O termo hermenutica (em grego hermeneutik / ) tem raiz
etimolgica no nome do deus grego Hermes, mensageiro e intrprete de tudo o que no est ao alcance da compreenso dos homens. Ao que obscuro, ao entendimento dos homens, seres reles e mortais, o divo Hermes perscruta e por graa o revela e comunica no cumprimento de suas misses. Os homens, no entanto, descontentes com a prpria limitao alimentam a pretenso divina de penetrar com a prpria razo o que lhes parece incompreensvel. Assim surge a filosofia, assim surge tambm hermenutica com o objetivo de emancipar paulatinamente os homens por meio do desenvolvimento da racionalidade compreensiva.
Da perspectiva histrica podemos identificar a origem da preocupao
hermenutica e interpretativa a partir da necessidade de se entender e compreender o passado cujas narrativas histricas creditadas eram postas em dvidas com o contato que se passou a ter com os artefatos da antiguidade descobertos a partir dos empreendimentos arqueolgicos europeus. No meio cristo a hermenutica foi amplamente explorada, sobretudo, na aplicao do mtodo histrico-crtico, cujo objetivo era dissolver as falsas verdades religiosas a respeito do passado.
No mbito jurdico, a hermenutica se tornou imprescindvel com a
criao do Cdigo Napolenico que ambicionou regular toda a vida social, o que impossvel. Por mais completo que seja nenhum cdigo conseguir disciplinar todos os aspectos da sociedade. Sempre haver lacunas. Foi o que prudentemente, Portalis, um dos elaboradores, reconheceu. Surgiu em decorrncia dessa situao a chamada Escola da Exegese que buscou apresentar elementos principiolgicos e metodolgicos para a interpretao e aplicao da lei, que segundo esta, j contem em si toda possibilidade de uma soluo para todos os eventuais casos ou ocorrncias da vida social1. Foi entre os pandectistas alemes que uma compreenso progressiva da lei teve origem, pois estes tinham que interpretar o Direito Romano Atual que exigia grande desenvoltura e compreenso histrico-evolutiva na interpretao e aplicao do direito.
1 REALE, Miguel. Lies preliminares de direito. So Paulo: Saraiva, 2015. pg. 278.