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ABPMC  | dezembro de 2011  |  n. 35 | ISSN 2178-583X

Despedida da Presidente

Aos amigos, parceiros, colaboradores,


colegas e sócios da ABPMC

O estudo do controle aversivo no Brasil:


Um breve panorama histórico

Afinal, somos behavioristas metodológicos?

Somos todos behavioristas metodológicos

Centro de Análise do Comportamento de


São Paulo (CeAC)

20 anos

1991 . 2011
Diretoria ABPMC gestão 2010/2011
Presidente
Maria Martha Hübner (USP)
Vice-Presidente
Denis Roberto Zamignani (Núcleo Paradigma)
Primeira Tesoureira
Roberta Kovac (Núcleo Paradigma)
Segunda Tesoureira
Sonia Beatriz Meyer (USP)
Primeiro Secretário
Ricardo Corrêa Martone (Núcleo Paradigma)
Segundo Secretário
Expediente
Roberto Alves Banaco (PUC-SP e Núcleo Paradigma)
Boletim Contexto
Conselho Consultivo Uma publicação eletrônica da
Vera Regina L. Otero (Ribeirão Preto) Associação Brasileira de Psicologia e
João Claudio Todorov (IESB Brasília)
Medicina Comportamental (ABPMC)
Deisy das Graças de Souza (UFSCar)
São Paulo, n. 35, dezembro de 2011
Francisco Lotufo Neto (IPq HC FMUSP)
Maly Delitti (PUC-SP)
Maria Amalia Pie Abib Andery (PUC-SP) Coordenação editorial
Vera Raposo do Amaral (PUCCAMP) Dante Marino Malavazzi
Jan Luiz Leonardi
Membros Permanentes do Conselho Consultivo
Bernard Pimentel Rangé (UFRJ)
Colaboração especial
Hélio José Guilhardi (ITCR Campinas)
Roberto Alves Banaco (PUC-SP) Denis Roberto Zamignani
Rachel Rodrigues Kerbauy (USP)
Maria Zilah Brandão (PSICC) Projeto gráfico e diagramação
Wander Pereira da Silva Eduardo Musa e Silvia Amstalden
Maria Martha Hübner (USP)
Sumário

Despedida da Presidente  4
por Maria Martha Costa Hübner

Aos amigos, parceiros, colaboradores, colegas e sócios da ABPMC  9


por Denis Roberto Zamignani

O estudo do controle aversivo no Brasil: Um breve panorama


histórico  13
por Bruna Colombo dos Santos e Maria Eliza Mazzilli Pereira

Afinal, somos behavioristas metodológicos?  19


por Cassia Roberta da Cunha Thomaz

Somos todos behavioristas metodológicos  24


por Marcus Bentes de Carvalho Neto

Centro de Análise do Comportamento de São Paulo (CeAC)  31


Boletim Contexto n. 35

Despedida da Presidente

Prezados associados,

Após quatro anos na presidência da ABPMC, despeço-me. No planejamento


dessa despedida, elaborei o texto de abertura, apresentado no XX Encontro,
que abaixo transcrevo. Nele, vocês acompanharão minha análise da trajetória
que percorri como presidenta, de 2008 a 2011, culminando na programação
internacional do XX Encontro e de alguns aspectos de seus bastidores.
Na ocasião em que encaminho este texto para o Boletim Contexto, o
Natal de 2011 se aproxima, bem como o Ano-Novo, de 2012. A todos os
associados, um lindo Natal e um Ano-Novo repleto de energias renovadas.
À nova gestão desejo um único enfoque: muito amor, seriedade e dedi-
cação à nossa ABPMC! Já antevejo o sucesso!

Discurso de Abertura do XX Encontro dente do XX Encontro da ABPMC e do I Encontro


da Associação Brasileira de Psicologia Sul-Americano de Análise do Comportamento;
e Medicina Comportamental e I Dra. Maria Malott, presidente-executiva da
Encontro Sul-Americano de Análise do Association for Behavior Analysis International
Comportamento (ABAI), a maior associação científica do mundo
em análise do comportamento;
Salvador, 7 de setembro de 2011. Dra. Paula Gomide, presidente da nossa que-
rida Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP);
Prezados colegas convidados, que aqui com- Dr. Guilhermo Rodriguez, presidente da
põem esta mesa de abertura, uma mesa que se Associação Latino-Americana de Modificação de
configura, pela importância de cada um que aqui Comportamento;
está e pelo que representam, a mesa de abertu- Dr. Wilson Lopez, presidente da Associação
ra de maior representatividade institucional que de Análise do Comportamento da Colômbia;
já tivemos na história da ABPMC, por envolver Dr. Erik Arntzem, presidente da Associação
associações científicas nacionais e internacionais Europeia de Análise do Comportamento;
que têm em sua história a dedicação à análise do Prezados convidados internacionais, que vêm
comportamento e à psicologia comportamental de três diferentes continentes, saúdo a todos na
e cognitivo-comportamental; pessoa de Sigrid Glenn, uma grande pesquisa-
Prezados conselheiros da ABPMC, que aqui dora e teórica no tema cultura e que tanto vem
cumprimento na pessoa de Vera Otero, uma das contribuindo com o desenvolvimento desta área
sócias-fundadoras da ABPMC e membro eleito de pesquisa e discussão em nosso país.
de seu Conselho; Querida Comissão Organizadora Local, co-
Prezados colegas de diretoria e demais comis- ordenada pela psicóloga Ana Claudia Souza, a
sões, que aqui cumprimento na pessoa de Denis quem cumprimento todos e cada um. Nos mol-
Zamignani, vice-presidente da ABPMC e presi- des da SBP, que leva seus congressos anuais por

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Despedida da Presidente Boletim Contexto n. 35

todo o país, é também a primeira vez que o gru- - uma enorme disposição e competência em nos
po que dirige a ABPMC, grupo esse sediado em ajudar e em conseguir fomentos. Pela primeira
São Paulo, dispõe-se a propor um Encontro, com vez, conseguimos o apoio da Petrobrás e foram
essas dimensões, fora do local de origem de seu os baianos que conseguiram!!! Foi uma Comissão
grupo. Isso revela, a meu ver, mais um avanço Local que nos ajudou a organizar um empreendi-
em nossa maturidade, em assumir sua identida- mento internacional como este, com o charme, o
de nacional com o decorrente trabalho de difu- sabor e o ritmo que nos move cantarolando.
são e desenvolvimento da área por todo o país. Como já disse em meu texto de abertura do
Assim, trabalhamos com uma Comissão Local. programa, se Skinner tivesse tido a oportunida-
Como já trabalhei antes neste formato, como de de conhecer a Bahia, a análise do comporta-
presidenta que fui da SBP por quatro anos, pos- mento teria sido ainda melhor!!!
so dizer que nunca vi uma Comissão Local tão Pela primeira vez, vimos nosso congresso ser
animada e envolvida. Nas reuniões locais e on- divulgado junto ao pão de cada dia, na região
line que fizemos, víamos e percebíamos as difi- de Alagoinhas, interior da Bahia, em 30 mil sa-
culdades encontradas, sempre muitas, é claro, cos biodegradáveis de pão.
quando se têm recursos limitados. Mas não vi Nossos agradecimento à empresa Publipan. Foi
ninguém esmorecer em nenhum momento. uma iniciativa criativa e simples da Comissão Local,
Nos últimos dias que antecederam o evento, conduzida nesse item por Maria da Conceição.
em meio às nossas madrugadas de trabalho, e- Vocês conseguiram levar a imagem do nosso con-
-mails organizados e competentes vindos da gresso a tanta gente, gente simples, gente hu-
coordenadora da Comissão, Ana Claudia, indi- milde, gente de todo jeito, pareando-o com um
cavam a agenda operacional pré-congresso da reforçador primário tão belo como o pão de cada
Comissão e acrescentavam um tom da envolven- dia, que alimenta, que sustenta. Que a ABPMC
te musicalidade baiana. Os e-mails tinham por continue assim, pareada a essa imagem de alimen-
título “Acelaraê”, lembrando a música de Ivete to e sustentação pelas ações que realiza!!!
Sangalo, que serviu de bálsamo nas madru- Genial! Isso é Bahia!
gadas de insônia de nossa tesoureira Roberta Em uma entrevista ao grupo Comporte-se,
Kovac, que fazia e refazia nossas contas diaria- em abril último, quando estive aqui em Salvador
mente para que pudéssemos ter um congresso para reuniões e para Jornada de Análise do
sem prejuízos para a associação e que pudes- Comportamento de Salvador, me perguntaram
se, ao mesmo tempo, ser de qualidade, com o por que a ABPMC estava vindo para o Nordeste
conforto de sempre, mas com muita parcimônia e começando por Salvador. Minha resposta ba-
nos gastos, para que possamos passar à ges- sicamente mostrou a necessidade de sairmos
tão seguinte a verba para comprarmos, após 20 dos grandes centros (Sudeste), em que já so-
anos, nossa sede própria. Já não é sem tempo!!! mos muitos, para as regiões em que precisamos
Sonhamos com isso!!! crescer ainda mais. E nada melhor do que co-
Obrigada, Comissão Local, pelo jeito baiano meçar por uma região do Nordeste que tem fei-
de nos fazer trabalhar mais leves, mas sem perder, to um trabalho constante e profícuo pela análise
em nenhum minuto, a competência e a seriedade. do comportamento, já tendo realizado até hoje
E saúdo agora a nossos amados associados sete jornadas de análise do comportamento, o
da ABPMC, nossa razão do fazer e do continuar que a torna um centro retransmissor e produtor
fazendo! de conhecimento analítico-comportamental.
A ABPMC está no Nordeste! Isso é maravilhoso! Assim, um sonho antigo se concretiza, sonha-
É um grande deleite poder ver a análise do do desde o primeiro momento em que decidimos
comportamento em uma moldura tão linda e ins- circular pelo país e saímos para Londrina, na ges-
piradora como este mar que nos ladeia, e com tão de Zilah Brandão. Voltamos para o Estado de
gente tão especial, como já disse, tão trabalha- São Paulo nos anos seguintes e, bem solidifica-
dora e disposta a nos mostrar, nesses quatro dos, fomos ao Centro-Oeste em 2006 e 2007. De
dias, o que diz o refrão de Caymmi:“O que é que volta à São Paulo, nossa gestão 2010-2011 voltou
a baiana tem?”; O que é que os baianos têm? a pensar em sair da situação confortável de es-
Como também já disse, nós descobrimos outras tar perto do maior contingente de AC (a própria
coisas além daquelas mundialmente conhecidas cidade de São Paulo) e, como num processo de

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modelagem, fomos um pouquinho mais longe de Denis Zamignani, é possível que acabássemos
grandes metrópoles paulistanas e alcançamos as hoje no Centro de Convenções Rebouças, ali
montanhas de Campos de Jordão em 2010. bem perto da USP, onde eu trabalho, e perto
Penso hoje, metaforicamente, que Campos do Núcleo Paradigma, onde o Denis trabalha.
de Jordão foi uma parada estratégica para dar O fato é que, além da regra de que tínhamos
aos nossos associados um local prazeroso para de ir além de São Paulo, fomos também sendo
divulgarem suas pesquisas, estudos e atendi- conquistados pelas contingências do dia a dia,
mentos clínicos, além de um descanso das via- pela competência baiana, pela criatividade, e
gens que teremos de percorrer daqui por diante. aqui estamos felizes e honrosos.
Carolina Bori, em discurso na UFSCar, por Estamos realizando o que podemos chamar
ocasião da JAC São Carlos, ao falar da ABPMC, do segundo encontro internacional na história
disse que havíamos iniciado um movimento itine- da ABPMC: o primeiro foi em 2004, quando
rante quando fomos à Londrina e que isso preci- Maria Malott, que aqui está, Helio Guilhardi e
saria ser melhor analisado e observado. Ao final eu trabalhamos juntos na Comissão Executiva
deste Encontro e com as implicações positivas do Encontro para que fizéssemos os dois con-
advindas, que tenho certeza virão, saberemos a gressos juntos. Já antevejo que repetiremos o
resposta a essa pergunta de Carolina Bori. sucesso daquele grandioso evento.
A Associação maior em análise do comporta- Embora sul-americano, vocês verão, no pro-
mento, a nossa querida ABAI, em seus 37 anos, grama, que há também convidados portugueses,
realiza congressos anuais, cada vez em uma cida- noruegueses, norte-americanos e irlandeses. Isso
de diferente dos Estados Unidos. Cresceu tanto reside no fato de que a internacionalização da ci-
que passou a fazer o mesmo, a cada dois anos, ência é um fenômeno positivo e irreversível. As
em diversas regiões do mundo (2004 foi no Brasil fronteiras, no plano da ciência, são virtuais e, mes-
e, neste ano, em Granada, na Espanha, sob a co- mo quando se estudam questões próprias de cada
ordenação do Brasil, dada a minha função de país, outras nações podem se beneficiar dos pro-
representante internacional junto ao Conselho cessos comportamentais ali descritos e analisados.
Executivo da ABAI). A presença de analistas do comportamento de
Nesse sentido, o I Encontro Sul-Americano de Portugal, Reut Peleg e Nicole Dias, jovens analis-
Análise do Comportamento pode ser o primeiro tas do comportamento aplicados, originou-se da
de uma série e nem sempre precisa ser no Brasil. preocupação em estreitar as interações no nível
Nossos colegas sul-americanos estão aqui conos- de aplicação, entre nossos dois países, no tocante
co e, juntos, discutiremos os rumos futuros dessa ao desenvolvimento da análise do comportamen-
iniciativa da ABPMC. Sabemos que somos o maior to para pessoas com desenvolvimento atípico,
grupo de analistas do comportamento do mundo, com o conforto de falarmos a mesma língua. Lá
fora dos EUA. Não podemos fugir de nosso papel eles são poucos e nós aqui mais e precisamos es-
nessa liderança. Assumindo de fato essa posição, tar preparados, com um contingente maior, para
podemos contribuir muito e de modo absoluta- o boom de procura aos analistas do comporta-
mente democrático e em nível de parcerias para mento que está havendo no Brasil e em Portugal
o crescimento da AC na América do Sul. nos últimos cinco anos. Para esse contingente
Ao falar que não podemos fugir, penso que de preparo estratégico, descobrimos também
hoje, 7 de setembro, Dia da Independência, Dia analistas do comportamento em nossa vizinha
de Pátria, é um dia bastante propício para essa Argentina, como Manuela Fernandes Vuelta.
reflexão, pois me remete a uma parte de nosso Os maiores grupos brasileiros que trabalham
hino que me é bastante cara: “Um filho seu não com essa população, o grupo argentino e o gru-
foge à luta!” po português, estarão aqui ministrando seus cur-
Mas, para fazer tudo isso, é preciso ter a con- sos e se reunindo em uma mesa-redonda para
cepção e a visão dessa liderança e gente que somarmos forças e iniciar intercâmbios com vizi-
tem o chamado “espírito empreendedor”, que nhos histórica e geograficamente mais próximos.
compartilha essa visão e que apresenta uma boa Mas precisamos também pensar na ABPMC
dose de coragem e otimismo. Não tivesse esse como uma prática cultural que pode transfor-
perfil, não fosse a persistência, ousadia e tra- mar uma sociedade. Convidamos nosso colega
balho duro de nosso presidente do Encontro, Wilson Lopez, da Colômbia, que abordará, como

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Glenn e Ingumm Sundaker da Noruega, como uma vez nos apoiaram, com recursos importantes,
Leslie, da Irlanda, temas relacionados à cultura e dando-nos não apenas condições de realizar o
à sustentabilidade, especificamente. Wilson tam- congresso, mas a certeza de que o que aqui ofere-
bém representa a Federação Ibero-Americana de cemos foi avaliado pelas respeitadas agências de
Psicologia, a quem agradecemos pelo apoio à es- fomento do país, o que nos fortalece e aumenta
tada do professor Wilson em nosso país. Ele, por nosso prestígio junto à comunidade científica!!!
sua representação, simboliza uma ponte com os Continuamos também em interações estáveis
centros espanhóis, portugueses e colombianos e e frutíferas com outras sociedades científicas na-
poderá nos ajudar imensamente a maximizar a cionais e internacionais, temos um representante
atuação comportamental para mudanças sociais. oficial da ABPMC junto à SBPC – Candido Pessoa,
Neste XX Encontro, já instituímos o prêmio a que organizou um série de atividades na última
trabalhos sobre comportamento humano e sus- reunião em Goiânia, algumas delas voltadas à sus-
tentabilidade, tema do Encontro, e esperamos tentabilidade e ao comportamento humano. Ao
que os desdobramentos desse prêmio, somados mesmo tempo, muitos de nossos conselheiros são
à presença de Sigrid Glenn, de Ingumm Sundaker, também conselheiros atuantes da SBP. Nossa in-
de Wilson Lopez e dos nossos pesquisadores bra- serção e visibilidade internacional tornou-se maior,
sileiros sobre o tema, tenham sido contingências na medida em que todos os anos apresentamos
reforçadoras para que mais trabalhos na análise em exposição na ABAI as atividades e conquis-
comportamental da cultura emirjam em nosso país. tas da ABPMC e nas ABAI fora dos EUA sempre
Nossos colegas e convidados norte-america- somos convidados e descrever o que temos feito
nos não poderiam faltar a um momento históri- aqui no Brasil, juntamente com outros países.
co como o que aqui vivemos neste XX Encontro Nossas publicações continuam vivas, dinâmi-
e I Encontro Sul-Americano: há uma tendência cas e ativas: a revista está em formato eletrôni-
mundial em seguir o modelo norte-americano co, com hospedagem gratuita e domínio USP;
de certificação de analistas do comportamen- neste congresso, já foi lançado o Volume 13;
to (conhecido como BCBA ou BACB), mas dois a coleção Sobre Comportamento e Cognição
convidados especiais norte-americanos que transformou-se também online, gratuita aos só-
aqui estão - Sigrid Glenn e Jack Marr - foram cios, com ISBN e, em outubro, um novo volume
convidados justamente para debater esse mo- com 55 artigos foi lançado.
delo, analisar a experiência norte-americana Finalmente, assumimos definitivamente nos-
de 20 anos e analisá-lo criticamente conosco, sa função de representar os behavioristas, o
junto com colegas brasileiros que vêm estudan- behaviorismo e a análise do comportamento;
do o assunto (como Roosevelt, Lotufo Neto, na no último ano, pedimos correções às questões
experiência com a Psiquiatria, Amalia Andery equivocadas do ENEM sobre o behaviorismo, o
com sua longa experiência na CAPES e agora que nos foi prometido para o próximo exame; es-
na direção da graduação de psicologia). crevemos para a revista Veja e para vários blogs
Na área de interesse tradicional e forte da relacionados, explicando à comunidade por que
ABPMC - a terapia comportamental e a terapia Dunga não é um behaviorista, por que aquilo que
comportamental-cognitiva-, optamos por trazer fazia a falsa psicóloga Beatriz Cunha nada tinha
pesquisadores que discutissem o que temos de a ver com os princípios que defendemos e, em
novidades nas tendências recentes, nas novas conjunto com a SBP, enviamos cartas públicas em
propostas de terapia. Kelly Wilson e Michael protesto a ações do CFP contra o chamado “de-
Dougher estão aqui, para discuti-las conosco e poimento sem dano”. Como vêem, o trabalho
relacioná-las com a análise do comportamen- não é pequeno, mas a paixão pela AC é grande.
to, juntamente com Oswaldo Rodrigues, Lotufo Assim como a paixão de muitos de vocês.
Neto e outros brasileiros. Neste ano de 2011, estamos em processo de
Um aspecto importante deste cenário é que eleição para que um novo grupo possa assumir
toda a concepção deste XX Encontro e do I esse sonho e ter a alegria que estamos tendo
Encontro Sul-Americano, bem como seu progra- hoje em poder oferecer a vocês conquistas. Já
ma, foram avaliados por nossos pares, nas agên- temos uma chapa inscrita e vitoriosa, de gente
cias nacionais de fomento, e conseguimos a apro- corajosa e jovem como meu vice-presidente e
vação do CNPQ, da CAPES e da FAPESP, que mais eu. Aprendi com a professora Carolina Bori que

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Boletim Contexto n. 35

uma boa presidenta não termina sua gestão sem


planejar a sucessão. Fizemos isso em conjunto
com toda a diretoria durante um ano. Muitos de
vocês, líderes-seniores, foram por nós consulta-
dos sobre a possibilidade de se candidatarem.
Na escassez de candidatos na faixa etária entre
os 50 e 60 anos, passamos a procurar e anali-
sar na faixa dos 30. Foi aí que encontramos um
grupo disposto a continuar todo esse trabalho;
arregaçaram as mangas e se candidataram. O
futuro da ABPMC está muito promissor.
Mas, voltando ao presente, eu termino e dei-
xo agora meu forte abraço a cada um de vocês,
desejando que tenham profícuos, agradáveis e
produtivos dias, aproveitando tudo o que pla-
nejamos com muito cuidado para vocês!!!
E a todos os baianos aqui presentes, meu
abraço especial.

Maria Martha Costa Hübner


Presidenta da ABPMC
De 2008 a 2011

Maria Martha Costa Hübner 8


Boletim Contexto n. 35

Aos amigos, parceiros, colaboradores,


colegas e sócios da ABPMC
Denis Zamignani1

Queridos amigos, parceiros, colaboradores, co- transparência, comunicando e justificando cada


legas e sócios da ABPMC, decisão tomada. Sabíamos que tal postura abriria
a possibilidade de críticas, mas acreditamos que
Começo este texto da mesma forma como co- o debate (desde que respeitoso) é parte essen-
meçamos, ao longo dos últimos dois anos, todas cial do funcionamento de uma Associação.
as comunicações que enviamos a vocês. A esco- Eu deveria falar agora sobre o XX Encontro da
lha do formato reflete um pouco do significado ABPMC, mas é impossível referir-me a ele sem
que tem, para nós, a última publicação desta uma menção ao contexto no qual ele foi gerado,
gestão da ABPMC. É inevitável um certo tom que diz respeito à Associação como um todo.
nostálgico, pois, apesar das inúmeras dificulda- Tivemos como atual diretoria a responsabili-
des que envolvem a gestão de uma associação dade de estar à frente da ABPMC em um mo-
como esta, os dois últimos anos foram carre- mento especial. Nossa Associação comemora-
gados de bons momentos que marcarão para va 20 anos de existência. Nessas duas décadas,
sempre a nossa história. Eu poderia enumerar a ABPMC cresceu em número de associados e
aqueles que me vêm à memória nas próximas amadureceu muito, exercendo hoje com distin-
linhas, mas, além do risco imperdoável de deixar ção seu papel na disseminação e fortalecimen-
de fora pessoas e histórias importantíssimas, o to da análise do comportamento e da psicolo-
texto ocuparia todo o espaço destinado a este gia cognitivo-comportamental em nosso país.
Boletim. A atual diretoria assumiu com afinco a conti-
Gostaria de destacar também o uso, neste e nuidade dessa empreitada, fazendo o que estava
em todos os outros textos que escrevi ao longo ao nosso alcance para honrar essa história.
desses dois anos, do nós, ao me referir ao traba- Ao assumir esse desafio, sabíamos que a
lho desenvolvido. Destaco isso para deixar claro ABPMC não poderia ser uma associação vol-
que não se trata apenas de plural majestático, tada apenas para seus próprios associados.
mas de uma genuína referência a um trabalho Acreditávamos que era o momento de a ABPMC
que não foi desenvolvido por uma ou outra pes- mostrar às comunidades leiga, profissional e cientí-
soa, mas por uma equipe enorme a qual nós tive- fica que nossos profissionais e pesquisadores con-
mos a incumbência e a honra de coordenar. Digo tribuem para a sociedade por meio de seu conhe-
isso para reafirmar algo que aqueles que estive- cimento produzido e de seus serviços prestados.
ram junto de nós puderam constatar: em todo o Para a primeira delas propusemos o progra-
tempo, tivemos um grande cuidado para que a ma ABPMC Comunidade, ampliação da proposta
nossa passagem pela diretoria da Associação não de diretorias anteriores. Com o apoio do Parque
deixasse sequer a ideia de que trabalhávamos Tecnológico de Itaipu, começamos nosso primei-
pelo favorecimento de uma ou outra pessoa ou ro desafio na cidade de Foz do Iguaçu, a partir de
instituição. Procuramos trabalhar com a máxima 2010. Em 2011, foi a vez da cidade de Salvador,
sede da segunda etapa do projeto. Além de ati-
1  Vice-presidente da ABPMC no biênio 2010-2011.
vidades realizadas ao longo de todo o ano de

Aos amigos, parceiros, colaboradores, colegas e sócios da ABPMC | Denis Roberto Zamignani 9
Boletim Contexto n. 35

2011, com a coordenação de Ana Lúcia Ulian, Associação. Além disso, foi possível divulgar com
tivemos no XX Encontro um conjunto de ativida- mais agilidade as informações sobre a Associação
des voltadas à comunidade, levando à população e o Encontro, ampliando o alcance de nossa co-
da região diversos temas de seu maior interesse. municação por meio da facilidade de propagação
Respondemos também à comunidade por de informações propiciadas pelas redes sociais.
meio de cartas e comunicados, em defesa da A preocupação com uma melhor comunica-
área, quando surgiu na imprensa algum tema ção refletiu-se também na própria organização
que colocava em questão a ética ou a validação do livro de programação do Encontro. O progra-
de nossos procedimentos, técnicas e teorias. ma apresentava um índice remissivo, que facili-
A mesma preocupação com o valor social de tava a localização das atividades por autor, além
nosso conhecimento levou à escolha do tema de um mapa diário, facilitando a localização das
comportamento humano para um desenvolvi- atividades simultâneas. Por último, inserimos
mento sustentável. O tema diz respeito a uma também ao final da programação o regulamen-
questão extremamente relevante e atual. Há to adotado pela Comissão Científica, sempre
muito tempo a tecnologia da análise do compor- visando à transparência de nossas decisões.
tamento tem contribuído com soluções criativas Ainda tendo como meta que a ABPMC fosse
e propostas inovadoras no manejo de questões mais representativa do perfil de nossos associa-
ambientais. Sabemos que a atual mobilização dos, atendendo às inúmeras solicitações dos
em defesa de um mundo sustentável se refere à profissionais e pesquisadores, demos início ao
- nada mais, nada menos - promoção de mudan- processo que culminou na mudança da denomi-
ças de comportamento humano. A defesa de um nação da ABPMC para Associação Brasileira de
desenvolvimento sustentável envolve mais que Psicologia e Medicina Comportamental.
a conscientização das pessoas sobre a finitude A realização do Encontro na cidade de
de nossos recursos naturais. Envolve o desen- Salvador também veio ao encontro de muitas
volvimento de novos padrões de interação do solicitações de profissionais do Nordeste que,
indivíduo com cada aspecto de seu cotidiano. há anos, têm contribuído com trabalhos de al-
Indivíduo este que, desde suas primeiras ações tíssima qualidade para a realização do Encontro.
ao acordar, se depara com escolhas que podem Como resultado dessas e de muitas outras
priorizar suas necessidades individuais ou a so- ações, pudemos constatar no XX Encontro da
brevivência do grupo. O XX Encontro foi um ABPMC um retorno muito positivo das mais
evento totalmente sustentável. Com a consulto- diversas esferas sociais. Como apontado por
ria de Angela Perondi, pudemos fazer com que nossa conselheira Maria Amalia Andery, obti-
cada detalhe do Encontro fosse pensado para vemos o reconhecimento de nossos pares, da
ter seu impacto ambiental minimizado. comunidade científica e da sociedade.
Era a hora também de a diretoria da Asso- O primeiro reconhecimento pode ser consta-
ciação se aproximar mais de seus associados. tado por meio do número expressivo de partici-
Decidimos ampliar a comunicação da Associa- pantes do Encontro, das mais diferentes regiões
ção em todas as direções. O site da Associação do país, e do número de instituições afiliadas.
foi separado do site do Encontro, de modo a A Figura 1, a seguir, mostra o total de partici-
dar mais destaque às atividades da Associação pantes e sua distribuição nas diferentes regiões
voltadas à comunidade e aos profissionais a ela do país. Pode-se notar que o XX Encontro trou-
associados. Nosso boletim foi totalmente repa- xe 1500 participantes de 25 Estados na União,
ginado, contando com o trabalho impecável de um número de participantes 20% maior que
editoração e organização de Dante Malavazzi e o Encontro anterior, realizado em Campos do
Jan Leonardi. Criamos uma página no Facebook Jordão. Entretanto, o dado mais interessante é
e uma conta no Twitter, para agilizar a comu- a expressiva participação de pessoas da região
nicação, acompanhando as mudanças culturais Nordeste. Houve um aumento de 500% no nú-
trazidas pelas redes sociais. mero de participantes dessa região em compa-
A criação desses novos canais de comunicação ração ao ano anterior sem, no entanto, inibir
foi bastante proveitosa, pois permitiu que mui- significativamente a participação das regiões
tos associados trouxessem contribuições, escla- Sudeste e Sul. Podemos concluir destes núme-
recessem suas dúvidas e participassem mais da ros que a realização do Encontro no Nordeste

Aos amigos, parceiros, colaboradores, colegas e sócios da ABPMC | Denis Roberto Zamignani 10
Boletim Contexto n. 35

permitiu atingir um público que até então não O reconhecimento interno também pode ser
frequentava os Encontros da ABPMC. constatado pelo número de parceiros e de ins-
tituições que se afiliaram à ABPMC no ano de
2011. Tivemos o apoio internacional da ABAI
(Association of Behavior Analysis International),
além da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e
da FIAP (Federação Internacional de Associações
de Psicologia) e de 18 instituições que contribu-
íram não apenas financeiramente, mas especial-
mente com seu prestígio para fortalecer ainda
mais nossa Associação: AMBAN – São Paulo,
SP; CeAC – São Paulo, SP; CEMP – Fortaleza,
CE; Faculdade Evangélica Curitiba, PR; Gradual
– São Paulo, SP; HU – USP – São Paulo, SP;
IACEP – Londrina, PR; IACEP – Ribeirão Preto,
SP; IBAAC - Salvador, BA; IBAC – Brasília, DF;
INBIO – Ribeirão Preto, SP; Interac – São José
dos Campos, SP; IPECS – São José do Rio Preto,
SP; ITCR – Campinas, SP; Neulogic Consultoria –
São Paulo, SP; Núcleo Paradigma - São Paulo, SP;
PsicC – Londrina, PR; Psicolog – Ribeirão Preto,
SP.
O XX Encontro da ABPMC foi também reco-
nhecido pela comunidade científica, obtendo o
financiamento das agências de fomento Capes,
CNPQ e FAPESP. Mais uma vez, essas entidades
depositaram sua confiança no trabalho de qualida-
de desenvolvido há 20 anos por nossa Associação.
Figura 1. Distribuição dos participantes por região (25 Por último, e não menos importante, o reco-
Estados representados em 2011). nhecimento da comunidade à nossa Associação
pôde ser constatado pelo número de parceiros,
Ainda, a Figura 2 mostra a distribuição dos patrocinadores e expositores. Como parcei-
participantes por categoria. É importante notar ros e patrocinadores, pudemos contar com a
que mais da metade dos participantes foi cons- Petrobrás, a Escola Baiana de Medicina e Saúde
tituída por profissionais já atuantes (estudantes Pública, a Editora Juruá e o Convention Bureaux
de pós e profissionais), demonstrando a con- de Salvador. Como expositores, tivemos a parti-
solidação e o reconhecimento da proposta da cipação de Brasil Açu Artesanato; AMBAN – São
Associação pelos profissionais de nossa área. Paulo, SP; Editora ESETec; Editora Juruá; Editora
Por outro lado, o grande número de estudantes Scala; Editora Vozes; Escola Baiana de Medicina
é importante para a renovação do quadro de e Saúde Pública; Folha Mística Artesanato;
associados e a disseminação das abordagens. Fluência RH; IPECS – São José do Rio Preto,
SP; IBAC – Brasília, DF; Insight equipamentos
científicos; LDM Livraria; Livraria Larpsi; Núcleo
Paradigma – São Paulo, SP e TVMED.
Graças ao apoio de tantas instituições e ao
trabalho de tantas pessoas (já mencionadas no
artigo de nosso último boletim), pudemos rea-
lizar um grande Encontro, que foi abrilhantado
por 19 conferências, 26 palestras, 21 simpósios,

 53 minicursos, 57 mesa -redondas, 25 comuni-
Figura 2. Participantes do XX Encontro por categoria.
cações coordenadas, 219 comunicações orais,
155 painéis científicos, 77 painéis de relato de

Aos amigos, parceiros, colaboradores, colegas e sócios da ABPMC | Denis Roberto Zamignani 11
Boletim Contexto n. 35

experiência, 6 palestras para a comunidade, 22 respeito do projeto ABPMC Comunidade.


atividades de primeiros passos e 3 supervisões Encerro este texto com a sensação de dever
públicas. Além da programação habitual, du- cumprido e com a certeza de que ainda há muito
rante o XX Encontro ocorreu a cerimônia do I por fazer. Em nome da diretoria e de todos os as-
Prêmio ABPMC Sustentabilidade. O Prêmio foi sociados da ABPMC, agradeço aos que tornaram
idealizado por esta diretoria e conduzido por o nosso XX Encontro uma realidade. Agradeço
três associados aos quais somos muito gratos: também pela confiança depositada e pelo apoio
Angela Perondi Pittel, Marcelo Benvenuti e maciço de um enorme número de pessoas que
Candido Pessoa. Foram 10 trabalhos submeti- viabilizaram a realização de todas as ações desta
dos, dos quais três foram selecionados e apre- gestão. Dou as boas vindas às novas componen-
sentados em uma mesa-redonda especial. tes da diretoria, desejando uma gestão de har-
Como já foi dito em outras ocasiões, um monia e sucesso e declarando meu total apoio
Encontro como o da ABPMC é muito mais que para que todas as suas metas sejam atingidas.
uma reunião científica. É uma grande reunião
de amigos que compartilham ideais comuns.
E a construção disso tudo exige trabalho, or-
ganização e empenho de muitas pessoas. Sei,
sem a menor sombra de dúvida, que todos que
fizeram parte da organização deram o máximo
de si para proporcionar o melhor a cada um de
nós nos quatro dias que se seguiram. O esfor-
ço conjunto destas e de tantas outras pesso-
as - complementado pelo apoio e confiança de
cada um dos participantes, estudantes, pesqui-
sadores, professores, profissionais e entusiastas
da análise do comportamento e da psicologia
cognitivo-comportamental de nosso país e de
nosso continente - foi fundamental para fazer
deste evento mais um grande sucesso.

O Futuro da ABPMC
Tudo o que foi escrito ate então disse respeito a
nosso passado recente. O futuro que se aproxi-
ma também é bastante promissor, pois sabemos
que nos próximos dois anos a ABPMC estará em
muito boas mãos...
Declaro aqui o meu apreço e admiração pelo
grupo dinâmico e empreendedor que assu-
miu a próxima gestão da ABPMC. Tive o pra-
zer de trabalhar em diferentes contextos com
cada uma das componentes da nova diretoria e
posso declarar sem sombra de dúvida que elas
têm a garra e a capacidade de trabalho neces-
sárias para levar à frente a empreitada à qual
se propuseram. Antes mesmo de assumirem
seu posto, elas já vêm demonstrando evidên-
cias de sua grande capacidade de organização,
planejamento e execução. Nosso XXI Encontro
já tem data e local definidos - será realizado
em Curitiba, de 15 a 18 de agosto de 2012 – e
os preparativos estão em ritmo acelerado. Em
breve, teremos também excelentes notícias a

Aos amigos, parceiros, colaboradores, colegas e sócios da ABPMC | Denis Roberto Zamignani 12
Boletim Contexto n. 35

ABPMC História
O estudo do controle aversivo no Brasil:
Um breve panorama histórico1
Bruna Colombo dos Santos e Maria Eliza Mazzilli Pereira

Controle aversivo é um domínio2 dentro da aná- trole aversivo. Hineline (1984) considera que
lise do comportamento. Alguns autores esboça- a supressão condicionada e a agressão indu-
ram uma definição sobre esse domínio, entretan- zida por estimulação devem ser incluídas no
to as definições nem sempre convergem. Além controle aversivo por envolverem eventos que
disso, a nomenclatura utilizada para se referir têm função aversiva no reforçamento negativo
aos mesmos fenômenos nem sempre é a mesma. e na punição. O mesmo é válido para o proce-
Matos (1981), ao apresentar o controle aversi- dimento de incontrolabilidade que produz de-
vo como sua área de estudos, coloca a seguinte samparo aprendido. Perone (2003) apresenta
definição: as funções aversivas de procedimentos de re-
forçamento positivo, salientando que também
isso [dizer que estuda controle aversivo] neles são encontrados elementos do reforça-
significa que estudo o comportamento de mento negativo e da punição. Com isso, o au-
seres biologicamente vivos, investigando tor inclui alguns procedimentos de reforçamen-
como esse comportamento é afetado por to positivo sob o domínio do controle aversivo.
técnicas aversivas, isto é, técnicas que Sidman (1995/2003), ao tratar de reforça-
envolvam variáveis ou procedimentos de mento negativo e punição, utiliza a nomencla-
caráter desagradável, nocivo, e que re- tura coerção, enquanto Millenson (1965/1976)
presentem prejuízo às chances de sobre- e Cameschi e Abreu-Rodrigues (2005) utilizam
vivência do organismo em questão. (p. 1) contingências aversivas, sendo que os últimos
acrescentam supressão condicionada a esse do-
Hineline (1984) e Gongora, Mayer e Mota mínio. Sidman (1995/2003) também trata de su-
(2009) definem controle aversivo como domínio pressão condicionada, embora não a inclua em
ou área que engloba punição e reforçamento e sua definição de punição.
negativo. Catania (1999), Perone (2003) e Pierce e
Cheney (2004) não chegam a propor uma defini- Parece consenso que reforçamento
ção de controle aversivo (e.g., “Controle aversivo negativo e punição fazem parte
é definido como . . .” ou “Entendemos por contro- do domínio do controle aversivo; o que
le aversivo . . .”), embora também tratem do tópi- não parece ser claro, porém, é o que
co englobando reforçamento negativo e punição. mais faz parte.
Todavia, observa-se que outros processos
e procedimentos comportamentais também Após a apresentação de algumas definições
são apresentados dentro do domínio do con- (que não esgotam toda diversidade delas), ve-
rificam-se certas convergências e divergências
1  Este texto apresenta alguns dados preliminares da entre elas. A definição que mais se distingue
dissertação de mestrado da primeira autora. As autoras das outras é a apresentada por Matos (1981).
agradecem a Bruno Costa, Denigés R. Neto e Natália Com relação às demais, parece consenso que
Matheus, do Grupo de Estudos em Controle Aversivo
reforçamento negativo e punição fazem parte
da PUC-SP, pela revisão cuidadosa do texto.
do domínio do controle aversivo; o que não pa-
2  A palavra domínio foi usada propositalmente, em rece ser claro, porém, é o que mais faz parte.
alusão a Hineline (1984), cujo artigo discute o controle Ao mesmo tempo, temos diferentes nomencla-
aversivo como um domínio separado dentro da análise
do comportamento, seja pela distinção entre reforça-
turas para o que aparenta ser a mesma área.
mento e punição, seja pela distinção entre reforçamen- Se as definições de controle aversivo apre-
to positivo negativo. sentam divergências, a situação não é diferente

O estudo do controle aversivo no Brasil: Um breve panorama histórico  |  Bruna Colombo dos Santos e Maria Eliza Mazzilli Pereira 13
ABPMC História Boletim Contexto n. 35

acerca dos resultados produzidos por pesquisas Algumas dissertações recentes (entre 2002
sobre reforçamento negativo e punição (pro- e 2010) podem também ser classificadas como
cessos e/ou procedimentos que classicamente trabalhos históricos, cujo foco foi o estudo da
compõem a área) e da interpretação desses re- análise do comportamento (desenvolvimento
sultados. Exemplos de divergências sobre o refor- da disciplina ou áreas específicas da mesma)
çamento negativo (dividido tradicionalmente em no Brasil. Esses trabalhos se debruçaram sobre
fuga e esquiva) são: (a) explicação da aquisição e os mais variados temas, entre eles controle de
manutenção da resposta de esquiva em procedi- estímulos, comportamento matemático, com-
mentos de esquiva não sinalizada (Anger, 1963; portamento verbal, desenvolvimento regional
Disnmoor, 1977, 2001; Sidman, 1953, 1962), (b) da análise do comportamento e clínica (Cesar,
funções exercidas pelo estímulo pré-aversivo nos 2002; Del Rey, 2009; Fidalgo, 2011; Moreira,
procedimentos de esquiva sinalizada e (c) distin- 2011; Niero, 2011; Souza, 2011).
ção entre fuga e esquiva. Quanto à punição, iden- Sobre controle aversivo, identificou-se um
tificamos pelos menos duas definições principais: trabalho realizado por Sério e Micheletto (2010)
a de Skinner (1938, 1953/2007) e a de Azrin e cujo objetivo foi analisar as contribuições da
Holz (1966), que dão origem a delineamentos ex- professora Maria Amelia Matos para o estudo
perimentais e a interpretações de dados distintas. do controle aversivo no Brasil. Outros estudos
Quando um domínio dentro de uma ciência a respeito do controle aversivo que apresentam
apresenta tais divergências e discussões, pode características históricas3 também foram encon-
ser interessante que “olhemos para trás”, no trados, mas não são brasileiros (Disnmoor, 1977;
sentido de buscarmos aquilo que já foi produzi- Lerman & Vondran, 2002; Matson & Taras, 1989).
do sobre esse domínio, de forma a conhecermos Nenhum estudo que apresentasse um panora-
mais sobre seu desenvolvimento e peculiarida- ma geral sobre o estudo do controle aversivo no
des. Sob essa perspectiva, estudos históricos po- Brasil foi encontrado. Dessa forma, objetivou-se
dem ajudar. Autores como Morris et al. (1995), realizar um trabalho que fornecesse tal panora-
Coleman (1995) e Andery, Micheletto e Sério ma. Para isso, foram escolhidos como documen-
(2000) ressaltam a importância de estudos histó- tos a serem analisados teses e dissertações so-
ricos para a análise do comportamento. bre controle aversivo realizadas no Brasil, entre
Morris et al. (1995) apresentam alguns pro- 1968 (ano em que as primeiras dissertações em
pósitos da historiografia dessa ciência, como: análise do comportamento foram defendidas) e
clarificar a disciplina científica, esclarecer mal- 2010. Foram selecionadas algumas palavras de
-entendidos, desenvolver a filosofia da ciência busca das teses e dissertações com base nas lei-
do comportamento, integrar suas subdisciplinas, turas sobre controle aversivo e nos textos his-
entre outros. Segundo os autores, tais propósi- tóricos e de revisão encontrados sobre o tema:
tos, quando atingidos, permitem ao historiador controle aversivo, reforçamento negativo, fuga,
compreender impasses centrais da disciplina, esquiva, punição, estímulo aversivo, aversão,
sejam eles controversos ou não, e ir além, isto supressão condicionada, coerção, desamparo
é, propor possíveis saídas a esses impasses. aprendido, incontrolabilidade, agressão, time-
Verifica-se que esses propósitos servem direta- -out, choque, contracontrole, chronic mild stress
mente à compreensão do controle aversivo. e operações estabelecedoras reflexivas. (Nota-se
Estudos históricos não são algo recente que a quantidade e a variedade de palavras re-
na análise do comportamento. Andery et al. fletem a diversidade de fenômenos englobados.)
(2000) apontam uma série de estudos históri- As teses e dissertações foram buscadas no
cos, nacionais e internacionais, realizados por Banco de Teses e Dissertações em Análise do
analistas do comportamento sobre os mais di- Comportamento (BDTAC/Br), que contém teses
versos temas dentro da disciplina. Incluem en- e dissertações entre 1968 e 2007. Este banco foi
tre eles a primeira publicação de Skinner, em
1931, intitulada “O conceito de reflexo na des- 3  Este termo foi utilizado porque os estudos não po-
crição do comportamento”. De acordo com as dem ser classificados como estudos históricos, uma vez
autoras, este pode ser considerado o trabalho que eles são estudos de revisão de literatura. De acordo
com Coleman (1995), tais estudos, embora não sejam
iniciador da análise do comportamento, fruto
históricos, apresentam de forma indireta uma perspec-
de uma análise histórica. tiva histórica sobre o tema.

O estudo do controle aversivo no Brasil: Um breve panorama histórico  |  Bruna Colombo dos Santos e Maria Eliza Mazzilli Pereira 14
ABPMC História Boletim Contexto n. 35

construído por professores e alunos da PUC-SP. Autores como Todorov (2001), Perone (2002),
Para completar a busca até 2010, foram utiliza- Lerman e Vondran (2002), Cameschi e Abreu-
das bibliotecas digitais de teses e dissertações Rodrigues (2005) e Hunziker (2003) sugerem
das universidades brasileiras que compuseram que o estudo do controle aversivo tem sido
o BDTAC/Br, banco de teses e dissertações da negligenciado dentro da análise do comporta-
CAPES e Currículos Lattes. mento. Os dados deste estudo mostram que
Foram coletadas e organizadas, com base nos controle aversivo não é a área de estudo mais
resumos, as seguintes informações: (a) autor: proeminente no Brasil, mas a produção crescen-
nome completo do autor da dissertação ou tese; te é animadora para os interessados na área.
(b) título: título completo da dissertação ou tese; As universidades brasileiras em que mais tra-
(c) instituição: nome completo da instituição re- balhos sobre controle aversivo foram realizados
ferida na dissertação ou tese; (d) ano: ano apre- foram: USP (52), PUC-SP (13), UnB (12), UFPA
sentado na dissertação ou tese; (e) orientador: (cinco), USP-RP (cinco) e UEL (quatro). Os prin-
nome completo do orientador referido na disser- cipais6 orientadores na área também estão vin-
tação ou tese; (f) coorientador: nome completo culados a essas universidades. São eles: Maria
do coorientador referido na dissertação ou tese Helena Leite Hunziker, Maria Amelia Matos,
(quando foi o caso); (g) tipo de trabalho: disser- Carolina Bori, João Cláudio Todorov, Josele
tação (i.e., trabalho realizado para obtenção do Abreu Rodrigues, Roberto Alves Banaco, Maria
título de mestre) ou tese (i.e., trabalho realizado Teresa Araújo Silva, Tereza Maria Pires Sério,
para obtenção do título de doutor); (h) tipo de Maura Alves Nunes Gongora, Marcus Bentes de
pesquisa: básica, aplicada e histórico-conceitual4; Carvalho Neto e Maria Lúcia Dantas Ferrara.
(i) tipos de sujeitos ou participantes utilizados: hu- Com relação ao tipo de pesquisa, foram en-
manos (crianças, adultos ou universitários; com contrados 87 trabalhos do tipo básico, seis do
desenvolvimento típico ou atípico) e não huma- tipo histórico-conceitual e cinco trabalhos apli-
nos (espécie); (j) evento aversivo utilizado. cados. Verifica-se, então, predominância de tra-
Foram encontradas 98 teses e dissertações balhos do tipo básico. As categorias temáticas
(77 dissertações e 21 teses) entre 19695 e 2010. mais frequentes7 nos trabalhos básicos foram: in-
Observou-se que entre 1969 e 1999 (período de controlabilidade/desamparo aprendido, esquiva,
30 anos) foram produzidos 45 trabalhos em con- punição, supressão condicionada e chronic mild
trole aversivo; entre 2000 e 2010 (período de 10 stress, sendo que a maior parte das teses e dis-
anos), foram produzidos 53 trabalhos. Isso mos- sertações básicas realizadas foi sobre incontrola-
tra que recentemente a produção na área parece bilidade/desemparo aprendido. Dos trabalhos
ter ganhado alguma força. Algumas possibilida- aplicados, dois foram enquadrados na categoria
des para o aumento na produção são levantadas, educação, enquanto os demais foram enquadra-
como, por exemplo, a criação de novos programas dos nas categorias institucional (um), clínica (um) e
de pós-graduação em análise do comportamento. saúde (um). Por último, os trabalhos do tipo histó-
Embora se observe aumento na produção rico-conceitual foram enquadrados nas seguintes
de teses e dissertações sobre controle aversivo, categorias: revisão de literatura (um), análise da
o número de trabalhos sobre o tema, compa- concepção de um autor sobre controle aversivo
rado ao número total de teses e dissertações (um), análise histórica de um conceito do controle
na análise do comportamento (dados obtidos aversivo (um), análise da aplicação e recomenda-
pelo BDTAC/Br), corresponde a menos de 10%. bilidade de procedimentos aversivos (um), análi-
se do conceito de incontrolabilidade/desamparo
4  Cada tipo de pesquisa foi, por sua vez, dividido em aprendido (um) e análise dos efeitos do controle
categorias temáticas. As pesquisas básicas foram en- aversivo sobre classes de respostas (um).
quadradas em categorias temáticas como fuga, esquiva
e punição; as pesquisas aplicadas, em categorias como
educação, saúde e trabalho; as pesquisas histórico-con- 6  Foram considerados como principais orientadores
ceituais, em categorias como análise da concepção de aqueles com pelo menos três trabalhos orientados na
um ou mais autores sobre controle aversivo e análise área.
histórica de um conceito relativo a controle aversivo.
7  Foram consideradas como categorias temáticas mais
5  A busca foi feita a partir de 1968, mas o primeiro frequentes aquelas que incluíram pelo menos sete tra-
trabalho encontrado datou de 1969. balhos.

O estudo do controle aversivo no Brasil: Um breve panorama histórico  |  Bruna Colombo dos Santos e Maria Eliza Mazzilli Pereira 15
ABPMC História Boletim Contexto n. 35

O tipo de sujeito ou participante mais utili- Espera-se que esse breve panorama tenha
zado nos trabalhos básicos foi o rato (61 traba- fornecido a um leitor não familiarizado com a
lhos), sendo a maioria da espécie rattus norvegi- área de controle aversivo informações suficien-
cus. O segundo tipo de sujeito ou participante tes para um maior conhecimento sobre esse
mais utilizado foram estudantes universitários campo, criando condições para que mais pesso-
(10 trabalhos). O estímulo aversivo mais utiliza- as se interessem e pesquisem sobre ele. Para o
do foi choque, com destaque para intensidade leitor já familiarizado com a área, espera-se que
de 1 mA. Outro dado a ser mencionado é que essas informações contribuam para novas refle-
nenhum estímulo aversivo utilizado com não xões, pois essa é uma das funções da pesquisa
humanos foi utilizado com humanos; com os úl- histórica, a de trazer um novo olhar sobre aquilo
timos, os estímulos aversivos mais utilizados fo- já conhecido. Nas palavras de Micheletto (2004):
ram som e perda de pontos. Nos trabalhos apli-
cados, foram utilizados participantes variados: A análise histórica é um convite a olhar
adultos, crianças atípicas (um trabalho) e típicas. novamente, a desconfiar das seguran-
Tendo apresentado esse breve panorama ças, das certezas de nosso conhecimento
sobre o estudo do controle aversivo no Brasil, que, muitas vezes, nos fazem ver ou ler
algumas considerações podem ser feitas. apenas aquilo que já sabemos, que ofus-
cam a observação da variedade de infor-
Reforçamento negativo e punição mações, análises, diálogos constitutivos
são tidos como processos e/ou do objeto que nos aparece. (p. 12)
procedimentos clássicos do controle
Esse novo olhar, essa nova compreensão da-
aversivo. Contudo, pelos menos no
quilo que já nos foi dado pode ser importante
Brasil, eles não são os mais estudados, para pensarmos em caminhos alternativos, ou
mas sim incontrolabilidade e desamparo seja, para pensarmos sobre o futuro da área.
aprendido.
Referências
Verificou-se que reforçamento negativo e pu- Andery, M. A. P. A., Micheletto, N. & Sério, T.
nição são tidos como processos e/ou procedi- M. A. P. (2000). Pesquisa histórica em análise
mentos clássicos do controle aversivo (encon- do comportamento. Temas em Psicologia, 8,
trados na maioria das definições apresentadas); 137-142.
contudo, pelos menos no Brasil, eles não são Anger, D. (1963). The role of temporal discri-
os mais estudados, mas sim incontrolabilidade e minations in reinforcement of Sidman avoi-
desamparo aprendido. Outros dados encontra- dance behavior. Journal of the Experimental
dos são que os estudos básicos sobre esquiva Analysis of Behavior, 6, 477-506.
cessaram ao final da década de 1980, ao passo Azrin, N. H. & Holz, W. C. (1966). Punishment.
que os estudos sobre punição são poucos, ocor- Em W. K. Honig (Org.), Operant behavior:
rem esporadicamente e em universidades dife- Areas of research and application (pp. 380-
rentes. Com relação à punição, esse quadro pa- 447). New York: Appleton-Century- Crofts.
rece estar se modificando, com algumas defesas Cameschi, C. E. & Abreu-Rodrigues, J. (2005).
mais próximas no tempo, entre 2009 e 2010, de Contingências aversivas e comportamento
trabalhos realizados na UFPA, indicando a for- emocional. Em J. Abreu-Rodrigues & M. R.
mação de uma linha de pesquisa na área. Ribeiro (Orgs.), Análise do comportamento:
A disparidade entre estudos básicos, aplicados Pesquisa, teoria e aplicação (pp. 113-135).
e histórico-conceituais mostra a concentração de Porto Alegre: Artmed.
pesquisas de um tipo. Observa-se, também, a uti- Catania, C. A. (1999). Aprendizagem:
lização predominante de um tipo de sujeito e de Comportamento, linguagem e cognição (4ª.
um tipo de estímulo aversivo. Uma pergunta que ed.; D. G. Souza et al., Trads.). Porto Alegre:
se coloca, com base nesses dados, é acerca da Artmed.
generalidade dos dados produzidos, embora se Cesar, G. (2002). Análise do comportamento no
observe que mais recentemente outros estímulos Brasil: Uma revisão histórica de 1961 a 2001,
(e.g., jato de ar quente) têm sido testados. a partir de publicações (Dissertação de mes-

O estudo do controle aversivo no Brasil: Um breve panorama histórico  |  Bruna Colombo dos Santos e Maria Eliza Mazzilli Pereira 16
ABPMC História Boletim Contexto n. 35

trado). Programa de Estudos Pós-Graduados Matson, J. L. & Taras, M. E. (1989). A 20 year


em Psicologia Experimental: Análise do review of punishment and alternative me-
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Graduados em Psicologia Experimental: na área clínica no Brasil: Uma análise com
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Universidade Católica de São Paulo, São trado). Programa de Estudos Pós-Graduados
Paulo, SP. em Psicologia Experimental: Análise do
Gongora, M. A. N., Mayer, P. C. M. & Mota, C. Comportamento. Pontifícia Universidade
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O estudo do controle aversivo no Brasil: Um breve panorama histórico  |  Bruna Colombo dos Santos e Maria Eliza Mazzilli Pereira 17
ABPMC História Boletim Contexto n. 35

quency as reinforcement for avoidance beha-


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Behavior, 5, 247-257.
Sidman, M. (1995). Coerção e suas implica-
ções (M. A. Andery & T. M. Sério, Trads.).
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O estudo do controle aversivo no Brasil: Um breve panorama histórico  |  Bruna Colombo dos Santos e Maria Eliza Mazzilli Pereira 18
Boletim Contexto n. 35

Ponto de Vista
Afinal, somos behavioristas metodológicos?
Cassia Roberta da Cunha Thomaz

Ao ser convidada para escrever um texto a cedimentos de investigação fez com que esse
partir da pergunta acima, duas questões me behaviorismo fosse posteriormente chamado de
pareceram importantes de ser respondidas: (a) metodológico.
a que nós a pergunta se refere e (b) por que Limitar o estudo aos eventos externamente ob-
alguém faria essa pergunta? A primeira ques- serváveis foi uma forma de tornar desnecessário o
tão parece ter uma resposta mais clara: nós pa- introspeccionismo e, por conseguinte, o relato do
rece se referir aos behavioristas radicais. Já a sujeito como fonte de dados, visto que essa se-
segunda, supondo que tenha sido feita por um ria a única forma de ter alguma informação sobre
behaviorista radical, talvez seja produto de uma eventos internos. Mas, desconsiderar os eventos
comparação entre os pressupostos do behavio- não observáveis como objeto de estudo ou como
rismo radical e do behaviorismo metodológico causa do comportamento é decorrente da impos-
e de uma possível identificação de semelhanças sibilidade de acordo público sobre sua validade, e
entre esses. não da negação de sua existência (Skinner, 1974).
O presente artigo pretende, então, retomar Para os behavioristas metodológicos, os even-
tais pressupostos1, de forma que não só a mo- tos internos existem e são de natureza diferente
tivação para a pergunta inicial fique mais clara, dos eventos observáveis (Sério, 2005). E, por não
como também uma resposta a ela seja dada. serem eventos físicos e/ou importantes para a
compreensão do comportamento, poderiam ser
Behaviorismo Metodológico retirados do escopo da psicologia. Considerar a
As propostas apresentadas por Watson, em 1913, existência de eventos físicos e mentais como fe-
marcam o início do behaviorismo, que surge em nômenos de natureza distinta caracteriza, portan-
contraposição ao mentalismo e ao introspeccio- to, o behaviorismo metodológico como dualista.
nismo no que diz respeito ao objeto de estudo De qualquer forma, caberia questionar: se
e ao método de investigação da psicologia. Em os eventos internos eram até então tidos como
termos gerais, de acordo com Matos (1995), o as causas do comportamento pela psicologia
behaviorismo sugere que a psicologia assuma o e, mais do que isso, constituíam primordial-
comportamento como objeto de estudo, opo- mente o objeto de estudo dessa, o que seria
nha-se ao mentalismo, use procedimentos obje- a “causa” do comportamento observável para
tivos de coleta de dados e rejeite a introspecção. alguém que os desconsidera?
Por influência do positivismo lógico e do ope- Matos (1995) afirma que, em decorrência de
racionismo, a observação, então, aparece como um modelo mecanicista de causalidade vigente
critério fundamental para definir o comporta- na época (e até os dias de hoje), as causas dos
mento a ser estudado pelos behavioristas: aque- fenômenos costumavam ser buscadas antes des-
le passível de observação externa, isto é, que ses. Como as causas do comportamento, para o
possa ser visto, contado e medido pelo outro. behaviorista metodológico, não poderiam ser a
Em decorrência disso, a ênfase dada aos pro- mente ou a “alma”, propôs-se que seriam, en-

1  O presente artigo não pretende esgotar ou aprofun- Considerar a existência de


dar essa comparação. Isso já foi feito em um conjun- eventos físicos e mentais como
to de publicações (Day, 1983; Leigland, 1997; Matos, fenômenos de natureza distinta
1995; Moore, 1981; Sério, 2005; Skinner, 1974). A com-
paração aqui visa estritamente a responder à questão caracteriza, portanto, o behaviorismo
proposta. metodológico como dualista.

Afinal, somos behavioristas metodológicos?  |  Cassia Roberta da Cunha Thomaz 19


Ponto de vista Boletim Contexto n. 35

tão, os estímulos ambientais antecedentes a ele, Behaviorismo Radical


por influência de Pavlov. Assim, uma mudança Skinner, considerado o principal autor do
no mundo físico causaria uma mudança no orga- behaviorismo radical, apresenta essa propos-
nismo, o que caracteriza a Psicologia S-R. ta inicialmente em um artigo de 1945 (“The
Day (1983), sobre o behaviorismo metodoló- Operational Analysis of Psychological Terms”),
gico, sintetiza suas características da seguinte com o objetivo de contrapor-se às propostas
forma: (a) restringe-se o objeto de estudo da para a psicologia então em vigor, principalmen-
psicologia aos dados publicamente observáveis, te no que diz respeito ao objeto e ao método.
(b) adota-se o método experimental, (c) usa-se a
estatística na avaliação dos resultados, (d) adere- Da mesma forma que o critério
-se a um modelo de causalidade antecedente e
de verdade parece ter limitado a
mecanicista e (e) formula-se teorias explicativas
dos dados obtidos por meio de instâncias me- definição de objeto de estudo para
diadoras inferidas. os behavioristas metodológicos, a
definição do objeto de estudo parece
A psicologia, tal como o behaviorista a ter obrigado o behaviorista radical a
vê, é um ramo puramente objetivo e ex- incluir todo e qualquer comportamento
perimental da ciência. A sua finalidade
teórica é a previsão e controle do com- dentro do escopo da psicologia.
portamento. A introspecção não constitui
parte essencial de seus métodos e o va- Skinner (1974) afirma que “o behaviorismo
lor científico de seus dados não depende não é a ciência do comportamento humano; ele
do fato de se prestarem a uma fácil inter- é a filosofia dessa ciência” (p. 3), que deveria
pretação em termos de consciência . . . preocupar-se com o objeto e os métodos da psi-
a psicologia terá que descartar qualquer cologia. Afirma também que a psicologia é uma
referência à consciência. (Watson, 1913, ciência do comportamento dos organismos. Ou
pp. 158, 163) seja, para o behaviorista radical, da mesma forma
que para o metodológico, o objeto de estudo da
Essa afirmação parece deixar clara a propos- psicologia é o comportamento em si. Mas, dife-
ta do behaviorismo metodológico: foca-se no rentemente desses, Skinner não desconsidera os
comportamento observável e considera-se que eventos privados, ou seja, aqueles não observá-
os eventos subjetivos não sejam capazes de ser veis publicamente. De acordo com Sério (2005),
investigados cientificamente, pois não são pu-
blicamente observáveis. Segundo Matos (1995), nenhum fenômeno humano é retirado do
o behaviorista metodológico limita seu objeto âmbito de estudo da psicologia, ou seja,
de estudo para não mudar sua insistência num cabe à psicologia estudar os fenômenos
critério social de verdade. humanos em sua totalidade e complexi-
Após essa breve retomada dos pressupostos dade e, para isso, não é necessário supor
filosóficos e metodológicos do behaviorismo a existência de uma dimensão especial
metodológico, voltamos à questão inicial do do mundo diferente da dimensão mate-
presente artigo: Afinal, somos behavioristas me- rial. (Sério, 2005, p. 5)
todológicos? É possível que essa pergunta tenha
sido feita com base no fato de que os behavioris- O trecho acima parece indicar que, apesar
tas radicais compartilham algumas características de não serem excluídos pelo behaviorismo ra-
com aqueles. Assim, como o artigo se propõe a dical, os eventos privados são considerados por
debater essa questão, a seguir serão discutidas Skinner de forma diferente daquela proposta pe-
algumas características do behaviorismo radical24. los mentalistas (e pelos behavioristas metodoló-
gicos): não existem duas dimensões, duas natu-
rezas no homem, uma física e outra mental (ou
metafísica). Todo evento é físico, seja ele público
4  O presente artigo não pretende esgotar a caracteri-
zação do behaviorismo radical. Para isso, sugere-se a ou privado. A diferença entre esses eventos está
leitura de About Behaviorism, de B. F. Skinner (1974). na acessibilidade. Parece que, por não serem

Afinal, somos behavioristas metodológicos?  |  Cassia Roberta da Cunha Thomaz 20


Ponto de vista Boletim Contexto n. 35

observados, são desconsiderados pelo behavio- vê algo é o comportamento dela. Quanto à pri-
rismo metodológico e, por serem comportamen- vacidade, ela nada mais é do que a observação
to, são considerados pelo behaviorismo radical. do próprio corpo, e não da mente (Matos, 1995).
Da mesma forma que o critério social de ver- Assim, conforme afirma Sério (2005), para
dade parece ter limitado a definição de objeto o behaviorismo radical, os pesquisadores do
de estudo para os behavioristas metodológicos, a comportamento deveriam, da mesma forma
definição do objeto de estudo parece ter obriga- que estudam comportamentos humanos ob-
do o behaviorista radical a incluir todo e qualquer serváveis por mais de um observador, fazê-lo a
comportamento dentro do escopo da psicologia. respeito do contato que cada pessoa tem com
Conforme afirma Skinner (1963/1969), “o fato os eventos contidos dentro da pele – a partir
da privacidade não pode, é claro, ser questiona- do comportamento. Isso significa dizer que os
do. Cada pessoa está em contato especial com eventos privados são parte dos fenômenos que
uma pequena parte do universo contida den- deveriam ser explicados pela psicologia.
tro de sua própria pele” (p. 225). Nesse trecho, Aqui, parece importante destacar como beha-
Skinner parece deixar claro que (a) se o objeto de vioristas radicais estudam o comportamento:
estudo da psicologia é o comportamento e (b) se com base nos pressupostos da análise do com-
a privacidade - enquanto contato especial que al- portamento, a ciência que descreve as leis gerais
guém tem com o universo dentro de sua pele - é do comportamento.
comportamento, não há por que desconsiderá-la.
Nesse trecho, ainda, nota-se uma característi- Behaviorismo Radical e Análise
ca importante do behaviorismo radical: há uma do Comportamento
parte do comportamento humano que nunca Para os analistas do comportamento, o compor-
poderá ser observada por outra pessoa que não tamento é definido como a relação entre respos-
aquela que se comporta. Mesmo que a tecnolo- tas (aquilo que o organismo faz) e estímulos (as-
gia avance e seja possível medir alguns eventos pectos do ambiente, externos à resposta, que a
privados com instrumentos científicos, isso nun- afetam). Essas relações podem ser de dois tipos:
ca será o mesmo que o contato que o homem (a) comportamento respondente, no qual um estí-
tem com seus próprios eventos privados. mulo antecedente elicia uma resposta e (b) com-
O critério social de verdade é questionado portamento operante, no qual se deve considerar,
pelos behavioristas radicais mesmo no que diz além da resposta, (1) as mudanças no ambiente,
respeito a eventos públicos. Matos (1995) dá o decorrentes da emissão da resposta, que modifi-
seguinte exemplo: um behaviorista metodoló- cam a probabilidade de ocorrência de respostas
gico aceitaria o registro de salivação de um cão da mesma classe e (2) os contextos que estabe-
como evidência da salivação, a qual poderia ser lecem a ocasião para a resposta ser afetada por
observada por mais de um observador. No en- suas consequências (que são antecedentes à res-
tanto, o registro só ocorreu porque alguém viu o posta e também afetariam a probabilidade dessa).
cão salivar. O “ver” não é observado. A pessoa Essa relação de interdependência entre estí-
“observando” nunca é observado. O que ela mulos antecedentes, resposta e estímulos con-
observa o é. Se ela afirmar que observa o mes- sequentes é denominada tríplice contingência
mo que outras pessoas, então essa observação e é o que permite a análise funcional, cerne da
é válida para um behaviorista metodológico. análise do comportamento. Diz-se haver uma
Para um behaviorista radical, a resposta de relação funcional entre eventos na medida em
observar é aprendida. E uma pessoa aprende a que se observa mudanças em uma resposta em
observar tanto eventos públicos quanto privados. decorrência de uma mudança no ambiente.
Por que, então, desconsiderar esse último tipo Mais do que isso, uma mudança no ambiente
de observação? Aqui parece ficar clara uma dife- só produzirá uma mudança na resposta em fun-
rença entre behavioristas metodológicos e radi- ção de uma história filogenética, ontogenética
cais: para os últimos, o homem é a medida das e cultural. Assim, olhar para o comportamento
coisas, e não o social. Para um behaviorista meto- como interação entre organismo e ambiente
dológico, a evidência de que uma pessoa vê algo significa assumir que “o comportamento atual
é que outra pessoa vê esse mesmo algo. Para um é uma interação e é ao mesmo tempo produto
behaviorista radical, a evidência de que alguém de interações anteriores” (Sério, 2005, p. 256).

Afinal, somos behavioristas metodológicos?  |  Cassia Roberta da Cunha Thomaz 21


Ponto de vista Boletim Contexto n. 35

Essa é a definição de comportamento base- Einstein). A discussão sobre esse tema é ampla,
ada no modelo de seleção por consequências. mas aqui é colocada com um único propósito:
O comportamento, para o behaviorista radical, é possível estudar fenômenos não observáveis
é produto de variação e seleção em três níveis: e considerá-los como sendo da mesma natureza
filogenético, ontogenético e cultural. Não é daqueles observáveis dentro de uma ciência na-
objetivo do presente artigo apresentar cuida- tural. E, vale ressaltar, a interpretação dos fenô-
dosamente esse modelo de causalidade3, mas menos é um prática comum em outras ciências.
é importante destacá-lo como central para o Não é porque o objeto de estudo da psico-
behaviorismo radical, pois nota-se aqui também logia é mais próximo do cientista do comporta-
uma diferença entre o behaviorismo metodo- mento (que se comporta) do que o é o objeto de
lógico e o radical. Enquanto o primeiro define estudo de um físico que o primeiro necessita de
comportamento como uma relação entre estí- uma forma especial de investigação. Conforme
discutido anteriormente, o analista do compor-
Os behavioristas metodológicos tamento estuda o contato que cada pessoa tem
definem comportamento como uma com o mundo dentro da pele a partir do seu com-
relação S-R, num modelo de causalidade portamento, isto é, a partir de respostas verbais.
Sério (2005) afirma que analisar o comporta-
mecanicista e defendem o delineamento
mento verbal em toda a sua extensão possibilita
de grupo e a observação por consenso investigar as relações que permitem o contato
como critério de validade científica. de uma pessoa com seu universo privado. Deve-
se identificar as condições em que uma pessoa
mulo antecedente e resposta (S-R) e recorre ao emite uma resposta verbal, bem como a história
ambiente antecedente por este ser considerado que ela viveu e que permitiu que tais condições
um elo observável e mensurável em um mode- se relacionassem com aquela resposta. Dessa
lo mecanicista de causalidade, o segundo não forma, investiga-se como as pessoas passam a
só amplia a definição de comportamento, como falar de si mesmas e como podem falar de as-
também considera o comportamento operante pectos aos quais apenas elas têm acesso.
como aquele de maior interesse ao cientista do É cada vez mais ampla a literatura acerca do
comportamento. Além disso, o ambiente, para comportamento verbal. Um conjunto de estudos
os behavioristas radicais, não se resume àquele vem sendo feito na direção de identificar variá-
presente durante a ocorrência de uma resposta. veis responsáveis pela aprendizagem de respos-
tas verbais sob controle de eventos privados.
Como estudar, então, eventos Não é objetivo do presente artigo discutir essa
não observáveis por mais de um literatura, mas por que ela existiria se não con-
observador? siderássemos papel do psicólogo compreender
Não é só na psicologia que parece haver a pos- a privacidade? Assumir que a privacidade (i.e., o
sibilidade de considerar como objeto de estu- contato que cada pessoa tem com seu mundo
do um fenômeno não observável e estudá-lo privado) é comportamento operante aprendido
a partir de métodos científicos. Na física, por a partir de contingências sociais foi o passo ini-
exemplo, estuda-se a força da gravidade 4 . cial para as investigações na área. Behavioristas
Essa força não é observada; é inferida a par- radicais lidam com esse objeto de estudo de for-
tir do movimento dos corpos. Possivelmente, ma científica, a partir de relações verbais e sem
muitos experimentos científicos já foram feitos exigir consenso de mais de um observador acer-
sobre esse tema - inclusive diferentes físicos a ca dos eventos que estão sendo investigados.
explicam de formas diferentes (e.g., Newton e
Os behavioristas radicais consideram
3  Para isso, ver Skinner (1981). que o comportamento é uma relação
4  De forma alguma, pretende-se discutir aqui as leis entre homem e ambiente num modelo
da física. Essa é uma discussão bastante ampla. Esse é de causalidade selecionista e defendem
só um exemplo ilustrativo da possibilidade de conside-
rar um objeto de estudo não observável em um ciência o delineamento de sujeito único como
natural. metodologia de investigação.

Afinal, somos behavioristas metodológicos?  |  Cassia Roberta da Cunha Thomaz 22


Ponto de vista Boletim Contexto n. 35

Voltemos, uma vez mais, à pergunta que mo- Skinner, B. F. (1969). Behaviorism at fifty. Em
tivou esse artigo: Afinal, somos behavioristas B. F. Skinner (Org.), Contingencies of rein-
metodológicos? Após breve retomada dos pres- forcement: A theoretical analysis (pp. 221-
supostos dos behaviorismos metodológico e ra- 268). New York: Appleton-Century-Crofts.
dical, observa-se que os behavioristas radicais de (Trabalho original publicado em 1963)
fato compartilham algumas características com os Skinner, B. F. (1974). About behaviorism. New
behavioristas metodológicos, principalmente no York: Alfred A. Knopf.
que diz respeito a tomar o comportamento como Skinner, B. F. (1981). Selection by consequences.
objeto de estudo e a defender uma metodologia Science, 213, 501-504.
baseada nas ciências naturais para estudá-lo. Watson, J. B. (1913). Psychology as the behavio-
No entanto, os behavioristas metodológicos rist views it. Psychological Review, 20, 158-
são dualistas e não consideram que os eventos 177.
privados sejam objeto da psicologia (porque não
são observáveis, não são comportamento; têm
outra natureza, que não a física). Esses eventos
só poderiam ser estudados se tornados públi-
cos por instrumentos científicos. Ainda, definem
comportamento como uma relação S-R, num
modelo de causalidade mecanicista e defendem
o delineamento de grupo e a observação por
consenso como critério de validade científica.
Enfim, parece que compartilhar apenas algu-
mas características não deveria ser o suficiente
para classificar alguém como behaviorista meto-
dológico ou qualquer outra coisa. Na verdade,
não é só com esses que os behavioristas radicais
compartilham características e, se tal indagação
“virar moda”, em breve veremos artigos discu-
tindo por que não somos muitas outras coisas
com as quais compartilhamos características.

Referências
Day, W. (1983). On the difference between ra-
dical and methodological behaviorism.
Behaviorism, 11, 89-102.
Leigland, S. (1997). Systems and theories in
behavior analytic science: An overview of
alternatives. Em L. J. Hayes & P. M. Ghezzi
(Orgs.), Investigations in behavioral episte-
mology (pp. 11-31). Reno: Context Press.
Matos, M. A. (1995). Behaviorismo metodológico
e behaviorismo radical. Em B. Range (Org.),
Psicoterapia comportamental e cognitiva:
Pesquisa, prática, aplicações e problemas.
Campinas: Editorial Psy.
Moore, J. (1981). On mentalism, methodolo-
gical behaviorism and radical behaviorism.
Behaviorism, 9, 55-77.
Sério, T. M. A. P. (2005). O behaviorismo radical
e a psicologia como ciência. Revista Brasileira
de Terapia Comportamental e Cognitiva, 7,
247-262.

Afinal, somos behavioristas metodológicos?  |  Cassia Roberta da Cunha Thomaz 23


Ponto de vista Boletim Contexto n. 35

Somos todos behavioristas metodológicos1


Marcus Bentes de Carvalho Neto

Os analistas do comportamento estão familiari- 1974/1976; Tourinho, 1996). Nesse contexto, a


zados com uma divisão clássica e categórica en- construção e, principalmente, a validação do co-
tre dois tipos de behaviorismo: o (meramente) nhecimento seria inerentemente dialógica e social,
metodológico e o radical (Skinner, 1974/1976). ou seja, dependeria da interlocução dos membros
Um dos pontos principais nessa divisão estaria de um grupo. Para isso, o objeto precisaria ser
no tipo de dado aceito em um empreendimento igualmente acessível a todos eles para verifica-
científico do comportamento (para uma análise ção. Mas, ao assumir tal critério, o behaviorismo
mais completa sobre os elementos constituin- metodológico circunscreveria o universo de even-
tes do behaviorismo metodológico, ver Moore, tos cientificamente legítimos aos “objetivos” (i.e.,
1981, p. 64; Moore, 2001, p. 239). O behavioris- observáveis publicamente) e excluiria toda gama
mo metodológico supostamente teria aderido a de eventos, termos e conceitos relativos à esfera
uma versão rígida e ingênua de operacionismo subjetiva ou privada. A maior parte dos processos
(presente no positivismo lógico e no realismo) e, psicológicos tradicionais ficaria, desse modo, para
por isso, lidaria exclusivamente com aquilo que além de um tratamento científico, o que acabaria
fosse publicamente observável: implicando a adoção de um dualismo (explícito ou
implícito) entre eventos comportamentais (públi-
Observação, pois, tornou-se um termo e cos e cientificamente válidos) e eventos mentais
uma operação fundamentais para o beha- (privados e inacessíveis à ciência). Daí o fato de
viorismo watsoniano2 [metodológico]: autores como Moore (1989) e Matos (1997), por
ela define a categoria ‘comportamento’, exemplo, afirmarem que o behaviorismo metodo-
seu objeto de estudo. Comportamento lógico seria também um tipo de mentalismo.
é o observável, mas o observável pelo Nessa caracterização tradicional, o behavio-
outro, isto é, o externamente observável. rismo radical surge como uma alternativa ao
Comportamento, para ser objeto de es- behaviorismo metodológico, pois superaria o
tudo do behaviorista, deve ocorrer afe- limite da verdade por consenso e poderia abor-
tando os sentidos do outro, deve poder dar, sem abrir mão da cientificidade, eventos
ser contado e medido pelo outro [ênfase tanto públicos quanto privados:
adicionada]. (Matos, 1997, p.57)
A distinção público-privado enfatiza a fi-
O critério de cientificidade estaria ancorado losofia árida da “verdade por consenso”.
na possibilidade de se chegar a uma verdade por O público, na verdade, acaba sendo sim-
consenso público (Matos, 1997; Skinner, 1945, plesmente aquilo sobre o que se pode
concordar porque é comum a dois ou
mais observadores. Isso não é uma parte
1  O presente ensaio é uma versão resumida do artigo essencial do operacionismo; ao contrá-
Carvalho Neto, Souza, Strapasson e Dittrich (Em pre- rio, operacionismo nos permite dispen-
paração). O trabalho foi apresentado em setembro de
2011, em Salvador, durante o XX Encontro Brasileiro de
sar esta solução demais insatisfatória do
Psicologia e Medicina Comportamental e I Encontro Sul- problema da verdade. . . . O critério últi-
Americano de Análise do Comportamento. Contatos mo para a boa qualidade de um conceito
pelo e-mail: marcusbentesufpa@gmail.com não é se duas pessoas entram em acor-
2  A classificação de Watson como behaviorista meto-
do, mas se o cientista que usa o concei-
dológico é problemática. Ver a análise proposta por to pode operar com sucesso sobre seu
Strapasson e Carrara (2008). material - sozinho, se precisar [ênfase adi-

Somos todos behavioristas metodológicos  |  Marcus Bentes de Carvalho Neto 24


Ponto de vista Boletim Contexto n. 35

cionada]. O que importa para o Robison mática, na qual um conhecimento privado po-
Crusoé não é se ele está concordando deria ser base para uma ciência do comporta-
consigo mesmo, mas se ele está chegan- mento, desde que gerasse previsão e controle.
do a algum lugar com seu controle sobre
a natureza”. (Skinner, 1945, p. 552) Dois Modos de Produção de
Conhecimento em Análise do
Adotando uma postura alternativa de ope- Comportamento (AC): Análise
racionismo, Skinner (1945) teria defendido um Experimental (AEC) e Interpretação
critério diferente de produção e validação do do Comportamento
conhecimento científico, desvinculado da possi- Donahoe (1993) retoma algumas obras de
bilidade de observação pública. A classificação Skinner para sugerir que uma ciência do com-
de Skinner e da própria análise do comportamen- portamento teria dois modos de produzir e vali-
to como pragmatista é ampla (e.g., Abib, 2001a; dar conhecimento:
Baum, 1999; Borba & Tourinho, 2009; Carrara,
1998; Delprato & Midgley, 1992; Lattal & Laipple, Para Skinner, ciência consiste em dois
2003; Lopes, 2007; Moxley, 2001; Tourinho, 1993, empreendimentos inter-relacionados. O
1996; Tourinho & Neno, 2003), mas não necessa- primeiro é a análise experimental do ob-
jeto de estudo da ciência. Para que sejam
completamente atingidas as exigências
Parece vigorar uma interpretação da análise experimental, todos antece-
de que o behaviorismo radical de dentes eficazes do evento em estudo
Skinner teria não só abdicado do devem ser independentemente manipu-
critério de observação pública, mas lados ou controlados (ou, tais condições
também demonstrado a fragilidade precisam ser aproximadas, como na me-
cânica celeste) e os eventos em si devem
e a ineficiência de tal critério,
ser diretamente observados e mensura-
tornando-o descartável, juntamente dos [ênfase adicionada]. O segundo as-
com o behaviorismo “meramente” pecto do empreendimento científico é
metodológico. a interpretação. Na interpretação, prin-
cípios induzidos da análise experimental
e circunscritos por considerações formais
riamente simples (Abib, 2001b; Leigland, 2004; (i.e., lógica/matemática) são utilizados
Malone, 2004; Micheletto, 1997, 1999). O pen- para fornecer uma perspectiva dos even-
samento Skinneriano é rico em adoções simultâ- tos que ocorrem sob condições que fo-
neas ou consecutivas de posições incompatíveis, gem à análise experimental. (p. 453)
o que acaba gerando uma grande dificuldade
de classificá-lo teórica e filosoficamente (Abib, O método experimental, instrumento básico
2001b; Martin, 1978; Moxley, 1998). Contudo, adotado no âmbito da AEC, exigiria a observa-
mesmo reconhecendo a complexidade de suas ção pública para que fosse possível a replicação
propostas, parece vigorar contemporaneamente dos resultados (Dinsmoor, 2003; Sidman, 1976;
uma interpretação de que o behaviorismo radical Skinner, 1938, 1966), colocando sob controle
de Skinner teria não só abdicado do critério de social a construção do conhecimento científico.
observação pública, mas teria também demons- A partir desse método e desses pressupostos
trado a fragilidade e a ineficiência de tal critério, filosóficos, edificaram-se, ainda nos anos 1930
tornando-o descartável, juntamente com o beha-
viorismo “meramente” metodológico.
Aparentemente, pelo menos no
O objetivo deste ensaio é refletir sobre essa
classificação maniqueísta entre um behavio- âmbito da AEC, o critério de verdade
rismo metodológico que teria a verdade por por consenso público, um dos pilares
consenso público como critério de verdade e do behaviorismo metodológico, foi
um behaviorismo radical que teria abandonado mantido intacto, a despeito da crítica
esse critério, adotando uma perspectiva prag- de Skinner ao seu uso.

Somos todos behavioristas metodológicos  |  Marcus Bentes de Carvalho Neto 25


Ponto de vista Boletim Contexto n. 35

(especialmente em Skinner, 1938), os princípios servação pública e controle social presentes no


básicos da área, como os comportamentos res- behaviorismo metodológico. Matos (1997) des-
pondente e operante, o reforçamento, a extin- creve essa curiosa relação nos seguintes termos:
ção, a discriminação, entre outros.
O critério de observação pública esteve e Estudar eventos privados é uma tarefa
está em vigor nas principais revistas empíricas que o behaviorista radical considera re-
da área, como o JEAB e o JABA, por exemplo. quisito essencial para entender o com-
Aparentemente, então, pelo menos no âmbito portamento humano. A análise desses
da AEC, o critério de verdade por consenso eventos não precisa ser colocada sob cri-
público, um dos pilares do behaviorismo me- térios sociais; para o behaviorista radical
todológico, foi mantido intacto, a despeito da basta um observador, o próprio sujeito.
crítica de Skinner ao seu uso (1945, 1974/1976). Mas os dados dessa observação precisam
Mas, haveria aqui realmente uma fragilidade? ser replicáveis, e os conceitos que são uti-
A observação pública parece ser indispensá- lizados ao lidar com esses dados devem
vel ao empreendimento científico em uma ci- se ajustar ao mesmo conjunto de leis e
ência natural, pois permite o teste externo, o princípios utilizados na análise do com-
controle público, essencial à autocorreção das portamento em geral [ênfase adicionada]
descrições realizadas (Borkowski & Anderson, (Matos, 1990). (Matos, 1997, p. 64)
1981; Dawkins, 2000; Dennett, 1997; Marx,
1975; Popper, 1989; Russell, 1969; Sagan, 1996; Supondo que haveria duas formas diferentes
Skinner, 1953/1965; Sokal & Bricmont, 1999). de produzir e validar conhecimento em AC (i.e.,
Contudo, como já sugerido por Donahoe (1993, análise experimental e interpretação) e supondo
2004), essa seria apenas uma das formas de pro- que cada uma adotaria seus próprios critérios
duzir conhecimento sobre o comportamento em filosóficos - no primeiro caso, o behaviorismo
AC. A interpretação seria uma outra alternativa: metodológico com a verdade por consenso pú-
blico; no segundo, o behaviorismo radical com
Mesmo que a análise experimental se um tipo de pragmatismo -, algumas reflexões
restrinja de fato a eventos observáveis, seriam necessárias: (a) O behaviorismo radical
a interpretação científica não o faz. A in- não seria a filosofia geral a regular a AC como
terpretação pode ter recursos para even- um todo? Como uma subárea, a AEC poderia
tos não observáveis se: (a) eventos deste manter, paralela e autonomamente, uma base fi-
tipo tenham previamente se submetido losófica não apenas diferente, mas incompatível
à análise experimental, (b) os antece- com a orientação geral, o behaviorismo radical?;
dentes do comportamento interpreta- (b) Tendo os principais conceitos da área sido
do incluam condições suficientes para a produzidos e validados inicialmente pela AEC
ocorrência dos eventos não observados e sua verdade por consenso público, e sendo a
quando tais eventos foram observados e interpretação um conhecimento derivado e su-
(c) as características dos eventos não ob- bordinado a esse nível mais básico, não seria o
servados e suas contribuições para pro- próprio behaviorismo radical um “behaviorismo
cessos correntes sejam restritas àqueles metodológico de segunda ordem”?; (c) Como
que já tenham sido demonstrados quan- poderia o behaviorismo radical “dar as costas”
to tais eventos foram observados [ênfase ao método científico que lhe garantiu a própria
adicionada]. (Donahoe, 1993, p. 454) existência e validade? Não seria o behaviorismo
radical proposto por Skinner (1945, 1974/1976)
Portanto, a interpretação não exigiria a ob- um tipo de behaviorismo “ingrato”, fundamen-
servação pública, mas isso não significa que tado filosoficamente no “oportunismo epistemo-
qualquer descrição privada seria válida cientifi- lógico” e no “pragmatismo de conveniência”?
camente. Como indicam os pré-requisitos des- Skinner (1974/1976) reconhece a importância
tacados por Donahoe (1993), a interpretação histórica do behaviorismo metodológico e da es-
estaria atrelada ao conhecimento previamente tratégia em optar por lidar empiricamente com
estabelecido no âmbito da AEC, ou seja, indire- eventos publicamente observáveis na construção
tamente estaria subordinada aos critérios de ob- de uma ciência do comportamento incipiente:

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Ponto de vista Boletim Contexto n. 35

A respeito de suas próprias metas, o Assim, a exigência de observação pública e


behaviorismo metodológico foi bem su- de controle social do conhecimento na fase ini-
cedido [ênfase adicionada]. Ele lidou com cial da AC foi crítica para a própria existência de
muitos dos problemas levantados pelo uma ciência do comportamento de inspiração
mentalismo e se libertou para trabalhar behaviorista. Skinner, nesse sentido, fez o que o
em seus próprios projetos sem digres- próprio Watson (1913) defendeu para garantir a
sões filosóficas. Ao direcionar a atenção transição de uma psicologia mentalista para uma
para antecedentes genéticos e ambien- psicologia do comportamento: (a) suspender o
tais, ele encerra uma concentração injus- uso da terminologia tradicional mentalista; (b)
tificada numa vida interior. Libertou-nos aplicar o método experimental às relações entre
para estudar o comportamento de espé- organismo e ambiente publicamente observá-
cies inferiores, onde a introspecção (en- veis e construir com isso um conhecimento mais
tão considerada exclusivamente humana) seguro sobre os fenômenos psicológicos (para
não era praticável [ênfase adicionada], e uma análise histórica e crítica, ver Politzer, 1975).
para explorar semelhanças e diferenças Watson (1913) previa inclusive que em uma fase
entre o homem e outras espécies. (p. 16) posterior, com conceitos comportamentais mais
confiáveis à disposição - extraídos da experi-
Curiosamente, Skinner, ao descrever suposta- mentação cuidadosa -, seria possível retornar
mente o behaviorismo metodológico, está tam- aos termos e métodos da psicologia tradicional
bém descrevendo o início da sua própria carreira (introspeccionista) e selecionar o que teria va-
na psicologia, quando nos anos 1930 optou por lidade ou não. Watson assim reservava em sua
identificar as relações comportamentais básicas ciência espaço para um tipo de exercício teóri-
ou fundamentais a partir da adoção do método co, dedutivo, similar à interpretação Skinneriana.
experimental. ��������������������������������
Micheletto (1997), ao caracteri-
zar a obra Skinneriana em sua fase inicial (i.e., o Considerações Finais
Skinner “jovem”), diz: Os termos metodológico e radical para descrever
formas diferentes de behaviorismo admitem um
Em 1931, Skinner se propõe a fazer uma amplo conjunto de características definidoras.
análise científica do comportamento a A necessidade de observação pública, no caso
partir do conceito de reflexo. Um concei- do behaviorismo metodológico, seria apenas um
to que permitia estudar o comportamen- desses critérios. A ênfase e a simplificação na dis-
to a partir de uma determinação observá- cussão desse elemento classificatório acabaram
vel no ambiente [ênfase adicionada] e que por levar a uma distorção na qual a observação
permitia previsão e controle. . . . A partir pública é descrita algumas vezes como uma es-
de uma revisão histórica do conceito de tratégia superada e dispensável. O ponto central
reflexo, Skinner estabelece o conceito do debate metodológico/radical parece ser ou-
de correlação observada entre estímulo tro: qual a natureza dos eventos psicológicos sob
e resposta [ênfase adicionada]. Trabalhar a pele? O behaviorismo radical corretamente rea-
com eventos observáveis diretamente firma a natureza comportamental desses eventos,
em organismos intactos afasta-o não só naturalizando a subjetividade.
de visões metafísicas, mas também de Outra questão seria como uma ciência do
supostos sobre o comportamento e pro- comportamento deveria produzir e validar seu
cedimentos de investigação vinculados à conhecimento. De fato, algumas proposições
fisiologia reflexa [ênfase adicionada] . . . behavioristas parecem ter dado margem a um
. Tomados de forma geral, são positivis- dualismo implícito, ao admitirem exclusivamen-
tas [ênfase adicionada] os critérios que te dados observáveis publicamente. Assim, os
Skinner adota para defender o estudo do eventos sob a pele seriam de outra natureza, a
comportamento a partir de dados obser- “mental”, e não seriam passíveis de investiga-
vados [ênfase adicionada], afastando-se ção científica. Mas não necessariamente a de-
de noções metafísicas . . . . (pp. 33-34) fesa da observação pública na construção de
princípios comportamentais seria atemporal e
levaria à exclusão dos eventos privados.

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Ponto de vista Boletim Contexto n. 35

É possível entender a adoção de critérios so- É importante lembrar que a necessidade de


ciais de controle do conhecimento no behavio- observação pública e de demonstração empírica
rismo de Watson e de Skinner (pelo menos em e lógica de um argumento surge em um contexto
sua fase inicial) como uma estratégia histórica, no qual um conhecimento podia ser produzido
explicável e válida para um contexto específico. por mera “revelação” ou “inspiração” (resultado
Ambos precisavam iniciar sua empreitada cien- de um processo íntimo, espiritual, misterioso, in-
tífica e a psicologia tradicional não lhes oferecia comunicável e indevassável) e mantido por auto-
segurança nem nos conceitos e termos utiliza- ridade (especialmente as real e religiosa). Comte
dos para descrever os fenômenos psicológicos, combateu o conhecimento místico, individual e
nem nos métodos para conhecer tais fenôme- indiscutível (de papas, reis e assemelhados) e
nos. Qual o caminho mais seguro a ser trilha- propôs critérios que, ao mesmo tempo, naturali-
do nesse cenário? Ambos os autores optaram zavam a produção de conhecimento (entendida
por começar utilizando a experimentação de como humana, mundana, sem vínculos com um
relações entre organismo e ambiente simples, mundo extrafísico a soprar verdades aos escolhi-
dos) e democratizavam o seu acesso (qualquer
O equívoco do debate entre um poderia, independentemente de sua origem
ou classe social, potencialmente compreender,
behaviorismo metodológico e
criar e testar uma teoria sobre o mundo). Ele
behaviorismo radical parece residir na reconhecia a falibilidade humana (daí a neces-
interpretação de que a observação sidade do Método) e tornava explicitamente
pública é o inimigo do “bom” a validação do conhecimento uma questão de
behaviorismo. Ela foi e é crucial para convencimento público, uma tarefa irremediavel-
uma ciência do comportamento. mente coletiva, regida pela razão argumentativa,
e não pelo medo de contrariar uma autoridade.
Tais avanços são conquistas fundamentais da
publicamente acessíveis e, por isso, socialmente modernidade. Estão profunda e historicamen-
controláveis. A princípio, não parece ter havido te relacionados à própria ideia de democracia.
uma negação da validade de estratégias indire- Portanto, não deveria ser um estorvo para o
tas ou interpretativas ou mesmo considerações analista do comportamento, o qual não deveria
definitivas e completas sobre o lugar dos even- ter vergonha de adotá-lo. Talvez seja necessário,
tos psicológicos não acessíveis publicamente. sim, discutir o papel complexo que tal critério
Naquele momento decisivo, o caminho para assumiu em nossa história e reavaliar a partir
edificar uma ciência do comportamento anco- disso as classificações e caracterizações tradicio-
rada em bases seguras recomendaria a adoção nais sobre o que fazemos e no que acreditamos.
da verdade por consenso público. No caso de
Skinner, após terem sido produzidas empirica- Referências
mente as leis básicas da área, estavam prontas as Abib, J. A. D. (2001a). Behaviorismo radical
ferramentas teóricas que o autor aplicaria em sua como pragmatismo na epistemologia. Em H.
interpretação dos fenômenos comportamentais J. Guilhardi, M. B. B. P. Madi, P. P. Queiroz
complexos, mais difíceis de serem submetidos & M. C. Scoz (Orgs.), Sobre comportamento
ao exame em condições controladas. Portanto, o e cognição: Expondo a variabilidade (Vol. 8,
equívoco do debate entre behaviorismo metodo- pp. 158-161). Santo André: ESETec.
lógico e behaviorismo radical parece residir na in- Abib, J. A. D. (2001b). Arqueologia do behavio-
terpretação de que a observação pública é o ini- rismo radical e o conceito de mente. Em H.
migo do “bom” behaviorismo. Ela foi e é crucial J. Guilhardi, M. B. B. P. Madi, P. P. Queiroz
para uma ciência do comportamento. Ela norteia & M. C. Scoz (Orgs.), Sobre comportamento
a prática não só dos analistas experimentais do e cognição. Expondo a variabilidade (Vol. 7,
comportamento trabalhando em laboratório, mas pp. 20-35). Santo André: ESETec.
também a prática dos demais analistas compor- Baum, W. M. (1999). Compreender o behavioris-
tamentais saudavelmente obcecados com a ne- mo: Ciência, comportamento e cultura. Porto
cessidade de objetividade, replicabilidade e de Alegre: Artmed.
descrições baseadas em evidências averiguáveis.

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Instituição afiliada à ABPMC Boletim Contexto n. 35

Instituição afiliada à ABPMC


Centro de Análise do
Comportamento de São Paulo
(CeAC)

À exceção das instituições divulgadas nos números anteriores


- AMBAN, IBAC, IEPAC e Paradigma -, as demais instituições
afiliadas à ABPMC foram convidadas a publicar um texto de
divulgação neste número do BC. No entanto, apenas o CeAC
atendeu ao convite no prazo estipulado, motivo pelo qual
representa o único instituto divulgado neste número.

Criado em 1994 pelas psicólogas Maly Delitti e Nossos serviços visam ao desenvolvimento de
Priscila Derdyk, o Centro de Análise do Compor- cada pessoa para a construção de uma socieda-
tamento de São Paulo (CeAC) tem o objetivo de de equilibrada, justa e uma vida mais gratifican-
oferecer serviços com qualidade, propiciando o te. Para atingir nossos objetivos, os profissionais
desenvolvimento psicológico, social e emocional de nossa equipe são formados pelas melhores
do ser humano. universidades, com pós-graduação e experiência
Partimos do pressuposto de que a psicolo- na aplicação da psicologia às diferentes áreas de
gia, como ciência, deve ser aplicada de forma relacionamento do ser humano.
criteriosa e ética, favorecendo bem-estar e qua- No CeAC, atendemos crianças, adolescentes,
lidade de vida. A proposta de nosso trabalho adultos, casais e famílias, nas modalidades de
é aliar o que há de mais moderno e objetivo terapia individual e em grupos. Além do aten-
da ciência do comportamento aos instrumen- dimento clínico, temos também grupos de es-
tos que a tecnologia nos oferece. Assim como tudo e supervisão clínica, grupos de orientação
Skinner (1974), acreditamos que “os problemas de pais, workshops para formação de terapeutas
enfrentados hoje pelo mundo só poderão ser de casais, grupos e famílias, orientação profissio-
resolvidos se melhorarmos nossa compreensão nal e outros.
do comportamento humano”.

Avenida Faria Lima, 2081, conjunto 31.


Telefone: (11) 3031-9908
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