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Metodologia de Investigacgao em Ciéncias Sociais e Humanas: teoria e pratica Clara Pereira Coutinho 2014 2 edigdo — Reimpressao ALMEDINA Sista Peretse Coutiahs EDITOR EDIGO Rua ae eat SA 3000-167 Coimbra *”78°79 Tel: 239 851 904 - Fax: 239 a5] 901 www.almedina.net- editora@almedina.net DESIGN DE Capa FBA. PRE-IMPRESSA0 EDIGOES ALMEDINA, s.a. IMPRESSAO E ACABAMENTO PENTAEDRO Abril, 2014 DEPOSITO LEGAL 359627/13 Toda a reprodugio desta obra, por forocépia ou outro qualquer proceso, sem prévia autorizacao escrita do Editor, ¢ ilicita e passivel de procedimento judicial contra o infractor. GRUPOALMEDINA ALMEDINA = BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL - CATALOGAGKO PUBLICAGAO 2 \cfio em Cid Metodologia de Investiga‘ ISBN 978-972-49°5137-6 CDU 303 iatamente, , Ditrag nan Sein objetivos? p, Tocuray relevance: ae ‘@ncia. Investigar 6 #8 Propésitos da j a atividade lade que quem inve, tigado, uma inten logias, métodos, @ técnicas cOntinuidade que se inicis 2 'agao publica dos result A presente obr, Pressupse stiga e 98 Para que a investiga 2 Com uma interrogag ados da investigaczo, @ estd organizada ey \cionalidade de 40 seja ley Q nvolva sempre a, dentro de um 1 i Mia : : : eferencial teérico digma de investigacao, Ss Na se; is ae Parte, O processo da investigacdo em CSH, m: ‘ica da squi: 55 r % Pesquisa no terreno, apresentamos os diferentes Passos Se i igaca Ric, P _ sia investigacao em CSH, desde a formulacio do probl ideation ok Slatorio de investigagao, pasando pela constituicio da a aque cha ue chamamos pag. S ligada j que com. lema a redacio ‘ : es ‘ amostra ¢ esco- ha dos métodos e técnicas mais apropriadas para a recolha e tratam a priadas para a recolha e tratame baad Pi nto dos Na terceira parte, Planos de investigacao em CSH, apresentamos aleuns dos modelos metodolégicos mais utilizados na investigacio social. Parte! Fundamentos Teoricos da Investigacao em Ciéncias Sociais e Humanas A investigagio é uma actividade de natureza cognitiva que consiste num pro- cesso sistemstico, flexivel e objetivo de indagagao e que contribui para explicar e compreender os fenémenos sociais. E através da investigacao que se reflete ¢ problematizam os problemas nascidos na pratica, que se suscita 0 debate e se edificam as ideias inovadoras, Quando se fala de investigacgao em CSH dois requisitos se impoem: que seja cientifica ~ pautada pela sistematizacio e pelo rigor ~ e que seja adequada a0 objeto de estudo. Como nos restantes campos e areas do saber, a investigagio em CSH carateriza-se quer pela multiplicidade quer pela dependéncia contextual. A multiplicidade observa-se pela existéncia de diferentes abordagens e/ou modelos, e/ou paradigmas, por exemplo, o modelo das ciéncias naturais ¢ 0 das ciéncias sociais, os métodos indutivo e dedutivo, as técnicas quantitativa € qualitativa, o que origina uma discussio, por vezes dicotémica e contradi- toria, sobre os aspectos epistemolégicos e metodolégicos da investigacao. A dependéncia contextual resulta do facto, inquestiondvel, do cientista social no poder dissociar-se do contexto sociocultural em que esté inserido, par- tilhando muitas das quest6es tedricas e metodolégicas com outros investiga- dores, actuando na base de uma especificidade prépria, comprometendo-se deliberadamente com um determinado rumo na investigagio: a ciéncia actual est intimamente relacionada com os universos sociais em que é produzida. Capitulo 1 Paradigmas, Metodologias e Métodos de Investigacgao 1.1 Paradigmas da Investigacio em CSH O conceito de paradigma de investigag4o pode definir-se como um con- junto articulado de postulados, de valores conhecidos, de teorias comuns e de regras que sao aceites por todos os elementos de uma comunidade cienti- fica num dado momento histérico (Coutinho, 2005). Significa um compro- misso implicito de uma comunidade de investigadores com um quadro teérico e metodolégico preciso, e, consequentemente, uma partilha de experién- cias e uma concordancia quanto a natureza da investigagfo e 4 concegao do conhecimento (Pacheco, 1993). O conceito de paradigma deve-se ao célebre historiador Thomas Kuhn que, na célebre obra The Structure of Scientific Revolution (1962), o definiu como sendo, em primeiro lugar, o conjunto de crengas, valores, técnicas ‘parti- Jhadas pelos membros de um dada comunidade cientifica e, em segundo, como um modelo para o “que” e para o “como” investigar num dado e definido contexto histérico/social. Na investigacao cientifica o paradigma cumpre duas fung6es principais: ade unificagao de conceitos, de pontos de vista, a pertenga a uma identidade comum com questées teéricas e metodolégicas; a de legitimagao entre os investigadores, dado que um determinado paradigma aponta para critérios de validez e de interpretacao (Coutinho, 2005). METODOLOGIA Dé 1 ESTIGAGAO EM CIENCIAS SOCIAIS & HUMAN, Para Li i . eae torte tl: (1996) e ainda Bisquerra (1989) 05 par 'Bag40 nao sio mais do que esquemas tedricos, con, agrupam o conjunto de Pratica da investigacao, con bros partilham “ etal., 1996, p. 39), Adigmasq, ; M cariter digjgy ntistas que uilizam uma dada ne , stituindo uma comunid ea ogi linguagem, valores, meta lade c: S, Normas e entifica Cujos my a em, Erengas” (1, Nem todos os investigadores estdo de conceito de paradigma para o caso da inve polissémico, utiliz acordo em relagao a uti stigaco em ado com significados tao diferente: autores como Jacob (1987) ou Shulman (1989), que, ©, por vezes, conflitualidade, ; investigacio”, 20580 uum ter S seria inadequadg Petante tanta divers preferem o conceito lakatiano de i SH. Sendo “programa ge Jacob (1987), por seu lado, baseando-se na ideia do Para quem as Ciéncias Sociais eram designadas de pré- © termo “tradicao” que, na perspetiva do autor preteni de investigadores que, entre eles, est Proprio Thomas Kup Paradigmiticas suger, dle traduzir “um gry s Mio de acordo coma natureza do univer, que estao a estudar, com as questdes legitimas e problemas a estud as técnicas legitimas para procurar as solugdes” (p. 1). Perspetiva, tradigao, programa de investigagao, paradigma, so, portanto, terms idénticos que tém em comum uma ideia fundamental: unificar e legitimara investigagdo tanto nos aspetos conceptuais como nos aspetos metodolégicos, servindo de identificacao do investigador no que se relaciona com a partlha de um corpo especifico de conhecimentose de atitudes face & delimitacao de problemas, ao processo de recolha de dados e a sua interpretagio A questao de identificar “quantos” paradigmas ~ termo que continua- remos a privilegiar porque adotado pela maioria dos autores consultados - enquadram a investigacao em CSH também nao tem sido isenta de uma viva polémica de marcado cariz dicotémico: quantitativo versus qualitativo; expli- car versus compreender; investigacio positivista versus humanista, etc, lar e com ft. 1 Para Imre Lakatos, o conhecimento cientifico progride de forma continua a partir de cor regbes, vangos ¢ recuos em que as teorias ecuperam e corrigem outras precedente Nes: sentido, em qualquer programa de investigago cientifica ha sempre, um micleo duro i+ teorias (hardcoré) que nunca sio postas em causa. E a partir desse micleo, ee ae conjunto de teoras gers provséras (hipdtest),quesurge um conjunto de outss 9 auxiliares (protective belt) cuja verificagao leva ao avango da ciéncia (Coutinho, 2 10 ————— ee PARADIGMAS, METODOLOGIAS E METODOS DE INVESTIGAGAO Naatualidade a opiniso mais consensual defende aexisténcia de trés gran- des paradigmas na investigagio em CSH: 0 paradigma eco ou oe tativo, 0 interpretativo ou qualitativo € 0 paradigms socioritio ow hermenéutics (GBisquerra, 1989; Latorre etal, 1996; Morin, 1983). .1 Paradigma positivista* ee Token Piano quantitativo, empirico-analitico, racionalista, empiriista, fa aradigma procura adaptar o modelo das Ciéncias Naturais a investiga- sae vCiéneias Sociais e Humanas, wtlizando basicamente uma metodologia oe eaten (Anderson & Arsenault, 1999; Bisquerra, 1989; Latorre et al, 1996; Mertens, 1998; Shaw, 1999; Usher, 1996). “ “ 'A investigagio em CSH seguiu tradicionalmente este patadigma ¢ o do seu sucessor, 0 pés-positivismo (Mertens, 1998), impulsionados pelas ideias *positvistas”tio.em voga no século XIX, nascidas do pensamento de Augusto Comte (considerado o primeiro representante deste movimento) que ee dia, na senda do empirismo de Bacon, a primazia do estédio positivo’ do conhecimento baseado na observacao. Esta forma de ver o mundo, inspirada numa ontologia realista em que se pretendia “...descobrir como as cosas sao, e como trabalham mesmo” (Guba, 1990, p.19), ¢ cujo fim tiltimo seria o de “.. prever e controlar os fenémenos (iden), encontrou na metodologia experimental o instrumento mais eficaz para a sua concretizagao: se ha um mundo objetivo a descobrir, que opera segundo leis naturais, considera ento 0 autor que o investigador deve, e passamos a citar, “.. colocar as questdes 4 natureza e ver como ela Ihe res- ponde” (ibidem), ou dito de outro modo, o investigador deve levantar hipéte- 2 No Renascimento, o «método experimentalm foi o critério encontrado para distinguir a cgncia da nfo-ciéncia, Stuart Mill e Augusto Comte, seguindo a esteira iniciada por Bacon © Galileu, consideraram que todo e qualquer conhecimento com pretensio A cientificidade deveria aplicar o referido método, nico capaz de garantir a explicagio de um fenémeno de modo positivo, isto é sem recursos a magias ou ao sobrenatural,e dafa origem da designagio positivista (Coutinho, 2005). * Além do estidio «positive», Augusto Comte considerava outros dois, 0 teoldgico € 0 metafisico, No estidio teoligico, as explicagdes para os fenémenos sto de ordem espiritual ou sobrenatural, enquanto no estidio metafisico se recorre a abstragSes e esséncias. S6.0 «stidio positivo recusava argumentos metatisicos e especulativos para explicar os fenémenos da natureza, n MBTODOLOGIA DE INVESTIGAGAO EM CIENCIAS SOCIAIS E HUMANAS. r, ses e submeté-las & confrontagaio empirica (falsificagao) 80 rigoroso ¢, experimental, i Defender este postulado, significa aceitar para a investi oe é ago em Cy ‘uma orientagdo nomotética, em que o conhecimento se questiona por SH ; 5 Por hip teses causais e estatisticamente comprovadas. Nesta perspetiva eatiden bCOnsideram Bibble e Bramble (1986, citados em Pacheco, 1993, p. 10) que: As hipéteses confirmadas podem generaizar-se a outras popula situagdes similares is estudadas, Pressupoe a existéncia de re entre os termos e conceitos técnicos do investigador, as ope; tigagio, as descobertas e as conclusbes da invest tudo que a investigagao social oferece os m evitar a subjetividade e 0 juizos de valor. B6eS oy Tagdes simpy © papel da teoria ¢ crucial, como seria de prever, para os defensores Perspetiva positivista; por tras de uma investigagao ha sempre uma teoria que orienta e, muitas das vezes, o objetivo central da investigacao cientfca¢ purae simplesmente a verificagao dessa mesma teoria (Crotty, 1998; Merten 1998; Oldroyd, 1986; Shaw, 1999). Estas sio carateristicas gerais da investigagio cientifica segundo o para digma positivista/quantitativo, que constituiu, na opiniao de Usher (1996) “um poderoso e influente modo de entender a investigagio podendo falarse de um “discurso das ciéncias” que ditava como devia ser feita a investigacao nio 86 nas ciéncias naturais, mas também nas ciéncias sociais e humanas” (p. I!) Para este tiltimo autor, o discurso da ciéncia resultou, desde um ponto de vista histérico, do desmantelamento da tradicao e autoridade como fontes do conhecimento, que colocava a questo de saber como considerar vilido um determinado conhecimento, ou mesmo a posicdo, mais radical, de questio- nar a possibilidade de sequer se poder conhecer. A primeira resposta encon- trada surgiu no Renascimento na obra Novum Organum da autoria de Francis Bacon de Verulam (15611626) que assentou as bases do empirismo: tradicio substituida pela experiéncia, a observacdo e experimentacao constituindo as tinicas fontes do conhecimento, e o método indutivo como sendo o tinico método “cientifico” para os estudos das leis da natureza. Bacon influiu decididamente sobre Descartes (1596-1650) que, no seu Discurso do Método muito contribuiu para a fundamentagio do método cer tifico, e também sobre Stuart Mill (1806-1873) - que se refere pela pt! 2 PARADIGMAS, METODOLOGIAS E METODOS DE INVESTIGAGAO. jraver 4 metodologia das ciéncias positivas~ mas ¢ Augusto Comte “quem im ee tenta estabelecer uma “escola positivista”, através da qual inventa 0 nom , través da qual ee jedade os métodos préprios das ciéncias fisicas estenderia a0 estudo da so 9.256) Cceaei do, fatale gio ~também denominado de neopositivismo lo XX integrando, para além de Augusto Comte, figuras de enome como Bertrand Russell (1872-1970), Ludwig Wittgenstein (1889- 1igs1) ou Rudolf Carnap (1891-1970) que ficaram conhecidas como 0 Circulo a trataram de criar uma nova filosofia da ciéncia inte- =, nasce no sécul ena; junto, rondo osconecmentos btdos no camps damatemétca dala com atradigio empirista do positivismo do século anterior. De facto, também ee 1 positivistas légicos s6 0 método cientifico dava garantias de obtengio to conhecimento mais objetivo possivel. Outro ponto forte em que se insistia sempre, tinha aver com a objetividade do investigador, que deveria permanecer neutr, evitando juizos subjetivos:“objetividade”, meios de ser “objetivo” sto palavras fortes na epistemologia objetivista que est na base deste paradigma, ecujos principios sintetizamos com base no pensamento dos diferentes auto- res consultados (Crotty, 1998; Guba, 1990; Shaw, 1999): © mundo é “objetivo” na medida em que existe independente do sujeito. Esse mundo consiste em acontecimentos que ocorrem de forma organizada, pelo que sendo objetivos poderemos descobrir essas leis ¢ prever e controlar os fenémenos; 2. Ha uma clara distingao entre o investigador “subjetivo” e o mundo “objetivo”, entre valores e factos. Para o investigador, apenas contam 5 primeiros, pelo que o subjetivo (valores e preconceitos) ndo devem interferir na descoberta do mundo “objetivo”; A validade do conhecimento depende da forma como se procede & observagio ~ a questio da medida. Diferentes observadores perante ‘os mesmos dados devem chegar &s mesmas conclusdes ~ a replicago € garantia da busca da objetividade; O mundo social é semelhante ao mundo fisico. Hé razo e ordem no mundo social, as coisas nao acontecem de forma arbitréria, pelo que importa encontrar relagdes causa-efeito tal como no mundo fisico; METODOLOGIA DE INVESTIGAGAO EM CIENCIAS SOCIATS E HUMANS. 5. Oobjetivo da ciéncia é descobrir o mundo, pelo que tanto ass naturais como as sociais partilham uma mesma légica e mer, comum; Ria 6. Desde que os processos metodolégicos tenham sido corretame, Nte a cadlos, nto ha porque duvidar da validade do conhecimento iy, Esta epistemologia levou a um paradigma da investigacio que entyiy, determinismo (ha uma verdade que pode set descoberta),a raconaliiaie ny podem existir explicagbes contraditorias), a impessoalidade (tanto mais oy. tivos e menos subjetivos melhor), a prevsio (0 fim da investigacio é enc,» trar generalizagdes capazes de controlare prever os fendmenos),e acresceny Usher (1996) uma certa irreflerividade na medida em que faz depender a yah, dade dos resultados de uma correta aplicagio de métodos esquecendoo po, cesso da investigagao em si. Para Usher (1996) o dominio da epistemologia objetivista/positivista toe consequéncias ao nivel da investigacao em CSH a dois niveis: em prin lugar, aimporténcia atribufda & produgao do conhecimento baseada na deseo berta de factos e formulagio de teorias visando a generalizagio. Em segundo lugar, a adogao da linguagem, metodologia e técnicas de medida e quantif cago préprias das ciéncias naturais que passaram a ser adotadas na investi- gaco em CSH, constituindo para muitos setores da comunidade cientifica 08 tinicos referenciais vilidos e aceites para a investigacao na area (Anderson & Arsenault, 1999; Punch, 1998). Criticas ao paradigma positivista ‘Mas serdmesmo possivel quantificar, generalizar e prever os fenémenos sociais em geral e educativos em particular? ‘So muitos os que consideram que essa meta jamais foi atingida na inves- tigagdo em CSH por raz6es que tém aver coma propria esséncia do ato social em geral e educativo em particular (Bogdan & Bilken, 1994; Cohen & Manion 1994; Crotty, 1998; Flick, 1998; Punch, 1998; Shaw, 1999; Usher, 1996) Para Usher (1986) a investigagao baseada numa tal epistemologia ests" predestinada ao insucesso a partida: como é possivel que um modelo que co cebe 0 mundo como sendo ordenado e sujeito a leis (logo previsivel) pov* aplicar-se a uma realidade social que é aberta e indeterminada? Cziko (2000) i“ PARADIG! AS, METODOLOGIAS & METODOS DE INVESTIGAGAO senta entio cinco argumentos para a imprevisibilidade do comporta- rento hhumano: as diferengas individuais; o processo evolutivo da aprendi- m rf , fagem ¢ desenvolvimento; a influéncia da consciéncia no comportamento © caos. % ica quanti (4962, 1979) que, como referimos ars, vieram modifcarradicalmente a forma de entender a eiéncia, a investigagio e o método cientifico, ao admitir que ‘uinvestigagio & uma pritica que se desenvolve dentro de uma comunidade tientfica situada hist6rica e socialmente. O investigador “pertence” a uma comunidade que define o que ¢ “conhecimento”, “verdade”, “objetividade” ¢ “método correto” (Oldroyd, 1986). ‘Assim sendo, o cientismo positivista com a sua concegio universalista de que 36 0 modelo de investigagio das ciéncias naturais é “supra histérico”, 0 “tinico que possibilita verdadeiro conhecimento”, cai por terra.a partir do ‘momento em que, 20 situar-se num dado paradigma, constitui mais uma forma de olhar o mundo, nunca a tinica, Ficava ent4o aberta a porta para que outras abordagens se afirmassem. ‘Apesar das duras criticas a que tem vindo a ser submetido, o paradigma positivista e a metodologia que Ihe esta associada mantém ainda hoje uma posigio de destaque na investigacao em CSH, realidade que, segundo Guba (1990), pode ser explicada pela evolucao registada nas bases tedricas deste paradigma que nao tem parado na busca de respostas para os desafios a que tem sido submetido e que se concretizaram nas diversas “versdes modifica- das” (p. 21) constituindo aquilo que conhecemos como 0s movimentos pés- -positivistas. Do ponto de vista ontolégico, “o pés positivismo passa de um realismo dito ‘ingénuo’ para uma versio hoje designada por realismo critico” (Guba, 1990, p. 20), ou seja, muito embora admitindo a existéncia de um mundo exterior que opera por leis causais, admite a impossibilidade de obtengao de um conhecimento totalmente objetivo fruto das miiltiplas limitagdes humanas (sensoriais ¢ intelectuais) que exigem do investigador uma rigo- rosa posigio critica perante os dados da observagao, Dai a evolucio episte- molégica para um “objetivismo modificado” (Guba, 1990, p.21) que admite 4 interagdo entre investigador e objeto ¢ a impossibilidade de ser possivel investigar de uma forma neutra, Esta postura reflete-se, ao nivel metodolé- 1s BTODOLOGIA DE INVESTIGAGAO EM CIENCIAS SOCIAIS E HUMANAS 15, ico, pela énfase dada a multiplicidade de fontes (dados, inves, adores, rias, métodos) tinico meio de possibilitar o confiontocritico capa, 4. 2 nator objetvdadepossivel aos resultados da investigacio Gibb, ie ges, 1994; Guba, 1990). no Masnem estelmenso esforglevadoactbo pelo péx-positvismy 4, tido de reabilitar os principios tradicionais do positivismo Iigicy Ra resist aos ventos de mudanga protagonizados pelo ressoar de nove oe mologias que pura e simplesmente deitam por terra 0s alicerces cn Fi baseava o positivismo, eo, Aran, 1.1.2 Paradigma qualitatiyo ou interpretativo Também designado por hermenéutico, naturalist, qualitative ou sind, my, Tecentemente, construtivsta (Creswell, 1994; Crotty, 1998; Guba, 1999) iis Paradigma temas origensainda no século passado (Bogdan & Bilken, 1994) na opinitode Flick (1998), operiodo que designa por “tradicional” teria, Cidido com onascimento da antropologia eda sociologia de Chicago, embs, 86 na década de 60 os cientistas sociais tivessem comecado a mostrar real interesse por abordagens de cariz interpretativo, aparecendo nos EUA os pri meiros estudos subsidiados por entidades oficiaisutilizandotais abordagen (Crotty, 1998; Mertens, 1998). Nadécada de 70,sobretudonosEUA, assiste-se a uma verdadeira explosin de pesquisas evadasa cabo sob este novo referencial, espelhando o sentimento que muitos partilhavam da inoperacionalidade do paradigma positvista que se revelara incapaz de resolver os problemas investigados nas CSH - éa2! fase ou periodo “modernista” (Flick, 1998). Nosmeados dos anos 80 surge a 3 fase da histéria da investigagao qual tativa, fruto de uma “crise derepresentac4o” nascida das discussées em torno dainteligéncia artificial que vaiter forte. impacto sobre estes estudos, levando aque sejam encarados de forma global, como um processo continuo de cons- ‘rucio de miltiplas versGes da realidade (Flick, 1998), Gom 0s anos 90 chega a fase atual, designada por Flick (1998) por +" Tomento, em que a ténica vai para a construcao de teorias que se adaptem® Problemas/stuacoes muito especiicas, uma ‘tradicao” que retine hoje grande nimero de adepros,eque, naliteratura anglo-saxdnica,é conhecida porgrout- ded theory (Flick, 1998; Punch, 1998), 6 eee PARADIGMAS, METODOLOGIAS F METODOS DE INVESTIGAGAC ‘Tal como o paradigma quantitativo/positivista vai buscar as suas origens itivismo de Augusto Comte e a0 empirismo de Locke e Stuart Mill, we lentificam-se com a perspetiva jofos Edmund Husserl e Alfred as abordagens interpretativas/qualitativa fenomenolégica patente nos trabalhos dos fil “Schutz com 0 interacionismo simblico de Herbert Mead*e a etnometodologia ‘Schutz’ s Harold Garfinkel’ ; a Seah de vista ontol6gico, na opiniao de Guba (1990), este paradigma adota uma posigio relativsta ~hé meleipls realidades que existem sob a forma de construgdes mentais socal ¢ experiencialmente localizadas es piraese numa epistemologia subjetivista que valoriza 0 papel do investigndor/ /construtor do conhecimento, justificando-se por isso a adogio de um qua- dro metodolégico incompativel com as propostas do positivismo e das novas versdes do pés-positivismo. De uma forma sintética pode afirmar-se que este paradigma pretende substtuir as nogdes cientificas de expieato, previsto econtrolo do paradigma po: , significado e agao. Vejamos entéo porque. sta pelas de compreensi * Em vez de procurarem estudar o comportamento humano com o objetivo de descobrir ‘sfactose e «causas» os investigadores fenomenologistas tentam compreendero significado que ‘os acontecimentos e interagdes tém para as pessoas vulgares em situagdes particulares, Pro- MH Nees > Ante vertne ‘QUADRO2~Do paradigma aos métodos etécnicas 1.211 Perspetiva Quantitativa, Qualitativa e Orientada Comparando as propostas dos diversos autores depressa nos aperccbeny, que a maioria coincide na aceitagao de duas grandes derivagdes metodoliy cas dos paradigmas de investigagao em CSH: a perspetiva quantitativa ¢, perspetiva qualitativa, A estas acresce uma terceira perspetiva ~ a denon}. nada perspetiva orientada para a pritica ~ que, embora mais diretamente associada 4 investigagio em Giéncias da Educagao, Psicologia e Sociologia se constitui também como um referencial para a generalidade da pesquisa em CSH (Bisquerra, 1989; La Torre et al., 1996). 1.2.1. Perspetiva quantitativa Do ponto de vista conceptual, a pesquisa centra-se na andlise de factose fenémenos observiveis ena medigio/avaliaao em Varidveis comportamentais ¢e/ou socioafetivas passiveis se serem. medidas, comparadas e/ou relacionadas no. aie do processo da investigacéo empirica, pontode vistametodoldgico, alicerca-se num modelo hipotético-dedu- tivo, partindo o investigador do, /postulado de. : chee esses paen sable meds autilizagao de métodos Pa Kemmis 1988). reaidade social deve ser objeto de esta ace etodologa nice, a Gientifica, o que, na opinio de Pérez Ser Civeis, mediveis, Eo, ido 0s fendmenos observiveis, quantifi eOObjetodeestudcag ee nomtta Feduccionismo metodoldgico: let ©n20 0método ao objeto de estudo. (p.?4) PARADIGMAS, METODOLOGIAS E METODOS DE INVESTIGAGAO Do ponto de vista da relagio teoria-pratica, e uma vez que o objetivo desta linha de investigacao é a busca da eficécia e o aumento de um corpus de conhecimento teérico, a teoria assume um papel de relevo no sentido em que é ela que deve guiar a praxis do investigador (Pacheco, 1993). umir uma atitude cien- Por este motivo, o interesse do investigador é a tifica, distanciada ¢ neutra, de modo a comprovar teses ea contribuir para a relagio causal do processo-produto. Os problemas que sto objeto de estudo entendem-se a partir de uma perspetiva de eficicia, O que se estuda pouco tem a ver com os problemas reais e praticos da rea- lidade investigada, respondendo mais a solicitagdes do proprio investigador do que a intervengao ¢ colaboragao do investigado. A relagio investigador/ /investigado carateriza-se por um distanciamento e separagao entre os papéis assumidos por cada uma das partes. Dado que se baseiam em grandes amostras ¢ se fundamentam na crenga de que a realidade social é repetivel e se pode estudar mediante os modelos das ciéncias naturais, os resultados dos estudos da investigagao quantitativa sio suscetiveis de generalizagao (Wiersma, 1995); nesta perspetiva, a cien- tificidade dos estudos manifesta-se numa concegio pan-estatistica quer do conhecimento, quer da realidade. Em sintese e tendo como base o pensamento de alguns dos autores con- sultados (Bisquerra, 1989; Creswell, 1994; Wiersma, 1995), sintetizamos as carateristicas gerais da perspetiva quantitati tatisticamente as hipé- + énfase em factos, comparacoes, relagdes, causas, produtos ¢ resulta- dos do estudo; a investigagao é baseada na teoria, consistindo muitas das vezes em testar, verificar, comprovar teorias ¢ hipéteses; plano de investigagao estruturado e estatico (conceitos, varidveis ¢ hipéteses nao se alteram ao longo da investigagao); estudos sobre grandes amostras de sujeitos, através de técnicas de amostragem probabilistica; aplicagao de testes vilidos, estandardizados e medidas de observacdo objetiva do comportamento; * oinvestigador externo ao estudo, preocupado com questées de obje- tividade; 2 bam BHR reve expire cny ‘olay reger la €necessariamente subjey, ers, [ue ao acreditar sé ser possiya) ade de quantificar resy. © movimento antipositivist, » Como ja referimos ante. jae interacionismo simby iva a investigacio que © os fendmenos por palavras teragoes sociais a partir a qualitativa baseia-se no desvendar a intencio, a0 significativa, isto ¢0 texto” (Pacheco, 1993, ender a situacio sem ens, 1998, p. 160) © estuda faz com que + emitico, a partir do Creswell, 1994); © que ocorre na invest’ PARADIGMAS, METODOLOGIAS F METODOS DE INVESTIGAGAO gagto quantitativa, como o esquema do Quadro 3 procura ilustrar (adaptada de Creswell, 1994, p. 88). erode caso Wetodeloga car quanto Gente de Toate husen de pacts (Teovas) Cancetose vardvescopersdonalidos 9 aie da Teoria Levartaryente de questdes ‘Recolha de dados que conflomem a Teoria Tnvestigadorrecothe dadoe QUADRO3 - 0 desenrolar de uma investigacio quantitativa versus qualitativa Assim, a teoria surge 4 posteriori dos factos e a partir da analise dos dados, fundamentando-se na observagao dos sujeitos, na sua interpretacao e signi- ficados préprios ¢ nao nas concegdes prévias do investigador que estatistica- mente as comprovaria e generalizaria (Miles & Huberman, 1994), Uma vez que, como considera Pacheco (1993), numa investigagao quali- tativa nao se aceita a uniformizagio dos comportamentos mas a riqueza da diversidade individual; O interesse esté mais no contetido do que no procedimento, razto pela qual a metodologia é determinada pela problematica em estudo, em que a generali- zagao ¢ substituida pela particularizacdo, a relagio causal ¢ linear pela relagao Contextual e complexa, os resultados inquestioniveis pelos resultados questio- névels, a observagdo sistemitica pela observagio experiencial ou participante, A questionabilidade dos resultados impée-se porque mais do que o estudo de Srandes amostras interessa o estudo de casos, de agem em situa $6¢5, pois os significados que compartilham si significados-em-acio. (p. 28) Como diria Shaw (1999) mais importante que o rigor é a relevancia dos significados, e dai que o propésito do investigador nao seja de generalizar mas particularizar, estudar os dados a partir de uma situag%o concreta, bus- BP UMANAS: Trop, Ores universais con, ety ©¢oM outros caso, Preferencialr Nene, tg, V0 60 de adescricao e compr $écompreender o que sucede er controls necessitamos de s da forma como operan . 27). depende, por con- la maior interligacao entre z etal., 1996; Pacheco, Serrano, 1998) consti- anteriores, ental, visando uma itrolo da implantagio de ot, SRS ae a er cere PARADIGMAS, METODOLOGIAS E METODOS DE INVESTIGAGAO politicas socioeducativas, ou a avaliagio dos efeitos de outras ja existentes (Pérez Serrano, 1998). Frente a perspetiva empfrico-analitica centrada na explicagio dos fend- menos, ou & humanistico-interpretativa na compreensio das acbes, esta perspetiva tem por fim otimizar a pratica social mediante a aquisigio de conhecimentos priticos. Anivel conceptual, de salientar, como referido atrés, a inspiragao na filo- sofia marxista nas teorias criticas de Adorno ¢ Habermas a economia liberal, de Marcuse & alienagio consumista das sociedades capitalistas, e, a nivel peda- gégico, nas ideias de Paulo Freire e, mais recentemente, de Michael Apple e Henry Giroux. : O quadro tedrico que enquadra esta linha de investigagio parte de dois pressupostos bisicos (Pérez Serrano, 1998): a) Assume uma visdo global e dialética da realidade. A realidade social nfo pode ser compreendida a margem das condig6es ideolégicas, eco- némicas, politicas e histéricas que a conformam e para cujo desenvol- vimento contribuiu. A investigacdo critica trata de ser uma pratica social ¢ intelectual com- prometida na luta ideolégica dirigida a desvendar representagdes, a por a descoberto interesses, valores e crencas, muitas vezes implici- tos, que sobressaem na pratica social tanto dos investigadores como dos investigados. b) Em termos metodolégicos, de salientar o facto da investigagao orientada ‘nao possuir uma metodologia prépria no sentido das duas perspetivas ante- riores, antes se servir dos métodos de ambas (Bravo, 19928). No entanto e uma vez que o objetivo do investigador eritico é “... descobrir que condigses objetivas e subjetivas limitam as situagGes e como poderiam mudar umas ¢ outras” (Carr & Kemmis, 1988, p. 156), a investigagio implica uma participagao e colaboragao estreita entre os atores (investigadores einves- tigados), a criagio de comunidades criticas de investigagao, comprometidas em melhorar as priticas. De certa forma temos uma forte aproximagao 4s metodologias tfpicas de enfoque qualitativo, mas em que a incluso do “objetivo emancipatério” a que Se Procura & um me, blemas sociais que di, da reflexividade: reflex, ereflete com os, ye dos seus condi do sp. do oy. Out dor: (pp. 37- iqualitativo, consiger lima vez que, € tomancg Bera.e organiza na pj seem problemas da rea}, €orientada para aacis, dessa realidade, num pr, nasce na busca da modi gcritica do conheciments fientada hé que sublinharest ‘das suas relacdes coma nadas a manter o qu: 95 problemas da sociedade ape- Findividuos, ou dos problemas social nas vidas dos sujeitos, tivas, mutuamente const- 36). ) passado foi caraterizad nas, fundamentalmente ativo e qualitativo. nica estaria viciada desde minado método co™ adigmitico em pres PARADIGMAS, METODOLOGIAS E METODOS DE INVESTIGAGAO meta-tedricos; ¢) oculta-se a possibilidade de utilizagio conjunta de métodos quantitativos ¢ qualitativos. Mais do que debater as questdes de fundo, consideram os autores, 0 con- fronto entre defensores e detratores dos diferentes paradigmas se limitou a tama série de acusagbes e criticas miituas com forte carga ideolégica ¢ emo tional que em pouco ou nada contribuit para melhorar a qualidade da inves- ‘em CSH.No entanto, a partir dos anos 80, o confronto virulento que pugnava pela imposigio do modelo do paradigma timico deu lugar a uma situagio de maior tranquilidade em que se comega a aceitar a possibilidade de influéncias mituas. Para Walker e Evers (1997) podem considerar-se trés posigdes no debate epistemoldgico entre paradigmas: 2) Incompatiblidade: os diferentes paradigmas @ois ou trés) sao episte- mologicamente diferentes por tio incomensuraveis ¢ irreconcilidveis = esta é a posi¢ao “purista” (Rossman & Wilson, 1985) ou “mono- teista” (Lecompte, 1990) que tem sido defendida por autores como Egon Guba e Yvonna Lincoln; Complementaridade: tal como na postura anterior acredita-se que os paradigmas sao diferentes a nivel ontolégico e epistemolégico, mas aceita-se que o investigador nao tenha de se enquadrar num deles como otinico eo melhor; defende-se a complementaridade de métodos quantitativos qualitativos em fungao do que se afigura ser a melhor solugao do problema a estudar; ©) Integragdo/unidade epistemoldgica: rejeita-se 0 conceito de confronto entre paradigmas advogando-se alternativas que integrem ou supe- rem 0 “velho” confronto. b) Entre os defensores da tiltima perspetiva podemos encontrar posigées diversas. Temos assim a posigo extrema que defende pura e simplesmente a adogao de um novo paradigma a que Nisbet (1992) chama de “investigagao orientada & deciso e mudanga”. Ainda na linha da “superagao” ou “integra- 40” dos distintos paradigmas esto os contributos de Howe em virios arti- 80s publicados entre 1985 1992; o autor nega a obrigatoriedade de opgées metodolégicas univocas e defende a necessidade (mesmo oportunidade) das combinagdes metodoldgicas, porque, argumenta, se o paradigma positivista 33, BHUMANAS: TEOR:4 ; , Mique encontrar um po, nismo integrando ag ye, 1988; 1992). conflito passa por dejy,, b te paradigmitico (con, asnonivel metodolin., de Reichardt ¢ Cook (1955, 'SPe. Petos 4, Mo equivoco ~confind, tos Outros autores, caso de ‘esta tiltima autora, reconhe. iveis de decisao diferentes, nao € exclusiva da meto- imetodologias nao se contr fo a investigar. A ciéncia cionam uma visio mais ficuldades, mas éa posturt ntifica em geral. sbate epistemoldgico est Igicos e epistemoldgt 8) “(.) que faz todo S para verificar como s* io das investigago° ea PARADIGMAS, METODOLOGIAS E METODOS DE INVESTIGAGAO ‘Assim sendo, nos tiltimos anos, vimos assistindo a diversas tentativas de Antegragto das perspetivas metodolégicas quantitativa e qualitativa, que nos deixam antever um futuro de complementaridade metodolégica em vez do antagonismo tradicional (Crotty, 1998; Wiersma, 1995); “ha que superar a dicotomia qualitativo/quantitativo”, defende Pérez Serrano (1998, p. 52), se queremos melhorar a conturbada reputagéo da utilidade (¢ qualidade) da investigagio em CSH. Para Salomon (1991), transcender o debate qualitativo-quantitativo & hoje, e mais do que nunca, uma “necessidade” para quem investiga a complexa reali- dade social e educativa (sala de aula, escola, familia, cultura), onde conglomera a intervengao de varidveis interdependentes (comportamentos, percegbes, atitudes, expectativas, etc), cujo andlise e estudo nao pode ser encarado 4 maneira das ciéncias exatas onde se conseguem isolar variaveis e factos indi- viduais, Analisar os problemas sociais exige abordagens diversificadas que combinem o que de melhor tem para dar cada um dos paradigmas litigantes: combinar a “precisio” analitica do paradigma quantitativo, com a “autenti- cidade” das abordagens sistémicas de cariz interpretativo é — e tomando as palavras de Salomon -, “... uma coabitag’o que esta longe de ser um luxo; é antes uma necessidade se desejamos mesmo que dela nasgam resultados frutiferos” Salomon, 1991, p. 17). Estas ideias sio partilhadas por muitos outros autores quando sugerem a utilizagao das estratégias que melhor se adaptam as quest6es colocadas pela investigagao, independentemente dos paradigmas: tal é 0 caso de Campbell que, apés militincia convicta na corrente quantitativa, revaloriza a perspe- tiva qualitativa como complemento indispensivel e insubstituivel da quanti- tativa, afirmando que “(..) nés, metodélogos, devemos tentar conseguir uma epistemologia aplicada que integre ambas as perspetivas” (Campbell, citado em Bisquerra, 1986, p. 90). O que deve determinar a opgio metodolégica do investigador nio sera a adesio a uma ou outra metodologia, a um ou outro paradigma mas o problema a analisar; como comenta Anguera (1985); “Um investigador nao tem de ade- rir cegamente a um dos paradigmas, podendo eleger livremente uma relagao de atributos que, indistintamente, provenham de um ou de outro, se assim se conseguir uma adaptagio flexivel & sua problematica” (p. 133). IANAS: TEORIA & pp, ic GUESTIOA Vola dy doinvestigador; Bach, em mente uma estr, |quie val investigar, mas tam, mo vai evoluir o decorrer jy leverd enformar toda a invest. ‘equipado com técnicas nio lade de organizar (e reor investiga; 3° a pesquis: pptual que se aproxime, eacio, (Estrela, 1984, citado em S entre quantitativo/ ‘compreensio, o autor pro- “tealismo transcendental’, PARADIGMAS, METODOLOGIAS F METODOS DE INVESTIGAGAO THlisgio para endear de "grup, no para aces Individuals FIGURA I - Complementaridade entre as abordagens quantitativa e qualitativa ‘Wiersma (1995, p. 12), fala num continuo quantitativo-qualitativo em vez daexisténcia de diferencas conceptuais e metodolégicas de cariz dicotémica entre ambos os paradigmas; ¢ o autor sintetiza as suas ideias numa figura muito simples em que situa as duas perspetivas de investigagao sobre uma Jinha continua tendendo cada modalidade (ou método), ora para um, ou para outro lado da extremidade da linha, consoante se trata de uma investigagio experimental pura, de um estudo de caso ou etnogrifico (Figura 2). Quantitativs [Experimental experimental Dedusto Relagoes, cass, feos Pundamentarteorts Livre docontero (generis m-se em encontrar pon- de investigagao sejam elas de planos multi/pluri- Se qualitativos sao uma das ith PARADIGMAS, METODOLOGIAS E METODOS DE INVESTIGAGAO PoNTOS GRITICOS DE COINCIDENCIA ENTRE METODOLOGIAS QUANTTTATIVA E QUALITATIVA Pontos ritios 1 Bayesconeptusts Aspetos bisicos comuns LL Partir de uma concegio coerente de cigncia 1.2, Postura deinida no debate paradigmiticoe no debate {quantitaivo-qualitativ; 1.3.Situaro papel dos valores 14. A nivel metodoldgico, situar o investigador face 20 objeto, decidir o papel dos participances, a calendariza- ‘lo, stéenicas de recolha de dados, otipede anise esta- tistcaa fazer, ete, - . 21. Explorar realidade ainvestigar - oh ain 2.2, Calocar objetivos ou interrogagbes sobre o que aver ‘guar, descrever ow transformar 12.3, Fundamentar e contextualizaro problema através de ‘uma revisto bibliogrfiea 2.4, Em funsio do problema a investigar as opgbes meto- oligicas devem ter alguma flexibilidade bogie ego 3. Qualdade do desenho panos quanttatvos preocupan- kas ssecoma vlads Saline; plane qualia pa ‘arse pela credbildade, transfvbldade dependenla ‘confirmabiidade S31, Ajustamentos no desenho: 8 quantativos por aus- tamentoe levee problemas mals aberto fou neusio de outros participates natonada de decades os qualita tos sstematizando explioagoesaternativas, estadando ‘arlveseleranes,reefnindoodesenho em fungSo das Toadies repeat UPlano/deseno 32Dados:syetoseinstrumentas 32.1 Amostras intencionats: evitaro erro, descrevendo- “se suficientemente bem. Quando nio houver populacio recorrer ameta-andlises 3.22. Recolha de dados:ststematizaraInformagto reco- ‘hidaclassificando por viriosritériosa informagio quan- titatva ou qualitativa obtida 331, Anilise quantitativa de dados quantiativos (enllse estatitia de dados resulrantes de medigio de varineisde scala nominal, ordinal, intervalo ou 4240) | 3.3.2 Anilise quantitativa de dados qualtaivos (alse ‘estaistica de dados qualtativos quantifcados, por exem- ploandlscesatitieadetexto) ee 3.33. Anilise qualtativa de dados quanttatvos (quando ‘io € possivel cumpriros parimetzosexigidos) 3.34, Anilise qualitativa de dados qualitativos 335. Metarandlise 3.3 Andlise dedades +4. Concluses (alae) Soke geaieeeioneeee ei ‘obtidos em fungio dos objetivospropastos 4.2 Integrarasperspetvas teria, oa ccempiricasentte s coma que oinvestigador Cobrs) sobre tematic nosex etna 443. Diseutirainvestigagio no seu todo (lobalizagio) 44-Tiraras concasbes como o resultado natural da lo- balizagto QUADRO 4~ Pontos de convergéncia entre metodologias a odos métodos pro ; Priam, nte de opgdes metodols.. beet Bicas ty deinvestigagio Mais conceituados pro. nem sempre sio coinciden. ‘Cohen e Manion (1994), de 33), Mason e Bramble (1997) © Quadro 6 ~e depressa nos s sfo aparentes dependendo, qual o autor em causa aborda Merten (999, 1 periment Qu experimental CCausalcomparts CCorelacos! Survey Sulton Qualia =| seco Avaliago | Causal/compa- tie planos de investi to abrangente qua"? PARADIGMAS, METODOLOGIAS & METODOS DE INVESTIGAGAO métodos desenvolvidos em CSH, destacamos como mais representativos os seguintes enfoques: + Segundo a conce¢ao do fenémeno social: investigagdo nomotética, se pretende estabelecer leis gerais (do grego nomos=lei) o que implica a utilizagdo de métodos quantitativos, ¢ investigagio idiogrdfica, se enfa- tiza o individual e particular, sem pretender chegar a leis gerais nem ampliar o conhecimento teérico (tratamento qualitative de dados) (Bisquerra, 1989; Latorre et al., 1996); + Segundo a finalidade, distingue-se a investigagéto pura ou bésica, se 0 objetivo primeiro ¢ conseguir novos conhecimentos, aumentar a teo- ria, da investigagdo aplicada, se est4 encaminhada para a resolugao de problemas praticos, sem preocupagées por generalizar resultados encorpar teorias (Charles,1998; Wiersma, 1995); + Segundo a natureza dos dados, a investigagio pode ser quantitativa (objetivista, nomotética, recolha de dados com base em provas obje- tivas, aplicagao de técnicas estatisticas para a andlise de dados), ou qualitativa (desde “dentro”, interpretativa, dirigida ao particular, idio- grafica) (Bisquerra, 1989); + Segundo a manipulagao de variaveis, pode ser descritiva (nao se manipulam variéveis), experimental (manipulam-se variéveis) ou ex post facto (nao se controla a variavel independente porque ocorreu de forma natural, estuda-se o fenémeno “depois” de ter acontecido) (Bisquerra, 1989); + Segundo o objetivo, podemos considerar os métodos ou planos des- «ritivos (descrevem um fendmeno), explicativos (0 objetivo é explicar os fenémenos) experimentais (0 objetivo é controlar o fenémeno) ou predi- tivos (0 objetivo € prever o fendmeno) (Bisquerra, 1989); + Segundo o aleance temporal a investigagio é transversal se estuda ‘um aspeto dos sujeitos num dado momento, ¢ longitudinal se estuda os Sujeitos em diferentes momentos. Chama-se de painel se a observagio incide sempre sobre os mesmos sujeitos e de tendéncia se os sujeitos sio diferentes; + Segundo a profundidade, é possivel distinguir (Best & Kahn, 1993; Bisquerra, 1989; Macmillan & Schumaker, 1997; Wiersma, 1995): “a isbrio na medida gue to da situacio gue. Oprincipal descreye,, eseinclui grande variegyj, PFOCUF encontrar rela, varlveis, Porque ayy, ninados estudos expo scorrelacionais, etc) varivel independent, aisdependentes em grupos onados de forma ale. atoria), anilise de dados; @anteriormas para o cas facto ime distinguir os estuds selecionadas por técnicas ntira sua representatividade, metodologia quantitativa, lisa um s6 sujeito, ou um jes de representatividade, to. com base em metodologias isquerra, 1989; MacMillan & PARADIGMAS, METODOLOGIAS F METODOS DE INVESTIGAGAO. ATIVIDADES 1-O que distingue a investigacio qualitativa da quantitativa? Faca uma lista das principais carateristicas identificadoras de cada uma dessas duas gran- des familias metodolégicas da investigagao em Ciéncias Sociais e Humanas em fungio dos fundamentos tedricos, natureza da realidade a investigar, finalidade da investigacao c estilo do investigador (use a tabela que segue para responder). Investigagio quantitativa | Investigagio qualitativa Fundamentos tedricos Natureza da realidade Finalidade investigagto Estilo investigador 43 N, & Kemmis, S. (1988). Teoria rig Barcelona: Martinez Roc GM. (1998). Introduction to ecg research (3 ed.). New York: Long , L,, & Manion, L. (1994). Resear in Education (4* ed.). London tinho, C. P. (2005). Percursosdainvsign ’ pin educativa em Portugal-um temdtica e metodoldgia a public (1985-2000). Braga: CIED, sidade do Minho. (1994). Research desigr: Quali titative approaches. Thousan’ 7E Publications. (0998). The foundations of meaning and perspetive in the process. London: SAGE Publics 2000). The things we do. 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