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Sobre A Retórica da Intransigência.

http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2010/02/20/retorica-da-intransigencia/

Albert O. Hirschman, em seu brilhante livro, A Retórica da Intransigência (São Paulo,


Companhia das Letras, 1992, 151 páginas), recorrendo a exemplos extraídos tanto de
discursos parlamentares como de livros clássicos do pensamento anti-revolucionário e
anti-reformista, demonstra que existem três teses reacionárias principais no discurso
que reage contra as tentativas de conquistas sociais históricas: futilidade, ameaça e
perversidade. Há duzentos anos, em todos os lugares, elas se repetem,
compulsivamente, na retórica dos conservadores, todas elas destinadas a convencer que
qualquer tentativa de mudar a sociedade é inútil, desastrada ou prejudicial.

A tese da futilidade sustenta que as tentativas de transformação social serão infrutíferas,


que simplesmente não conseguirão “deixar uma marca”. A tese da ameaça argumenta
que o custo de qualquer reforma ou mudança proposta é alto demais, pois coloca em
perigo outra preciosa realização. E, de acordo com a tese da perversidade, qualquer
ação proposital para melhorar determinado aspecto da ordem econômica, social ou
política só serve para exacerbar a situação que se deseja remediar. O neoliberal,
usualmente, argumenta que “os trabalhadores perderam o emprego por causa da
imposição dos direitos trabalhistas”.

No Brasil, consciente ou inconscientemente, essa retórica é muito utilizada. Por


exemplo, conforme a análise dos conservadores do estado atual do campo brasileiro, as
políticas trabalhista agrícola, fundiária e de crédito agrícola subsidiado inviabilizaram o
mercado de trabalho agrícola temporário e a agricultura familiar, ao mesmo tempo em
que fomentaram a mecanização agrícola e o predomínio da produção em grande escala.
O reacionário sempre termina propondo desregulamentação dos mercados de trabalho e
de terra na agricultura brasileira, assim como redução drástica do subsídio ao crédito
rural. Evidentemente, quando ele é produtor, a pressão de seus representantes na
bancada ruralista do Congresso é pelo perdão da dívida rural…

Para justificar essa proposição, ele procura mostrar de que maneira as políticas
trabalhista, fundiária e de crédito agrícola foram (e têm sido) responsáveis pelo atual
predomínio, no setor agrícola brasileiro, de padrão tecnológico concentrador,
caracterizado pela produção em grande escala e pela mecanização. Em sua opinião,
“seria de se esperar que a agricultura familiar tivesse se desenvolvido muito mais no
Brasil, com base nas próprias forças do mercado livre. Isso se deveria às características
peculiares do mercado de trabalho agrícola, que cria dificuldades para o
desenvolvimento da agricultura capitalista, como reconhecido na ampla literatura
internacional sobre o assunto. A inexistência de economias de escala na agricultura
reforçaria essa tendência de predomínio da agricultura familiar”.

Hoje, quando o governo federal decide fechar o cerco aos proprietários e empresários
rurais atuados pelo Ministério do Trabalho como exploradores do trabalho em
condições degradantes de escravidão por dívida, e determina a suspensão de
financiamento dos fundos constitucionais para os envolvidos, há avanço na civilização
brasileira. Eles devem perder ainda o direito a benefícios fiscais e outros subsídios. O
Congresso tem a oportunidade de ajudar a resolver o problema, aprovando a PEC
(Proposta de Emenda Constitucional) necessária para o confisco das terras dos
infratores, como medida civilizadora. A presença do Estado, via diversas instituições, é
fundamental para a construção da nação brasileira com a garantia dos direitos civis
individuais.

A Secretaria de Inspeção do Trabalho defende punição mais rigorosa para esses


fazendeiros transgressores, como a expropriação de terras e aplicação de multas com
valores elevados. As irregularidades detectadas pela fiscalização e que caracterizam as
condições degradantes para os trabalhadores rurais são: alojamentos improvisados, falta
de água potável, carência de alimentação, acidentes de trabalho sem prestação de
socorro, retenção dolosa de salários, falta de registro em carteira de trabalho e
submissão do trabalhador ao “sistema de barracão” (compra com preços de monopólio).

Na contra-argumentação conservadora, seguindo a retórica da intransigência, como


sempre, reaparecem as três teses reacionárias principais apontadas por Hirschman. De
acordo com a tese da perversidade, como qualquer ação proposital para melhorar certo
aspecto da ordem econômica, social ou política só serve para exacerbar a situação que
se deseja remediar, os fazendeiros argumentam que “os trabalhadores perderão o
emprego”. Como a tese da futilidade sustenta que as tentativas de transformação social
serão infrutíferas, que simplesmente não conseguirão “deixar uma marca”, eles
argumentam que os trabalhadores são reincidentes, voltando para o mesmo local de
trabalho do qual escaparam. Finalmente, a tese da ameaça é utilizada, apelando-se para
o argumento que o custo da reforma ou mudança proposta é alto demais, pois coloca em
perigo outra preciosa realização. No caso, ameaçam com o aumento do custo de vida, se
repassarem para os preços dos alimentos a elevação dos encargos sociais, devido à
contratação formal dos trabalhadores.

Para terminar essa breve apresentação deste livro, cuja leitura é imperdível, no artigo
cujo link está abaixo há outros exemplos da retórica da intransigência brasileira. O autor
faz análise da mídia e política no primeiro governo de Lula.

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