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Datlos Internactonais de Catalogagao na Publicado (CIP) (Cimara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Maricato, Erminia Brasil, cidades :alternativas para a crise urbana / Enninia Marieato. ~ Petsbpolis, RJ : Vezes, 2001, | Bibliogeatia, ISBN 85,326.2633-5 1. Cidades — Brasil 2, Planejamento urbano — Brasil 3, Poliies hhabitactonal ~ Brasil 4, Poltiea wana ~ Brasil 5 Urbanizacto — Brasil Thulo 014212 cop. 711.40981 indices para catilogo sistematico: |. Brasil: Cidadss : Urbanismo 7H140981 2. trasil Pohitien urbana 7U.t098i 3. Brasil : Planejamento urbaeio 7UL.A0981 4. Brasil: Problemas urbane : Usbanismo 711-4098 5. Bras: Urbanizagao 711 4095 Erminia Maricato BRASIL, CIDADES Alternativas para a crise urbana y EDITORA VOZES Potrépolis 2001 Aztna de Istambul tende a embotar os sentidos dos 7 ieee aon apos uum periodo de afastamento c abundante literatura 14 distritx @ leita 4. distuibutd, possivel encontrar alguns eixes elaros de andtise do Featg B88 ensitio 70; publicado pela Universidade asses Mee ‘om ho coletanea organizada pela pro- ora Maria Angela Gordilho de s ° Habitar contemporaneo, em 1997, 2 800 titulo ° ste cenvonnltnte dos textos pretende contribuir com o de- oe aie de um urbanismo critico que, embora pos- ie ical cm stias constatagées, recusa a paralisia ropositiva. Sustenta-se a vi; le s iabilidade d a ; le um: Costura que ndo deve esperar o fim do capitalismo para ento ganhar vida e r nem reproduzi : corre atualmente. roduzir o status quo, como Erminia Maricato ‘0 Paulo, 21 de abril de 2001 4 Na periferia do mundo globalizado: metropoles brasileiras Introdugéo ‘1 urbanizacao da sociedade brasileira tem consti- tudo, sem davida, um caminho para a modernizacdo ‘ao mesmo tempo, tem contrariado aqueles que enperavam ver, nese processo, a superagao do Brasil ucaico, que, muitos supunham, estava vinculado & liey;emonia da economia agroexportadora. O proceso ‘ile urbanizacao recria 0 atraso através de novas for- ‘insts, como contraponto & dindmica de modernizagao. | As caracteristicas do Brasil urbano impéem tare- bo: desafiadoras, ¢ os arquitetos e planejadores urba- hos po tém conhecimento acumulado nem experién- «sm para lidar com elas. A dimensao da tragédia urbana hiasileira esté a exigir 0 desenvolvimento de respostas «wie, acreditamos, devem partir do conhecimento da rea~ lulade empirica respaldado pelas informacées cientifi- «as sobre o ambiente construido para evitar a formu- Lun das “idéias fora do lugar” tao caracteristicas do plingjamento urbano no Brasil (Maricato, 2000). © objetivo deste texto é contribuir para um maior s onhecimento da realidade brasileira e parao desmon- \e das construgées ideolégicas presentes tanto nas re- juesentacdes sobre as nossas cidacles quanto nos pla- inns magicos que nos propdem outros saltos para o fu- 15 turo, além daqueles , além daqueles que uma parcela da sociedac sileira ja deu, buscando ataltios cipnorsne a ates da inaior parte da populacao restant Te © processo de urbanizacao no Brasil ao O Brasil, como os demais paises da América Lati- a apresentou intenso processo de urbanizacao, es a Imente na ‘Segunda metade do século XX, ‘Em 2940, « populacio urbana era de 26,3% do total Em ne ae laéde 81 12%, Esse crescimento se mostra, mais impressionante ainda se lembrarmes os numeros ab fos: em 1940 a popula ladies co que resiclia era de 18,8 milhoes d 000 cia Se ; le habitantes ¢ em 20 é aproximadamente 138 milhées. Gonsiatane 7 sor 7 0, que em sessenta anos ehh s 08 assentam : i, ae em see nentos urbanos $s de forma a abrigar mais & fram empl ‘igar mais de 125 mi- 's. Considerando ay a : a ipenas a ultima dé- cada do séoulo XX, as cidades brasleras ausnentarem em 22.718,968 pessoas. Isso equivale a imsis da meta, fa populacdo do Canada ou a um teroo da pooule da Franca, Peet ‘Trata- cao iatase de um gigantesco movimento de constzu- Gio de cidade, necessario para o assentemento resi dencial dessa populacao bem como de stas nevecsidee des de traballio, abastecimento, transportes, sevice Shersia, Agua ete. Ainda que o rumo tomado pelo cres” cit jano nao tenha respondid ; facltodab essere lo satisfatoriamen- ssidades, o territério te 8 © territério foi ocupa fesse cece as condigdes para viver a Sat no mal, de algum mod 0 ou : , m modo, improvisado ou n4 go, pal, ;provisado ou n: ios os 138 milhdes de habitantes moramem cidades, Va 2 vies inos lembratrapkdamente alguns marcas hist6 lacionados a esse crescim fa clase sonado :S lento urbano. O Bra- ixou o século XIX com aproxitr u a ‘imadamenie 10% di; i ; ze 10% da i cane ‘40 nas cidades (Santos, 1993). Considerando. niverso das Américas, 0 Brasil j4 apresentava of, 16 dades de grande porte desde o periodo colonial, mas somente a partir da virada do século XIX e das primei- ras décadas do século XX que o proceso de urbaniza- cao da sociedade comega realmente a se consolidar, impulsionado pela emergéncia do trabalhador livre, @ proclamacao da Reptiblica uma industria ainda in- cipiente que se desenrola na estcira das atividades li- padas & cafeicultura e as necessidades basicas do mer- cado interno. As reformas urbanas, realizadas em diversas cida- dles brasileiras entre o final do século XIX € inicio do culo XX, langaram as bases de um urbanismo mo- derno “A moda” da periferia. Realizavam-se obras de aneamento basico para eliminacéo das epidemias, a0 hiestno tempo em que se promovia o embelezamento paisagistico ¢ eram implantadas as bases legais para ium mereado imobiliério de corte capitalista. A popula- 10 excluida desse processo era expulsa para os mor- 1os e franjas da cidade. Manaus, Belém, Porto Alegre, Curitiba, Santos, Recife, $40 Paulo ¢ especialmente o Kio de Janeiro sao cidades que passaram por mudan- 5 que conjugaram saneamento ambiental, embele- mento e segregacao territorial, nesse periodo. Aeconomia manteve seu epicentro no setor agrario ryportador até 1930, quando ocorre o que Florestan irernandes denomina a revolucdo burguesa no Brasil Wstado passa entao a investir decididamente em nuiccestrutura para o desenvolvimento industrial visan- slo substituicdo de importacdes. A burguesia indus- iuial assume a hegemonia politica na sociedade sem jue se verificasse uma ruptura com os interesses he~ uemonieos estabelecides. Essa ambighidade entre Huptura e continuidade, verificada em todos os princi- juin momentos de mudanca na sociedade brasileira, huncard o processo de urbanizacdo com as raizes da ivdade colonial, embora ele ocorra em pleno século quando formalmente o Brasil € uma Republica in- dependente. A questio fundléria, que ocupou um hi nos conflitos vividos pelo 0 ais, no s XIX, se referia fundomentalmente ao campo, A cress cente gencralizaedo da propriedade privada da terva, & partir de 1850, com a confirmagao do poder politico dos grandes proprictarios nas décadas seguintes, ea emergencia do trabalho livre, a partir de 1888 faconte jentos que esto interligados como j 7 Gimentos que e 8 como ja foi demonstra- uatores), se deram ant dor . mantes da urbanizacao an No entanto, a urbanizacao foi fortemen, la por esses fatores: a importa: da incia do tra- batho escravo (inclusive para a construcao e a geo cos edilicios € das cidades), a pouca importancia reproducao da forca de trab; i ¢ alho mesino emergéncia do trabalhador liv coe Te, € 0 poder it re lacionado ao patriménio pessoal,” Politico re- oe: no hs como nao reconhecer que ain- i que se afirma a partir de 1 i até uttalizacto auc P le 1930 e vai até o § uerra Mundial constitui de avango relativo di genase de fortalees le iniciativas endogenas e d i mento do mercado intern: emveliines 10, com grande desenvolvi me 0, com senvolvimento gas foreas, produtivas, diversificacéo, assalariamento Cc lemnizacao da sociedad : rescente © mode fade, como nota Caio EI los pensadores que enfati A entre a consolidacéo do aoe a mercacio interno e a construga . a a construca dan wa, relagdo essa que, entretanto, era fortemente pela desigualdade regional. M % irugao autonoma da ” seria interrompida pelo soon, g nacao” seria interrompid u ¢ n pida pelo rear- Tene or ate passa o processo de industralizacéo brasi- ‘pos 0 fim da Segunda Guerra, quando se verifica sobre ele um significativo e crescente do capi ums -ente controle do capital Bee 1950, © processo de industrializagao entra em tapa. O pais passa a produzir bens duraveis ¢ 4. Plinio de Aruda Sampaig Jinior anal difeutdades do constr da naeto brauiea's putea eee eee eS ati das relenbes de is autores brasileinos gue 10 > URES braplleiron que rejeltam interpretagbea dos ceittos hegeanee : n Fernandes Celso Furtado (Sampsiecin 1999}. Is «té mesmo bens de produgdo. No entanto, segundo Cel- .» Rittado, com essa “nova dependéncia” o centro das slecisdes € cada vez mais externo ao pais ¢ seu epicen- lio se distancia cada vez mais das necessidades inter- nas. A dependencia se aprofunda em relacdo 4 fase interior, € se amplia a insercao subalterna do pais na sliviséo internacional do trabalho Além dos intimeros eletrodomésticos ¢ bens eletré. nicos, 0 automével, produzido por essa grande indus- iia fordista, a partir dos anos 50, iria promover mu- clineas significativas no modo de vida dos consumido- ies (que inicialmente eram restritos 4s faixas de maior ienda) € também na habitacdo e nas cidades. Com a inuassificagao de consumo dos bens modernos, especial- mente os eletro-eletrénicos, e também do automével, miudaram radicalmente o modo de vida, os valores, a cultura e 0 conjunto do ambiente construido, a ocu- jmcao do solo urbano até o interior da moradia, a {iamsformacdo foi profunda, o que nao significa que ha sido homogeneamente moderna. Ao contrario, us bens modernos passaram a integrar um cenério onde a pré-modernidade sempre foi muito marcante, especialmente na moradia ou no padrao de urbaniza- «ao dos bairros da periferia (Maricato, 1996) © grau de dependéncia externa sempre irterferiu slecisivamente na produgdo do ambiente construide no Hirasil. Caio Prado Jr, tem, entre muitas virtuces, a de chamar atengao, de forma pioneira, sobre a predacao umbiental que acompanha cada ciclo econémico brasi vivo, Cada ciclo utiliza os melhores esforgos ¢ a ener- nin do pais, mas estes so imobilizados e abandonados tjuando © produto que é objeto desse movimento deixa tle ser demandado pelo mercado externo. Mas resta ar ssusado, também, o territério como aconteceu com a cana, «puro, 0 café ete, (Prado Jr., 1990) Celso Furtado destaca 0 carater predatorio de nirlustrializagao que, diante do infraconsumo da maior a 9 Parte da populacao, implanta no pais um modelo ba- seade na obsolescéncia programada, no desperdicia na subslituicao de produtos que é pré ae propria dos altamente desenvolvidos (Furtado, 1972), PSS A980 a 1980, 0 PIB brasileiro cresceu a indices $s a 7% a0 ano, um dos maiores do mundo no Periodo. A riqueza gerada nesse processo perm ceu bastante concentrada, como veremoa emir, mesmo com a concentracao da renda, o alto grau do Seon econémico tenha influido na methoria Wide de toda a populagao, especialmente aquela que abandonou 0 campo buscando melhores omen. nidades nas cidades. ae Foi com 0 Banco Nacional da Habitacao (BNH) in- tegrado ao Sistema Financeiro da Habitagao (SFH), criados pelo regime militar a partir de 1964, queas ce dades brasileiras passaram a ocupar o centro de wena Politica destinada a mudar seu padrao de procugas © bitacional, em escala nunca vista no pas ‘audanca no perfil das grandes cidatles, com arene Hzacdo promovida pelos edificios de apartamentos. A introducdo do apartament como principal fortna toradia da classe média teve inicio na década de 194%, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Mas foi com a itn. plermentacao do SFH, em 1964, que o mercado de oe mopio imobiliria privada, baseado no edifcio de apar. (ammentos, Se consolidou por meio de uma exploséo imo- Duléria. Além da imagem das cidades, mudaram tam. em o mercado fundidrio e varios aspectos da cad Produtiva (que apesar disso ndo abandonou suse oa. racteristicas de atraso em relacéo ao proceso de trather Iho) (cf. Ribeiro, 1997) seat : Infelizmente ofinanciamento imobiliario nao impul-} Sionou a democratizacao do acesso a terra via insta. | 20 «aw da funcdo social da propriedade. Essa era a proposta sin relorma urbana preconizada pelos arquitetos no Congreso do IAB de 1963, A atividade produtiva imo- Julsiria nas cidades brasileiras nado subjugou as ativi- slarles especulativas, como ocorreu nos paises centrais slv capitalismo. Para a maior parte da populagéo que Inseava moradia nas cidades 0 mercado nao se abriu..O wesso das classes médias € altas foi priorizado. Vor outro lado, as iniciativas de promocdo piiblica, «v. conhecidos conjuntos habitacionais populares, tam- lien nao enfrentaram a questéo fundiaria urbana como hein mostra Silva em sua tese de doutorado (Silva, 1098}. Os governos municipais e estaduais desviaram tia atengao dos vazios urbanos (que, como se sabe, se slorizam com 08 investimentos publicos e privados fei- lo: nos arredores) para jogar a populacdo em areas ‘ompletamente inadequadas ao desenvolvimento ur- Inno racional, penalizando seus moradores € tambem «alos os contribuintes que tiveram que arcar com a ex- \ensdo da infra-estrutura (Maricato, 1987) O SFH alimentou também a extenséo das obras (ou niezaobras) de saneamento ~ particularmente a exten- wo do servico de Agua tratada, ao mesmo tempo em jne-as obras vidrias locais e regionais foram custeadas, jrincipalmente pelos oreamentos estaduais ¢ munici- pais, Na segunda metade dos anos 70, as atividades li- joudis & construcdo civil ajudaram a manter o significativo escimento do PIB, que jé dava sinais de desaceleracio (1, Maricato, 1987). iEnquanto o crescimento econdmico se manteve ace- jciado 0 modelo “funcionou” criando uma nova classe hicdia urbana, mas mantendo. grandes contingentes ent acesso a direitos sociais e civis basicos: legislacdo ubalhista, previdéncia social, moradia ¢ saneamento, rulve outros. A recessdo que se seguiu nos anos 80 € “nh, quando as taxas de crescimento demogréifico supe- 1unam as do crescimento do PIB, fazenco com que a evo- 2 Tuco do PIB Per capita fosse negativ: é trouxe uum forte impacto social ¢ arabian ae LOO. universo de desigualdade social fee dace anae décadas, conhecidas como “déce mueira vez em sua historia Breet ena ees Oe be ria, o Brasil tem n Gr Scns ans wereadee ee SagAdes, varzeas ou mesino planices do IPA, Sopptta Pobrexa homogenea, Segundo estado Sudeste, predors Pobres Brasileiros se concentram no 80 a cnc aedominantemente nas metrepoles, Nos ana fie vee Gal eu ileira conheceu também, pela | _ 2 tm fendmeno que ficaria conhecido camo adas perdi- nicas a registra mos chamar de tragédia ur- : sos hidricos, luica a Init Ht808 hidricos, poluicao do at, Violen Pabitacional, reincidéncia de epidemics, com eet, stescimenta urbano sempre se es aes ioe desde a emergéncia do trabathe des tendon uedade brasileira, que & quando as cid. Ges fendem a sanhar nova dimgnsio's tay fics tetceaaee mn itacao. Quando o trabalho se tora Postamente eda pelo tanga ae, SHEN, se Lod lo. Mas isso na e Get no como do akeulo XX, como nao scone on vangaen ae reviu Joaquim Nabuco, oO peso do. a 7 Bua ahs Besente, na sociedade brasileira, muito oe ido. Nao s6 grande parte dos trabathatene lores, 2 Relais ctssiteands as dua os ans 0, especialmente oe 20, a impacto socio da desonisrege 5 decades - 1980 ¢ 19 doo 1, mesmo aqueles re~ Hua fora do mercado formal con juilarmente empregacos na moderna industria fordis- 1, apelam para expedicntes de subsisténcia para se jnover de moradia na cidade. Isso significa que grande parte da. populacao, inclusive parte daquela regular- innte empregada, constréi sua propria casa em areas nicyuilares ou simplesmente invadidas. Isto é, ela ndo jucticipa do mercado hegeménico. (0 modo de vida da maior parte da populacdo urba- ha, ao evidenciar a convivéncia dos bens modernos € te mesmo do automével particular (de segunda ou ter- cuja cons var mao} com 0 ambiente de um casebi tuo parece remontar a uma era pré-moderna, nos lew & conclusdo de que ndo da para dissociar esse ur~ Jano e essa moradia dessa sociedade, desse modelo de uulustrializacao e desenvolvimento. i A tragédia urbana brasileira nao é produto das de- savkus perdidas, portanto. Tem suas raizes muito fir em cinco séculos de formacao da sociedade brasi- vac, em especial a partir da privatizagdio da terra (1850) « «le emergéncia do trabalho livre (1888). 7 Uma vasta bibliografia trata da caracteristica espaci- linente concentzadora da urbanizagéo no Brasil bem ) em toda a América Latina. O inchamento das ci- Ludi que nao desenvolveram suficientemente sua ca jrwidade produstiva para atender com emprego a popula- ww inigrante que acaba relegada ao terciario informal, a rticulacao da rede urbana” com a formacao de me- pynlos “desproporcionalmente grandes”, 0 “tecido ur- uum truncado” sao teses e conceitos que nao disfarcam ‘inntriz em relagao a qual o desvio é apontado (Castells, ‘ce reap, o mento de peayuisa A apo dos contra Sean Segue aanioncr ¢ Erminin Morieata sobre oconstm0 i oy e loteansentos flegats de 8 1973]. Imperial rialismo, dependéncia, f¢ , ia, fordismo ric de alguma forma a “macrocefalia” deve ner ee comv uma anomalia por comparacao! Dos 169.544,443 de habitantes br; Sees ta s brasileiros sot bine, Ried iano ous as maiores cidades do mundo, renee nei (10,5 milhdes de habitantes) e S40 Patt. 40 (16,7 milhdes) Uim total de 13 cidades tem ms 40 de habitantes. A r ‘elacdo delaséa jeguiee © ser explicacia pooh eee Eee BRASIL ~ cida¢ Dm: Ininaeeiatienee "eee? | MBIROPOLES | Populacio | Taxa de | Taxa de em 1990 | cxescimento|crescimento paites) |“ anaat | anime rhe soa 91 | of a6 ula [16.667 [1.39% fuga 2 Iii deanna [10.592 hogs Toot 1 JPorto iesre 13.292 To-son, 79 fz_frortleen —]2699 I-51 ase 8 faestia "Jnase Issa Toe a laai9 [aos i0 {Campinas [1.902 13. 4a 11 [estem ha 600 [pose 12 |ooiania aig Tage 13 [Manaus _ L157 14.58% Fonte: IPEA, 1999, 4. Nos an05 90, cow a0 papel representado pela tas caléeias 0 eae reps lado peles capitais das a loxVe mono safomerncdes, Apenas aparentemente oconcelioe mone oe Pode? A Novidades no padrao de urbanizacao no Brasil nos anos 80 O padrao de urbanizacdo brasileiro apresenta mu skuicas, a partir dos anos 80, que merecem algum des- Luque. Embora as metrépoles apresentem crescimento maior do que o do pais como um todo, seu ritno dimi- iniu, As cidades de porte médio, com populagao entre 100 mil ¢ $00 mil habitantes, crescem a taxas maiores ‘lo que as das metrépoles, nos anos 80 e 90 (4,8% con- ivi 1,3%). Estes dados revelam uma mudanga radical hin padrao de concentracao metropolitana? Ainda nao, pois, de um lado, as cidades de porte médio abrigam penas, aproximadamente, 20% da populacao do pais +, de outro, varias metropoles ainda crescem a taxas las como mostra a tabela acima: Brasilia, Curitiba ¢ Goiania. Outras cidades que nao aparecem na tabela, cnpecialmente aquelas situadas nas regides de recep- cao do fhixo migratério mais intenso, como € 0 caso do Norte e do Centro-oeste do pais, apresentam cresci- mento muito superior ao destas. Apesar dessa obser- vacdo, a acelerac&o extraordindria do crescimento das cidades de porte médio, ¢ das cidades litoraneas, de um modo geral, exige, evidentemente, atencao devido ss conseqiiéncias socioambientais decorrentes da ve- lucidade do proceso de urbanizacao. E preciso considerar ainda que as periferias das me- lnépoles cresceram mais do que os nticleos centrais 0 «ue implica em um aumento relativo das regides po- hres. Das 12 regides metropolitanas, os municipios ventrais cresceram em meédia 3,1% entre 1991 ¢ 1996 enquanto que os municipios periféricos cresceram 14, 7%, Dessas metrépoles, as periferias que mais se expandiram, no periodo, foram: Belém (157,9%), Curi- tiba (28,2%), Belo Horizonte (20,9%), Salvador (18,1%) © $a0 Paulo (16,3%) (IPEA, 1999). Em algumas metro- poles a diminuigao do crescimento dos centros transfor~ mou-se ein crescimento negativo dos baitros centrais. HA estidos que evidenciam esse dinamica em Sao Patilo © Rio dle Janciro (Silva, 1998). kim Belém, €0 municipio centrat que apresenta crescimento negativo em contrapasicao a0 gigantesco creseimento dos municipios iféricos, Cutra mudanca importante da dinammica demogra- fea, que afeta 0 padrao de urbanizacéo, diz respeito a diminuieao do crescimento populacional devide prin, cipalmente, @ diminuigdo da taxa de natalidade, ou Scja, & diminuicao do numero de filhos das mulheres Gmidade fertil. Poucos paises apresentaram uma quie~ Ga tho grande da taxa de natalidade em tao curto pe- riodo histérico. Entre 1940 e 2000 ela passa de 244 Para 22,2. Isto significa uma variagéo da média de 4.4 Para 2.2 filhos para a mulher em idade fértil. No grafi- Co ¢ tabela abaixo, sdo mostrados a evolucdo da taxa de natalidade entre 1940 2000 e a evolucao da taxe de incremento populacional entre 1960 e 2000. Taxa de natalidade ~ Brasil 1940-2000 432 ‘? 0 “ae - 22 ‘ores “ raga.60 ” 1000-70 savoen ” fo8n91 7 Ponte: IBGE, 26 ss lap WRENN NTA A POPE an ee 1 HVA ¥ 10 Peer vo | so [oof io os | bonte: IBGE. a ii sociais A urbanizagao e a evolucao de indicadores 5 -voluiram positivamente Minos eingtenta anos, ne Brasil exo o 4a mr vtelade infantil eo da esperance de vida aonascer. Em Vo. 0 pals apresemiava uma taxa de 149, tes no. oR nakcdlos vivos, antes de atingir um an inde ime 1999, essa taxa era de 34,6. A significativa “ie aigdo do indies nus peviodo relativamente euro, ve pode ser vercada no grafico segue est relaciona thc eapet Salmente, a extensao da rede publica de agua, “te eabSaanhas de vacinacto, atendimenco as gestamte vnelhotia do nivel de escolaridade da mae. Mortalidade infantil - Brasil 1940-1999 1985 1990 1008 978 Fonte: IBGE. pai anne A tax de esperanga de vida is a va a média nacional 1940 © de 68,4 anos em 1 i acréscimo de anos de vida. ao nascer, © 2.7 anos em 999. B um espetacular Esperan 'Peranca de vida ao nascer ~ Brasil 1940-1999 woh a ‘940 4650 t990 Fonte: IBGE, ——_, t970 19804824 205 Pei = Teebe-se que a melhora de indicadores nao pode No sao ne 0 ‘cessarios argument evoltgdo desses indicadlores av proces nizacao. Alguns dos princip: x 8 principai dinamica sao: socializacao d servico de agua potav para relacionar a 0 processo macico de urba- is fatores orientadores dessa le informacées, extensao do el, extensdo dos servicos de vac 28 ise, acesso a antibidticos, atendimento médico ao parto foi qustante, auunento da escolaridade, entre outras con- uicoes, que Siio mais acessiveis em meio urbano. Poderiamos entao afirmar, a partir desses dados, «ue a vida da populagao brasileira melhorou, de um indo geral, e que cssa melhora estd ligada ao proces © de urbanizacao? Nao. Essa afirmacao nao pode ser vita, Nas proximas paginas vamos apresentar outros iuuticadores que se referem a evolucao de dados socio- rrondmicos e, finalmente, urbanisticos, de modo a ovidenciar as contradicées aludidas no inicio do texto. Dados socioeconémicos O Brasil apresentou crescimento econdmico acele- ido durante o periodo de 1940 a 1980, sem, entretan- 0, modificar significativamente a forte desigualdade social existente, como jé foi observado. O impacto do de- «linio écondmico nas décadas de 1980 ¢ 1990 sobre uma. ociedade jé desigual aprofundou a exclusio social. O registro do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, hos tltimos cinglenta a sessenta anos do século XX, vevela um crescimento notavel da economia dos anos 10 aos 80 (média de 7% ao ano) seguido das chamadas \écadas perdidas”, anos 80 ¢ 90, quando se constatou, uma queda significativa do crescimento (média de 1,3% 10 ano nos anos 80 e 2, 1% ao ano entre 1990 1998} Tomando o ano de 1940 como indice de base 100 para 0 PIB per capita, o ano de 1998 apresentaria um indicador quase cinco vezes maior (498), mesmo se in- cluirmos ai as “décadas perdidas” (Diese, 1999). Em contraste com esse crescimento econémico, 0 salario minimo, um indicador sociceconémico do poder aqui- sitivo da populagao, previsto na Constituicao brasileira, decresceu quatro vezes no mesmo periodo, como mos- tram os dados. Tal crescimento econdmico, que atribuiu a0 Brasil a décima colocagéo entre 0s PIBs mundiais, nao impkicou entretanto em um desenvolvimento huma- no igualitario, Nas décad in ‘as de 1980 € 1990 a concentragao de ren- se apr profundou, como mostra a tabela abaixo, Dist 1981 802 mais pobres 14 ”a mais ricos 7 O9e rene emais ries 13% ene i 9% tend 50% ma is pobres iB ais ae sve 198,9%6 tenda 1% mais ricos Nd ae rend Hie 14,4% renda racterizar a fratura soci: i social em % Ades centrais (Arantes, 2000). Nossa oa see 30 jroclutiva a partir de uma base de pleno emprego ou de Incitos universais relativamente extensivos ou de uma cae na qual 08 direitos sao privilégio de alguns. \m dos indicadores mais expressivos e definitivos sia piora nas condigées de vida urbana € 0 aumento da vuilencia a taxas antes nunca vividas pelas metropoles Inauileiras. A taxa nacional de homicidios (ntimero de hwunicidios para cada 100 mil habitantes) no final dos 10: 90 € de 24, 10, mas em Sao Paulo e Rio de Janeiro ‘Lie mais do que 0 dobro. A de Sao Paulo erade 59 ca | Rio de Janeiro de 56, em 1998, O aumen:o da vio- Iencin est relacionado de maneira intrinseca 4s metrt jwles, E a principal causa de morte de homens com lades entre 10 € 38 anos e ja comeca a afetar a expec- (ativa de vida ao nascer da populacao masculina brasi- lous (Seade SP). A esperanca de vida ao nascer no Rio lv daneiro sempre foi maior do que na regiéo nordesti- ini mas a quantidade de mortes por assassinato no Rio 1v-com que ambos os indices se aproximem: entre 1990 , 1095 a expectativa de vida de um homem brasileiro huwilio foi de 63,61 anos; no Nordeste foi de 61,16 ¢ no IW de Janeiro foi de 61,51 anos (Simées, 2090) Lisses fatos sao muito recentes na histéria do Bra- 41 A violéncia social sempre foi caracteristica das z0- tues rurais, consideradas atrasadas diante do universo Hnno, gue se pretende moderno. Dadas suas dimen- coos, trata-se de um fendmeno inédito na sociedade bra- ilcira e desconhecido anteriormente aos anos 80, Ejus- ‘amente no inicio dessa década que ele ganha expressao iwnificativa, coincidindo com o primeiro impacto reces- wo das décadas perdidas, o que levou o pais a mergu- Ihar no desemprego. Para melhor entendé-lo, vamos juiticularizar os dados enfocando a metrépole de Sao Iuilo, Essa escolha se deve disponibilidade de dados, lent sempre disponiveis em outras metrépoles brasilei- us, fim alguma delas o registro de mortes em conflitos ibdimensionado e raramente 0 local dos homicidios ¢ istrado da forma como faz o PRO-AIM, organismo da 31 Secretaria de Saude do municipio de Sao Paulo, Essa correlacao permite cruzar espayo e violencia. Outro levantamento importante disponivel no mu- nicipio de Sao Paulo € a Pesquisa Origem-Destino rea- lizada pela Cia. do Metropolitano de Sao Paulo, durante trés décadas. A pesquisa apresenta as caracteristicas de todas as viagens (deslocamentos) feitas em um dia detalhando sua finalidade, origem, destino, 0 modo da viagem, aspectos socioecondmicos do viajante, dentre outras informacées. A diferenca entre as metrépoles ou aglomerados urbanos no Brasil exige cautela na mani- Pulacao dos dados e generalizacao das conclusdes que se referem ao municipio de Sao Paulo, Eles devem ser tomades como hipéteses de tendéncias gerais aplicaveis as grandes cidades brasileiras. Desemprego e violéncia na cidade de Sao Paulo Os graficos abaixo mostram a evolugao do desem- prego e a evolucao da violéncia ~ medida pelo numero de homicidios ~ na cidade de Sao Paulo. Crescimento do desemprego ~ regio metropolitana de Sio Paulo / 1985-1987 Fonte: Sead/Dicese (1997), Informagoes referentes aos meses de junho, nto da violéncia - taxa de homicidios - municipio al de Sio Paulo / 1960-1997 % SE ESPELELLES Potha de S. Paulo) PRO-AIM. Nao € 0 caso de nos alongarmos, aqui, a espeito slr elagdes entze violencia, réfieo de Grogas, desein jue @ desigualdade. Maio alate escrito sobre inuitas sdo as teorias as tes ae Lea niga + slo deseraprego (o que nao é). Tome como re erencla 11s muitas pesquisas do Nucleo de Estudos obre w Violencia da USP. Para o que nos interessa neste Iestn, queremos fazer uma relacdo entre violencia, juice mnetropolitano ilegal e exchusao. isa de 1999 do Programa de Aprimora- iw din Inforaggee de Mortaidade do Nuniepio de Saw Paulo (PRO-AIM), organismo publico pace ane registra as catisas de morte na capital paulista, ievstia de forma clara a relagdo entre a epidemiologia ‘huss honnieidios e as desigualdades sociais. Os dados do PRO-AIM, analisados por Marcos Drumond Junior, mostram ma relacdo direta entre espacialidade e viv Iéncia, \s areas mais violentas sto aquelas em que pre domina uma conjuncao de determinados indicadores baixa renda, baixa taxa de escolaridade, maior pro- Poreao de negros entre os moradores, maior taxa de desemprego, maior ntimero de moradores de favelas piores condigées de moradia ¢ urbanisticas Drumond elaborou um grafico que relaciona o nt- mero mensal e a tendéncia dos homicidios com o terri- tori urbano dividido em quatro areas socioambientais homogéneas. Na area de padrao de vida mais alto, 0 numero de homicidios, que jA era baixo em 1991, evo- lui para um declinio até 1999. Na area socioambiental hhomogénea caracterizada pelas piores condigdes de vida, ‘o numero de homicidios inicia alto em 1991 e apresenta uma linha acentuada de aumento conforme mostra o grafico a seguir. Ou seja, o aumento da violéncia em $a0 Paulo entre 1991 ¢ 1999, medido pelo numero de homi- cidios, se da em alguns bairros e ndo em outros, eviden- ciando um quadro muito desigual Um bairro de alto nivel socioeconémico — 0 Morum- bi - constitui uma excecao, aparecendo entre os mais violentos no periodo, Mas 0 estudo mostra também que entre favelas e homicidios. Cinco regies concentram 52% dos homicidios entre 1994 e 1998, Nelas a maior parte das mortes se deram em favelas. No Jardim Elisa Maria foram mortas 165 pessoas nesse periodo (Dru- mond, 1999). Essa evidéncia nos permite afirmar que Sao Paulo, como outras metrépoles latino-americana: cresce produzindo verdadeiras bombas socioecoldgicas no seu interior. Nelas nao ha lei ou qualquer regulacao, seja urbanistica seja nas relacées sociais. jos na cidade {ais homogéneas éimero mensal ¢ tendéneia dos hom! dee Sto Paulo segundo areas sécio-ambi 7 99 91] 92 | 93 1 94 | 98 | 96 1 971 98199 sate Pro-Aim. ‘ima pesquisa do LABBAB-FAUUSP em favelas si- ivnarhis em cinco cidades brasileiras evidencia um nt 0 significativo de pessoas que permanecem ociosas + watior parte do tempo no interior desses nuicleos resi- “innvinis®. Ai em geral, 0 desemprego é maior. O nme” tere pessoes por domicilio também. Nao estamos Jonge shu pifiguracao de gueto que é reforgada pelo alto cu: + hnixa qualidade dos transportes. ‘\ Cia. do Metrd de Sao Paulo realizou um levanta~ srnin que retrata a condicao de mobilidade na metro te tulistana, pela terceira década consecutiva~ 1977, ink/ © 1997, Ble ajuda a consolidar a tese de que a vi | petiferia urbana constitui um exilio, tal como a mciou Mikton Santos (Santos, 1990}, Cruzando o humnero de viagens a pé com a faixa de renda familiar, 1 1997, verifica-se que, quanto maior a renda, menor “simero de viagens a pé. Nas faixas de renda inferio- (até R$ 250,00) mais da metade das viagens sa ede eC bueteve ar agdo geral ea geréncia executiva te as reodotagic pa 35 feitas a pé. Isto quer dizer que, com excecao dos mora- dores dos corticos em areas ventuis, us bairros de pior mobilidade sao dos moradores de baixa renda, si- tuados na periferia longinqua. Nos bairros de boa qua- lidade ambiental e urbana, bem servidos de equipa- ments ¢ servicos, ha menos viagens a pé do que nos bairros que nao apresentam essas vantagens. Porcentagem de viagens a pé por faixa de renda média familiar (1997) 00% Fonte: Metro de Séo Paulo. Renda: Em reais de outubro de 1967, Concentracao territorial homogeneamente pobre (ou segrégacao espacial}, ociosidade e auséncia de ativida-"~ és culturais ¢ esportivas, auséncia de regulacdo social ¢ ambiental, precariedade urbanistica, mobilidade res- trita ao bairro, e, além dessas caracteristicas todas, 0 desemprego crescente que, entre outras conseqtiéncias, tende a desorganizar nticleos familiares ¢ enfraquecer a autoridade dos pais, essa é a formula das bombas sociceco- Jogicas, E impossivel dissociar o territério das condicdes socioeconémicas e da violéncia. 36 Aupectos urbanisticos ¢ ambientais: a ecologia da denigualdade* Apesar das caracteristicas de diminuicao do cres- vmtente demografico e da taxa de natalidade, é nota~ col « dimensao da dinamica de urbanizagao durante Inulo 0 século XX, como j4 foi destacado. Trata-se, en- hetinto, de uma gigantesca construcdo de cidades, inute dela feita de forma ilegal, sem a participagao dos pevernos, sem recursos técnicos e€ financeiros signifi- + utivos. Ou seja, trata-se de um imenso empreendi- iuento, bastante descapitalizado e construide com téc- furs arcaicas, fora do mercado formal. Nao ha ntimeros gerais, confidveis, sobre a ocorrén s.ile favelas em todo o Brasil. Por falhas metodologi- «vs ou ainda por uma dificuldade bvia de conhecer a hinluridade da terra sobre a qual as favelas se insta~ lun, « IBGE, 6rgao responsavel pelo censo demografico util, apresenta dados bastante subdimensionados. A Iucws de ntimeros mais rigorosos nos conduz a algu- burs prefeituras municipais, teses académicas, centros smnnersitérios ou organismos publicos estaduais que, vntietanto, fornecem apenas dados pontuais. \ divulgacdo dos resultados iniciais do Censo IBGE se 1000 daa entender que entre 1991 © 2000 o name: dle favelas teria aumentado 22% em todo o Brasil, Unipindo um total de 3.905 micleos. Segundo o mes- save levantamento, o municipio de Sao Paulo, que apre~ . wifava em 1991 585 favelas, passa a apresentar 612 +11 2000. No entanto, levantamentos realizados pela + 1etaria de Habitacao e Desenvolvimento Urbano da eledura de Sao Paulo, classificando a situacdo € a 10 de cada nticleo de favela, revelavam a exis- 3 niicleos jé em 1980, € 1.592 nticleos em nao contabiliza como favela mucleos que ew alizang bwin de Hey, 0 BBGI se seguetn form desenvavidas em Maricato, 2000. 37 Possuam menos de cingtienta unidades. Mas a dife- renca nao se deve, simplesmente, a essa questao me todologica, embora algumas pesquisas mostrem que 0 niunero de niicleos que contém menos de cinqitenta do~ mnicilios € expressivo. Cremos que a maior dificuldade é identificar a situacdo fundiaria dos assentamentos, ji que nem mesmo muitos dos governos municipais tem esse conhecimento, que permitiria fazer uma classifi- cacao rigorosa. Segundo dados do Censo/IBGE de 1991, Porto Ale- gre teria 7,89% da populacéio morando em favelas. No entanto, segundo dados de wm senso realizado pela pre- feitura municipal (Demhab), esse total era de 22,11% da populacdo em 1996. Desses, 4,81% moravam em fa- velas com menos de §1 domicilios. Seguramente a di- ferenca entre os dados do IBGE ¢ da PMPA nao se deve apenas ao crescimento de favelas nos cinco anos que separam os dois censos. Ha incoeréncia entre os dois Ievantamentos. Consultando diversas fontes, 0 LABHAB/FAUUSP. reuniu alguns dados estimados para a populacda mo- radora de favelas em algumas cidades brasileiras: Rio de Janeiro, 20%; Sao Paulo, 22%; Belo Horizonte, 20%; Goiania 13,3%; Salvador 30%; Recife, 46%; Fortaleza, 31%. Os dados mostram um quadro que é impressio- nante sob qualquer critério. Mesmo considerando a pre- cariedade da medicao das moradias e populagao residen- te em favelas feita pelo IBGE, comparando os censos de 1980 € 1991 verificamos que seu crescimento foi supe- tior a 7% ao ano. Mas 0 universo das favelas nao esgota a ilegalidade na ocupagao do solo, Se somarmos a ele 0 universo dos loteamentos ilegais estaremos nos referindo A maior parte da populacao dos municipios de Sao Paulo ¢ Rio de Janeiro. Os nameros a respeito sao, novamente, imprecisos e mesmo inexistentes na maior parte das , peeqnina de produzir “ uhules brasileiras. A falta de rigor nos dados, que mos- lia pouco interesse no conhecimento do tema, ja& é, por si, reveladora. © proceso de urbanizagao se apresenta como uma elas. ¢ agredir.o meio ambiente. ‘yntimero de iméveis ilegais na maior parte das grandes «shades é to grande que, inspirados na interpretacao de tatites e Schwarz sobre Brecht, podemos repetir que “a Iepni se tornou excecdo € a excegao regra”. A cidade le ral (cuja produgao é hegeménica e capitalista) caminha pats ser, cada vez mais, espago da minoria. O direito a invasao é até admitido, mas | nao o direi- twa cidade, A auséncia do controle urbanistico (fisca- iuacao das construgées € do uso/ocupagao do solo) ou esibilizac&o radical da regulaeao nas periferias convi- we com a relativa “flexibilidade”, dada pela pequena vantupeao, na cidade legal. Legislagao urbana deta- lista e abundante, aplicacdo discriminatéria da lei, nuysintesca ilegalidade ¢ predacéo ambiental constitu- ent um circulo que se fecha em si mesmo. Mas de todas as mazelas decorrentes desse proces- «de urbanizacdo, no qual uma parte da populacdo enti excluida do mercado residencial privado legal ¢ di producao formal da cidade, uma das mais graves cilvez possa ser identificada na area de sancamento. Uma bem-sucedica politica de expansao do acesso & vile de dgua tratada transformou positivamente, como vinos anteriormente, os niimeros relatives & mortali~ slide infantil. Mas na década de 1980 e especialmente ins anos 90, houve um recuo nos investimentos em mneamento, quando 0 ciclo indispensavel para uni- versalizar o atendimento da populacdo com agua tra- fda nao foi atingido e menos ainda 0 adequado slestino do esgoto. Em 1998, 55% dos domicilios no itis nao tinbam acesso a agua potavel. Destes, 11,4% eram urbanos. Ainda no universo urbano, 48,9% dos domicilios nao erain utendidos pela rede de esgotos. Segundo dados do governo federal, “apenas 24% do esgoto sanitario produzido pelos domicilios atendidos pelas 27 grandes companhias estaduais prestadoras de servico de saneamento recebe tratamente, (...) ape- nas 15% do esgoto produzido nos domicilios brasilei- tos recebe tratamento e uma porcentagem ainda me- nor tem uma destinacao final no meio ambiente sani- tariamente adequado.”6 O destino das aguas servidas € do esgoto, assim como de boa parte do lixo sélido produzido, fica eviden- te no desastroso comprometimento das redes hidricas, dos mananciais de agua, das praias, dos mangues, ou de qualquer outra localizacéio nos arredores das cidades que ndo seja de interesse do mercado imobilidrio, “Defasagem e contemporancidade” também nas cidades Paralelamente a uma evolugao altamente positiva em relagao 4 mortalidade infantil, esperanca de vida ao nascer, diminuicdo do crescimento demografico, au- mento da escolaridade, 0 processo de urbanizacéo no Brasil apresenta, como vimos, a reproducao de novos € antigos males, nos indicadores de violencia, pobre za, predagao urbana e ambiental, poluicéo do ar e da Agua, epidemias ete. Para a compreensao desse paradoxo, temos orien- tado a analise em dois ramos. O primciro relaciona esse desenvolvimento urbano as caracteristicas histé- Ticas de uma sociedade de raizes coloniais, que nunca Tompeu com a assimetria em relagio A dominacao ex- tema e que, internamente, nunca rompeu tampouco com 6. Dingndstico do Servigos de Agua e Fsgotos - 1998, {le Desensolvimenta Ushamo da Bresenca da Repttlica nt P*PeCs! 40 + slonsinago fundada sobre o patrimonialismo e 0 privi- le jue (Maricato, 1996 e 2000). Comu nots Cuiv Prade Jr., 1» jmoprictario privado se tornou poder politico, econd- ioc social. O desenvolvimento das idéias liberais se- i inviabilizado pela falta de autonomia entre essas sleras, O direito que a Coroa portuguesa guardou so- Jur «i terra foi apenas formal. O inerivel atraso verifica- «lu nos registros de propriedades no Brasil —que permite + cmstante apropriacdo privada das terras devolutas on 8 confusao, até nossos dias, sobre os limites das propriedades (que se verifica, por exemplo, em area de jwotecao dos mananciais em Sao Paulo) séo herangas sles earacteristica (LABHAB 2001). A industrializacio baseada em baixos salarios de- (crminow muito do ambiente a ser construido. Ao lado dle wande contingente de trabalhadores que permane- cu na informalidade, os operarios empregados do se- tu. industrial ndo tiveram seus salarios regulados lus necessidades de sua reprodugao, com a inclusao sl: yastos com moradia, por exemplo. A cidade ilegal € juvciiria éum subproduto dessa complexidade verifica- la io mercado de trabalho e da forma como se proces- ou a industrializagao, Até mesmo parte dos trabalha- ues empregados na industria automobilistica, que in- ricana no Brasil nos anos 50, mora em favelas, Varios autores brasileiros se detiveram em anali- hats caracteristicas especificas desse “desenvolvi- suento”. Celso Furtado lhe atribui as caracteristicas de siclasagem e contemporaneidade; Francisco de Olivei- 1.cempresta de Trotski a construcgao do “desigual com- luo”. Florestan Fernandes lembra que se trata de moderizacao com atraso” ou “desenvolvimento mo- sleino do atraso”. José de Souza Martins afirma a tese «le “poder do atraso”. Vanderley Guilherme conceitua eur construcda social como “fratura institucional”. \Vunias sao ag analises que constatam a persistente pre~ eivagiio das oligarquias por meio de aliangas politicas, 4 durante as mudaneas pelas quais passa o pais ao lon- 80 de sua histéria: Independencia (1822), Republica (1889), Revolucao de 1930, golpe de 1964, abertura democratica de 1986, No lugar dos direitos individuais persiste a classica relacdo de favor que na esfera da politica implica nas trocas clientelistas, até mesmo nas metrépoles mais ricas. No campo, essa relacdo de favor, que marcou a vida do trabalhador branco pobre durante o periodo da escravidao, determina a filiagao dos moradores a um latifundiario local. Esto entre os politicos mais importantes do pais, nos anos 90, alguns chefes regionais, cujas familias séo hegemdnicas em certos estados brasileiros, especialmente nas regiées mais pobres. Apesar de muitas lutas, debates ¢ até mes_ mo legislacdes aprovadas, relativos a reforma agraria, © latiliindio persiste incdlume apés quatro séculos Nesse contexto, no qual os direitos nao so univer- sais ¢ a cidadania é restrita a poucos, deveria soar e: tranho o quadro juridico, em geral bastante avangado. Entre a lei e sua aplicacdo ha um abismo que é media. do pelas relacdes de poder na sociedade. E por demais conhecido, inclusive popularmente, no Brasil, o fato de que a aplicacao da lei depende de a quem ela {a aplica- so) se refere. Essa “flexibilidade” que inspirou tambem © “jeitinho brasileiro” ajuda a adaptar uma legislacao positivista, moldada sempre a partir de modelos estran- geiros, a uma sociedade onde o exercicio do poder se adapta as circunstancias. O que antes justificava um Estado forte, pode, em seguida, justificar seu contrario. E profundo 0 distanciamento entre a retérica e o real. Esse paradoxo na aplicaeao da lei assume contor- nos mais comptexos na cidade. Nao se trata apenas de remeter para a ilegalidade parte da populagao que tem acesso ao mercado formal. Ha uma correlacao er tre lei (urbanistica} ¢ mercado imobiliario capitalists O financiamento se aplica somente aos imoveis le; A dificuldade no financiamento de iméveis populares, 2 san tale 6 Brasil (caso da Carta de Créditos da Caixa Fr naimica Feral ex teados dos anos 90), 98 deve sinyafidade generalizada desses iméveis cuja docu /hagto ndo corresponde do exigencias do banco, Ha ra Lato uma correlacdo entre financiamento ¢ imével [yt yite termina por excluir grandes partes da popu Lu anilo acesso a empréstimos destinados & aquisica 11 renistrugdo de moradia ee 1 outro lado, 9 controle urbanistico (a Hscalizacko sine uso ea ocupacdo do soo), de competéneia muni- wu se da somente na cidace leyal. Para os assenta ss precios slegas, er areas que no interessam 20 we waido imo, & iscaizarao € precéria. Nem mes- tw om areas de protecdo ambiental, sobre as qusis incl Inn luis federais, estaduais e municipais, a iscalizardo + a aplicagdo da lei se do com mais rigor do que nas srs valorizadas pelo mercado (o que nao significa que spl se verfica 0. maximo rigor), Bxiste também, por- tint, uma correiacao entre mercado e gestdo pull lies vubsina, Mas essa relacao vai mais tonge. Q mercado snsobiligsio controia os investimentos publicos urbanos sje 980 0 fator mais importante de valorizacio imobi- Irria, Isso justifica ¢ explica a sofisticacao dos bbies woiintentes Sobre @ orientacao dos investimentos Ss no processo de urbanizacao, Essa ciate legal concentra também a maior parte sls inwestimentos publicos ja que ela se faz a imagem w semelnanga das congéneres do Primeiro Mundo. 0 ubitrio acarreta uma tensdo na aplengto cers Ao de favor reina soberana’ to, ; trounoe paguenos invesmentos qu a eos na pe tiletia, e que obedecem a troca clientelis! Numa anillise que fizemos sobre o extinte Banco Nacional da Habitacdo (7964/1983) ficou evidenciada 4 reparticao do bolo dos recursos publicos (mel 4-los de semipublicos ja que em sua maior parte eram oriundos do FGTS) entre as empresas de construgdo pesada (obras de saneamento, urbaniza- co), ¢ empresas de edificacdes (construcao de conjun- tos habitacionais). Os promotores imobilidrios privados estavam salisfeitos em interferir sistematicamente na regulacao dos recursos do SBPE (poupanca privada) e na regulacao da terra urbana, Completando esse qua- dro de interesses os governantes distribuiam unida- des habitacionais como parte da relac4o de troca ou favor (Maricato, 1987) E claro que nao podemos deixar de lembrar que muitas moradias foram construidas via SFH, abrigan- do um grande contingente de pessoas (2,4 milhées de unidades entre 1964 e 1986) mas o rumo poderia ter sido muito diferente: com menos desperdicio, impulsio- nando a cadeia produtiva para tecnologias mais ade- quadas, com politicas urbanas mais racionais, priori- zando a maioria da populacao. O segundo rumo para o qual temos dirigido a andilise se concentra na natureza do mercado imobiliario privado legal que deixa de fora mais da metade das populacdes urbanas. Nas cidades litoraneas em que a populagao tra- balhadora local tem de disputar as terras com o mercado imobilidrio de veraneio, a populagao excluida do mercado legal privaco pode atingir mais de 80% do total, como é 0 caso do municipio de S40 Sebastiao. As politicas de promogao piiblica também nao su- prem essa imensa demanda. Na auséncia de alternati- va habitacional regular a poptlacao apela para se proprios recursos e procduz a moradia como pode. As conseqiténcias dese universo de construcao, comple- tamente desregulado, ignorado pelo Estado, sao tragi- cas, dadas stas dimensées. A maior parte dos gover~ nos municipais e estaduais desistiram de responder pelo “poder de policia” sobre 0 uso e a ocupacao do solo. A ocupacao predatéria e irracional resultante dessa fal- 44 neipal causa de uma lista grande de vale controle éa eieeecmpeaitavels em plena inieio do século XX enchen- 4. ., desmoronamentos, poluigao hidrica, epidemias ete. rioakess, Inaceitar Apesar deo processo de urbanizacéio da populagao Ia wulvira ter se dado, praticamente, no século XX, ele s onnerva, como vimos, muitas das raizes da sociedade jnalrmonialista ¢ clientelista proprias do Brasil pré-re~ juiblicano, As resisténcias que, durante décadas, busca 1 un contrariar @ aboligdo do trabalho escravo marcaram + aupimento do trabalho livre. A cidade é, em grande junte, reproducao da forca de trabalho. Desde sempre, eproducao, entre nés, ndo se deu totalmente pe {v. vies formais e sim pelos expedientes de subsisténcia. ion earacteristica marca decisivamente a producéo Lv. cidades. O patrimonialismo impediu o surgimento tiv enlera puiblica, alimentando 0 fisiologismo, 0 paro~ juuilismo, 0 elientelismo e 0 privilégio que € possivel ounstatar até mesmo numa Camara Municipal da mais juuhiosa cidade brasileira como é 0 caso de Sao Pau- lu, rm pleno ano 2000. A relagdo de favor tem mais juestigio do que as diretrizes de qualquer plano holistico, ', 1eursos do Orcamento Geral da Unido (os poucos ie sao distribuidas com subsidios ou a fundo perdido, jlo governo federal) obedecem a ermendas de parlamen- Lanes que visam “atender suas bases”, Esses investimen- ves pontuais negam o planejamento dos investimentos ¢ s alirmam a relacao de dependéncia e de favor. No contexto desse cenario, o planejamento urbano « possivel?

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