiente para projetar cenários da realidade futura
baseados em variáveis complexas, principalmente de ordem social e cultural. É nesse momento que a
informação passa pela sua primeira metamorfose e se transforma em conhecimento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANSOFF, H.I. Estratégia Empresarial. Editora Mc Graw Hill. São Paulo .1988
BURRUS, Daniel ; GITTINES, Roger. Technotrends. Editora Record. São Paulo. 1994
COHEN, David. Não vejo ninguém na minha frente. Revista Exame, nº690, jun.1999, p. 72-75.
DRUCKER, Peter. Sociedade Pós-Capitalista. Pioneira.São Paulo.1993.
GARTNER GROUP. Tecnologia da Informação, Administração do Conhecimento e Tecnologia: chave do
sucesso. Encarte especial da Revista Exame, nº 669, ago. 1998.
PORTER, Michael. Vantagem Competitiva. Campus . Rio de Janeiro. 1989.
SVEIBY, Karl Erik. A Nova Riqueza das Organizações: gerenciando e avaliando patrimônios de
conhecimento. Campus. Rio de Janeiro. 1998.
STEWART, T. A . Capital Intelectual. A nova vantagem competitiva das empresas. Campus. Rio de
Janeiro. 1998.
SCIP. SOCIETY OF COMPETITIVE INTELLIGENCE PROFESSIONALS : www.scip.org .
SHEPPARD, David. The new direct marketing. Irwin. Burr Ridge, Illinois. 1990.
WANG, Paul ; JACKSON, Rob. Database Marketing Estratégico. IDBM. São Paulo. 2000.