Vous êtes sur la page 1sur 21

OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS

SOBRE AS DESIGUALDADES DE RENDA


Uma análise da década de 2000

Flavio Alex de Oliveira Carvalhaes


Rogério Jerônimo Barbosa
Pedro Herculano G. F. de Souza
Carlos Antônio Costa Ribeiro

Introdução De forma geral, um pesquisador interessado no


estudo desse tema tem diante de si dois tipos de
O Brasil tem uma das piores distribuições de estratégia. Na primeira, há um caminho no qual a
renda do mundo. No entanto, nos últimos anos, a preocupação central é entender aspectos que estru-
desigualdade de rendimentos tem caído sistematica- turam o nível de renda dos indivíduos, basicamente
mente (Ferreira e Barros, 1998; Ferreira e Litchfield, através da associação entre variáveis num modelo
2001; Silva, 2003; Barros et al., 2006b; a; Ferreira et multivariado. Um economista destacaria a impor-
al., 2006). Ao mesmo tempo, desde meados da últi- tância do nível de escolaridade e da experiência do
ma década, a retomada do crescimento econômico indivíduo (capital humano), além de outros fato-
promoveu forte expansão do assalariamento formal res relacionados à produtividade (Becker, 1976).
e queda do desemprego (Guimarães, 2012). Esse ce- Apesar das diferenças disciplinares, um sociólogo
nário motiva o questionamento sobre a relação entre diante do mesmo tema se comporta de forma rela-
esses dois processos, isto é, sobre como as tendên- tivamente parecida. Se estereotipássemos os nossos
cias ocupacionais do mercado de trabalho brasileiro colegas de profissão como fizemos com os econo-
se relacionam com a queda das desigualdades. Neste mistas, o destaque iria para o papel da estrutura
artigo, pretendemos compreender como as desigual- ocupacional e de fatores adscritos ou “herdados”
dades se relacionam com a estrutura ocupacional e (raça, sexo). Tanto na literatura internacional quan-
como foram afetadas pela expansão do emprego. to na brasileira, contamos com excelentes estudos
Artigo recebido em 08/11/2012 sobre o tema (Blau e Duncan, 1967; Wright, 1997;
Aprovado em 26/03/2014 Santos, 2002; Neves, 2005).
RBCS Vol. 29 n° 85 junho/2014

Anpocs85_AF3f.indd 79 8/1/14 12:46 PM


80  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N° 85

Uma segunda estratégia seria tratar a desigual- principais questões teóricas e metodológicas que in-
dade como um “estoque” distribuído entre uni- formam nossa análise. Na sequência, descrevemos o
dades de análise (cidade, país, classes, ocupações padrão de expansão do emprego na última década
etc.), para então distinguir os aspectos sistemáticos e, a seguir, investigamos que parcela das desigualda-
dos não sistemáticos desse fenômeno. Nesse caso, des de renda pode ser explicada pelas características
o pesquisador está interessado no “tamanho” do da estrutura ocupacional. A partir dessa informa-
componente sistemático e qual parcela da variação ção, mensuramos a influência que as mudanças na
não é explicada por nenhum dos fatores conside- estrutura ocupacional exerceram sobre a tendência
rados. Economistas criaram importantes métodos de declínio das desigualdades de renda ao longo do
para decompor indicadores sintéticos de desigual- tempo. Por fim, apresentamos algumas conclusões
dade de renda (Knight e Salbot, 1983; Lemieux, e discussões mais gerais.
2006; Tavares e Menezes-Filho, 2011). Nesse tipo
de estratégia de pesquisa, a sociologia, tanto inter-
nacional quanto nacional, está defasada (Morris e Desigualdades no mercado de trabalho
Western, 1999), apesar de algumas iniciativas re-
centes terem importantes ganhos analíticos (Wee- Ao longo das últimas três décadas, a conjuntu-
den, 2002; Weeden et al., 2007; Kim e Sakamoto, ra econômica nacional teve alterações importantes.
2008; Mouw e Kalleberg, 2010). O ano de 1981 inaugurou um período de profunda
Lançaremos mão dos dois tipos de estratégias. instabilidade macroeconômica. Tais flutuações fo-
Utilizando modelos de decomposição baseados em ram captadas pelos indicadores de distribuição de
regressões (Western e Bloome, 2009), temos con- renda e o saldo foi um crescimento considerável da
dições tanto de entender quais são os fatores mais desigualdade. Entre 1989 e 1991, todos os índices
importantes na estruturação da renda nos anos registram os maiores patamares de desigualdade da
estudados como de decompor nossa distribuição. história recente. A partir de 1994, esses indicadores
Ressaltamos que a literatura sociológica brasileira apontam lenta melhoria da distribuição de renda;
sobre o tema é praticamente inexistente, mesmo mas apenas após 2001 o declínio se torna consisten-
sendo o Brasil um caso privilegiado para esse tipo te e acentuado. Desde então, vem se tornando claro
de estudo. Pretendemos atuar nesse espaço identi- que esse movimento de queda pode ser duradouro.
ficado pelas análises sobre a tendência da desigual- A dificuldade de detectar as causas desse mo-
dade de renda no país e assim complementar os tra- vimento reside no fato de que uma série de outras
balhos já feitos. De maneira mais direta, a principal transformações demográficas, econômicas e sociais
pergunta que propomos responder é a seguinte: ocorreu paralelamente à queda da desigualdade. A
que parcela da desigualdade de renda se deve es- literatura especializada tentou isolar os principais
pecificamente às características estruturais, enten- fatores para o declínio da desigualdade de renda e
didas como o aspecto ocupacional, do mercado de atribuir-lhes pesos e importâncias diferenciais; dois
trabalho? deles são a estabilização macroeconômica e o contro-
Para realizar nossa investigação seguimos dois le da inflação (Ferreira e Litchfield, 2001; Barros et
passos. Primeiramente examinamos a qualidade al., 2006b; Ferreira et al., 2006). No entanto, tam-
relativa dos postos de trabalho criados entre 2002 bém ficou claro que apenas o crescimento econô-
e 2012. Em seguida, tendo mapeado o padrão de mico não poderia ser responsável pela distribuição
evolução do emprego, investigamos mais detida- da renda. As mudanças na escolaridade da popula-
mente a relação entre a estrutura ocupacional e a ção revelaram-se fundamentais, e seus efeitos mais
desigualdade de renda do trabalho. importantes foram (1) a ampliação do acesso aos
O texto está organizado em seis partes, incluin- níveis mais baixos de ensino e (2) o declínio signifi-
do esta introdução. Na próxima, fazemos um breve cativo dos diferenciais de remuneração da força de
histórico das tendências de desigualdade de renda trabalho por nível de escolaridade. Esse movimento
no mercado de trabalho. Apresentamos, então, as da educação explicaria 40% da queda da desigual-

Anpocs85_AF3f.indd 80 8/1/14 12:46 PM


OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES  81

Gráfico 1
Evolução da desigualdade da renda do trabalho segundo os índices de
Gini, Theil e a Variância do Logaritmo da Renda (1981-2009)

140,0
130,0
120,0
110,0
Gini
100,0
90,0 Theil
80,0 Variância do Log
70,0
60,0
(1981=100)
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
Fontes: PNAD, 1981-2009 (elaboração própria).

dade da renda do trabalho entre 2001 e 2005. Su- As ocupações variam no nível de habilidade
blinha-se também a importância de alterações nos requerido para realizá-las – ou seja, o grau e com-
componentes demográficos, como a homogeneiza- plexidade das atividades e o tempo necessário para
ção etária da população, que reduz os retornos pela aprendê-las. Além disso, as habilidades e qualifica-
experiência (Barros et al., 2006a), e a convergên- ções exigidas no trabalho são recompensadas dife-
cia entre rendimentos dos setores rurais e urbanos rentemente em cada segmento ocupacional (Mouw
(Ferreira et al., 2006). Grosso modo, essas foram al- e Kalleberg, 2010). Credenciais educacionais, por
gumas das características destacadas pela literatura exemplo, são valorizadas diferentemente em cada
que analisou o declínio da desigualdade de renda ocupação – ou seja, assumimos os retornos edu-
brasileira, especialmente a partir de 2003, quando cacionais interagem com a posição no mercado de
ele se acelera (Lemieux, 2006; Tavares e Menezes- trabalho.
-Filho, 2011). Outro ponto diz respeito aos mecanismos que
definem o grau de abertura ou fechamento. Ocu-
pações menos especializadas e mais abertas à substi-
Por que ocupações? tuição de trabalhadores, seriam menos protegidas e
mais sujeitas às flutuações da oferta de mão de obra;
Do ponto de vista sociológico, a principal res- enquanto ocupações mais especializadas (em que há
salva à abordagem econômica do estudo da desigual- maior interdependência na cadeia produtiva, escassez
dade de renda é a excessiva ênfase nas características de profissionais e altos custos para formação) teriam
individuais e a falta de sensibilidade a dimensões outro tipo de dinâmica, sendo mais fechadas à subs-
institucionais. Classicamente, a sociologia se pro- tituição (Sorensen e Kalleberg, 1979). Ocupações
põe a compreender como características individuais distintas têm diferentes marcos regulatórios e podem
interagem com aspectos estruturais da divisão do ou não ter conselhos e associações que protegem seus
trabalho (Sorensen, 1996; Acemoglu, 2002; Autor, interesses e executam ações de licenciamento, certi-
Katz e Kearney, 2006). Uma das formas privilegiadas ficação, sindicalização etc. Tais instituições estão di-
de realização desse empreendimento seria através da retamente ligadas às estruturação das desigualdades
atenção especial à dimensão ocupacional. E essa di- no mercado de trabalho e operam como verdadeiros
mensão importa de várias maneiras. mecanismos de fechamento social (Grusky e Soren-

Anpocs85_AF3f.indd 81 8/1/14 12:46 PM


82  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N° 85

sen, 1998; Weeden, 2002; Grusky e Galescu, 2005; adiante. Cabe antes indagar: qual modelo melhor
Grusky e Weeden, 2008). descreve o caso brasileiro na última década? E de
Além disso, a estrutura ocupacional é uma for- que forma os padrões de geração de emprego se re-
ma privilegiada para a compreensão das característi- lacionam à dinâmica das desigualdades? Em nosso
cas da renda permanente dos indivíduos (expectativa segundo passo analítico, estabelecemos mais pre-
de rendimentos durante todo o curso de vida), que cisamente os formatos dessa relação. Partindo de
está correlacionada tanto aos modos de vida como uma decomposição da variância do logaritmo na-
às possibilidades de mobilidade social (Weeden, tural da renda do trabalho (uma medida clássica de
2002; Kim e Sakamoto, 2008; Liu e Grusky, 2013). desigualdade), obtemos três efeitos que relacionam
A intuição básica é de que haveria uma relativa ho- a desigualdade de renda do trabalho às ocupações
mogeneidade nas chances de vida de indivíduos (idem; Williams, 2010).
pertencentes à mesma classe. Sendo a ocupação um O primeiro deles é o chamado efeito de com-
indicador privilegiado da posição de classe, a inser- posição. Ele está relacionado à proporção de traba-
ção dos indivíduos no mercado de trabalho torna-se lhadores ligados a uma categoria ocupacional. Por
indispensável para entender como a desigualdade se exemplo, se uma ocupação na qual há muita de-
organiza, considerando até os fatores institucionais sigualdade entre amplia seu tamanho relativo, isso
que diferenciam as ocupações entre si. contribui para o aumento da desigualdade global
O peso dado às ocupações é complementar a no mercado de trabalho. Inversamente, se uma
outras perspectivas amplamente acionadas na li- ocupação em que há maior igualdade salarial am-
teratura sobre desigualdade de renda. Assim, não plia sua proporção, os níveis gerais de desigualdade
desejamos negar, por exemplo, a importância de di- decrescem. Desse modo, o efeito de composição diz
mensões relativas ao nível de escolaridade da popu- respeito ao movimento causado pelas alterações na
lação. Em nossas avaliações, estamos atentos a esses distribuição dos indivíduos entre ocupações, por
processos e ao balanço de sua relevância em relação sua vez provocado pelo crescimento ou pelo enco-
aos fatores ocupacionais. lhimento dos grupos.
Feita essa caracterização analítica sobre a im- O segundo fator, chamado efeito de médias,
portância das ocupações e outras dimensões no refere-se a mudanças nos salários médios das ocu-
entendimento da desigualdade de renda, podemos pações. O ganho real médio dos salários tende a
explicitar um pouco melhor como pretendemos variar de ocupação para ocupação. Desequilíbrios
realizar nossos exercícios empíricos. Nosso pri- entre oferta e demanda, ou fatores institucionais,
meiro passo é examinar as dinâmicas de expansão como a atuação dos sindicatos na renegociação
dos postos de trabalho na última década. Seguindo salarial, são exemplos de mecanismos que podem
Wright e Dwyer (2003), compreendemos que há fazer os salários médios das ocupações variarem
padrões de geração de emprego. Se ordenarmos os positiva ou negativamente ao longo do tempo. O
postos de trabalho existentes (ocupações) segundo efeito de médias é, portanto, o saldo nos índices de
algum critério de qualidade (numa escala que leva desigualdade provocado pela aproximação ou pelo
dos “piores” aos “melhores” empregos), podemos distanciamento dos salários entre ocupações.
nos questionar onde os novos empregos se encai- O terceiro fator diz respeito a como se com-
xam nessa escala. Há ao menos quatro cenários porta a distribuição da renda no interior das ocupa-
possíveis: 1) expansão igualmente distribuída entre ções, ou seja, a desigualdade entre indivíduos den-
todos os tipos de emprego; 2) expansão apenas dos tro das ocupações, a desigualdade intraocupacional
piores empregos; 3) crescimento dos melhores em- – também chamada de desigualdade residual, pois
pregos; 4) expansão polarizada (na qual empregos descreve a dispersão dos rendimentos que persis-
de nível intermediário crescem menos ou até de- te após a introdução dos indicadores dos grupos
crescem, gerando um “abismo” entre os ocupantes ocupacionais e de outras variáveis de controle. Um
dos piores e dos melhores cargos). Trataremos de possível motivo para a elevação da desigualdade in-
cada uma dessas possibilidades com mais detalhes traocupacional pode ser o aumento do retorno em

Anpocs85_AF3f.indd 82 8/1/14 12:46 PM


OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES 83

rendimentos ligado a características individuais não de cruzamento entre categorias ocupacionais e seto-
observadas (isto é, não ligadas às ocupações e aos res de atividade. Esse exercício produz um total de
controles explicitamente incluídos nos modelos). O “empregos em potencial”, representado pelo núme-
termo desigualdade residual, porém, não é plena- ro de células da matriz – cada uma representa uma
mente adequado, uma vez que a maior ou menor ocupação-setor, que pode ou não estar preenchida
dispersão dos salários dentro das ocupações pode (por isso, “potencial”).1 Em seguida, ordenam-se as
ser, ela mesma, uma característica estrutural da células de acordo com a mediana da renda do tra-
ocupação (Western e Bloome, 2009); uma maior balho, considerada proxy da “qualidade do empre-
dispersão indica uma heterogeneidade constituti- go”. Por fim, as ocupações-setor são divididas em
va da ocupação, ao passo que uma maior homo- cinco grupos – quintos – de acordo com essa me-
geneidade pode indicar presença de instituições dida. Os indivíduos de uma mesma ocupação-setor
e normas típicas de profissões regulamentadas ou são levados “em bloco” para uma única categoria.
empregos públicos. Desse modo, entendemos que Temos assim uma escala de qualidade dos empre-
a distribuição dos salários dentro das ocupações é gos, com cinco pontos, cada um com 20% dos in-
essencialmente heterocedástica. divíduos empregados. Como cada ocupação-setor
tem posição fixa nesse ordenamento, acompanhar
o crescimento ou decrescimento de um quinto é
Estratégias analíticas, metodologia e dados observar quanto variou o número de empregados
nas ocupações-setor entre dois pontos no tempo.
Padrões de geração do emprego e decomposição das A variação do emprego em cada quinto é medida
desigualdades simplesmente pela diferença absoluta no tamanho
dessas categorias entre o ano final e o inicial de
Para analisar a qualidade dos empregos criados mensuração. O resultado é uma medida do saldo
na década de 2000, seguiremos uma estratégia ela- de emprego (ou mudança líquida no estoque de
borada por Wright e Dwyer (2003). Nesse traba- trabalhadores) que considera a qualidade dos pos-
lho, os autores propõem a criação de uma matriz tos criados e desfeitos.

Figura 1
Quatro modelos hipotéticos de variação dos quintis

Crescimento igual Depreciação do emprego Melhoria do emprego Crescimento polarizado


1.600.00
entre os quintis
1.400.00
1.200.00
1.000.00
800.00
600.00
400.00
200.00

1º 2º 3º 4º 5º 1º 2º 3º 4º 5º 1º 2º 3º 4º 5º 1º 2º 3º 4º 5º
Quintis de qualidade do emprego

Ilustração baseada no modelo do artigo de Wright & Dwyer (2003).

Anpocs85_AF3f.indd 83 8/1/14 12:46 PM


84  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N° 85

Como pontuamos na seção anterior, os resul- não é tácito que melhoria de emprego seja sinôni-
tados desse exercício podem se concentrar, a prin- mo de redução de desigualdades – aliás, um de nos-
cípio, em quatro modelos de variação do tamanho sos objetivos é justamente contrapor o formato de
dos quintos, que representam padrões distintos de geração do emprego ao movimento dos indicadores
expansão do emprego e cujas consequências, em de desigualdade.
termos de desigualdades sociais, podem ser com- O último modelo representa uma situação hí-
pletamente opostas. A figura 1 ilustra esses cenários brida – em que há a criação simultânea de bons
hipotéticos para uma situação que tenha gerado 5 e maus empregos – que gera um contexto de po-
milhões de empregos. larização do mercado de trabalho, com o poten-
O primeiro modelo apresenta um crescimento cial aumento da desigualdade. Essa conjuntura se
igual dos quintos, de 1 milhão de empregos, e a tornou bastante discutida em trabalhos de econo-
estrutura anterior do mercado de trabalho não se mistas norte-americanos e europeus (Autor, Levy
altera de maneira significativa. Supostamente, esse e Murnane, 2003; Manning, 2003; Goos e Man-
quadro estaria ligado à manutenção do estado das ning, 2007; Goos, Manning e Salomons, 2009),
desigualdades ocupacionais. No segundo modelo, pois fornecia uma boa explicação para a crescente
observamos um crescimento mais acentuado das desigualdade de rendimentos ocorrida a partir da
ocupações de baixo nível, o que reflete um contex- década de 1980 nesses países. Autor, Levy e Murna-
to de depreciação do emprego. Com a geração de ne (2003) argumentam que a inovação tecnológica
emprego concentrada nos postos de baixa remu- e a consequente automação levariam ao decréscimo
neração, assistimos ao aumento da pobreza e pos- da demanda por trabalhos de rotina, manuais (por
sivelmente das desigualdades. O terceiro modelo exemplo, industriais) e não manuais (realizados em
apresenta a situação oposta: há expansão principal- escritório). A demanda baseada em tecnologia ain-
mente dos postos de melhor qualidade. Esse cená- da é o fundamento da explicação. Ocupações alta-
rio de “melhoria de emprego” (job upgrading, no mente qualificadas (que envolvem atividades geren-
termo original) não tem interpretação consensual, ciais, analíticas ou criativas), bem como manuais de
no entanto. No fim da década de 1990 e início dos baixa qualificação (limpeza, serviços pessoais etc.)
anos de 2000, alguns economistas supunham que não seriam facilmente substituídas pela tecnologia.
ele era sintomático do desenvolvimento econômi- Como os empregos de rotina se situam no meio da
co baseado na inovação tecnológica e gerencial. Os distribuição salarial, seu desaparecimento faria com
mercados de trabalho responderiam através da am- que a geração de empregos assumisse um formato
pliação da demanda por trabalhadores mais quali- polar. Corroborando essa leitura baseada na centra-
ficados, por sua vez acompanhada da redução da lidade da tecnologia e do capital humano, Goldin
procura por ocupações de baixa qualificação (Ace- e Katz (2008) afirmam que, nos Estados Unidos,
moglu, 2002). Essa interpretação foi denominada a expansão educacional trouxe igualdade salarial e
skill-based technological change (SBTC) e descreve- redução dos retornos pela educação até os anos de
ria bem o quadro dos anos de 1960 nos Estados 1970, reduzindo a desigualdade total. A partir de
Unidos (Wright e Dwyer, 2003). Esse movimento então, o processo se inverte e há retornos crescentes
seria positivo: reduziria as desigualdades, no médio pela educação.
prazo. O caso brasileiro, no entanto, traz um con- Em contraponto aos economistas, os sociólo-
traexemplo. A explicação de Langoni (2005) para gos elencam fatores não produtivos ligados à po-
a elevação das desigualdades durante o período larização. Wright e Dwyer (2003) apontam que a
militar se baseia justamente no fato de que a ele- composição da força de trabalho (por raça, sexo,
vação da demanda por trabalhadores qualificados status de imigração etc.) é um aspecto central: gru-
gerou disparidades salariais muito intensas. Diante pos de menor status ocuparam a base da estrutura
da escassez de capital humano, os poucos indivídu- polar. Para DiPrete et al. (2006), Kalleberg (2012)
os com capacidade de suprir essa demanda foram e Mouw e Kalleberg (2010), o fenômeno esteve
premiados de forma desproporcional. Desse modo, ligado à dinâmicas ocupacionais – voltaremos ao

Anpocs85_AF3f.indd 84 8/1/14 12:46 PM


OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES  85

argumento desses autores adiante. Fernandez-Ma- Partimos da simples decomposição da variân-


cíaz (2012) e Oesch e Menés (2012) mostram que cia do logaritmo da renda condicional a categorias
a regulação estatal e características institucionais ocupacionais:
são determinantes para as condições de polariza-
ção – e também para as direções das tendências de
distribuição e desigualdade de rendimentos. Inde- Var [ln_renda|ocup]t = +
pendentemente da interpretação de suas causas, é
Desigualdade total = Desigualdade + Desigualdade
consensual que o quadro polarizado eleva as desi- interocupacional intraocupacional
gualdades. (entre indivíduos)
A análise gráfica desses resultados permite-nos (1.1a)
avaliar apenas de maneira descritiva e qualitativa
o formato da expansão do emprego na década de A fórmula 1.1a traz a decomposição da va-
2000. A segunda etapa de nossas análises dedica-se riância do logaritmo da renda do trabalho2 em
justamente à avaliação da relação entre a estrutura dois termos, que representam a desigualdade en-
ocupacional e a desigualdade de renda. O objetivo tre e dentro das ocupações. Em outros termos,
é responder às seguintes questões: representa a proporção
de ocupados no grupo ocupacional j no ano t;
• Caso tenha havido alteração substantiva na representa a renda média da ocupação j no ano t;
distribuição (tamanho) das ocupações, em que representa a média de todos os salários (grande
medida esse movimento afetou a redução das média) no ano t. Assim, no primeiro termo, se uma
desigualdades. ocupação dista muito da grande média (para mais
• Em que medida a mudança do padrão da mé- ou para menos), essa distância é elevada ao quadra-
dia entre as ocupações dos salários levou à re- do e, por isso, contribui (de forma proporcional ao
dução das desigualdades. seu tamanho) para o aumento geral da desigualda-
• Se as ocupações teriam pouca importância e a de. No segundo termo, representa a variância
maior parte do declínio se deveria à redução do logaritmo da renda do trabalho no interior da
das desigualdades entre indivíduos dentro das ocupação j no ano t. Ou seja, a desigualdade no
ocupações, ou seja, a fatores intraocupacionais/ interior de um grupo ocupacional contribui para
não observáveis. o aumento da desigualdade geral (de maneira tam-
bém proporcional ao tamanho). Essa equação mos-
Estas três questões não são antagônicas, mas tra que o total de desigualdade num determinado
complementares, e todos os movimentos podem ano pode ser decomposto como a soma da desi-
ter acontecido conjuntamente. Nesse sentido, nos- gualdade entre ocupações e da desigualdade entre
so objetivo é indicar e mensurar qual a importância indivíduos dentro das ocupações (desigualdade in-
relativa de cada um. traocupacional).
Na tentativa de explicar o fenômeno da pola- Um desenvolvimento adicional da mesma
rização das ocupações nos Estados Unidos, já ob- equação ainda permite uma decomposição di-
servado em estudos anteriores, Mouw e Kalleberg nâmica que mede como a desigualdade de renda
(2010) propuseram analisar o movimento das de- evoluiu entre dois períodos de tempo. Para isso, é
sigualdades por meio de decomposição, a partir de preciso primeiro simplificar a expressão 1.1a. Se-
modelos de regressão (Western e Bloome, 2009). guindo Western e Bloome (2009), podemos fazer
Trata-se de uma forma de ligar o debate sobre a . Então obtemos:
mudança no padrão de emprego à pesquisa sobre a
desigualdade de renda e os seus vários determinan-
tes: educação, estrutura ocupacional, raça, gênero
etc. Por isso, adotamos estratégias semelhantes para
o caso brasileiro. (1.1b)

Anpocs85_AF3f.indd 85 8/1/14 12:46 PM


86  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N° 85

A diferença na desigualdade de rendimentos ocupações, aplicamos um método de decomposição


entre dois pontos do tempo (0 e t) será dada por: baseado em regressões (Mouw e Kalleberg, 2010).
Inicialmente, estimamos a média e a variância da
renda de cada ocupação controlando pelas variáveis
típicas de estudos sobre determinação e desigualda-
(1.2a) de de renda, como sexo, cor, nível de escolaridade,
entre outras (detalhadas adiante). Os componentes
Com um pouco de álgebra, podemos reescre-
são estimados por modelos de regressão que têm os
ver a expressão da seguinte maneira:
controles como variáveis independentes.

(2.1)
A expressão 2.1 representa uma regressão linear
(1.2b)
que traz um conjunto de j variáveis dummy para as
A expressão 1.2b mostra que a variação total da ocupações ( ) e também um conjunto de va-
desigualdade pode ser decomposta em três efeitos, riáveis de controle ( ).3 A equação exclui o termo
sobre os quais já tratamos. O primeiro está ligado constante, uma vez que todas as dummies de ocupa-
à variação da proporção das ocupações; por isso ção serão incluídas. O procedimento de decompo-
é chamado efeito de composição ( ). O segundo sição requer que todos os controles sejam variáveis
refere-se à distância entre os grupos; assim, é a ope- categóricas. Os controles que introduzimos foram
racionalização do efeito de médias ( ). Por fim, o raça (categorizada como “brancos” e “não bran-
terceiro diz respeito à mudança na dispersão dos cos”)4; idade (em grupos de cinco anos), regiões
salários interna às ocupações; o chamaremos de do Brasil (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste
componente de efeito da variância ( ). Os três e Sul) e escolaridade (sem instrução, primário in-
componentes respondem diretamente às questões completo, primário completo/fundamental incom-
anteriormente enunciadas nesta seção. Simplifi- pleto, fundamental completo/médio incompleto,
cando, a variação total da desigualdade entre dois médio completo/superior incompleto e superior
períodos de tempo é igual à soma dos três efeitos: completo). Os coeficientes trazem os efeitos fi-
xos de cada ocupação, ou seja, a parcela da média
da renda que se deve às ocupações, abstraída dos
(1.3) controles; é o termo de erros heterocedásticos.
É importante pontuar ainda que uma tendência Os valores de substituirão os de nas
geral de declínio das desigualdades não significa que expressões 1.1 e 1.3,5 quando estivermos tratando
todas as ocupações tiveram contribuição idêntica do modelo com controles. Também é necessário
sobre esse movimento. A tendência pode ser decres- estimar a variância do logaritmo da renda dentro
cente em média, mesmo que algumas ocupações te- de cada ocupação levando em conta as variáveis de
nham contribuído para o aumento da desigualdade controle. Os resíduos da regressão 2.1 representam
(tendo seus efeitos contrabalanceados por outras). a parcela de variação não explicada pelas ocupações
As equações 1.1 a 1.3, no entanto, fazem uso e pelas demais variáveis. Se os tomarmos em con-
apenas de variáveis ocupacionais para decompor as junto, tratamos de toda a variância não explicada e
desigualdades, sem qualquer tipo de controle a par- não apenas daquela interna às ocupações. Para es-
tir de outras características. Sabe-se que os retornos timar a parcela que se deve à variância interna de
em rendimentos estão condicionados a outros fa- cada ocupação, aplicamos uma regressão em que
tores, como gênero, raça, idade, educação etc. Para os resíduos ao quadrado são a variável dependente,
identificar o componente especificamente devido às utilizando as mesmas variáveis independentes do

Anpocs85_AF3f.indd 86 8/1/14 12:46 PM


OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES  87

modelo anterior. Por definição, os resíduos ao qua- (PNAD) para os anos de 2002 a 2012. Utilizamos
drado são dados por: estratégias diferentes para a análise da expansão do
emprego e para a avaliação da relação entre estru-
tura ocupacional e desigualdade de renda. O trata-
mento preliminar dos dados e a padronização de
variáveis são comuns às duas estratégias.
(2.2) Na padronização dos dados procedemos da
Desse modo, é preciso salvar os resíduos da seguinte maneira: removemos os casos com in-
primeira regressão, elevá-los ao quadrado e subme- formação incompleta para UF, idade, ocupação,
tê-los a um modelo linear com as mesmas variáveis setor, renda do trabalho principal, situação cen-
explicativas, conforme a expressão seguinte: sitária (urbano/rural). Selecionamos apenas indi-
víduos ocupados na semana de referência e que
possuíam entre 25 e 65 anos de idade. Casos com
renda igual a zero foram desconsiderados (a ren-
(2.3) da do trabalho principal da semana de referência
é nossa medida de rendimento em todas as aná-
Como os resíduos têm média zero, com a equa- lises). Aplicamos o Índice Nacional de Preços ao
ção acima estaremos calculando a sua variância con- Consumidor (INPC) para deflacionar as rendas
dicional.6 O coeficiente expressa a parcela dos re- até valores de setembro de 2012 (data da última
síduos que se deve especificamente às ocupações, isto PNAD analisada). De 2004 em diante, não anali-
é, à variância intraocupacional, líquida, das variáveis samos os casos de pessoas residentes na zona rural
independentes, e assim substitui nos modelos de da região Norte – área que não era coberta pelas
decomposição que incluem os controle. PNADs de 2002 e 2003 (o percentual de indiví-
duos excluídos é muito baixo e não afeta a repre-
sentatividade das análises). O sistema de classifica-
ção ocupacional e setorial é o mesmo em todos os
anos considerados. Utilizamos uma agregação das
ocupações com três dígitos e dos setores econômi-
(3.1)
cos com dois dígitos. Para maximizar a compara-
ção, excluímos ainda as ocupações cujos códigos
A expressão 3.1 é a versão com controles da de- não se repetiram em todos os anos.
composição fornecida pela expressão 1.1. Apresenta- Na análise dos padrões de geração de emprego,
remos os resultados do modelo nulo, sem controles, primeiro fundimos todos os bancos de dados calcu-
bem como os de um modelo incluindo apenas os lamos a média7 da renda do trabalho principal para
controles de raça, sexo, região e idade, e ainda do cada ocupação-setor.8 O rendimento médio do pe-
modelo completo, que acrescenta escolaridade a es- ríodo todo (2002-2012) é um indicador da “renda
ses controles. Esses procedimentos permitem abstrair permanente” da ocupação e, por isso, mais estável.
a importância das variáveis individuais e observar A partir desse valor, ordenamos as ocupações-setor
como a mudança de efeitos trazida pela introdução e as dividimos em quintos (grupos ordenados que
de controles evidencia mediações entre as variáveis, agregam 20% dos indivíduos empregados). Des-
aumenta o poder explicativo e traz maior entendi- se modo, a posição relativa da ocupação-setor diz
mento para o fenômeno da queda das desigualdades. respeito às suas características médias no período.
Uma ocupação-setor não muda de quinto ao longo
Padronização dos dados e procedimentos analíticos dos anos – ainda que possa experimentar ganhos ou
perdas salariais. Com essa estratégia, nos blindamos
Nossa fonte de informação são os dados da contra flutuações conjunturais e imprecisões amos-
Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios trais. No entanto, cabe ressaltar que os resultados

Anpocs85_AF3f.indd 87 8/1/14 12:46 PM


88  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N° 85

permanecem praticamente idênticos se adotamos Resultados


uma estratégia que permite a movimentação dos
grupos. A avaliação do saldo de geração do empre- Padrões de expansão do emprego
go por quintos é dada simplesmente pela diferença
de frequências em dois períodos. Comparamos os Não analisamos aqui a composição específica
quintos sempre por biênios. de cada quinto de ocupações-setores. Interessa-nos
Na análise de decomposição, utilizamos mode- apenas apresentar o quadro geral do padrão de ge-
los de regressão por mínimos quadrados para esti- ração de empregos na década de 2000. Cabe ressal-
mação tanto dos coeficientes como , isto é, tar que, de modo geral, os quintos de qualidade do
tanto nas regressões da média, como dos resíduos.9 emprego têm sempre características específicas. Os
Todas as análises foram realizadas com o uso do sof- mais baixos agrupam um menor número de ocupa-
tware R, e os códigos completos para a replicação ções-setor, que empregam uma grande quantidade
podem ser requisitados aos autores. Os bancos de de indivíduos. À medida que avançamos para os
dados encontram-se disponíveis no site do Centro quintos superiores, há um número cada vez maior
de Estudos da Metrópole (www.fflch.usp.br/cen- de ocupações-setor; são categorias mais heterogêne-
trodametropole). as e com maior variabilidade em termos de renda.

Gráficos 2
Padrões de geração de emprego na década de 2000 (saldos bienais)

a) 2002/3 a 2004/5 b) 2004/5 a 2006/7

2.000.000 2.000.000
1.500.000 1.500.000
1.000.000 1.000.000
500.000 500.000
- -
1º  2º  3º  4º  5º 1º  2º  3º  4º  5º
-500.000 -500.000
Quinto Quinto Quinto Quinto Quinto Quinto Quinto Quinto Quinto Quinto
-1.000.000 -1.000.000

c) 2006/7 a 2008/9 d) 2008/9 a 2011/12*

2.000.000 2.000.000
1.500.000 1.500.000
1.000.000 1.000.000
500.000 500.000
- -
1º  2º  3º  4º  5º 1º   2º  3º  4º  5º
-500.000 -500.000
Quinto Quinto Quinto Quinto Quinto Quinto Quinto Quinto Quinto Quinto
-1.000.000 -1.000.000

* Intervalo 2008/9-2011/12 é maior que os demais pois não houve PNAD em de 2010 (ano censitário).
Fonte: PNAD, 2002-2012 (elaboração dos autores).

Anpocs85_AF3f.indd 88 8/1/14 12:46 PM


OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES  89

Os gráficos 2 exibem o saldo de empregos por so caso sugere que a conexão entre os dois fenô-
quintos de qualidade do emprego de duas formas menos não é tão mecânica. A relação seria direta e
diferentes – uma delas segundo comparações bie- necessária se apenas o efeito de composição (ocu-
nais. O gráfico 3 traz o saldo agregado do período, pacional) importasse para a variação do patamar de
ou seja, entre 2002 e 2012. desigualdade. Contudo, fatores extraocupacionais
De acordo com os quatro saldos bienais apre- importam (composição de gênero, de idade, de es-
sentados, a expansão dos postos de trabalho na dé- colaridade etc.) Além disso, mesmo que nos deti-
cada de 2000 se caracteriza predominantemente véssemos no aspecto ocupacional, conforme vimos
por um quadro de melhoria do emprego (segun- pela expressão 1.3, há contribuições associadas ao
do os modelos estilizados na Figura 1). No último efeito de médias e de variância para entender como
período, o quadriênio de 2008-2012, observamos a estrutura ocupacional se relaciona com a desigual-
a criação de postos de trabalho concentrados nos dade de renda diante dos diversos determinantes
quintos intermediários de qualidade do emprego – que esta tem.
simultânea à redução dos postos de pior qualidade. As discussões em torno da expansão do empre-
O saldo total do período, apresentado no gráfico 3, go na década de 2000 frequentemente levantaram
mostra que o resultado final é fundamentalmente a suspeita de que a maior parte dos postos formais
de melhoria do emprego (apesar de algumas ca- gerados na década se concentraria em empregos de
racterísticas híbridas, que intercedem com outros qualidade relativamente baixa. O que observamos
modelos). Ou seja, a queda das desigualdades de é exatamente o contrário disso: os novos empregos
rendimento se fez em um cenário que se aproxima formais concentram-se principalmente nos dois úl-
da melhoria de emprego, principalmente entre os timos quintos, de maior renda, do ponto de vista
anos de 2004-2005 e 2008-2009. Esse fenômeno relativo. Contudo, dada a imensa desigualdade que
vai na contramão do que já ocorreu em momentos persiste (apesar de toda a queda dos indicadores, os
passados, no Brasil e em outros países, em que a patamares ainda são elevados), os primeiros quintos
melhoria de emprego geralmente era acompanhado de ocupações-setores concentram ocupações cuja di-
de crescimento das desigualdades. Ainda que não ferença substantiva de renda não é tão grande. Esse
seja possível contradizer as expectativas teóricas fato faz com que diagnósticos muito díspares possam
mais gerais sobre a relação entre padrões de geração ser traçados sobre essa mesma realidade. Do o ponto
de emprego e movimento das desigualdades, nos- de vista do estoque de trabalhadores nas ocupações,

Gráfico 3
Padrão de geração de emprego entre 2002 e 2012

5.000.000

4.000.000

3.000.000

2.000.000

1.000.000

-
1º Quinto 2º Quinto 3º Quinto 4º Quinto 5º Quinto

Fonte: PNAD, 2002-2012 (elaboração dos autores).

Anpocs85_AF3f.indd 89 8/1/14 12:46 PM


90  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N° 85

o cenário ainda é de grande concentração de traba- o valor bruto do logaritmo da renda para cada ano.
lhadores em ocupações cujo rendimento médio é in- Observamos que a queda é contínua, partindo de
ferior a dois salários mínimos. De um ponto de vista 1,041, em 2002, e chegando a 0,802, em 2012. As
relacional (isto é, do fluxo/saldo entre os períodos), colunas R² apresentam a divisão dos componentes
e levando em conta os processos de mudança, a ex- inter, intra e individual pela desigualdade total em
pansão do emprego caracterizou-se por uma transfe- cada ano, indicando a parcela de desigualdade devi-
rência da mão de obra para ocupações relativamen- da a cada componente, numa escala de 0 a 1.
te mais bem remuneradas. De fato, o padrão dessa O modelo nulo sugere que a maior parcela das
década é novidade frente aos das décadas anteriores, desigualdades se deve às diferenças entre indivídu-
marcadas por profundas instabilidades no mercado os dentro das ocupações, como pode ser visto pela
de trabalho brasileiro (Cardoso, 1999; Guimarães, avaliação numérica do componente na coluna in-
2002). Essas mudanças qualitativas no emprego no tra, assim como sua importância relativa, que fica
Brasil durante a última década e sua relação com a sempre ao redor de 60% (R² intra). Observamos
desigualdade de renda nos levam, assim, a prosseguir também que uma queda ocorreu simultaneamente
a investigação para entender a relação dessa dinâmica nos componentes entre e dentro das ocupações, de
com os processos associados à distribuição dos rendi- forma que a parcela explicada por cada componen-
mentos no país nesse mesmo período. te se mantêm praticamente invariável em termos
relativos, como informam os valores da coluna R².
Decomposição do movimento da desigualdade O modelo 2, com controles de raça, sexo, região e
de renda idade, aponta para uma conclusão aparentemente
semelhante. A parcela das desigualdades explicada
Como dissemos, a mera leitura visual e qua- pelo componente ocupacional passa a ser menor (o
litativa dos gráficos apresentados não nos permite R² fica em torno de 0,34), mas permanece relativa-
avaliar o movimento dos indicadores de desigual- mente estável ao longo do tempo, como no modelo
dade. Uma vez que os quintos mais elevados são anterior. Podemos ver a importância dos controles
também mais heterogêneos e desiguais em termos adicionados através de sua representatividade na
de distribuição de renda, um movimento de me- explicação dos modelos comunicada na coluna R²,
lhoria do emprego pode estar associado até ao au- em torno de 25%.
mento de desigualdades. Se há redução da desigual- Por fim, no modelo 3 a variável de escolarida-
dade de renda, como é amplamente documentado de é adicionada. Esses resultados alteram substan-
na pesquisa empírica sobre o tema, podemos nos cialmente as conclusões dos modelos anteriores. O
perguntar quais os pesos dos elementos, com um tamanho do componente individual (sexo, raça,
foco especial na dimensão ocupacional. Procede- idade, região e escolaridade) se amplia de forma
mos então à análise detida dos fatores de mudança considerável. No período, sua importância explica-
da estrutura ocupacional sobre as desigualdades. A tiva oscila entre 55% para 47,1%. As desigualdades
tabela 1 apresenta os resultados da decomposição internas às ocupações, por sua vez, ocupam um pa-
do índice de desigualdade por ocupação, de acordo tamar de 0,355 e sua importância relativa na varia-
com as equações apresentadas na seção 4.1.10 ção da tendência é em média de 38%. A sucessiva
Primeiramente apresentamos o estoque de de- adição de controles mostra que parte considerável
sigualdade em cada período (decomposição deri- dos efeitos, que aparentemente seriam diferenças
vada da fórmula 1.1a). No caso do modelo nulo, entre ocupações, pode ser atribuída a fatores indi-
a decomposição é feita nas parcelas inter e intra- viduais inseridos no modelo 2 e principalmente à
ocupacionais, sem variáveis de controle. No caso escolaridade, inserida no modelo 3. Ainda assim, as
dos modelos com controles, há um componente tendências associadas aos componentes inter e in-
adicional chamado de “nível individual”, que se re- traocupacionais se mostram significativas, uma vez
fere à variância explicada pelas demais variáveis in- que sua importância relativa na explicação da desi-
dependentes incluídas.11 A coluna do total mostra gualdade de renda, somada, sempre ronda os 50%.

Anpocs85_AF3f.indd 90 8/1/14 12:46 PM


OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES  91

Tabela 1
Decomposição da variância do logaritmo da renda
Modelo 1 (apenas ocupações)
Estoque de desigualdade Decomposição dinâmica R²
Inter Intra Nível Total Efeito Efeito Efeito Inter Intra Nível
Ano
individual composição média variância individual

2002 0,446 0,595 – 1,041 0,000 0,000 0,000 0,429 0,571 –


2003 0,433 0,604 – 1,036 -0,001 -0,011 0,007 0,417 0,583 –
2004 0,412 0,585 – 0,997 -0,006 -0,026 -0,011 0,413 0,587 –
2005 0,416 0,573 – 0,989 -0,004 -0,025 -0,022 0,421 0,579 –
2006 0,411 0,563 – 0,973 -0,010 -0,029 -0,028 0,422 0,578 –
2007 0,368 0,556 – 0,924 -0,033 -0,060 -0,025 0,398 0,602 –
2008 0,378 0,532 – 0,910 -0,042 -0,043 -0,046 0,415 0,585 –
2009 0,373 0,515 – 0,888 -0,038 -0,058 -0,057 0,420 0,580 –
2011 0,322 0,489 – 0,812 -0,071 -0,082 -0,076 0,397 0,603 –
2012 0,307 0,495 – 0,802 -0,076 -0,105 -0,058 0,383 0,617 –
Modelo 2 (ocupações com controle de raça, sexo, idade e regiões)
Estoque de desigualdade Decomposição dinâmica R²
Inter Intra Nível Total Efeito Efeito Efeito Inter Intra Nível
Ano
individual composição média variância individual

2002 0,360 0,407 0,273 1,041 0,000 0,000 0,000 0,346 0,391 0,263
2003 0,343 0,450 0,243 1,036 0,000 -0,016 0,042 0,331 0,434 0,234
2004 0,330 0,419 0,248 0,997 -0,005 -0,024 0,010 0,331 0,420 0,249
2005 0,336 0,423 0,230 0,989 -0,003 -0,020 0,015 0,340 0,427 0,232
2006 0,335 0,393 0,245 0,973 -0,006 -0,021 -0,012 0,344 0,404 0,252
2007 0,299 0,358 0,267 0,924 -0,023 -0,047 -0,040 0,324 0,387 0,289
2008 0,310 0,383 0,217 0,910 -0,028 -0,033 -0,013 0,341 0,421 0,238
2009 0,309 0,363 0,216 0,888 -0,026 -0,040 -0,029 0,348 0,409 0,243
2011 0,271 0,331 0,210 0,812 -0,051 -0,059 -0,055 0,334 0,408 0,258
2012 0,257 0,313 0,233 0,802 -0,055 -0,077 -0,066 0,320 0,390 0,290
Modelo 3 (ocupações com controle de raça, sexo, idade, regiões e educação)
Estoque de desigualdade Decomposição dinâmica R²
Inter Intra Nível Total Efeito Efeito Efeito Inter Intra Nível
Ano
individual composição média variância individual

2002 0,142 0,326 0,573 1,041 0,000 0,000 0,000 0,137 0,313 0,550
2003 0,138 0,394 0,505 1,036 -0,001 -0,003 0,067 0,133 0,380 0,487
2004 0,133 0,352 0,512 0,997 -0,002 -0,006 0,025 0,134 0,353 0,514
2005 0,142 0,385 0,461 0,989 -0,003 0,002 0,060 0,144 0,389 0,467
2006 0,141 0,352 0,480 0,973 -0,007 0,003 0,030 0,145 0,362 0,493
2007 0,127 0,377 0,419 0,924 -0,020 -0,005 0,062 0,138 0,409 0,454
2008 0,149 0,384 0,377 0,910 -0,025 0,019 0,071 0,163 0,422 0,415
2009 0,152 0,359 0,377 0,888 -0,027 0,021 0,048 0,171 0,404 0,425
2011 0,133 0,316 0,363 0,812 -0,046 0,015 0,012 0,164 0,389 0,447
2012 0,123 0,301 0,378 0,802 -0,052 0,002 0,006 0,153 0,376 0,471
Fonte: PNAD, 2002-2012 (elaboração dos autores).

Anpocs85_AF3f.indd 91 8/1/14 12:46 PM


92  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N° 85

Tabela 2
Resumo: contribuição de cada componente para a queda das desigualdades de rendimento (2002-2012)

Variação percentual dos componentes estáticos (2002-2012)


Modelo 3
Modelo 1 Modelo 2
(+ sexo, raça, idade, regiões,
(sem controles) (+ sexo, raça, idade, regiões)
escolaridade)
∆ inter -58,16% (-0,14) -43,46% (-0,10) -7,95% (-0,01)
∆ intra -41,84% (-0,10) -39,66% (-0,09) -10,46% (-0,02)
∆ variáveis   -16,88% (-0,04) -81,59% (-0,19)
Total -100,00% (-0,24) -100,00% (-0,24) -100,00% (-0,24)

Saldos da decomposição dinâmica – componentes ocupacionais


Efeito de composição ( ) -31,80% (-0,07) -23,00% (-0,05) -21,80% (-0,05)
Efeito de médias ( ) -43,90% (-0,10) -32,20% (-0,07) 0,80% (0,002)

Efeito de variância ( ) -24,30% (-0,05) -27,60% (-0,06) 2,50% (0,006)


Total -100,00% (-0,24) -82,80% (-0,19) -18,40% (-0,044)
Fonte: PNAD, 2002-2012 (elaboração dos autores).

Ainda de acordo com os resultados do mode- algébricas igualmente simples, feitas nos diferen-
lo 3, é possível ter uma ideia mais precisa sobre os tes modelos, chegamos à tabela 2, que representa
componentes que influenciaram os movimentos das a importância relativa dos componentes estudados
tendências ocupacionais. Em 2002, quando a desi- e enfoca apenas a queda da desigualdade. Assim, ela
gualdade total medida pela variância do logaritmo apresenta o peso relativo de cada componente na
da renda era 1,041, os componentes ocupacionais construção do movimento de queda. Torna-se bas-
e eram responsáveis por 0,468 des- tante clara a redução de importância dos compo-
se índice (0,142 + 0,326). Ao fim do período, em nentes ocupacionais para a análise da queda da desi-
2012, esse valor caiu para 0,424 – e a diferença é gualdade à medida que adicionamos novas variáveis
exatamente aquela captada pela soma dos três efeitos aos modelos. É interessante comparar as mudanças
identificados pela decomposição empregada: 0,424 entre os modelos 2 e 3. Vemos que a importância
= 0,468 + (-0,052 + 0,002 + 0,006) – conforme a ex- explicativa do componente interocupacional cai de
pressão 1.3. Isso indica, portanto, que os componen- 43% para 7%,12 enquanto o intraocupacional cai
tes ocupacionais tiveram um pequeno ou moderado de 39% para 10,%. A importância relativa das va-
papel na queda das desigualdades: foram responsá- riáveis de nível individual, por sua vez, cresce de
veis por um decréscimo de 0,044 em nosso índice, e 17% para 81%. Como a única variável adicionada
essa queda se deveu predominantemente à mudanças nesse passo se refere ao nível de escolaridade, é pos-
na composição das ocupações, como mostra a última sível atribuir as mudanças à adição desse controle.
linha da tabela 1 e a álgebra demonstrada. Ou seja, no que diz respeito à análise da queda da
A queda total da desigualdade de renda me- desigualdade, chegamos a resultados similares ao de
dida pelo logaritmo foi de 0,239, como informa outros pesquisadores que haviam estudado o tema.
a simples subtração do último ponto da tendência No entanto, sublinhamos que as mudanças na
em relação ao primeiro. Com outras manipulações estrutura ocupacional não são triviais. Aproxima-

Anpocs85_AF3f.indd 92 8/1/14 12:46 PM


OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES  93

damente 18% da queda da desigualdade do rendi- crescendo ao longo dos anos. A soma do R² dos
mento do trabalho, segundo nossos modelos, se de- componentes inter e intra se eleva pouco a pouco.
veram a mudanças ocupacionais. Nossa estratégia Como essa medida é relativa, essa elevação se deve
de decomposição mostra que o fator determinante não ao crescimento absoluto dos termos, mas à di-
foi o efeito de composição, cuja importância expli- minuição de importância de outros fatores, como
cativa praticamente não é afetada pela adição do o educacional, para a tendência avaliada. Desse
controle de educação, enquanto os componentes de modo, ainda que a estrutura ocupacional tenha
média e variância têm seus efeitos reduzidos para tido um papel coadjuvante na queda (fluxo) da de-
quase zero. Portanto, a desigualdade entre ocupa- sigualdade de renda do trabalho – apenas pelo efei-
ções caiu porque reduziu-se a proporção (o tama- to de composição –, isso fez com que se ampliasse o
nho) de ocupações nos extremos da distribuição seu papel explicativo no estoque.
de renda e/ou porque houve redução da proporção Nossos resultados são assertivos sobre um pon-
ocupada por ocupações internamente muito desi- to muito importante: os recentes ganhos salariais
guais no mercado de trabalho. dos trabalhadores e a queda da desigualdade não
Em síntese, nossos resultados podem ser inter- estão relacionados a mudanças na hierarquia e em
pretados em dois sentidos distintos, uma vez que aspectos da estrutura ocupacional. Houve homoge-
apresentam dados do ponto de vista estático (anual) neização da distribuição e dos retornos da educa-
e dinâmico (mudança da desigualdade e dos fatores ção, além de diminuição de disparidades associa-
associados a ela). A tabela 1 fornece mais informa- das a outros aspectos importantes, como gênero.
ções para pensar a do ponto de vista estático. Como No entanto, as distâncias salariais entre ocupações,
mencionamos, a coluna R² traz a importância do bem como os mecanismos de premiação desigual
componente ocupacional a cada ano. Observando dos indivíduos dentro das ocupações, se mantive-
os resultados do modelo 3, que já inclui todos os ram estáveis – observação que é possível apenas se
controles, notamos que os componentes ocupacio- houver controle por um conjunto de variáveis. Ou
nais tem uma importância elevada na explicação seja, as significativas mudanças ocorridas no merca-
da desigualdade em cada um dos anos. Em 2012, do de trabalho na última década não afetaram um
apenas a desigualdade entre ocupações já explica eixo fundamental, que contribui na organização do
cerca de 15,3% da desigualdade do rendimento do processo de estratificação. Esses resultados apontam
trabalho. A desigualdade entre indivíduos dentro para a natureza estrutural da dimensão ocupacional
das ocupações (que, de certa forma, também é uma e de sua resiliência a mudanças. A estrutura ocu-
característica estrutural das ocupações) é responsá- pacional muda de forma mais lenta e depende de
vel por 37,6% da variância nesse mesmo ano. Ao movimentos de mais de uma geração.
longo do período considerado, somados, os com-
ponentes inter e intraocupacionais são responsáveis
por cerca de 50% da variância do logaritmo da ren- Discussões e considerações finais
da. Isso demonstra de forma significativa como a
estrutura ocupacional é um traço fundamental da Ao longo deste artigo, com duas estratégias
desigualdade de rendimentos no Brasil, tanto na di- distintas e complementares, investigamos a rela-
mensão que diferencia as ocupações entre si como ção entre geração de emprego, estrutura ocupacio-
em sua composição interna e na dispersão salarial nal e desigualdade de renda no Brasil. Mostramos
que nelas está presente. que o padrão de expansão do emprego na última
Do ponto de vista da dinâmica da desigualda- década implicou, de modo geral, uma melhoria
de de renda do trabalho, que coloca em foco direto relativa dos postos de trabalho: as ocupações cria-
a queda da desigualdade em si, como a maior parte das se concentram nos quintos mais altos de renda
dessa queda se deve às nossas variáveis de controle (melhoria de emprego). A literatura econômica –
(em especial, a escolaridade), a importância relati- principalmente por meio da hipótese de skill biased
va dos componentes ocupacionais foi lentamente technological change, tanto em sua versão original

Anpocs85_AF3f.indd 93 8/1/14 12:46 PM


94  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N° 85

quanto na de Autor, Levy e Murnane (2003) – in- pações são fruto de uma interseção de uma série de
dica que esse quadro pode estar ligado ao aumento elementos, desde a heterogeneidade entre habilidades
da desigualdade observado em uma séria de países e características individuais até mecanismos muito di-
desenvolvidos, uma vez que reflete o aquecimen- ferentes de competição, acesso e valorização das qua-
to da demanda por mais altas qualificações (e, por lificações e do desempenho. No entanto, a abertura
conseguinte, a elevação dos prêmios salariais). Nos- à heterogeneidade é em si uma característica insti-
sos resultados mostram que, no Brasil, esse tipo de tucional das ocupações. As diferenças nos patamares
tendência não se aplica: experimentamos queda em de desigualdade dentro de um emprego público e de
todos os índices que mensuram a desigualdade de um emprego privado não são aleatórias, mas siste-
rendimentos ao mesmo tempo que vivenciávamos maticamente ligadas às normas formais e informais
significativas mudanças no mercado de trabalho, que regem o acesso e as rotinas ocupacionais. Desse
um job upgrading. modo, dizemos que também a desigualdade entre
A geração de empregos transferiu os trabalha- indivíduos dentro das ocupações é um aspecto es-
dores para ocupações e setores em que se remunera trutural do sistema ocupacional. Somados, os dois
mais, e simultaneamente houve redução do tamanho componentes concorrem cada vez mais com a im-
das ocupações de mais baixo nível salarial. Como vi- portância explicativa em comparação a outros que-
mos, a redistribuição dos postos de trabalho (captada sitos, como raça, sexo, idade, região e escolaridade.
pelo efeito de composição) é responsável por cerca Isso não significa que estes tenham atualmente tama-
de 20% da queda das desigualdades (tabela 2). Nes- nho diminuto ou que deixaram de ser importantes,
se sentido, houve melhoria do emprego com equi- mas indica a relevância crescente da dimensão ocu-
dade. Esse é um processo bastante distinto de uma pacional para a compreensão de como se comporta a
mudança no mercado de trabalho que pudesse ter desigualdade de renda no Brasil.
sido provocada pela demanda generalizada de traba- Os patamares de desigualdade no país, apesar
lhadores altamente qualificados e escolarizados. Por de inferiores aos padrões antes verificados, ain-
isso, melhoria ocupacional não precisa estar necessa- da são muito altos se tomamos como referência o
riamente ligada aos mesmos diagnósticos geralmente plano internacional. As evidências apresentamos,
mobilizados pelo debate econômico. além de terem interesse científico, são importantes
Nossos modelos de decomposição da desigual- também do ponto de vista da política social. Em
dade de rendimentos (variância do logaritmo da resumo, o mercado de trabalho brasileiro mudou
renda) evidenciaram a importância empírica de um e se tornou menos desigual, mas isso se deve fun-
tipo de dimensão pouco mobilizada na literatura damentalmente à dinâmica da redução das barrei-
sobre a desigualdade de renda no Brasil: a estrutura ras de oportunidades educacionais, à escolarização
ocupacional. Para explicar o estoque da tendência, dos trabalhadores e à redução dos retornos salariais
mesmo com rigorosos controles estatísticos, a de- pela educação. O componente sociológico ligado à
sigualdade é substancialmente relacionada às ocu- divisão do trabalho e às hierarquias de status entre
pações, tanto a diferenças entre estas como à sua ocupações permaneneu praticamente inalterado.
dispersão interna. Também mostramos que, ainda Tendo esses resultados em perspectiva, emer-
que o fator determinante para a queda da desigual- gem perguntas interessantes, que apontam para o
dade tenha sido predominantemente educacional, entendimento da dinâmica ocupacional e educa-
mudanças relacionadas ao tamanho das ocupações cional em interação. Como as credenciais educacio-
tiveram efeitos não trivais sobre a queda da desi- nais não são utilizadas em um vácuo no mercado
gualdade de renda do trabalho no período. de trabalho, pesquisas posteriores podem respon-
Dada a queda dos componentes de nível indivi- der, em termos parecidos com os que apresentamos
dual, hoje, o componente interocupacional responde aqui, quais seriam as credenciais educacionais que
por uma parcela relevante do estoque de desigualda- tiveram mudanças mais significativas para a desi-
des – a 15%, enquanto o intraocupacional, a 37,6%, gualdade de renda e em quais setores do mercado
em 2012. As desigualdades dentro (intra) das ocu- de trabalho o fenômeno ocorreu de forma mais in-

Anpocs85_AF3f.indd 94 8/1/14 12:46 PM


OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES  95

tensa. O ganho analítico da compreensão de suas e variância heterocedástica (em função da ocupação
fontes estruturais é significativo e merece ser mais e do tempo).
bem explorado por quem se dedica ao estudo do 4 O grupo dos brancos inclui também os amarelos. Os
fenômeno. Mais especificamente, esperamos que não brancos são os pretos, pardos, indígenas e outros.
nossa pesquisa seja útil ao mostrar a importância 5 Importante lembrar que nas equações 1.2 e 1.3
da estrutura ocupacional para entender os padrões .
de desigualdade de renda no Brasil. Acreditamos 6 Na população, a variância condicional dos erros é
ter evidenciado, com nossos resultados, a relevância , uma função das ocupações e das
analítica e metodológica de uma orientação socioló- demais variáveis explicativas. A regressão dos resíduos
gica. Ainda assim, estivemos atentos à rica literatu- ao quadrado é um estimador desse valor. Assumir li-
ra econômica sobre o tema no Brasil, e acreditamos nearidade na regressão da função amostral da variân-
cia não é um pressuposto forte, uma vez que todas as
que nosso trabalho seja um sinal da complementa-
variáveis são categóricas e utilizadas como dummies.
ridade dessas abordagens. Esta é apenas uma apro- Num modelo como esse (apesar de não ser saturado),
ximação inicial ao tema, que merece ser estudado a relação linear é uma boa aproximação para a espe-
num escopo de tempo mais amplo e sob o viés da rança condicional.
interação dessa dimensão temporal com os padrões 7 Wright e Dwyer (2003) argumentam que a media-
de mudança demográfica. Que as novas pesquisas na é uma medida mais robusta da tendência central
levem em conta perspectivas interdisciplinares e e menos influenciada por observações extremas. Isso
contribuam, em diálogo, para um conhecimento é verdade, porém, a mediana é também uma medida
cumulativo e relevante. mais ineficiente, pois tem maior erro padrão e, por
isso, é menos precisa. Como o número de caso nas
ocupações-setor pode não ser muito grande, optamos
Notas pela média porque sua precisão cresce mais rapida-
mente em amostras finitas, quando elevamos o nú-
mero de casos.
1 Os sistemas de classificação ocupacional e setorial
em geral possuem muitas categorias: entre trezentas 8 A definição de uma ocupação-setor é dada pela se-
e quinhentas de ocupações e entre cem e duzentas guinte fórmula: ocupação-setor = ocupação + (setor ×
de setores. Obviamente, nem todas as células dessa 10000). Criamos assim um número identificador do
grande matriz de ocupações/setor serão preenchidas cruzamento entre ocupações e setores sem que efeti-
– ainda mais em pesquisas amostrais. Para minimi- vamente tenhamos que gerar uma grande matriz, que
zar o problema de lacunas, os autores fundiram dados seria intratável analiticamente.
de vários anos e fizeram agregações e desagregações 9 Os resíduos ao quadrado seguem aproximadamente
das categorias ocupacionais e setoriais. Consequente- uma distribuição qui-quadrado, que é assimétrica à
mente, as inferências traçadas se referem à média do direita e truncada no valor zero. A regressão por míni-
período coberto. mos quadrados (MQO) não impede que obtenhamos
2 Apesar da variância do logaritmo da renda não ser um valores preditos negativos (que não fariam sentido,
dos melhores indicadores de desigualdade, observa- uma vez que estamos estimando a variância). Um
mos que suas medições seguem de perto as tendências modelo alternativo (e mais adequando em alguns ca-
e inflexões dos índices de Gini e de Theil. A crítica à sos) seria o uso de uma regressão Gama, ajustada por
essa medida apoia-se principalmente no fato de que máxima verossimilhança. Contudo, não obtivemos
as transformações não lineares da renda levam à viola- valores preditos fora do escopo de possibilidades – e
ção do princípio da transferência (Cowell, 1977). No as estimativas da MQO se aproximam muito daquelas
entanto, esta é a única medida de desigualdade que obtidas pela Gama, com a vantagem de serem mais
permite a decomposição multivariada por meio de eficientes e computacionalmente menos intensivos.
modelos de regressão, abrindo caminho para análises 10 Apresentamos apenas os resultados da decomposição. A
detalhadas e sofisticadas. apresentação dos coeficientes de regressão é irrelevante
3 Não é preciso fazer suposições sobre o formato da dis- para os nossos propósitos. No entanto, como sublinha-
tribuição dos resíduos em amostras grandes. Apenas mos na seção anterior, o material para a replicação com-
assinalamos que são independentes, têm média zero pleta pode nos ser requisitado a qualquer momento.

Anpocs85_AF3f.indd 95 8/1/14 12:46 PM


96  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N° 85

11 Quando aplicamos os modelos de regressão das fór- do progresso educacional brasileiro da última
mulas 2.1 e 2.3 e então utilizamos seus valores es- década”, in R. P. Barros, M. N. Foguel et al.
timados na fórmula 3.1 (que substitui a 1.1a), a (orgs.), Desigualdade de renda no Brasil: uma
soma dos componentes inter e intra passa a ser me- análise da queda recente, Brasília, Ipea.
nor que a desigualdade total no período. Isso ocor-
BECKER, Gary S. (1976), The economic approa-
re porque parcela da desigualdade foi explicada pe-
las demais variáveis de controle. Podemos estimar a
ch to human behavior. Chicago, University of
contribuição dessas variáveis para o estoque total Chicago Press.
de desigualdades fazendo uma simples subtração: BLAU, Peter Michael & DUNCAN, Otis Dudley.
, onde (1967), The American occupational structure.
é justamente a parcela explicada pelas New York, Wiley.
variáveis de controle. O subscrito “individual” ape- BREEN, Richard &ROTTMAN, David B.
nas indica que são características dos indivíduos (raça (1995), Class stratification: a comparative pers-
sexo, idade, escolaridade), não das ocupações. pective. New York, Harvester Wheatsheaf.
12 Esse valor se refere à parcela da queda das desigual- CARDOSO, Adalberto Moreira. (1999), Sindica-
dades que é devida ao componente. Seu calculo é tos, trabalhadores e a coqueluche neoliberal: a Era
dado pela divisão da variação com componente entre Vargas acabou? Rio de Janeiro, Editora FGV.
2002 e 2012 e pela variação total das desigualdades
COWELL, Frank A. (1977), Measuring inequality.
no mesmo período: . Assim, utilizan-
Oxford, Philip Allan.
do os dados da tabela 1 para o modelo 3, temos: DIPRETE, Thomas; GOUX, Dominique; MAU-
. RIN, Eric & QUESNEL-VALLEE, Amelie.
(2006), “Work and pay in flexible and regula-
ted labor markets: A generalized perspective on
Bibliografia institutional evolution and inequality trends in
Europe and the US.”. Research in Social Strati-
AUTOR, David H.; KATZ, Lawrance F. & KE- fication and Mobility, 24 (3): 311-332.
ARNEY, Melissa S. (2006), “The polarization FERNANDEZ-MACÍAS, E. (2012), “Job polari-
of the US labor market”. American Economic zation in Europe? Changes in the employment
Review, 96: 189-194. structure and job quality, 1995-2007”. Work
AUTOR, David H.; LEVY, Frank & MURNANE, and Occupations, 39 (2): 157-182.
R. (2003), “The skill content of recent tech- FERREIRA, Francisco H. G.; BARROS, Ricardo
nological change: an empirical exploration”. Paes de. (1998), “Climbing a moving moun-
Quartely Journal of Economics, 118 (4): 1279- tain: explaining the decline in income inequa-
1334. lity in Brazil from 1976 to 1996”. I Workshop
BARROS, Ricardo Paes de; CARVALHO, Mire- da LACEA/IDB/World Bank Inequality and
la de; FRANCO, Samuel & MENDONÇA, Poverty Network, Buenos Aires.
Rosane. (2006a), “Determinantes imediatos da FERREIRA, Francisco H. G.; LEITE, Philippe G.;
queda da desigualdade de renda brasileira”, in LITCHFIELD, Julie & ULYSSEA, Gabriel.
R. P. Barros, M. N. Foguel et al. (orgs.), De- (2006), “Ascensão e queda da desigualdade de
sigualdade de renda no Brasil: uma análise da renda no Brasil”. Econômica, 8 (1): 147-169.
queda recente, Brasília, Ipea. FERREIRA, Francisco H. G. & LITCHFIELD,
. (2006b), “A queda recente da desigual- Julie. (2001), “Education or inflation? The
dade de renda no Brasil”, in R. P. Barros, M. N. Micro and Macroeconomics of the Brazilian
Foguel et al. (orgs.), Desigualdade de renda no Income Distribution during 1981-1995”.
Brasil: uma análise da queda recente, Brasília, Ipea. Cuadernos de Economía, 38 (114): 209-238.
BARROS, Ricardo Paes de; FRANCO, Samuel & GOLDIN, C. & KATZ, L. (2008), The race betwe-
MENDONÇA, Rosane. (2006), “A recente en education and technology. Cambridge, MA,
queda na desigualdade de renda e o acelera- Harvard University Press.

Anpocs85_AF3f.indd 96 8/1/14 12:46 PM


OS IMPACTOS DA GERAÇÃO DE EMPREGOS SOBRE AS DESIGUALDADES  97

GOLDTHORPE, John H. (2000), On sociology: rising demand for skill?”. American Economic
numbers, narratives, and the integration of re- Review, 96 (3): 461-498.
search and theory. Oxford/Nova York, Oxford . (2008), “The changing nature or wage
University Press. inequality”. Journal of Population Economics,
. (2007), On sociology - Illustration and Re- 21: 21-48.
trospect. 2 ed. Stanford, Stanford University Press. LIU, Yujia & GRUSKY, David B. (2013), “The
GOOS, Maarten & MANNING, Alan. (2007), payoff to skill in the third industrial revolu-
“Lousy and lovely jobs: the rising polarization tion”. American Journal of Sociology, 118 (5):
of work in Britain”. Review of Economics and 1330-1374.
Statistics, 89 (1): 118-133. MANNING, Alan. (2003), “The real thin theory:
GOOS, Maarten; MANNING, Alan & SALO- monopsony in modern labour markets”. La-
MONS, Ana. (2009), “Job polarization in Eu- bour Economics, 10 (2): 105-131.
rope”. American Economic Review, 99 (2): 58-63. MINCER, Jacob. (1974), Schooling, experience and
GRUSKY, David B. & GALESCU, Gabriela. earnings. Nova York, NBER/Columbia Uni-
(2005), “Foundations of a neo-durkheimmian versity Press.
class analysis”, in E. O. Wright (org.), Appro- MORRIS, Martina & WESTERN, Bruce. (1999),
aches to class analysis, Cambridge, Cambridge “Inequality in Earnings at the Close of the
University Press. Twentieth Century”. Annual Review of Sociolo-
GRUSKY, David B. & SORENSEN, Jesper B. gy, 25: 623-657.
(1998), “Can class analysis be salvaged?”. MOUW, Ted & KALLEBERG, Arne. (2010),
The American Journal of Sociology, 103 (5): “Occupations and the structure of wage ine-
1187-1234. quality in the United States, 19080s to 2000s”.
GRUSKY, David B. & WEEDEN, Kim. (2008), American Sociological Review, 75 (3): 402-431.
“Are There Social Classes? A Framework for Tes- NEVES, Jorge A. (2005), “Labor force classes and the
ting Sociology’s Favorite Concept”, in A. Lare- earnings determination of the farm population in
au e D. Conley (orgs.), Social class: how does it Brazil: 1973, 1982 and 1988”. Research in Social
work?, Nova York, Russel Sage Foundation. Stratification and Mobility, 22: 423-475.
GUIMARÃES, Nadya Araujo. (2002), “Por uma OESCH, D. & MENES, R. (2012), “Upgrading
sociologia do desemprego: contextos societais, or polarization? Occupational change in Bri-
construções normativas e experiências subjeti- tain, Germany, Spain and Switzerland, 1990-
vas”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 17 2008”. Socio-Economic Review, 9: 503-532.
(50): 103-122. POCHMAN, Márcio. (2006), “Mercado de tra-
KALLEBERG, Arne. (2012), “Job quality and preca- balho no Brasil: o que há de novo?”. Parcerias
rious work: clarifications, controversies and chal- Estratégicas, 22 jun.
lenges”. Work and Occupations, 39: 427-448. SANTOS, José Alcides Figueiredo. (2002), Estru-
KIM, Changwan & SAKAMOTO, Arthur. (2008), tura de posições de classe no Brasil: mapeamento,
“The rise of intra-occupational wage inequali- mudanças e efeitos na renda. Belo Horizonte,
ty in the United States, 1983 to 2002”. Ameri- Editora UFMG.
can Sociological Review, 73: 129-157. SILVA, Nelson do Valle. (2003), “Os rendimentos
KNIGHT, J. & SALBOT, R. (1983), “Education pessoais”, in C. Hasenbalg e N. V. Silva (orgs.),
expantion and the Kuznets effect”. American Origens e destinos: desigualdades sociais ao longo
Economic Review, 73: 1132-1136. da vida, Rio de Janeiro, Topbooks.
LANGONI, Carlos Geraldo. (2005), Distribuição SORENSEN, Aage. (1996), “The structural basis
de renda e desenvolvimento econômico do Brasil. of social inequality”. The American Journal of
3 ed. Rio de Janeiro, Editora FGV. Sociology, 101 (5): 1333-1365.
LEMIEUX, T. (2006), “Increasing residual wage SORENSEN, Aage & KALLEBERG, Arne L.
inequality: composition effects, noisy data, or (1979), An outline of a theory of the matching

Anpocs85_AF3f.indd 97 8/1/14 12:46 PM


98  REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 29 N° 85

of persons to jobs. Madison, WI, University of


Wisconsin (mimeo).
TAVARES, Priscilla Albuquerque & MENEZES-
-FILHO, Naercio Aquino. (2011), “Human
capital and the recent decline of earnings ine-
quality in Brazil”. Brazilian Review of Econome-
trics, 31 (2): 231-257.
WEEDEN, Kim A. (2002), “Why do some occu-
pations pay more than others? Social closures
and earnings inequality in the United States”.
American Journal of Sociology, 108: 55-101.
WEEDEN, Kim; KIM, Young-Mi; CARLO, Mat-
thew Di & GRUSKY, David B. (2007), “So-
cial class and earnings inequality”. American
Behavioral Scientist, 50 (5): 702-736.
WESTERN, Bruce & BLOOME, Deirdre. (2009),
“Variance function regressions for studying ine-
quality”. Sociological Methodology, 39: 293-326.
WILLIAMS, Mark. (2010), “The changing struc-
ture of occupations and wage inequality in
Great Britain, 1970-1990s”. Encontro do
ISA Research Comitee on Social Stratification
(RC28), Haifa.
WRIGHT, Erik Olin. (1997), Class counts: compa-
rative studies in class analysis. Cambridge, Cam-
bridge University Press.
WRIGHT, Erik Olin & DWYER, Rachel E.
(2003), “The patterns of job expansions in the
USA: a comparison of the 1960s and 1990s”.
Socio-Economic Review, 1: 289-325.

Anpocs85_AF3f.indd 98 8/1/14 12:46 PM


RESUMOS / ABSTRACTS / RESUMÉS  221

OS IMPACTOS DA GERAÇÃO THE IMPACTS OF EMPLOYMENT LES IMPACTS DE LA CRÉATION


DE EMPREGOS SOBRE A CREATION AND THE INCOME D'EMPLOIS ET L'INÉGALITÉ
DESIGUALDADE DE RENDA: UMA INEQUALITY: AN ANALYSIS OF DE REVENU: UNE ANALYSE DES
ANÁLISE DA DÉCADA DE 2000 THE DECADE OF 2000 ANNÉES 2002/2012

Flavio Alex de Oliveira Carvalhaes, Flavio Alex de Oliveira Carvalhaes, Flavio Alex de Oliveira Carvalhaes,
Rogério Jerônimo Barbosa, Rogério Jerônimo Barbosa, Rogério Jerônimo Barbosa,
Pedro Herculano G. F. de Souza e Pedro Herculano G. F. de Souza and Pedro Herculano G. F. de Souza et
Carlos Antônio Costa Ribeiro Carlos Antônio Costa Ribeiro Carlos Antônio Costa Ribeiro

Palavras-chave: desigualdade de renda, Keywords: Income inequality; Earnings Mots-clés: inégalité de revenu, expansion
expansão do emprego, ocupações inequality; Job expansion; Occupations; de l'emploi, occupations
Occupational structure

Nos últimos vinte anos, o Brasil viveu Income and earnings inequality have Au cours des vingt dernières années, le
um período de contínua queda da desi- fallen consistently in Brazil in the last Brésil a vécu une période de chute conti-
gualdade, especialmente relacionada aos 20 years. In this article, we intend to un- nue de l'inégalité, liée particulièrement
rendimentos do trabalho. Pretendemos derstand how these trends are associated aux revenus du travail. Nous tentons de
compreender como esse movimento se with the country's occupational struc- comprendre comment ce mouvement se
relaciona a uma dimensão pouco mobi- ture, an overlooked dimension in the rapporte à une dimension peu mobilisée
lizada no debate sobre o tema: a estrutura Brazilian debate concerning the theme. dans le débat sur cette question: la struc-
ocupacional. De início, apresentamos Our discussion starts with a detailed ture occupationnelle. Initialement, nous
uma discussão e dados que descrevem as analysis of the pattern and quality of the présentons une discussion et des données
mudanças dos novos empregos gerados jobs created between 2002 and 2012 in qui décrivent les changements des nou-
em dez anos (2002-2012). Em seguida, the country. This discussion draws the veaux emplois créés en dix ans (2002-
estudamos a desigualdade de renda do background to the following theme we 2012). Nous étudions ensuite, de deux
trabalho e seus componentes de duas address, which is the earnings inequal- façons, l'inégalité de revenu du travail
maneiras: descrevendo a importância de ity trend in the same period. We scru- et ses composantes: en décrivant, année
componentes ocupacionais a cada ano; tinize the trends in two different ways. par année, l'importance de composantes
analisando especificamente sua queda e The first is a decomposition our chosen professionnelles; en analysant spécifique-
o componente ocupacional se compor- inequality index year by year. Second, ment sa chute et le comportement de sa
tou diante de outras características, como we put into focus only the inequality composante professionnelle face à d’autres
raça, gênero, região e sobretudo escola- decrease and how it is associated with caractéristiques, telles la race, le genre, la
ridade. Nossos resultados apontam para the occupational component and other région et, surtout, la scolarité. Nos résul-
a relevância da estrutura ocupacional de characteristics such as race, gender, re- tats indiquent l'importance de la struc-
acordo com as diferenças entre e dentro gion and education. Our results high- ture occupationnelle conformément aux
das ocupações; indicam ainda que os light the importance of the occupational différences entre et à l'intérieur des occu-
recentes ganhos salariais dos trabalhado- structure, with its between and within pations; ils indiquent aussi que les gains
res e a queda da desigualdade de renda occupations components account- salariaux récents des travailleurs et la chute
do trabalho não estiveram associados a ing for more than half of the inequal- de l'inégalité de revenu du travail n'ont
mudanças na hierarquia e a aspectos da ity observed in each year. Despite this pas été associés à des changements dans
estrutura ocupacional. Em síntese, as dis- importance, the occupational structure la hiérarchie et aux aspects de la structure
cussões e análises do artigo contribuem has a minor influence in relation to the professionnelle. En bref, les discussions et
para um aspecto profundamente estru- fall of inequality, which is more associ- les analyses de l'article contribuent à un
tural da desigualdade de renda no Brasil, ated with changes related to education. aspect profondément structurel de l'inéga-
e importantes para a análise sociológica, These results show that the significant lité de revenu au Brésil. Ils sont également
que são os fatores institucionais e do changes that occurred in the Brazilian importants pour l'analyse sociologique,
mercado de trabalho. labor market in the last ten years were qui sont les facteurs institutionnels et du
not associated with changes in the occu- marché de travail.
pational structure. We demonstrate that
differences between and within occupa-
tions have remained stable. Our results
and analyses contribute in a non trivial
way to highlight the structural quality
income inequality in Brazil, pointing to
the institutional factors associated with
it through a sociological interpretation.

Anpocs85_AF3f.indd 221 8/1/14 12:46 PM

Vous aimerez peut-être aussi