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O cinema entra para a categoria das armas a partir do momento em que est apto a criar a surpresa tcnica
ou psicolgica, j que no existe guerra sem representao ou arma sofisticada sem mistificao
psicolgica diz Virilio em Guerra e Cinema (1993:12), bela reflexo sobre a histria da relao do
medium com os avanos tcnicos e cientficos militares. Ocorre que as armas, antes de serem instrumentos
de destruio, so instrumentos de percepo. Da que a guerra no pode jamais ser separada deste
espetculo mgico porque sua principal finalidade , justamente, a produo deste espetculo (Virilio,
1993:11-12). A frase de Ortega y Gasset, usada como epgrafe no jornal chileno de extrema direita Orden
Nuevo, completa esta idia: A fora das armas no uma fora brutal, mas uma fora espiritual (apud
Virilio, idem). O cinema esclareceria, assim, porque abater o adversrio menos captur-lo do que cativ-
lo, infligir, antes da morte, o pnico da morte (idem).
O sucesso estrondoso de O Judeu Suss no mostrou apenas a sapincia de Goebbels no manejo da tcnica
cinematogrfica como arma de propaganda. Goebbels bem sabia que o convencimento e a manipulao no
combinavam com uma pedagogia do horror, to bem expressa nas quase insuportveis cenas pretensamente
documentais de O Eterno Judeu, mas com o cinema (ficcional) de entretenimento. O Ministro da
Propaganda, considerado por muitos o mais intelectual da equipe nazista, ironicamente consagraria o
cinemo narrativo, modelo Hollywood, como mquina de propaganda antissemita. O cinema cumpriria
seu triste papel na histria da propaganda, do Reich hitlerista e no mais brbaro projeto de extermnio do
Sculo XX.