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1 – Introdução
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brasileira é bastante limitado. Uma análise estatística multivariada demonstra que as unidades
federadas que apresentam os piores indicadores estruturais relacionados ao ensino básico
apresentam, também, as menores dotações de receitas para a composição do Fundo. Além
desta introdução e das considerações finais, o artigo apresenta outras três seções. A seção 2
resume as principais características do FUNDEB dispostas na PEC 415/2005. A seção 3
discorre sobre a metodologia de tratamento dos dados proposta no artigo: a análise
multivariada. Por fim, a seção 4 apresenta os resultados estatísticos apurados.
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entre as duas esferas de acordo com o volume das mesmas. Cabe à União determinar fatores
de ponderação para as matrículas de cada modalidade de ensino que integra o Fundo.
As unidades federativas que não alcançarem um gasto médio anual por aluno,
preestabelecido por decreto, gozarão de complementação da União, a fundo perdido, para
aprimorarem seus investimentos em educação pública básica. A mesma será R$ 4,3 bilhões a
partir do quarto ano de vigência do Fundo.
Por último, cabe mencionar que a proposta de emenda também determina que uma
parcela não inferior a 60% do total de recursos do Fundo seja destinada ao pagamento dos
profissionais do magistério da educação básica em efetivo exercício (Brasil, 2005).
Nota-se, assim, que o novo Fundo mantém o mecanismo geral consagrado pelo
FUNDEF, garantindo sustentabilidade mínima aos investimentos em educação pública.
Todavia, conforme se pretende demonstrar a seguir, as alterações nas fontes de recursos
destinadas ao novo Fundo parecem insuficientes para reverter a condição de atraso a que se
submete a educação pública brasileira. Ademais, o projeto também apresenta limitações no
que tange a outro desafio a ser vencido, qual seja: a eliminação das desigualdades regionais
nos indicadores da educação.
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• Variáveis de Infra-Estrutura Complementar: Biblioteca (Bibliot), Quadra de
Esportes (Quadr_Esp), Laboratório de Informática (Lab_Inf), Sala de TV
(Sala_TV), Microcomputador (Microcomp), Internet e Laboratório de
Ciências (Lab_Cienc): proporção de matrículas nas modalidades do
FUNDEB em escolas que oferecem tais facilidades.
O exercício estatístico proposto é apresentado na seção seguinte.
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admite a vinculação integral dos recursos estaduais e municipais ao Fundo (algo que só está
previsto para o quarto ano de vigência do mesmo), além de desconsiderar qualquer fator de
ponderação para os diferentes níveis de ensino quando da determinação do gasto médio anual
por aluno.
Simulação do Tot.
Simulação do
de Receitas
Gasto Médio
Vinculadas ao
Anual por
FUNDEB (R$
Aluno
milhão)
Média 1.854,85 820,53
Desvio-Padrão 2.248,45 309,62
Coefic. Variação* 1,21 0,38
Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional, INEP.
Elaboração Própria.
Nota: * Coefic. de Variação = Desvio-Padrão/Média
Os dados apontam que, para o ano de 2003, o FUNDEB seria capaz de assegurar pelo
menos R$ 40,8 bilhões para a educação fundamental, o que corresponde a 2,62% do PIB do
mesmo ano5 (Fonte: IBGE, 2006). A tabela também identifica as regiões norte e nordeste
como praticantes de um gasto médio anual por aluno abaixo da média brasileira, fato que é
replicado em grande parte das unidades federativas destas regiões.
Para que todos os estados praticassem um gasto médio pelo menos equivalente à
média das unidades federativas nesta simulação, seria necessário que a União desembolsasse
para aqueles estados menos favorecidos R$ 6,5 bilhões (valores correntes de 2003), a fundo
perdido. Emerge daí uma primeira limitação da Proposta de Emenda Constitucional do
FUNDEB: a impossibilidade de mitigação das disparidades regionais no investimento em
educação. Tendo em vista que a proposta prevê uma complementação máxima de R$ 4,3
bilhões a partir do quarto ano de vigência do Fundo, percebe-se que este valor sequer seria
suficiente para possibilitar uma complementação que igualasse todos os gastos aluno-ano à
média das unidades federativas em 2003.
Esta constatação se torna mais preocupante quando se leva em conta o fato de que
justamente nas unidades federativas elegíveis ao recebimento da complementação são notadas
as piores condições de infra-estrutura escolar. A Tabela 3 traz a proporção de matrículas das
modalidades contempladas pelo FUNDEB em escolas dotadas de infra-estrutura básica e
complementar (vide classificação proposta na subseção 3.1).
Ainda que nas variáveis de infra-estrutura básica a proporção de matrículas em escolas
dotadas de todas as facilidades esteja em torno de 90% para quase todas as unidades
federativas, não deixa de ser alarmante a constatação de que 9% dos alunos do ensino básico
público brasileiro estudam em escolas sem sanitário. Situações mais críticas são percebidas
em algumas unidades federativas da região norte (especificamente Acre e Pará), onde quase
20% dos alunos de ensino básico público não contavam com energia elétrica em suas escolas
em 2003.
Os indicadores de infra-estrutura complementar tornam os contrastes regionais ainda
mais nítidos quando se analisa, por exemplo, a cobertura de matrículas em escolas com
biblioteca na região sul com as coberturas nas regiões norte e nordeste. Ou ainda, o indicador
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de matrículas em escolas conectadas à internet em São Paulo com o indicador das unidades
federativas daquelas mesmas regiões.
Tabela 2: Simulação dos Resultados do FUNDEB para o Ano de 2003. Brasil, Grandes Regiões e
Unidades Federativas
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fundamenta não apenas no fato de que a explicação de 78% da variância já é uma cifra
considerável, mas se justifica também com base no argumento de que o poder explicativo
acrescido com o estudo de outros componentes não compensa o acréscimo na complexidade
da análise.
Tabela 3: Proporção (%) de Matrículas nas Modalidades de Ensino Cobertas pelo FUNDEB em
Estabelecimentos Públicos Dotados de Infra-estrutura Básica e Complementar. Brasil, Grandes Regiões e
Unidades Federativas, 2003
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fundamentação quando se leva em conta que as unidades federativas com maior
disponibilidade de receitas são capazes de ofertar serviços mais sofisticados, ao passo que os
estados mais carentes mal conseguem garantir as condições elementares de infra-estrutura em
seus equipamentos de ensino.
0,6 0,54
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Componentes
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Gráfico 2: Análise de Componentes Principais (ACP)
3
Quadr_Esp
Gast_Me Bibliot
Lab_Inf Microcomp
2 Lab_Cien
SP Internet RS
PR Ener_Elet
DF
1 SC RJ MS Sanitari
Dimensão 1
MG Esgoto
Dimensão 1
MT Agua
ES PE RO GO
0 RR AP
TO CE RN
BA
AM
-1 PA PB AL
AC SE
-2 MA PI
-3
-3 -2 -1 0 1 2
Dimensão
Dime nsão2 2
Fonte: Elaboração Própria a partir de dados da Secretaria do Tesouro Nacional e INEP.
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nos dois componentes estudados, pode-se argumentar que os estados que constituem este
quadrante estão abaixo da média nacional no que diz respeito às variáveis de gasto médio
anual por aluno e infra-estrutura complementar (Componente 1), e também em relação às
variáveis de infra-estrutura básica (Componente2). O quadrante é formado por três estados da
região nordeste (Maranhão, Piauí e Sergipe) e três estados da região norte (Acre, Amazonas e
Pará).
De forma geral, pode-se dizer que as unidades federativas com melhores perspectivas
quanto à implementação do FUNDEB são aquelas que se encontram nos quadrantes
superiores do Gráfico 2. As unidades do quadrante inferior-direito, ainda que não demonstrem
bons resultados no que toca as questões de infra-estrutura complementar, contam com infra-
estrutura mínima na oferta de serviços públicos de educação básica. Por último, as unidades
federadas do quadrante inferior-esquerdo são as que exibem os piores desempenhos nos
indicadores da educação pública básica e não têm como enxergar no FUNDEB uma
alternativa de reversão deste quadro, dada o limitado aporte de receitas garantido pelo Fundo.
A Proposta de Emenda Constitucional do FUNDEB – ao apresentar critérios
econômicos para a destinação de recursos para a educação pública básica – tem o mérito de
não deixar a educação brasileira à mercê de interesses políticos escusos. Entretanto, seu
potencial como marco de inflexão das desigualdades regionais na educação pode ser
questionado.
5 – Considerações Finais
Referências Bibliográficas:
BLOOM, D. E.; CANNING, D.; SEVILLA, J. (2002) “The Demographic Dividend: A New
Perspective on the Economic Consequences of Population Change”. Rand Publications.
Disponível em <www.rand.org/publications/MR/MR1274>. Acesso em 03/09/2004.
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BRASIL (1996). Lei 9.424, de 24/12/1996. Dispõe Sobre o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, na Forma Prevista
no Artigo 60, Parágrafo 7, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, e da Outras
Providencias. Disponível em <www.planalto.gov.br>. Acesso em 18/04/2006.
INEP (2004). “Os Desafios do Plano Nacional de Educação. MEC/INEP. Disponível em:
<http://www.inep.gov.br/download/cibec/2004/pne/pne01.pdf>. Acesso em 16/12/2004.
MANLY, F.J.B. (1986). Multivariate Statistical Methods. A Primer. London: Chapman and
Hall.
SHARMA, S. (1996). Applied Multivariate Techniques. John Wiley & Sons Inc.
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o FUNDEB”. Anais do XXIX Encontro Científico de Administração – ENANPAD.
Brasília/DF.
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O gasto médio anual por aluno é obtido dividindo-se o total de recursos estaduais e municipais vinculados ao
Fundo em cada unidade federada pelo total de matrículas no ensino fundamental das mesmas.
2
A redação da Emenda Constitucional 14/96, que regulamenta o FUNDEF, sugere que a complementação da
União aos estados com os menores gastos mínimos deveria possibilitar que os mesmos atingissem o gasto médio
nacional (Brasil, 1996; 2006a). Contudo, os gastos mínimos estipulados por decreto presidencial têm sido
sistematicamente inferiores ao gasto médio do país (Rodriguez, 2001; Campos e Sobreira, 2005).
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De acordo com Castro (1998), o número médio de anos de estudo dos brasileiros em 1996 era de 5,2 anos para
os homens e 5,7 anos para as mulheres.
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Tramita no parlamento um projeto de lei que prevê o repasse integral da arrecadação do ITR aos municípios.
5
De acordo com Helene et al. (2001:119), a média de gastos em educação em relação ao PIB nos países da
OCDE é de 4,9%. Obviamente, a cifra de 2,62% citada no texto não inclui os gastos com outras modalidades de
ensino, destacando-se a não-inclusão do ensino superior.
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O número máximo de componentes é determinado pelo número de variáveis estudadas. No caso deste estudo,
somam-se 12.
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Na simulação proposta neste estudo, para o ano de 2003, a unidade federativa que apresentou o maior gasto
médio anual por aluno foi São Paulo, com a cifra de R$ 1.437,82. A título de comparação, este valor representa
16,5% do PIB per capita brasileiro do mesmo ano (Fonte: IPEA, 2006), sendo que nos Estados Unidos esta
relação é de aproximadamente 25% (Helene et al, 2001).
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