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Vi
muita coisa, contaram-me casos extraordinrios, eu prprio Enfim, s
vezes j no consigo arrumar tudo isso. Porque, sabe?, acorda-se s quatro
da manh num quarto vazio, acende-se um cigarro Est a ver? A pequena
luz do fsforo levanta de repente a massa das sombras, a camisa cada
sobre a cadeira ganha um volume impossvel, a nossa vida
compreende? a nossa vida, a vida inteira, est ali como como um
acontecimento excessivo Tem de se arrumar muito depressa. H
felizmente o estilo. No calcula o que seja? Vejamos: o estilo um modo
subtil de transferir a confuso e a violncia da vida para o plano mental de
uma unidade de significao. Fao-me entender? No? Bem, no
aguentamos a desordem estuporada da vida. E ento pegamos nela,
reduzimo-lo a dois ou trs tpicos que se equacionam. Depois, por meio de
uma operao intelectual, dizemos que esses tpicos se encontram no
tpico comum, suponhamos, do Amor ou da Morte. Percebe? Uma dessas
abstraces que servem para tudo. O cigarro consome-se, no ?, a calma
volta. Mas pode imaginar o que seja isto todas as noites, durante semanas
ou meses ou anos?