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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

Exame Escrito de Direito Constitucional I

Época de Recurso - 13 de Fevereiro de 2014

GRUPO I

Responda, sucinta mas fundamentadamente, a apenas três das seguintes questões:

1. É correcto afirmar que, no caso português, o Governo é politicamente responsável


perante a Assembleia da República e o Presidente da República? (3 valores)

2. O que significa a afirmação que a função política stricto sensu resulta ser juridicamente
mais livre do que a actividade legislativa? (3 valores)

3. Pode o Presidente da República promulgar a lei de revisão constitucional estando em


vigor o estado de sítio? (3 valores)

4. Uma norma constitucional preceptiva pode ser não exequível por si mesma? (3
valores)

5. Pronuncie-se sobre o poder de veto do Presidente da República face aos diplomas


provenientes da Assembleia da República e do Governo. (3 valores)

6. Numa revisão constitucional, é possível eliminar os artigos 284.º a 289.º? (3 valores)

GRUPO II

Considere a seguinte hipótese:

Após um conjunto de atuações governativas que qualificou de “questionável oportunidade


política tendo em conta o atual momento do país”, o Presidente da República opta por,
através de decreto de 19 de fevereiro de 2014, e mesmo após pronúncia em sentido contrário
do Conselho de Estado, demitir o Governo. Considerando a conduta presidencial
“evidentemente inconstitucional”, o Primeiro-Ministro do Governo cessante não tarda em
reagir: i) solicita a apreciação jurisdicional do decreto do Presidente da República e ii) faz
aprovar, em Conselho de Ministros, e sem qualquer justificação adicional, um decreto-lei com
o objetivo de alienar todo o património cultural mobiliário presente no Palácio de Belém, cujo
conteúdo era, como por diversas vezes havia já sido manifestado pelo próprio, do “maior
gosto e admiração” do Presidente da República.

Entretanto, a 21 de fevereiro de 2014, a Assembleia da República aprova, numa sessão em que


estiveram presentes apenas 116 deputados, uma proposta de referendo através do qual se
interrogaria o eleitorado sobre a utilidade e consequente manutenção do Conselho de Estado,
após o que o Presidente da República opta por, imediatamente, o convocar. No dia seguinte, o
Presidente da República comunica ao país que já estaria em condições de dar posse a um novo
Governo, constituído por individualidades da sua alta confiança e sem qualquer ligação
partidária, acrescentando que tal Governo, que veio a tomar posse a 24 de fevereiro,
constituía a “única solução governativa capaz de, num prazo razoável, fechar os compromissos
que, até maio, ainda nos mantêm vinculados à Troika”.

Oito dias depois, o Governo recém-empossado apresenta, perante a Assembleia da República,


o seu Programa, sobre o qual é proposto um voto de rejeição por parte de um dos grupos
parlamentares e que merece 115 votos a favor e outros tantos em sentido contrário.
Assumindo, perante tal divisão do quadro parlamentar, que havia feito uma “incorreta leitura
da situação política”, o Presidente decide, nesse mesmo dia, dissolver a Assembleia da
República.

1 – Analise, sob o ponto de vista jurídico-constitucional, as atuações do Presidente da


República e do Primeiro-Ministro descritas no primeiro parágrafo da hipótese. (3,5 valores)

2 – Identifique e resolva os problemas jurídico-constitucionais suscitados pelo segundo


parágrafo da hipótese. (3,5 valores)

3 – Identifique e resolva os problemas jurídico-constitucionais suscitados pelo terceiro


parágrafo da hipótese. (2 valores)

COTAÇÕES

GRUPO I – 3+3+3 = 9 valores

GRUPO II – 3,5+3,5+2 = 9 valores

Ponderação Global – 2 valores


TÓPICOS DE CORRECÇÃO

Exame Direito Constitucional I – Época de Recurso

13 de Fevereiro de 2014

GRUPO I

[3 x 3 val.]

1. BLANCO DE MORAIS, Carlos (1998); “As metamorfoses do Semipresidencialismo


Português, in Revista Jurídica, AAFDL, n.º 22, pp. 144 e segs; REIS NOVAIS, Jorge,
(2007) Semipresidencialismo - Volume I, Teoria do Sistema de Governo
Semipresidencial, Coimbra, 2007;
2. BLANCO DE MORAIS, Carlos (2012); Curso de Direito Constitucional, Tomo I, 2.ª
Edição, Coimbra, pp. 37 e ss;
3. MIRANDA, Jorge (2007); Manual de Direito Constitucional, Tomo II, Coimbra, p.
202; BLANCO DE MORAIS, Carlos (2007); Justiça Constitucional, Tomo I, Garantia
da Constituição e Controlo da Constitucionalidade, Coimbra, p. 58.
4. MIRANDA, Jorge (2007); Manual de Direito Constitucional, Tomo II, Coimbra, pp.
289 e ss.
5. BLANCO DE MORAIS, Carlos (1998); “As metamorfoses do Semipresidencialismo
Português, in Revista Jurídica, AAFDL, n.º 22, pp. 149 e segs; MIRANDA, Jorge
(2010); Manual de Direito Constitucional, Tomo V, Coimbra, pp. 306 e ss;
6. MIRANDA, Jorge (2007); Manual de Direito Constitucional, Tomo II, Coimbra, pp.
209 e ss; BLANCO DE MORAIS, Carlos (2007); Justiça Constitucional, Tomo I,
Garantia da Constituição e Controlo da Constitucionalidade, Coimbra, pp. 57 e ss;

GRUPO II

1. [3,5 val.]
i) ato de demissão do Governo: análise da sua validade no confronto dos artigos 133.º
g) e 195.º, n.º 2; ii) qualificação do nexo de responsabilidade entre Governo e PR como
uma situação de responsabilidade do tipo “institucional” e não política em sentido
estrito; iii) consequências na hipótese: inconstitucionalidade do decreto do PR, tendo
em conta os motivos estritamente políticos que foram invocados; iv) valia do a
pronúncia do Conselho de Estado: caráter não vinculativo (artigos 141.º e 145.º b)); v)
pretensão do PM do Governo cessante esbarra com o facto de o ato de dissolução se
traduzir num ato da função política stricto sensu e, por essa via, não sindicável
jurisdicionalmente – enquadramento da questão na teoria das funções do Estado e no
tipo de atos jurídico-públicos; vi) a aprovação do Decreto-Lei referido contraria o
disposto no artigo 186.º, n.º 5, já que, a partir da demissão, o Governo se encontrava
“em gestão”; vii) alcance dos limites fixados no artigo 186.º, n.º 5 e referência ao
princípio da proporcionalidade: aplicação ao caso.

2. [3,5 val.]
i) quorum deliberativo encontrava-se satisfeito: 116.º, n.º 2; ii) competência para a
aprovação de propostas de referendo: 115.º, n.º 1; iii) a matéria em causa não poderia
ser objeto de referendo, ex vi artigo 115.º, n.º 4 a), já que a eventual extinção do
Conselho de Estado implicaria uma revisão constitucional (a mesma solução resultaria
do n.º 3 do artigo 115.º, na medida em que a extinção do Conselho do Estado nunca
poderia ser alcançada através de tratado ou ato legislativo, mas sim por lei de revisão
constitucional); iv) a convocação imediata do referendo por parte do PR viola o n.º 8 do
artigo 115.º, que impõe o envio obrigatório da proposta para o Tribunal Constitucional;
v) a nomeação de um novo Governo por parte do PR: enquadramento genérico nos
termos do artigo 187.º, n.º 1 e 2 e 133.º f) e h); vi) hipóteses de governos de “iniciativa
presidencial” e discussão da questão tendo em conta o nexo de responsabilidade entre
Governo e PR e o limite fixado na parte final do artigo 187.º, n.º 1; vi) eventual
enquadramento da hipótese na modalidade dos “governos de iniciativa presidencial em
sentido próprio” (BLANCO DE MORAIS), atentos os fundamentos: valorização da
discussão do problema e de referências doutrinárias.

3. [2 val.]
i) procedimento genérico de entrada em funções de um Governo: nomeação – tomada
de posse - apresentação do Programa de Governo perante a AR, nos termos do artigo
192.º - até esse momento, verifica-se uma hipótese de “governo de gestão”, nos termos
e com os efeitos do artigo 186.º, n.º 5; ii) aplicação do regime do artigo 192.º, em
especial dos seus números 3 e 4; iii) apreciação da maioria e efeitos no caso: a votação
do voto de rejeição não provocou a demissão do Governo; iv) enquadramento do poder
de dissolução da AR por parte do PR: artigos 133.º e) e 172.º; v) margem de liberdade
no exercício dessa competência e confronto com as hipóteses de demissão do Governo.

Ponderação Global [2 val.] atribuída na base dos seguintes critérios: i) clareza e


correção da expressão linguística; ii) sistematização das respostas; iii) compreensão
global das perguntas e dos problemas jurídico-constitucionais.

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