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BUQUÊ SUBULATA

Tiago Henrique Rezende Fonseca

1
Tiago Henrique Rezende Fonseca

BUQUÊ SUBULATA

2
Este é meu terceiro livro publicado em versão impressa. Desde 1998 rascunhava alguns
versos, que no ano de 2008 somaram o bastante para compor o primeiro, intitulado
Pensamentos & Poesia. Todavia, minha prioridade artística voltava-se à música, por
isso, nos primeiros dez anos de minha carreira, o número de canções compostas
dobravam a quantidade de poemas escritos. Contudo, passei a enxergar a literatura com
outros olhos e além de composições populares, decidi me dedicar mais ao exercício
poético.

Nesse caminho, debruço aqui minhas versificações ao deguste de leitores em busca de


palavras e momentos que possam brindar a vida e suas verdades transfiguradas do
cotidiano.

3
SUMÁRIO

Capítulo 1
AROMAS DO CAMPO

09- Boa noite


10- Caminhos opostos
11- Cena de novela
12- Conchas do oceano
13- Contrário
14- Deslizes de uma escultura
15- Divisores
16- Doses de paz
17- Dualidade
Entendimento
18- F de foda
19- Fagulhas I
20- Febre invasiva
Iconolatria
21- Lentamente reversível
Liberdade inversa
22- Lira por que deliras?
Meu silêncio fala sim
23- Neblina
O nome que não sei
24- O vício
25- Oaçcif
Paisagem
26- Peripécias
Pinceladas de papelão
Pique-esconde
27- Poema do beco escuro
Quintal
28- Sem planos
Sentidos
Sonhos litorâneos
29- Tempo e espaço
Tentativa abandonada
30- Velhos tempos

Capítulo 2
FLORES CANIBAIS

32- A rotatividade da lua


33- Adolescentes
34- Avestruz
35- Casório

4
36- Chegará
37- Cruzamento
38- Cumplicidade
39- Diário de uma borboleta
40- Do além
Ela ao quadrado
41- Epifânio
42- Imperfeito
(In) decidida
Incomplequitude
43- Leitura masculina
Momento apropriado
Não questione
44- Onze da noite
45- Ponto de vista
Qual o problema?
46- Reminiscência
Segredo
47- Sereia do asfalto
Sintonia
48- Sua presença
Suave detalhe
49- Superfície profunda
Treze vezes

Capítulo 3
ROSAS E ESPINHOS

51- A beleza atrás dos montes


Apagão
52- As pazes
Carrossel
53- Cortina
54- Desculpados
55- Despertar
56- Dragão do mato
Esconderijo de animais
57- Evasão
Fagulhas II
58- Filmes que não gosto
Folha azul
59- Fracionado
Imbricações
60- Jovens Loucos
O preço da vida
61- Oração do descobrimento
62- Pequena tempestade
Poesia por esporte
63- Preservativo

5
Que poesia
Realizações esquecidas
64- Respiramos e morremos
65- Retórica incorrompível
Ritual errôneo
66- Saúde
Se sentir especial
67- Sozinho e atoa
Todo momento
Totalmente nu
68- Vozes

Capítulo 4
AGRIMÔNIAS

70- A fonte da noite


A fuga
71- A mágica de um ator
Ácido
72- Anacrogia
73- Arlouco ocuolar
74- Atrasado
75- Auto-resposta
Banalidades Banais Bucólicas
76- Biscoito de polvilho
Cidadão de enfeite
77- Dialogante
Disparos
78- Em outras mãos
Espinhos de um homem
79- Evasivo
Hipotética
80- Imortal
Medonho
81- O penetra
82- Partantesti
Porta fechada
83- Riqueza estúpida
84- Sal
Versos fúteis

Capítulo 5
ORQUIDÁRIO

86- Indecifrável
Luar
87- Poema sem rima
88- A fórmula

6
89- Olhos de vidro
Para você
90- Caminhos de volta
91- Escola
92- Fim de infância
Frase final
Ouvidos que não ouvem
93- Reflexos
Seres quaisquer
94- Tardes de domingo
Cisociedade
95- Conversa
Coração interrogado
96- Escravos da tecnologia
Poeta consciente
97- Serpente
98- Tempo

7
Capítulo 1
AROMAS DO CAMPO

8
BOA NOITE

Que lua infinita


Num céu maciço
Parecendo ondas ao contrário
Trombando em meio às nuvens

Uma pintura divina


Uma lembrança eterna
Um eclipse instantâneo
A magnitude do brilho

Os escombros construídos sobre a Terra


Os olhares lançados para o céu
O tempo passando
O oceano de um coração
A maré de uma mente
A voz de uma canção

Uma brisa leve passa calmamente,


Ergo minha cabeça
As heresias se distanciam
Então, brindo o encobrir da lua
Brilhante
Num céu sem estrelas

A maravilha desenhada no espaço


A mudança repentina
Um ponto de vista
Uma emoção não traduzida

O ar
O céu
Um colírio.

9
CAMINHOS OPOSTOS

Um pouco de pimenta
E um som ao pé do ouvido,
Palavras sitiadas
Versos cabulosos
Corações em pedaços

Um quebra-cabeça
Se espalha no ar,
Partes caíram fora do plano
Restou o improviso de um buraco
Deixado pela peça que faltava

Um quadro
Um canto
Uma pintura
Uma parede em branco

Sorrisos frágeis, sinceros


Sorrisos alegres

Vida.
Vida:
Mistério
Drama,
Comédia,
Ironia.

À noite,
O vinho,
A água,
O terno.

10
CENA DE NOVELA

Quando a loucura vence a beleza


Quando o desejo se sobrepõe à razão
Quando o impulso acelera o sentimento
Quando a rendição é inevitável
Quando ainda há um A

Sentado cinco minutos no sofá da sala


Por um minuto, achei que fosse possível...
Ingenuidade minha;
Pobre homem de 22
Com toda a sua andança antialienação
Ainda acredita, ainda acredita

Depois...
É assim mesmo!

Cinco minutos...
Já lanchei, volto à minha vida...
Pensante, interrogadora,
Na contramão.

11
CONCHAS DO OCEANO

Os invernos que me trouxeram a poesia,


O comércio que me estatizou com mercadorias,
A vida de histórias
Contadas em filmes,
A vida de verdades
Contadas em histórias

Ouvi um poeta dizer


Que um poema é muito íntimo
Ora, ora seu poeta
Tem medo de si mesmo?
Medo do seu coração?
Ou medo de que conheçam sua vida?

Uma interrogação pula de ponto em ponto.


Me pergunto:
Para quê tais situações?

Ouço o barulho de passos lá fora...


Ó, desculpa...
Isso pode parecer vestígio da minha intimidade

Olha seu moço:


Sei que sou mais moço que você
Mas em meu emaranhado de alfabeto
Não poderás captar meu íntimo.

12
CONTRÁRIO

Ofício...
Nem sempre!
Falta de ofício...
Depende!

Artista...
Fome!
Artista...
Ofício!

Dinheiro...
Intelecto!
Intelecto...
Sem dinheiro

Projetos...
Falidos!
Ideias...
Vencidas!

Chance...
Não creio!
Esperança...
Perdida!

Cansado...
De fato!
De fato...
Morrendo!

Igual...
Desigual!
Talento...
Esquece!

Emoção...
Contenha!
O resto...
Que se exploda!

13
DESLIZES DE UMA ESCULTURA

Meus dedos procuram


O vício de acordes prontos,
O relógio analógico
Quase marca dez da noite

O violão recostado
Com suas cordas todas,
Uma mente acelerada
Procurando a corda certa

Limitado à ânsia do que é fácil


Paro na janela para pegar um ar,
As estrelas me olham lá de cima
E os acordes me desafiam

As horas reclinam
No horário de verão,
Meu ponteiro atrasado
Não ficará pra traz

Quando tudo parece dar um nó


Novamente fujo da perfeição
E reencontro o simples
Visto apenas por olhares puros e despreocupados

Observo, descanso
O ar me contempla
E algumas vozes atrás do muro
Aproveitam a vida como podem.

14
DIVISORES

Os dias
Deixaram-me distante
Da minha vida

O tempo
Sempre me desafiou a entender
O que eu não entendo de mim mesmo.
Volto ao mundo
- Ao meu -
O ar é inseguro
O avião balança

Um CD arranhado arranha meu humor


Volto,
Revolvo,
Reviro,
Retorno.

Me recomponho,
Questiono,
Leio

Literatura
Óculos
Computador
Rotina
Desespero
Fim de férias...
Outra divisão da vida.

15
DOSES DE PAZ

Eu queria estar sentado numa cadeira confortável


Seria mais fácil para descrever a beleza do céu

Algumas árvores me parecem sentinelas


As roseiras parecem favos de abelha

Sorridente, deslizo sobre o chão


Francamente me alegro
Com o simples barulho dos insetos

À tarde um pássaro exótico voava por aqui

O clima de clube
O cheiro de protetor solar
O frescor do vento
A paisagem inteira

Respiro a felicidade de um momento,


Olho tanto para o céu
Que uma estrela parece
Minha roseta de estimação.

16
DUALIDADE

Meu sorriso mascado


Invertendo a ordem dos acontecimentos
Num olhar penetrante
Perdido em meio as pernas cruzadas

Levanto-me com o copo na mão


Peço uma champagne
E brindo à audácia
Do que meus olhos vêem

Me compenetro
Numa lógica errônea
Quem diria
Que isso são apenas versos?

Mesmo quando minto


Tenho que carregar a chance
De uma interpretação verdadeiramente incorreta.

ENTENDIMENTO

Pipas voam no ar
A linha segura o bicolor
A mão segura a linha
A linha vai pro carretel
O carretel volta à mão
A mão pulsa junto às veias
As veias levam ao coração.

17
F DE FODA

Afazia, afazeres, enfadado


Desfocado, fora de forma
Fazendo frases de forca
Enforcando fábulas e falácias
Falando feito foca,
Fervendo, filosofando, desafiando desafinado
Enfileirando fotos e fatos
Fantasiando o fantástico
Fatalizado num fardo feito folhas
Fugazes d’uma fuga
Afarpeada por ferpas fortes
Fatores fraudulentos
Fisgados por um feixe
De fertilidade infecunda
Referenciada
Por um F fora de foco.

18
FAGULHAS

Vestígios incontroláveis
Surrupiam uma razão vendida, vendável.
Uma luz briga entre o escuro e o breu,
Incansáveis tentativas deixam os feixes cessarem

Resta pouco, uma nesga de claridade


Que acende sutilmente
Entre uma brecha e outra

Movimentos movimentam o irracional,


A briga pelo dinheiro
A luta pelo poder
A insistência insistida
O alcance do êxtase

Vestígios se escondem
Jogados pelos cantos
Um monte incontrolável abatido no chão

Uma unidade débil


De uma conjuntura furtada,
Um momento de delírio,
Uma volta ao mesmo

A noite vira
E no meio
O pequeno brilho perde seu tom

O dia chega
O sol raia sobre a cabeça de todos,
O império imaginário se desfaz,
O povo se divide
E o ciclo se repete.

19
FEBRE INVASIVA

Uma ponta de ansiedade,


Um emaranhado de caminhos,
Raízes fincadas no chão,
Desafios que se erguem

Uma história de fundo


Um pensamento inacabado
Uma fórmula repetitiva
Um novo olhar

De tanto um
Se forma o plural,
De tantas coisas
Se perde o muito

Montoeira de palavras
Amontoadas, descartadas, interrogadas?
Não... Não concordo!

ICONOLATRIA

Quero um quarto com varanda aberta


Onde a chuva possa chegar até a janela
Quero dormir olhando as estrelas
De uma sacada com teto de vidro

Quero um edredom gostoso


Uma cama enorme e um colchão macio,
Deitarei de pijama depois de um banho completo
Vou sentir o vento, respirar a vida

Quem sabe seus braços


Serão meus abraços
Quem sabe sua boca
Será minha boca
Quem sabe a noite
Será toda nossa

O amanhecer trará a brisa entrando pelos cantos


As cortinas balançarão e a vida sorrirá bem cedo,
Levantarei com uma fascinante energia
Vou preparar um chá quente com pão integral, flores e lírios

Dedico tudo isso


Aos sonhos que temos.

20
LENTAMENTE REVERSÍVEL

A lua 80 graus sobre meus olhos


Cai sobre minha cabeça
Interrogando a imensidão

Um barulho balbucia em minha artéria


E o sopro
Sopra minha veia

Samba um sufocamento
Que me prende a respiração,
Num querer
Abrir e retirar
O envenenamento de uma situação

Corrompidamente
Uma forma inalterada de mudança não mudada
Me joga contra meu próprio jogo
Abarcado novamente pela repetição.

LIBERDADE INVERSA

Parâmetros
Regras
Certeza
Certinho
Correto
Regras
Parâmetros

A sociedade afogada em suas próprias regras

O absurdo
O caos
A linha
O laço

A sociedade desprendida da liberdade


Se aprisiona mais do que qualquer outra coisa

Liberdade escassa
Presa por um bocado de significados.

21
LIRA POR QUE DELIRAS?

Quem me dera acabasse aqui este poema.


Mas ao longo de algumas rimas e sentimentos
O amor às vezes nos atormenta.

MEU SILÊNCIO FALA SIM

Diga-me
Que suspiras
Quando lê estas linhas

Diga-me
Que não pode me esquecer,
Fala...
O que eu não preciso ouvir

Escreva-me
Dizendo que amou,
Porque disso
Sabes que não preciso escrever.

22
NEBLINA

De manhã
Acordei pensando no meu dia,
À noite
Terminei pensando no amanhã

Crescemos
Sem notar isso
Quando se assusta
Você já é velho o bastante
E tudo depois disso
Pesa como neve.

O NOME QUE NÃO SEI

Vou embora com seu olhar


Com seu sorriso belo
Com seu carinho disposto
A fixar seus olhos nos meus

A fila anda rápido


Mais do que eu gostaria
Deixo você ir na frente
Tentando despistar seus flertes indecentes

Me alegro,
Faço cara de conquistador
Te vejo
Te beijo
Olha, de novo,
Te pego.

23
O VÍCIO

É isso que prende


Te procuro
Você não
Me responde,
Retorno
Você não.

Te chamo
Você dá atenção,
Me alegro
Você desfaz a corda

Sou cachorro na coleira


Roendo osso
Enterrando minha vergonha na terra

Eta osso que não se desenterra!

Sou palhaço
Sou vilão
Idiota
Apaixonado
Descontrolado
Manipulado

Por você??

Não!
Por um urso bi-polar
Que vem me visitar nas brincadeiras do meu pensamento,
Vestindo pele de cordeiro
Para não te assustar.

24
OÃÇCIF

Chegará o dia em que todos pedirão água


Porque o líquido virou barro,
Ou então,
Mutaremos como animais
Sob o domínio de máquinas

Inteligência Artificial,
O homem passa seus segredos a Nano
E se esquece do que ensinou

Torna-se-a dependente do inventado


E o invento ganhará poder,
Começará a controlar o homem
Agora mutado sob as rédias da I.A
Pensando que IA mudar o mundo

Mudou...
Tornou-se escravo.

PAISAGEM

Obra de arte
Tintas pelo chão
Peças raras
Natureza estupenda

Vou criar meu destino através desse poema

Uma montanha
Uma árvore
Duas cerâmicas
Vários telhados

Ergo meu olhar sobre o monte


Prefiro a beldade desse instante
Meus olhos brilham
Meu coração agradece.

25
PERIPÉCIAS

A vida é um querer chegar desmedidamente,


Depois,
Um querer voltar no tempo - reviver momentos
Depois,
Enxergar que tudo isso
É a vida que seguimos nas lembranças constantes
Que construímos sem sequer notar.

PINCELADAS DE PAPELÃO

Nada
Nada
Nada!

Movimentos
Movimentos

Nada
Nada
Nada!

Entenda!
Entende?

Nada
Nada
Nada!

PIQUE - ESCONDE

A Lua se esconde atrás da telha


O Sol aparece por entre as árvores
Um, dois, três... Tô salvo!

A Chuva subiu no meio-fio


O Arco-íris mergulhou no lago
A Estrela assobiou para Marte
A Montanha piscou para a Geleira
A Água correu em meio às pedras
A Terra pisou sobre o céu
E a Noite correu atrás do Dia

Mas...
A Natureza ainda olha para tudo
E acha que a brincadeira é pique-pega.

26
POEMA DO BECO ESCURO

Sem lugar para nada


Me ligo nos lampejos de luz
Em sussurrados medos vadios
De um farol à distância,
De um olhar perceptível
Imaginado, esperado
Transpirante

Volto às sombras dos tons de cinza


Refletidos no chão,
Ao notar um banco... um banco,
Um movimento
Às vezes provocado pela inércia

Lampejos
Assombros
Desejos
Vontades
Um fim
Um novo começo.

QUINTAL

Quando fui escrever


O passarin já tinha voado,
Bicava a goiaba
Pousado no galho

O ar
Ovento
Veloz
Eminente
Neutro
Transportador oitavado
Outrora batia em meu rosto
Fazendo-me voar
Pairando em momentos de intensa paz.

27
SEM PLANOS

Em algum lugar
No mesmo momento
Neste exato instante
Sei que também pensa em mim.

Quando você se dá conta disso,


Queria que eu estivesse fazendo a mesma coisa que você,
Que eu estivesse ouvindo, vendo ou assistindo
O mesmo que você

Digo:
Quem sabe de fato não estarei?
A resposta
O vento levará a você.

SENTIDOS

A vida, às vezes não faz sentido,


Nem para loucos
Nem para normais
Nem para sonhadores
Nem para céticos

A vida
Às vezes, simplesmente não faz sentido
Não quer dizer que não tenha um
Simplesmente, às vezes não faz sentido.

SONHOS LITORÂNEOS

Eu sabia que dormiria ali...


O dia foi cheio
A noite macia
A madrugada melhor

Um copo d’água me parece um sonho


O oceano, eu vejo infinito
As ondas me trazem conchas,
No fundo se escondem mariscos

Me veio um girassol quadrado


Eu não acreditava no que via
Pisei numa estrela sem pontas
... Não faz sentido.

28
TEMPO E ESPAÇO

Talvez algo físico,


Talvez invisível
Num simples - complexo
Que envolve uma estrutura
Detectável pelo espaço

Espaço que pertence ao tempo,


Tempo indecifrável que nos move pelo relógio
Que nos indaga por sua eterna magia

Algo físico
Talvez invisível,
Tempo e espaço...
Para alguns, indeterminados.
Para outros, apenas um lapso interrogatório.

Há quem se perde
Há quem se encontra
Há quem procura
Há quem se esconde

Atrás do tempo, um espaço


Pelo espaço, um tempo.
Assim, a areia da ampulheta cai dentro de suas vértices.

TENTATIVA ABANDONADA

FELICIDADE IN ROMA INFELICIDADE NO AMOR

Um monte de Raul Monte um monte de luar


Um cavaleiro de osso Cavaleiro! Um cavaleiro de osso
Perdido nos sonos. No perdido nó sem ônus.

29
VELHOS TEMPOS

O trabalho fica matutando um objetivo


Você não se recorda dos velhos tempos
O conforto rouba uma porção de coisas
E as devolve com um sorriso

Parece-me estranho
O verão não é tão quente assim
Estou distante,
E você mais próxima de mim.

30
Capítulo 2
FLORES CANIBAIS

31
A ROTATIVIDADE DA LUA

Um ano é tanto e tão pouco


Ontem fui ingênuo
Hoje, sou talvez mais maduro

No passado, fui inconsequente,


Agora, acho que sou prudente demais

A velocidade da vida,
Momentos errantes,
Detalhes eternos

Imagens
Sonhos
Planos
Sempre

Um quase reerguendo,
Um simples contratempo

O beijo da surpresa
A saudação de um sorriso
Um pensamento roubado
Um desejo refeito

Dois lábios que se tocam


Olhares que se cruzam
Esperanças que se movem
Emoções que se rondam.

32
ADOLESCENTES

Um guarda-chuva,
A sorte,
A chuva

Um casal passa de braços colados,

O sorriso estampa todo o rosto,


A magia passa nos olhos
Ela,
Toda contente.
Ele,
Todo alegre.

A mochila não pesa... não hoje.


O caminho não é longe... hoje está mais curto que o normal,
Ficou muito mais perto que antes

A chuva cessa
O guarda-chuva continua aberto,
A escola chega
E agora nunca será a mesma.

33
AVESTRUZ

Quero me esconder em um buraco


Eu me mato de vergonha
Me arrependo muito,
Muito mesmo

Ela não merecia meu erro


Minhas camuflagens
Pós nós dois

Eu passei a imagem
De que tudo
Com o tempo ficaria bem
E num ato
Num vacilo burro
Perdi minha imagem de herói

Pior,
Destruí o coração amável
Da mais bela das flores
Que confiava no amor.

34
CHEGARÁ

Chegará aos seus ouvidos


Minhas palavras
Meus passos
Meus desejos

Chegará aos seus ouvidos


A magnitude do meu bem querer
A felicidade do meu instante
A energia do meu pensamento

Chegará aos seus ouvidos


A notícia de minha vida inteira
Do meu coração sincero
Do meu amor

Chegará aos seus ouvidos


Os sonhos que sonhei para nós,
E chegará o dia
De nos vermos frente a frente
De novo!

35
CRUZAMENTO

As folhas que escrevi


Os versos que falei em voz baixa
Sussurrados em segredo,
Guardados

Queria ter o poder


De ter certeza da verdade

Sei de mim
Do meu coração,
Do coração junto a mim
Não sei não!

36
CUMPLICIDADE

Você reapareceu...
De um lado, farpas e espinhos,
De outro, cumplicidade e carinho

Você parece um anjo,


Me entende como ninguém,

N’outra vertente
Me perco lamentavelmente

Ligo o rádio
Acendo um incenso
Corro pros braços dela

Vivo
Respiro
Transpiro

Me vejo
Vejo a ti
Nós dois...

Não sei!

37
DIÁRIO DE UMA BORBOLETA

Vou dormir de cabeça pra baixo


Mudar a rotina
Te fazer presente nestes versos
Ter a cara de pau de pensar
Que você vai entender o que eu digo

Não sei porquê


Momentos de fascínio me fazem cair na real,
Você não está aqui!
Para que ficar pensando?

“Vou embora pra casa


Lendo seus poemas
Decoro alguns trechos
Fico tatuada por suas palavras”

Imagino que é isso que pensas.

Quanta ficção
Quanta verdade
Quanta mentira
Quanta ilusão
Quanta invenção
Quanta (in)certeza

Exatidão
Expressão
Experiência
Experimento
Ex, é uma palavra forte demais
Para alguém que não esquece.

38
DO ALÉM

Não me faça confessar


De onde vêm esses versos
Atrevidos
Sussurrados
Incertos

Em cada palavra de reencontro


Vejo seus olhos semiabertos
Pois hora pensa que é um sonho,
Outrora delira no passado

Não sei lhe dizer


O quanto me enganei
Procuro desistir
Porque sei que não é nada...
Além do meu coração.

ELA AO QUADRADO

Os milhões de presentes que você deu


Foram presentes seus
E nada do que ela escolheu

As variadas músicas que você gravou


São um gosto seu
E não um gosto dela

Daí, alguém manda um recado


- Como você já não manda -
Alguém se lembra de um texto que fala de amor
E manda para ela

Ela lê a letra de uma canção


E pergunta se tem a ver com ela.
Ele se alegra
E como na mágica dos primeiros instantes
Envia-lhe a canção

Essa música foi escolhida por ela,


Ela recebe um presente que escolheu
E você
Agora é apenas amigo

Não ama mais as mesmas coisas que ela,


Não compartilha mais de uma vida a dois
Amarga a destruição de um relacionamento

39
Infindado por um tempo sem definição.
IMPERFEITO

Não vou mais relembrar nós dois


Vou guardar para os meus pensamentos

Volto à vida de antes,


Você segue seu caminho de sempre
Não lhe mandarei mais poesias
Você não se alegrará com meus elogios sinceros,
Não mais.

Preciso partir
Antes que eu parta meu coração,
Minha ilusão quase verdadeira
Não suporta mais
Um verso
No futuro do pretérito.

(IN)DECIDIDA

O passado se confunde com o presente em seus versos,


Você parece bem decidida
Ao mesmo tempo que não sabe o que quer

Não compreende seus desejos


Mas ouve seu coração de mulher.
Você
É simplesmente
Um eterno volver, avançar e pairar no tempo.

Suas atitudes distorcem um sentimento,


Seus medos,
Sua realidade,
Sua vida,
Suas verdades.

INCOMPLEQUITUDE

Me fizestes lembrar
De coisas mágicas
De sentimentos nobres
De uma natureza sincera
De uma vida existida
De um amor maior que amor...
Bem mais que um te amo
Pouco menos que o real
Mas tão verdadeiro quanto a vida.

40
LEITURA MASCULINA

Descobri que meu coração não pertence a uma só mulher


Sou tentado a cada olhar,
Adoro flertar,
Olhar nos olhos

Olhos que me surpreendem


Olhares que trazem novidades
Beleza que me reinventa
Espírito e paz
Unicamente
Só satisfeito no plural.

MOMENTO APROPRIADO

Retiro o que disse,


Eu sinto muito.
Porém,
Poucas palavras não lhe farão sentir o que sinto

Desculpas desculpadas
Perdões perdidos e recompostos,
Trâmite, trânsito:
Verbal, animal... humano.

NÃO QUESTIONE

Quando você quer, eu não quero


Quando me desespero, você não pode
Quando se desespera, eu estou longe
Quando quero, você se esconde
Quando termina, recomeça
Quando começa, eu desisto
Quando insiste, não concordo
Quando me perco
Quero estar perdido
Nada mais.

41
ONZE DA NOITE

Guarde a minha imagem


Para não se esquecer,
Quando chegar em casa, lembre-se de mim

Eu vou estar olhando para o céu,


Nossos olhares se encontrarão nas estrelas,
Verei você de perto
E você vai sonhar comigo à noite.

A madrugada desce suas horas


Você fica pensando em mim,
Eu sei.
Você gravou meus olhos
E eu te guardarei em mim.

42
PONTO DE VISTA

É... A mágica do amor termina,


A mágica do amor ciclicamente retorna,
Não sei quando,
Não sei onde

Versos, palavras, expressões, sentimentos


Fantasia, alegria, felicidade... assombro
Surpresa, cinestesia, burocracia... namoro

É... A mágica do amor começa,


A mágica do amor se finda...
Não sei quando,
Não sei onde

Mas o que será que é amor?

A vida
Alguns sonhos
Objetivos
Clareza
Tristeza

Sentir não é o mesmo que falar.


Entrar num coração não é pedir licença,
Morrer num coração não é controlável

Renascer, reviver, ressuscitar


Não está sob nosso controle

Se tudo não se entende


Como entender o amor?

QUAL O PROBLEMA?

Tem dias que amar é um saco!


Minha mulher não poderá ler estas linhas
Pois logo me atacará com mil pedras

Minha mulher não poderá ver estes versos


Pois dirá que nada sinto,
Quando sabe que a amo

Mas tem dias que amar é um saco!

43
REMINISCÊNCIA

Com que permissão


Você invade meus pensamentos?
Por que se intromete em meus sonhos?
Por que me diz que sente o mesmo?
E por que fica distante quando eu mais preciso?

Palavras de amor
Confissões de carinho
Delírios de prazer
Vontade
De voltar para sempre
E viver para sempre.

SEGREDO

Alguns filmes
Fazem passar filmes em nossas lembranças,
Um cinema sempre me foi agradável,
Tua companhia
Era como se meu coração não estivesse só

Como um super-herói
Não posso estar junto a ti
Porque o destino que escolhemos
Mora numa sociedade implacável
Que não permite voltas
Pois a gente mesmo se impede

Não entendo
Pra que contrariar seu próprio coração
E fingir que tudo continua normal
Após confessar seu amor por mim...

Apenas
Leio estes versos em voz sussurrante
E sei que você fará o mesmo
Logo depois guardará para si

Tudo isso diz que não descerás do altar


Para bater em minha porta,
Nisso,
Os filmes superam suas verdades.

44
SEREIA DO ASFALTO

Sua proximidade é proibida para meu coração,


De cabeça para baixo vejo o que eu não devia,
O vai e vem de seu andar,
A beleza dos seus olhos verdes

Guardo algumas palavras


Um monte de sentimentos
E um sorriso escondido

Você me viu de perto


Despiu minhas armaduras
Conquistou-me novamente
E se foi de novo.

SINTONIA

Seus passos vão à frente,


Minhas mãos não te alcançam,
Sua face declina em expressão
Minhas sobrancelhas franzem

Um contimento contraído baixa meus olhos


Sua velocidade aumenta
Meu humor diminui
Seu amor se abala

O andar continua
Meu passo enfraquece, o seu acelera.
O sol arde,
Uma nuvem tapa a luz

A sombra sombreia sua alma,


Uma gota d’água cai do céu
Pinga no barro da estrada
Em contraste com o seu momento,
Semelhante ao meu lamento.

45
SUA PRESENÇA

Canções rolam ao fundo


Uma taça de vinho me acompanha
A sala de estar me embriaga
Seu sonho parece estar aqui

Vejo sua imagem refletida na vidraça


Você veio me ver e voo de volta para o seu reino

Apago a luz
Mas já não faz diferença
O sol bate na janela...
O silêncio se instaura,
Não sei por quê

Coloco as mãos sobre o piano


Algumas noites tristes
Me fazem largar a taça e beber no bico.

SUAVE DETALHE

Legal te ver sorrindo


Saber que não te feri irreversivelmente

A mente toma conta do meu descuido


Quando paro para pensar no que escrever
Perco a liberdade de sentir
O que a caneta transpira
Dos meus sentimentos.

46
SUPERFÍCIE PROFUNDA

Sentimentos

Sentimentos

Especiais

De uma mágica
De um sonho
De uma vida
Que você me faz sentir

Com uma paixão tocante,


Em um amor profundo
Numa realidade contente
Numa felicidade feliz.

TREZE VEZES

Um beijo não é a volta


A volta não é um beijo
Um não, não é um
E um, não é um não

Uma vida não são duas,


Não adiantam promessas
Um indivíduo sempre terá sua individualidade
E a individualidade não é compartilhada...

Um canto
Um momento
Um andar depressa
Um olhar desviado
Um reencontro frustrado,

Um beijo não é a volta


A volta não é um beijo.

47
Capítulo 3
ROSAS E ESPINHOS

48
A BELEZA ATRÁS DOS MONTES

Antigamente as palavras me tocavam


Ultimamente tenho dormido muito tarde
Felizmente acordo cedo
Infelizmente não removo a neve a minha frente,
O sol ainda raia
Não deixaria de brilhar

As duas horas da manhã


São mais claras em meu pensamento

Não há barulho de trânsito


As pessoas dormem,
Vou sendo vencido pelo cansaço
Nem a insônia me mantém de pé

Fecho os olhos vendo o vidro dos meus óculos,


Fecho a porta de entrada das minhas ilusões,

Descanso numa cama limpa


Em pensamentos limpos
Para um futuro... Diferente.

APAGÃO

O veneno que ganha a noite


A rebeldia que desafia a vida
Os resíduos da esfera momentânea
A certeza do incerto

Os poucos flashes de luz


A azia queimando o estômago,
O romantismo dilacerado
Por um pouco de monotonia

O cansaço
A falta de ar
A recompostura
O andar erguido
Com os pés firmes na objetividade

...
O estrondo
O estouro
A falta de energia
Um mero... Desperdício.

49
AS PAZES

Sair faz bem.


Colocar uma roupa nova, confortável
Sentir-se em seu melhor estado

Olhar no espelho docemente


Encenando ver outro alguém

Escolher um perfume enlouquecedor


Calçar um sapato bonito
Colocar dinheiro no bolso...

A noite
Me espera.

CARROSSEL

Novamente em minha mente


Aterrorizas meu estado pacífico
... É tão bom estar em paz
É tão bom sentir a brisa

Desapareça agora
Sua proximidade me irrita
... O passado, às vezes,
Abre crateras infinitas

Não fique assim


Não se debruce em desespero
Atualize seus planos
Não se entregue ao desconserto

Te quero bem,
Não queiras mal
A vida é como uma roda gigante,
Eu só não soube compará-la
A essa metáfora que criei.

50
CORTINA

Quando vejo as estrelas pelo vidro


Vejo também o reflexo de um brilho
Distante, distante

Por que a gente se fascina com o céu?


Por que a gente se apaixona pela lua?

Porque está distante, distante

Se o coração fosse aquecido


Por que gostaria de sentir frio?
Inverso, inverso

Caço sentido nesses versos,


Mas para quê explicar?
Sou poeta; não professor.

51
DESCULPADOS

Pernas para o alto


Fui assaltado enquanto plantava bananeira,
Passa a carteira, o celular e o cartão

Han!
Pobre bandido!
Quis assaltar um ator em começo de carreira.

Ouço passos fortes lá fora


A tropa vem correndo:
Mãos para o alto,
Passa a carteira, o celular e o cartão

Han!
Ingênua gangue
Quis assaltar artistas de salão

Ô pessoal sem juízo,


Ô mundo sem pai nem pão,
Pobre gente!
Gritar mais alto virou solução.

52
DESPERTAR

Chegar à rua de casa


Dirigir um carro
Esperar um ônibus
Ver a van passar

Olhar imagens correndo... paradas


Ver a vida vivendo,
Persistir numa ocasião falida
Porque o coração não sabe esperar

Viajar em sorrisos
Querer o que não se tem
Fazer o contrário
Tentar entender o que isso significa

Ficar parado,
Pensar no tempo...
O cotidiano,
O inverso disso

A rotina,
A fuga do igual,
O desespero... Algo incompreensível

Uma poesia em movimento,


Um momento
Apenas... Um vasto e incompreensível
Momento,
Desconcertante, inalterado, alterante
Sempre igual...
Carregando uma interrogação nos ombros.

53
DRAGÃO DO MATO

Tô com tanto sono


Que a caneta pesa em minhas mãos.

Não quero falar de religião...


A maldição humana
É fazer de seu próprio caos
Uma medida de compreensão

Ter razão não é razoável


Não é razoável ter razão
Fugir dos próprios equívocos
Se esconder atrás das moitas
Vivas, pulsantes, normais

A que diabos se refere...


Ou diria: me refiro?
Palavras são palavras
Desafio e fé são mitos

Muita coisa é paradigma


Outras... São apenas coisas

No fim de um ato,
Um mesmo retrato
De uma educação, de uma sociedade
De um povo
E de um certo indivíduo.

ESCONDERIJO DE ANIMAIS

O mesmo cenário de meus dias


Meu passaporte para o mundo
Um canto de inspiração

A luz dúbia
Reflete no vidro à frente
A natureza lógica
Apresenta um tom de 5 da manhã

Poucos carros passam na rua


Não há transtorno nem barulho,
As mentes dormem como nunca,
Quando o sol brilha
Algumas pessoas se escondem.

54
EVASÃO

Antes de tudo tenho que pedir desculpas


Minha liberdade entre aspas,
É claro,
Precisa de permissão

Que choque é esse?


Que culpa é essa?
D’onde vem tal novidade?

Que assim seja


Para que eu também seja novo

Minhas relações vão se reconstruindo


Atrofiando em raízes,
Às vezes penso em ficar pelo meio
Do caminho.

55
FAGULHAS II

Após o raiar do sol


Tudo parece não pertencer ao dia novo,
Mas há algo de errado
E o sono da manhã
Não é tão leve quanto o da noite roubada

Aos poucos,
As coisas voltam ao normal
E nada parece tirar o sossego

Um vizinho bate a porta


Uma senhora passa olhando

Um revólver aponta,
Quando tudo está em dia
Não há problema

Mas logo, muito logo,


As dívidas aparecem

As horas passam,
O vidro embaça,
O sonho se vai porque não mais se sonha

Surge uma promessa


E algo salvará
A próxima faúlha.

56
FILMES QUE NÃO GOSTO

Detesto filme de terror


Alguns suspenses
Me suspende aos nervos

Esse misticismo,
Essas lendas,
Algumas com sentido,
Outras quase verdadeiras
E umas
Verdadeiramente assombrosas

Detesto
Filmes de terror,
Alguns suspenses
Vencem minha razão

Minha razão não sente medo


Mas minha imaginação é fértil.

FOLHA AZUL

Engraçado
A vida me pede uma dose de conhaque,
Engraçado ao cubo ou dobrado,
Engraçado como o conhaque
Rima com meus versos

Não sou alcoólatra


Não sou fumante
Não viciado
Não delirante

Viajo nas viagens mais loucas


Sorrio
Com minha capacidade
De brindar alguns momentos estúpidos

Já bebi
Já fumei
Fui viciado (mentira) verdade!
Já reparei
E parei para reparar de novo

Nada como a brincadeira


De uma caneta tonta,
De um olhar fugido,

57
De um perder-se no horizonte.
FRACIONADO

Então é isso que você chama de vida:


Respirar, beber, comer?

Silenciosamente o mar se arrasta em nosso destino,


Em busca de momentos prolíferos
Andamos ao redor da felicidade

Queremos amigos
Prezada amizade
Energia, saúde, cumplicidade

Então é só isso:
Trabalhamos demais
Reclamamos demais
Vivemos quando dá

Numa fração da vida,


Respiramos a felicidade.

IMBRICAÇÕES

Impressionado ao brincar com versos doces,


Românticos,
Ilusórios,
Utópicos

Nada...
Nada mesmo me impede,
Minha costela dá um nó
Minha felicidade visita a dor

Dilacerante
VERSOS ALEGRES
Na brincadeira do poeta
Na brincadeira com o leitor

Na barbaridade de uma mulher raivosa


Na ingenuidade de um homem quieto
Calado!
Cale-se

A raiva grita aos quatro cantos


Imóvel (sem movimento)
Os olhos levantam a sobrancelha
E de novo
Me perco no horizonte

58
De um olhar perdido.
JOVENS LOUCOS

Um cara sem trabalho

Vive,
Pensa,
Imagina,
Acredita
Na sua paranóia inversa

Afinal
Quer ser um grande poeta.

O PREÇO DA VIDA

O relógio despertou
Meus olhos não.
O tempo anda,
Meus pais acham que minha vida melhora
E até eu penso que as coisas vão melhorando...

É hora do almoço,
Vou esquentar a marmita;
Queria ver televisão na sala de minha casa,
Queria o almoço da minha mãe,
Queria vê-la preparando o almoço junto com meu pai

Queria brincar na rua,


Jogar bola no asfalto,
Correr no quarteirão,
Queria... Queria minha infância de volta.

O Sol se põe,
Arrumo a mochila,
Guardo a marmita,
Organizo os cadernos

As sete tem faculdade,


As onze eu chego,
As zero eu durmo cochilando no sofá,
O relógio desperta,
Meus olhos não.

59
ORAÇÃO DO DESCOBRIMENTO

Entendo... mentira
Você sempre esteve aqui
É só tu que me entende
Só em ti eu confio

Sem medo
Abertamente
Com franqueza
Claramente

Um nó para em minha garganta,


Não vejo recurso,
Me escondo... atrás... do nada

Um coração bate lentamente,


A sátira
Hipocretiza o decadente

Impeço,
Permito,
Desviro,
Discordo,
Retiro,
Revolto

Raios de sol que iluminam


Abram minha mente
Abra meu caminho,
Ó luz que me guia
Ó Deus que eu chamo
Olha por mim
E faça que eu olhe.

60
PEQUENA TEMPESTADE

Foi uma boa noite


Vejo pingos de chuva pela sacada
O sonzinho de fundo
Me traz solos de baixo

Acordo às 4 da manhã
A chuva engrossa só porque tenho que sair,
Ouço o barulho do vento
As gotas invadem minha janela

Sou tomado por uma hora de intensa paz


Meus pensamentos param
Não me preocupo
Não mais.

POESIA POR ESPORTE

Escrevo algumas linhas tortas


Em busca de quantidades que me satisfaçam,
Na rua pessoas andam como objetos
Carregando apetrechos visuais

Um chinelo de dedo
Anda mais que alguns pés
A borracha gasta
Diz sobre passeios incomuns

Busco na irrealidade
Algo que pareça comum,
Tremendamente simples,
Tento encontrar a semelhança

Um pássaro voa
Depois pousa no fio de energia.
Uma coruja observa em cima do muro
Um estalo estoura o momento

Um garoto passa rindo,


O bodoque voa longe...
A lógica de uma criança?
Não entenda!

61
QUE POESIA

Um homem pedala na rua


Na sua garupa um caixote
Onde carrega um animal
Sua mão volta-se para trás
E acaricia
O cachorrinho

REALIZAÇÕES ESQUECIDAS

Eu disse que a luz vermelha no alto da torre era o planeta Marte


Eu disse que a vida deve acontecer como os sonhos
Falei que a coragem deve existir
E embora o MAS queira participar da rima desse poema
Insisto que tudo o que disse
Continua sendo verdade
Desde que você acredite.

62
RESPIRAMOS E MORREMOS

Somos artistas
Não temos controle
Não temos rédeas

Somos sem aviso


Sem manual
Sem regra

Somos ideológicos
Utópicos
Crentes e descrentes

Somos seres indizíveis,


Sem rótulos,
Secos, práticos
Iludidos, esperançosos

Dilacerados, reconstruídos
Desmedidos
Vivenciadores da arte

Criadores, criaturas
Pais e filhos
Filhos e pais

Somos artistas
Vivemos da arte
Fazemos arte
Respiramos e morremos
Arte.

63
RETÓRICA INCORROMPÍVEL

Buscando solução
Perpasso todos os meus momentos
As deduções já moravam em minha mente,
A mente contrariava meu coração

Poucas palavras explicam minha angústia


Pouca angústia surpreende minha emoção,
Meus olhos travados, intactos,
Celebram a dureza da minha decisão

Nem um tiro me faz mudar de idéia

Meu sonho intocável


A casca dura de minhas palavras,
A impenetrabilidade de uma reação
Buscando me convencer do contrário

Não!
Não mudo de ideia
Sonho é sonho
Esse nasceu antes de você

Cabe a mim
Celebrar minha ficção
Fixação.

RITUAL ERRÔNEO

Primeiro, o costume
Depois, o hábito
Posteriormente, ação
Em seguida, novamente
Em seguida, o recomeço
Posteriormente, outra vez
Depois, conformados
Segundo, um erro.

64
SAÚDE

Não se sabe
Se sente sempre que o contrário ameaça um estado natural

Se percebe quando vai mal


Dá valor quando está mal
Enxerga quando vai mal

Quando está tudo normal


Pouco se fala
Pouco se agradece
Tampouco se entende

Uma cama,
Um remédio,
Um copo d’água,
Uma coberta

Estar de pé
Respirando calmamente,
Uma cabeça sem dor
A disposição do novo dia

Repleto de energia
Tomado de calor,
Vigorosamente a espera do amanhã

Quando tudo vai bem


Não há nada melhor.

SE SENTIR ESPECIAL

Hoje meu coração foi tocado de uma forma dócil


Me senti honestamente presenteado,
Vi o valor de uma amizade
Não pelo preço do presente
Mas pela magia da sinceridade
Pelo gesto de recordação.

65
SOZINHO E À TOA

Mistérios sopram meu coração


Não perco mais tempo como antes
Agora o tempo começa a me sobrar
As férias se tornaram longas demais
Me acostumei a trabalhar

Ironia não?
Logo eu que quero sombra e água fresca...
Acontece,
Que todos estão trabalhando
Então não tem ninguém pra dividir a sombra.

TODO MOMENTO

A hora poderia ser gasta de outra forma


Agora
Estas olheiras
Farão parte do próximo dia

A hora poderia ter sido diferente,


A disciplina poderia ter se instaurado
Agora agora.

TOTALMENTE NU

Não estou sentindo nada


Antes eu tivesse chegado ao nirvana
Às filosofias budistas
Ao tantra e a prática de ioga

Pareço perdido no relógio


Trabalho assinando alguns papéis
Visto uma calça jeans
Calço meu sapato
Uma camisa simples
E o terno eu jogo em cima dos ombros

Fecho os olhos
Respiro fundo
Perco as contas de quantas vezes me perdi.

66
VOZES

Queria ler cada verso


E me sentir dentro dele,
São algumas horas da manhã
E tudo que eu tenho
É um copo de conhaque ao alcance de minhas mãos

O sono me surrupiou a tarde para a insônia da noite,


Fico ouvindo solos de guitarra
Vou me condenando a cada copo

Quantas poesias,
Enquanto as poesias
Satisfazem meus perpassos mentais
Vou brindando a loucura
Desperdiçada no vício
Que pouco a pouco me consome

Eu poderia
Poderia usar a arte
Minha válvula de escape
Não camuflada
Tampouco escondida
Apenas
Desencontrada.

67
Capítulo 4
AGRIMÔNIAS

68
A FONTE DA NOITE

Ossos cansados
Olhos arregalados
Estátuas de anjos
Imagens estranhas

Pensamento lento
Calor escaldante
Frio que se desfaz
Num suor interrompido

Gelando o coração,
Gelo meus dedos,
Um ataque cardíaco
Uma poesia mal feita.

A FUGA

Embaraçados momentos de refugo,


Conversa fiada
Valores escrúpulos

Observo,
Observo,
Observo

Você... Não és justa,


Não és um sonho

Mas foste o fora que me embaraçou


Em momentos cretinos,
Pare!

Veja:
Você não é mais a mesma,
Não és a mesma heroína
E de tudo...
Resta-me apenas o pó

Das poeiras dos móveis


Do cheiro absurdo / delirante
Disfarçadamente... poético
Patético... Explanado
Pairado, Parado...

Por favor,
Vá embora

69
Antes que eu atire meus olhos n’água.
A MÁGICA DE UM ATOR

Eu poderia dizer
Que estou amando o universo,
Eu deveria falar
Que a vida é linda
E que eu só vejo flores

Que sim
Que a vida é um mar de rosas
Que as coisas são belas
E que tudo pertence aos amores verdadeiros

Eu tinha de escrever
Que o mundo é justo,
O céu é o limite
E as estações são todas como primavera

Posso dizer palavras lindas


Te fazer frases eternas
Celebrar tua alegria
E brindar suas conquistas

É verdade...
Seria melhor assim
Mas descobri
Que não sou vendedor de ilusões

Portanto,
Fique com a realidade de alguns versos
E sinta de verdade
O corte doloroso da perda.

ÁCIDO

Daqui sai tanta coisa,


Momentos de pura adrenalina,
Desfaceto o peso da palavra
Desminto o mito da mentira
Desmonto o D
Falo o que quero
Enquanto você lê o que não deve.

70
ANACROGIA

Duas vidas... Em uma só


Vislumbro uma realidade oculta,
Morro por um ideal futerno

De manhã estou contente


À noite, contrariado, desgastado... transbordante

Uma luz acesa é minha companhia


Uma luz sozinha é solitária
Um apartamento é apertado,
Um apartamento é um doce lar

Talvez

Se quem o habita for realmente dócil.


Mas até a mais sóbria, doce e dócil
E a mais frugal das criaturas
Caem num veneno diário,
Impercebido, não perceptível
Aos olhos do cotidiano

Acomodado, inalterado...
Envergonhada desvergonha,
Fraqueza insolente
Um animal domesticado,
Uma alma sem sentido,
Uma vida descartada,
Um sonho comedido

Um sonho...
Que luta para ser sonho
Numa realidade anacrônica.

71
ARLOUCO OCUOLAR

Fica por aqui uma tragédia encenada:

Minha costela rompe com o corpo


Dores doem no osso
Uma curvatura curva a coluna

Eu que não sou biólogo


E nem entendo nada de medicina
Atropelo a lógica
E fraturo o pescoço

Meu córtex cerebral


Bate as placas em circuitos acelerados
Se não fosse artista
Seria um louco varrido

Acontece
Que ambos não são tão diferentes,
Pelo menos
Para os ideólogos
Defensores
Do ainda inexistente.

72
ATRASADO

Paralisado por conversas chatas


Porque estas não me agradam por seu assunto fútil
Documento doses de paraplexia verbal

Não quero te ouvir,


Não quero falar,
Não! Não tente,
Meu momento é só
Só meu

Não perturbe meu espaço


Não se faça em palavras
Agora você me dá repulsa

Não posso,
Não posso,
Não mais

Adoeci em meus erros,


Me envenenei com o coração
Me perdi no silêncio
Me vendi sem saber
E bacalmente desencontro meu centro

Estou fora de ajuste,


Incorporei sua loucura...

Não me interessa
Mas agora,
Não sou mais o passado,
Não mais o equilíbrio...

No momento
Nesse ato
Despido-me com palavras tortas
E me despeço com um simples
Já vai tarde!

73
AUTORRESPOSTA

A felicidade é controversa
Muita gente me fala da tristeza de alguns trechos poéticos,
Acho que as pessoas se acostumaram com as fantasias

Veja
Eu não tenho sentido,
Um pensamento
Fiz virar poesia
Só porque escrevo em forma de versos

Saiba
A alegria
Deve morar no coração
Não em poemas.

BANALIDADES BANAIS BUCÓLICAS

O tempo?
Nos mostra
A ânsia
Precipitada
De algo
Pertencente
A um pensamento
Inconsequente
Imaturo
Ou não
Porém,
Na busca
Desesperada
Pela vontade
Que permeia
No cérebro
De um cidadão
Em busca
Do sucesso.

74
BISCOITO DE POLVILHO

Tentativas teóricas demais


Zangam minha adrenalina
Desfazem minha ação
Refazem meu lamento injuriado

A compreensão,
Há... a compreensão...
Porque és tão passível?

Sem limites o mundo não gira,


Sem parâmetros
Tanto faz, tanto fez.

CIDADÃO DE ENFEITE

Consegui me distrair por uns instantes


Vi crianças brincando de Power Rangers,
Agora que eu troquei a noite pelo dia
Essas viagens são cada vez mais constantes

O papagaio da vizinha fala demais


A cerca elétrica de mentira nunca me enganou,
Mas depois de dez mil voltz
Parei de me enganar

Sento na cadeira giratória


E fico rodando pela sala
Até que chega a empregada
Dizendo que eu tô doido

Ora! Ora!
Não se pode ter 10 anos depois de 20?

Procuro por novos instantes.


Uma menina brinca de carrinho
Um garoto de casinha

Tive que viver mais 20 anos para entender isso,


Aos 50
Ainda não me aposentei
Tive que morrer mais velho
Para entender o preço da existência.

75
DISPAROS

Param o meu coração.


Parado!

Nem toda rima chata deve ser preservada

Desculpa?
Não!

Poemas não são diálogos em ação

O que foi?
Nada!

Esquece...
Preocupe-se
Com sua vida
Normal.

76
EM OUTRAS MÃOS

Se não quiser se machucar


Fique longe do meu coração
Porque o seu amor pode ser meu
E o meu sentimento não

Se quiser se defender
Não esqueça a razão
Porque a sua paixão pode ser minha
E o meu desejo não

Se quiser me esquecer
Não me ligue,
Se quiser me entender
Fique distante dos meus olhos
Assim conseguirei mentir

Se quiser me conquistar
Espere eu querer
Pois meu coração é como espinho de ouriço
Forte
Mas quando fora de controle
Despedaçado em outro corpo.

77
HIPOTÉTICA

Porções emblemáticas
Curvaturas fora de grau
Críticas abafadas
Barulho desnorteador

Frio
Inadequado,
Sentido
Contrário

Brinco
De ouro ou de brincadeira?

Bicho
Desconstruído
De racionalidade.

78
IMORTAL

Contra tudo e contra todos?


Não!
Contra si mesmo.

Aliás,
Nada demais
Apenas um colapso de palavras

De um mundo evasivo
Compulsivo,
Distraído

Comum,
Apenas igual.
Que cólera!
Que falta de assunto!
Que morte!

MEDONHO

Vou acabar me condenando


Minha descrença
Fez com que eu chegasse até aqui
No inferno de mim mesmo,
Na psicopatia do medo

HEI VOCÊ QUE ESTÁ LENDO

Não repare
Meu mundo versadamente imaginário é diferente da realidade,
Se eu te faço sonhar
Por que não posso mostrar os pesadelos?

79
O PENETRA

Um metro quadrado
3x4
Suspiros profundos
Barulhos chatos
Pensamento contínuo
Barbaridade errônea

Pálpebras
Violão
Ventilador
Sapatos
Vento
Carteira
Cadeira
Som!

Lua minguante
Coração estraçalhado

Queria voltar o tempo,


Seria injusto com uns
Mas benéfico para meu ego

As faces se desmancham
Em meio às tempestades de areia

Reações
Perigo adverso

A sinceridade escapada
É uma mentira inversa.

80
PARTANTESTI

Pouco a pouco derreto minha raiva


Eu esperava
Acreditava

Imaginei demais
Fui ao excesso
Cheguei ao extremo
Agora é o fundo
O fundo do poço.

PORTA FECHADA

Obrigado por me ouvir quando eu mais preciso,


Obrigado por não atropelar as palavras
E entender tudo o que eu queria explicar,
Tudo que eu queria dizer.
Obrigado por me compreender,
Por me ouvir com toda atenção sem interromper-me sequer um segundo

Momentos assim me fazem sentir compreendido,


Sua audição é excelente,
Em todos os momentos eu consigo me expressar...

Você me entende tanto


Que eu nem preciso procurar por brechas e implorar por seu ouvido,
Por sua presença, por sua capacidade de conseguir me deixar à vontade

Mais uma vez fico totalmente leve, aliviado,


Assegurado, confortável, satisfeito, tranquilo.

Sua excelência em instigar o assunto é tão grande


Que você sequer desvia o foco e, com isso,
Pede sempre para que eu fale mais,
Procurando desvendar o que estou sentindo

Você me fascina
Por não introduzir nenhum outro assunto,
Por não falar nada que não tenha a ver com o que quero lhe dizer.

Você...
Simplesmente,
Nem entenderá o tom desse discurso.

81
RIQUEZA ESTÚPIDA

Hoje não,
Não sei o que acontece

Um estado incompreensível
Um peso em minhas costas
Um fardo em minha mente
Um arcabouço entorpecente

Esperava você aqui


Dentro de mim
Te encontrei – lhe destruí

Me encontrou – me destruiu

A insistência nem sempre é virtuosa,


Aliás,
Chega muitas vezes ao cúmulo da estupidez
E como bom estúpido que sou
Vou brindar momentos pálidos
E sorrir depois do discernimento

Tudo isso
Para justificar
Uma falsa sabedoria
Fruto da desculpa ininterrupta
Vedada por olhares intrometidos

NÃO
Não...não...não... não

Ham!
Acho que simulei a descompostura
De um estado perfurantemente pobre.

82
SAL

Sou um cara realista


E da vida eu sou o sal,
Subjetivo
Sou surfista,
Sou normal

Inventor de coisas bregas


Guardião do que se tornou banal
É que o mundo está virado
E minhas palavras são em vão

À toa
Não quero mais pensar no que as pessoas não dizem
Ou deixaram de falar.

VERSOS FÚTEIS

Minhas pálpebras nunca mais fecharam do mesmo jeito,


Uma música romântica soa ao meu ouvido
Neste momento quebro a janela com um soco fatal,
Fatal para a imagem que ela refletia

Não sei o que acontece


Estou estupidamente louco,
Cheguei a um estado irreversível

Construí abismos,
Cultivei ervas daninhas
E me empolo com a falsa amizade

Atiro contra meus pensamentos


É que ando perdido
E uma nuvem cinza passeia em meus olhos

Minha cara encenadamente carrancuda,


Que nada combina comigo
Carrega a negatividade desse instante

Discursos positivistas eu os jogo no lixo,


Meu mundo mental
Sempre foi bem diferente disso

Me ataco calmamente aos nervos,


Procuro psicoterapia
Não encontro respostas suficientes
Debruço-me sobre um copo de conhaque,

83
Simbologia de meus versos fúteis, fúnebres, errados!!!
Capítulo 5
ORQUIDÁRIO

84
IN DECIFRÁVEL

No claro, me faço escuro


No escuro, me faço claro
É que gosto de ser ao contrário

Buscando palavras diferentes


Me encontro em mim mesmo, indiferente
A toda uma teoria
Me resta apenas versos encruzilhados

Depois sou interrogado


E invento sentido
Para o que eu não compreendia

Deixo-lhe uma mensagem,


Confusa, embaralhada
Perdida em palavras,
Montada em estrofes

Versos e poemas escondidos


Não se traduzem com o cérebro
Se entendem com o coração.

LUAR

A lua da janela
Não é a mesma que a lua da roça,
A lua da cidade grande
Não é a mesma que a da janela

O andar pacato
Não é o mesmo que o andar semiapressado
O andar depressa
Se desespera ao olhar para o lado

A velocidade do tempo
Não é igual em cada canto,
A preocupação com o tempo
É diferente em cada olhar para a lua.

85
POEMA SEM RIMA

Pensei em criar um poema que não fosse poesia,


Queria fazer alguns versos
Que não comportassem rima

Imaginei algo inacabado,


Busquei frases sem sentido,
Desconstruí uma estrutura
Mas só em pensamento.

Não me importo com o vento


É que às vezes
Não consigo não rimar meu vício

Incontrolável, escrito
Rimativo;
Que me surpreende, que me faz ausente e me deixa presente

Que se tange propositalmente


Entre a confusão da ficção e da realidade
Vivida ou não
Percebida ou não
Imaginada ou não
Parafraseada ou não

Simplesmente não entenda

É na loucura que encontrarás respostas,


No não explícito e implícito
Vagará apenas uma enorme interrogação.

86
A FÓRMULA

Certo dia
Você me disse que nunca se esqueceria daquele momento
... Acontece
Que quem nunca se esqueceu fui eu

Sua voz
Ficou gravada na minha inconsciência
Seu olhar
Ficou fotografado na minha lembrança
Seu jeito
Está guardado no meu pensamento

Outro dia te encontrei,


Você não parecia mais a mesma.
Os anos se passaram... muita coisa mudou
E eu
Não sou mais o mesmo
Mas
Não esqueço do seu beijo
Que existiu apenas na ficção dessas palavras

Se você se lembra eu não sei

Ainda tento entender


A fórmula mágica para que eu possa fazer
Com que eu seja sempre lembrado

Se eu a tivesse... A fórmula,
A usaria neste instante.

87
OLHOS DE VIDRO

Olhei pra trás


Olhei pra ver se olhas...
Olhei pra frente
Olhei pra não me esquecer o que foi do passado

Olhei de novo,
Sonhei mais uma vez,
Pensei numa lembrança
Sonhei mais uma vez

Eu vi teus olhos
Vi seu corpo... Vi sua boca
Senti seu desejo
Desejei o que senti.

PARA VOCÊ

Olhando seus olhos de perto


Meu coração parece parar
Na sua boca desenhada pelo meu desejo
No seu sorriso tão belo que eu vejo

Ao meu lado me fazes feliz,


Quando longe, mora em minha lembrança
Quando perto, mora no meu peito
Abraçada pelo meu afeto
Desconcertada por minha paixão
Tocada pelo amor que nos envolve
Vivendo pela vida que nos constrói.

88
CAMINHO DE VOLTA

Me assustei com a própria sombra


A coruja pousou no meu ombro... Mentira.

A lua se esconde atrás da árvore,


O bêbado com a garrafa,
Dois jovens e uma estrada,
Uma dessas é a contramão
A outra, é a própria sombra

A luz do poste apagada


O reflexo de um farol,
A luz do freio acende
O carro para logo à frente

Uma rua sem saída


Um retorno sem sinal
Um lampião incandescente,
Uma lanterna de longo alcance

O escuro abre espaço


Mas para em frente à porta...
Lá fora é tudo frio
Aqui dentro, é parado

Observo o barulho
E ouço o relógio andando
Nos passos do meu passo,
Volto ao início sem começo
E saio outra vez.

89
ESCOLA

Primeiro Grau:

Como posso compreender o mundo?


Nunca saí daqui.
Olhar pela janela não é o bastante.
Se, só vejo televisão
Terei uma visão de outro visor
E não da minha própria lente.

Segundo Grau:

Uma leitura que pensa ser crítica


E às vezes é crítica sem querer, por querer
Como posso compreender o mundo
Se me dão respostas prontas,
Se abafam minha imaginação
Se conduzem um teor de criatividade
Por um túnel reto, escuro e invisível.

Terceiro Grau:

Eles acham que são livres,


Chegam aqui com o ar de quem conquistou o mundo.
Alguns se deparam com uma parede
Outros se trancam na intelectualidade...
Poucos se rebelam
E alguém
Vive ou morre
No fim... Nada é mais que uma fôrma.

90
FIM DE INFÂNCIA

Tenho saudade daquele tempo de escola,


De esperar o tempo voar levando o final de semana
Para que eu pudesse encontrar
A garota por quem estava apaixonado

O mais legal
É que a cada semana a paixão era diferente

O mais fulgás dos sentimentos


A mais forte das batidas
O acelerar do coração se perdia e disparava
Por um olhar trocado
Por um sorriso sincero
Pela volta para casa
Pelo andar do lado
Pela inocência
Pelo verdadeiro
Pela pureza
Pelo sentimento

Por todo sentimento


Incompreendido e aprendido
Guardado
Vivido
Lembrado.

FRASE FINAL

Daqui sai tudo que esqueci


Quase que me enriqueci
Por pouco não perdi
Fundo, vasto... Curto, suficiente
Raso, pouco... Longo, pequeno
Bolso de jaqueta.

OUVIDOS QUE NÃO OUVEM

É claro que a escuridão perturba


É perturbante a repetição cansada
Que cansa de tanto se repetir

Repetir com as mesmas palavras,


Palavras desperdiçadas desperdiçando o tempo
Na invisibilidade de uma ocasião
Retrocedida de um retrocesso interno

91
Que se externa em expressões perdidas pela incompreensão.
REFLEXOS

Sua sombra andando na parede


Seu contorno desenhando uma miragem,
Andares flutuando no pensamento
Distorcendo realidades ficcionais

Uma imagem perturbante, desigual


A ansiedade e a vontade de explodir,
A ansiedade e a vontade de partir

A raiva partida em fragmentos


Fragmentando a emoção
Que ainda crê no coração

Querência de verdade,
Verdade deduzível,
Medo... Coragem, Vida... Imensidão.

SERES QUAISQUER

Se não fossem as coisas fixas da vida


Você viveria de frações imaginárias
Passadas por um olhar
Encobertas por um desejo

Se não fosse o compromisso


Você viveria na prostituição de sentimentos
Desperdiçados pela chance
Que passou em suas mãos

Se não fosse a vida bem vivida


Você não viveria como deveria
Entregando-se às intuições,
Vivendo de emoções
Pensando no anseio
De querer, conquistar, ter
Enaltecer e enjoar

Se não fosse o magnetismo do tempo


Sob nossa limitada consciência
Não seríamos... Humanos.

92
TARDES DE DOMINGO

A famosa lombeira depois do almoço


A instantânea preguiça após o meio-dia
O sono disfarçado e uma cama estendida

Sonhos de cochilo,
Calor de verão,
Sobremesa sobre a mesa,
Panelas no fogão

Acordar interrogado
Assustado com a hora
Amanhã é outro dia
Amanhã é outra história.

CISOCIEDADE

A infância acabou
A adolescência em transição
Mais um homem se dobrando à civilização

As brincadeiras já passaram
A curtição já terminou
O peso das responsabilidades
Batem nas costas
Pesando nos ombros do carregador

Os sonhos foram deixados


A necessidade se apossou
O reflexo, faz de todos, os mesmos

Agora...
É hora de pensar
Refazer tudo o que foi imaginado
E já era esperado pelo imã da sociedade

A beleza foi apagada


O entusiasmo sufocado
A vontade reprimida
E a vida se impôs
Para quem não soube
Se impor à vida.

93
CONVERSA

Tem hora que enche o saco


Tem hora que eu não aguento
Uma voz latejante, repetitiva, incessante

Ahh!!!
Salve o silêncio

Por favor
Vamos ouvir o silêncio,
Prestar atenção no pensamento
Esquecer o oba oba e os desfirulamentos

Espera um pouco
Contente-se com o presente
Não tenha necessidade de gritar aos quatro ventos
De repetir novamente
E de novamente se intrometer no meu silêncio

Salve... me salve
Não aguento mais conversa.

CORAÇÃO INTERROGADO

Em momentos
De delírios desconcertantes
De palavras que me matam
De uma voz que me provoca
De gritos que não se calam
De histerias que não acabam
De derrotas constantes

Volto a um momento que não me agrada


Que não me comporta
Que eu não aceito
Que me incomoda

No fim,
A vida está distante
Os olhos sem brilho
E o coração
Cansado de bater em vão.

94
ESCRAVOS DA TECNOLOGIA

A exposição da vida
Numa vida virtual
Que ridicularidade é essa?

Passei em frente a uma lan house


E vi diversas pessoas
Uma ao lado da outra,
Todas conectadas
À mesma página de relacionamento
Mas incapazes de dizer um oi para a pessoa da direita
...
Que coisa é essa?

POETA CONSCIENTE

Escreve com a leveza


E o peso de uma caneta,
Transcreve fatos cotidianos
Vivenciados, imaginados, intercalados

No silêncio de um pensamento
No suspiro de uma voz
Na vibração de um grito
No desespero da atenção
Na dúvida do amor
Na certeza da morte
Na verdade da vida
Na desistência da verdade,
No soluço da compreensão
Na tristeza do cansaço

No cansaço da destruição
No brilho... do sol... na chuva
Do dia seguinte,
De uma esperança mínima como uma ponta de agulha
Que se enfia no coração.

95
SERPENTE

Um animal domesticado
Uma voz astuta
Um pedido de carinho
Um olhar incompreendido

Que ser é esse que não sabe ser?

Se acha dono de tudo


Senhor da razão,
Constrói e desconstrói o mundo
Em busca da sua imensidão

Uma interrogação...
Um duplo momento,
Uma dupla identidade,
Duas vidas
Porque os sonhos se dividem com a realidade

Um entroncamento
Entre o cérebro e o coração,
Uma bifurcação
Entre o objeto, objetivo e abstrato...
Fruto da imaginação
De uma árvore não plantada.

96
TEMPO

Não quero relógio


Amanhã quero acordar bem tarde,
Quero que o vento me acorde
Com sua doce brisa pela janela

Não quero ter hora


Amanhã quero esquecer que é domingo
E esquecer que o domingo
Só entrou aqui para fazer sentido

Sentido nesses versos


De rimas desordenadas
De sentimentos intercalados.

Não me importa,
Quero apenas o prazer da escrita,
Posteriormente, uma leitura crítica

Em versos, estrofes e refrãos


Só quero saber que não vou acordar cedo,
Não quero tempo para o tempo,
Quero ser meu próprio analógico

Dormir, talvez acordar


Fugir, talvez enfrentar,
Morrer para viver
Aficcionar-me como os grandes autores

Aguardar a vida
E o tempo do relógio.

97
Espero que tenha interrogado seu jardim...

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Copyrights2010 - Todos os direitos reservados.
Tiago Henrique Rezende Fonseca.
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rezendefonseca@bol.com.br

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