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PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO E PESQUISA EM
ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE
EM ADMINISTRAÇÃO
FINANÇAS
3º QUADRIMESTRE 2006
TRABALHO FINAL DE CURSO
EXEMPLOS E CONSIDERAÇÕES
SOBRE APLICAÇÕES DE
OPÇÕES REAIS
EM ENGENHARIA
DE SOFTWARE
JOSÉ CARLOS RAMOS MAGALHÃES
PROFESSOR:
Prof. Dr. Roberto Marcos da Silva Montezano
Rio de Janeiro, 18 de março de 2007
RESUMO
Palavras Chave: Opções Reais, Engenharia, Engenharia de Software, Projeto.
1
SUMÁRIO
Resumo......................................................................................................................................1
Sumário.....................................................................................................................................2
1 Introdução...............................................................................................................................3
2 Opções Financeiras................................................................................................................3
2.1 Conceitos Básicos................................................................................................................4
2.2 Métodos de Avaliação..........................................................................................................4
2.2.1 BlackScholes....................................................................................................................4
2.2.2 Árvore Binomial ...............................................................................................................5
3 Opções Reais...........................................................................................................................5
4 Aplicações do Conceito de Opções Reais
Estudos e Exemplos...................................................................................................................6
4.1 Avaliação do Desenvolvimento de SW sob Risco Tecnológico..........................................7
4.2 Avaliação do Payoff de Refactoring de Software...............................................................9
4.3 Opções Reais “dentro” de projetos....................................................................................14
4.3.1 Ponte na Ponte................................................................................................................15
4.3.2 Sistema de Satélites.........................................................................................................15
4.3.3 Edifício Garagem............................................................................................................16
5 Considerações e Críticas com relação às Opções Reais......................................................16
6 Conclusão..............................................................................................................................18
Referências Bibliográficas.....................................................................................................20
2
1 Introdução
Para os profissionais da área de Tecnologia da Informação – TI, gestores ou técnicos, é
freqüentemente difícil justificar para a alta gestão os custos relacionados aos projetos de
desenvolvimento de software ou de implantação de uma nova tecnologia. Da mesma forma,
não é trivial explicar, principalmente para aqueles que não são da área de TI, porque os
projetos geralmente ultrapassam custos e prazos estimados. Toda esta dificuldade está
fortemente relacionada à complexa tarefa de avaliar projetos de tecnologia.
Quanto vale a tecnologia de informação? Quanto vale um software? Quanto vale o conjunto
de características de uma certa infraestrutura tecnológica? Quanto vale o conjunto de
benefícios relacionado a um software especifico ou a uma determinada tecnologia? Quanto
vale uma dada arquitetura de desenvolvimento de software? Os gestores de TI precisam
responder a todas estas questões e precisam de técnicas e metodologias para isso. As técnicas
e metodologias de avaliação devem fornecer aos gestores de TI meios de responder às suas
organizações o quê elas estão obtendo com os recursos financeiros destinados aos projetos de
tecnologia e por que elas precisam se preocupar em obter (Mayor, 2000).
2 Opções Financeiras
O caminho percorrido até a aplicação do conceito de opções reais em projetos reais, como os
de Engenharia de Sistemas, teve origem nos estudos das Opções Financeiras, em especial no
estudo daquelas relacionadas à compra e venda de ações.
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2.1 Conceitos Básicos
Em Finanças uma opção é um direito, não uma obrigação, que o proprietário da opção tem
de negociar um determinado ativo financeiro, a um determinado preço, em um determinado
limite de tempo, após o qual este direito não poderá mais ser exercido. Existem as “opções de
compra” – denominadas no mercado como “call options” – e as “opções de venda” –
denominadas como “put options”. Existem duas modalidades de opções: as “Européias” –
onde o exercício da opção só pode ser realizado em uma data específica – o vencimento da
opção – e as denominadas “Americanas” – onde o exercício da opção pode ser realizado a
qualquer tempo até a data de vencimento da opção. Ao se adquirir, por exemplo, uma “opção
de compra” de um ativo por um certo valor – denominado preço da opção, adquirese o
direito de comprar o referido ativo, por um preço previamente definido – denominado preço
de exercício. Este direito poderá ser exercido até ou na data de vencimento da opção,
dependendo da modalidade da opção. (Brealey, et al. 2006).
2.2 Métodos de Avaliação
2.2.1 BlackScholes
Black e Scholes (1973), ganhadores do Prêmio Nobel de Economia em 1997, foram os
pioneiros no desenvolvimento de um modelo completo para avaliação de opções, do tipo
Européia, aplicável a ações que não pagam dividendos (Copeland e Tufano, 2004). A fórmula
desenvolvida por estes pesquisadores calcula o valor de uma opção considerando que existe
um mercado onde o preço da ação – o ativo subjacente – varia de forma constante e contínua
(Brealey, et al. 2006). Por este método o valor de uma opção de compra é calculado pelas
seguintes expressões, cujos elementos estão descritos na Tabela 1:
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Tabela 1 – Elementos do Modelo BlackScholes.
Elemento Descrição
OC Preço da opção de compra
P Preço atual do ativo subjacente
N(d1) Função de densidade da probabilidade normal acumulada de (d1)
PV(EX) Valor Presente do Preço de Exercício, descontado de forma contínua
N(d2) Função de densidade da probabilidade normal acumulada de (d2)
r Taxa de juros livre de risco (anual)
t Tempo para maturidade da opção (com % de ano)
σ Volatilidade – Desvio padrão da taxa de retorno anual do ativo subjacente,
composto continuamente.
Tabela 1 – Elementos do Modelo BlackScholes.
2.2.2 Árvore Binomial
O processo de avaliação de opções financeiras através de Árvore Binomial é essencialmente
um processo de análise e solução de Árvores de Decisão, embora não seja exclusivamente só
isso. O processo de avaliação de opções através de Árvore Binomial é um processo discreto,
contemplando de um a vários períodos, que pode ser elaborado alternativamente através de
duas técnicas específicas de avaliação: Portfolio Replicante e Avaliação Neutra a Risco.
(Brealey et al.,2006, Wang e Neufville, 2005).
Portfolio Replicante é um portfolio que replica exatamente o mesmo “payoff” de uma opção.
É composto por uma operação em renda fixa e uma operação com um ativo de renda variável.
Avaliação Neutra a Risco é uma abordagem de avaliação que considera um cenário
hipotético, neutro a riscos, onde o retorno esperado do ativo deveria ser igual ao de um
investimento em renda fixa (isento de risco).
3 Opções Reais
Projetos reais, como o desenvolvimento de software ou de um sistema de telecomunicações¸
não são caracterizados por decisões simples que acontecem de forma isolada no tempo. Os
projetos reais em organizações são desenvolvidos ao longo do tempo em etapas ou fases. Em
cada um destes estágios do ciclo de vida dos projetos, à luz de novas informações, os gestores
das organizações podem decidir por continuar ou interromper estes projetos. Desta forma as
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decisões de investimento relativas ao desenvolvimento de projetos reais podem ser percebidas
como Opções Reais, sobre as quais os gestores têm o direito, mas não a obrigação de investir
(Copeland, Tufano, 2004).
O quê o conceito de opções reais tem de atraente para avaliação de projetos reais é a
flexibilidade de se poder decidir sobre os investimentos de projetos ao longo do tempo, aliada
à capacidade de, simultaneamente, se limitar a destruição de valor, pela limitação da perda
decorrente de eventos negativos ao projeto, enquanto se mantém a possibilidade de criação de
valor, decorrente dos eventos positivos. (Adner e Levinthal, 2004). Esta dinâmica na análise
de projetos de investimento não é possível de ser alcançada com os métodos tradicionais de
análise do fluxo de caixa descontado – FDC, e o subseqüente cálculo do valor presente
líquido – VPL.
Brealey et al. (2006) resumem em 4 as principais opções reais que podem ser aplicadas às
decisões de investimento em projetos reais: (i) a opção de continuar com o projeto; (ii) a
opção de esperar e aprender (ou ver) antes de investir – ou seja adiar a decisão de investir;
(iii) a opção de abandonar o projeto – diante de informações negativas esta decisão limita as
perdas protegendo futuros investimentos e (iv) a opção de alterar produtos ou métodos de
produção – ou seja, flexibilidade de produção.
4 Aplicações do Conceito de Opções Reais
Estudos e Exemplos
Embora não haja um consenso sobre métodos e processos mais adequados para avaliação de
opções reais, a aplicabilidade deste conceito vem crescendo e se tornando cada vez mais
popular (Wang, Neufville, 2005). Ao apresentar os seguintes estudos e exemplos de aplicação
deste conceito, este trabalho não tem como objetivo criticar as inconsistências ou as possíveis
falhas na aplicação de qualquer método, tão pouco pretende abordar detalhadamente todos os
passos dos processos de avaliação utilizados. O objetivo deste trabalho é mostrar um pouco da
diversidade das aplicações do conceito central de opções – opção é um direito, não uma
obrigação – e quão interessante, complexo e perigoso pode ser a migração deste conceito,
oriundo do mercado financeiro, em sua atual extensão para outras áreas de conhecimento, em
especial na área de engenharia de software e sistemas.
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4.1 Avaliação do Desenvolvimento de SW sob Risco
Tecnológico
Hakan Erdogmus e Mélanie La Barre, pesquisadores do Institute for Information Technology,
Software Engineering Group National Research Council of Canadá, desenvolveram um
trabalho (Erdogmus, La Barre, 2000) demonstrando a utilidade do conceito de opções reais
para avaliação de investimentos em projetos de desenvolvimento de software. Esta
demonstração foi elaborada considerando a utilização de uma tecnologia considerada com
fonte de incertezas na época do trabalho: Java. A mesma metodologia de avaliação também
foi empregada na avaliação de outro cenário, contemplando a substituição da tecnologia Java
por produtos baseados na tecnologia XML.
Erdogmus e La Barre (2000), consideram a existência de uma empresa fictícia interessada em
desenvolver uma nova plataforma de sistemas para comércio eletrônico via Internet. Esta
nova plataforma uma vez construída permitiria que a empresa desenvolvesse novos e
personalizados componentes de software destinados ao comércio eletrônico, gerando novas
oportunidades de negócio e de criação de valor. Neste cenário, o risco da empresa estaria na
escolha da plataforma Java devido a sua instabilidade (naquela ocasião). Em contrapartida a
oportunidade de crescimento da empresa estaria no esperado e promissor crescimento do
mercado de produtos baseados na tecnologia Java destinados aos negócios eletrônicos.
Neste estudo, Erdogmus e La Barre (2000), consideram que o projeto de desenvolvimento
seria realizado em duas fases. Na primeira fase seriam construídos os elementos centrais da
plataforma, os componentes básicos de software, a um custo relativamente baixo de projeto,
com uma duração estimada de 1 ano. Após esse período inicial, dependendo da resposta do
mercado de componentes Java, seria decidido o futuro da segunda fase. Com uma resposta
positiva do mercado seria dada continuidade ao projeto, neste caso com investimentos bem
mais expressivos e com duração estimada de 2 anos. Com uma resposta negativa o projeto
seria interrompido e o investimento inicial seria perdido.
Este cenário foi modelado por Erdogmus e La Barre (2000) como sendo uma opção de
compra, onde o investimento na primeira fase seria o preço da “call”, o valor do projeto
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completo como o valor do ativo subjacente, e o valor do investimento na segunda fase como o
preço de exercício da “call”.
O método de avaliação de opções escolhido por Erdogmus e La Barre (2000) foi o método de
Black e Scholes (1973). Para utilizar esse método algumas questões tiveram de ser resolvidas
ou adaptadas, dadas às restrições e premissas relativas a esse método.
Através de observações e pesquisas no mercado ações e em organizações de investimento em
empreendimentos de risco, os pesquisadores estimaram o risco de uma empresa fictícia adotar
uma dada tecnologia de software, em um domínio específico de aplicação. Erdogmus e La
Barre (2000) identificaram no mercado um conjunto de 18 empresas de capital aberto, todas
com pelo menos um produto ou serviço principal desenvolvido em Java, destinado ao
mercado de negócios eletrônicos. Em sua maioria eram empresas recentemente formadas –
startups – e empresas de investimento em empreendimentos de risco em tecnologia, todas
diversificadas dentro do setor de negócios eletrônicos, todas com produtos e serviços
baseados em um amplo leque de tecnologias, incluindo Java.
Através do portfolio formado pelas 18 empresas selecionadas, Erdogmus e La Barre (2000)
estimaram os riscos deste projeto e validaram os demais elementos necessários para realizar o
processo de avaliação de opções através do método de Black e Scholes (1973). O portfolio
montado foi usado então para elaboração de um índice especializado, construído a partir a
partir dos registros das séries históricas de cotações das ações das empresas selecionadas. O
índice especializado foi construído levando em conta, em cada observação, para cada
empresa, a média ponderada de 2 pesos definidos por Erdogmus e La Barre (2000): (i) valor
da proporção de quanto a capitalização da empresa observada contribuía para a capitalização
do portfolio; (ii) uma medida subjetiva do quanto a capitalização da empresa no portfolio era
devido a tecnologia Java, baseandose em nas informações disponíveis sobre os produtos e
serviços da empresa.
Através da análise da variação histórica do índice especialmente desenvolvido, Erdogmus e
La Barre (2000) identificaram a volatilidade do portfolio e interpretaram esse valor como
sendo a volatilidade do ativo subjacente – esta abordagem foi reforçada pela constatação de
que a distribuição das taxas de variação do porfólio era semelhante a uma distribuição log
normal. Além disso, as técnicas usadas no processo de análise do portfolio também não
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puderam rejeitar a hipótese de que as variações seguiam um caminho aleatório, de forma
aderente ao movimento Browniano – outra propriedade para sustentar a aplicabilidade do
modelo de Black e Scholes (1973). No processo de avaliação consideraram a maturidade até o
vencimento como 1 ano, o prazo para desenvolver a primeira fase do projeto.
Na seqüência deste trabalho, Erdogmus e La Barre (2000) , utilizaram a mesma metodologia
para estimar a volatilidade de outro projeto relacionado a ativo real, neste caso a utilização de
outra nova e recente tecnologia – XML. Da mesma forma estudaram um portfolio de
empresas, construíram o índice especializado levando em conta a capitalização de cada
empresa e a participação da tecnologia XML. Os resultados históricos também foram
avaliados quanto aos aspectos necessários para aplicação do modelo de Black e Scholes
(1973).
A principal contribuição do trabalho de Erdogmus e La Barre (2000) para a utilização do
conceito de opções reais, usando a fórmula de avaliação de Black e Scholes (1973), é a
metodologia proposta pelos autores para estimar a volatilidade do ativo subjacente, no caso a
opção por uma determinada tecnologia de risco em projetos de software.
4.2 Avaliação do Payoff de Refactoring de Software
Rami Bahsoon e Wolfang Emmerich, pesquisadores do Department of Computer Science,
University College London, London, UK, desenvolveram um trabalho (Bahsoon e Emmerich,
2004) usando uma extensão do modelo de Black e Scholes (1973) para avaliar a flexibilidade
resultante do processo de refactoring – processo de modificação de um software para
melhorar sua estrutura interna de código sem alterar seu comportamento externo (Wikipidia).
O modelo elaborado por Bahsoon e Emmerich (2003), baseado em opções reais, denominado
“ArchOptions”, pretende precificar a flexibilidade promovida pelas arquiteturas de software,
levando em conta a capacidade destas atenderem às futuras e inevitáveis mudanças nos
requisitos e no ambiente do software. Entretanto, embora inevitáveis, as mudanças serão
sempre imprevisíveis e incertas.
O conceito de opções neste cenário é semelhante ao de aquisição uma opção de compra. A
opção está na tomada de decisão de se investir em um projeto de refactoring – no caso o custo
da “call” será o custo do projeto de refactoring – pelo direito de, ao término do projeto, se
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possuir uma arquitetura de software flexível que agregará valor ao negócio ao qual se destina.
Neste caso o ativo subjacente será a nova arquitetura de software e seu valor agregado.
Bahsoon e Emmerich (2004) consideram como uma das fontes do valor agregado pelo projeto
de refactoring a economia futura em custos de manutenção do software, decorrente das
futuras mudanças de requisitos do software.
Bahsoon e Emmerich (2004) desenvolveram a seguinte expressão para estimar o valor de um
software, levando em conta as futuras e prováveis alterações de requisitos, os custos e
benefícios relacionados e o investimento inicial em refactoring como uma opção para se ter o
direito a uma arquitetura flexível que suporte adequadamente as mudanças. Os elementos
desta expressão estão descritos na Tabela 2.
V −I e ∑ i=0 .. n E [ max x i V −C ei ,0 ]
Item Descrição
V Valor atual do software – antes de qualquer mudança. Valor do ativo subjacente.
Ie Custo do projeto de refactoring – investimento inicial na capacidade de
crescimento do software. Custo da mudança preventiva na arquitetura atual para
ampliar sua capacidade de acomodar mudanças futuras. É o preço da “call”.
I Representa a ocorrência de uma mudança futura nos requisitos do software.
E Expectativa de maximização do payoff para desenvolver as n mudanças i
Xi Valor agregado, em %, pela futura mudança i nas características do software
Cei Investimento futuro estimado para desenvolver no software a futura mudança i
0 Taxa de juros, considerada como 0 (zero) para simplificar a expressão
Tabela 2 – Elementos do Modelo de Bahsoon e Emmerich (2004).
Considerando que S0 e S1 sejam representações de possíveis arquiteturas de software e que S 1
é uma arquitetura derivada de um projeto de refactoring aplicado a S0, Bahsoon e Emmerich
(2004) argumentam que o projeto de refactoring será uma escolha econômica se S 1 agregar
mais valor ao software do S0, neste caso a economia futura em custos de manutenção. Nesta
linha de argumentação, a decisão de se investir ou não no projeto de refactoring será análise
do que se ganha com a arquitetura reformulada S1, em comparação com a manutenção da
arquitetura atual S0. Esta avaliação é dada pela expressão a seguir.
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Para aplicar o método de Black e Scholes (1973), Bahsoon e Emmerich (2004) fizeram a uma
analogia de conceitos, descritos na Tabela 3, entre elementos dos diferentes modelos. Na
seqüência, para empiricamente avaliar as interpretações decorrentes da aplicabilidade do
modelo que propuseram, Bahsoon e Emmerich (2004) desenvolveram um processo de
simulação sobre um estudo de caso desenvolvido por Stroulia, E., Leitch R (2003), onde foi
realizada uma análise sobre os aspectos econômicos de um projeto de refactoring de um
sistema de controle de tráfego de veículos.
Para estimativa do custo Ie, Bahsoon e Emmerich (2004) usaram métricas específicas, já
estabelecidas pela engenharia de software e já utilizadas no mercado. No caso Bahsoon e
Emmerich (2004) adotaram COCOMO II, metodologia desenvolvida por Boehm et al. (1995)
e desta forma estabeleceram estimativas de esforço (mãodeobra), custo e prazo (em meses)
para atender ao plano de refactoring especificados no estudo de caso desenvolvido por
Stroulia, E., Leitch R (2003), considerando nos parâmetros de cálculo do método, três (3)
cenários distintos: otimista, provável e pessimista.
Para perceber e estimar o valor potencial da arquitetura devido ao projeto de refactoring,
representado pelo valor produzido por xiV, ao custo Cei, Bahsoon e Emmerich (2004)
utilizaram um processo de simulação para aplicar à arquitetura S1, vinte (20) mudanças
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aleatórias de natureza adaptativa. Fizeram o mesmo com a arquitetura S0. Da mesma forma
usaram o método COCOMO II para estimar esforço e custo de cada uma das mudanças. Desta
forma conseguiriam estimar a economia possível decorrente do processo de refactoring,
também em três (3) cenários: otimista, provável e pessimista.
Para determinar a volatilidade (σ) adoram o desvio padrão observado nas estimativas de xiV,
considerando os três cenários modelados e que assumindo que as ocorrências aleatórias de
xiV têm um distribuição lognormal. Cabe observar que este processo de determinação da a
volatilidade (σ) é, provavelmente, umas das principais fontes de críticas ao uso da fórmula
de Black e Scholes (1973) neste processo de avaliação de opções, como exposto mais adiante.
Com relação à metodologia desenvolvida por Bahsoon e Emmerich (2004), cabem algumas
considerações. O modelo de Black e Scholes (1973) é uma técnica baseada no conceito de
arbitragem e portanto requer a existência de um mercado, onde o arquivo subjacente é
comercializado, onde podemos observar diretamente o comportamento histórico de suas
cotações. Entretanto não existe um mercado onde Arquiteturas de Software sejam
comercializadas. As técnicas de avaliação de opções, baseada no conceito de arbitragem,
podem ser usadas para opções reais não comercializadas em mercados, porém requerem que
seja identificado um outro ativo, comercializado em mercado, cujo risco de investimento seja
idêntico ao do ativo subjacente. Esta avaliação de risco é dada pela volatilidade das taxas de
retorno do ativo observado no mercado. Bahsoon e Emmerich (2004), na ausência do referido
mercado, utilizaram alguns artifícios para determinar a volatilidade do arquivo subjacente.
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robustas, a apresentação de precisa de um método de estimativa de opções reais em projetos
de software – o que eles denominaram como um problema de avaliação de múltiplas
perspectivas. O trabalho de Bahsoon e Emmerich (2004) entretanto tem como mérito
apresentar uma proposta de metodologia para avaliação, do ponto de vista econômico, da
flexibilidade oferecida por uma dada arquitetura de software, tendo como resultado a redução
possível dos custos de manutenção do software.
4.3 Opções Reais “dentro” de projetos
Finalizando os exemplos de estudos de aplicações do conceito de opções reais, é destacado
aqui o trabalho de Tao Wang e Richard de Neufville, pesquisadores do Massachusetts
Institute of Technology (MIT) Engineering Systems Division. Em seu trabalho Wang e
Neufville (2005) defendem a diferenciação do conceito de opções reais “dentro de” projetos
– real options in projects – como uma extensão da aplicação do conceito originalmente
concebido na área financeira.
Wang e Neufville (2005) consideram como opções reais “em” projetos – real options on
projects – as opções caracterizadas por decisões financeiras e/ou gerencias sobre um projeto
real, porém onde estas decisões são tomadas sem necessidade de profundo conhecimento da
tecnologia interna utilizada no projeto, ou seja, para o processo de decisão relativo à opção, a
tecnologia do projeto funciona como uma caixa preta.
Wang e Neufville (2005) argumentam que opções reais “dentro de” projetos, mesmo
continuando a ser direitos e não obrigações, se caracterizam por decisões internas ao projeto,
que afetam a construção do mesmo e exigem dos donos das opções profundos conhecimentos
da tecnologia relativa ao projeto para a tomada de decisão. Segundo estes pesquisadores a
literatura referente a opções reais em projetos é muito maior do que a produzida sobre opções
reais dentro de projetos. Wang e Neufville (2005) também argumentam que mesmo a
literatura disponível sobre opções reais dentro de projetos não fornece uma visão abrangente
desta abordagem e dos métodos utilizados para avaliação. Além disso, as informações
disponíveis sobre opções reais dentro de projetos reais são bem mais escassas do que as
informações disponíveis sobre opções financeiras.
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Wang e Neufville (2005), citando Roos et al (2004) , apontam três (3) características dos
projetos de engenharia de largaescala: (i) o produto ou serviço projetado em geral terá um
ciclo de vida logo e deverá ser capaz de atender às demandas futuras; (ii) em geral o produto
ou serviço projetado deverá propiciar economias de escala; (iii) os requisitos futuros são
bastante incertos, dado que as previsões sobre um futuro distante geralmente possuem erros.
Estas características reais, a exemplo do que já foi aqui citado para arquitetura de software,
demandam por projetos flexíveis e adaptáveis ao longo do tempo.
Wang e Neufville (2005) apresentam resumidamente três exemplos de como a mudança de
requisitos e a flexibilidade podem ser interpretadas por opções reais dentro de projetos de
engenharia.
4.3.1 Ponte na Ponte
Wang e Neufville (2005) citam a ponte sobre o Rio Tagus em Lisboa, construída de forma
mais robusta do que o necessário, trazia em seu projeto original a opção futura suportar um
segundo nível de transporte caso se tornasse necessário. O governo português exerceu esta
“call” em 1990, construindo um segundo nível para acomodar uma linha de transporte
ferroviário urbano.
4.3.2 Sistema de Satélites
Como exemplo de fracasso e de enorme destruição de valor, pela falta de opções reais dentro
de projetos, Wang e Neufville (2005), citam o caso dos sistemas de telecomunicação Iridium
e Globalstar, planejados pelas empresas Motorola e Qualcomm. A despeito da tecnologia dos
telefones celulares ter sido um dos principais fatores para a ruína destes empreendimentos,
Wang e Neufville (2005) argumentam que se os projetos tivessem sido desenvolvidos com
opções reais de capacidade evolucionária, as perdas teriam sido reduzidas em torno de 60%.
Como exemplo de opções reais embutidas no projeto, Wang e Neufville (2005) argumentam
que se os satélites fossem construídos com foguetes incorporados, os satélites poderiam usar
este recurso para serem reposicionados em outras órbitas e desta forma, com o acréscimo de
outros satélites, a rede de comunicação poderia ser expandida para atender a demanda futura
crescente. Em outras palavras, as empresas de comunicação seriam donas da opção de
deslocar ou não os satélites para atender ao crescimento da demanda.
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4.3.3 Edifício Garagem
Em um cenário semelhante ao conceito aplicado na ponte sobre o Rio Tagus, Wang e
Neufville (2005) citam o exemplo do projeto de construção de um edifício garagem em
Londres. Inicialmente a demanda prevista além de incerta não era grande o suficiente para
justificar a construção inicial de um grande estacionamento, já com muitos níveis. Os
proprietários decidiram então comprar uma opção de crescimento futuro. O estacionamento
foi inicialmente projetado com um número reduzido de níveis, porém com as estruturas
reforçadas para suportar a construção de vários outros níveis. Esta opção real de projeto
permitirá aos proprietários escolher entre exercer ou não o direito de ampliar o prédio em
função das demandas do futuro.
5 Considerações e Críticas às Opções Reais
Conceitualmente, segundo Adner e Levinthal (2004), o investimento em opções reais tem
como propriedades, entre outras, o fato de ser realizado em condições de incerteza, em um
processo seqüencial e irreversível. Segundo estes autores, um processo de investimento em
opções reais deve possuir duas características essenciais: (i) o valor da opção é exógeno em
relação ao investidor e à sua atividade, ou seja, o valor da opção, assim como do ativo por ela
representado, é determinado por uma fonte externa ao investidor e não pode ser influenciado
por este; (ii) a percepção do mercado quanto ao valor da opção existe, está disponível e pode
ser observada prontamente, e tudo isto de forma independente do comportamento do
investidor. Adner e Levinthal (2004) admitem que se este tipo de comportamento, “esperar e
ver”, puder ser caracterizado em um projeto de investimento real, então o modelo lógico de
opções pode ser diretamente aplicado na análise do projeto. Por outro lado, ainda segundo
estes autores, quanto mais o projeto real se afastar destas características essenciais, se
caracterizando mais por um comportamento endógeno, como “agir e ver”, maior será a
dificuldade de aplicação ou inadequação do modelo lógico de opções reais para análise deste
projeto.
Contrapondose a definição apresentada por Adner e Levinthal (2004), McGrath et al. (2004),
defendem que algumas formas de redução de incertezas podem estar relacionadas diretamente
a atividades endógenas aos projetos. McGrath et al. (2004), baseados nos trabalhos de outros
pesquisadores, Majd & Pindyck, 1987; Roberts & Weitzman, (1981) e Dixit and Pindyck
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(1994), argumentam que fontes endógenas e exógenas de incerteza podem coexistir em um
projeto, criando forças opostas quanto ao destino dos investimentos. Este contexto porém,
segundo estes autores, não inviabiliza a aplicação do modelo de opções reais porque as forças
endógenas, ainda que sob uma lógica de investimento mais seqüencial, preserva o direito de
escolha de se abandonar o projeto diante de fatores negativos exógenos. Brealey et al. (2006)
destacam, entre os desafios práticos para a aplicação pura da teoria das opções reais, a adoção
pelas organizações, do comportamento “esperar e ver” em relação aos seus projetos,
considerando um cenário factível onde seus competidores no mercado também possuem
opções reais. Esperar e ver nesta condição pode não ser o comportamento mais recomendo.
Embora o modelo de opções tenha embutido em si o conceito de flexibilidade, segundo Adner
e Levinthal (2004) esta flexibilidade é caracterizada pela opção de se decidir pelo abandono
ou não do projeto. Nesta linha de raciocínio, a flexibilidade do modelo não está em substituir
uma seqüência de eventos, como um fluxo de caixa de investimentos, e sim na capacidade da
seqüência de eventos poder ser interrompida. Nesta ótica, segundo Adner e Levinthal (2004),
quanto mais difícil for a definição da condição de abandono de um projeto real, mais difícil
será a caracterização da “flexibilidade pela opção de abandono” e conseqüentemente mais
inadequada será a aplicação da lógica do modelo de opções para a análise deste projeto. A
grande dificuldade que fica em aberto é saber como diferenciar com clareza a fronteira entre a
aplicação adequada do modelo lógico de opções ou a utilização de outra abordagem de análise
de processos seqüências de decisão.
Com uma visão completamente diferente, McGrath et al (2004), entre outros autores,
defendem uma abordagem mas extensa da aplicação do modelo de lógico de opções, onde a
flexibilidade do modelo não está restrita à opção de abandono. Nesta visão, aprendizado e
conhecimento, desenvolvidos de forma incremental ao longo de um projeto, refletem um
comportamento.
Para os pesquisadores Wang e Neufville (2005) existem méritos e valor na extensão da
aplicação da teoria das opções reais, além das fronteiras impostas pelas restrições conceituais
originais, como a necessidade de um portfolio replicante, ou a neutralidade a risco, ou a
existência de mercados perfeitos, ou a impossibilidade de ocorrer ganhos de arbitragem. O
conceito de opção, como direito e não obrigação, não se relaciona com nenhuma destas
restrições, segundo estes pesquisadores. Wang e Neufville (2005) defendem que mesmo nos
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casos onde as restrições conceituais originais não são aplicáveis, opções continuam sendo
opções, um conceito usado para definir outro – flexibilidade.
Para fechar este tópico, vale destacar as considerações de Brealey et al. (2006) com relação à
avaliação de opções reais. Opções reais, como fica claro nos exemplos apresentados neste
trabalho, raramente serão um ativo diretamente comercializável, como uma ação. Além disso,
opções reais raramente também terão um ativo “replicante” diretamente comercializável, que
possua o mesmo risco para servir de referência no processo de avaliação. Entretanto, Brealey
et al. (2006) destacam que na prática, quando estimamos o valor de uma opção real, estamos
estimando seu valor como se este pudesse ser comercializado, ou seja o mesmo tipo de
abordagem que usamos em uma análise de FCD. Resulta daí a dificuldade de aplicação da
análise de opções reais que Brealey et al. (2006) ressaltam, porque a premissa principal dos
modelos financeiros é de os tomadores da decisão, acionistas ou investidores, no processo de
decisão sobre investimento em um projeto real, se basearão no retorno esperado de qualquer
conjunto de ativos ou de portfolios que, observados em um mercado real, possuam um risco
semelhante ao do projeto real.
6 Conclusão
Como reconhecido por vários dos autores e pesquisadores citados neste trabalho, não existe
ainda, e talvez nunca seja alcançado, um consenso sobre a aplicabilidade dos métodos de
avaliação de opções reais. Entretanto, é inegável o apelo que o modo de pensar orientado à
opções reais tem exercido na comunidade científica como um todo, em várias áreas de
conhecimento.
Independente da exatidão dos resultados obtidos pela adoção desta ou daquela metodologia,
um dos maiores benefícios do pensamento orientado a opções é o desenvolvimento de uma
percepção diferente de como gerenciar, desenvolver e avaliar projetos reais.
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Além de uma permitir uma avaliação financeira mais interessante dos projetos, o pensamento
orientado a opções, graças à sua expressão em termos econômicos, pode propiciar às
organizações um meio de comunicação mais eficaz entre as áreas de gestão técnica, financeira
e estratégica, na questão de avaliação de projetos.
Especificamente com relação à Engenharia de Software, o pensamento orientado a opções e o
estudo dos conceitos e métodos relacionados, propiciam a esta área de conhecimento, a
utilização de todo um conjunto de ferramentas gerenciais e técnicas formais para lidar com os
riscos das incertezas inerentes aos projetos de software. Desta forma este é um assunto
relevante e que precisa continuar sendo pesquisado em Engenharia de Software.
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