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Este primeiro devedor somos nós mesmos; a nossa dívida para com Deus é
tão grande que nos é impossível pagá-la. Devemos-lhe o benefício de nos ter
criado, preferindo-nos a muitos outros que poderia ter chamado à existência
em nosso lugar. Com a colaboração dos nossos pais, formou-nos um corpo,
para o qual criou directamente uma alma imortal, irrepetível, destinada a ser
eternamente feliz no Céu junto com o corpo. Estamos no mundo por um
expresso desejo seu. Devemos-lhe ainda a conservação na existência, pois
sem Ele voltaríamos ao nada, como lhe devemos as energias e as qualidades
do corpo e do espírito, a saúde, a vida e todos os bens que possuímos.
Acima desta ordem natural, estamos em dívida com o Senhor pelo benefício
da Encarnação do seu Filho, pela Redenção, pela filiação divina que nos
outorgou, pela possibilidade de participarmos da vida divina aqui na terra e
mais tarde no Céu, com a glorificação da alma e do corpo. Devemos-lhe o dom
imenso de ser filhos da Igreja, na qual temos a alegria de poder receber os
sacramentos e, de modo especial, a Sagrada Eucaristia. Na Igreja, pela
Comunhão dos Santos, participamos das boas obras dos outros fiéis,
recebemos a todo o momento incontáveis graças provenientes dos outros
membros, dos que estão em oração ou daqueles que oferecem a Deus o seu
trabalho ou a sua dor... Também recebemos continuamente o benefício dos
santos que já estão no Céu, das almas do Purgatório e dos Anjos. Tudo isto
nos chega pelas mãos de Santa Maria, nossa Mãe, e em última instância pela
fonte inesgotável dos méritos infinitos de Cristo, nossa Cabeça 2, nosso
Redentor e Mediador.
Na verdade, somos uns devedores insolventes, que não temos com que
pagar. Só podemos adoptar a atitude do servo da parábola: O servo,
lançando- se- lhe aos pés, suplicava- lhe: Tem paciência comigo, e eu te
pagarei tudo. Como somos filhos de Deus, podemos aproximar-nos d’Ele com
uma confiança ilimitada. Os pais não se lembram dos empréstimos que um dia,
por amor, fizeram aos seus filhos pequenos.
“Chama-lhe Pai muitas vezes, e diz-lhe – a sós – que o amas, que o amas
muitíssimo!: que sentes o orgulho e a força de ser seu filho”3.
O nosso irmão mais velho, Jesus Cristo, paga de sobra por todos nós.
III. AINDA QUE TODA A MISSA seja acção de graças, esta ressalta
especialmente no momento do Prefácio. Num especial clima de alegria,
reconhecemos e proclamamos que na verdade, ó Pai, Deus eterno e
todo- poderoso, é nosso dever dar- vos graças, é nossa salvação dar- vos
glória, em todo o tempo e lugar, por Cristo, Senhor Nosso.
Em todo o tempo e lugar... Esta deve ser a nossa atitude perante Deus: ser
agradecidos em todo o momento, em qualquer circunstância, também quando
nos custe entender algum acontecimento. “É muito grato a Deus o
reconhecimento pela sua bondade que denota recitar um «Te Deum» de acção
de graças, sempre que ocorre algum acontecimento um pouco extraordinário,
sem dar importância a que seja – como o chama o mundo – favorável ou
adverso: porque, vindo das suas mãos de Pai, mesmo que o golpe de cinzel
fira a carne, é também uma prova de Amor, que tira as nossas arestas para
nos aproximar da perfeição”13. Tudo é um apelo contínuo ut in gratiarum
actione semper maneamus..., para que permaneçamos sempre numa contínua
acção de graças14.
(1) Mt 18, 23-35; (2) cfr. São Tomás, Suma Teológica, III, q. 8; (3) São Josemaría Escrivá,
Forja, n. 331; (4) Missal Romano, Oração Eucarística I; (5) Jo 11, 41; (6) cfr. Mt 15, 36; (7) Lc
22, 19; Mt 26, 17; (8) Lc 17, 18; (9) Jo 4, 10; (10) cfr. J. M. Pero-Sanz, La hora sexta, Rialp,
Madrid, 1978, pág. 267; (11) Sl 115, 2; (12) Missal Romano, op. cit.; (13) São Josemaría
Escrivá, op. cit., n. 609; (14) Missal Romano, Oração depois da Comunhão na festa de São
Justino; (15) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 19, 7.