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ACÓRDÃO
Documento: 876261 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 12/04/2010 Página 2 de 18
Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 72.923 - SP (2006/0278642-4)
RELATÓRIO
Documento: 876261 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 12/04/2010 Página 3 de 18
Superior Tribunal de Justiça
"(...)
Recurso do Ministério Público, com razões a fls. 567, pleiteando a
submissão do acusado a novo julgamento por decisão manifestamente
contrária à prova dos autos. Inocorrente a admissão de autoria, requisito
principal para o reconhecimento do homicídio privilegiado. Caracterizada a
qualificadora. Também o não reconhecimento da posse de arma de fogo.
Recurso de Fábio Ferreira do Nascimento com razões a fls. 585,
alegando que o afastamento da tese da legítima defesa afrontou a prova dos
autos, bem como equivocadas as penas e o regime aplicados.
Manifestou-se a Procuradoria de Justiça pela nulidade do julgamento e,
se não acolhido, pelo improvimento do recurso do Ministério Público e
provimento do apelo defensivo.
Em resposta aos quesitos, salientado ficou pelos Srs. Jurados, fls. 542:
'Defendeu-se o réu de agressão injusta? 4 sim e 03 não. Os meios
empregados na repulsa eram necessários? 03 sim e 4 não. Prejudicados os
quesitos de 08 a 10: o réu usou moderadamente desses meios? O réu
excedeu, dolosamente, os limites da legítima defesa? O réu excedeu
culposamente os limites da legítima defesa?'
Segundo STF - HC 53.850, SE, Rel. Min. Eloy da Rocha: 'negada pelo
Conselho a necessidade dos meios empregados pelo agente, ainda assim
devem ser questionados a moderação e o elemento subjetivo determinador
do excesso. Suprimidos estes quesitos, anula-se o julgamento (HC
concedido em parte).
(...)
Conseqüentemente, prevalece o entendimento do STF de que negada
pelo Conselho a necessidade dos meios, devem ainda ser questionados a
moderação stricto sensu e o elemento subjetivo determinador do excesso.
Como salientado pela Procuradoria de Justiça, fls. 596: 'a mácula
ocorreu porque, depois de negada a necessidade dos meios empregados na
repulsa, quando quesitada a legítima defesa própria, todas as outras
perguntas relacionadas ao esclarecimento dessa tese foram consideradas
prejudicadas'.
A anulação do julgamento em face do acima exposto é evidente.
Conseqüentemente, prejudicado fica o recurso da Defesa onde é
pleiteada a legítima defesa.
Diante do exposto, fica decretada a anulação do julgamento e
determinada a realização de novo julgamento pelo Plenário do Júri,
prejudicados os recursos interpostos pelo Ministério Público e pela Defesa.
Mantida a ordem de prisão decorrente da decisão condenatória de fls. 549."
(fls. 15/16)
O paciente foi, então, submetido a novo julgamento pelo júri popular, desta
feita sendo condenado à pena de 12 anos de reclusão, em regime integral fechado, pelo
crime de homicídio qualificado, e a 1 ano de detenção, em regime semi-aberto, pelo crime
de porte de arma. Esta segunda sentença foi motivada do seguinte modo:
"(...)
Submetido a julgamento, o Egrégio Tribunal do Júri firmou o seguinte
convencimento:
1 - Na primeira série, reconheceu, por seus votos contra um, a autoria,
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Superior Tribunal de Justiça
e, à unanimidade, a materialidade delitiva. Afastou, por quatro votos contra
três, a tese de legítima defesa. Pela mesma diferença afastou também as
duas propostas de privilégios sustentadas pela defesa. Reconheceu, por
quatro votos contra três, a qualificadora do emprego de meio que dificultou
a defesa da vítima. Por fim, negou, também por maioria de votos, militar a
favor do pronunciado alguma atenuante genérica.
2 - Na segunda série, reconheceu, por quatro votos contra três, a prática
do delito de porte ilegal de arma de fogo por parte do réu e, como na série
anterior, negou militar em seu favor alguma atenuante genérica.
Em conclusão: decidiu o Egrégio Conselho de Sentença que o réu
FÁBIO FERREIRA DO NASCIMENTO praticou um delito de homicídio
qualificado contra Gilmar Inácio Nascimento, em conexão com o crime de
porte ilegal de arma de fogo.
À vista disso, passo a dosar a pena a ser imposta ao réu.
Atento ao disposto no artigo 59 do Código penal, verifico que,
conquanto tenha o acusado envolvimento em outros dois processos
criminais, ostenta a condição de tecnicamente primário, tendo o dolo e
demais circunstâncias do crime permanecido na previsibilidade do tipo
legal, de modo que nada há de excepcional que autorizasse a exasperação da
reprimenda. Portanto, fixo-as no mínimo legal, ou seja, 12 anos de reclusão,
para o delito de homicídio, e em 01 ano de detenção e 10 dias multa para o
delito de porte de arma de fogo, tornando-as definitivas à míngua de outras
circunstâncias modificadoras.
(...)". (fls. 42/43).
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Superior Tribunal de Justiça
No entender do impetrante, "o venerando acórdão objurgado, de lavra da
Colenda 5ª Câmara da Seção Criminal do Egrégio TJ/SP, data venia , não observou a
soberania do Conselho de Sentença do E. Tribunal do Júri, previsto na alínea 'c', inciso
XXXVIII, do art. 5º da Constituição Federal, eis que o julgamento anulado ex-officio
ofendeu o princípio tantum devolutum quantum apellatum ; da reformatio in pejus, e
julgado extra petita , - figuras não admitidas no direito positivo - , portanto, o venerando
acórdão hostilizado está, permissa venia , contrário à correta aplicação da norma
disciplinadora do direito penal" (fl. 3).
Esclarece o impetrante que o paciente já cumpriu pena superior a 6 anos,
estando preso por mais tempo do que deveria.
Requer, assim, seja dado provimento ao presente habeas corpus "para
absolver o paciente, tendo em vista o 1º julgamento do júri popular reconhecer a legítima
defesa, ou manter a pena de 6 anos, já cumprida, comunicando-se imediatamente à
autoridade coatora para, incontinenti , colocar o paciente em liberdade" (fl. 5)
A liminar foi indeferida à fl. 72.923 pelo Ministro Barros Monteiro, no
exercício da Presidência desta Corte.
As informações foram prestadas pela autoridade apontada como coatora às
fls. 35/56.
O Ministério Público Federal opinou pela denegação da ordem, em parecer
de fls. 58/63, da lavra do Subprocurador-Geral da República Wagner Gonçalves, assim
ementado:
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HABEAS CORPUS Nº 72.923 - SP (2006/0278642-4)
EMENTA
VOTO
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Superior Tribunal de Justiça
"I. É nula a decisão do Tribunal que acolhe contra o réu nulidade não
argüida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício:
Súmula 160, que alcança precisamente as nulidades absolutas - com relação
às quais veio a pacificar a divergência anterior -, pois, quanto às nulidades
relativas, na hipótese, é óbvia e incontroversa a ocorrência da preclusão. II.
Júri: quesitos da legítima defesa: excesso culposo ou doloso: acolhido o
entendimento de que, negada a moderação da defesa, se deve indagar ao Júri
tanto do excesso doloso quanto do excesso culposo, a orientação da Súmula
162 tenderia a indicar a precedência do quesito referente à qualificação
culposa do excesso, mais favorável à defesa" (STF, Primeira Turma, HC
76237/MG, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, j. 14/08/1998, DJ de
25/09/1998)
Com efeito, entendeu o tribunal a quo que, uma vez votada a legítima
defesa pelos jurados, deveriam ter sido levados à sua apreciação também os quesitos
relativos ao uso moderado dos meios e ao elemento subjetivo do excesso.
Verifica-se, da pena aplicada na primeira sentença, de 6 anos de reclusão,
que o juiz considerou a ocorrência de crime de homicídio simples, em sua forma dolosa,
entendendo, por dedução lógica, que o excesso votado pelos jurados teria a natureza
necessariamente dolosa. De se ver, portanto, que a anulação, neste sentido, poderia trazer
o benefício à defesa de ver reconhecida a contemplação da forma culposa relativamente ao
excesso na legítima defesa.
Assim, em meu entender, correta foi a decisão do tribunal a quo em anular o
primeiro julgamento, porque viabilizou o reconhecimento, por parte dos jurados, de
excesso culposo, o que refletiria favoravelmente ao acusado, com a redução da reprimenda
a ele aplicada, já que a pena prevista para o homicídio culposo é de detenção, de 1 a 3
anos.
O problema está, na realidade, no fato de que o novo júri modificou o
entendimento favorável até então obtido pela defesa e acabou por agravar em muito a
situação do paciente, já que reconheceu a ocorrência de homicídio qualificado, afastou a
tese da legítima defesa e ainda visualizou a ocorrência do crime de porte de arma, pelo
qual havia sido absolvido anteriormente.
Nesse ponto, flagrante que o resultado obtido em razão da nulidade não
argüída pela defesa ou pela acusação foi desastroso para o acusado, que teve sua pena
dobrada e ainda foi condenado por crime conexo do qual havia sido absolvido.
Aí sim, houve indiscutível reformatio in pejus neste novo julgamento. Em
razão de nulidade não argüída, teve o acusado um agravamento substancial de sua
situação.
O fato de a acusação ter interposto recurso de apelação contra a primeira
decisão não tem o condão de validar esta segunda sentença. Isto digo porque o fundamento
do recurso da apelação ministerial foi a pretensa decisão manifestamente contrária à prova
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Superior Tribunal de Justiça
dos autos, fundamento cuja procedência caberá apenas ao tribunal a quo verificar, órgão
técnico e mediante a análise do conjunto probatório, apreciar. Note-se que, quando do
julgamento da primeira apelação, tanto o recurso da defesa quanto o da acusação foram
julgados prejudicados, em função da anulação ex officio do julgamento.
Ainda que mantido o segundo julgamento, por sua soberania, tenho que a
sentença proferida pelo juiz presidente do tribunal do júri deveria, nesta segunda sentença,
ater-se à pena de 6 anos de reclusão e à capitulação de homicídio simples. Nesse sentido,
veja-se o seguinte julgado:
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro NILSON NAVES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOÃO FRANCISCO SOBRINHO
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : JOSÉ DA SILVA MATOS
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : FÁBIO FERREIRA DO NASCIMENTO (PRESO)
ASSUNTO: Penal - Crimes contra a Pessoa (art.121 a 154) - Crimes contra a vida - Homicídio ( art. 121 ) -
Qualificado
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Após o voto da Sra. Ministra Relatora concedendo parcialmente a ordem, pediu vista o
Sr. Ministro Og Fernandes. Aguardam os Srs. Ministros Celso Limongi (Desembargador convocado
do TJ/SP), Nilson Naves e Paulo Gallotti."
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Nilson Naves.
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VOTO-VISTA
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro NILSON NAVES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. BRASILINO PEREIRA DOS SANTOS
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : JOSÉ DA SILVA MATOS
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : FÁBIO FERREIRA DO NASCIMENTO (PRESO)
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a vida - Homicídio Qualificado
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Prosseguindo no julgamento após o voto-vista do Sr. Ministro Og Fernandes denegando
a ordem, pediu vista o Sr. Ministro Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP). Aguarda
o Sr. Ministro Nilson Naves. Não participou do julgamento o Sr. Ministro Haroldo Rodrigues
(Desembargador convocado do TJ/CE)."
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Nilson Naves.
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Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 72.923 - SP (2006/0278642-4)
VOTO-VISTA
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro NILSON NAVES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. EITEL SANTIAGO DE BRITO PEREIRA
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : JOSÉ DA SILVA MATOS
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : FÁBIO FERREIRA DO NASCIMENTO (PRESO)
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a vida - Homicídio Qualificado
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Prosseguindo no julgamento após o voto-vista do Sr. Ministro Celso Limongi
(Desembargador convocado do TJ/SP) denegando a ordem de habeas corpus, e o voto do Sr.
Ministro Nilson Naves acompanhando o voto da Sra. Ministra Relatora, a Turma, verificado o
empate na votação e prevalecendo a decisão mais favorável ao paciente, concedeu parcialmente a
ordem de habeas corpus, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Vencidos o Srs. Ministros
Og Fernandes e Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP), que a denegavam."
O Sr. Ministro Nilson Naves votou com a Sra. Ministra Relatora.
Não participou do julgamento o Sr. Ministro Haroldo Rodrigues (Desembargador
convocado do TJ/CE).
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Nilson Naves.
Documento: 876261 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 12/04/2010 Página 1 8 de 18