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Este documento descreve a evolução do curso de Sânscrito na Universidade de São Paulo ao longo de 26 anos, desde sua criação em 1968. O curso passou por uma reestruturação em 1990, quando foi transferido para o Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas. Atualmente, o foco é em pesquisa e publicações acadêmicas em vez de um bacharelado completo. O Sânscrito também contribui para estudos de pós-graduação em Lingüística e está integrado a projetos interdisciplinares.
Este documento descreve a evolução do curso de Sânscrito na Universidade de São Paulo ao longo de 26 anos, desde sua criação em 1968. O curso passou por uma reestruturação em 1990, quando foi transferido para o Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas. Atualmente, o foco é em pesquisa e publicações acadêmicas em vez de um bacharelado completo. O Sânscrito também contribui para estudos de pós-graduação em Lingüística e está integrado a projetos interdisciplinares.
Este documento descreve a evolução do curso de Sânscrito na Universidade de São Paulo ao longo de 26 anos, desde sua criação em 1968. O curso passou por uma reestruturação em 1990, quando foi transferido para o Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas. Atualmente, o foco é em pesquisa e publicações acadêmicas em vez de um bacharelado completo. O Sânscrito também contribui para estudos de pós-graduação em Lingüística e está integrado a projetos interdisciplinares.
raar um quadro histrico dos estudos de snscrito desenvolvi-
T dos na Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da
Universidade de So Paulo consiste, sem dvida, em mostrar que houve, ao longo de vinte e seis anos, efetiva evoluo, que configura os objetivos maiores de uma universidade, aberta, como deve ser, re- novao de currculos, de programas de disciplinas, de linhas de pes- quisa, de criao e desenvolvimento de projetos interdisciplinares etc. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que a preocupao do quadro docente, desde a fundao do Curso de Lngua e Literatura Snscrita, foi caracteriz-lo e promov-lo como um curso acadmico integrado, antes de tudo, na tradio de seriedade que rege a investigao cientfica daquela faculdade e situ-lo como uma dentre tantas possibilidades de formao de saber oferecidas pela Universidade de So Paulo. Assim, as linhas de pesquisa desenvolvidas na rea de Lngua e Literatura Snscrita privilegiam o estudo da gramtica do snscrito nos seus padres cultos, a anlise das teorias da linguagem engendradas na ndia antiga, o exame dos tratados de potica e dos recursos estilsticos detectados nos textos da literatura snscrita, a observao acurada da histria da literatura e dos gneros literrios manifestados naquela cul- tura e o desenvolvimento de crtica ao modo como o snscrito foi e observado pelos estudiosos do Ocidente. O objetivo maior tornar esses estudos engajados nas linhas mais gerais de pesquisa de vrias reas afins, para que favoream o desenvolvimento das teorias da Lingstica Geral, da Semitica, da Historiografia Lingstica, da Lingstica His- trica, dos chamados estudos clssicos, e, ao mesmo tempo, dos estudos sobre as culturas antigas, modernas e contemporneas dos povos da sia e dos outros continentes. Criado em 1968 como bacharelado no conjunto das reas relacionadas aos estudos orientais, com quarenta vagas distribudas entre duas turmas em dois perodos, o curso de snscrito da FFLCH da USP teve como fundador emrito o saudoso professor Eurpedes Simes de Paula a quem deveu no apenas a criao, mas a contnua assistncia, o estmulo e auxlios posteriores e, como primeiros docentes encar- regados das aulas, a tambm saudosa professora Maria Luisa Fernandez Miazzi e o professor Izidoro Blikstein, ambos pertencentes antiga Ca- deira de Filologia Romnica da mesma faculdade, a quem competia mi- nistrar, naquela fase inaugural, a parte de lngua, justamente a que adquiriram no exterior (Estados Unidos e Frana, respectivamente), como subsdio ao estudo da Lingstica Indo-Europia. Graas coo- perao e ao esforo desses dois professores, que acumulavam a docn- cia de outras disciplinas Lingstica Indo-Europia e Filologia Romni reas de Letras e contava com a expressiva participao dos docentes e dos alunos, empenhados na tarefa de coletar obras e outros materiais relativos literatura e cultura snscrita de modo a dar suporte aos estudos da lngua. At 1977, o curso desenvolveu-se sob a coordenao da professora Miazzi que muito lutou pela expanso dos estudos de snscrito no Brasil e que se distinguiu pela criao e desenvolvimento de linhas de pesquisa e de ensino e pela orientao proporcionada aos trabalhos acadmicos de grau de ex-alunos do prprio curso de snscrito da USP que passa- vam a ser os docentes da rea. Essa formao dos docentes permitiu a estratgica integrao do snscrito nas grandes linhas de pesquisa da ps-graduao da FFLCH da USP e foi, de certa forma, responsvel pela reestruturao que se processou na rea de Lngua e Literatura Snscrita e resultou em uma nova fase dos estudos de snscrito naquela faculdade. Aliou-se a isso o fato de a realizao dos projetos de interao acadmica daqueles docentes se dar, fora do mbito da faculdade e da universidade, no contexto de reunies cientficas organizadas por socie- dades acadmicas que contam com a participao de professores das reas de Grego, Latim, Histria Antiga, Arqueologia, Filosofia e Lin- gstica, notadamente no conjunto dos chamados estudos clssicos, em que o snscrito tem tido lugar privilegiado, nos ltimos sculos, na com- posio do trip lingstico dos estudos de gramtica e lingstica com- paradas das lnguas indo-europias. Esse novo campo de ao dos es- tudos de snscrito resultou na transferncia, em 1990, da rea de Lngua e Literatura Snscrita do Departamento de Lnguas Orientais para o Departamento de Letras Clssicas e Vernculas da mesma faculdade, com o objetivo de integrarem-se os programas de snscrito aos de grego e de latim. No se modificou, claro, a reflexo que se faz a respeito do interesse e da necessidade da existncia de um curso de snscrito no conjunto de Letras de uma universidade como a de So Paulo, patroci- nadora maior dos estudos humansticos, entretanto, a manuteno do bacharelado, dentro da nova viso de universidade que vinha e vem se impondo, teve de ser repensada. Assim, a partir de 1990, em atendi- mento solicitao dos prprios docentes da rea, no mais se ofere- ceram vagas de ingresso no bacharelado de snscrito. Alm disso, pro- ps-se que as disciplinas optativas oferecidas poca, nos dois turnos, fossem reestruturadas no sentido de se estabelecer um elenco orientado de programas de lngua, literatura e cultura snscritas, introdutrios, alguns, e outros mais especficos, sobre fatos peculiares de lngua e sobre posturas filosficas e estticas manifestadas nos textos dos perodos vdico, bramnico, pico e clssico da literatura snscrita. Instituram- se, tambm em 1990, cursos de difuso cultural e de extenso universi- tria sobre temas relativos a diversos aspectos da cultura snscrita, apoiados, de preferncia, naqueles perodos bsicos da literatura e que atendem principalmente aos interessados sem vnculos com a universi- dade. Conservou-se, assim, o ncleo bsico do contedo ministrado aos antigos ingressantes pelo vestibular, mas sem o nus que os quatro anos do Bacharelado acarretavam universidade, otimizando-se, ainda, o atendimento demanda de prestao de servios comunidade. E, ao mesmo tempo em que a rea se liberava dos antigos problemas n- mero expressivo de vagas no preenchidas e reduzido nmero de for- mandos, por exemplo , intensificava-se a execuo de um projeto aca- dmico voltado para a publicao de artigos e ensaios relativos cultura snscrita ou indiana em geral. Hoje o projeto se implanta com a edio da revista Bharata Cadernos de Cultura Indiana, impressa pela FFLCH da USP, e tambm direcionado para a participao efetiva dos docentes nos trabalhos e nas publicaes resultantes de congressos na- cionais e internacionais promovidos pelas diversas associaes cientficas s quais aqueles docentes se filiaram Associao Latino-Americana de Sanscritistas (Alas), International Association of Sanskrit Studies (IASS), Sociedade Brasileira de Estudos Clssicos (SBEC), Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC), Grupo de Estudos Lingsticos do Estado de So Paulo (GEL), Associao Latino-Americana de Estudos Afro-Asiticos do Brasil (Aladaab), Associao Brasileira de Lingstica (Abralin) etc. A reestruturao permitiu, ainda, que se inclussem e se amplias- sem, nos novos projetos e linhas de pesquisa, as antigas pretenses de situar o snscrito no mbito dos estudos de Lingstica Indo-Europia, de Lnguas Clssicas e de Lingstica Geral e resulta cada vez maior o envolvimento do snscrito em vrias frentes de produo cientfica.
Nesse quadro, necessrio lembrar a participao crescente da-
queles docentes nas atividades de ensino, pesquisa e orientao ligadas ps-graduao. Desde 1990, disciplinas relacionadas ao snscrito com- pem o Curso de Ps-Graduao em Lingstica rea de concen- trao em Semitica e Lingstica Gerai por ora, em linhas de pes- quisa mais especficas sobre Historiografia Lingstica e Lingstica Histrica, recentemente criadas dentro do projeto de reestruturao que se promove naquele curso de ps-graduao do Departamento de Lin- gstica da FFLCH da USP. E fundamental, por exemplo, a contribui- o dos estudos de snscrito para a sistematizao do trabalho historio- grfico em Lingstica, por meio de programas que pressupem o exa- me, nas diferentes pocas histricas, de como se constituiu a cincia gramatical. E, nas perspectivas da rea de Lingstica Histrica, que deve enfatizar a questo da mudana na evoluo das lnguas, integra-se, por exemplo, um programa que visa anlise dos mecanismos de orga- nizao morfolgica e sinttica do snscrito, essencial para estudos pos- teriores e disciplinas que envolvero reflexes mais aprofundadas a res- peito dos modos de produo de sentido observados nos textos snscr em geral, anlise da organizao discursiva. Desperta, portanto, pro- missor e abrangente um campo de especializao para alunos de ps- graduao que eventualmente sero os futuros docentes da rea de Ln- gua e Literatura snscrita.
Ainda como resultado do enlace dos estudos de snscrito com as
vrias frentes de produo do saber, desenvolve-se na rea um projeto de pesquisa coletivo a respeito das concepes da linguagem na ndia antiga, com nfase na anlise das teorias lingsticas presentes nos textos indianos de expresso snscrita e que prev, por exemplo, a traduo e o estudo da obra de Panini, freqentemente mencionada nos tratados lingsticos, mas ainda no examinada com a profundidade que seu con- tedo exige.
Esse envolvimento dos estudos de snscrito com variados projetos
e linhas de pesquisa, bem como a referida reestruturao que se pro- cessou na rea provocaram, como era previsto, o aparecimento de alu- nos com caractersticas diferentes em relao aos que entravam pelo vestibular. Alm dos que provm dos vrios cursos de Letras, freqen- tam as disciplinas de snscrito outros alunos da Faculdade de Filosofia, oriundos, principalmente, dos Departamentos de Histria, Filosofia e Cincias Sociais e, ainda, de outros institutos e escolas da USP, com destaque para os da Fsica, da Biologia e da Politcnica. E cresce, de ano para ano, o nmero de pessoas que, no vinculadas universidade, procuram o curso em razo do contedo curricular por ele oferecido, embora no visem obteno de um diploma regular de Letras. Pode-se afirmar, para concluir essa breve trajetria, que o curso de snscrito hoje se encontra mais organicamente integrado no conjunto das ofertas do Curso de Letras da FFLCH da USP, seja com o ofere- cimento de disciplinas optativas que podem funcionar como comple- mentares para outras reas, seja com a participao de seus docentes nos programas de ps-graduao de Lingstica e em outros projetos inter- disciplinares da prpria USP e de outras universidades brasileiras, seja, ainda, com a participao constante desses docentes em congressos na- cionais e internacionais ou com o oferecimento de cursos de difuso cultural que atendem aos interessados da comunidade. O curso de sns mencionados estudos, projetos e linhas de pesquisa podem e devem pro- mover a reflexo sobre questes que transcendem o cotidiano da reali- dade brasileira e conseqentemente fornecem dados para a compreenso e a eventual transformao dessa realidade.
Maria Valria Aderson de Mello Vargas professora do Departamento de Letras Clssicas e
Vernculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da USP.