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Sy Ber lo Gelne Area Tematica 1 Analise do discurso ANAIS ELETRONICOS DA XXVI JORNADA DO GRUPO DE ESTUDOS LINGUISTICOS DO NORDESTE Capitulo da obra Pesquisas em Lingua, Linguistica e Literatura no Nordeste: uma Jornada de quase 40 anos do Gelne. ISBN 978-85-66530-69-8 ATOS DISCURSIVOS VEICULADOS POR PROFESSORES EM UM GRUPO NA REDE FACEBOOK AGUINALDO GOMES DE SOUZA (UFPE) Questées iniciais Se considerarmos que nenhum enunciado concreto pode ser tomado no todo de sua significacdo observando apenas as propriedades estruturais de uma frase, somos forgados a considerar que nenhum ato de compreensdo pode ser esgotado apenas se levarmos em conta 0 processo de decodificagao do cédigo ou o reconhe- cimento de algum sinal dentro da estrutura linguistica. A significaco, j4 observava Volochinov (1999, p.131 ), “nao quer dizer nada em si mesma, ela é apenas um po- tencial, uma possibilidade de significar no interior de um tema concreto”. Ora, se é apenas uma possibilidade, qual é a relacao entre o acento apreciativo e o processo de significacdo? Essa questo torna-se pertinente quando, por exemplo, pensamos na natureza da significagao ligada a certos atos discursivos que se entrecruzam em horizontes valorativos. Mas antes de adentramos nestas questdes, fagamos um breve recuo, pois é forcoso dizer que, no fazer bakhtiniano, para que possam existir acentos apreciativos faz-se necessdrio considerar que nos comunicamos através de enunciados e nao de frases, a frase como aponta Morsom; Emersom (2008, p.141) “& uma unidade da linguagem e o enunciado é uma unidade da comunicagao dis- cursiva", Desse modo, para que dada unidade da IIngua possa se tornar enunciado, ela deve receber um tratamento valorativo. Tal tratamento acontece quando, em relacdo com 0 outro, o locutor toma uma atitude responsiva frente a um ato/evento concreto. Em ‘Para uma Filosofia do Ato’, Bakhtin vai apontar que a linguagem historica- mente sempre esteve a servico do pensamento participativo e dos atos realizados. Nesse sentido, é forgo dizer que o ato é algo que o eu deve encarar. E nesse manus- crito que Bakhtin vai esbocar as questées iniciais sobre uma teoria e metodologia 851 da ago dialégica como ato responsavel em pesquisa nas ciéncias humanas. Para tanto, como mostra Paiva (2005), ele vai retomar as ideias iniciais de Husser| sobre © conceito evento do ser, Para Bakhtin (1990), o ser esta encarnado em uma consci- €ncia viva e vive nele como um evento em proceso. Todo ato, afirma Bakhtin, tem uma dupla face: ele se dirige tanto para o contetido quanto para o ser. Ora, tal pers- pectiva nos abre a possibilidade de compreendermos a posi¢4o Unica que ocupa- mos na existéncia, nos permite vislumbra que, os atos valorativos do ser, requerem a plenitude da palavra com todo seu conceito (contetido) sua entonacao (a atitude valorativa) e sua posi¢o Unica como ato responsdvel. Nesse sentido, reiteramos Alcantara et al. (2011) quando diz que a0 evidenciar 0 acento apreciativo, Bakhtin ver colocar a entoacao ex- pressiva como a transmissora mais clara da apreciagao social contida na palavra, O acento apreciativo é transmitido por meio da entoacao expressiva que diz respeito & rela¢ao individual do locutor e 0 objeto do discurso. Analisando um texto de Dostoievski, retirado de No Didrio de um Escritor, Bakhtin mostra-nos como a entoagdo diferente, dada por seis falantes a um mesmo enunciado, torna diferente seu tema. Isso se da porque a conversa é conduzida por meio de entoagdes que expres- sam as apreciacées de cada interlocutor imprimindo em cada entoacdo uma realizaco particular, expressiva, profunda, Aentoacao, o acento apreciativo é constitutivo da enunciacdo e neste trabalho ela é verificada na confluéncia da atividade de fazer docente. Nesse sentido, acre- ditamos que os atos discursivos veiculados por professores em um grupo no Face- book pode deixar desvelar significagdes diversas a respeito do fazer laboral, este fazer docente, aqui é visto como uma atividade humana em situacdo real. Trata-se, pois de um olhar para a linguagem e o trabalho dentro de uma perspectiva ergolé- gica. A ergologia, como acentua Schwartz (1999), est alicercada em um conjunto de conhecimento sobre a atividade humana, possuindo como foco 0 trabalho e toda a complexidade de normas e antecedentes que nao se constitui apenas a partir da re- peticdo mec4nica por parte dos trabalhadores, mas é antes um espaco que compre- ende o trabalhador e toda sua subjetividade. Nas palavras de Schwartz (2011, p.33) 852 uma atividade de trabalho é sempre o lugar, mais ou menos infinitesi- malmente, de reapreciagao, de julgamentos sobre os procedimentos, os quadros, os objetos do trabalho, e por ai ndo cessa de ligar um vaivém entre 0 micro do trabalho e o macro da vida social cristalizada, incorpo- rada nessas normas. Vaivém que no deixa incélume nenhum dos dois niveis, O que quer dizer que a historia da vida econémica, politica, social, no pode ser escrita sem um olhar sobre esses multiplos vaivéns. Considerando 0 trabalho e toda a sua complexidade, considerando que o pen- samento participative do fazer docente é também um ato responsdvel que é ma- terializado na palavra, somos levados a inferir que a ago provocada por sujeitos dentro de um agir dialégico em atividade de trabalho, nao é apenas individual, mas & guiado em diregdo ao outro (a alteridade constitutiva dessa relacéio). O trabalho docente € 0 espaco onde o Ser entra em contraste com todas as formas de coer¢ées que so inerentes a essas relagGes sociais. Trata-se de um processo onde a a¢do e 0 pensamento participativo em torno da atividade, so executadas e expressas em forma de trabalho, um trabalho traduzido em atos discursivos, atos que nos per- mite verificar os aspectos apreciativos das enunciagées desses sujeitos. Em ‘Para uma Filosofia do Ato’, Bakhtin vai apontar que a linguagem historicamente sempre esteve a servico do pensamento participativo e dos atos realizados. Assim, no que diz respeito 4 dimensao da linguagem, consideramos, com Faita (2010), que esta é inseparavel das atividades, sendo ela mesma uma atividade que nos permite agir sobre 0 outro e sobre nés mesmos, nessa direcdo é forcoso dizer que é por meio da linguagem que cada ser em processo de real devir vai mobilizar ou remobilizar saberes conforme as circunstdncias e sua posi¢o Unica ocupada na existéncia. Operacionalidades conceituais e metodoldégicas Para operacionalizar nossas observacées nos valemos do método dialégico discursivo, este, como mostra Porto (2010, p. 280), “langa mao de abordagens de carater subjetivo de levantamento, descricdo e interpretacdo de dados, para explo- rar qualitativamente aspectos da subjetividade dos sujeitos falantes, os quais nao podem ser obtidos por métodos convencionais de anélise quantitativa”, Embora, como enuncia Brait (2006), no possamos dizer que Bakhtin fundou uma andlise/ 853 teoria dialégica do discurso, os estudos das obras de Bakhtin e o circulo, iniciados No Brasil a partir da década de 1990, tiveram consequéncias visiveis nos estudos da linguagem o que de certa forma estabeleceu a busca de um método. Mas, para falar em metodologia e seus desdobramentos em Bakhtin, é preciso ter em mente o modo como 0 filésofo pensava as ciéncias humanas e como ele per- cebia seu objeto de estudo. Bakhtin (2003) vai pensar esse fazer ciéncia justamente quando ele conjectura o modo como as ciéncias da natureza e as naturais sao for- muladas. Para 0 autor, neste tipo de fazer cientifico sé existia espaco para um sujei- to dito cognoscente cuja principal tarefa era observar e descrever seu objeto dentro de uma perspectiva monolégica, como notamos, trata-se de uma monologizaco do saber em que o intelecto contempla uma coisa muda e emite um enunciado sobre ela, Nesta forma de fazer ciéncia sé havia espaco para o cognoscente, que se conduz por normas da observacdo introspectiva. A atividade cognitiva desse modo é vista como uma atividade monolégica que contempla um objeto estatico e ndo permite ao ser de ciéncia experimentar 0 todo, isto é: quando consideramos que o todo se trata do homem dialégico. A esse respeito é interessante notar que Bakhtin (2003, p. 40) esclarece que Qualquer objeto do saber (incluindo o homem) pode ser percebido conhecido como coisa. Mas 0 sujeito como tal nao pode ser percebido e estudado como coisa porque, como sujeito e permanecendo sujeito, ndo pode tornar-se mudo; consequentemente, o conhecimento que se tem dele s6 pode ser dialégico. Ao analisar a epistemologia das ciéncias humanas, Bakhtin (2003, p.398) vai eleger 0 processo de compreensdo como aquele comum as ciéncias do espirito, 0 qual é particularmente dialégico e faz parte da atividade dialégica do cognoscente. Para 0 filésofo, a compreensdo engloba quatro atos: 1) A percep¢io psicofisiolégica do signo fisico (palavra, cor, forma espacial). 2) O reconhecimento do signo (como algo conhecido ou desconhecido); a compreensdo de sua significado reproduzivel (geral) na lingua. 3) A compreensdo de sua significado em dado contexto (contt- guo ou distante). 4) A compreensao dialégica ativa (concordancia-discordancia); a insergdo num contexto dialégico; 0 julzo de valor, seu grau de profundidade e de universalidade 854 Desse ponto de vista é valido dizer que o fazer cl€ncia nas humanidades é sem- pre ter em mente um objeto que ndo se resume a coisa muda, mas antes é participe de uma dialégica das relacdes. E isto nos leva ao problema do texto e da palavra, isto é, se consideramos que as ciéncias humanas so em Ultima anélise as ciéncias das letras, da palavra. Ainda assim é preciso considerar, como bem acentua Porto (2010, p.284) que “o desenvolvimento de uma teoria e de um método dialégico de anilise discursiva, partindo das reflexdes de Bakhtin e seu Circulo, englobam um conjunto de categorias, conceitos e nocdes que “especificam uma postura dialégica diante de um corpus discursivo, da metodologia e do pesquisador”. Outro conceito operacional que utilizamos em nossas andlises diz respeito ao aporte teérico provenientes da ergologia, como a descreve Yves Schwartz. A ergo- logia, no entender de Schwartz (1999) é constituida por um conjunto de saberes que versam sobre o fazer laboral humano, sobre a atividade humana. Cujo objeto de estudo € a atividade humana em situagdo real, trata-se de um conhecimento sobre a atividade que tem na interdisciplinaridade o mecanismo capaz de abarcar a complexidade existente entre o trabalho prescrito e o trabalho real. Nesse sentido Schwartz (1997; 1999; 2011) e o seu Grupo de Andlise pluridisciplinar' apontam para 0 fato de que os trabalhadores sdo mais que meros repetidores de tarefas pres- critas, mas so antes sujeitos que utilizam toda a subjetividade como um espaco de renormatizagGes. Trata-se de um espaco onde a atividade humana é pensada como uma arena de “normas heterodeterminadas que antecedem seu andamento e as experiéncias recriadoras dos sujeitos, as renormatizagées que se processam em cada gesto e em cada situages", como assinalou Franca (2004, p.124). Essas praticas linguageiras sao aqui analisadas levando em consideracdo a triparticao de Lacoste (1998) para quem a fala dos trabalhadores esta presente no trabalho de trés modalidades distintas, a saber: a linguagem no trabalho, como trabalho e sobre o trabalho. A“linguagem no trabalho" diz respeito & linguagern presente na prépria construcéo da atividade; a “linguagem como trabalho” refere-se ao fazer material 1. grupo de Trabalho liderado pelo pesquisador chama-se APST e est situado na Universidade de Provence-Franca. 855 produzido pela linguagem e; a “linguagem sobre o trabalho” é revelada no interior da prépria atividade em funso das exigéncias impostas pela equipe ou pela empresa, dentro do discurso cotidiano entre colegas ou para explicar para um ator externo a atividade de trabalho, COCKELL; PERTICARRARI (2008) © deslocamento necessdrio que fazemos aqui diz respeito justamente a essa formulacao de Lacoste, optamos por analisar apenas a linguagem sobre o trabalho fora do ambiente de trabalho, em um grupo de discussdo onde os professores da rede estadual de Pernambuco se encontram, este grupo esta alocado na rede Face- book. Essa op¢éio metodoldgica se ancora no fato de que na atividade de trabalho nem sempre os conhecimentos so verbalizados, pois, como afirma Cockell; Perti- carrari (2008, p.70) “o trabalho real nao da lugar a uma mesma atividade social de verbalizacao. Ele se faz, ele se realiza, ele é o lugar de conhecimentos incorporados mais do que verbalizados. Nem sempre o trabalhador consegue verbalizar como desenvolve sua atividade". Da natureza da pesquisa e sua abordagem Optamos neste estudo pela abordagem fenomenolégica como proposta por Husserl, em conjunto com 0 método dialégico discursive que tem por substrato os escritos de Bakhtin. A fenomenologia é um método de investigagao e a primazia principal dessa abordagem diz respeito ao estudo dos fenémenos que aparecem a consciéncia. Trata-se de um modo de investiga¢ao em que o fenomendlogo deve ir as coisas mesmas deixando-as se revelar. Deste ponto de vista, podemos dizer tam- bém que esta uma forma de pesquisa qualitativa. Breve descri¢do do espaco onde os atos discursivos se processam Antes de iniciarmos a anilise per si do espago onde os atos discursivos se pro- cessam, faz-se necessdrio voltamos para 0 conceito de atos discursivos. Inicialmen- te, a problematica dos atos foi abordada por Bakhtin em Para uma filosofia do ato 856 (1920- 1924). Sampaio (2009) aponta que Bakhtin vai desenvolver o conceito de atos humanos, quando revisita a ideia de Husserl sobre a consciéncia projetada no ser. Para Bakhtin (1990) o ser est presente em uma consciéncia viva como um evento em processo de real devir e esta conscigncia orientam-se e vive nele em um evento. Tais fundamentos abrem espaco para que 0 filésofo trace algumas consideragdes sobre a posico singular e Unica que o ser ocupa na existéncia e as consequéncias desses eventos. Nesse sentido, Sobral (2008, p.224) verifica que todos os atos “tém em comum alguns elementos: um sujeito que age, um lugar em que esse sujeito age e um mo- mento em que age. Isso se aplica tanto aos atos realizados na presenca de outros sujeitos como aos atos realizados sem a presenca de outros sujeitos, aos atos cog- nitivos que no tenham expressao linguistica etc”, De igual modo, o ato responsavel 6 sempre materializado na palavra, 0 que, como afirma Sampaio (2009), equivale a dizer, no texto e no discurso. Quando voltamos nossos olhos para o lugar onde esses atos se realizam, ou seja, para o local que permite aos sujeitos realizarem atos discursivos com ou sem a presenca de outros sujeitos, verificamos algumas particularidades constitutivas e inerentes a este lugar. A seguir faremos algumas consideracdes a respeito disto. Arrede social Facebook? é um software que funciona em nuvem, deste ponto de vista, como todo software ele possui duas partes que em trabalhos anteriores (SOUZA, 2010) demos o nome de forma arquiteténica e forma mecnica. Forma ar- quiteténica é um termo que Bakhtin abduziu de Kant? para tratar das questdes da linguagem. Nao € importante para nés esse sentido especifico utilizado pelo autor, se transportamos este termo para nossas conjecturas a respeito da constituicao dos softwares é mais como uma metdfora que engloba uma série de elementos e nao sé da ordem da linguagem. Por analogia empregamos o termo forma mecanica para tratarmos de funcdes operadas no nivel mais abstrato do projeto de software. Poderiamos descrever o software Facebook como um lugar onde o plurilinguismo e 2. No decorrer deste texto utilizaremos como sindnimos os termos software e rede social para tratar- mos do Facebook, sem que com isto haja novas atribuicdes de sentidos. 3. Kant Kritik der praktischen Vernunft. Edigiio da Academia, vol. V, p.8, trad. de Artur Moro, Lisboa, Edicdes 70, 1986, p.16(KpV, V, 8:16) 857 © agir dialégico se encontram, trata-se de um espaco de interlocugdo formado ndo sé por paginas pessoais mais por paginas de empresas e por grupos de discussao. A nés nos interessa mais detidamente esse Ultimo espaco da rede social uma vez que em um dos grupos (0 grupo de professores de Pernambuco) iremos nos debrucar mais detidamente. O grupo Professores de Pernambuco possuia na época da nossa investida 26.382 membros, nele sao discutidos temas referentes ao fazer pedagégico, ao fazer laboral dos docentes bem como temas da atualidade. E um lu- gar onde as relagées alteritarias, exotépicas e dialégicas tomam forma e constituem a dinamica do ser em processo. E fato que ao olhar para a rede social em questo, a primeira coisa que nos chama a atencao diz respeito 4s questdes referentes a alteridade que sao, em andli- se, frutos das interacdes do ser e que a mecnica do software possibilita’. Ora, para compreender isto pensemos em outro conceito que tomamos emprestado de Bakh- tin, trata-se do conceito de cronotopo®. O Facebook possibilita uma nova forma de cronotopo, possibilita novas formas de relacées sociais: “a recriagdo de um mundo espaco-temporal adequado, um cronotopo novo para um homem novo, harmonio- so, inteiro, e de novas formas de relagées humanas. Bakhtin (1998, p.283)". Para compreendermos isto imaginemos por um minuto a interface do Facebook, nela verificamos varios espacos que em conjunto formam o todo. Ha um espaco para escrever algo, ha um espaco onde é possivel ver os mem- bros, hd um espaco onde os membros podem responder a outros membros, ha um espaco onde membros do grupo podem convidar outras pessoas para participar do grupo, hd espacos para publicidade etc. De todos esses cronotopos, o que vai nos € 0 cronotopo que proporciona um tipo particular de interacdo, ou seja, 0 cronoto- po que funciona a moda de um férum de discussdo, como verificamos em Souza (2016). Ao que tudo indica, as relagdes que se estabelecern nesse cronotopo sao de 4, Alguns poderiam objetivar dizendo que a mecnica do software ndo permite nada, para esses di amos para olhar o tempo passado quando os softwares ndo possuiam interface grafica, quando cada comando era feito por linhas de cédigos por um Unico sujeito e as interacdes aos moldes como conhe- cemos hoje ndo existiam. Feito esse exercicio é possivel dizer que a evolucao das interfaces e da meca- nica permitiu 0 aparecimento de interacées variadas. 5. Para mais detalhes a respeito do conceito foi trabalhado por Bakhtin na obra ‘The dialogic imagina- tion’ ([1975] 1988) e no ensaio ‘Forms of time and of the chronotope in the novel 858 uma ordem diferente uma vez que nele podemos ver surgir dentro da rede social Facebook relagdes que perpassam pela alteridade (eu/tu). E neste espaco em que os atos discursivos ganham contornos. Consideragées sobre a andlise dos atos discursivos Para analisarmos os atos discursivos veiculados pelos professores da rede pu- blica de Pernambuco em um grupo na rede Facebook, estamos considerando que: 1- 0s atos discursivos sobre o fazer docente, o discurso sobre o trabalho nao esta circunscrito ao local de trabalho; 2- a alteridade € elemento constitutivo e direcio- nador no ambito da atividade; 3- 0 agir dialégico 6 imbuido por uma aco que esta em contraste com outros atos, com outros sujeitos e envolve varios aspectos, como os psiquicos, identitarios e sociais, como acentuou Bakhtin (1993); 4- 0 pensamen- to participativo e o fazer docente é um ato responsavel que tem na palavra a sua materializacdo. Procuremos demonstrar como este ato discursivo pode ser exem- plificado através da aco linguageira sobre o trabalho. Para tanto, tal andlise sera desencadeada pelas narrativas encontradas no grupo de professores. £ importante atentar que esse texto em nenhum momento esté dissociado do préprio labor do- cente, trata-se como veremos, de uma posi¢4o Unica ocupada pelo profissional e que no lugar Unico da existéncia redige um pensamento acerca de sua atividade ou dos elementos coercitivos que fazem parte de tal atividade. Aanilise da primeira narrativa é iniciada por uma enunciacao de um dos mem- bros do referido, grupo. Trata-se de uma enunciaco sobre o Fundo de Manutencao e Desenvolvimento da Educagao Basica e de Valorizagao dos Profissionais da Edu- cago (Fundeb), aqui é preciso fazer algumas consideracées: 0 fato desta temética aparecer dentro de um espaco de interlocugo como o grupo de professores de Pernambuco ocorre por ser o Fundeb uma receita enviada pela unio aos munici- pios para que estes possam aplicar em todas as etapas da educagao basica. Além disto, 0 dinheiro do financiamento também pode ser aplicado no pagamento dos professores e demais profissionais de educacao. Dai decorre o interesse dos mem- bros do grupo por esta tematica. Observe a imagem 01: 859 Imagem 01 E interessante notar que esta primeira enunciagdo sobre um ato de trabalho & uma agao dialégica na qual o ser-evento provoca uma alteridade radical entre o eu e 0 outro a ponto deste outro ir em direcao a essa enunciacao. Esse enunciacao, como veremos gera uma disputa de sentidos e aces na esfera dos atos executados na vida. Isso coloca em evidéncia que a narrativa inicial é uma enunciacSo dialégica na medida em que a partir delas ha outras valoragées a respeito do tema, conforme podemos ver na imagem 02. ae Se ee Imagem 02 Note que a primeira resposta & enunciacdo inicial diz respeito a uma pergunta: “Ef sobrou nada para o professor?". Esta primeira enunciacdo nos leva a apreensao imediata de que a narrativa inicial acaba por desencadear uma resposta dialégica, ou ainda, que os atos valorativos do ser, requerem a plenitude da palavra com todo seu conceito (contetido) sua entonagdo (a atitude valorativa) e sua posicao Unica 860 como ato responsvel, como mostramos anteriormente. A segunda enunciagao “Estou cada vez mais querendo sair do estado. Infelizmente, a cada dia que passa esté piorando e muitos professores achando tudo étimo. Nao esté dando pra mim” coloca em evidencia o que est acentuado neste ato discursivo, ou seja, os valores éticos, profissionais e existéncias. Trata-se de uma experiéncia Unica do ser que € corro- borado sequencialmente pelo terceiro ato discursivo, ou como chamamos, por um ato responsivel acionado pela meméria da desvalorizacao profissional tao comum aos docentes da rede publica estadual. Notemos que em nenhum momento o texto narrative que iniciou o debate dentro do grupo est dissociado da esfera do tra- balho e do fazer docente, é antes elemento para que as apreciacées valorativas a respeito das praticas docentes acontecam, assim é que a orientacdo de um conte- Udo-sentido sobre a atividade de trabalho sé pode ser desvelada quando levamos em consideragao o ser-evento e sua meméria-trabalho. Consideragées Finais O software Facebook é um espaco onde as experiéncias recriadoras dos su- jeitos e suas renormatizaces perpassam as atividades. Tal perspectiva permite ao analista pesquisador um novo Iécus de investigacdo. Esses grupos tematicos sao, pois, arenas onde a atividade humana é pensada e cuja construgao passa necessa- riamente pelo Ambito da atividade. Neles, podemos verificar que as praticas lingua- geiras revelam mais das subjetividades dos sujeitos e que nem sempre a relacao entre o trabalho prescrito e o trabalho real e todas as normalizacées inerentes a esse fazer se circunscreve no local de trabalho. Trata-se assim de uma dialégica das relagdes em que um conjunto de saberes é requerido, e tais saberes deixam- se revelar através da entoagdo, do acento apreciative que € constitutivo de toda e qualquer enunciagdo, Referéncias ALCANTARA, R.G; GONGALVES, R.T; Maristela G.P. Interacao verbal, tema e significado, Pré-Discente: Caderno de Prod. Acad.-Cient. v. 17 n. 1 Jan./Jun. 2011. BAKHTIN. Art and answerability. Austin: University of Texas Press, 1990, 861 _____. Questées de literatura e de estética: a teoria do romance. Tradugao do russo por Auora F. Bernadini. 4ed. So Paulo: Ed. Unesp/Hucitec, 1988. _____.. Estética da criagéo verbal, Trad. do russo de Paulo Bezerra. Sdo Paulo: Martins Fontes, 2003. 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