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O poeta Patativa do Assaré compara sua vida no sertão com a vida de um poeta da cidade, defendendo que só quem viveu na região pode cantá-la verdadeiramente. Ele descreve as dificuldades da vida no campo em oposição aos luxos da cidade, mas celebra a alegria e as belezas simples encontradas no sertão. O poema termina com os poetas concordando em cada um cantar sua própria realidade.
O poeta Patativa do Assaré compara sua vida no sertão com a vida de um poeta da cidade, defendendo que só quem viveu na região pode cantá-la verdadeiramente. Ele descreve as dificuldades da vida no campo em oposição aos luxos da cidade, mas celebra a alegria e as belezas simples encontradas no sertão. O poema termina com os poetas concordando em cada um cantar sua própria realidade.
O poeta Patativa do Assaré compara sua vida no sertão com a vida de um poeta da cidade, defendendo que só quem viveu na região pode cantá-la verdadeiramente. Ele descreve as dificuldades da vida no campo em oposição aos luxos da cidade, mas celebra a alegria e as belezas simples encontradas no sertão. O poema termina com os poetas concordando em cada um cantar sua própria realidade.
Que na cidade nasceu, Cante a cidade que sua, Que eu canto o serto que meu.
Se a voc teve estudo,
Aqui, Deus me ensinou tudo, Sem de livro precis Por fav, no mxa aqui, Que eu tambm no mexo a, Cante l, que eu canto c.
Voc teve inducao,
Aprendeu munta ciena, Mas das coisa do serto No tem boa esperiena. Nunca fez uma paioa, Nunca trabaiou na roa, No pode conhec bem, Pois nesta penosa vida, S quem provou da comida Sabe o gosto que ela tem.
Pra gente cant o serto,
Precisa nele mor, T armoo de fejo E a janta de mucunz, Viv pobre, sem dinhro, Socado dentro do mato, De apragata currelepe, Pisando inriba do estrepe, Brocando a unha-de-gato.
Voc muito ditoso,
Sabe l, sabe escrev, Pois v cantando o seu gozo, Que eu canto meu padec. Inquanto a felicidade Voc canta na cidade, C no serto eu infrento A fome, a d e a misera. Pra s poeta divera, Precisa t sofrimento. Sua rima, inda que seja Bordada de prata e de ro, Para a gente sertaneja perdido este tesro. Com o seu verso bem feito, No canta o serto dereito, Porque voc no conhece Nossa vida aperreada. E a d s bem cantada, Cantada por quem padece.
S canta o serto dereito,
Com tudo quanto ele tem, Quem sempre correu estreito, Sem proteo de ningum, Coberto de preciso Suportando a privao Com paciena de J, Puxando o cabo da inxada, Na quebrada e na chapada, Moiadinho de su.
Amigo, no tenha quxa,
Veja que eu tenho razo Em lhe diz que no mxa Nas coisa do meu serto. Pois, se no sabe o colega De qu manra se pega Num ferro pra trabai, Por fav, no mxa aqui, Que eu tambm no mxo a, Cante l que eu canto c.
Repare que a minha vida
deferente da sua. A sua rima pulida Nasceu no salo da rua. J eu sou bem deferente, Meu verso como a simente Que nasce inriba do cho; No tenho estudo nem arte, A minha rima faz parte Das obra da criao.
Mas porm, eu no invejo
O grande tesro seu, Os livro do seu colejo, Onde voc aprendeu. Pra gente aqui s poeta E faz rima compreta, No precisa profess; Basta v no ms de maio, Um poema em cada gaio E um verso em cada ful.
Seu verso uma mistura,
um t sarapat, Que quem tem pca leitura L, mais no sabe o que . Tem tanta coisa incantada, Tanta deusa, tanta fada, Tanto mistro e condo E tros negoo impossive. Eu canto as coisa visive Do meu querido serto.
Canto as ful e os abrio
Com todas coisa daqui: Pra toda parte que eu io Vejo um verso se bul. Se as vz andando no vale Atrs de cur meus male Quero repar pra serra Assim que eu io pra cima, Vejo um divule de rima Caindo inriba da terra.
Mas tudo rima rastra
De fruita de jatob, De fia de gamelra E ful de trapi, De canto de passarinho E da pora do caminho, Quando a ventania vem, Pois voc j t ciente: Nossa vida deferente E nosso verso tambm.
Repare que deferena
Iziste na vida nossa: Inquanto eu t na sentena, Trabaiando em minha roa, Voc l no seu descanso, Fuma o seu cigarro mando, Bem perfumado e sadio; J eu, aqui tive a sorte De fum cigarro forte Feito de paia de mio. Voc, vaidoso e facro, Toda vez que qu fum, Tira do brso um isquro Do mais bonito met. Eu que no posso com isso, Puxo por meu artifio Arranjado por aqui, Feito de chifre de gado, Cheio de argodo queimado, Boa pedra e bom fuz.
Sua vida divirtida
E a minha grande pen. S numa parte de vida Nis dois samo bem igu: no dereito sagrado, Por Jesus abenoado Pra consol nosso pranto, Conheo e no me confundo Da coisa mi do mundo Nis goza do mesmo tanto.
Eu no posso lhe invej
Nem voc invej eu, O que Deus lhe deu por l, Aqui Deus tambm me deu. Pois minha boa mui, Me estima com munta f, Me abraa, beja e qu bem E ningum pode neg Que das coisa natur Tem ela o que a sua tem.
Aqui findo esta verdade
Toda cheia de razo: Fique na sua cidade Que eu fico no meu serto. J lhe mostrei um ispeio, J lhe dei grande conseio Que voc deve tom. Por fav, no mexa aqui, Que eu tambm no mxo a, Cante l que eu canto c.
Do livro: "Cante l, que Eu Canto c", Ed. Vozes, 1978, RJ
NUNES, Benedito. Narrativa Histórica e Narrativa Ficcional. In: RIEDEL, Dirce C. (ORG) - Narrativa: Ficção e História. Rio de Janeiro: Imago, 1988. P. 9-35.