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Vamos

SOBRE
E-BOOK 1
INSTITUTO CORES E-BOOK 1:
PROJETO ESCOLA DE SER Vamos sobre

Escritório Nacional Textos:


Caroline Arcari e Nathália Borges
Rua Guanabara, quadra 13 lote 01
Bairro Primavera - Rio Verde – GO Capa:
Isabela Santos
CEP: 75904-432
Projeto gráfico:
Telefone: (64) 3613-1456
Caroline Arcari
www.institutocores.org.br
Revisão técnica:
Nathália Borges
Estas noções são ensinadas e reforçadas por seus
pares, família, mídia, escola e comunidade às quais
pertencem, por meio de um processo complexo e
dinâmico de socialização.
Você já parou para pensar como tratamos meninas e Portanto, nossa linguagem também deixa bem clara
meninos de forma diferente (e desigual)? E isso já essa divisão: “menino não chora!”, “sente-se como
começa antes deles nascerem. A clássica divisão uma mocinha”, “aja como homem!” - situações
entre rosa e azul já faz parte da vida da família desde naturalizadas no nosso cotidiano e carregadas de
que o ultrassom revela qual o sexo do bebê. estereótipos que reforçam o que é ser menina/mulher
e o que é ser menino/homem.
Ao estabelecer o que é de menino e de menina, os
adultos, a mídia e a sociedade de modo geral, limitam
as vivências das crianças, além de rotular espaços e
empobrecer possibilidades de exploração do mundo
para ambos: meninos brincam de bola, carrinho, lego,
ferramentas - objetos que os incentivam a se
apropriarem do mundo, mas não de sua
sensibilidade. Já as meninas brincam com bonecas,
fogões e casinhas - objetos que podem restringi-las Embora existam diferenças biológicas
ao espaço doméstico e de maternagem. entre meninos e meninas,
Assim, desde a primeira infância, meninos e meninas elas não podem resultar em
desenvolvem uma noção das diferentes expectativas direitos sociais desiguais.
sobre como devem se comportar e se relacionar com Mas, infelizmente, ainda é isso
os outros. o que acontece.

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Em determinadas condições sócio-histórias, como a da
nossa sociedade atual, as diferenças são transformadas em
desigualdades. As diferenças entre meninos e meninas
existem e isso, por si só, não é um problema. O problema
aparece na medida em que as diferenças de socialização
entre ambos resultam em desigualdades sociais.
Observa-se que ao longo da história, meninas e mulheres
têm sido mais vitimadas por essa desigualdade de gênero,
concretizada na violência doméstica, na falta de espaço na
esfera pública, nos salários mais baixos: problemas que têm
sua raiz na hierarquização das diferenças entre homens e
mulheres. Só no Brasil, estima-se que meio milhão de
mulheres são vítimas de estupro por ano e que dois terços
das vítimas são meninas menores de 13 anos, ou seja, cerca
de 330 mil. Veja mais dados no quadro ao lado:
Homens e meninos são atingidos de outras formas por essa
hierarquização. Ao terem que cumprir ideais sociais que
ligam a masculinidade com agressividade, controle e
dominação, eles se afastam da sensibilidade, da paternidade
afetiva, dos cuidados com a própria saúde e se aproximam
da violência urbana. Assim, perceber que a maneira como as
crianças são educadas de acordo com as expectativas
sociais sobre o seu gênero é muito importante para
entendermos a origem desses problemas.

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Em contrapartida, os homens exercem o papel de
provedores do lar, de ter mais força física e provar
sua virilidade. Tudo isso fruto de um intenso
Gênero diz respeito à forma como somos socializados,
aprendizado sócio-cultural em que nos é ensinado a
isto é, como as nossas atitudes, comportamentos e
agir conforme as prescrições de cada gênero.
expectativas são formados com base no que a cultura
atribui como apropriado ao sexo feminino ou ao Assim, o gênero estabelece expectativas culturais a
masculino. Estas características são aprendidas e respeito do que se espera de um homem e de uma
legitimadas em diferentes espaços: na família, na escola, mulher num determinado momento histórico.
no grupo de amigos, nas instituições religiosas, no
ambiente de trabalho, nos meios de comunicação. Então, se por um lado o gênero norteia a construção
de nossas identidades, por outro pode gerar relações
As habilidades ditas masculinas e femininas, como estão de poder no que se refere ao acesso de homens e
postas em nossa sociedade são ao mesmo tempo mulheres aos recursos sociais, econômicos e ao
antagônicas e complementares. Por exemplo: a poder de decisão nas relações interpessoais. Assim,
sociedade espera uma mulher dócil e um homem gênero refere-se também ao modo como as pessoas
agressivo, uma mulher dedicada ao lar e um homem e as instituições distribuem o poder em uma
provedor. determinada sociedade, construindo, diferenciando,
hierarquizando e atribuindo valores ao feminino e ao
Assim, as mulheres mantém suas identidades dentro de
masculino.
normas clássicas, tais como: ser comportada, ter desejo
de agradar, ser mais contida sexualmente, exercer
tarefas mais ligadas ao cuidado dos outros, valorizar a
maternidade.

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Assim, falar sobre gênero é bem mais do
que atribuir diferentes funções com base
no sexo biológico. Trata-se de uma
questão de poder na medida em que a
relação entre o masculino e o feminino é
desigual e assimétrica. (ONU Mulheres) a
isso chamamos de hierarquia de gênero,
que pode ser representada por meio de
preconceitos e estereótipos. Essas
relações de poder são agravadas ao se
considerar a situação de pobreza e de
discriminação étnico-racial.
“Mulheres em situação de pobreza,
mulheres negras e indígenas, além de
administrarem o cotidiano doméstico e
disputarem vaga no mercado de trabalho
sem qualificação adequada, devem
enfrentar o preconceito por serem pobres
e por não serem brancas.” (Publicação
Gênero e Diversidade na Escola, pag. 66)

Dados IPEA

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Dados IPEA

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A desigualdade de gênero cria um
terreno fértil para diversos tipos de
violência contra a mulher, incluindo a
sexual.
O desequilíbrio nas relações de poder
entre homens e mulheres é a origem
do que se chama de “cultura do
estupro”. Esse termo tem sido usado
para se referir ao conjunto de regras
sociais que naturalizam e toleram o
comportamento sexual violento dos
homens e transferem para as vítimas a
culpa desses atos. É um termo muito
utilizado na causa feminista. Falando
nisso, vale abordarmos conceitos
importantes para avançarmos no
nosso conteúdo. Vamos entender o
que significa feminismo e machismo?

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O que é feminismo?
Feminismo é um movimento
social e político que tem
como objetivo conquistar o
acesso a direitos iguais entre
homens e mulheres desde o
século XIX. (Carta Capital)

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Além das violências doméstica e sexual, é possível ver A escola e demais espaços educativos precisam ter a
outros fenômenos resultantes da desigualdade entre os consciência que sua atuação não é neutra e que o
gêneros. Há nichos profissionais totalmente dominados mínimo que devem fazer é não contribuir para o
por um ou outro sexo. Segundo a Associação Brasileira aumento da discriminação, violência e preconceito.
de Enfermagem, a vasta maioria dos trabalhadores da
área, por exemplo, é composta por mulheres – dos 2 Para evitar que a desigualdade e suas
milhões totais de enfermeiros contabilizados em 2011, consequências se perpetuem, é preciso garantir uma
1.4 milhão (ou 87%) eram mulheres. O efeito é reverso educação não-machista por meio da desconstrução
nos cursos ligados à engenharia: em 2012, apenas 23% de alguns hábitos que estão intrincados à nossa
dos formados eram do sexo feminino, de acordo com a sociedade. Assim, a construção de uma sociedade
Associação Brasileira de Educação em Engenharia. baseada na igualdade começa nos espaços
educativos, do ambiente familiar à escola, por meio
As mulheres também são minoria em cargos de chefia e do diálogo, da desconstrução dos estereótipos de
sofrem com a disparidade de salários. Exercendo gênero, da promoção de um ambiente cujas
funções iguais, uma mulher recebe cerca de 70% do oportunidades entre meninos e meninas, homens e
pagamento que um homem receberia por hora – e a mulheres sejam iguais.
desigualdade salarial cresce proporcionalmente ao nível
da posição ocupada; ou seja, a diferença de rendimento
entre gerentes é maior que entre funcionários.
Além disso, as tarefas domésticas continuam sendo
majoritariamente femininas. O IBGE confirmou que as
mulheres dedicam 20.8 horas ao serviço de casa por
semana. Para os homens, no entanto, esse total não
passa de 10.

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Por fim, as questões de gênero são complexas e
múltiplas, ou seja, variam de acordo com a cultura e o
momento histórico, e permitem algumas adaptações
para cada homem e cada mulher, a partir das
histórias e escolhas particulares. Segundo a
publicação Gênero e Diversidade na Escola “é a
cultura que constrói o gênero, simbolizando as
atividades como masculinas e femininas.” Isto posto,
é importante ressaltar a arbitrariedade cultural do
É também importante diferenciar sexo e sexualidade e gênero. Ele só pode ser compreendido em relação a
gênero. Sexo refere-se aos atributos e características uma determinada cultura.
biológicas que identificam uma pessoa como sendo
homem, mulher ou intersexo. Assim, para entendermos melhor os termos utilizados
aqui, o infográfico da próxima página pode nos ajudar
Já a sexualidade é definida pela Organização Mundial da diferenciar esses conceitos.
Saúde como “um aspecto central do ser humano, que
acompanha toda a vida e que envolve o sexo, a
identidade, os papéis de gênero, a orientação sexual, o
erotismo, o prazer, a intimidade e a reprodução. A
sexualidade é vivida e expressa em pensamentos,
fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores,
comportamentos, práticas, papéis e relações. Se a
sexualidade pode incluir todas essas dimensões, nem
todas elas são experienciadas ou expressas.”

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Retirado do livro Orientações sobre identidade de gênero:
conceitos e termos, escrito por Jaqueline Gomes de Jesus em 2012.

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A Plan Brasil realizou uma
pesquisa com meninas de 6 a 14
anos, em 2014, e os resultados
mostram que a desigualdade
entre homens e mulheres
começa em casa: 76,3% dos
lares são cuidados
exclusivamente pela mãe. E já
que a mãe é a responsável pelos
cuidados domésticos e infantis, a
ideia de que mulheres devem ser
as únicas responsáveis por essas
tarefas se naturaliza. Por isso,
81,4% das meninas entrevistadas
responderam que arrumam a
própria cama, 76,8% lavam a
louça e 65,6% limpam a casa,
enquanto apenas 11,6% dos seus
irmãos arruma a própria cama,
12,5% lavam a louça e 11,4%
limpam a casa.
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Estatísticas mostram que a estimativa de crianças que Ao guardar segredo sobre a agressão sexual sofrida por
sofre violência sexual até a idade de 12 anos é de 36% das meninos, está o temor do preconceito que pode surgir
meninas e 27% dos meninos. Porém, sabe-se que a quanto a sua orientação sexual.
subnotificação dos casos envolvendo meninos é grande e
isso se deve à nossa cultura machista. “ "A pior condenação que um menino pode ter na sociedade
machista em que vivemos é ser gay. Aqui o homem precisa
É algo que precisa realmente ser mais investigado. "A ser 'macho'. Então se ele for abusado por uma mulher e
dificuldade de falar sobre esse tema tem a ver com nossa reclamar disso, será tachado de gay, e se for abusado por
cultura machista e patriarcal de considerar que isso para os um homem e denunciar, também pode ser considerado
meninos significaria a 'perda' de sua condição de homem.“ gay.“ (Flávio Debique)
(Flávio Debique – Plan Brasi)
Um estudo feito nos Estados Unidos revelou recentemente
que um em cada seis homens sofreu algum tipo de abuso
antes dos 16 anos no país. No Brasil, há poucos dados
sobre o assunto; mas o Disque Denúncia (o Disque 100,
serviço nacional de denúncia de abuso e exploração sexual
contra crianças e adolescentes) registrou em 2014 uma
média diária de 13 denúncias de abusos de meninos.

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A forma como os alunos são avaliados e percebidos A desigualdade de gênero também impacta os meninos.
pelos adultos impactam fortemente a percepção que têm Estudos mostram que o fracasso escolar e a evasão de
de si. Embora diversos papéis de gênero sejam jovens estão ligados a referenciais de masculinidades
passados de geração em geração de maneira explícita, difundidos socialmente. “Uma identidade masculina
existem preconceitos invisíveis nos currículos subjetivos baseada na agressividade e na indisciplina tem cada
da educação. Um deles fomenta a ideia de que os vez mais afastado os meninos dos bancos escolares
meninos são mais talentosos para Exatas e serão (37,9% deles, segundo dados do IBGE em 2011),
melhores cientistas, engenheiros e técnicos de negando-lhes seu direito à educação e reproduzindo
informática, assim como meninas seriam mais talentosas uma cultura da violência”, afirma carta publicada pela
para Humanas e profissões ligadas ao cuidado e à ABA.
educação de crianças.
Esses estereótipos impõem barreiras e limitam as
possibilidades de realizações pessoais. Talentos são
perdidos e sonhos deixam de ser realizados por meninos
e meninas, ao se estabelecer quais profissões são
adequadas a um ou outro gênero

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De acordo com os dados divulgados pela
Agência ÉNois, 94% da jovens
entrevistadas já sofreram assédio sexual
verbal feito por homens, enquanto 90% já
deixaram de fazer alguma coisa devido ao
medo da violência. Se 9 entre cada 10
garotas já deixaram de fazer algo por conta
do medo de sofrerem assédio, de serem
vítimas de estupro ou de enfrentarem
outros tipos de violência, isso mostra que
nossa sociedade não permite que as
mulheres sejam realmente livres. Essa falta
de liberdade encontra reforço no silêncio e
na ausência de discussões educativas
sobre o que é machismo.

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A Revista Cláudia publicou em outubro de 2016 que Aqui, não há políticas públicas que reduzam os
o Brasil ocupa o quarto lugar no mundo em número números e protejam as garotas dos prejuízos ao
absoluto de crianças casadas. As esposas de 10 a antecipar esse passo de adulto. “O assunto é tabu
14 anos são 65 709; delas, 2,6 mil firmaram para o governo e a sociedade”, afirma a assistente
compromisso em cartório e/ou igreja. No grupo de social Neilza Buarque Costa, assessora da Visão
15 a 17 anos são 488 381. Os dados fazem parte do Mundial, ONG internacional que há 40 anos atua no
estudo sobre casamento infantil publicado em país em defesa da infância. “A menina perde
setembro passado pelo Instituto Promundo, que direitos. Não brinca, não estuda. Torna-se vulnerável
promove as relações de gênero não-violentas. O à violência doméstica, não decide a própria vida
levantamento se concentra no Pará e no Maranhão, sexual, engravida cedo, está mais sujeita à morte
mas reflete a realidade nacional. “O fenômeno é materna e a perder o bebê.” Para Neilza, a relação
rural e urbano, está nas capitais, nos rincões, não marital precoce tende a perpetuar o ciclo de
tem geografia específica”, explica a especialista em pobreza, com a garota tendo menos chances de
gênero e segurança humana Alice Taylor, uma das desenvolver uma carreira e, futuramente, conduzir
autoras. E já está tão naturalizado que nem se nota as filhas para uma escolaridade maior. “Do total de
a lei. O sexo com menores de 14, mesmo que alunas que largam o colégio entre 10 e 17 anos,
consensual, é crime. Uma união só pode ser 75% estão casadas ou grávidas”, lembra.
oficializada a partir dos 18, com exceção aberta pelo
Código Civil para as grávidas de 16 em diante, com
autorização dos pais.

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Espaços educativos são aqueles locais que podem
contribuir para o desenvolvimento pleno da criança e
da(o) adolescente, ajudando a promover relações mais
saudáveis e sem violência. Assim, no próximo e-book,
abordaremos metodologias e dicas práticas de como
promover uma educação não-machista em casa, nas
instituições escolares, em grupos de amigos e em outros
espaços sociais.

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