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Tal poema contêm em si alguns princípios que norteiam a tradição oral. Quais são esses
princípios? Qual a importância ritual e as funções sociais que as palavras e o ato da fala
possuem para as tradições orais africanas?
De acordo com PETIT & CRUZ (?), “diante do esfacelamento dos laços
familiares e da desterritorialização forçosa” houve uma recriação desses laços forjados
nos terreiros de candomblé, nas grandes famílias que escolhem e são escolhidas,
independentemente dos laços sanguíneos imediatos1. Assim, o Axé, força vital de
concretização das ações, que se fortalece com a prática, tem que ser referendado a todo
tempo e momento através da palavra. “A fala (a palavra) é um dom divino que tanto
pode criar harmonia como destruir, segundo o uso que é feito dela” (PETIT & CRUZ
(?)).
Ser fiel e verdadeiro para com a palavra é o principio de tudo. Nas religiões
africanas e da diáspora a palavra dita em seu anverso, ou seja, a mentira, pode provocar
um grande dano não só a pessoa que a disse, mas como a toda comunidade a qual ela
pertence. De acordo com Hampaté Bâ (1974:19), “Na África tradicional, quem falta à
própria palavra mata sua pessoa civil, religiosa e oculta. Afasta-se de si mesmo e da
sociedade. Para si mesmo e para os seus, seria preferível sua morte a sua
sobrevivência”.
É possível perceber diante das “falas” dos autores o quanto a palavra possui
credibilidade, diferentemente do que sancionou as civilizações que utilizam a escrita
1
Aqui me referencio as famílias no formato europeu em que são considerados família um núcleo que se
inserem pai, mãe e filhos. Diferentemente da concepção de família africana onde esses laços podem
estender-se aos vizinhos, seja, a comunidade inteira é uma família.
como meio de credibilidade para se dizer do que é verdadeiro. Nesse âmbito, o que se
deve ter como verdadeiro é o que se está no papel, assim, a palavra não vale nada.
Levando-se em conta que na diáspora os negros não tiveram acesso à escrita, acredita-se
que suas palavras não passam de meras estórias ao invés de histórias.
Referências:
PETIT, Sandra Haydée & CRUZ, Norval Batista. Arkhé: corpo, simbologia e
ancestralidade como canais de ensinamento da educação.