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JaMes CuirroRD ROUTES: TRAVEL AND TRANSLATION IN THE Lave TWENTIETH CENTURY Cambridge, MA e Londres, Harvard University Press, 1997. Quando James Clifford prope que olhemos terreno enguanto local - lease itinerério em vex de espago fisicamente delimitado - de encontros, viagens, negociagbes, contacts, no esté apenas a ‘tragar um possvel futuro metodol6gico para a ‘nografia mas, também, a reeserever parte da sua histria ‘A questo inicil de Travels ~ a primeira parte de Routes, seguida da segunda e tereira secgbes, respectivamente inttuladas “Contacts” e "Futu- tes” ~€ a de saber como constitu a etmograia os seus objects em temos espacais e através de que Dréticas espaciais de pesquisa. Tomemos a figura de Bronislaw Malinowski-e a etnografia mo- ddema por ele formalizada ~ como exemplo. Que Imagem guardamos do seu trabalho de campo? Certamente aquela que o seu discurso e as suas fotografia autorizam: longe da civilizagéo, uma itha, uma tenda disposta no centro da aldeia (quem observa quem’; a aldeia como sinédoque dla cultura no imaginétio etnogrdfico cléssio), residéncia intensiva (¢ as destocacbes e relacBes exteriores 8 aldela? Os contactos com governa- ores, comerciantes, ports cdades do Pacifico, 4 troca de correspondéncia, no poderio ser entendidos enquanto fontee pritica de pesquisa etnogréticas?),actividade profisional diéria, capa- cidade de pensar e sentir como 0s nativos (Mali- rnowski, um indigena entre os indigenas), sida preparagio teérica e conhecimento da lingua nativa, presenca participagdo nas actividades quotidianas da aldeia. As imagens poderiam estender-se. No entanto, 0 que importa aqui sax lientar € esta ideia de trabalho de campo enquanto deslocamento fisio do etndgrafo, de casa para um ‘outro lugar e @ permanénia intensiva no destino como garantia de observacio e andlise aprofun- dadas da populacio alvo. O estar (habitat) lé de que fala Chiford Geertz era, na viragem do século ~ por necessidade de disciplinamento da antropologia de modo a demarcar-se das préticas ditas “amadortstcas” dos missionérios,oficiais administrativose esrtores-visjantes ~a marca de profissionalizagio do etndgrato. Recensdes A posigio de James Clifford, eslarego desde ifs no a de reftar ow desconsderarapritic de cia ntensiva no oc prescrita por Franz Boas, Malinonski, Margaret Mead ou Rayrond Firth, enguanto elemento central para 2 auto- defnilo crediilidade da disiplia. A prética normatva de fazer etografia ana € do deslo- camento do etndgrato, com 0 fim de permaneser {ir par fear I) ~Clitford nota constantemente Contd, no deixa de fornecer exemplos de peiticasetnogrfices contemporiness, como a5 etnografias mil-situadss, que elegem terrenos pero de casa, em meio urbanos, om informantes aque se deslocam a casa do etndgrato, com etnd- arafos que seem os secs informants. O terreno assim, entendido como um espago mével, 0 espago em que a duplaetngraforinfomante se achalocalizade, A posigo do autor advinha-se. E necessrio expands disursivamente a nog clissia de trabalho de campo que colocaénfase noir tr cam, no fear ntalado em, a ideologia observador-observados. E, sublinho, que esta expansio se exerca em termosdiscurivos, porque o trabalho de campo que igualeviagem e perma- néncia, que acontga pela recprocdade da obser- vvagio © do contacto, pelo jogo das neyociabes, pelo apoio de uma ree exterior de institu, familiares, coleges,e tudo 0 mais que possamos imaginar como fisiamente fore do espago © do tempo em que ssituaoencontoetnogrico, 80 se apresent,enquant prtica real de pesquisa, como uma inovaciocifordina Plo conic: © trabalho de eampo sempre consist nue mist de deslocagéese de presengasefectivas no lca No fentanto, a sua iealizagto dscipinar sempre ten- seu a submete as prticasetnogrificas de estar dentro ¢ fora de wa cultura ds de permanecer Esta mobiidade caraceriza nfo sa figura do etndgrao no exerci da sua activdade ~ 0 trabalho de campo assim entendo como prétce de viagem ~mas também as clas por ele est dadas.A visto extereotpada de alts indigenas enraizadas (0 enraizamento cultural surge no ‘magindro elnogréico clissico como sindnimo e conéigio de purezae autenicidade)€ alvo de tengo por part de James Cliford. A afirmasto do autor, algo provocadora, de que a cutira htana tanto pode se emograficamenteestudada nas Crabas como em Brooklyn pretende soment apelar pars a necessidade de penstrmos compa rativamente 35 ras e ais (routs e ros) das 361 populagdes ~ condigdo esta necesséria para o re fazer da acgio cultural, ‘Num livro anterior ~ a leitura de Routes nio ddispensa obviamente a de The Prdicement of Cul ture (1988) ~ Cliford relata um processo juridico ‘curioso, corrido em 1977 no Tribunal Federal de Boston. Um grupo de cidadios de Massachusetts, {que alegam ser descendentes dos indios wam- ppanoag, sto requetidos a provar em tribunal essa sua identidade, de modo a poderem dispor Jegalmente das terras que reivindicar como suas (© que esta em causa, tendo presente que os queixosos so, aparentemente, no final da década de 70, cidadios de Massachusetts como outros quaisquer, é 0 convencimento dos jurados da aulenticidade daquelas pessoas. F como convencer 0 jurados,falando do Grande Espirito rum inglés perfeito? A exigéncia do tribunal parece, pois, ‘esquecer as rotase consderar apenas as raizes dos Wampanoag ~ apesar das evidéncias da ‘aculturagéo, da assimilacao, do contacto e trans- formagao. Tsto é, a efectiva hibridez. cultural parece afigurarse de impossivel correspondéncia ‘com a autenticidade que os jurados exigem ser demonstrada Nogies como estas dizem respeito 2 ident dade das pessoas e, também, dos objectos em culagio. “Contacts” ~ segunda seogio do livro ~ dedica especial atengfo a0s espacos museolégicos enguanto zonas de contacto ~ espacos onde pes- soas de culturas diferentes se encontram, nego- ceiam € interagem em relagées assimétricas de poder. capitulo “Four Northwest Coast Muse- ‘ums: Travel Reflections’, por exemplo, analisa 0 ‘modo como artefacts indigenas da costa noroeste americana foram deslocados do seu contexto cul= tural de origem para museus piblicos e colecgées privadas ocidentais e, mais tarde, reapropriadas [por chefs e familias indigenas, sob a condicio de permanecerem em museus e centros culturais locais recentemente criados. Numa viagem a Vancouver em Agosto de 1988, Clifford foi 20 encontro desses objectos enquanto visitante do University of British Columbia Museum of An- thropology, do Kwagiulth Museum and Cultural Centre, do Royal British Columbia Museum e do U’Mista Cultural Centre. Surgem, assim, reflexes © impressbes sobre a arquitectura de cada um esses museus, os espacos interiors, as opgSes de contextualizagio dos artefactos expostos (histrica e/ou estética), suportes expositives, audiéncias, 362 ambig6es, statutes, relages exterores com outras Insttuigbes, actividades promovidas, etc. A pro- posta de Clifford ¢, pois, a de reflectir sobre 0 Aiscurso expositiva de cada museu, ou melhor, de salas,galerias e piss, sem esquecer a anise do percuso dos objects ea emengéncahistrica dos useus vsitados. ‘A forma como os artefactos (quis) si exb- dos (fel representacSo das vides indigenas acerca da sua cultura material) narra uma estria ‘Atendendo ao curiulo de vida particular daque- Tn mascara, aderegos, armas, canoas,escltces totémicas, casas de chefes, ete. -arafatos apro- priados por brancos e reapropriados por indige- ‘as, numa viagem, em tempos diferentes, de ida volta marcada por negociagBes e conflitos -, CCifford garante que a estériasnarradas so as da populagio indgena mas, também, a sua (nossa) pia histria, Por fim, “Futures” altima parte de Routes. Nesta seo tematiza-sea difsporae sto dscut- dos os problemas em defini aprovstcamente esta noglo. As digsporas podem ser visas como comunidades minoriérias expatriadas que (1) estio dispersas do seu “centro” oxiginal,em pelo ‘menos dois lugares “perifricos”; (2) mantém tuma ‘memériae uma visio da sua terra natal (3) créem rio serem totalmente aceites no pais de acolhi- mento; (4) alimentam 0 desejo de regresso num futuro incerto; (5) estio comprometidas com a emulagio do pats de oxigom; (6 e ejaconscigncia e solidariedade enquanto grupo é definida por «sta relagio de contnuidade ede “proximidade” 20 seu pals, Estas caractoristcas, ainda que nos ajudem a compreender fendmeno da didspora, ‘io devem, no seu conjunto, ser tomadas como ‘modelo no qual se podem encaixa,indiscrimi- nadamente, aménics, plestinianos,cubanos ou jndeus. Aposigo de James Clifordéa de que adits ppora, enguanto termo tradutério, deve ser de rida por relaglo a outeos termos tradutérios: viagem, imigrasSo, fronteirae exlio. Segundo 0 autos difspora difere de viagem ~ apesar de se constitu ateavés de priticas de viagem ~ na me- dida em que nao € temporaria. Envolve, sso sim, residéncia, comunidades estabelcidas,construgso de “casas” longe de casa. Difere, também, das poliias de assimilagdo ligadas ao fenémeno de imigracio, que visam apenas integra imigrantes ‘endo populagses em didspora. Por fim, dstngse- -se de fronteira, que pressupse um terrtério definido por uma linha geopolitica ~ isto é dois espacos arbitrariamente separados e policiados, ‘mas tamibém juntos por priticas legis eilegais de travessia ecomunicagio, Ao invés, diéspora signi- fica longas dstinciase uma separagio semelhante do exilio (ressalvando-se, contudo, 0 facto de que este & vivido individualmente). Clifford vai construindo, assim, um discurso sobre a didspora pautado por relagSes de oposiqdo,e que é também jum comentario sobre identidades plorais e parcais Afnal, 6 essa experiéncia de viver num lugar e lembrar/desejar outro, de estar aqui € assumir lagas com 0 que se imagina esta I, que define a didspora. Routes tem, assim, como cenério a mobilidade das cultura. Turismo, trabalho migratsrio, ext, colonialismo, locaizacoes mitiplas de uma populagio dispersa ~ pessoas e objectos em cir- culagfo (emporéria ou nfo) que transportam uma identidade que é vivida, reinventada, contada, traduzida, negociada, no encontro com autas. Viagens e contactos transnacionais de pessoas, coisas e meios de comunicagzo que no desem- boca numa ditecgao historicatinica, O futuro das culturasndo ¢ singular ou homogeneizante Ea esrita sobre elas também néo tem que o ser, ‘como o demonsira este livro, a0 reunircapstulos ensaistces, poesia, reflexes de viagem e colagens de citagbes. Leonor Pires Martins ‘Cento de stds de Antropol Socal (SCTE) (MARK 8. FLEISHER BEGGARS AND THIEVES: LIVES OF URBAN STREET CRIMINALS Madinson, The University of Wisconsin Press, 1995, Beggars and Thieves: Lives of Urban Street Criminals coloca-nos perante uma pesquisa que consegue abalar algumas ideias instaladas. Questiona-se, nomeadamente, o que € 0 trabalho de um antro- ppélogo, como se relaciona a teoria com a pritica, 8 Investigaglo com a escrita, e tenta-se ainda ‘mostrar como se pode tornar til uma pesquisa, tanto pela sua definigéo inicial, como pela apica- ‘a0 dos seus resultados. O que se torna parti- Cularmente notavel nesta obra 6 a forma como as Recensdes questdes acim enumeradas no si apresentadas de um modo auténomo € desenrtizado mas express a0 longo de uma etnogafia mucosa. Teniar encontrar a iliagio teria deste texto na influécia directa da Escola de Chicago € um estratagema apressado, uma vez que ela se ins- creve numa produgio que, embora devedora das preocupagées te6rias levantadas por esta Escola, fem actualmentenos Estados Unidos uma diver sidade de abordagens e origens insiticionais Incompatvel com a busca de invluéncias tericas lineares ou a aplicacio mimética de modelos datados de anslse. Neste caso, valea pena subli- har aimportinciaterica que tem em Begars and Thiewes a rellexdo sobre o papel scial da pesquisa aniropol6gicae a espeifidade dos seus métodos. Quando se tem por referéncia uma long hist recente de convivéncia (complexa) entre pesquisa social ea sua utilizaggonainformagio de polticas sociais, deam de constitu novidade o terreno escolhido, a sua pertnéncia social e a possibi- lidade de aplicacio dos resultados da pesquisa Fleisher dum excelente exemplo de como a Independénaa intelectual eo rigor analtcoestéo Anica e exclusivamente na ponia da caneta e na Jmplicagio explicita do autor na elaboragdo da pesquisa. ( prop6sito de Mark S. Fleisher é realizar uma etnografia das trajctrias de vida de adoles- centes ¢ adultos eximinosos, denominados “hus- ters’ uma categorizaczo que engloba “taficantes de droga”, “vieiados em cocaina e heroine”, *alodlicos",“pedintes, “ladrées’, “adolescentes pertencentes a gangs, ou se, 08 criminosos que Consttuem um dos maiores problemas de segu- ranga que afectam as cidades.Apesar do contexto de marginalidade abordado, todos 0s procedi- rmentos metodoldgicos se estruturam, no para estudar a problemtica do cime, mas para carac terizar os tragos socais,cogntivs e emocioais dos criminosos crnicos. Esta caracterizacéo de rivaessencialmente da anise do diseutso biog fico dos sueitos observados,recolhido através de entrevstas de observacio directa, de forma a compor 0 ponto de vista em que ests se situam, 4 sua visio peculiar do mundo, expressa na descrigio da relagio que mantém com a vida. Ao demarear a abordagem realizada neste caso dos estudos sobre problematicas afins (pobreza, estrutura de classe ou criminologia), 0 autor separa o problema socal do problema sociolégico, 363, transformando o que foi chamado de "patologia social” numa revelagio das diversas modalidades de vida neste contexto, a partic das suas préplas ‘coordenadas, A construgdo do objcto de Fleisher no ests isenta de complexidade, apesar de se socorrer de elementos reconhecidos socialmente; disso sio exemplo 0s locais de inquérito etogrifico (as esquinas frequentadas pelos criminosos de rua, os bares, as prises, as esquadras de policia, os abrigos, a8 missBes, ete), a “ilegitimidade” que caracteriza as priticas das pessoas sujeitas a estudo, bem como a avaliagio da violéncia ex- tema com que muitas dessa pritcas se revestem. Portant, hd uma fronteira indelével com que o investigador se defronta, que consiste na sepa- ragHo entre a “legalidade” a “ilegalidade” Acrescenta-se o problema do grou de toleincia social mitua entre cbservadore observados, para «que sa possivelestabelecer uma relacdo pr6xima ste conjunto de factores, que parece set apenas de natureza pritca, tem favorecido que a8 abordagens realizadas com propésitos etnogré- ficos semelhantes se tenham construido através da atribuigio de demasiada “racionalidade” e “estru- tura” onde elas ndo existem. A aproximagio em lose up &reaidade da vida de rua é fundamental para ume visio “emic”. Exemplifica-se aqui como se tomou possivelchegar as questbes realmente signifcaivas para os criminosos, determinanclo os termos em que estes tornam comunicéves a suas priticas e revelam as alteragdes nas suas vidas. ‘A organizagio do texto escrito faz-se no sen- tido inverso 20 da investigagdo. Fisher avanga ‘no capitulo introdutri os conceitos-chave da saa anilise ¢o argumento centeal da obra, dotando ‘assim de inicio olitor com tas 0 instrumentos necessérios para confer intligibilidadeteérica a um material profundamente rico em transeigbes do discurso oral. Deste modo, fcamos a saber que 4 determinagdo principal que o autor encontra para a configuragio dos comportaments,estilos de Vida dseutsosa que vamos assists deriva da similitude das circunstancias familiares em que todos os hustlers, sem excepgo, vivem os seus primeiros anes: o convivio com pais negligentes e [pouco securizantesafectivamente, a pobreza e ‘exposigio a violEncia. 50b 0 ponto de vista “expli-

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