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+ ty a bite Rete Pte. | ai “= é MICHAEL ANGOLD BIZANCIO & A Ponte da Antigilidade para a Idade Média Michael Angold BIZANCIO A PONTE DA ANTIGUIDADE PARA A IDADE MEDIA IMAGO. “Tio Orga ‘Byzantumn — The Brige trom Andguty the Mice Agos Copyright © 2001 Michael! Angad Prmeia edi pubtcada na ingiaters ‘em 2001 por Weideriel & Nicolson capa: CiP-bras. Catalogardo-naonte Sinlcate Nacional dos Edores oe Lvos, RU ‘zinc a ponte da antguidade para a dade Mésia/ Michael Angola tragupdo: Alda Porto Santos — Rode Jano: inago, 2002 156 po “Tradugdo de: Byzantium: the biage tom Antiquity ote Mile Ages Inu pblogata SBN 86.912-0807-5 1. Império Bizantno — Ciitzag80 Tks. 2.0489 coo — cou — e406. Reservades todos 0 dros. Nenhuma p te sta obra poder se eproduzda por tocbpia, mirofine, process ftomecsnico ‘04 eletrénico sem permssdo expressa 6a tora, 2002 Tel: (21) 2242-0627 — Fa (2) 2224-6350 Rua da Quitarda, 52/6" andar — Canto 20011-030 — Ria ge Janero— RJ mal mage@inagoedtors com ww imapoedtors com br Impressono Bast Printed in Grazd Sumario Lista de Mustragoes Notas aos Vigjants Mapas A Cidade de Constantino Bizincio A Divisio dos Caminhos A Formacio da Cultura Iskimica Ieonoclasmo Bizantino Bizancio e 0 Ocidente O Tiiunfo da Ortodoxia Normanda: Epflogo Glossério Bibliografia Indice 13 7 28 58 68 87 106 124 139) it 145 | Acabega de Constantino, o Grande Mosaico de Constantino/Justiniano em Sta. Sofia, Istambul 3 Relevo de obelisco mostrando Teodésio I nos jogos 4 As muralhas da cidade de Constantinopla ‘Mosaico da Rotunda, Tessalonica Interior de S. Sérgio c S. Baco, Istambul Interior de Sta. Sofia, Istambul Mosaico da abside de Sta. Catarina, Sinai c@eywaow fone de Cristo de Sta. Catarin: Marfim do Arcanjo Miguel Justiniano ¢ sua corte “Teodora e sua corte Iustragio do Skylitzes de Madsi 14 feone *A Bycada da Virtude” de Sta. Catarina, Sinai Prato de Davi mostrando Davi matando Gol Exterior do Domo da Rocha, Jerusalém hei * ANCL 20. Enerada para o mifrab, Grande Mesquita, Cérdova 21. Interior de Sta. Irene, Istambul 22. Cristo em Majestade, manuscrito de Godescale Evangelistiary stitua-relicdrio de Sainte-Foy 24 Mosaico d a. Sofia, Istambul 25. Mosaico da Igreja do Dormitio, Lznik 26 Mosaico de Sta. Sofia, Tessaloniea 27. Vista do interior da capula de Sta. Sofia 28 Ilustragdo do Saltério de Paris 29. lustragio do Salrério de Paris 30 Paincl de Constantino Porfirogencea 31 Extremidade ocidental da Capela Palatina, Palermo 32 Mosaico da Catedral de Cefalu 33. Campanstio da Igreja da Martorana, Palermo ‘O autor € 05 editores gostariam de agradecer as seguintes instituigées a per- missio para reproduzir as imagens: AKG, Londres, 7; AKG, Londres/Etich Lessing, 14, 16; Ancient Art and Architecture Collection, 9, 10, 19, 26; Art Archive/Dagli Orsi, 2, 3, 11, 12, 20, 32; Art Archive/Bibliothé que Nationale, Paris, 22; Bridgeman Arc Library, 30; Lauros-Giravdon/Bridgeman Art Li- brary, 23; Metropolitan Museum of Art, Nova lorque, 15; Werner Forman Archive, 27. Notas aos Viajantes diterriineo. A melhor época para viajar é na primavera ou no outond. Podem aventurar-se em marco, mas € com freqincia um més frio © ‘huvoso; abril ¢ maio sio apostas mais seguras. O outono encontra-se em sua melhor fase em outubro, mas, com um pouco de sorte, o veranico dura is vezes até bem adentrado novembro. Os monumentos do inicio da Idade Média acham-se em geral muito dispersos, porém varios dos mais bem pre- servaclos ¢ evocativos concentram-se nas cidades de Roma, Ravena, Tessalo~ nica € Istambul, Acivilizagdo bizantina foi muito mais original e criativa do que em geral Ihe ereditam. Suas igrejas abobadadas desafiam em originalidade e ousadia (0s templos clissicos ¢ as catedrais goticas, enquanto os mosaicos competem. "no supremas obras de arte com a escultura clissiea ea pintura renascen= vilizagio bizantina foi em grande parte criagio da cidade de Bizan= Constantinopla, que é de onde precisamas comegar. impressionante transformagao por que passou a cidade nos séculos posterio- 1453 — quando se tornou Istambul, capital do Império Oromano — hilo climinou a cidade bizantina. Como poderia? A just Sofia continua a dominar. A nave com sua gigantesca cGpula ainda nos ator- doa. Muito se tem feito para preservar 0 que restou dos mosaicos bizan nos. © mostico da Virgem com 0 Menino Jesus na abside permanece entre tas maiores obras da arte bizantina. A uma cazoavel distancia de Sta, Sofia, Jocalizam-se outras igrejas justinianas. Nao se pode perder lgreja de S, Sér- io € S. Baco (Kaigik Ayasofya Camii), pela ousadia do plano e pela beleza dos detalhes arquiterdnicos. Em contraste, hi a Igreja de Sta, Irene (Aya Irini Kilisesi), que impressiona pela austeridade, Observe a eruz icono- sta na abside, A igreja hoje fica nos recintos do Palicio ‘Topkapi. Essa tesi= «dancin dos sultdes oromanos sobrevive intacta, mais do que se pode dizer do paldcio imperial bizantino, que s¢ ergue no lado oposto de Sta, Sofia. Quase 6 restou um famoso piso de mosaicos, que se transformou no Museu dos r} rande parte dos fatos descritos neste livro ocorre em torno do Me- Movsaicos (Mosaik Msesi), mas o trabalho arqueolbgico na drea promete revelar mais dos eyplendores do pakicio. Junto ao palicio ficavao hipédromo (At Meydani), onde se faziam as corridas de bigas. Em muitos aspectos, cra ‘centro da vida da cidade. Hoje € um parque, onde continuam de pé alguns dos antigos monumentos, em particular um obelisco egipcio, montado pelos bizantinos numa base que exibia cenas do hipédromo (ou circo). Ainda mais evocativos da primeira cidade bizantina sio os monumentos piblicos. Pr6- ximo A Igreja de Sta. Soffa fica a grande cisterna da Basflica (Yerebatan Saray), construida por Justiniano, Era abastecida por agua trazida pelo Aqueduto de Valente (Bozdogan Kemeri), acima da Atatiirk Bulvari a prin- cipal artéria da moderna cidade, As muralhas de Constantinopla nio devem ser perdidas. Construidas no inicio do século V, sio a suprema realizagio da cengenharia militar romana. Vale a pena fazer uma viagem especial a ponta do mar de Marmara para ver a fortaleza de Yedikule, que abriga o Portio Dourado— hoje trancado —, entrada cerimonial da cidade de Constantino- pla. A pouca distancia, fica o mosteiro de S. Joio Studita (Imrahor Cami) Embora hoje apenas 1uma casea, foi durante mil anos 0 mais espléndido dos ‘mosteiros bizantinos. Ravena ¢ ‘Tessalonica complementam a Constantinopla inicial. A pri meira gaba-se de ter 0 maior conjunto sobrevivente de prédios eclesifsticos do século VI, € conserva intacta a maioria de sua decoragdo em mosaico. Vé-se ai San Vitale, com seus famosos mosaics das cortes de Justiniano € ‘Teodora, ¢ muito mais; San Apollinare Nuovo, com suas procissdes de mart res ¢ virgens — nao percam 0 pequeno retrato de Justiniano como um velho escondido na ponta geste. San Apollinare in Classe, com as lindas colunas de mérmore cinzenta, e a famosa abside em mosaico da Transfiguragie, mos- ‘rando 0s apéstolos como ovelhas e Cristo como uma cruz. Hé os batistérios © 0 mausoléu de Galla Placidia, com o teto cobeito de reluzentes estrclas. Longos trechos das muralhas medievais contintam intactos. Na Via de Roma, vizinha a San Apollinare Nuovo, ainda se pode deduzir a fachada do palicio do governador bizantino. Vale o esforgo da curta viagem ao mausoléu do Rei Teodorico nos arredores da cidade. salonica ndo tem cxatamente a mesma concentragio dos primeiros prédios ¢ monumentos medievais, mas abriga a Igreja de S, Demétrio, de intensa peregrinacao ¢ ainda o nticleo da cidade, que remonta a meados do século V. Sobreviveu a terremotos ¢ a uma sucessio de incéndios. De algum ‘modo, preservou algumas de suas antigas obras medievais em mosaico. A fi- cil aleance de 8. Demétrio ficam a Igreja da Virgem Acheiropoietos (arqueo- poctas), uma primitiva basilica cristd de impressionantes dimensbes; a Catedral de Sta. Sofia, construfda em meados da Idade Média — desajei- 10 — Luda ras intensarnente solida, com vigorovos mosaicos na ubside © na copy |a;6 a Rotunda, vitinna do terremoro de 1978, 4 tlcima foi restaurada © tal= ver, logo seja aberta wo pablico, Embora construida originalmente por volta de 300 d.C, como mausoléu do Imperador Galério — notdrio perseguidor {los cristios —, foi mais tarde transformada numa igreja, quando se acres= entaram 08 mosaicos de ouro exibindo um calendério dos sance ao longe, entre as serpeantes alamedas que levavam até a véese a pequena Igreja de Osios Davi, famosa pelo mosaico da abside mos {rando Cristo em sua gléria, Data do século V ¢ 6, se nfo o primeiro, o mais ‘nitigo dos mosaicos de abside a ter sobrevivido, Uma ingreme subida os levarii ao circuito superior de muros que datam mais ou menos da mesma época. F quase imposstvel fazer justiga a Roma em poucas palavras. A antiga cidade medieval [4 est, mas yoeés precisam procuri-a, porque € obseure- cia por acréscimos posteriores. Uma maravilhosa excegio sio as ruinas de Santa Maria Antiqua, no sopé do Monte Palatino. Seus suntuosos afrescos dio uma indicagio da riqueza da primitiva decoragio medieval. Foram pre- servadas porque um deslizamento de lama as cobriu no séeulo IX, sendo ‘mil anos depois. Vocés na certa hao de visitar o Pancedo, mas foi conseqiéneia de haver sido transformado redescoberta que sua sobrevivéni inta Maria ad Martyres (Rotunda), que se tornou uma das grandes igrejas de peregrinagio da Idade Média. Os peregrinos aflufam para venerar um icone da Virgem Maria, doado por um imperador bizanting fo inicio do século VIL Igrejas como Santa Maria em Cosmedin e, em partie ‘cular, San Prassede, que pouco foram alteradas, Ihes dario uma boa impres= dos templos de peregrinagao da época. Nao deixem de visitar as criptis, {quias recothidas das catacumbas. Mas hé muito onde se deposicaram as r mais Vio encontrar, mais que em qualquer outro lugar, antigos locais © pré= dios: medievais espathados em torno da Siria, da Palestina © de Israel embora menos acessiveis. Pakicios, aldeias, cidades de feira desertas ¢ cid Jas ostentam inGimeras igrejas, Todos os que se interessam pelo inicio do islamismo nao devem perder a Grande Mesquita em Damasco ¢ 0 Domo dit Rocha em Jerusalém. Se tiverem oportuniclade, visitem o mosteito de Sta. Catarina no sopé do Monte Sinai. Construfdo pelo Imperador Justi> ‘iano como mosteito fortificado, preservou seu mosaico da abside mostran= doa Tiansfiguragio, Foi um importante local de peregrinagio, « principio por causa de suas associagdes com Moisés, mais tarde devido ao culto de Sta, Catarina de Alexandria, famosa por ter sido torturada na roda, des arrui niZANEIO AS ocorreram no ini ia normanda di-nos a oportunidade de rever as mudang i0 da Idade Média. A maioria dos monumentos s tra dentro © em torno do centro de Palermo. O Pakicio Real é 0 ponto de par- tida, $6 uma dependéncia do paicio normando —a Sala di Ruggero — foi preservada, mas vale ser vista. [ imperdivel a capela do palicio, Mistura mosaicos bizantinos, arquitetura italiana ¢ artesanato mugulmano, criando lum conjunto estonteante, Nao percam o arruinado mosteiro de San Gio- vanni degli Eremiti, préximo. Saindo do pakicio, fica a catedral, Embora construida em fins do século XII no local da principal mesquita, foi desde ento muito alterada, Abriga os vimulos de pérfiro dos rei normandos essores, Continuem descendo até a principal rua de Palermo ( Maqueda). Logo & dircita, fica uma praga dominada pelas igrejas de San Cataldo e Santa Maria dell’Ammiraglio (a da Martorana). A primeira pode ser apreciada por sua austera arquitetura, a dltima por seu campandirio ¢ des- lumbrantes mosaicos. Saindo do Palicio Real acima, na Piazza Indepen- ddenza, tomem um dnibus que os levaré num eurto traictoa La Cuba, um dos palicios mouros dos reis normandos e, mais distante, a Monreale — cerca de meia hora de 6nibus —e sua estupenda catedral. Impressionante, a decora- «gio original em mosaico esté quase intacta. Nio percam o claustro. Ha muito mais ao lado para se ver em Palermo e ao redor da cidade, incluindo vérias igrejas no caracteristico estilo siciliano normando, Sem a menor divids, vale 0 esforco de ir até La Zisa, o mais impressionante ¢ bem-con- servado pakicio mouro dos reis normandos. Mas, acima de tudo, é impres- cindfvel ver Cefalu — a uns quarenta minutos de trem de Palermo: um maravilhoso cendrio no litoral ¢ uma caredeal que de algum modo harmoniza a arquitetura francesa do norte com os mosaicos bizantinos. ” 2 y | 2s De S ey XI V ILA SOTNOE! OFNVANALIGAW OGN! oO aa ‘SRIVZVEN — —————e—e CAPITULO UM A Cidade de Constantino 16m a chave do desenvolvimento dos primérdios do mundo medieval, ue viu a unidade ceder divisio; que viu Bizincio perdera predomi= ‘ilinela cultural ao enfrentar novos adversérios em forma do Isl ¢ do Oei~ Mente latino. Para entender como perdeu sua soberania cultural, precisamos Jwimeiro determinaro modo como a obteve desde o inicio. O ponto de pilt= {id € 4 (ransformacao do mundo clissico que preparou o caminho purl A dtle Média. Bizaincio era o cadinho, ¢ seu desenvolvimento, portant, ef cial, B inincio, em todos os seus sentidos, est no centro deste livro. Gon- Birdncia era uma antiga polis gregs, ou cidade-cstado, as mangers dB: story, jamais de grande importancia na antigiidade. Mas isso mudou quan loo Imperador Constantino, o Grande (306-87), a restabeleceu como No= Ya capital imperial e a rebatizou como Constantinopla—a cidade de Cons> {wicino —em sua propria homenagem. Devia servir como uma nova Roma, a Jiartirda qual o Imperador podia inspecionar as mais vulnerdveis fronteitas Wy império, que se estendiam ao longo do Dandbio e do Fufrates. A decistio de situar o ndcico da autoridade imperial as margens do Bésforo teve Obvius Anpilieagéies para o relacionamento entre as duas metades do império. Se no fim apontou para a divisdo, a principio deu esperangas de que a cidade se {oniasse um novo centro de unidade para o mundo romano. Esse foi oideal {que inspirov mais tarde Justiniano I (527-65), mas realizado apenas em par= 4e. Fim ver dle unidade renovada, a transformagio da ordem romana em tomo dle Bizancio criow uma nova entidade, 3 qual € adequado referir-nos ‘como Império Bizantino. Tiata-se de uma denominagdo que visa a destacar ‘ue tanto 0 Império Romano quanto o proprio povo eram diferentes de seus {pieetimores romanos — nao importa que os bizantinos © chamassem quase de Império Romano, ea si mesmos de romanos. A esséncia da distin= Fe romano e bizantino deve ser enconcrada na sede do governo, & de Bizdncio, onde se forjaram de antigos elementos uma nova cultura aHeANCIO. O primeiro ¢ essen il passo foi a fundago de uma nova capital. O que foi complementado pela obra de Justiniano, ao mesmo tempo como legisla- dor e construtor, € simbolizado pela Igreja de Sta. Sofia, que apac 0 indel vel selo justiniano em Bizancio. A capital ea civilizagdo assim criadas extra tam importincia adicional da forma como eram vistas, uma agradecida ofe- renda a Mae de Deus, que, segundo a fervorosa crenga, as salvaguardava. Os bizantinos eram 0 povo eleito do Novo ‘lestamento, os novos israelitas; Constantinopla, a cidade guardada por Deus, a nova Jerusalém. A civilizagio bizantina era impregnada da crenga no favor ¢ vigilancia divinos. Em seu Jimago, havia um processo de reagio e interagio entre a capital, o cargo imperial e a Igreja e FE cristis. Os padrdes constituidos determinaram a forma adquirida por elementos herdados do passado cristo, romano e helé- nico: 0 que seria preferido ou descartado, que combinagdes seriam feitas. A civilizagao bizantina era imperial, crista e metropolitana, Mas essa civilizagdo nao brotou plenamente formada da cabeca de Cons- tantino. Ele muito fizera para fortalecer © componente cristao na ordem romana em termos de organizagdo e bem-estar material, mas por ocasido de sua morte, em 337, sua realizacdo ainda parecia vulnerivel. O cristianismo revelou um talento para a divergéncia que a perseguigio ocultara, além da relutancia em aceitar toda a intimidade do abraco imperial. Individuos podem dar inicio a uma dristica mudanga, mas esta precisa de instituigdes — estados ou cidades — para levi-la at€ 0 fim. A cidade de Constantino & que levaria sua obra de cristianizagao do império a um desfecho bem-su- cedido, Contudo, quando ele morreu, construira-se apenas metade da cidade; 0 foro ¢ as ruas em arcadas tinham sido erguidos as pressas; € conce= bivel que seu verdadeiro cariter, ainda nfo definido com clareza, houvesse mortid com ele. 0 fato de isso no ocorrer foi obra de seu filho Constancio (337-61), a ‘quem haviam sido legadas Constantinopla e as provincias orientais por oc sido da morte do pai. Seus dois irmaos receberam respectivamente as pro- vincias ocidentais e centrais do império. Foi a receita para uma série de guer- ras civis, das quais Constincio emergiu vitorioso. A vit6ria confirmou Cons- tantinopla como a capital imperial. Constancio ampliou os planos do pai para a cidade, Aumentou suas pretenaées de ser a nova Roma, dando-Ihe um senado equipardvel ao de Roma. Coneluiu a Igreja dos Santos Apéstolos, que foi o mausoléu do pai. Enfatizou 0 aspeeto cristo da cidade, construindo a primeira Igreja de Sta. Sofia para servir de catedral da cidade. Em 360, a cidade atuou como anfitrid de um Coneflio Geral da Igreja convocado por Constiincio, que buseava com isso elevara Igreja de Constantinopla ao status patriarcal, Acabou-se revelando prematuro, pois o coneiio foi mais tarde - w A CIDADE DE CONSTANTIN repudiado, sob a alegagio de que ele 0 usava para promover uma forma de outrina ariana, jd condenada como heresia por impugnar a total divindade de Grist. ‘Aimorte de Constincio, em 361; seguiu-se um perfodo de confusio que ou a posigio especial de Constantinopla. Constancio foi sucedido pe- Jo sobrinho Juliano, um pagio que odiava a nova ordem erista, para ele sim bolizada pelos lacaios da corte imperial em Constantinopla. Antioquia satis- fazia mais seu gosto, embora ele morresse em 363, em campanha contra a Wo de ser Alexandre, 0 Grande. Em conseqiéneia de sua hhouve uma divisio do império, com as provineias orientais acabando nas mos de Flavio Valente (364-78), outro que ndo tinha 0 menor amor por Constantinopla. Também ele fez de Antioquia a sede do império, melhor para controlar fronteira persa. O que significou deixi-lo sem contato coma sitwagio ao longo do Dandbio, onde o repentino aparecimento dos hunos levara 0s visigodos em panico a procurar refigio em solo romano. O assenta- ‘mento deles foi mal administrado. Os visigodos s¢ rebelaram c capturaram Valente e seu exércico em Adrian6polis, em 378.0 Imperador foi morto. Um desastre total, que impeliu os visigodos até bem proximo de Constantinopla € wmeagou suas pretensdes de ser a capital imperial Mas a obra de Constantino ndo fora em vio, Forneceu a base em que pode trabalhar o homem enviado do Ocidente para salvar a situagio, Chama- va-se Teodésio (379-95). De origem espanhola, era um bom general ¢ um catolico devoro. Sua primeira medida, assim que conteve a ameaca visigoday {oi eonvocar:a Canstantinopla um Concilio Geral da lgreju em 381. O principal objetiva era confirmar que o ramo earélico do cristianismo era a ortodonia accita, A forma ariana foi proscrita e Teodésio depois decretou uma lei que tornava a nova ortodoxia a religido do Império Romano. Dai em diante, ‘romans © Christians catholcas passaram a sex intercambidveis, Mas 0 concilio de 381 fez mais que impor o catolicismo a Igreja universal, Na verdade, ele vou a Igreja de Constantinopla a0 status patriarcal, Recebeu a mesma classi- ficagio da lgreja de Jerusalém, acentuando que Constantinopla no era ape= iw a nova Roma, mas também a nova Jerusalém. Apesar da falta de origens apostOlicas estas terium de sercriadas,em forma da lenda de Santo André =, Constantinopla inismo. feodésio fez mais que apenas garantir que a Igreja de Constantinopla Aivesse status patriarcal, Recomegou a obra de construgio, deixada mais ov ‘menos suspensa desde a morte de Constincio, vinte anos antes. Como Constantino, construiv pati mesmo win foro. Inavgurado ao longo da "Aves frida Imperial, a Mesa, wns quattientos mecros a leste do de Constantino, = icluiu-se na categoria de tim dos prineipais centros do a. foi embelezado com uma grande areada de triunfo. No centro do foro, ‘erguia-se uma imensa coluna, no topo da qual se fixou uma estitua de prata de Teodésio, Outra forma de apor seu selo em Constantinopla foi a ampliae <¢io do hipédromo, onde 0 imperador e os eidadios se uniam no prazer da corrida de bigas. Teodésio mandou trazer um obelisco de Karnak no Egito e instalou-o no cixo central, a sping, do hipédromo. E mandou decorar a base com varias cenas, como o imperador € sua familia assistindo a corrida do camarote imperial ¢ recebendo tributo de povos derrotados. O hipédromo proporcionava um palco no qual se podiam renovar continuamente os lagos gue vinculavam o imperador ao povo: em pé no camarote imperial cle apre~ sentava-se a0 povo e recebia aclamagdes. O papel da populaca no era intei- Famente passivo, pois 0 imperador as vezes tinha de ficar em pé € ouvir 0 relato de suas queixas, sendo imprudente ignoré-las. Levaria tempo para que relacionamento doimperador com o pavo ficasse claro, ma atengio para a importincia do hipédromo, Teodésio ajudou a ini e880 pelo qual o cargo imperial se enraizou na sociedade da capital, Sob 0 patrocinio de Teodésio, inaugurou-se um novo periodo de cresci- mento. Um orador da corte da época observou que a frca construfda entre as, muralhas comegava a exceder os espagos abertos, e passou-se a recuperar a terra do mar para fins de construcio. Afinal, em 412, 0 governo do neto € homénimo de Teodésio construiu uma fileira de muros, que continua de pé, cerca de um quilmetro ¢ meio a oeste das muralhas de Constantino. Talvez se tenha acrescentado um ergo area da cidade. Um contemporinco obser- You que a populagio da nova Roma comegava entio a ulerapassar da antiga. Portanto, podemos pensar em termos de uma populagio de pelo menos um ‘quarto de milhio. aoatraira 0 pro ACIDADE ADQUIRE FORMA Constantinopla comegava a assumir sua forma caracteristica, Era cortada por duas avenidas principais. Partindo do Portio Dourado, a entrada cerimonial a cidade, préxima a extremidade norte das Muralhas de Teodésio, ¢ 0 Por- to de Carisio, perto da ponta sul, encontravam-se no Foro de ‘Teodésio © continuavam a leste pelo Foro de Conscantiny avé a Augustaion. Essa praga «rao centro do império. Dominava-a uma coluna de pérfito ostentando uma estdtua da Augusta: mae do Imperador Constantino, Sta. Helena, descobri- dora da verdadeira cruz. A entrada, ficava 0 milion, ou marco milidrio, Em forma de arco de triunfo, dali eram medidas as distancias para todos os pon- ‘0s nos limites-do império. Todos os caminhos Ievavam entio a nova Roma, —ATDADE DH CONSTANTINO como enfatiza 0 mapamdndi posto no milion por ordem de ‘Teodésio UL (408-50), Disteibuidos em torno da Augustaion, erguiam-se a Catedral de Sta. Sofia; a casa do Senado; 0 Portio Chalke, ou Metilico, a entrada cerimoe ‘nial do palicio imperial; e, perto, o hipédromo. Todas as principais institul= bes do Império ficavam ao redor da praca. Os visitantes oficiais de Constan- ‘inopla percorriam a grande avenida da Mesa, que se abria a intervalos em imensas pracas, até acabarem. aps uma viagem de quase seis quilimetras, fentrando no sancusirio final da Augustaion. Causava imensa impressio mes mo nos anos dle declinio do império, quando os grandes monumentos se uwchavam em ruinas e grandes trechos da cidade abandonados. Mas no séeulo V, quando tudo era original, o efeito devia ser esmagador. Se tentarmos foeriar na mente a cidade de Constantinopla, as grandes pragas pablicns, ‘com suas colunas, estituas, arcos de triunfo e arcadas, lembrariam uma fane istica paisagem urbana neocléssica. Os aspectos caracteristicos de Constantinopla eram suas arcadas eo js Cescadas monumentais. Um inventério oficial dos monumentos dit eidade feito no inicio do século V relaciona nada menos que 52 arcadas € 117 ‘escadlas. A configuragao de Constantinopla — um cume central precipitant do-se dos dois lados em abrupto declive para a gua — exigia escadatlis Jeyundo de um patamar a outro. Sua importancia para a vida da cidade ef sseentuada pelo fato de serem o ponto de distribuigio da ragio de trigo: cans sistia cm uma assisténcia didria de seis formas de pio a que tinha direito cada cidadio livre. A parte as principais avenidas, as pragas piblicas, as areas {das comerciais ¢ as monumentais escadas, pouco havia em termos de planeé= Jjamento. Via-se um acentuado contraste entre a ordem que caracterizava a face publica ¢ cerimonial da cidade e falta de ordem evidente no desenvol= vinento privado. Igrejas, mansbes, cortigas ¢ lojas eram construfdos aleatos fiamente num labitinto de vielas que desembocavam nas prineipais vias pdblicas. Leis proibiam a construgio de prédios privados em espagos public ‘808, ou tegulamentavam a alcura permitida dos blocos dos eortigos, © a diss tinjeia permissivel entre cles de algum modo realcava o ca6tico desenvolvi= mento de uma grande cidade, que por volta do inicio do século V exescia ‘organicamente; deixara de ser a criagao artificial de um grande imperador, Constantinopla cra uma cidade de bairros. Estes surgiram muito répido desde a época de Teodosio 1. Um surpreendente némero deles tomou 0 ‘nome de homens que se haviam projetado no governo de ‘Teodésio I, © nos de seu filho e seu neto. A origem desses bairros na certa deve ser encontrida ‘04 propricdade pertencente bs pessoas em quescio. Talver se teatasse de iia preocupacio de tornara terta luerativa pela construgio, mas é mais pro- vivel que esses baitros Nir Wo redor day residéncias das gran: a... wakneve, des familias respectivas. Podemos ter uma idéia de como eram por um inventirio, feito em cerca do ano 400, das propriedades que pertenciam a uma das herdeiras de uma das mais influentes familias da época. Chama- va-se Olimpia € era neta de um ministro de confianga do Imperador Cons- tancio. Hetdou propriedades perto de Constantinopla, além de outras di persas pela Tracia € pela Anatétia, que Ihe forneciam a maior parte de sua renda, © que ela administrava de sua residéncia préxima a Igreja doa Santos Apéstolos em Constantinopla, Também era proprietéria de outro complexo de iméveis na capital, junto a Igreja de Sta. Sofia. Consistia nao apenas em uma tesidéncia com banhos privados e uma padaria, mas também nos pré- dios circunvizinhos, alugados como oficinas, lojas © cortigos. Grande parte dda atividade da drea era voltada para o suprimento das necessidades de sua esidéncia, Um detalhe revelador sugere que os habitantes do lugar viam Olimpia como uma protetora: ela controlava varias cotas da assisténcia de piio que, com o passar do tempo, fora ficando cada vez mais sob o controle dos ricos e poderosos. Isso indica os lagos de clientelismo como um aspecto da criagio dos novos bairros. No caso em particular, o complexo foi usado por Olimpia para fundar um convento, 0 que explica como em alguns exemplos as fundagdes mondsticas surgiram no centro de varios bairros. Outro bom exemplo € 0 mosteieo de S. Joao Studita, ainda de pé,em estado de ruinas, no longe do Porto Dourado. Foi fundado em meados do século V por Stu- dita, homem imporcante o bastante para ter sido cdnsul. A partir do reinado de Teodésio, os mosteiros desempenharam conside~ rivel papel na criagio da estrutura da cidade. Monges © mosteiros se torna- riam uma caracterfstica da cidade cristd medieval, mas Constantinopla pa- rece nese aspecto ter-se antecipado aos fatos. Os primeiros monges de Constantinopla se haviam inspirado num ideal que os diferencia dos mon- ges do deserto egipcio: nao desejavam levar vidas que 0s isolassem da vida quotidiana; a0 contririo, visavam a manter viva a ética erista na sociedade secular, © meio mais pritico que thes possibilitou fazer isso foram as obras de caridade. Esse ideal ajudou a moldar 0 cardter do monasticismo de Cons- tantinopla. Embora com muita frequéncia fundados pelos ricos e poderosos, (0s mosteiros da capital cuidaram das necessidades dos pobres e permanece- ram como agentes do ideal de caridade crista. Sua obra ajudou a favoreeer a estabilizagio da sociedade numa época de répida expansio, quando imigran- tes procedentes das provincias aflufam em massa a cidade. Era “uma cidade nna'Tricia que enriquece com o suor das provincias”, segundo um contempo- rineo de Antioquia, Por(intetmédio dos mosteiros, desviava-se uma parte da Fiqueza das grandes familias para fins de assisténcia social. Os mosteiros tiveram, desde 0 inicio, uma funcio fundamental em Gonstantinopla, como 2 i. en | CIDADE DE CONSTANTINO, mediadores entre 0s reas © 0s pobres. Os monges sempre foram uma pode ‘os forga na capical, capazes de opor-se a imperadores e desafiar patriarcas. Horam parte integrante do crescimento de uma nova capital erist, onde a autoridade imperial adquiriu um cardter mais rico € eomplexo pela asso- ‘einglo. com uma sociedade viv ‘A etiagio de uma nova capital inverteu as tendéncias em andamento sesde o século IIT cm virtude da negligéncia imperial de Ruma. O progres- sivo abandlono de Roma como o centro de operagdes imperial significara a perda de definigio da cultura oficial de fins do Império Romano ea conse- ‘liente dificuldade de entendé-ta, Os efeitos sio dbvios na arte imperial da poea, que tentou desvincular a autoridade imperial do espago e do tempo. Sem uma pr6pria, « auroridade imperial perdeu contato com a reali shase. Esse contato foi aos poucos restaurado a partir da virada do século IVa ‘medida que a autoridade imperial passou mais uma vex a enraizar-se numa ‘capital nava, mas fervorosamente crista. Isso exprimiu em termos draméti« ‘605 um importante problema: coma a eristianisme nutoridade imperial? RELIGIAO E POLITICA (Os imperadores romanos haviam cada vez mais adotado a idéia helenistica le que o imperador participava do divino. Era o ponto de intersegao entre a divindade suprema ca sociedade romana, A conversio ao cristianismo exigiu algumas modificacdes. Constantino, o Grande, reve de definir com mais cla- posigia. Afirmava ser “igual aos Apéstolos” e “amigo de Jesus Cris- to". Queria injetar uma dimensio pessoal em seu relacionamento com Gristo. Alguns estudiosos detectaram um elemento de auto-identificacio. Sem ddvida, houve um qué de escandaloso no plano de Constantino para seu mausoléu na Igreja dos Santos Apéstolos, onde ele seria enterrado, ro- tleado por reliquias dos discipulos de Jesus. Uma pretensio ao status de se- Inidivinoajuda a explicara oposigfo que Constantino teve de enfrentar den- {ro da Igreja,liderada por Atandsio, Patriarca de Alexandria (328-73). Atand- sio era um paladino da autonomia da Igreja, e ressentia-se do que via como uma interferéneia em scus assuntos. Embora mandado para 0 exilio, conti- ‘uow sua oposigio sob os sucessores de Constantino, com base em que cles haviam adotado o arianismo, uma forma herética de cristianismo com que Constantino andara brincando em seus Gitimos anos. Teodésio | abandonou ‘4 posigio religiosa de seus antecessores © accitou a linha ortodoxa, ou caté- lies, que fora defendida por Atwnisio, Aprendeu a prépria eusta 0 qui es §5§_—santi significava quando the recusaram a comunhao por agées julgadas prejudi- ciais& Igreja, No ato talvez mais alijador de todos, Ambrosio, Bispo de Mili, Fecusou-the a comunhdo depois que o Imperador ganhou uma grande bata- tha, que libertou o Império do Ocidente de um regime paganizador. O Bispo disse que Teodésio devia expiar o sangue humano que derramara. Foi uma demonstragio de que nem um imperador era imune a autoridade moral e aos poderes de disciplina exercidos pela Igreja, 0 que deve ter apressado a morte de Teoddsio alguns meses depois. Atelagio entre autoridade imperial e espiritual ia ser sempre intratavel A experiéncia de Teodésio sugeriu que 0 cargo imperial se achava entio sujeitoa supervisio moral e espiritual da Igreja, e nio mais podia arvorar-se a star em contato direto com o divino. Por um momento, pareceu proviivel que 0 Imperador ia perder toda a iniciativa nas questoes eclesidsticas. Se isso nio ocorreu, foi em conseqéncia da alianga que se estabcleceu entre 0 Imperador e seu patriarca em Constantinopla. Nao era exatamente tio sim- ples quanto o patriarca atuar como o agente do Imperador nas questies rel ‘giosas ou o Imperador agir como o protetor do patriarca. Sempre existiu um elemento de ensaio c erro na relagao entre o imperador eo patriarca, que no inicio do século V concinuava tendo de ser trabalhado. O patriarcado de Joao Griséstomo (398-404) foi crucial nesse aspecto. Estabeleceu um padrio de cooperagio, contlito € reeriminagio. Criséstomo foi uma figura carismética, o maior pregador de sua era. A in= flugneia que exercia na cidade confirmou-se quando, em 399, cle sublevoua plebe contra os mercenérios godos aquartelados em Constantinopla. A pre- senga deles era um insulto a ortodoxia. Era um dever do povo sublevar.se © rechagé-los. Foi a primeira demonstragdo de uma caracteristica da histéria de Constantinopla: a estreita relagao entre religido e politica. Nao foia nica forma pela qual Crisésromo indicou 0 caminho para o progresso. As exigen- cias de status patriarcal de sua jgreja haviam surgido do Coneilio de 381, mas grande parte dos privilégios que recebeu ainda era honorifica. Foi ele quem tratou de transform-los numa coisa mais concreta. Estendeu a urisdigao de sua igreja a Tracia a Anatélia, Também tencou intensificar sua forga finan- ceira, procurando conquistar o controle das ricas instituigées de caridade da cidade, O que Ihe rendeu a inimizade dos monges que proviam esses lugares de pessoal, Criado na ascétiea tradigao do monasticismo sirio, Crisdstomo aachava as atividades dos monges de Constantinopla uma perversio do ideal ‘mondistico. Queria-os expulsos da cidade. O desfecho dessa luta mostrou ‘que: 0s monges represcntavant uma forga independente na vida da capital. ponto de partida foi uma disputa no patriareado de Alexandria, sub- ‘metida ao debitro do Imperador Areddio (395-408). O Imperador mandow u _,. aia. _— 111 CONSTANTIN ke ‘chamar Gris6scomo para uma decisio, Arcddio parecia supor que a igreja da ‘capital imperial se tornava um cribunal de apelagio para os casos vindos de ‘outras igrejas. A implicagao era a de que a Igreja de Constantinopla exigia uma primazia dc jurisdigio sobre a Igreja em geral. Criséstomo opds-se 108 sdesejos imperiais ¢ com muita corregio recusou a miss, alegando que esta fin exeedendo seus poderes. Logo perdeu o apoio da corte imperial, que viu su ago como uma eraigéo de confianga. Gragas ao apoio dos monges, prevaleceu avantade imperial. Os monges foram entdo fundamentais para destituir Crisdstomo do cargo. Exilaram-no um drama que foi ainda mais intensificado pela completa destr ‘Sta. Sofia por um incéndio. O curto patriarcado de apenas seis anos de Ci séstomo antecipou quase rodos os aspectos das relages Igrcja-cstado em Biéincio. Um relacionamento dinimico, muitas vezes explosivo, que envol- via tanto © povo quanto os monges da capital. Contudo, as tempestuosas jenas que cerearam a deposigio de Criséstomo revelaram os perigos de um confronto entre o imperidor eo patriarea, ¢ enfutizaram como eta necesséria ‘1 eooperagio deles para um correto governo imperial, Isso passou a ser ‘essencial para a ideologia do Império Romano cristio, que eontinuava em plena claboragio. Um importante passo foi tomado em 415, quando o impe- rador © 0 patriarca se uniram para mais uma vez consagrar a fecém-cons- truida Igreja de Sco. Sofia, Havia, ¢continuou havendo, muitas contradigées na idéia de um Impé- rio cristio, Bram atenuadas pela maneira como o imperador mostrava uma face diferente segundo o censrio. Na patriarcal Igreja de Sta. Sofia, o impe- rador e 0 patriarca reconheciam suas obrigagdes miituas. © lado secular da autoridade imperial era exibido no hipédromo, onde o imperador se unia a seu povo em comemoragdes de vitdria, No pakicio imperial, cle era a perso- ilo da majestade terrena, a encarnagao da lei, o herdeiro do Imperador Augusto, mas também 0 legatério da conversdo de Constantinopla aoc nismo. Bra a que se via com mais obviedade o imperador como o vice-re- gente do Deus cristo na terra. O palicio imperial de Constantinopla rece- ‘eu, portanto, um cunho cristao especial, Sob a Imperador Teodésio Il (408- Fia.a $e tornar uma cesouraria de reliquias. O espirito instigador mi do Imperador, Pulquéria. Bla trouxe a Cruz de Constan- ‘ino para dentro do palicio como um palidio de vit6ria, e mandou que se depositassem as reliquias de Sto. Estévio numa capela que construira espe- cialmente para isso. Transformaro palicio imperial num santudriocristdo foi lum meio de adaptar a auroridade as suscetibilidades cristas. A arte imperial extrala grande parte de seu poder do cerimonial, que oferecia o sentido ¢ 6. contesto, ‘Timber podia plasmar a autoridade impe- Fialem tum momento importante. Desse modo, era possivel usar a arte pa dissemind-la em favor das finalidades do império. Os retratos imperiais foram eolocados em locais piblicos por todo 0 império, ¢ era normal prestat ‘as mesma honras tanto a imagem quanto a pessoa imperial. Usava-se a arte para concentrar ¢ transmitir o poder imperial, Era um meio de comunicar a omplexa ideologia imperial que enfatizava a aprovagao divina, 5 cidadios de Constantinopla orgulhavam-se da magnificéneia do pa Hicio imperial, que era um sinal do favor divino. Isto se achava no amago da identificagio entre o império e a capital que era um aspecto to importante da idcologia bizantina. Nutria o senso de importiincia pessoal dos cidadios ¢ tert. a causa de ressentimento em outras partes. Suscitava a questio do novo wats da nova capital em relagdo no apenas ao impétio, mas também. Igeeja ‘em geral. Os antigos centros estabelecidos do eristianismo, como Antioquia, Mlexandria © Roma, viam a Igreja de Constantinopla potencialmente como um instrumento de controle imperial da Igreja universal. Seu prestigio ficou ‘ho momento limitado pela falta de boas origens apostélicas e por ndo conse~ guir estabelecer qualquer posicdo doutrinal distinta, em contraste com Ale xandria, Antioquia e Roma, na chamada disputa cristolégica. Esta girava em tomo da questo de como se relacionavam as nacurezas divina e humana de “risto. Alexandria favorecia uma solucdo monofisista, que admitia em Cris- to a fusio das duas nacurezas em uma s6. Roma ¢ Antioquia queriam manter uma distingio, para que a humanidade de Cristo no devorasse sua divin- dade. A Igreja de Constantinopla viu-se cothida no meio. Em termos teol6- Bicos, cla valia muito pouco em comparagio com Roma e Alexandria, Em 451, 0 Papa Ledo I (440-61) usou todo peso da influéncia de Roma para eonvencer a eorte de Constantinupla a convocar outro Concilio Geral da {greja a fim de resolver 0 problema. O encontto realizou-se em Calcedénia, bem defronte de Constantinopla, do outro lado do Bésforo. Cristo, deci diu-se entio, existia “em duas naturezas, distintas mas insepariveis”: a de homem perfeito ¢ a de Deus perfeito. Isso correspondia aos ensinamentos do Papa Leio I ¢ foi uma vitéria para Roma, Calced6nia resolveu muito pouco em longo prazo. & ficil remontar as divisdes posteriores do mundo medieval as origens dessas disputas do inicio do século V. O Ocidente, sob a lideranga de Roma, parecia estar assumindo ma determinada identidade religiosa, assim como as provineias orientais sob Alexandria, Até entao, Constantinopla nio tinha qualquer vor distintiva. Criava, em vez disso, uma fungio distintiva, Seu papel era conciliar; promo- ver a unidade eclesidstica(comp um fundamento essencial da autoridade imperial. Parceia de certa forma correto que o patriarca de Constantinopla assumisse o titulo de patriarea ecuménico. 26 © A TIDADE DE CONSTANTINO: Em meados do séeulo Vj Constantinopla jf surgira como uma grande cidade, em termos de tamanho ¢ influéncia, provavelmente 0 mais poderoso jgentio do mundo romano, Lembrando-se de que um século.e meioantes era uma obscura cidade da Tricia, sua emergéncia como a capital imperial foi ‘ein todos 0s sentidos perturbadora. Era uma criagao artificial. $6 na virada do séeulo IV Constantinopla adquiriu existéncia propria, baseada numa ombinagio de erescimento organic com sim papel ideolégico. Comecou a criar um dinamismo capaz de transformar a ordem romana, embora a natu- fe24 ea extensio dessa transformagio continuassem ainda longe de fica cla- fp. O ideal era preservar a unidade do mundo romano em torno dessa nova Capital, mas dane das dvses exes e ds queda do Império do cidente para os barbaros, parecia que Constantinopla talvez nio tivesse 0 Sucessores, o legado de Constantino continuava vulnerivel. E possivel vis lumbrar em meados do século V as feigdes de Bizancio, mas ainda thes falea lara defini ill CAPITULO DOLE Bizancio

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