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| © 1995, 1998 pe Hse Mania Mattos Direitos desta edigao adquiridos pela EDITORA NOVA FRONTEIRA S.A. Rua Bambina, 25 — Botafogo (CEP: 2251-050 — Rio de Janeiro ~ RJ ~ Brasil “Tels (021) 537-8770 ~ Fax: (021) 286-6755 hep://wworw.novaftonteira.com.br Equipe de producto Leila Name Regina Marques Sofia Sousa Silva Michelle Chao Marcio Araujo Julio Fado Revistio Angela Nogueira Pessia Ana Lscia Kronemberger Projeto grifico e diagramacio FA Edivoragdo Eletrénica Led CIP ~ Brasil. Catalogagio-na-fonte Sindicato Nacional de Editores de Livros, RJ 97-1890. Marcos, Hebe Maria Das cores do siléncio: os significadas da liberdade no Sudeste cscravista, Brasil Século XIX J Hebe Maria Mattos. — Rio de Jancito : Nova Fronteira, 1998, Inclui bibliografia ISBN: 85-209-0920-5 1, Eseravidio — Brasil — Fmancipagio. 2. Brasil — Histéria — Aboligéo da escravidio, 1888. I. Ticulo. Il. Titulo: Os significados da liberdade no Sudeste escravista, Brasil Século XIX. CDD 981.04 cDU 981 caPiTuLo 16 NEGRO NAO HA Mais NAO? (I) Em 1894, 12 artigos foram publicados no Jornal do Commercio com o titulo ‘A lavoura no estado do Rio’, assinados por Arrigo de Zetirry.' Nao consegui indicagdes biogrificas sobre 0 autor, mas este viaja pelo Norte Fluminense, com vistas a analisar as condig6es de organizagio do trabalho na lavoura da regio, apés experiéncia semelhante no Oeste paulista. Seis anos apés a extingao do cati- vciro, num quadro conturbado pelas instabilidades politicas da Reptblica nascen- te, libertos ¢ ex-senhores jd nfo mais freqlientavam com a mesma assiduidade as paginas dos jornais. As crénicas de Zetirry, entretanto, singularizam-se nao sé por se deterem em anilises individualizadas das fazendas visitadas, como por enfocarem especificamente as condigées de aproveitamento dos libertos nas mesmas. Seu objetivo preeipuo era, num contexto de atragio de mio-de-obra, que ainda se mostrava critico na regio, divulgar a experiéncia das fazendas que estavam conse- guindo sobreviver na nova conjuntura, Permitem, assim, que se reencontrem os embates entre expectativas de liberdade de libertos ¢ ex-senhores, num momento no qual jé se tinha ultrapassado o contexto da primeira reagio senhorial 4 eman- cipacéo definitiva e incondicional de seus escravos. proprio percurso geogréfico por ele realizado permite interessantes con- clusées. Zetirry caminha de Itaperuna, recém-desmembrada de Campos, nova ¢ préspera regio produtora de café, para Sao Joao da Barra, municipio onde predo- minava a cultura da cana para producio de aguardente e o cultivo de cereais, 292 DAS CORES DO SILENCIO passando pela rea canavicira campista. Tem-se, assim, para além de quais- quer consideracdes regionais, a possibilidade de acompanhar as condigses diferenciadas com que as 4reas agricolas tradicionais do Sudeste enfrentaram a chamada ‘transformagdo do trabalho’. Paralelamente, setdo consideradas também as informagées fornecidas pelos registros de nascimento e dbito de trés freguesias da regido, com as mesmas caracteristicas das Areas visitadas. ‘Tendo em vista o papel crucial representado pela mobilidade nas estratégias de sobrevivencia dos libertos ¢ o cardcer fortemente diferencial da situagéo de metcado que se estabelecera em 1888, apenas com esta visio integrada pode- se realmente acompanhar a pluralidade de estratégias e altetnativas efetiva- mente acionadas por libertos ¢ ex-senhores. A primeira fazenda visitada chamava-se Trés Barras e estava localizada na divisa dos municipios de Itaperuna e Campos. Com serecentos alqueires de terrae quinhentos mil pés de café plantados, era trabalhada por colonos nacionais — livres ¢ libertos — ¢ estrangeiros. Formavam ao todo 128 familias, assim divididas: 38 familias de colonos nacionais livres 49. dicas de colonos libertos que foram escravos da facenda 1 dias de colonos libertos que foram escravos de outras fazendas 23 ditas de colonos europeus 09 ditas empregadas na atual colheita de café? Chama atengio, de imediato, que todo o conjunto de trabalhadores da fazenda se encontrasse agrupado ¢ contado em fungo de sua organizacio fami- liar. Isto contradiz.frontalmence a opinio, hoje jé bastante questionada, de que a experiéncia da escravidio tivesse detetminado um quadro de desorganizago ou auséncia de padrio familiar entre os escravos, bem como a de que os ex-cativos tivessem sido rapidamente alijados das fazendas mais produtivas. Das 128 fami- lias, 42 nao sé eram ex-escravas, como 0 haviam sido, em conjunto, na propria fazenda. Zetirry também mantém, nesta classificagio inicial, uma clara diferen- ciagio nao sé entre libertos que continuaram na fazenda (enfatizando, assim, que as condigées oferecidas por este fazendeiro conseguitam eter pelo menos parte dos antigos escravos) ¢ libertos de outras fazendas (capacidade de atrair libertos de outros senhores), mas também com os colonos nascidos livres (sem qualquer especificagao racial), além dos imigrantes, 0 que sugere que ainda se mantinha forte, pata os recém-libertos, a marca da escravido e, 20 mesmo tempo, que sainda eram 0 esteio da forca de trabalho regularmente empregada nas fazendas cafeeiras da regio (mais de 40% das familias arroladas) NEGRO NAO HA MAIS NAO? (1) 293, E, de fato, os dados do Registro Civil de Obito, para a década de 1890, na freguesia de Cachoeiras do Muriaé, pertencente ao municipio de Campos e vizi- nha & area visitada, confirmam esta perspectiva.> A freguesia de Nossa Senhora das Cachoeiras do Mutiaé foi criada em 1873, desmembrada da freguesia de Guarulhos, do municipio de Campos. Sua ctiagao est ligada a um movimento mais amplo de surgimento de novos munict- pios ¢ freguesias no norte fluminense, em grande parte desmembrados do muni- cipio de Campos (como Ttaperuna), no rastto da expanséo cafeeira na regio Surgida em 1891, nao foi recenseada em separado, no Censo Geral de 1890, Guarulhos, em 1890, contava, segundo 0 censo, com 64,61% de negros e pardos, num total de 13.414 pessoas. A populacgo de Cachoeiras do Muriaé era com certeza bastante inferior, visto constituit-se em drea de fronteira agricola que sur- gia na renovada febre de expansio cafecira, ‘To novos quanto a freguesia eram os registros civis, instituidos, apés muitas controvérsias, em 1888, Se mesmo os registros paroquiais, especialmente de casa- mento ¢ dbitos, se mostram extremamente precitios do ponto de vista da tepresentatividade da populaglo rural do Brasil, nos oitocentos, é de se supot que 0s registtos civis atingissem uma porgio ainda menor destas populagGes.Jé na segun- ca metade do século XIX, entretanto, os egistros paroquiais de Campos nfo declara- vam a ‘cor’, nem mesmo das criangas livres levadas a batismo. A declaragéo de cor era uma prética bastante generalizada nos registros civis consultados. Os 356 dbitos e 1.116 nascimentos, registrados no cartério de registro civil da freguesia de Nossa Senhora das Cachociras do Muriag, entre 1891 © 1901, sio ntimeros com certeza inferiores aos totais de nascimentos e ébitos na nova freguesia. Tanto os registros de nascimentos quanto os de ébitos apresenta- ram, entretanto, proporgdes exttemamente semelhantes em relagéo a brancos ¢ ndo-brancos, revelando no s6 uma coeréncia entre ambos os registros, mas tam- bém proporgies compativeis com as expectativas que se podem desenvolver a partir da anlise dos recenseamentos dispontveis para Guarulhos (vide gréfico 26). Se os registros se mostram precétios para uma andlise propriamente demogréfica, mostraram-se bastante significativos do ponto de vista da andlise social, possibilicada pela rata referéncia sistemdtica & ‘cor’, ao local de residéncia (Sbitos), & profissio dos pais (nascimentos) e As relagées familiares. Desenha-se, a partir destes dados, o perfil de uma drea de fronteira, em que 0s nao-brancos somavam cerca de 70% da populagéo presente nos tegistros civis € onde a razao de masculinidade entre a populaco registrada nos dbitos era de 1,94 para os brancos adultos (mais de 15 anos) e 1,51 para os negros e pardos. 204 DAS CORES DO SILENCIO Gaérico 26 FREGUESIA DE CACHOEIRAS DO MURIAE: TOTAL DOS REGISTROS CIVIs (1891-1901) = sae Pa ® L w : ° | ’ ios Fone: Registroseivis.lalva RJ, A mengio da cor, nos registros de dbitos de adultos, na década de 1890, em Cachoeiras do Muriaé, como nas outras freguesias trabalhadas, mostrou-se clara- mente informada por uma concepgio da designacéo ‘negro’ ainda teferenciada 2 uma passada experiéncia escrava. As referéncias explicitas, em alguns casos, 2 con- digo de liberto (‘negro afticano’ ou ‘negro crioulo’) ¢ a auséncia de sobrenomes, especialmente nos primeiros anos, sao fortes indicadotes neste sentido, reforgado: pelo perfil social especifico, apresentado pelo grupo ‘negto’ naqueles registros. A relagéo dos nomes de negtos, brancos ¢ pardos, em 1889, nos registros de ébito da freguesia de Sio Gongalo,‘ marcada por uma total auséncia de sobrenomes para ‘os negros (caracteristica dos escravos), sua incidéncia significativa entre os pardos (caracterizando os ‘nascidos livres’) ¢ sua universalidade entre os brancos ilustram © quanto, naqueles primeiros anos, a ‘cor’ ainda era referéncia de um passado cativo préximo ou remoto. Em Cachociras do Muriaé, os ‘negros’ adultos, nos registros de dbito, iden- tificados muitas vezes como ‘afticanos’, ‘ctioulos’ ou simplesmente ‘liberto’, resi- diam majoritariamente em ‘fazendas’ (62,99%), contra apenas 26,26% dos bran- cos ¢ 43,30% dos pardos. Se a maioria dos ‘negros’(libertos) residia nas fazendas, também a maioria dos residentes em ‘fazendas’, de acordo com os registros de ‘Sbito, era formada por trabalhadores ‘negros’ (54,05%), numa propor¢io ainda mais alta que a encontrada por Zetirry, em Trés Barras. Estes ‘negros’, que majoritariamente moravam em fazendas’ e que forma- vam a maioria da populagdo residente em ‘fazendas’ da érea, quando tiveram suz NecKO NAO HA MAIS NAO? (I) 295 profissio declarada (43,51% dos casos), revelaram-se ‘lavradores' ou ‘jornaleiros’, em 80% dos registros considerados. Encre os restantes 20%, contam-se os poucos artistas, operdrios (na Estrada de Ferro) ¢ empregados domésticos, que tiveram suas ocupacGes assinaladas nos registros de ébito, bem como quatro velhos liber- tos, considerados ‘indigentes. ‘As op¢Ges profissionais mostraram-se ainda menos diversificadas para bran- cose pardos, quase universalmente qualificados profissionalmente como ‘lavrado- res. A predominancia de ocupagées agricolas, nos registros de dbito, evidencia mais uma vez o cardver de fronteira da area e 0 atrofiamento de qualquer fungio urbana na regio. A estrutura ocupacional da freguesia poder ser mais bem con- siderada, entretanto, a partir dos registros de nascimento, quando a ocupagio dos pais se fez presente em 77,46% dos casos. A identificasao profissional nos ébitos de adultos, nos quais a identidade entre ‘negtos'¢ ‘libertos’ se faz muito mais acentuada, deve também ser considera da, por mostrar-se especialmente reveladora. Demonstra que os ‘brancos’ ¢ os ‘pardos’, apesar de ‘lavradores’, o cram, majoritariamente, enquanto posseiros ou pequenos proprictarios fora das fazendas da area. A predominAncia de jornaleiros ‘negros’ e também de lavradores ‘negros’ dentro das fazendas da regio confirma o quadro esbogado por Zetirry de dependéncia da mao-de-obra liberta (como colo nos ou jornaleiros), nas maiores fazendas de café das zonas em expansio. Quase no sfo arrolados estrangeiros, nos registros analisados (7,07% da minoria branca registrada). Vide gréficos. Grisico 27 [FREGUESIA DE CACHOEIRAS DO Muriat: OBrTos (1891-1901) 80 Ditszenda i ora das tazendas 60 8 a0 Zo ot egos partos ‘ancos owes Registro de obitos.Iealva-RJ. 296 DAS CORES DO SILENCIO Grsrico 28 FREGUESIA De CACHOEIRAS DO MURIAE: RESIDENTES EM ‘FAZENDAS’ NOS REG. DE OBITOS ness: 5405% Dbeaneos 1.57% lps: 2036 Grarico 29 FREGUESIA DE CACHOEIRAS DO MURIAE: PROFISSOES NOS REGISTROS DE OBITOS % Caiadrs Bjpratics * Bouae gm 30 2 0 oF = potas bane Fons (Gr. 28 ¢ 29}: Registro de ébitos, 1891-1901. Italva-R. O recurso a imigrantes estrangeiros, entretanto, especialmente portugueses € espanhéis, mesmo que minoritétio, ainda dava espetangas a Alves de Brito, proprictario em Trés Barras, de que em breve aumentasse a oferta de trabalho, permitindo-lhe substicuir o sistema de parceria, adotar o de saldtios ¢ diminuir sua dependéncia dos recém-libertos, segundo seu préprio depoimento a Artigo de Zetitry. Em discordancia com o ponto de vista de Zetirry, o sistema de parceria adotado em sua fazenda nZo o entusiasmava nem mesmo no que se tefere aos colonos europeus, especialmente pela perda de influéncia do proprietério sobre 0 ritmo e as prioridades da producao. Em busca deste mesmo objetivo, em outra fazenda da rea, propriedade de d. Aurélia Gomes, os parceitos libertos conviviam com trabalhadores assalariados chineses, contratados por quatro anos.* Para desa- ponto de Zetirry, ardente defensor da parceria com colonos europeus pata as dreas NecRO NAO HA Meats NAO? (I) 297 cafeeiras do estado, d. Aurélia se mostrava entusiasmada com os chins, que, do seu ponto de vista, “nao se recusavam aos trabalhos mais érduos, como os europeus”, nem faziam as “absurdas exigéncias dos libertos”. A imigragdo européia permane- ceu, entretanto, sempre limirada na regido e a importagao de trabalhadores chine- ses nunca chegou a ter maior expresso na area considerada, As condiges de trabalho em Trés Barras, descritas por Zetitry, podem for- ZZ um pardimetro para conhecermos as condig6es de vida e trabalho da maioria negra, residente nas fazendas da area. Além das 128 familias inicialmente descri- tas, Trés Barras contratava ainda 58 camaradas, empregados no trabalho de bene- ficiar café, mediante saldrio (trés mil réis didtios a seco). As familias dos colonos somavam juntas 542 pessoas, com uma média de 4,2 individuos cada uma. Parte destas familias (o autor nao esclarece quantas) era empreiteira ¢ estava empregada na formagio de novos cafezais, Contratavam-se por quatro anos, com direito a plantar e colher cereais, bem como aos frutos dos cafeciros, plantados no terceiro € quarto ano. Recebiam, além disto (como em Sao Paulo), cem réis por mil pés de café plantado. Possivelmente, seriam formadas pelos ‘colonos nacionais nascidos livres’ que, segundo 0 autor, no Rio de Janeiro como em Sao Paulo, tinham uma clara preferéncia por este tipo de trabalho, chegando mesmo a ‘vender’ ou repassar contratos de parceria para assumir tal situagio, A maior parte das familias de colonos achava-se empregada, entretanto, no trabalho de tratar os cafezais jd formados, ‘de capinar quantas veres por ano puder ede colher o café na época oportuna’. A retribuigio que recebiam era a metade da colheita de café e das rogas de milho e feijaio que tivessem plantado. Zetirry considerava estas condic6es especialmente vantajosas aos colonos, especialmente se comparadas com as oferecidas pelos lavradores paulistas do oes- te. Para ele, esta seria a maior prova ou ‘a medida mais evidente’ da crise de trabalho por que passava estado, Para obter mao-de-obra suficiente aos traba~ hos da fazenda, o lavrador fluminense via-se obrigado a ‘submeter-se a condicées de parceria’ que, segundo o autor, horrorizavam os fazendeiros paulistas. Zetiery tenta explicar, ainda, que o problema nao ¢ propriamente de nime- ro de trabalhadores (542 pessoas no ¢ pouca coisa, reconhece), Em termos de bragos para os cafezais, entretanto, este niimero, de fato, seria muito menor, pois as familias de libertos, do seu ponto de vista, ndo potencializavam, como o imi- grante em Sao Paulo, o trabalho familiar. Segundo Zetirry, nas familias de liber- tos, privilegiavam-se as rocas de mantimentos; as mulheres recusavam-se a traba- Ihar nos cafezais; os filhos comegavam tarde a ajudar na lavoura e ainda por cima casavam-se cedo. Como nas familias dos ‘nacionais nascidos livres’, os dias de 298 DAS CORES DO SILENCIO trabalho reduziam-se a quatro na semana, devido & multiplicidade de festas reli- giosas de que nunca deixavam de participar. Em condi¢bes de parceria, os propricté- rios nao possufam meios de modificar este quadro. Nao faltavam jornal lariados, mas estes safam ainda mais caros, aos niveis dos salérios entio vigentes, do que os mecitos ¢, principalmente, mais incertos. Deste modo, ao arrolar as restrigdes que ele, bem como os proptictérios visitados, faziam ao trabalho dos libertos em condigio de parceria, Zetirry indire- tamente nos informa sobre as expectativas dos ex-escravos em relacio & liberdade, que os aproximava dos padres culturais tradicionalmente adotados pelos roceiros livres, ainda na vigéncia da esctavidio, bem como sobre sua capacidade de torn las efetivas na nova conjuntura. Seis anos apés a aboligdo do cativeiro, as condigdes de mercado para atra- ¢fo de trabalhadores na lavoura fluminense ainda etam percebidas por este analis- ta como claramente desvantajosas aos proprietdrios, forgando-os a adotar a parce- sla pata fixar o trabalho do liberto. iros assa- Apesar de sua propalada insatisfagao com as condig6es de fixagdo da mao- de-obra.e, especialmente, de sua situagao de dependéncia em relacdo as exigéncias dos recém. ibertos, os cafeicultores do Norte Fluminense conseguiam bons lucros com o sistema de parceria, de acordo com a avaliagao do autor considerado, bem como os patceiros que nela trabalhavam. Com o sistema adotado, apenas as fae zendas menos produtivas, com cafezais velhos e cansados, tinham problemas para obtengio de mio-de-obra, J4 haveria mesmo um mercado informal de ‘situagdes’ entre 0s patceiros, como o que hé muito funcionava para as situacGes agricolas de arrendatérios e agtegados livres. O preco pago, entretanto, pelos ex-senhores pela estabilidade do trabalhador implicava em abrir mio até mesmo do poder de esco- Iher as familias contratadas, mesmo que conservassem, obviamente, o poder de vetar as transagées acordadas, ‘Também a andlise das informag6es, obtidas a partir dos registros de nasci- ‘mento, parecem coadunar-se e mesmo complementar o quadro tragado por Zetirry. No caso da discriminagao da cor das criangas, nestes egisttos, a correspondéncia entre ‘negro’ e descendentes de libertos nao se fiz mais de forma universal, como nos Sbitos. Nos primeiros anos, era ainda comum a designagao dos pais como ‘negros ctioulos’ e de alguns avés como ‘negros africanos’, mas desde meados da década ape- nas a cor das criangas era referida. Os critérios utilizados para tanto eram bastante obscuros e serio discutidos adiante, mas cabe ressaltar desde agora que se pade registrar, para as demais freguesias consideradas, nao ser incomum que um mesmo casal tivesse filhos registrados, ora como ‘negros’, ora como ‘pardos’. Certo BORO NAO H& Mats NAO? (I) 299 6 que as unides entre 0s recém-libertos e seus filhos nao ficaram restritas a0 grupo ‘negro’ e os descendentes de libertos foram registrados como ‘negros’ tanto como ‘pardos’ Em Cachoeiras do Mutiaé, foram considerados ‘pardos’ todos os cinco ne- tos de Jacinta Lopes ¢ Vicente Lopes, ambos afticanos, nascidos de suas duas filhas, Libinia ¢ Marcolina, reconhecidos pelos pais, lavradores, que com elas residiam, Jé os trés necos de Maria Rita e Procépio, também africanos, filhos de Engricia Maria Rita, filha do casal, e seu marido, Manuel Paulo, filho de Rositia, foram todos registrados como negros. E duvidoso se houve efetivamente ‘miscige- na¢io’ no primeiro caso, mas é certo que no segundo nao somente a mic era filha de afticanos como o pai era liberco (auséncia de sobrenome). As duas filhas de Sabina Rita, jornaleira africana, tiveram filhos pardos. Jé Julia Eliséria, filha de Eliséria Maria e Manuel Congo, registrou um tnico filho negro, em 1892, reconhecido pelo pai, jornaleiro, Hermégenes dos Santos, filho de Dursulina Maria do Espirito Santo ¢ Francisco dos Santos. Penso poder afirmar, ¢ o quadro geral a pattir da andlise dos registros o confirma, que, mesmo de maneira mais difusa, as criangas registradas como ‘negras’, pelo menos até meados da década, eram aque- las de pais ainda reconhecidos como ex-catives. Isto explica, em grande parte, porque a maioria dos casos de casais com filhos negtos e pardos, identificados nas outtas freguesias consideradas, tenham tido os filhos registrados como ‘pardos’ até meados da década de 1890, transformados em negros j4 no final do século. Antes que um processo de branqueamento, parece delinear-se um processo de apaga- mento da meméria do cativeiro, no registro da cor, tornando ‘negros' os fillios dos nascidos livres que nao trouxessem tacos evidentes de miscigenacéo, Em Ca- chociras do Muriaé, esta distingio parece ter sido mais duradoura, talver. pela maioria de libertos na populacio adulta da regio, conforme o registro de dbitos, Em 1894, Zetirry teve muito mais facilidade em separar nascidos livres de liber- tos, no que se refere as dreas cafeeiras, do que nas descrigdes das regides mais antigas c de populagdo mais densa, dedicadas & producio do agticar ou ao cultivo de mantimentos. Nos registros de nascimento de Cachoeiras do Muriaé, em ter- mos gerais, a designagio de ‘pardo’ pareceu representar, principalmente, a perda do estigma do cativeiro. Deste modo, para uma proporcao semelhante de ‘bran- cos’, nos dbitos ¢ nos nascimentos, invertia-se a correlagio entre ‘negros’ e ‘pardos’ nos 70% de nao-brancos (vide gréficos). 300 DAS CORES DO SILENCIO Gaarico 30 FRrecursia De CAcHOEIRAS DO MURIAE: COR NOS REGISTROS DE OaITOS (%) Obitos Gririco31 FREGUESIA DE CACHOEIRAS DO MURIAE: COR NOS REGISTROS DE NASCIMENTOS (9) braces: 30.00% i negos:2300% El prior: 390% Nascimentos Fonte: (Gr. 30 ¢ 31): Registro cvis, 1891-1901. lalva-RJ, A anilise mais potmenorizada dos regiscros de criancas negtas e pardas na freguesia, num total de 781, parece confirmar a hipétese de que as ctiancas registradas como negras foram aquelas cujas familias ainda eram ptioritariamente identificadas com um passado cativo. Sem a declaragdo da ‘cor’ dos pais torna-se dificil atribuir o processo de ‘empardecimento’ das ctiangas apenas 4 miscigena- 40, principalmente quando no se altera a proporgao de brancos, nos dois casos considerados (Sbitos e nascimentos). Os dois grupos (ctiangas negras e pardas) rém um perfil profissional bascante semelhante, exceto no que se refere A ocupae ‘ao de ‘jornaleiro’, exercida principalmente pelos pais de criangas ‘negras’. Con- forme enfatizard Zetirry, a mobilidade era uma das principais caracteristicas entéo NEGRO NAO HA MAIS NKO? (I) 301 atribuidas aos libertos. O acesso a outras ocupagées néo-agricolas, mesmo que restrito, se fazia mais Ficil para os pardos ow tornava pardos seus filhos, com mais freqiiéncia, conforme os graficos a seguir. Gratico 32 FREGUESIA DE CACHOEIRAS DO MURIAE: PROFISSAO DOS PAIS NOS REGISTROS DE NASCIMENTOS (1) Br lavadores 51.41% 1D owvas: 120% 1M servo domésticn: 104% 1 jomalios:36,95% Negros Grtrico 33, Frecuesta pz CacHOEitAs Do MURIAE: PROFISSAO DOS FAIS NOS REGISTROS DE NASCIMENTOS (2) iiswaore: 80% outas: 439% serio domes: 180% jemi: 24.10% Pardos Fowre (Ge. 32 ¢ 33): Registos de nascimentos, 1891-1901. Tealva-RJ. Igualmente restritas a0 trabalho agricola e (minoritariamente) a0 servigo doméstico, as diferencas entte ctiangas negras e pardas desenharam sempre uma sutil gradacéo na solidez dos lacos familiares de cada grupo na regido. i | 302, DAS CORES DO SILENCIO Grarico 34 FREGUESIA De CacHoEIRAS DO Muniaf: CRIANGAS ‘NEGRAS’ NOS REG. DE NASCIMENTOS 3 0 Mews gm £m i 3 8 2 2 Bs oJ ual gine nenbe b aa te" adie aoe pda ple Genco 35 FREGUESIA DE CACHOEIRAS DO MURIAE: CRIANCAS 'PARDAS’ NOS REG. DE NASCIMENTOS = 2 Meepwe 3 ow 2 =» 8 =m of ia gas nether” ad ns a ido” mate lena pars pmo owe (Gr. 34 35): Regiseros de natcimentos, 1891-1901. Italva-R. A legitimidade das criancas registradas era extremamente baixa nos dois grupos, porém mais elevada entre os ‘pardos’ (27,10% ¢ 38,24%). Mesmo assim, as familias consensuais, identificadas pela identificagao da mae como ‘caseira’ ou ‘amésia’ do declarante e deste como o pai da crianca, mostratam-se significativas nos dois grupos, mais incisivamente para os ‘pardos’ (35,16% e 47,51%). Mais de 97% das criangas registradas tiveram referida a avé materna, evidenciando que uma referéncia getacional em linha materna nao eta exclusiva de nenhum grupo social. Isto também prevalecia, em menor grau, em relacio as avs paternas, quando os pais eram mencionados (83,16% e 93,50%), 0 que reforcava a solidez das unides consensttais na drea, visto que, em outras freguesias, nao foi comum regis- NEGKO NKO HA Mats NAO? (1) 303 trar-se © nome dos avés paternos dos filhos navurais, mesmo quando reconheci- dos por seus pais. Apenas as menges ao avd paterno mostraram-se inferiores 20s indices de legitimidade encontrados. Entre os ‘lavradores’, entendidos como 0s que tinkam acesso & produgso familias, como colonos, posseitos ou pequenos proprietérios, elevam-se significa tivamente os niveis de legitimidade (52,34% ¢ 63,28%) c as unides consensuais identificadas (65,92% e 77,09%), sempre com indices mais elevados para as ctiangas pardas. No restante dos casos, ou 0 avé materno ¢ ‘lavrador’ e declarante ou o declarant ¢‘lavrador’, como a mie da crianga registrada, sem que se explicite, entreranto, a relacio de amasiamento e paternidade (vide graficos). GRAFICO 36 Frecuesia be Cacoetas Do MURIAE: PAIS ‘LAYRADORES’ NOS REG. DE NASCIMENTOS (1) moss? ragistos de nascimantos lob kino eeohes eS 00 mala etme pons pttme Gutrico 37 -FREGUESIA DE CACHOEIRAS DO MURIAE: PAIS “LAVRADORES’ NOS REG. DE NASCIMENTOS (2) 180 Wade 160 0 20 00 registos de nascinentos % a fol gine cone ane ahd ‘ido matima meme pte plone Font (Gr. 36¢.37): Regstos de nascimentos, 1891-1901. lava R. 304 DAS CORES DO SILANCIO Deste modo, se os registros de bito confirmam que a maioria dos ‘negros’ (libertos) se encontrava residindo nas fazendas cafeciras da regido, os registros de nascimento teiteram as relagées estabelecidas pelo autor entre familia nuclear ¢ acesso & parceria, que reproduzem as antigas correlagdes entre laos de familia eacesso & terra, que caracterizavam a experiéncia de liberdade no periodo anterior. Parecem indicar ainda que os libertos, ao realizarem este petcutso ¢ ao realizarem uunides familiares com 0s ‘nascidos livres’, tendiam a perder também a marca do cativeiro. Os indices mais elevados de legitimidade e de pais declarados pata as criangas ‘pardas’ em relacio as ‘negras' revelam, pelo menos, que nao era das unies fortuitas entre ex-senhores brancos e suas dependentes no-brancas que crescia 0 ntimero das criangas pardas. Sugerem, além disto, que uma progressiva indiferenciagZo com os ‘nascidos livres’, independentemente de um processo teal de miscigenagio, tornava ‘pardos’ os filhos e netos de libertos, na freguesia de Nossa Senhora das Cachoeiras do Muriaé, na ultima década do século passado. NEGRO NKO HA Mats NAO? (1) 305 Notas 1, Os seve artigos desta série referente & lavoura canavicita campista foram discutidos & analisados em Faria, Sheila de Castro, Terra enebalho em Campos dos Goisacases, 1850- 1920. Nitetdi: ICHE UFR, 1986, Disserracio de mescrado, especialmente no capitulo O mercado de trabalho. A tese em questio foi referéncia fundamental para a escolha do norte fluminense para o levantamento de fontes locais com vistas a esta pesquisa Jornal do Comercio, A lavoura no estado do Rio II, 28.06.1894. Foram levantados para a freguesia de Nossa Senhora das Cachoeiras do Muriaé, atual municipio de Italva-RJ, todos os registros de dbito para a década de 1890 (356), e a totalidade dos registros de nascimento, no que se refere a negros e parcos, para 0 mesmo perfodo (781), tendo sido apenas contados os brancos, num total de 335. 4, Usam-se, aqui, os dados da freguesia de Sio Gongalo, também do municipio de Campos, tendo em vista que os registros de Cachoeiras do Mutiaé se iniciam apenas em 1891. 5. Cf. Jornal do Commercio, A lavoura no estado do Rio III ¢ IV, 05 € 10.07.1894. CAPITULO I7 NEGRO NAO HA MAIS NAO? (II) Se Zetirry considerava deficiente a oferta de mao-de-obra nas reas cafeeiras do norte do estado, nas zonas agucareiras de Campos, onde “o lucro se apresentava significativamente menor e os trabalhos agricolas mais 4tduos ¢ penosos, nio se podendo contar, mesmo em escala reduzida, com o colono estrangeiro”, 0 cronis- ta vai considerar dramatica a situacdo. Ele o afirma baseado em suas impresses, mas também nos niveis de re- messa de agticar da regio, niveis confirmados por pesquisa académica recente. As remessas de agticar para a praga do Rio de Janeiro vinham diminuindo progressi- vamente desde 1888 e tendiam, em 1894, a ser ainda menores.’ Novamente aqui se confirma a persisténcia, por toda a década de 1890, de uma situagéo de mercado diferencialmente desfavordvel aos fazendeiros. Na nova fronteira de expansio do café, no Norte Fluminense, apesar da rarefacéo demogréfica inicial, as condig6es de oferta de mio-de-obra eram superiores a lavoura canavieira que, mesmo condensando em seu hinterland uma enorme massa de libertos nacionais livres, se via obrigada a conceder condigées de trabalho ainda mais favoraveis 4s aspiracées de autonomia dos mesmos. Para fixar 0 liberto, a lavoura de cana nio sé adotara a patceria, como 0 fizera em condiges bem mais favoraveis aos colonos do que as vigentes na lavoura do café. Scgundo Zetinry, a parceria na lavoura de cana, em 1894, néo impunha meagio as lavouras de milho e feijéo, nao cobrava aluguel pelo transporte das 308 DAS CORES DO SILENCIO canas ¢ dos cereais, bem como pelo uso de instrumentos aratérios dos proprieté- ios, como havia sido projetado nos congressos agricolas da regio, que procura- ram regulamenté-la, como forma de atrair 0 imigrante curopeu e, mesmo assim, segundo 0 autor: “estio longe de deixar os bons lucros que percebem estes (05 parceiros no café)” Em fungao disto, ainda segundo o cronista: © transtorno produzido pela humanitétia lei da abolicao é visivelmente desolador, E parece até incrivel o ntimero das fazendas abandonadas, considerdvel o das mal trata- das, rao 0 das présperas!? Visitando e descrevendo as condigées de trabalho nas fazendas présperas (todas as fazendas anexas As grandes usinas), Zetirry nos permite perceber, nas entrelinhas de sua desctigo, os atrativos oferecidos por estas para a fixagdo de seu pessoal e, por oposicao, as demandas dos libertos, que os fizeram optar por per- manecer na lavoura de cana. Apesar de sua énfase sobre a situaco do liberto, em cada caso considerado, em praticamente todas as fazendas visitadas os colonos se compunham nao s6 de libertos, mas também de ‘nacionais nascidos livres’. Zetirry preocupa-se menos, nas areas agucareiras, em analisar separadamente estes dois grupos. A propria expressio por ele utilizada, ‘nascidos livres’, sugere tratar-se majoritariamente de ‘pardos’, no sentido em que 0 qualificativo ainda eta empregado em finais do século XIX, Os ‘brancos’ nao precisariam desta qualificacao. (Os dados levantados nos registros civis de nascimento e ébito para Sao Goncalo, tradicional freguesia agucareira da regiao, confirmam este quadro. Séo Gongalo possufa, segundo 0 Recenseamento Geral de 1890, uma populagio de 6.875 habicantes. Estes néimeros contém um elevado sub-tegistro, comum ao recenscamento em questio, tendo cm vista o expressivo decréscimo da populagao, em relagio ao Recenseamento Geral de 1872 (10.998), como também os ntimeros de dbitos (3.227) e nascimentos (5.633), registrados na freguesia, entre 1889 ¢ 19013 O peso proporcional de brancos ¢ de ndo-brancos nos registros de ébitos, de nascimentos e nos censos de 1872 ¢ 1890 apresenta-se, entretanto, bastante semelhante (cerca de 35% de brancos). Se o censo de 1890 apresenta um sub- registro generalizado, com certeza os registros aqui considerados, tendo em vista seu volume, se também 0 apresentam, o fazem de maneira muito menos acentua- da que os analisados para Cachociras do Muriaé. Ao que tudo indica, nesta fre- guesia, antiga ¢ densamente povoada, os registros civis foram muito mais procu- rados pelo conjunto da populagéo rural. NEGRO NKo HA Mas NAO? (LT) 309 Gririco 38 -FREGUESIA DE SAo GONGALO: POPULAGAO POR COR n 1D brmcos rn BE ndobrences 0 % o o nines its (eee 1072 ar 880 Fowris: Recenscamenco Geral do Brasil, 1872, 1890. Regisros civis, 1889-1901. Campos-R. Em Sao Goncalo, onde negtos pardos somavam, também, cerca de 2/3 da populacéo presente nos registros, a razao de masculinidade, nos registros de Sbitos, era a mesma para brancos ¢ néo-brancos (0,96). Ela é entretanto, mais alta entre os ‘negros’, claramente identificados aos ‘libertos’ (1,11) ¢ bastante inferior entre os ‘pardos’ (0,72), 0 que parece estar refetenciado a um padrao de alforria preferencialmente feminino, nos anos anteriotes, Nos registros de dbitos da freguesia, apenas 28,47% dos registros informa- ram a profissao. Mesmo assim, estes dados devem set considerados em relagio 3 identidade entre ‘negros’ ¢ ‘libertos’, caracteristica apenas dos ébitos de adultos, na década em questo. A preponderancia das ocupagées agricolas € novamente reiterada, sugerindo, entretanto, uma maior diversificacio profissional em face dos ntimeros de Cachoeiras do Muriaé, menos expressiva para os recém-libertos Estes estiveram claramente confinados, num primeiro momento, as fazendas ou 2 migragio, Como na freguesia cafecira considerada, os jornaleiros de Sio Goncalo, na dltima década do século pasado, eram majoritariamente recrutados entre os ‘negtos’ ea maioria absoluta dos ‘negros’ adultos, que tiveram seus dbitos registrados, vivia nas ‘fazendas’ da regio. Deste modo, antes que a marginalizacio dos liber. tos dos serores mais produtivos da antiga fazenda escravista, é sua falta de acesso imediato as antigas condigées, que davam estabilidade aos roceiros livres, que se evidencia primeiramente da an. ise dos registros civis 310 DAS CORES DO SILENCIO; Graco 39 FREGUESIA DE SAO GONGALO: PROFISSOES NOS REG. DE OBITOS Dhara sd Bester 2” a 2 2 6 3 x 7 ot = was ma Grarico 40 FREGUESIA DE SAO GONGALO: LOCAL DE RESIDENCIA NOS REG. DE OBITOS Beets ost orto ." 8 as 2 200 © 150 0 branes egos | patios Fowre. (Ge. 39 ¢ 40): Registros de ites, 1889-1901. Campos-R), Sem que as condicdes de estabilidade dos ‘nascidos livres’ se alterassem imediatamente, 0s libertos ganhavam, entretanto, condigées de influir nos rumos tomados pelas novas relagbes de trabalho. Em So Goncalo, os libercos formavam a maioria dos trabalhadores adultos (jornaleiros e colonos) nas fazendas. Neste caso, porém, mostra-se mais expressivo o nimezo de colonos brancos e pardos nas mesmas, em face dos ntimeros encontrados em Cachoeiras do Mutiaé. Frente & concorréncia das éreas cafecitas e a despeito das muitas reuniGes de lavradores, as condicées de autonomia, oferecidas pela parceria, nas zonas agucareitas, tiveram que se mostrat atraentes néo s6 para parte dos libertos (sem acesso & terra, na regio), mas também para as segundas geragoes de arrendatarios ¢ situantes ‘nas- cidos livres’, conforme Zetirry desoladamente relatara Zetirry se opunha 4 parceria para os libertos, baseando-se no argumento de que estes nao permitiam que suas mulheres e filhas trabalhassem nas plantagbes, NEGRO NAO HA MAIS NAO? (II) ail Grarico 41 ADULTOS EM FAZENDAS, POR ‘COR’, NOS REG, DE OurTOs Biren aa. Biocper st anion rps sno Registros de dhitos Fowre: Registos de ebitos, 1889-1901, Campos R, preferindo contratarjornaleiros (em sua maioria também recém-libertos), nas épocas de maior actimulo de trabalho. Segundo 0 autor, interrogados a este respeito, respondiam: ‘Nossas mulheres tém mais 0 que fizer em casa do que nds na roga. Quem euida dos pequenos, quem lava a roupa, quem arruma a casa, quem prepara a comida, quem pensa a eriagio de porcos, galinhas, perus, ete. ctc.?* E claro que nosso autor nao acreditava nesta atgumentagio e atribuia a decisio & indoléncia e ao despreparo. Entretanto, nas Fazenda visitadas nas dteas agucareiras encontrara excegées a esta regra, que nio se furtou a descrever, Em Campos, a maioria das libertas ajudava 0 marido no canavial eas libertas, mulhe- tes de jornalciros, eventualmente também se assalatiavam (idem) Zctirry, parece-me que bastante consistentemente, atribui esta especificidade ao grande nivel de autonomia em relagio & administragio geral da fazenda, des- fratada pelo parceiro de cana em relagéo a0 de caf inclusive com 0 parcelamento da area tratada por cada familia. No caso do café, uma culeuta petmanente, o

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