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Uma Aventura

Estaminal
Argumento João Ramalho-Santos
Desenhos André Caetano
Edição
Imprensa Universidade de Coimbra
Rua da Ilha, 1
3000-214 Coimbra

Email: imprensauc@ci.uc.pt
URL: http://www.uc.pt/imprensa _ uc
Vendas online: http://livrariadaimprensa.uc.pt

Título
Uma Aventura Estaminal

Argumento
João Ramalho-Santos

Desenhos
André Caetano

Produção e revisão de texto


Teresa Girão

Pré-Impressão
Imprensa da Universidade de Coimbra

ISBN
978-989-26-0591-3

Impressão
Norprint

Depósito Legal

1 a Edição

Tiragem: 20.000 Exemplares

Obra Publicada com o apoio de

Copyright © 2013. Imprensa da Universidade de Coimbra e Centro de Neurociências e Biologia Celular


A Vida é feita de possibilidades…

e opções.

A todos os níveis.

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À medida que o corpo se de- No feto, células que começaram a
senvolve há decisões que são formar os ossos deixam de poder
tomadas, constantemente. formar os músculos.

Ambas adquirem características distintas, igualmente importantes


de modo a poderem desempenhar funções para o organismo.
específicas, Muito diferentes…

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Mais tarde temos outros tipos de Escolhemos Escolhemos ser
opções na vida, tomamos outras deci- profissões. Namorados ou Amigos.
sões. Escolhemos Ciências, Humanida-
des, Artes, Tecnologias.

Ficar ou Partir. A plasticidade


diminui, trocada por um Mas quantas
potencial a concretizar. destas decisões
Deixamos de poder, são fixas, definiti-
passamos a fazer. É o vas, sem retorno?
destino, dizem. Que plasticidade
existe ainda na vida,
no organismo,
nas células?

Podemos
fintar
o destino?

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Talvez sim, talvez não. Talvez às vezes.Exis- Por isso é que os livros de Biologia que ensinaram
te certamente muito mais plasticidade do os nossos pais já não servem para nós.
que antes pensávamos.

Entretanto aprendemos muitas Sobre células estaminais,


coisas novas, foi preciso escrever por exemplo.
outros livros.

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Os inícios têm sempre
tanto de incerteza
quanto de potencial.

Quando um espermato- O zigoto é um embrião compos-


zóide fertiliza um ovóci- to por uma só célula. Uma cé-
to e se forma um zigoto lula que poderá dar origem à
não é diferente. totalidade de um indivíduo adul-
to. Uma célula que pode dar
tudo. Uma célula totipotente.

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O zigoto divide-se, formando um embrião com
duas células. Cada uma delas é ainda totipotente,
caso se separem formar-se-ão gémeos idênticos.

Essa capacidade vai-se perdendo à medida


que o embrião se desenvolve.

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Cerca de cinco dias após a fertiliza- O blastocisto tem dois tipos de células: as
ção, antes de se implantar no útero, células do trofoblasto e as do pluriblasto.
o embrião é uma estrutura mais
complexa, chamada blastocisto.

Por darem origem a todos os tipos celulares do organismo,


O trofoblasto irá contribuir para a
as células do pluriblasto denominam-se pluripotentes.
formação da placenta. O pluriblasto
irá formar todo o feto.

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neurónios. células cardíacas.
A partir do pluriblasto as células vão toman-
do diferentes destinos, adquirindo diferen-
tes propriedades de modo a poderem desem-
penhar funções distintas no organismo.

pele. osso. O desenvolvimento embrionário é


de uma complexidade precisa.

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Não é fácil estudar e com- Mas a verdade é
preender este processo, que funciona.
que tem lugar no útero.

Mesmo após o nascimento Cresce, modifica-se, E mantém alguma capacidade


o organismo não deixa de desenvolve-se. de renovação.
ser plástico.

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Por exemplo, as células da pele vão
morrendo, escamando (como quando a
pele “cai” após o “bronze” de Verão), e
são substituídas por novas células.

As células do sangue Têm um tempo de vida Na pele e na medula óssea existem por isso as
bem definido. a medula óssea produz cons- chamadas células estaminais.
tantemente novas células sanguíneas para Estas células têm duas propriedades básicas.
substituir as que vão morrendo.

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A primeira é uma capacidade de A segunda é a capacidade de diferenciação. Ou seja, uma célula
renovação permanente. Ou seja, estaminal consegue produzir outros tipos de células com
cada célula estaminal consegue propriedades específicas. Por exemplo, células da pele ou
fazer mais células estaminais. células do sangue. Chama-se a essa propriedade diferenciação.

Há portanto células estaminais na pele


e células estaminais hematopoiéticas Mas nem todas as células do organismo se
(produtoras de sangue) renovam com tanta facilidade. Antes pensa-
na medula óssea. va-se que nos músculos e no cérebro não
existiam células estaminais, e que por isso
a sua capacidade de renovação seria inexis-
tente. Era o que vinha nos livros.

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Só que mais tarde foram descobertas células
estaminais musculares e células estaminais ner-
vosas, mostrando que, apesar de tudo, também
os músculos e o tecido nervoso têm alguma
capacidade de renovação.

E lá tiveram de se escrever
novos livros de Biologia.

Estas células
Quando uma célula As células estaminais de ovário e testícu-
estaminais existem no
estaminal apenas se lo só formam ovócitos e espermatozoides.
organismo adulto. To-
diferencia num tipo de
das se denominam por
célula que desempe-
isso células estaminais
nha uma dada função
adultas.
chama-se unipotente.

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Quando dá origem a vários A célula estaminal hematopoiética, por glóbulos brancos…
tipos de células diferentes exemplo, consegue formar todos os
chama-se multipotente. diferentes tipos de células do sangue:

glóbulos vermelhos… e plaquetas. As célu- As células estaminais adultas


las estaminais hema- são utilizadas clinicamente há
topoiéticas são por muitos anos. Os transplantes de
isso células estaminais medula óssea são, na verdade,
multipotentes. transplantes de células estami-
nais hematopoiéticas.

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Neste caso o objetivo é substituir as células
estaminais produtoras de sangue de um paciente
(afetadas, por exemplo, por uma leucemia), por cé-
lulas estaminais de um dador compatível, que irão
passar a produzir o novo sangue do paciente.

Trata-se de um exemplo de terapia


celular, resolver um estado de doença
substituindo umas células por outras,
mais funcionais ou livres de doença.

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As células estaminais hematopoiéticas do cor-
As células estaminais do cordão
dão podem, tal como as da medula óssea, ser
umbilical têm também algumas
utilizadas em transplantes, para substituir o
propriedades importantes.
sistema sanguíneo de um paciente compatível.
No entanto, essa capacidade é limitada, e depen-
de também da idade do paciente

Um adulto não consegue ser curado com células no entanto não existem ainda aplicações
estaminais de um só cordão umbilical. clínicas concretas. O que não
O cordão umbilical tem ainda outros tipos de cé- quer dizer que não venham a existir.
lulas estaminais, capazes de gerar cartilagem, Quer no adulto quer no cordão
osso, e alguns tipos de células nervosas. umbilical existem pois células
estaminais multipotentes.

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Voltemos um pouco atrás Se as células do pluriblasto forem
no tempo. Ao blastocisto, removidas de um blastocisto e co-
o embrião que se vai locadas em cultura elas perdem o
implantar no útero. seu contexto biológico.

Dividem-se indefinidamente à espera Ou seja, cada célula forma


de instruções, sem saber bem que mais células iguais.
tipo de células devem formar.

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Como têm uma capacidade
Como podem formar todos os tipos celulares do
de renovação permanente
organismo (como o pluriplasto de onde provieram)
estas células designam-se,
chamam-se células estaminais pluripotentes.
à semelhança de células
do organismo adulto,
células estaminais.

Como foram originadas a


partir de embriões também Pelo contrário as células estaminais do organismo
se designam por células adulto ou do cordão umbilical podem formar alguns ti-
estaminais embrionárias. pos celulares do organismo, dependendo do local onde
se encontrarem, mas não todos os tipos de células.
Daí se designarem multipotentes.

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As células estaminais embrionárias são um ex- Em que consistem essas instruções?
celente modelo biológico. Essencialmente em acrescentar ao meio
Como se dividem indefinidamente podem obter- de cultura diferentes fatores, tentando
-se milhões de células em cultura. recapitular fora do organismo o que
Como são pluripotentes podem dar origem a sucede dentro dele.
qualquer tipo de célula, mesmo estando fora
do organismo. Basta que para isso
recebam instruções corretas e precisas.

Com células estaminais embrionárias Devido às suas caraterísticas, podem


pode pois estudar-se o desenvolvi- também ser utilizadas para diferentes ti-
mento do organismo ao microscópio, pos de testes para ensaiar substâncias
quando ele normalmente ocorre num ou para estudar doenças, minimizando o
local de difícil acesso: o útero. uso de animais de laboratório.

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Por último, é possível que a partir destas célu- Órgãos em que algumas
las estaminais embrionárias se possam produzir células morreram, como se
diferentes tipos de células com funções espe- fossem peças defeituosas
cíficas, que, após transplante, possam reparar que é preciso substituir.
órgãos humanos afetados por lesões diversas.

Tal como com os Diabetes, Doenças cardíacas, lesões da espinal medula ou doen-
transplantes, é o ça de Parkinson são alguns exemplos de patologias que pode-
que se designa por rão ser abordadas com esta estratégia, porque todas implicam a
Terapia Celular. morte de diferentes tipos de células no organismo.

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Há muita investigação a decorrer em células adul-
E é possível uti- sim, mas como tas, por exemplo com células estaminais de gordura,
lizar células es- estas são multi- obtidas por lipossucção em clínicas de estética e
taminais adultas potentes, for- em células estaminais mesenquimatosas, sobretudo
com esse mesmo mam menos tipos na produção de osso e cartilagem.
objetivo? celulares. E o que hoje não é possível, amanhã talvez já seja.

A terapia celular levanta várias questões. Os tecidos humanos são mais complexos,
Desde logo as células crescem geralmente em têm uma estrutura tridimensional.
frascos e caixas de Petri, em duas dimensões.

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Torna-se por isso necessário Claro que não basta diferenciar células esta-
utilizar estratégias de bioen- minais noutros tipos de células úteis.
genharia para criar diferentes As células que se transplantam têm de fun-
estruturas de modo a que as cé- cionar como se fossem células originais do
lulas estaminais possam crescer organismo, e integrar-se nele, como peças
e diferenciar em três dimensões. que encaixam perfeitamente.

Por outro lado, tem de se garantir que as


Mas há ainda um ponto crucial. A compatibilidade.
células não se dividem de forma indiscri-
O organismo rejeita todas as células que consi-
minada após serem transplantadas, o que
dera como estranhas, como não sendo suas. É um
poderia resultar na formação de tumores.
mecanismo que ajuda a combater infeções, mas que
dificulta o sucesso de transplantes.

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É possível retirar células es- tentar diferenciá-las e voltar a transplantá-las
taminais adultas de um paciente em cultura… para o mesmo paciente.
(por exemplo de gordura)… As células são suas, não
irão ser rejeitadas.

No entanto, estas células estami- Esses tipos celulares só se Mas estas células foram
nais adultas são multipotentes, e obtêm com facilidade a partir de retiradas de embriões no
ainda não se conseguiram diferen- células pluripotentes, como as estádio de blastocisto,
ciar eficazmente em muitos tipos células estaminais embrionárias. não serão iguais às célu-
celulares cruciais do ponto de las de nenhum paciente.
vista terapêutico, como células
cardíacas e nervosas.

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Como
Para serem utilizadas, um pa- Seria preciso forçar células com
encontrar células
ciente teria de tomar imunos- outras caraterísticas a tornarem-se
estaminais pluripo-
supressores, como sucede em pluripotentes ou seja, reprogramá-
tentes compatíveis
transplantes de órgãos. las, ensinar-lhes novas funções.
com um determinado
paciente?

Durante
O inglês Sir John Gurdon ganhou o Prémio Nobel
anos pensou-se que a
da Fisiologia e Medicina em 2012, com base nos seus
clonagem (ou transfe-
trabalhos pioneiros nesta área, utilizando anfíbios.
rência nuclear somáti-
ca) seria a resposta
para este problema.

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A ideia era colocar o dentro no interior de um
núcleo da célula de um ovócito sem DNA, para que
paciente (tirada da pele, este o reprogramasse.
por exemplo)…

No fundo usar o ovócito é como se uma célula já com uma profissão


para “convencer” a definida voltasse à escola primária, e pudes-
célula da pele que agora se escolher outra vez o seu destino desde
era um zigoto, e deveria o início. Em vez de triar o “curso” de pele,
formar um embrião. tirava o “curso” de cérebro ou coração.

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O embrião clonado não seria depois transferido Em vez disso o embrião
para um útero, o que teria dado origem a um clonado evoluiria para
indivíduo geneticamente idêntico ao paciente, blastocisto no laboratório,
como aconteceu com o nascimento, em 1996, extraindo-se depois as
da ovelha “Dolly”, o primeiro mamífero clonado células do pluriblasto.
a partir de uma célula adulta de outra ovelha.

Células estaminais em­


brionárias pluripotentes, Esta estratégia
mas compatíveis com designava-se por
o paciente, porque clonagem
clonadas a partir dele. terapêutica.

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Mais tarde,já no século XXI,
Só que a clonagem revelou-se um processo
surgiu uma nova estratégia.
complicado, muito pouco eficaz, e, quando
aplicado a humanos, eticamente controverso
devido ao uso de ovócitos e embriões.

foi possível
Pegando em modificá-las, trans-
células simples formá-las em células
de obter de um estaminais pluripo-
paciente, por tentes, sem utilizar
exemplo da pele ovócitos ou criar
ou do sangue… embriões.

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Neste processo de reprogramação O japonês Shinya Yamanaka recebeu também o Prémio Nobel da
as células que se formam no fim Fisiologia e Medicina em 2012, por ter descoberto esta via.
chamam-se células pluripotentes
induzidas (ou iPS).

Ainda mais recente é a reprogramação


As células iPS são tão pluripotentes como direta, ou transdiferenciação, em que uma
as células estaminais embrionárias, e o seu célula da pele ou do sangue de um pacien­
uso levanta problemas éticos diferentes. te pode ser transformada diretamente
numa célula de um outro tipo.

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por exemplo, numa ou nervosa.
célula cardíaca… É como se uma
célula já com uma
profissão definida
passasse logo a ter
outra profissão…

Se calhar é
sem ter de voltar à escola
Afinal as coisas possível fintar
primária, ou sequer tirar um
são mais o destino.
curso por correspondência.
plásticas do
que o que
pensávamos.

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Mas modificar Muito do que
células fora do corpo aprendemos com célu-
para as podermos las estaminais (adultas,
depois reintroduzir embrionárias, iPS) fora
de modo a curar uma do organismo talvez
doença não é a única possa ser utilizado para
estratégia possível. estimular as células
estaminais adultas que já
lá estão, sem qualquer
necessidade de
transplantes.

Que tipos de
células serão mais
Claro que Como poderemos
úteis, e em que situa-
ainda há muitas coi- garantir que irão
ções? Quais as plata-
sas que é preciso sa- desempenhar as
formas e estímulos
ber antes que estes funções pretendidas,
necessários para as
conceitos possam e não causar danos
ativar, expandir, diferen-
ser aplicados na inesperados?
ciar, controlar?
prática.

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Obter resultados positivos com células em São precisos muitos ensaios prévios, de modo
cultura ou com animais de laboratório não a assegurar que tudo decorre em segurança,
significa que se possa passar logo para com as maiores probabilidades de êxito.
intervenções em seres humanos.

Por último, é importante referir que nem Caso o problema tenha por base um defeito
sempre as células de um paciente poderão genético hereditário todas as células do
ser diretamente utilizadas para o tratar. paciente irão ter essa mesma característica,
incluindo células estaminais.

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Nestes casos será preciso por exemplo trocando por uma versão normal
corrigir o problema antes de um gene que não funciona desse mesmo gene.
qualquer intervenção… corretamente…

A junção da
terapia génica com a
tecnologia de cé-
lulas estaminais é
É o que se
outro aspeto com
chama Terapia
grande potencial
Génica.
para desenvolvimen-
tos futuros.

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Hoje sabemos que Tal como o
o desenvolvimento nosso destino,
de uma célula no só é fixo se
organismo não é Que o seu quisermos que
linear. destino pode o seja.
não ser fixo.

Sabemos hoje coisas que E a única previsão possível é


os nossos pais não sabiam. que aparecerão ainda outras
descobertas, algumas mais
ou menos esperadas, outras Temos um
que ninguém ainda sonhou. futuro imprevisível,
e isso é bom.
É o que faz o
presente ser tão
interessante.

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