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Atuar num mundo social textualmente mediado ISTE caPiTULo, apresentamos um conjunto de sete conceitos-chave que ganham o primeiro plano quando examinamos como as pes- soas usam a linguagem online. Em primeiro lugar, 0 conceito de préticas reflete nossa orientagao fundamental para a linguagem como ati- vidade de sentido. Textos sao fundamentats para a linguagem e as praticas de letramento; e as pessoas agem num mundo social textwalmente mediado utilizando os espacos de escrita disponiveis. Nos espacos de escrita online, as pessoas percebem e mobilizam as virtualidades, no intuito de agir se- gundo determinados propésitos. A linguagem existe como um conjunto de recursos que as pessoas utilizam para criar sentido de uma forma mulei- ‘modal. Um aspecto notavel de como as pessoas constroem sentido online é ‘a expresso do posicionamento em relacdo ao que estao dizendo, incluin- do visbes sobre a linguagem. Ao usar a Tinguagem, as pessoas agem em relacao a outros grupos e comunidades de varias maneiras, incluindo os grupos de afinidade de que participam. Por fim, a globalizacdo fornece um contexto importante para compreender a linguagem online. No final do capitulo, apresentamos os principais sites e ferramentas online dos quais extraimos exemplos para facilitar nossa discussao ao longo do livro. Praticas ‘A vida cotidiana ¢ permeada de leitura e escrita. Planejar um fe- riado, por exemplo, uma atividade comum para muitas pessoas, que 39 pode envolver muito trato com a linguagem, tanto escrita quanto fala- da, como quando discutimos com os outros sobre aonde ir e quando ir. Essa fala muitas vezes gira em torno de textos, online e offline, e potle ocorrer muita leitura de guias e cronogramas, Planejamento de feriado 6 uma pratica social reconhectvel, ¢ muitos dos seus aspectos, como a checagem dos hordrios de trem ou voo e reserva de bilhetes, podern ser vistos como praticas de letramento. Sio praticas de letramento porque hé padres comuns na utilizagao de leitura e escrita no contexto do planeja- mento de um feriado, As pessoas trazem seu conhecimento cultural para essa atividade. Em outros dominios da vida, também existem praticas soclais identificaveis em que o letramento ¢ imprescindivel. No dominio da educagdo, por exemplo, atividades como fazer um trabalho escolar ou preparar uma apresentacao envolvem uma ampla gama de praticas de letramento. De igual modo, na esfera do trabalho, no importa se se é um médico ou um atendente de algum servico de atendimento ao clien- te, o dia de trabalho da maioria das pessoas implica o uso de leitura e escrita. Mesmo em trabalhos aparentemente menos dependentes do texto, como os de limpeza e seguranga, as pessoas muitas vezes tém de manter registros de suas atividades; elas seguem instrucdes escritas lidam com tépicos escritos de satide e seguranga, bem como registros de sua remuneragao. As prdticas de letramento sao um conceito-chave para os pesqui- sadores de estudos de letramento. 0 conceito engloba as formas prati cas de utilizar a leitura e a escrita, mas também inelui, de modo cru- cial, os sentidos situados na base das préticas. A nogao de “priticas” € importante na medida em que é tanto empirica e préxima de dados quanto, ao mesmo tempo, invoca uma teoria e ajuda a ligar ativida- des a conceitos mais amplos. Préticas de letramento sao constituidas por atividades especificas e, ao mesmo tempo, fazem parte de proces- 80s sociais mais amplos, como nos exemplos acima. Aqui partimos da nogio mais geral de préticas sociais e vemos as praticas de letramento como sendo as praticas sociais associadas a palavra escrita. Préticas de letramento podem facilitar outros objetivos, como no exemplo da Viagem. Em outros lugares, 0 letramento é fundamental para a ativi- dade, como acontece com a tarefa escolar em que o resultado é um texto escrito, 0 que pode ser visto como certo tipo de pratica letrada: préticas de producao de texto. 0 campo dos estudos de letramento tem ido importante para documentar préticas de letramento em varias 40 irasngen ot xs © esferas da vida. A pesquisa de préticas destaca certas metodologias; e, no Ambito dos estudos de letramento, séo inestimaveis as abordagens qualitativas detalhadas. Praticas sociais como 0 planejamento de um feriado estao sendo transformadas, na medida em que multas areas da vida estao pasando para a esfera online, As praticas de linguagem e letramento associadas so parte dessa transformaciio, de modo que a reserva de bilhetes e a procura de hospedagem envolvem praticas de letramento online, como o preenchi- mento de um formuldrio de reserva num site de hotel, ou a comparacao de diferentes sites em busca das menores tarifas, Isso também se aplica aos exemplos anteriores, visto que préticas de escrita como uma tarefa es- colar ou manutengdo de registros do local de trabalho tém um forte com- ponente online. As préticas sociais estdio mudando, e isso ocorre devido as novas atividades de leitura e escrita constituidas pelas praticas. Pratica no é uma simples palavra, nem uma escolha facil, Ela é 0 conceito-chave subjacente aos estucos de letramento e faz dos estudos de Tinguagem e letramento o que eles sao. 0 conceito fornece 0 mapa para Pensar temas to diversos quanto o papel de agéncia e a significancia do corpo, dos objetos, dos textos. Esclarece as relacdes entre agao e discur- so. Quando ¢ vista como um conjunto de praticas, a linguagem fornece @ moldura para situar uma teoria da linguagem numa teoria da vida. Por um lado, a atividade lingufstica pode ser vista como um conjunto de praticas, ¢ praticas de letramento, em especial, tém sido estudadas extensivamente. Ao mesmo tempo, “préticas” é um concelto-chave em outros lugares nas ciéncias sociais. Podemos ver a vida humana como composta de préticas sociais. E por essa razio que, ao pesquisar o uso da linguagem online, enfatizamos as vivancias das pessoas e suas relacdes cotidianas com as tecnologias, ou 0 que é referido como tecnobiografias (cE. capitulo 6). Essas sdo todas questdes que se tornam particularmente relevantes quando se considera a linguagem online, que na realidade versa sobre praticas online. 0 termo nos ajuda a situar os estudos de Jetramento em tradigoes filosoficas mais amplas e, portanto, nos remete a outras pes- quisas socioculturais, Essa *teoria da prética” se enraiza na obra de Ludwig Wittgenstein e é estudada na investigacao filoséfica contempo- ranea, como Reckwitz (2002) e Schatzki (2012). A medida que diferen- tes novas midias sao usadas, as pessoas gradualmente desenvolvem formas convencionadas de utilizacao dessas midias. Tais formas con- vencionadas, ou 0 que Gershon (2010) chama de “linguas da prética”, amino saceltomamente meatce 41. so desenvolvidas mediante a interacdo com outras pessoas na web. E ‘quando uma midia é usada por diferentes grupos de pessoas, diferentes conjuntos de idiomas de praticas podem ser criados para definir esses grupos, como veremos a seguir em relacao as comunidades de priitica. {As ligages sociais mais amplas com as préticas serdo um fio a percorrer a0 longo do livro, Escrever num mundo social textualmente mediado ‘A nogao de textos € central no estudo da Tinguagem, e a maioria das praticas socials implica, de alguma forma, a linguagem. Precisamos esclarecer 0 que queremos dizer com “texto”, ja que o termo é usado de maneiras bastante distintas em diferentes disciplinas. Para alguns, especialmente nos estudos de midia ou na literatura, um texto pode ser um filme, um romance, um programa de rv ou um artigo de jornal. Para co linguista, um texto pode ser qualquer peca coerente de linguagem sob discussao, Texto normalmente tem a ver com linguagem escrita. A lin- gua falada torna-se texto ao ser transcrita. Tal como acontece com outros termos, como “pratica” e “discurso”, esse termo pode variar em escala. Uma manchete de uma tinica palavra pode ser um texto, um parégrafo pode ser um texto, um capitulo pode ser um texto, € um livro inteiro pode ser um texto, Textos esto situados no tempo € no espago. Textos sto criados e potlem ser escritos de muitas maneiras. Sao grafitados em muros, ou publicados em jornais, ou escritos em didrios. Os textos so, entio, utilizados; sao lidos, exercem influéncia, so respondidos. 0 texto ¢ frequentemente tratado como produto da linguagem. Ele transmite uma ideia de estabilidade e fixidez. Um texto pode atuar como um ponto fixo numa interagdo e pode ser um ponto de partida para a andlise. Ao atuar como um ponto de referencia, textos como uma carta, um romance ou um jornal podem entao transitar entre varios eventos, mudando de fungao e valor. Eles vémn de algum lugar e se mover para algum outro lugar. A medida que as préticas sociais das pessoas se mudaram para 0 Ambito online, muitos textos em nossa vida contemporanea fizeram 0 ‘mesmo e assumiram diferentes propriedades. Em primeiro lugar, a ma- terialidade do texto mudou, Uma carta, um romance ¢ um jornal existe numa folha ou num pedago de papel. Quando passam para a esfera onli ne, situam-se numa tela. Essa mudanca do impresso para a tela foi exam nada exaustivamente (como em Snyder, 1998). Uma diferenca é a relagao entre os textos. Um simples post do Twitter numa tela € um texto curto. Ele se situa num conjunto de mensagens ou tweets anteriores e posterio- res. Ao mesmo tempo, ele se situa numa pagina de outro escrito. Um tweet numa pagina pode ser um post original do autor ou uma repostagem de lum tweet (um “retweet”), escrito por outro membro do Twitter. Essas re- lagbes entre os textos so especificas do Twitter; em outros sites, como 0 Facebook, blogs ou Wikipédia, havera diferentes relacdes entre os textos. Textos so centrais para o mundo online, A mudanga para um mundo Aigital significa que os textos e a produgao textual esto mais difundides em todos os dominios da vida. As atividades cotidianas mencionadas no inicio do capitulo, tais como planejar um feriado ou fazer um trabalho escolar, sdo fortemente mediadas por textos. © mundo online esta sendo constantemente escrito, seja na forma de sites de um tinico autor, de wikis escritos colaborativamente, ou apenas um breve comentério num site de ede social. Ao escrever, as pessoas deixam registros em toda a parte e eriam informacao que outras pessoas podem usar, que informa os busca- dores e que ¢ 0 produto vendavel de empresas como Google e Facebook De fato, 0 Google se tornou o maior corpus linguistico no mundo. Tanto os textos online quanto offline esto situados num mundo de outros textos. Parte de seu significado vem de seus links iniertextuais, seus links para textos anteriores, ¢ isto é mais forte e denso no mundo online Textos online nao sio mais estévets, nao atuam mais como pontos de referéncia fixos. Em vez disso, s40 mais fluidos do que os textos impres- Sos, € as mudancas so constantes. E muitas pessoas podem contribuir ara essa mudanca. Os jornais so um bom exemplo da diferenca entre © mundo offline fisico e os equivalentes sites de noticias online. 0 jornal fisico diario tem uma nova edicdo todos os dias, mas esta fixado para 0 dia, e alguém pode manter um arquivo fisico de um jornal diario, Uma edicao didria separada realmente nao existe online, e as noticias online podem ser constantemente atualizadas ¢ alteradas segundo a segundo na forma de feeds do Twitter. Os usuarios também podem adicionar co- mentarios a qualquer momento. Outra razao pela qual os textos ja nao sao mais fixos é que os leito- res tém maior controle sobre um texto no mundo online. No caso de um livro, digamos, um romance, 0 autor original do contetido decide como 0 Jemos, com um sumario claro, que pressupde a ordem linear de diferen- tes partes do livro; no caso de um site, embora seu designer possa decidir como vamos vé-lo, o usuédrio tem controle relativamente maior sobre seu percurso de leitura. Para alguns sites, os usuarios podem até mesmo ter sar num mance sees tenuaimentemeceas 43 algum controle sobre 0 layout ¢ podem mudar de opinido a seu respeito. Consequentemente, diferentes usuérios vem um texto de modos bas- tante diferentes, algo de que podem estar ou nao cientes. O pressuposto subjacente dessas mudangas na natureza do texto € que a maioria das préticas sociais contém elementos de linguagem e le- tramento e que vivernos num mundo social textualmente mediado, onde os textos so parte da cola da vida social, Textos sao centrais na interagao social, e grande parte da linguagem falada 6 executada no contexto da linguagem escrita e a leva muito em conta, Linguagem e letramento esto no cerne de grande parte da mudance social atual, porque so a lingua- gem e 0 letramento que estruturam o conhecimento e possibilitam a co- municagio. Isto é especialmente verdadeiro quando se examina o mundo online contemporaneo. Mais linguagem e mais interagdes sao cada vez mais mediadas, sendo também maior a teia de ligagdes entre elas, Na tentativa de entender a linguagem neste mundo textualmente mediado, veremos alguns conceitos titeis para examinar a dinamica do uso linguistico, Em primeiro lugar, os textos sdio sempre situados. Eles esto em espacos que oferecem as possibilidades e as restrigdes do que pode ser escrito, que é suscetivel de ser escrito. No mundo fisico, as pagi- nas de um jornal, romance ou diario oferecern diferentes possibilidades de eserita, E, claro, nem toda a escrita fisica ocorre em paginas: hé es- rita em roupas e em pergaminhos e existem diferentes tipos de paginas com diferentes dinamicas, de modo que uma pagina de jornal funciona diferentemente das paginas de um romance. Online, os espacos terdio di- ferentes restricdes e possibilidades, como veremos na proxima segao. Virtualidades Virtualidades sao as possibilidades e restricGes de agaio que as pes- soas percebem seletivamente em qualquer situagao. Virtualidades per- cebidas tornam-se 0 contexto para a acao. Para entender o significado deste termo, ¢ importante ressaltar que suas origens se encontram numa abordagem ecologica da percepeio. Isso enfatiza o fato de que as pessoas nao focam as propriedades intrinsecas de um objeto; em vez disso, per- cebem o que é de valor para elas numa situacdo particular quando tém propésitos particulares (Gibson, 1977, 1986). Quando se trata de perce- ber possibilidades de acao em espacos online, isso significa mais do que fornecer uma lista dos recursos originalmente pensados pelos designers. £ longa a historia de descompasso entre as expectativas originals dos BA ngage ontie tno pias designers @ as formas como as pessoas pOem as tecnologias a servico de seus proprios propésitos. 0 telefone celular é um exemplo frequen- temente citado, pois foi originalmente projetado para usos comerciais como um dispositivo de fala portatil, sem nenhuma expectativa de vir a ser amplamente usado para outros fins, como tirar fotos e enviar ¢ receber mensagens de texto. Outro exemplo: 0 Facebook foi inicialmente apresentado como um ambiente para estudantes universitérios desen- volverem redes sociais, o que ainda é um uso importante. No entanto, seus usos s4o muito mais diversos; e hoje em dia muitas escolas e uni- versidades adotaram o Facebook como uma plataforma de aprendiza- gem, embora ele nao tentha sido concebido como uma ferramenta edu- cacional. Virtualidades na tela sio muitas vezes comparadas com as do papel. Embora existam especulagdes sobre o computador como substi- tuto dos materiais impressos, Sellen e Harper (2003) apontaram em The Myth of the Paperless Office (0 mito do escrit6rio sem papel) que, naquela época, 0 uso de papel estava realmente em ascensdo e que o trabalho in- formatizado num escritério ainda dependia intensamente do papel. Isto se deve a algumas das virtualidades tinicas do papel que a tela do com- putador nao pode oferecer e que as pessoas ainda valorizam em suas atividades do dia a dia Como as virtualidades nao sao predeterminadas, hé um limite para a utilidade de tentar listar as “propriedades” de uma tecnologia. Um ‘smartphone tem certas propriedades, tais como acesso a internet e ins- talacao de software. Mas 0s usos que as pessoas farao dele nao podem ser inferidos dessas propriedades. Qualquer lista de usos é proviséria € mutavel. Em tltima anélise, o que 6 importante sdo os usos reais que sio feitos dela. £ aqui que uma abordagem prética social é importante para identificar o que as pessoas realmente fazem e como dao sentido a seu ambiente. Outro aspecto de uma abordagem ecoldgica é que o am- biente nao é um dado, nem é fixo. Ao contrério, as pessoas criam e sAo criadas por seu ambiente. Deste modo, as virtualidades so socialmente construidas e mudam a medida que as pessoas atuam sobre seu ambien- te. As virtualidades afetam o que pode ser feito facilmente e o que pode ser feito convencionalmente com um recurso. A criatividade reside, em parte, em ver novas virtualidades e ir além das possibilidades existen- tes, Virtualidades emergem o tempo todo; e novas possibilidades sao criadas pela criatividade humana. Assim, por exemplo, no Facebook, a estrutura do software cria atividades e caminhos provaveis, mas a en- genhosidade humana conduz a vasta gama de usos que sao feitos dele. uo - Aur num mango soca tetsinantsmessas 45) © ambiente todo oferece recursos a ser mobilizados como virtua- lidades. As préticas ocorrem num mundo cheio de objetos e tecnolo- gias. Diferentes modos, como fala, escrita, layout e imagens, podem ser mobilizados, e também diferentes dispositivos, como telas sensivels a0 toque e teclados, e diferentes plataformas, como Wikipédia, Facebook e Tumblr. Como demonstraremos, diferentes linguas também podem ser vistas como recursos de construgio de sentido, que oferecem diferen- tes possibilidades de ago. As linguas diferem facilmente quanto ao que podemos fazer com elas; ¢ isto se aplica a todos os niveis de linguagem. ‘Tomadas em conjunto, as estruturas do mundo online fornecer um con- junto notavelmente rico de virtualidades em que as pessoas podem agir. No contexto da linguagem online, 0 fato de as pessoas perceberem e ado- tarem novas virtualidades na internet faz emergirem novas praticas de linguagem ¢ letramento. © conceito de virtualidades foi retomado no estudo de multimo- dalidade por Kress (2004), e por estudiosos do letramento digital, como Jones e Hafner (2012), como uma maneira de descrever como as peso. as empregam novas possibilidades. 0 que uma abordagem de estudos de Ietramento em particular oferece é uma perspectiva interna as praticas reais das pessoas em resposta ao que elas percebem como possibilidades e restriges em situacdes particulares. Em termos de metodologia, se qui- sermos entender por que e como os usuérios online usam a linguagem de um modo particular, sera importante considerar primetro o que pensam sobre aquilo que esta disponivel online e o que entendem a respeito do que fazem. Isto tem de ser entendido em comparacio com percepcies et nograficas e néo é determinado somente pelas midias. Em toda a nossa pesquisa, fica claro que pessoas de formagdes semelhantes ¢ que compar- tilham os mesmos recursos linguisticos podem aproveitar as virtualida- des dos recursos de diferentes maneiras, de acordo com suas finalidades situadas. Como mostraremos no capitulo 5, usuarios multilingues online frequentemente notam maneiras como determinada lingua possibilita recursos mais expressivas do que outras em diferentes situagdes. A internet néo ¢ ilimitada, 0 que torna essencial examinar as vir- tualidades. Elas esto estreitamente relacionadas ao conceito de design. A metéfora de uma “folha em branco” é pertinente, pois, em certos sen: tidos, uma plataforma como um blog ¢ como uma folha de papel, como boyd (2006) apontou, e pode ter varios usos: pode ser utilizado como um diario, uma narrativa, uma obra de ficc&o ou um jornal, utilizando gé- neros especificos. Mas ele difere de uma folha em branco porque, como 46 unquagar oie tna todos os sites, um blog ¢ altamente estruturado, os blogueiros so obriga- dos a escrever nele dentro de um modelo preconcebido pelo designer do site, Essa estruturagio significa, por exemplo, que os posts do blog sera sempre organizados em ordem cronologica inversa e que nao ha multas op¢des de lugares no site para escrever o post do biog ou postar um co- mentério, As diferentes possibilidades de escrita so criadas pelas ma- neiras como as pessoas podem agir dentro das virtualidades dos espacos projetados. Dessa forma, um site como um blog nao é um género coeso. uum espaco desenhado com muitos usos potenciais. Blogs politicos, blogs de viagem e blogs de resenhas podem desenvolver géneros especitficos, mas, em si, um blog nao 6 um género: ndo é uma forma de linguagem ~ ao contrario, é um espaco para a linguagem. Multimodalidade Na compreenséo da linguagem online, também procuramos enten- der como modos diferentes trabalham juntos para formar textos onli- ne coerentes e dotados de sentido. Os modos, que também sao conhe- cidos como modos comunicativos ou modos semiéticos, referem-se em geral a sistemas ou recursos que as pessoas mobilizam na construgdo de sentido. Eles incluem as linguagens falada e escrita, imagem, som, gesto etc. Os textos multimodais so onipresentes em nossa vida coti- diana, especialmente aqueles que combinam 0 verbal com o visual. AS préticas multimodais nao so novas e tém sido uma estratégia essencial de construgio de sentido ao longo da historia da linguagem escrita. Em materiais impressos, como revistas, jornais ¢ antineios, a programacao visual muitas vezes define como os espectadores interpretam 0 verbal, e vice-versa. Esses efeitos visuais podem envolver decisdes especificas sobre 0 uso de cores, tamanho e tipo de fonte das palavras (para que um texto impresso em beokman old style, por exemplo, possa parecer mais sério e formal do que um em comic sans ms). Em livros didéticos, figuras e diagramas S40 muitas vezes utilizados para complementar as descrigdes escritas. 0 layout de itens diferentes numa pagina também é projetado para que o sentido seja apreendido de maneiras especificas. Com o impresso tradicional, o leitor tem escasso controle sobre 0 Iayout ou fontes. No entanto, quando se trata de multimodalidade na tela do computador, é relativamente facil para qualquer um produzir textos multimodals. Os usuarios podem misturar linguagem, imagens e videos e tém um grande controle sobre a cor, o layout e a fonte. Sites nao sao | cyrrians-Alvornum mundo social exwsmeriemeaaco 47 apenas web pages com contetidos de diferentes modos de representa¢ao; hyperlinks so muitas vezes adicionados a palavras e imagens para criar vinculos intertextuais entre mUltiplas paginas multimodais. Na comuni- cago textual interativa mediada por computador, como o e-mail e men- sagens instanténeas, por causa da falta de pistas fisicas ¢ contextuais, emoticons so frequentemente anexados aos enunciados para marcar a intengao e 0 tom do escritor. Por exemplo, escrever “Eu amo meu traba- tho ©" com um emoticon sorridente provavelmente evocaré uma inter- pretacao mats positiva do que escrever “Eu amo meu trabalho! ©”, que pode ter a intengo de transmitir 0 posto. O crucial aqui é que, como as virtualidades de modos semidticos séo percebidas quando combinadas de diferentes maneiras, elas podem oferecer miiltiplos sentidos para di- ferentes espectadores e, assim, possibilidades de ago. Isso € evidente no site de compartilhamento de fotos Flickr, onde a mesma foto pode, por tum lado, receber observagées estreitamente relacionadas com o que ‘mostrado na imagem; por outro lado, alguns comentarios podem apontar para a técnica fotografica por tris da cena, ou apenas para o fot6grafo. Textos multimodais em muitas midias impressas (€ até mesmo em websites) sfio relativamente estaticos e criados por um tinico autor. Nos espagos da Web 2.0, ao contrério, o contetido multimodal pode ser eriado em conjunto e constantemente editado por diversos usuarios. A conver- sgencia de espagos de escrita nas novas midias socials apresenta novas oportunidades para fécil criagao, postagem e compartilhamento de tex: tos multimodais, como, por exemplo, 0 compartilhamento de um video do YouTube com uma descrigdo escrita autogerada postada no Facebook. ‘Apesar dessas possibilidades multimodais, como mostramos a0 longo do tivo, a palavra escrita ainda desempenha um papel central na constriu- fo de significados nesses novos sites. No Flickr, por exemplo, as imagens sio muitas vezes cercadas por titulos, descrigdes e tags, formande assim uma coestio intermodal em toda a pagina. As pessoas também falam sobre uma fotografia mediante comentarios escritos. Como mostramos no capitulo 7, essas opiniées sA0 moldadas por maneiras particulares de ver 0s recursos multimodais. 0 criador de um texto toma decisdes sobre layout, escalha de imagens e outros modos, motivo pelo qual pode ser titil descrever o escritor online como um designer. Embora o layout de diferentes espacos de escrita seja muitas vezes predeterminado pelo designer do site, a0 ler uma pagina da web, diversos internautas podem ter diferentes pontos de partida. Numa pagina do YouTube, podemos de- cidir ver 0 video em primeiro lugar, enquanto outros podem querer ler AB nvm anne tenors oats es comentarios primeiro. Ao trilhar diferentes caminhos de leitura, as [pessoas extraem diferentes sentidos do texto. Postura Postura € um conceito muito itil em lingufstica e reine ampla gama de trabalhos que buscam compreender como os significados dos enunciados sfio expressos ¢ como os falantes (ou escritores) se dirigem a seu puiblico. A postura pode ser amplamente definida como um posicio- namento de um falante em relacao ao que é dito e a quem o enunciado 6 dirigido. Os estudos linguisticos sobre postura vao desde o exame da gramética e do léxico de enunciados a andlise critico-discursiva de pos- turas encaixadas em discursos politicos, por exemplo. Num nivel micro, a postura de um falante pode ser compreendida se olharmos caracteris- ticas linguisticas especificas, tais como a escolha de verbos e estruturas de sentengas. Por exemplo, a sentenca “Eu acho” é frequentemente usada para introduzir uma declaracdo que contém uma opinio. Esta nao é uma escolha aleatéria, Quando alguém diz “Penso que sei o que estou fa- zendo”, este falante esta expressando certo grau de certeza, que poderia ter sido enfraquecido se a declaracao comecasse por “eu acho”. Verbos cognitivas como “pensar” e “saber” séo, portanto, um marcador-chave do que & chamado de posturas epistemoldgicas, que afirmam certezas, crengas e conhecimento, Para uma exemplificagdo disso, ver a andlise de Myers (2010b) de como verbos cognitivos sao usados em blogs. A pos- tura epistemoldgica pode ser contrastada com a postura afetiva, em que os falantes exprimem suas atitudes e sontimentos sobre o que enunciam, como em “Eu adoro 0 jeito como este capitulo é escrito!” (CF. o capitulo 1 em Jaffe [2009], para um panorama mais detalhado dessa area.) Vemos a postura come um conceito central, que enquadra nossa compreensio de como as opiniges sdo expressas na midia online. Mui- tos sites da Web 2.0 ¢ midias sociais so ambientes ricos em postura. As virtualidades percebidas dos espacos de escrita incentivam a produ- cdo, compartilhamento, discussao e avaliagao das opinites puiblicas por meios textuais. 0 YouTube ¢ um excelente exemplo de uma plataforma rica em postura e atos de tomada de postura. Os viogueiros podem ex- ressar suas opinides sobre determinado t6pico por meio da fala em seus videos; ao mesmo tempo, os espectadores podem avaliar os videos, mar- cando-os como “gostel” ou “nao gostei”, ou deixando comentérios escri: tos. De fato, comentar é um elemento fundamental da adosio de postura 49 em muitos sites populares da Web 2.0, incluindo Flickr e Facebook. Nes- tes sites, a postura nao 6 adotada por um tinico falante ou escritor, mas & constantemente criada e renegociada de forma colaborativa por um pti- blico em rede. Outra caracteristica marcante da postura na nova midia € que, ao contrério de contextos comunicatives tradicionais, como uma conversa face a face, em que a fala ota escrita se tornam o tinico recur- so para adotar uma postura, a tomada de postura multimodal é possivel em muitos sites online globais. No Flickr, as pessoas podem se concentrar num determinado género de fotos (por exemplo, autorretratos em preto e branco) com tags como “eu” para apresentar uma figura particular de simesmas a seu ptiblico-alvo. Os usuarios multilingues podem optar por alternar entre linguas. Todas essas sao préticas e recursos de posicio- namento que certamente nao eram comuns na era pré-Web 2.0. Assim, num nivel mais amplo, compreender atos de posicionamento ¢ crucial para compreender como as identidades sdo construfdas em novos espa- 0s online. Também fica claro que 0 posicionamento ndo € apenas um ato linguistico, mas uma pratica situada, a ser entendida no contexto da comunicagao. No capitulo 7, ilustramos esas caracteristicas de postura com exemplos trabalhados a partir de varios espacos de escrita online. Afinidades e outros agrupamentos A linguagem ¢ feita e refeita nas relagies entre as pessoas. [sso ocor- re no nfvel micro de duas pessoas interagindo e no nivel macro de co- ‘munidades inteiras. H4 muitos tipos de agrupamentos de pessoas impor- tantes para a conservacdo da lingua, para moldar praticas lingufsticas e para a mudanca linguistica. As pessoas usam a linguagem para interagir umas com as outras, provocando o desenvolvimento de formas especifi- cas de linguagem, como os pares adjacentes de pergunta e resposta em conversas e a sequéncia iniciacao, resposta e avaliagao (IRA) de uma th pica interacao em sala de aula entre professores ¢ alunos. & por meio da interagao com outras pessoas que a linguagem se transforma e se desen- volve, e os géneros e estilos se solidificam, se desintegram e melhoram. Ver as pessoas agindo dentro de grupos, pequenos e grandes, fot um elemento fundacional do desenvolvimento da sociolinguistica. Num nivel macro, um desses agrupamentos ¢ a nogo de “comunidade de fala”. Este conceito € amplamente utilizado para compreender a varia- cdo Linguistica, Comunidades de fala sao vistas como entidades estaveis, com pessoas que compartilham normas particulares do uso da lingua; 50 ncvazom one oxos oxo aatas

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