Vous êtes sur la page 1sur 21
ge 0 espaco de mil ou trés mil anos! Pois, na yerdade, pode-se dizer que um homem vivew tantos miléaios {quantos 0s abarcados pelo alcance de seu conhecimento de historia” ® 2, ee Pi “op Gop Bape te ste Sit Sea, PSE Ber rte urea ab hitters conten, 25) storum ob Inerims rerem exgerectiam prucene babel Soe Se eee Sah Gal ALP Sa i RS 46 ICONOGRAFIA E ICONOLOGIA: UMA INTRODUCAO AO ESTUDO DA ARTE DA RENASCENCA Tconografia € o ramo da histéria da arte que trata do tema on mensagem das obras de arte em contra posicdo @ sua forma. Tentemos, portanto, definir a distinedo entre tema ou significado, de um lado, e for- ma, de outro. Quandis, n¢ rua, um conhecido me cumprimenta tirando o ehapéu, 0 que vejo, de um ponto de vista formal, é apenas a mudanga de alguns detalhes dentro da configuragao que faz parte do padcio geral de a cores, linhas ¢ volumes que constitui o mundo da minha visio. Ao identificar, 0 que faco automaticamente, essa configuracdo como um objeio (cavalheiro) € 4 mudanga de detalhe como um acontecimento (tirar 0 Chapéu, ultrapasso os limites da percepeio puramente formal e penetto na primeira esfera do tema ou men- sagem. O significado assim percebido € de natureza clementar e facilmente compreensivel e pastaremos @ chamé-lo de significado fatual; 6 apreendido pela sim- ples identificagio de cortas formas visiveis com cestos bjetos que j4 conhego por experiéneia prética © pela Senicagdo da mudanga de suas reais com cers Ora, 0$ objetos e fatos assim identifieados produ- Zirfio, naturaimente, uma rea¢ao em mim. Pelo modo do meu conhecido executar sua acio, poderel saher se est de bom ow mau humor, ou se’ seus sentimentos a meu respeito so de amizade, indiferenga ou hostl- dade, Esses nuancas psivolézicas dardo ao gesto de ‘meu amigo um significado uiterior que chamaremos de ‘expresional.Difere do fatual por ser apreendido, nio por simples identificago, mas por “empatia”. Para compreendé-lo preciso de uma certa sensibilidade, mas essa € ainda parte de minha experiéncia prética, isto 6 de minha femiliasidade cotidiana com objcios & fatos. Assim, tanto o significado expressional como o fatual dem classificar-se juntos: constituem a classe dos significados primarios ou naturas. Entretanto, minha compreenso de que o aio de tirar © chapéu representa um camprimento pertence 2 lum eampo totalmente diverse de interpretagao. Esse forma de saudagio é peculiar ao mundo osidental ¢ tum resquicio do cavalheirismo medieval: 0s homens armados costumavam retirar os elmes para deixarem claras suas intengdes pacticas € sua confianca nas in- iengbes pacificas dos outros. Nao se podetla esperar que um bosquimano australiano ow um grego antigo compreendestem que o ato de tirar o chapéu fosse, nZo 56 um acontecimento pritico com algumas conctagses expressivas, como também um signo de polidez. Para ‘entender © que © gesto do cavalheiro significa, preciso ado somente estar familiarizado com 0 mundo pritico ra dos objeios © fatos. mes, além disso, com o mundo mais do que prético dos costumes e tradigdes culturais peculiares. a uma dada civilizacio. De modo iaverso, meu conhecido no se sentria impelido a me cumpri- mentar tirando 0 chapSu se nao estivesse cénscio do significado deste aio. Quanto is conotagées expressio- nais que acompanham sua aco, pode ou nio ter cons- jéacia delas. Portanto, quando interprcto 0 fato de tirer 0 chapéu como uma saudaco polida, reconheco nele um significado que pode ser chamado de secun- ério ou convencional; difere do. primario om natural ppor duas razoes: em primeiro lugar, por ser inteligivel em vez de sensivel e, em segundo, por ter sido con ciontemente conferido & ago prética pela qual & v culado. E finalmente: além de consttie um acoatesimen- to natural no tempo c espago, além de indicar, natural- meate, disposigdes de énimo e sentinentos, algm de Conanicar uma suudagio corvencional, 1 apio do mea onhecido pod revelar a um abse-vador experimentado tudo aquilo que entra ne composigao de sia "perso naldade’.| Essa personsldade © condicionada por set clo um homem do século XX, por suas bases mations, Socisis c de educacéo, pela hiséria de sua vide passada € pelos cicunstincias atvais que o rodeiamm; mas ela também se-distingue pelo modo individual de encarar as cosas e de reagir ao mundo que, se raconalizado, deveria chamar-e de filesofa.| Na ag isolada de uma Saudagao corés,toros esses Fatox no se maafestam Gliramente, porém sintomaticamente, | Néo.podemes Construir 0 reirato mental de wm home com base nesta_agéo isoladn, c's coordenando 1m grance ni mero de obssrvagtes similares e interpretando-as 0 contexto de novas informagtes gerais quanto sua fpoca, nacionalidade, classe sora, tradighes. intelec- fais ¢ assim por diante, No emanto, todas esas qua- Tidades que ¢ retrato mental expicitemente mostrar. so implicitamente inerentes a sada agho fsolada; de modo que, inversaments, cada acdo pode set inter pretada ius dessa qualidades. O significado asim deseoberto pode denominar-se imrineco ov comeddo; € essencial, enquanto que 0s 0 ‘outros dois tipos de significado, o primério ou natural © 0 secundéno ov corvenciom, si0 fenomenais. 2 possivel definilo como um principio unifieador que sublinka © explica os acontecimentos visiveis e sua significagio inteligivel ¢ que determina até a forma sob 4 qual o acontecimento visivel se manifesta.) Normal- ieate, ess significado intrinseco ou conteido est tho acima’da esfera da vontade consciente quanto o sigai- ficado expressional esté sbaixo dela. Transportando os resultados desta anilise da vida cotidiana para uma obra de arte, cabe distinguir os mesmos trés nfyeis no seu tema ou significado: L. Tema primdrio ow natural, subside. era Jatual'e expressional. & apreendida pela identiticagio das formes puras, ou seja: certas configuragées de linha ¢ cor, ou determinades pedagos de broxze ou pedra de forma peculiar, como represeatativos de obje- {os naturais tals que seres fumanos, animais, plantas, casas, ferramentas e assim por diante; pela identifza- ‘lo de suas relagGes mituas como acontecimentos; © pela percopeio de algumas qualidades expressonais, como o caréter pesaroso de uma pose ou gesio, ou a atmosfera cascira © paciica de um interior. O mundo as formas puras assim reconhecidas como portadorae e significados primérios ou naturais pode ser chamado e mundo dos motivos artistices. Uma caumeracio esses motives constituiria uma descrigéo.pré-icono- arafica de uma obra de arte. IL. Tema secundério ou convencional: § apreen- dido pela pereepgao de que uma figura masculina com uma faca representa Sko Bartolomeu, que uma figura feminina com um péssego na mo € a personificacao da veracidade, que um grupo de figuras, sentadas 2 vuma mesa de jantar numa certa disposicio © pose, re- presenta a Clima Cela, ou que duas figuras comba- tendo enire si, numa dada posicao, representam a Luta entre o Vicio © a Vireude. Assim fazendo, ligames os ‘motivos artistices © as combinagdes de motivos artis- ticos (composigoes) com assuntos e conceitos. Moti ‘vos reconhecidos como portadores de um significado 50. secundério ou convencional podem chamar-se imagens, sendo que combinagées de imagens so 0 que os antic {08 te6ricos de arte chamavam de invenzioni: nds cos- tumamos dar-hes o nome de estérias e alegorias!, A. identficagio de tais imagens, est6rias ¢ alegorias & 0 dominio daquilo que € normalmenie conhecido por iconografia”. De fato, ao felarmos do “tema em opo- si¢io & forma’, referimo-nos, principalmente, & esfera ddos temas secundérios ou convencionais, ou seja, 40 ‘mundo dos assuntos especificos ou concsitos manifes- tados em imagens, estorias e alegorias, em opoticdo 0 campo dos tomas primérios ou naturais manifestados, nos motivos astisticos. “Anélise formal", segundo Wilfin, ¢ uma anilise de motivos ¢ combinagdes de rotivos (composicies), pots, no sentido cxato da par lavra, uma andlise formal deveria evitar expresses co- mo “homem”, “cavalo” ou “coluna”, sem falarmos em frases como “o feio tridngulo entre as pernas de Da de Michelangelo” ou “a admirével iluminagéo das jan- tas do corpo humeno”. B ébvio que uma anélise ico- nogréfica correta pressupte uma identficego cxata dos motives. Se a faca que nos permite identificar Sto Bartolomeu no for uma faca, mas um abridor de garrafas, a figura no seré Sio Bartolomev. Além disio, € importante notar que a afirmagdo “essa figura Sr snboin no ne Fenlugo.lanitesiae, ms, hoc, Spr ou simone in feds" city” “Asin lepine Eooesee B qocien Devin Wt Brain come. Meaney aces ‘Seta. fat hurnias con mitologich. podem eombinaf-re co Serontinsbn carne enue es incall tpresenigher Si" catsiereuiogiatica, Una eatéri, pede comunicar, ambi Te "Giniedde 2a obra como 0 caroceae hatiogier do, Onde me 6 vmna imagem de Sio Bartolomeu” implica a inten¢a0 onsciente do artista de representar este Santo, embora ‘ qualidades exprossivas da figura possam perfeita- mente no ser inteacionais. ILL. Significado intrinseco ow contetido: & apte- endido pela determinacdo daqueles principios subja- centes que fevelam a atitude bisica de uma nagio, de tum periodo, classe social, crenca religiosa ou filosé- fiea — qualificados por uma personalidade © conden- sados numa obra, |Nio é preciso dizer que estes prin- cipios se manifestam, e portanto esclarecem, quet através dos “métodes de composigao", quet da “signi ficagio iconogrética”, Nos séculos XIV ¢ XV, por cexemplo (08 primeiros exemplos datam de cerca de 1300), 0 tipo da Natividade tradicional, com a Virgem Maria ‘reclinads numa cama ou canapé, fol freqlicn- temente substiruldo por um outro que mostra a Virgem ajocthada em adora¢io ante o Menino. | Do ponto de vista da composicio, essa mudanca significa, falando ‘gresso modo, a substitaigo do esquema triangular por Datto retangulat; do ponto de vista iconogréfico, signi- fica a introducio de um novo tema a ser formulado nna eseriia por autores como o Pscudo-Boaventura ¢ Santa Brigida, |Mas, 20 mesmo tempo, revela uma nova atitude emocional, caracteristica do dhtimo periodo da Idede Média. Uma interpretacio realmente exaus- tiva do significado intrinseco ou conteido poderia até nos mostrar téenicas caracteristicas de um certo pais, perfodo ow artista, por exemplo, a preferéncia de Michelangelo pela escultura em pedra, em yez de em bronze, ou © uso peculiar das sombras em seus de- senhos, sfo sintométices de ums mesma atitude bésica {que € discernivel em todas as outras qualidades especi- ficas de seu estilo, Ao concebermos assim as formas ras, os motives, imagens, estorias e alegorias, como manifestagSes de principios bisicos © gerais, interpre- tamos todos esses elementos como sendo o que Ernst Cassirer chamou de valores “simbélicos". Enquanto ‘nos limitarmos a afirmar que o famoso afresco de Leo- ado da Vinci mostra um grupo de treze homens em volta uma mesa de jantar e que esse grupo de homens represents a Chima Cela, teatamos a obra de arte como tal e interpretamos suat caracteristicas composi- 2 cionais ¢ iconogriticas como qualificagées ¢ proptic- aces a cla inerentes. Mas, quando teatamos compre- ‘endé-la como um documento da personalidade’ de Leonardo, ou da civitizagao da Alta Renascenga ita- liana, ou de uma atiude religiosa particular, tratamot 2 obra de arte como um siniome de algo mais que se expressa numa variedade incontivel de outros sintomas fe inierpretauos suas caracteristicas composicionais. € iconogrificas como evidéncis mais particularizada desse “algo mais", |A descoberta ¢ interpretagio dosses va- lores “simbélicos” (que, muitas yezes, so desconhe- dos pelo pr6prio artista ¢ podem, até, ciferir enfat ccamente do que ele conscientemente tentou expressar) 60 objeto do que se poderia designar por “iconologis” em oposigdo « *iconografia”, {0 sufixo “gratia” yom do verbo grego graphein, “escrever"; implica um métode de proceder puramente descrtvo, ou at mesmo estatstico. A iconografia 6 portanto, a desericio e clasificacio das imagens, assim como a einografia é a descrigio classiicagéo das ragas humanas; é um estudo limitado e, como que fancilar, quo 208 informa quando e onde tomes espect- ficos foram visualizados por quais motives especifices. Diz-nos quando ¢ onde 6 Cristo crucificado usava uma tangs ou uma veste comprids; quando e onde foi Ele pregedo a Cr, e se com quairo ou us cravos; como © Vicio e a Virtsde eram representados nos diferentes séeulos © ambientes. Ao fazer este trabalho, a icono- gratia é de auxiio incaiculavel para o estabelecimento de datas, origens c, as vezcs, autenticidade, ¢ fornece 43 bases necessdries para quaisquer intorpretagdes ule tetiowes. Entretanto, ett nd tenta slaborar a incerpre- tagéo sozinha. Coleta e clasifice a evidéncis, mas niio se considera obrigada ou capacitads « investigar 4 génese e sigificacdo dessa evidéncia: a interagio enite os diversos *tipos”; a influgnein das idsies filo- icas, teoldgicas © politicas; 0s. propésitos ¢ inclins- $8es individuals dos artistas © patroncs; a comrlacéo nite os conceitos inteligiveis © a forma visivel que assume em cada caso especifco, Resumindo, a icono- srafia considera apenas wma parte de todos esses ele- ‘Mentos que constituem o conteddo intrinseco de uma 53 obra de arte € que precisam tomar-se explicites se se uiser que a pereepgdo desse conteido venha a ser artchfada e comunicével. [Devido as graves restrigdes que o uso corriqueiro, ‘especialmente nesse pais*, optem a palavra “iconc- grafia”, proponho reviver 0 velho ¢ bom termo, “icone- Togia",’ sempre que a iconografia for tirada de scu isolameato ¢ iniegrada em qualquer outro método his t6rico, psicolégico ou critico, que fentemos usar par resolver 0 enigma da esfinge. ois, seo sufixo “grafia denota algo descritivo, assim também 0 sufixo “logia” — derivado de logos, que quer dizer “pensamento’ “raxio” — denota algo interpretative. “Etnologia”, por exemplo, € definida como “ciéncia das racas hu- manas” pelo mesmo Oxford Dictionary que define “einografia” como “descrigdo das ragas humanas”; © ‘0 Webster adverte,explicitamente, contra zma confusio dos dois termos, na medida em gue a “etnografia se restringe a0 tratamento puramente descrtivo de povos € racas, enquanto a einologia denota seu estudo com- parativo”. Assim, concebo a iconologia como uma iconografia que se torna interpretativa e, desse modo, converte-se em parte integral do estado da arte, em vez de ficar limitada 29. papel de exame esiatistico preliminar. Hé, entretsnto, certo perigo de a iconologia Se portar, nfo ‘como & ethologia em oposigio a etno- grafia, mas como a astrologia em oposigio a astro- srafia) Teonologia, portanto, é um método de interpreta fo que advém da sintese mais que da andlise, E assim como a exata identifiesca0 dos motivos é 0 re- quisite bisico de uma correts analise iconogritica também a exata andliso das imagens, est6rias e ale. gorias & 9 requisito essencial para uma correta inter preiagio iconolégica — a no ser que lidemos com obras de arte nas quais todo 0 campo do teme secun- rio ou convencional tenha sido eliminado ¢ haja uma transicao direta dos motivos. pare < conteido, como © caso da pintura paisagistica européia, da ‘natureza ‘morta e da pintura de género, sem falarmos da arte ““nfio-objetiva’” £0 auior se relere oon Bradlee Unldon aa Amicon do neve ates Fh 5 ois bem, como poderemos conseguir “exatido” 40 lidarmos com esses trés niveis, destigio pré-icono- ‘réfica, andlise ieonogrifica © interpretagio iconol& ica? No caso de ums descricéo pré-iconogréfica, que se mantém dentro dos limites do. mundo dos motivos, © problema parece bastante simples. Ox objets ¢ eventos, cuja representacao por linhas, cores e volumes constituem o mundo dos motivos, podem ser ideatifi- cados, come jé vimos, tendo por base nossa experién- sia prdticn. Qualquer pessoa pode reconhecer a forma © 0 comportamento dos seres humanes, animais e plan= tes, € ndo hé quem no possa distinguir um rosto zan~ gado de um alegre. claro, as vezes acontece, num dado caso, que 0 alcastte de nossa experigncia nao seja stficiente, por exemplo, quando nos defrontamos com a representaco de um utensfio obsoleto 6u desfamiliar ‘ou com a representagio de uma planta ou animal des- conhecidos. Nesses easos, precisamos aumentar 0 al~ cance de nossa experiéncia pratica consultando um livro ‘ou um perito; mas, mesmo assim, no abandonamos a esfera da experincia pritica como tal, que nos indica, € desnecessério dizer, 0 tipo de perito que se devs consultar. Todavia, mesmo nesta rea, deparamos com um prsblema especial. Pondo de lado v fato de os objetos, acontecimentos © expressdes piatados numa obra de arte poderem ser irreconheciveis devido & incompeténcia fu ptemeditacio maliciosa do artista, & impossivel che~ 481 @ ume exsta descrigio pré-iconogrifica ou identi- fieasdo priméria do tema, aplicando, indiscriminada- monte, nosse experiéncia prética a uma obre de arte. Nossa experiéncia pratica € indispensével e suficiente, como matsrial para a descticio pré-iconogratica, mas do garante sua exatidfo, ‘Uma descrigtia pré-iconogréfica da obra de Roger van der Weyden, Os Trés Magos, que esti no Kaiser Friedrich Museum, de Beslim (Fig. 1), teria, € claro, que evitar termos ‘como “Mages” © “Menino Jesus" ete, Mas seria obrigeda « mencionar quc a aparigio da criance foi vista no céu. Como sabemos que a figura da crianga ¢ para ser entendida como uma apa- rigéo? 0 fato de estar rodeada de halos dourados no 55 001 2 “PSE af HS IO AMOI MaIEEAS “arog: 2p eboue 0 epuenomaten Out) nbn & prove suficiente dessa supesicio. puis halos similares podem ser observados ei representacdes da Nai Gade, onde o Menino Jesus € reel, So podemos deduzir Que @ ctiange do quadro de Roger deve ser entendida Como uma sparigao pelo fato de pairar em pleno ar. Mas, couno sabemos que paira no’ ar? Sai pose 120 seria diferente se estivesse sentada numa almofeda no chro; de fato, € altamente provével que o artista tenha sado um desénho a0 yivo de uma crianca seateda mum travesseiro. A tnica rezlio valida para a nossa suposicio de que 2 crianca na pintura de Berlin sea uma aparicao @ 0 fato ce estar Configurada no expaco, sem nenhum apoio. visive. Podemos, porém, aduzir centenas de casos em que seres humanes, animais e objetos inanimados porecem estar soltos ne espaco, violando as leis da. gravidade, sem nem por isso preienderem set aparicdes. Por exemplo, numa miniatura dos Evangethos de Oto HI, © se encontre na Staatsbibiiothek de Munique, uma Je intcira € representada no centro de um espago livre, enguanto que a8 figuras partcipantes da ago permanecem no sole (Fig. 2) ® Um observador inexperients poderia perfetamen- te presumic que a cidade deveria ser entendida como cstunde suspensa no ar por uma espécie de magia, Todavia, neste caso, falta de apoio nfo. implica u ivalidacao miraculosa das leis da natureza. A cidade represeniada € uma cidade efeiva, Nain, onde se deu a ressurreigao do jovem. Numa miniatura de cerca do ano 1000, © “espago vazio" no vale realmente como meio tridimensional, como acontsce num perfodo mais realists, mas serve como fundo abstrato irreal © curieso formato semicircular do que devetia ser a linha. bésica das torres atesta que, no prot6tipo mais realista da nossa miniatura, a cidade situava-se num terreno montanhoto, mas foi transposta para uma re- preseniagao na qual o espago dexara de Ser concebido fm termos de realismo perspectivo. Assim, enquanto a figura som apoio da obra de van der Weyden & uma spare, a cidade flutuante da miniatura otoniana aio tem enhuma eonotacio mireculosa. Estas interpre~ ind, HENGE. G BEE opmavnte vegeter OHO I Mo 37 tages contrastantes nos so sugeridas pelas quolidades “sealisticas” da pintura e pelas qualidades “irrealst- as” da miniatura. Mas, 0 fato de apreendermos essas ‘qualidades na fracdo de um segundo, quase automatics ‘mente, no nos deve levar a crer que jamais nos seja possivel dar uma correta descrigio pré-iconogréfica de luma obra de arte sem adivinharmos, por assim dizer, qual o seu locus histérico, Emora aereditemos estat iddentficendo 6s motivos com base em nossa experién- ia prética pura c simples, estamos, na verdade, lendo “o que vemos”, de conformidade ‘com 0 modo pelo {qual 0 objetos'e fatos so expressos por formas que variam segundo as condigbes hist6ricas. Ao fazermos ‘sso, submetamos nossa experigncia pritica a um prin- cipio ~corretivo que cube chamar de hist6ria do estilo, A andlise iconogréfica, tratando das imagens, es- t6rias © alegorias cm ver de motivos, pressupéc, clara, muita mais que a familiaridade com objetos € fatos que adguirimos pela experiéncia pritica. Pres- supde a familiaridade com temas especificos ou con- ceitos, tal como so transmitidos através de fontes Iiterdrias, quer obtidos por leitura deliberada ou tradi- edo. oral, Nosso bosquimano australiano mio seria capaz de reconhecer © assunto da Ultima Ceie; esta The comunicaria apenas 2 idéia de um jantar animado. Para compreender a significada ieonograticn da pintura, teria que se familiarizar com 0 contetido dos Evangelhos. 4, Cove intereetagdo de ma obce de ite tna Pe Pal hatprteise ds Sbnat indices pode parecer cain mslcdice, (et E, Wino. Bes Expenméwt und “tie aecee HUNG Stet atioce”, Glade ibidem. Quer den Bae uo nae os ‘omnes! elseloms-is acre been ‘Sfaea sentient "Fat “aenlde™ pode, porta splace 3 ierpreonte de, tr torscharenen Sa ee ee 58 ‘Quando se trata da representagio de temas outros que relatos biblicos ou cenas da histéria ou mitologia que, normalmente, s80 conhecidos pela. média das “pessoas educadas”, todos nds. somos bosquimanos australianos. Nesses casos, devemos, também nos, tentar ads fami- rzar com aquilo que os autores das representogies liam oa sabiam, No entanto, mais uma Yer, embora oconhecimento dos temas ¢ conceitos especificos trans- mitidos através de fontes literérias seja indispensavel e suficiente para ums andlise iconografica, nao garante sua exatidao. E tao impossivel, para nds, fornecer uma anélise jeonogréfica correta aplicando, indiscriminada- Iente, nosso coahecimento literério aos motivos, quan- to fomecer uma descricdo pré-iconogréfica certa apli- cando, indiscriminadamente, nossa experiéncia prética as formas. ‘Um quad, de autoria de um pintor veneziano do século XVI, Franeeseo Maffei, representando ume bo- nia jovem com uma espada na mio esquerda e, na direita, uma travessa na qual esté a cabega de um hhomem degolado (Fig. 3) foi publicado como o retrato de Sslomé com a cabega de Sio Joao Batista. De fato, a Biblia afirms que a eabeca de Sio Jodo Batista foi apresentada a Salomé numa bandcja ou prato. Mas, ea espada? Salomé nio decapitou o santo com a5 proprias mios. Pois bem, a Piblia nos fala de uma ‘outta bela mulher em eonexio com o degolamento de ‘um homem: Judite, Neste caso, a situagio € exata- mente inversa. A espada no quadro de Malfei estaria correta, porque Judits decapitou Holofermes com as prSpries mios, mas a travessa no concorda com sua est6ria, pois 0 texto diz, explictamente, que @ cabeca de Holofernes foi posta num saco, Assim, temos duas fontes literérias apliciveis & mesma obra, com os mes- ros direitos ¢ metma incoeréncia. Se a interpretarmos como © retrato de Salomé, o texto explicaria a travessa, ‘mas ndo a cspeda; se a interpretarmos como figuragio dc Judite, 0 texto explicaria a espada, mas néo a travessa. Estariamos intelramente perdidos se depen déssemos apenas das fontes literdries, Felizmente, esse ‘nfo € 0 caso. Assim como pudemos suplementar © 4, mioce, @, Vonction Painting of the Selcento and the ‘seiteentes Hrorenea © Nova York, 192, Be. 2 39 “0051 79 2U12N20 pon yung, WHAT ‘OANGUIEHT “ONO deg 2p 23699 > FARE Birscoreca Tide, Francesco” Maffei comrigir nossa experigneia prétice investigando a ma- neira pela qual, sob diferentes condigdes hisoricas, objelos e fatos exam expressos pelas formas, ov sj, a Bist6ria das estilo, do’ mesmo mado podemos suple- eniar e corrigt nosso conhecimento cas fonts ite- ririas, imvestigando 0 modo pelo qual, sob diferentes condigBes histSrcas, temas especiticos ou conceitos exam exprestos por objetos ¢ fatos, ou sea, a histéria dos tpes. No caso presente, teremos que perguatar se havia, antes de Maffei pintar seu quadro, quaisquer retratos indiscutiveis do Judito (indiscutiveis porque incliriam, por exemplo, a cfiada de Judite) que apreseatassem, também, travessas injustficadass ow quaisquer retratos indiscutveis de. Salomé Cndiscutives porque inclui= riam, por exemplo, os pais desta) que 2presentassem expodas injustifcadas. Pois bem! Eibora no possa~ ‘mos aduzit nonhuma Salomé com uma espade, vamos encontrar, tanto na Alemanho quanto na Itilia do Nor- te, varias pinturas do séovlo XVI representando Jucite iravessa®; havia um “tipo” de “Judite com porénr, no havia um “tipo” de “Salome com a espida", Dat podemos, seguramente, concluir que tamberz a obra de Maffei fepresenta Judite © io, como se chepou a pensar, Salomé Caberia ainda, indagar por que os atistas se sen- tiram no direto de ttansfeslr 0 motivo da travessa de Salomé para Judite, mas nao o motivo da espada de Judie para Salomé sts pergunta pode ser respon- ida, investigando mais uma vex a historia dos tipos, com duas razbes. Uma & que « espads era um atributo estabelecido © honorifico de Judite, de muitos mirtres de algumas virtudes, como a Justca, « Fortaleza ets Shure“ nem poasvel gue’ tipo ce JudLe com wna tenesa ir Ransegeshictte, WE 1ST Bs 356 a8)

Vous aimerez peut-être aussi