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rnc 6 nase Spee VIRGINIA FERREIRA Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra'8 Cento Ge Estudos Salas O FEMINISMO NA POS-MODERNIDADE* Pe eaatsans Budietate hea SS Simimt as Pameaeenmere as Beste sovinares oth ae poet aes ‘minio dos discursos sobre # Dite- = I 1 OJE em dia, ouvimos pessoas que se declaram foministas, @ tam mesmo uma actividade militante, manifes- tar-se contra o direito a0 aborto e a reivindicagao de crethes, or exemplo. Outras, ao contririo, assumem todas as atitudes @ discursos que nos habituamos a identificar com o femi- rnismo, mas negam peremptoriamente serem feministas. Cuvimos trequentemente reteréncias & diminuigao da discri- ‘minagao social das mulheres visivel, por exemplo, na aceite- Gao, a0 nivel do discurso, da igualdade de direitos para omens © mulheres. Encontramos, contudo, a mesma éntase ra afirmag8o contraria de que a situacao das mulheres s6 se tem degradado nas titimas décadas em campos tao diversos como a familia, o trabalno e @ assisténcia social. As leituras das transformagdes sociaig recentes sto contracitérias. Exist, ortanto, uma corta confusao quo ¢ consequéncia, © prova- velmente também causa, da crise que 0 movimento das ‘mulheres atravessa. ‘A expressio «p6e-feminismo» entrou, entretanto, no nosso vocabulério. A idela que esta encerra parece ser a de que 0 rte, ligelrapienie allerado, da comunicagta apresentada no | Congresss Portugues de Socaogia Lisbon, Janeits de 1888 94 Virginia Fonwa feminismo ¢ um movimento ultrapassado, que teve @ sua uti- lidade e cumpriu a sua misso no momento em que a histérla © 0 progresso o exigiram, mas cuja filosotia e formas de organizagao se tornaram obsoletas na nova conjuntura social Digo que a ideia parece ser esta porque, om toda a literatura {que percorri, nfo encontrel uma dnica detinigao de pés-femi- rismo. N8o ha, portanto, uma definicao de movimento, apesar de serem frequentes os textos em que surge 0 qualificativo de pos-feminista para certas tomadas de posigo. Outro facto interessante ¢ que em nenhum dos textos encontrel a desig- rnagao de pessoas que sustontom tals posicdes, Parece, pols, que a expresso tem sobrotudo utllzagao na linguagem ‘comum @ faz parte pura e simplesmente da sibita inflagao do prefixo »pés» ultimamente verificada no nosso vocabulario. De ‘qualquer maneira, a sua mensagom principal ¢ a atribuigao a0 feminismo do estatuto de fora de moda, E esse estatuto que interessara discute. Em primeiro lugar, 6 necessério partir de uma definigao de feminismo que nao peque por ser demasiado estreita, Sera frado, a meu ver, identiticar faminismo com o movimento das mulheres das uitimas trés décadas, até porque assim exci remos todas as lutas das mulheres de outras épocas. Essa Identiticagao tornaria lagitima a expresso pos-feminismo, no sentido em que o referi. Porque 6 verdade que as transforms Oe socials entretanto ocorridas mudaram os dados da situagao e hoje ja ndo é possivel ter o mesmo discurso e ter ‘as mesmas praticas de ha vinte anos. Devemos antes detinir 0 femninismo como um movimento de procura da compreensao das condigdes socials das mulheres, tendo como objective melhora-las Iutando por esse abjectivo (Gordon, 1986). Trata- ‘mais de eliminar as dosigualdades socials entre homens © mulheres do que fazer com que as mulheres cheguem onde (03 homens jé esto, ou sejam aquilo que eles so, porque ¢ lum erro pensar que a sociedade dos homens permanece igual quando a das mulheres muda. E-por isso que o feminismo, 20 procurar transformar as condigdes sociais das mulheres, nao ode deixar de simultaneamente reflactir no mado como a Sociedade no seu todo vai ser afectada. Esta caracteristica onfere-ine um estatuto de visio global da sooiedade. Se ensarmos assim, ficamios em melhor situago para equacio- ‘nar os termos da crise que o feminismo atravessa actual- ‘mente. €, afinal, uma crise partihada pelos restantes projactos de transformaco social global, caracteristica do tempo pre- sente. O problema consiste em detinir a maneira pos-moderna de ser feminista, uma vez que é certamente consensual a afirmago de que as mulheres continuam a viver uma expe- riencia social passada sob 0 signo da discriminagao, quer ela seja econémica, politica, sexual, juridica ou meramente ideo- logica, No presente texto, procurarei escrutinar nos discursos que se reclamam de feministas as suas potencialidades de transtormagao social, tendo em vista as novas condigdes sociais e ideolégicas da pos-modernidade. Nao me referie! ‘especificamente & sociedade portuguesa. Penso, contudo, que 1nés somos uma sociedade muito exposta as ideias debatidas, nas sociedades ditas mais avancadas. € esta caracteristica que me leva a crer que este trabalho nao representa um exercicio completamente despiciendo para a compreensao da socie- dade portuguesa. ‘Antes de avancar, importa fazer ainda uma especiticacao do contetido que atribuo as condigbes da pés-modernidade. Para a andlise dos discursos teministas interessa sobretudo ter ‘em conta 0s fendmenos subjacentes & dita crise do Estado Providéncla © das ideologias colectivas. Esta caracteriza-se principalmente pelo distanciamento relativamente as ideias ¢ praticas de inspiracdo humanista e benteitora, que aspiram a atenuar as desigualdades socials. Assim, onde anteriormente fexistiam no discurso necessidades bésicas © essencials & ‘condigao humana, cula satistagao deveria ser garantida pelo Estado, agora existe uma multiplicidade de interesses indivi duals que 0 Estado nao deve sufocar num minimo denoming dor comum. Em vez de um sujeito com necessidades basicas temos agora um discurso que fala do sujeito descentrado em multiplas superficies, que vive para satistazer necessidades sincrénicas de imagem (Jameson, 1984). O que ressalta so ‘08 tomas da diversidade de interesses, da procaridade das identidades socials, da tragmentaridade e da reversibilidade do eu ¢ da mobilidade das pertengas sociais. Em suma, fala-se de diferenca. Na medida em que a valorizagao da subjectiv dade individual passa pela sua incorporagao na matriz inst tucional do Estado Providéncia, isso faz com que diminua a adesto as ideologias colectivas e retira potencialidade diseup- tiva aos conflitos sociais (Mozzicatreddo, 1987). A luta social perdeu o seu centro tradicional—o Estado. © poder desdo- brou-se em multipias centros @ deixamos de acreditar que @

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