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A INSTITUICAO ESCOLAR E AS EXIGENCIAS DA CONTEMPORANEIDADE THE SCHOOL INSTITUTION AND THE DEMANDS OF CONTEMPORARY Antonio Germano Magalhdes Jinior' Resumo. Historicamente, a instituigio escolar passou por transformagdes associadas &s caracteristicas sociais constituidas' no tempo. Para _compreender a escola _na contemporaneidade, é necessdrio saber que seus modelos so diretamente proporcionais as caracteristicas € valores sociais no tempo histérico. O objeto desta escritura é a escola na contemporaneidade. O escopo € realizar uma reflexao sobre aspectos inerentes & educacao contemporinea, que precisam ser devidamente questionados para se poder compreender melhor 0 papel da educagéo na sociedade do agora, reconhecendo a escola como espaco de poder e verdade. O texto desenvolve uma reflexio, utilizando uma revisao bibliografica como Procedimento metodologico, associada aos conhecimentos que se granjeou pelo pesquisador na Vivencia como professor do Programa de P6s-Graduacio em Educacio da Universidade Estadual do Ceara, na area de formacio de professores. O escrito possibilita refletir sobre temas cotidianos da educacao contemporanea, estimulando uma tomada de decisao no que concerne & realidade escolar. Palavras-chave: Educagao ~ Contemporaneidade ~ Reflexio ‘Abstract. Historically the school __ institution passed __ by transformations associated with social characteristics provided in time. To understandthe contemporary school, it's, necessary Know that school models are directly proportional to the characteristics and social values in historical time. The object of this writing is the school in contemporary. The intention is todevelop a reflection on inherent aspects in contemporary education that need to be properly challenged to better understand the role of education in society now, recognizing the School as a place of power and truth, The text develops a reflection using a literature review as methodological procedure, combined with the knowledge gained by the researcher on his, experience as a professor of the Graduate Program in Education from the Universidade Estadual do Ceara, in the area ofteacher training. The text allows a reflection on everyday topicsof contemporary education, encouraging a decision regarding school reality. Keywords: Education ~ Contemporary ~ Reflection professor adjunto da UECE, leciona no programa de Pés-Graduacéo em EducacSo da UECE (PGE). Graduado em Pedagogia (UFC) e Histéria (UECE). Mestre e Doutor em Educagio (UFC). Pés-Doutor (UFRN), E-mail: germano.junior@uece.br 6 15 BDUCARE Revista Cintfca de Coligis Mita Escrever sobre a educagdo na sociedade contemporanea ndo é tarefa das mais 's, em razio da complexidade do tema e da diversidade de “caminhos” que podem ser trithados. Resolvi fazer uma reflexiio, auxiliada por outros autores pertinentes ao tema, procurando questionar e auxiliar, mediado pelo ato de perguntar, na compreenstio utir escola © de algumas temiticas atualmente abordadas quando se resolve dis educagiio. Estabelecerei relagio entre a arquitetura escolar, a importancia da definigao de uma filosofia educacional, o planejamento escolar, processo de ranking na educago, entrelagando com a descrigao de aspectos da hist6ria da educagio, as relagdes de poder ¢ verdade na existéncia da instituigo escolar. Farei uma tessitura com muitos “pontos linhas”, objetivando fazer refletir nao somente sobre problemas, mas também acerca de possibilidades de transformago. Espero que auxilie na labuta de todos que educam. Sob espectro histérico, a instituigdo escolar passou por transformagdes associadas as caracteristicas sociais constituidas no tempo. Nos primérdios do estabelecimento dos Estados, a escola servia para repassar os conhecimentos necessarios ao controle administrativo e religioso (CAMBI, 1999), logo, restrita a um pequeno grupo privilegiado, que necessitava de conhecimento para adquirir e manter 0 poder sobre os demais. Inicialmente, os responsaveis pelo ensino nas poucas escolas foram os sacerdotes, 0 que era necessario para manter um vinculo entre o conhecimento © a religido, constituindo uma relagdo entre o sagrado e o privilégio de “saber”. O conhecimento estava relacionado com uma escolha da divindade, haja vista o fato de que nao seriam todos que poderiam “saber, mas somente aqueles pertencentes ou escolhidos pelos controladores dos processos administrativos/decisérios. Quando utilizo a expressdo “saber”, me refiro a ter conhecimento, ciéncia, informagao ou noticia (CUNHA, 1986). So muitos exemplos de sociedades que vincularam a institucionalizagao da escola 4 religito e ao poder administrative do Estado. No Egito antigo, as escolas formavam a elite sacerdotal ¢ administrativa, associando diretamente o conhecimento ao sagrado. A necessidade deste relato est vinculada ao entendimento da constituigaio da escola no tempo histérico. Nao € objetivo desta escrita realizar uma descrig&o da histéria da educagao, mas auxiliar no entendimento da formagdo institucional escolar ¢ as caracteristicas sociais de uma época particular. A escola foi, ¢ ainda é, necesséria na implantagdio, consolidagaio, manutengio ¢ até transformagao dos modelos sociais de determinada época, sendo modelada e cobrada em relagdo as necessidades em curso. ray ‘BDUCARE - Revista Cientifca da Colégia Miltar de Fortaleza ~ Cae 5—N".7 ~ Mar. 2013 Nas primeiras escolas, os professores cram sacerdotes ¢ sua relago com os estudantes era constituida mediante principios de verdade. Como havia um liame com o sagrado, este nao deveria ser questionado e 0 modelo da “salvac&o” estava no cumprimento dos ditames propalados pelos representantes da instituigéo educacional. E possivel melhor compreender como a escola passou a ser representada feita “espago” dos que querem conhecer e que o saber exercitado em suas dependéncias estd associado a verdade. O professor representava 0 que conduz a verdade e “ilumina” os caminhos de todos os que pretendem seguir os principios do modelo instituido pelos que esto no poder politico/administrativo ¢ religioso. O docente, mesmo sob o prisma da Histéria, nao possuindo uma remunerag&o de destaque em relagdio aos outros oficios no mesmo tempo hist6rico, constituiu-se como uma representagao de prestigio social Os modelos de escola mudam com o tempo e devemos destacar os intelectuais da Idade Média, associados diretamente ao surgimento e crescimento das cidades (LE GOFF, 2003). © intelectual tinha como oficio escrever ¢ ensinar, constituindo um modelo que comeca a romper com o controle quase exclusivo da igreja em relagiio a transmissio do “saber”. Novos grupos sociais passam a ter acesso as escolas, mas outras necessidades formativas estardo presentes, como o desenvolvimento do comércio. Apresentei alguns exemplos vinculados a histéria da escola para demonstrar a relagio desta com as necessidades de um tempo particular, bem assim que a referida instituigao se transforma em certos aspectos, mas mantém caracteristicas de tempos anteriores, como no caso de se constituir como representante ¢ transmissora de um conhecimento reconhecido como “verdade”, 0 que ¢ fundamental para melhor compreender @ importancia desse instituto na sociedade humana, espago destinado a todos aqueles que almejam o poder mediados pelo conhecimento. E vedado nfo evocar 05 estudos realizados por Michel Foucault (1998a ¢ 1998b) a respeito da relagao do saber com o poder. Historicamente, os que querem alcangar e manter o poder procuram exercitar ¢ cultuar o conhecimento, Depois de estabelecer relagdes entre a constituigio das instituigdes escolares, suas relag3es com o poder ¢ o saber, bem como as particularidades dos modelos caracterizadas pelas necessidades de um tempo, devo proceder no cumprimento da particularidade do objetivo deste texto. O mundo contemporineo pode ser descrito por intermédio de muitos aspectos ¢ referenciais, Escolhi algumas caracterfsticas que acredito pertinentes para auxiliar na tarefa proposta. A velocidade das transformagSes EDUCARE Revista Centfica de Coldgla Milter de Frtalexa ~ na 5~ "7 ~ Man 2013 2 nos valores e tecnologias, associadas aos comportamentos sociais ¢ a insti igdio escolar, serio os “conceitos/caminhos” que utilizarei no desenvolvimento de minhas ideias. Vivemos em um mundo em que os valores sociais constituidos no convivio social no tempo sao objeto de transformagées constantes (BAUMAN, 2007). Convivemos na presenga da propaganda constante da necessidade de romper com valores que balizaram as relagdes sociais hé centenas de anos. Um exemplo é 0 estabelecimento dos lagos matrimoniais que tinham como principio 0 “até-que-a-morte- os-separe”. Hoje a expressio “ficar” virou conceito de relag&o de convivéncia a dois. Muitas pessoas, regidas por um hedonismo extremo, buscam conviver somente enquanto durar o prazer, sem mediarem com a compreenso de que a convivéncia social est associada ao controle dos desejos, se tenciona conviver com o outro. Nao é possivel ter a plenitude de vontades atendidas durante a existéncia, de cada qual, pois é necessiria uma mediacao entre prazer, desejos, convivéncia e softimento. O leitor, porém, pode se perguntar 0 que tudo isto tem de relagio com a escola ¢ a contemporaneidade. Acredito que tudo. Valores tidos como verdades sto questionados a cada dia ¢ em seu lugar se procura instituir a pritica de desejos em busca de prazeres. A escola, historicamente foi reconhecida como local de “sacrificio”, disciplina, verdades inquestionaveis, professores que afirmavam ¢ pouco estimulavam 0 questionamento, hoje & propagandeada em owtdoors como espago de lazer, descrevendo sua arquitetura ladica, enaltecendo os equipamentos tecnolégicos, n&o mencionando a qualificagao dos professores, a filosofia institucional, 0 trabalho educative com os estudantes que possuem dificuldades em aprender. Sao novas expressdes associadas a modelos de uma sociedade do agora A escola na contemporaneidade, em sua maioria, parece enaltecer os que tiram os primeiros lugares em concursos, exibindo, nos meios de propagagao coletiva, rosto e simbolos, que passam a ser representados como modelos de sucesso. Fico pensando por que as escolas nao divulgam quantos de seus estudantes se inscreveram e quantos foram aprovados. Acredito que tal propiciaria melhor julgamento do trabalho realizado pelas instituigdes se houvesse 4 mao dados mais consistentes em relago a inserigdes € resultados ¢ néo somente a divulgagao dos primeiros colocados em concutsos. No passado, somente os mais abastados e alguns escolhidos poderiam frequentar '$ poucas escolas. Depois da Revolugio Industrial, ocorreu uma disseminacao dos ideais de massificagao escolar e sucedeu um crescente aumento do ingresso de s educacionais (CAMBI, estudantes de seriados agrupamentos sociais nas institui ‘EDUCARE - Revista Cena da Coligia Milita de Jxtaleza ~ Cie 5~ 1 1999). Diferentes grupos possuiam, também, diversificadas caracteristicas e valores, mas posso perceber é que a escola passa a representar um espago de ascensao social. Os que nao tinham o privilégio do nascimento em uma familia recheada de bens poderiam, por intermédio da educagio sistematizada, alcangar melhoria social. Nao é um modelo que se aplica a todos os que tentam por via da referida instrug%0 a mobilidade social, mas muitos conseguiram ¢ ainda logram. E concebido o fato de que nao basta somente efetuar a matricula em um estabelecimento escolar para adquirir conhecimento e competéncia, pois ha condicionantes que precisam ser lembrados para melhor se compreender as reais condigdes de uma instituigao escolar, que possa contribuir com a melhoria das circunstancias sociais de uma populagao. A existéncia de uma sociedade em conflito de valores, na qual o hedonismo se contrapée a “verdades”, regulando a convivéncia social, motiva a necessidade de melhor compreender o papel da escola na contemporaneidade. Existem consenso ¢ leis que obrigam a frequéncia de todos, independentemente da posigao social, nas escolas, 0 que nao havia no inicio do século XIX. Mesmo cientes da existéncia de modelos distintos de escolas para diferentes grupos sociais, a necessidade de escolarizagao é uma realidade mundial. Vivemos um desafio da melhoria das performances de escolarizago e do cumprimento da exigéncia de insergao de todos nas escolas. So muitos os desafios da universalizagio da educagio, principalmente em um pais com as dimensdes do Brasil. Problemas de infraestrutura, falta de professores devidamente formados, oportunidades de trabalho adequadas, renda, participacio da familia no processo educacional, qualidade efetiva do labor levado a efeito nas instituigdes, constituem alguns dos desafios a superar. Escolhi alguns dos referidos fatores para refletir, neste comentario, acerca da escola, Primeiramente devo lembrar que, no mesmo tempo histérico, hd diferentes modelos de escola, € suas caracteristicas variam bastante em aspectos como estruturas fisicas, professores, modelos educacionais, estado social dos estudantes e docentes, entre outros tantos que caracterizam esses institutos. O que passo a descrever © questionar pode servir para melhor compreender as instituigdes educacionais, quando se procura observar ¢ refletir o seu funcionamento na sociedade do agora Dou continuidade a reflexiio pela admissio as instituigdes educacionais. Nao preciso relatar em detalhes que existe, logo de inicio, uma determinagao na escolha dos estabelecimentos, associado ao status cconémico e¢ social dos estudantes. As particulares cxistem para os que podem pagar ou pata os que conseguem, com o scu EDUCARE Revita Citic da Cagis Milton de Frtaleca~ Cina 5877 — He 2008 19 desempenho diferenciado, resultados que motivem os dirigentes dos estabelecimentos Pagos a concederem bolsas de estudos que poderao repercutir em propagandas futuras para enaltccimento desses casos, mesmo que niio seja mencionado, quase nunca, 0 esforgo pessoal dos estudantes ¢ sua familia na constituigao da sua vida escolar. Sabe-se qne muitas escolas “captam” estudantes de instituigées piiblicas para que depois possam utilizar seus resultados como publicidade. Partinda do caso mencionado, é possivel aleangar a ideia de que nao existe uma relagio determinante entre estudar em uma escola particular e obter bons resultados, até porque é preciso melhor definir o que seria obter bons resultados. O Brasil, em particular, vive um momento de valorizagao dos exames como parametro de tomada de decisio no concernente a politicas educacionais. Nio sou contra ter os resultados de exames como uma referéncia para se tomar decisdes, mas impde-se ter 0 cuidado para nao se viver uma “fixag&o” no que diz respeito a resultados, principalmente sabendo que, em se tratando’ de educagao, esses Preceitos ndo ocorrem de imediato ¢ sem um trabalho efetivo com investimento ¢ planejamento adequados. Quando uma familia vai efetivar a matricula de um de seus componentes em uma escola, deve ter a ciéncia do que pretende em relag3o ao trabalho da instituigao. conceito de bons resultados deve ser associado aos valores familiares ¢ As finalidades a serem alcangadas. E sabido o fato de que, no caso das escolas piblicas, ndo se tem muito o que escolher no tocante a particularidades de valores, até porque, na maioria das vezes, 0 estudante € matriculado de acordo com a existéncia de vagas e os pais nao ficam conhecendo nem a filosofia do estabelecimento escolar. Para comprovar o que estou relatando, basta fazer algumas indagagdes: Os pais conhecem os professores de seus filhos? Sabem a formagio deles? Conhecem a matriz curricular que ser trabalhada © as atividades que seu filho teré que realizar? Quantos pais participam efetivamente das atividades das escolas? Qual o valor que os pais creditam aos afazeres escolares? Eles acompanham ou estudam com seus filhos? Possuem habitos de leitura ¢ estudo? Nao € necessario citar pesquisas académicas para aferir a existéncia de uma relagdo direta entre methoria da aprendizagem dos estudantes ¢ participagao da familia nas atividades da escola. As familias que normalmente comparecem as reunides de pais so aquelas cujos filhos possuem menos dificuldades escolares. Acredito que, caso se pretenda melhorar resultados de ensino ¢ aprendizagem, deve-se cfetivamente trabalhar em uma participagaio maior da familia na educagao dos seus iguais, A arquitetura das escolas normalmente est constituida para um modelo de ensino que valoriza primordialmente a aula expositiva. As escolas praticamente sfio 0 conjunto das salas de aula. Com excecao de algumas, que valorizam outros espagos possibilitadores de aprendizagem, a maior parte do tempo que os estudantes passam ali & dentro das salas de aula, escutando aula, Existe uma valorizagio exacerbada da aprendizagem mediante escuta, mesmo que esta metodologia nao seja a mais eficiente no ato de aprender (MEIRIEUR, 1998). Ha de se considerar que somente assistir a aulas nao € 0 melhor caminho para melhorar os resultados de aprendizagem. Muitos pais ¢ estudantes ficam entusiasmados com a quantidade de aulas que uma escola oferece. O estudante permanece a maior parte do tempo na escola ouvindo o professor falar. A aprendizagem esté diretamente associada ao processo de interagdio ¢ manipulagao do que se pretende aprender (MEIRIEUR, 1998). As escolas deveriam investir em espagos € tempos destinados aos estudantes, para estudarem individualmente e em grupos, trabalhando com situagdes-problema que necessitem aplicagao do que estao estudando. © tempo em priticas em laboratérios deveria ser aumentado, espagos de convivéncia em que os professores ¢ estudantes conversassem de uma forma menos formal, mas centrada em problemas, poderiam fazer parte da arquitetura ¢ das atividades curticulares. O modelo de ensino das instituigdes educacionais est muito centrado na escuta € no papel unidirecional das informagdes transmitidas pelos professores. Em um mundo em que a midia € cada vez mais utilizada como ferramenta de interago conectividade, ainda se vive em uma aula da esenta. Como os estudantes, que utilizam a Internet para participar e opinar sobre tudo, suportam aulas de monélogos centrados na transmissiio de informagdes? Os professores so cobrados para serem comunicadores, utilizando estratégias para manter 0 “piiblico” atento as suas exposigdes. m muitos casos, valem piadas associadas ao contetido, uma linguagem corporal diversificada ¢ estimulante, tudo 0 que possa manter 0 estudante atento. Nao sou contra o professor ser um bom comunicador, mas a esséncia da relaglo com o estudante deve ser 0 ados & aquisigaéo de informagées. Devo estabelecer 0 diferente entre informagio e conhecimento a ser adquirido. Muitas aulas sao verdadeiros espetaculos, mas de: conhecimento, Informag&es sio um conjunto de dados devidamente organizados, analisados e processados. Conhecimento, porém, é a capacidade de estabelecer relagdes, avaliar, segundo critérios estabelecidos, exige processo de manipulagio ¢ aplicagao das informagdes. Muitos estudantes controlam informagdes que aprenderam nas aulas ¢ nos materiais didéticos, mas nfo sabem para que servem nem como os empregar em uma EDUCARE Revista Cintifica da Callgie Miftar de Fortaleza ~ ea 5—N".7 = Sax. 2018, situagao cotidiana, Muitas vezes repetem o que foi dito, mas so incapazes de explicar © que estao afirmando. Certa vez perguntei a um estudante 0 que caracterizaria 0 inicio do periodo republicano no Brasil em relagdio aos aspectos politicos. A resposta foi uma descrigao de fatos que realmente tinham significado com 0 que eu havia solicitado, mas logo perguntei o que era uma repiiblica e 0 mesmo estudante nao conseguiu articular as informagdes para constituir a resposta necessdria. Parece que ele detinha varias informag&es sobre 0 periodo republicano brasileiro, mas ndo lograva explicar o que era uma repiiblica. Nao quero alongar com exemplos que todos os leitores conhecem, considerando 0 cotidiano escolar, mas ¢ necessério tomar decisdes sobre o que fazer em relagao ao modelo de escola hoje em curso. Quando se trata de modelos cducacionais, é necessério saber qual a filosofia que izacdo do norteia refer lo modelo. Como mencionei que vivemos atualmente uma val que chamo a escola de resultados, destacando 0 cnaltecimento dos que ficam em primeiro nas listas, lembro que tais resultados passam a ser utilizados como estimulo aos que nela nem aparecem. Acredito ser importante descrever esta situagdo utilizando uma descrigdo relativa aos resultados que algumas escolas piblicas alcangam’ no ranking, estabelecido atualmente. As escolas piiblicas que tiram os melhores resultados sdio as que possuem sistemas de selegdo para ingresso de estudantes, mas nao seria dificil trabalhar e aprimorar os que ja so enquadrados como bons, Nao estou afirmando que estas mesmas escolas no fazem um bom trabalho, mas os estudantes que clas recebem, normalmente, no stio aqueles que possuem problemas de aprendizagem ou quaisquer outros que possam dificultar os resultados nos exames. Fico pensando 0 que estas ndo feito com os que n&o conseguem ser selecionados. Certo dia, em uma conferéncia que ministrei sobre avaliagao do ensit 10 ¢ aprendizagem, alguém da plateia Perguntou se eu era contra ou a favor da reprovagdo. Respondi com duas perguntas. Se reprovar os estudantes trabalharei, especificamente, as dificuldades que ele possui, Possibilitando a melhoria da aprendizagem ¢ o auxiliando na superagao de suas dificuldades? E se 0 aprovar, mesmo o aluno nao alcangando os objetivos previamente instituidos, trabatharei estas dificuldades de forma especifica, permitindo que possa seguir na sua formag&o sem o actimulo de dificuldades que poderd produzir problemas? Sao perguntas que ficam sem resposta porque, normalmente, nossa decisio é pela Teprovag’o ou aprovacdo ¢ no no que deveria ser realizado para sanar os problemas de aprendizagem. O que ocorre, normalmente, é a realizago de exames € nao avaliagao, Quando se aplica um instrumento de avaliagao, que pode ser uma prova, estudo dirigido te | EDUCARE - Revista Centifica de Colégio Militae de Festabeca = Une 5— A" 7 ~ Maw. 2013 ou forma qualquer de coleta de dados sobre 0 conhecimento dos estudantes, considerando os resultados, ha de se tomar decisées do que deve ser feito para sanar os problemas detectados ¢ nao somente registrar os resultados ¢ entregar para os estudantes e suas familias (LUCKESI, 2008). E necess4ria uma escola que trabalhe a eliminagao da dificuldade € nao 0 enaltecimento do acerto! 6 necessirio um Para se poder trabalhar as dificuldades dos estudantes planejamento mais sistemitico ¢ eficiente. Em uma pesquisa recente realizada por uma orientanda de mestrado, entrevistando professores universitérios em um curso de licenciatura, foi verifieado que nao se dava o devido valor ao planejamento das aulas ¢ aos processos de avaliagio. Muitos professores nem entregam os programas das disciplinas que ministram ¢ os cstudantes relataram que muitas aulas sio 0 mero cumprimento de comentarios sobre textos selecionados, sem uma justificativa associada 08 objetivos que deverao ser aleangados ¢ a relagiio com o restante da matriz curricular do curso. Reflito acerca de quais escolas fazem o trabalho com seus professores para que cles planejem juntos, procurando inter-relacionar os contetidos que ministram, Quantos professores saberiam explicar a relagdo entre os conteddos que ministram e os objetivos a serem alcangados na série em que esto ministrando suas aulas? Quantas escolas, com professores de uma disciplina especifica, planejam juntos, mesmo ensinando em séries diferentes, para melhorar a sistemética ¢ sequenciamento légico dos teores a serem trabalhados? Sera que os estudantes so informados sobre que vao estudar no inicio do periodo letivo, demonstrando a importancia dos conhecimentos a serem adquiridos e os desafios que podem encontrar nas suas vidas? Sao muitas as indagagdes, mas, que se precisa fazer, a fim de serem rompidos os entraves que dificultam a existéncia ¢ o trabalho eficiente de uma instituigdo educacional Ao se considerar a necessidade de posi¢ao no ranking a que estdo sobmetidos os estudantes e suas escolas, nota-se que a mudanga no modelo de instrumento nfo se trata de avaliagdo © sim de exames. E a expansao da oferta de vagas no ensino superior, também, alterou a sistematica de funcionamento de grande parte dos estabelecimentos educacionais. O surgimento de mais instituigdes de ensino superior fez com que os conhecidos cursinhos entrassem em crise. Os estudantes que podiam pagar estes cursos preparatérios passaram a ter maior facilidade de ingresso com a diminuigio da concorréncia, Isto n&o ocorreu para todos os cursos e instituigdes, mas houve uma diminuigao drastica na procura pelos cursinhos. Muitos que podiam pagar um desses, agora, pagam um curso superior. Tais estabelecimentos, no entanto, se transformaram, oO ‘EDUCARE- Revista Conti da Calegia Mit de Fotaleza~ Qua 5~ 7.7 ~ Mar. 2018 a ca passaram a preparar alunos para programas especificos, ainda muito concorridos e cujos resultados servem para modelar a publicidade de algumas escolas. E estas tencionam convencer que a aprovagio de alguns de seus estudantes, os quais, na maioria das vezes, nfio seguiam os mesmos modelos de formagio do restante dos seus frequentadores, representa o trabalho realizado pela instituigio. A maioria dos aprovados nos cursos mais seletivos do Brasil possui formag%o totalmente diferenciada, com professores preparados quase exclusivamente para auxiliar na preparagdo, acesso a materiais especialmente prontos para a finalidade anteriormente relatada, e tempo, muito tempo, dedicado a estudar e nao somente assistir as aulas. Os colégios que mais aparecem com estudantes vestindo suas camisetas em jornais que propagandeiam © “sucesso” das aprovagdes possuem todo um sistema paralelo de formagio. Reflexiono se existe todo um aparato especifico para os estudantes com dificuldade. Ha professores devidamente formados para tratar das dificuldades dos estudantes? Existe material especifico, com a qualidade necessdria para auxiliar na aprendizagem dos que mais precisam? B necessério trabalhar para atender a maioria ¢ nfo somente aos que possum mais habilidades. Tenho um parente que trabalha especificamente com a preparagdio de estudantes que iro se submeter a concursos. Em uma conversa sobre os modelos de ensino e aprendizagem, questionei-o, acentuando que ensinar para quem possui facilidade no ato de aprender nao é um desafio tao extremo, mas lecionar ¢ auxiliar na aprendizagem dos que tém dificuldade é realmente tarefa herctilea. Atualmente trabalho especificamente com a formagao de professores ¢ encontro desafios que no seriam dificeis de serem transpostos se fossem tomadas decisdes que realmente estivessem associadas a principios de competéncia e responsabilidade. Inicialmente, destaco o fato de que a carreira docente nao ¢ uma das que atraem aqueles estudantes que estampam seus rostos nos jomais, representando o sucesso da aprovagio das escolas em que estudavam. Nao quero afirmar que no magistério somente ingressem 05 que nao conseguiram formagao em outras profissdes. Sou professor de dois cursos de licenciatura ¢ ha oito semestres realizo uma consulta aos estudantes, perguntando quem realmente escolheu a profissao magistério ou esta cursando uma licenciatura porque foi mais fécil a aprovagao. Os resultados variam um pouco a cada semestre, mas nunca ficam acima de cinquenta por cento os que realmente querem 0 magistério. Com esta afirmativa, mesmo se tratando de uma situagdo local e especifica, sem a devida condigao de generalizagAo, fico pensando sobre o restante que esta realizando formagaio no magistério e nao quer ser professor. E possivel verificar 0 indice de concludentes nos i a) “EDUCARE~ Revista Centfica de Coligin Militar de Faxtateca~ Cua 5~.N*.7 ~ Max. 2013 24 cursos de magistério, em especial os de Matematica, Fisica, Quimica e Biologia, cuja quantidade de estudantes que se formam é muito inferior aos admitidos. Sabe-se que as, reas citadas anteriormente sfio as de maior caréncia de professores no Brasil. Hoje se discute a urgéncia de formar professores para suprit a demanda de formagao necessiria em um pafs enorme como 0 Brasil. Como mencionei, sio muitos os desafios, ¢ as solugdes passam por muitas decisées a serem tomadas, pois muitas requerem agdes de longo prazo ¢ investimentos que ndo podem ser cobrados em forma de qualidade em educa¢o a curto prazo; mas se pode fazer muito agora. Ciente de que a escola representou ¢ ainda representa uma instituigdo inserida nas relagdes de constitui¢o, manutengdo ¢ transformagio do poder, ela é ferramenta fundamental na melhoria social. A escola precisa fazer parte das “redes de discussio” social, questionando seu valor e possibilidades na Iuta pela sociedade que se pretende, Precisa-se valorizar 0 conhecimento € néo ficar preocupado somente em criar uma relagao social eminentemente hedonista, um culto ao prazer extremo ¢ perpétuo. E. necessério valorizar o esforgo e a dedicagéio de todos os que precisam do conhecimento para serem mais e melhores. Nao se hé de “cultuar” os primeiros e esquecer que depois deles esté a maioria ¢ que estes devem ser ajudados a superar suas Gificuldades, nao para serem os primeiros, mas para constituirem uma sociedade melhor ¢ mais igual. Propée-se valorizar 0 ato de crescer junto ¢ nao segregar pela diferenga. Mesmo nio sendo solidério com a politica de ranking, quero saber quais as escolas cujos seus estudantes mais conseguem ser iguais no sucesso de aprender e ser melhores seres humanos. Fica esta escritura, auxiliando a refletir, para todos os que querem, precisam e lutam por uma educago mais universalmente de qualidade. REFERENCIAS BAUMAN, Zygmunt. Tempos liquidos. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007. CAMBI, Franco, Histéria da Pedagogia. S40 Paulo: Editora UNESP, 1999. CUNHA, Antdnio Geraldo da. Diciondrio etimolégico Nova Fronteira da lingua portuguesa, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. FOUCAULT, Michel. Microfisica do poder. Trad. Roberto Machado. Rio de Janciro: Graal, 1998a. . Vigiar e punir: nascimento da prisdo. Trad. Raquel Ramalhete. Petrépolis: Vozes, 1998b. EDUCARE - Reirta Ciouificn da Coligia Militar de Frtabeza~ Ane 5—N%.7 ~ Max. 2013, LE GOFF, Jacques, Os intelectuais na Idade Média. Trad. Marcus de Castro. 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