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DA COMARCA DE ___________________ -
DOS FATOS
O pagamento foi efetuado na data da compra (06/03/2017) a vista, por meio de cartão de
débito, conforme se verifica pela cópia do comprovante de pagamento em anexo
Ocorre que, em menos de 07 (sete) dias de uso o referido aparelho de telefone celular
começou a apresentar defeitos, consistente no não funcionamento dos botões de Touch
do celular, os quais dão todos os comandos, inviabilizando completamente a realização
e recebimentos de chamadas.
Surpreso com o ocorrido, já que se tratava de aparelho novo, fabricado por empresa
conceituada no ramo de telefonia celular, o requerente se viu obrigado a procurar a
primeira requerida no meio de sua viagem, para tentar resolver o problema,
solicitando a troca do produto, surpreendentemente teve o seu pedido negado, sob
alegação de que poderia se tratar de problemas de configuração.
O problema persistiu até que o autor, após 20 (vinte) dias, já em sua residência, na
cidade de Cabo Frio - RJ, contatou a 2ª ré através de número 0800 536 680, sendo
orientado pela atendente Thaís, através do protocolo nº 170412004337, a remeter via
correio o aparelho celular, para análise de assistência técnica, tal procedimento ocorreu
em 30/03/2017.
Importante informar a este juízo, em que pese a marca do aparelho ser LENOVO, a
assistência técnica ao qual o autor teve a remessa autorizada identificou-se como
MOTOROLA tendo em vista fusão realizada pelas marcas, daí serem as negativas de
resolução do problema do autor, todas em folhas de timbre da marca MOTOROLA.
Para surpresa do Requerente, o aparelho foi devolvido sem qualquer reparo, com uma
carta da MOTOROLA/LENOVO, que somente informava "cupom fiscal incompleto".
Visando entender o ocorrido o autor entrou em contato com a segunda ré, porém a
alegação da assistência técnica era no sentido de que a nota fiscal enviada e o
comprovante de pagamento não serviriam realização do conserto do aparelho, uma vez
que o requerente deveria ter convertido a nota fiscal em NF-E (nota fiscal eletrônica),
exigência sem qualquer cabimento, pois, o autor remeteu todo os documentos que lhe
foram apresentados no ato da compra.
Por fim, a assistência solicitou que o autor efetuasse nova remessa, gerando-se os
protocolos de atendimento (170427011144 - Atendente Jéssica) e em segunda ligação
(170427011528).
O Autor em segunda tentativa de resolver o seu problema, seguindo todos os passos aos
quais foi instruído pela empresa, remeteu novamente o aparelho telefônico para a
assistência em 09/05/2017, abrindo-se uma nova ordem de serviço de nº WO3912391,
sendo informando ainda que deveria acompanhar a evolução do conserto através do site
www.motorola.com.br/meureparo.
O autor, sem qualquer andamento no site foi surpreendido com a devolução do aparelho
em sua residência pela segunda vez, com nova carta remetida pela Motorola/Lenovo
(documento em anexo), contendo a seguinte descrição: selo de IMEI "sem etiqueta de
imei/sem gaveta de imei", nenhuma outra explicação.
Importa informar que a ligação foi encerrada abruptamente as 17:12h e que a atendente
da segunda requerida antes disso informou que o problema do requerente não seria
solucionado e que este procurasse os seus direitos, que as gravações poderiam ser
solicitadas, mas que só as entregaria com ordem judicial.
O autor em pesquisa a internet, verificou que o defeito apresentado por seu aparelho é
corriqueiro e conta com inúmeras reclamações no RECLAME AQUI, inclusive as
exigências para que se proceda com o reparo são utilizados com frequência para a não
realização do reparo para os outros consumidores. (segue em anexo)
Insta salientar, que o autor em pesquisa na internet, verificou que o vício do aparelho
telefônico ocorre de forma reiterada, existindo inúmeras reclamações no site
RECLAME AQUI, que relatam situações idênticas ao do autor e a mesma "desculpa"
por parte da segunda reclamada para que não efetue o reparo no aparelho. (documentos
em anexo)
DO FUNDAMENTO JURÍDICO
DA RELAÇÃO DE CONSUMO
Desta forma, por mais que não seja cabível a aplicação do artigo 18 CDC, por culpa da
requerida, não se pode deixar de dar um provimento jurisdicional ao cliente, que tentou
de todas as formas possíveis solucionar o problema administrativamente.
Importante salientar a V. Exa. que por ter efetuado o pagamento a vista do valor do
aparelho, qual seja R$ 1.299,00 (mil duzentos e noventa e nove) o autor não pode em
todo esse período comprar novo aparelho, passando pelo constrangimento de ficar
pedindo aos amigos aparelhos emprestados para que pudesse continuar trabalhando.
Ora, no caso em tela, mesmo seguindo todo o procedimento previsto em lei o autor não
teve o seu problema sanado, de modo que a única medida legal cabível é a devolução do
valor ao Autor, posto que comprovado que este dentro do prazo de garantia efetuou
todos os procedimentos possíveis para sanar o problema.
“O fornecedor não pode beneficiar-se da recontagem do prazo de 30 dias toda vez que o
produto retorna com o mesmo vício. Se isso fosse permitido o fornecedor poderia na
prática, manipulando o serviço de conserto, sempre prolongar indefinidamente a
resposta efetiva de saneamento. Bastaria fazer um conserto ‘cosmético’, superficial, que
levasse o consumidor a acreditar na solução do problema, e aguardar sua volta, quando,
então, mais 30 dias ter-se-iam para pensar e tentar solução (...) Quando muito e essa é
também nossa opinião, o prazo de 30 dias é o limite máximo que pode ser atingido
pela soma dos períodos mais curtos utilizados. Explicamos: se o produto foi
devolvido a primeira vez no décimo dia, depois retornou com o mesmo vício e se
gastaram nessa segunda tentativa de conserto mais 15 dias , na terceira vez em que o
produto voltar o fornecedor somente terá mais 5 dias para solucionar definitivamente o
problema, pois anteriormente despendeu 25 dias, sem ter levado o produto à adequação
esperada. (NUNES, Rizzatto. Curso de direito do Consumidor, Ed. Saraiva. 2005,
p.184-185). – gf. nosso.
“Ressalte-se que uma vez iniciado o curso do prazo para o saneamento do vício, ele
não se interrompe nem suspende – tem natureza decadencial. Mesmo que
devolvido ao consumidor antes do término do prazo, não solucionado o vício, não
há que se falar em novo prazo; pelo contrário, aquele prazo já iniciado segue até o seu
exaurimento – Rizzatto entende que o prazo, sendo um direito do fornecedor, deve ser
contado como a soma dos períodos em que o produto viciado esteve à sua guarda. É
claro que surgindo um novo vício, não relacionado, abre-se novo prazo para que seja
remediado esse vício, tão somente.”
Vale frisar, que o Requerente estando todo esse tempo sem seu parelho de telefone
celular – que, aliás, é essencial para o deslinde positivo de seu trabalho e contato com
seus clientes – não houve alternativa senão adquirir outro aparelho junto a parentes e
amigos até que as requeridas resolvam honrar com a sua obrigação.
Desta forma, para qualquer estudo na seara de defesa do consumidor, devemos possuir
em mente sempre a vulnerabilidade do consumidor nas relações de consumo,
característica essencial consagrada pelo Código de Defesa do Consumidor, estando no
atual CDC, elencado como princípio básico, ex vi do art. 4º, I, da Lei 8.078/90.
DO DANO MORAL
A dignidade da pessoa humana abarca toda e qualquer proteção à pessoa, seja física,
seja psicológica. Tanto que dela decorrem os direitos individuais e dentre eles encontra-
se a proteção à personalidade, cabendo indenização em caso de dano, conforme
estabelece o art. 5º, inc. V:
Art. 5º
(...)
Assim, é indiscutível que a ré feriu os direitos do autor, ao agir com total descaso,
desrespeito e negligência, configurando má prestação de serviços, frustrando suas
expectativas quanto a aquisição do bem e lhe causando dano patrimonial, na
medida que ficou com o dinheiro pago pelo produto sem, que o autor possa
desfrutar de seu uso.
O autor jamais imaginaria que tal produto, com elevado valor e propaganda fosse
apresentar tamanho dissabor e frustração.
Necessário se faz tecer algumas poucas linhas sobre o dano moral. O ilustre professor
Carlos Alberto Bittar, ao se referir aos danos morais acentua que:
“Diz-se, então, morais os danos experimentados por algum titular de direito, seja em sua
esfera de consideração pessoal (intimidade, honra, afeição, segredo), seja na social
(reputação, conceito, consideração, identificação), por força de ações ou omissões,
injustas de outrem, tais como agressões infamantes ou humilhantes, discriminações
atentatórias, divulgação indevida de fato íntimo, cobrança vexatória de dívida e outras
tantas manifestações desairosas que podem surgir no relacionamento social.”
No caso vertente, é cristalino o grande abalo moral que sofreu o demandante diante dos
fatos narrados, haja vista que, como é cediço por todos, o aparelho de telefone celular,
constitui bem indispensável ao deslinde positivo das atividades profissionais, mormente
em se tratando de profissional que deve estar em constante contato com fornecedores e
que necessita fazer uso diário do referido aparelho para contatar com os seus clientes.
Agrava ainda mais a situação, o fato de uma empresa taxada de “idônea, preocupada
com os consumidores, com responsabilidade social”, fez do CDC tabula rasa não
reconhecendo a sua vigência e eficácia, pois passado o prazo de 30 dias para sanar o
problema do vício do produto não restituiu o valor ao autor ou entregou-lhe aparelho
novo, e gastou o tempo do autor fazendo com que este se dirigisse a correio e remetesse
o aparelho para a assistência técnica o devolvendo com "desculpa esfarrapada" para não
realizar o conserto, mesmo o autor informando que os dados solicitados se encontravam
junto ao aparelho remetido para a assistência.
a) o autor pagou por um produto que usara por tempo ínfimo até que começasse a
apresentar defeitos, menos de 20 dias;
b) o fato de o aparelho ter ido para a Assistência Técnica e lá permanecer por inúmeros
dias em duas ocasiões, somando-se 30 dias sem que o problema tenha sido resolvido, e
com negativa baseada em documentos que a empresa por expediente de preguiça não
verificou junto ao aparelho remetido é causa de enorme prejuízo para o autor;
c) experimenta o autor uma atitude insuportável de desídia e descaso que o assola, pois
mesmo após inúmeras insistências para ver o seu problema resolvido
administrativamente, sempre fora tratado de forma inferiorizada e com total descaso,
tanto pela primeira quanto pela segunda empresa ré.
d) nos dias atuais, é inconcebível que aquele que trabalha em comércio, com vendas,
fique sem aparelho de telefone celular, pois dele necessita para ser encontrado por seus
clientes, ser contatado, familiares, dentre outras pessoas, e também o pleno exercício de
outros atos de sua vida privada; como de fato ocorreu e será demonstrado no curso da
instrução processual. Isto, por si só, induvidosamente, enseja danos morais ao autor,
colocando-o em condições de merecer uma reparação moral.
É sabido, Excelência, que o mero aborrecimento não causa qualquer dano moral. Porém,
no caso, longe está de se configurar um mero aborrecimento o sentimento de
impotência, raiva e descaso que aflige o Requerente, pois, é certo que, quando alguém
adquire um aparelho de telefone celular novo, o faz confiando de que o mesmo
funcionará adequadamente, atendendo aos fins mínimos a que se destina, sem
apresentar qualquer problema.
Entretanto, caso ocorra qualquer evento danoso ou defeito no referido bem, espera que o
mesmo seja solucionado, seja da forma que for, dentro do prazo legal, o que, em
hipótese alguma ocorreu na presente situação.
Além disso, após a frustração de ver que o bem apresentara vício, o qual decorreu por
culpa exclusiva das Rés, o demandante depositou sua confiança nos serviços de
manutenção prestados pela segunda empresa ré, o qual se demonstrou totalmente
ineficaz, pois não sanou o problema, mas, longe de tal solução, tampouco se apresentou
propícia a restituir-lhe um novo aparelho ou o respectivo valor pago.
Ora, o autor, ficou por certo tempo sem poder usufruir os benefícios trazidos por seu
aparelho de telefone celular que, aliás, possui uma conta com “plano fixo” e, por isso,
teve substanciais prejuízos por ter ficado todo o período demonstrado sem ter como
utilizar do aparelho e, ao mesmo tempo, pagando a conta no tocante a sua parcela fixa,
já que possuí contrato de 01 (um) ano a cumprir com a operadora vivo.
Em virtude disso, inadmissível aceitar os atos, pode se dizer, ilícitos que ela vem
causando ao demandante.
Cumpre esclarecer que, no CDC, a garantia de segurança do produto ou serviço deve ser
interpretada enquanto reflexo do princípio geral do mesmo diploma legal, de proteção
da confiança (§ 1º, do art. 12), o qual possui estreita relação com a boa-fé objetiva do
CCB. Desse modo, ao adquirir um aparelho de telefone celular, põe-se o fabricante
submisso às consequências jurídicas, quando, na concretude do uso, frustrar-se aquela
perspectiva de maneira sucessiva/sequencial.
Assim, não se pode admitir que um consumidor, vendo-se privado do seu patrimônio,
não mereça ser ressarcido pelo constrangimento sofrido, em que pese o caráter punitivo
da condenação por danos morais, visando-se, assim, a evitar que as Requeridas reeditem
o desrespeito observado no caso dos autos, pelo que, o valor da condenação deve ser
suficiente para esse fim específico.
Isto tudo revela que o ser humano tem uma esfera de valores próprios que são postos em
sua conduta não apenas em relação ao Estado, mas, também, na convivência com os
seus semelhantes. Respeitam-se, por isso mesmo, não apenas aqueles direitos que
repercutem no seu patrimônio material, de pronto aferível, mas aqueles direitos relativos
aos seus valores pessoais, que repercutem nos seus sentimentos, postos à luz diante dos
outros homens.
Assim sendo, restam fartamente configurados os danos morais sofridos pelo Autor,
razão ante a qual requer-se a condenação das empresas-Ré.
Presentes os requisitos ensejadores do dano moral, quais sejam, o dano sofrido, a culpa
exclusiva das rés e o nexo causal e a culpa, hão de ser arbitrados, a bem do demandante
e como forma de fazer valer o Estado Democrático de Direito, ressarcimento por danos
morais no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), ou no importe que V. Exa. entender
por bem estipular.
DOS REQUERIMENTO:
B) A determinação a inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII, do CDC,
pela vulnerabilidade técnica do requerente.
DO VALOR DA CAUSA
Nestes termos, dando-se à causa o valor de R$ 6.299,00 (seis mil duzentos e noventa e
nove reais).
Pede e espera
deferimento.
ADVOGADO
OAB/XX XXX.XXX