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ISSN: 1984 -3615

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS SOBRE O MEDITERRÂNEO ANTIGO
&
VIII JORNADA DE HISTÓRIA ANTIGA
2009

Os Valores Sociais Espartanos Através de Xenofonte

Pesquisador: Prof. Luis Filipe Bantim de Assumpção (NEA)

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Regina Cândido (PPGH/NEA/UERJ – PPGH/UFRJ)

Ao se estudar sobre a Grécia (Hélade), geralmente acabamos por relacioná-la com a


pólis de Atenas assim, fazendo parecer que um termo e outro designem o mesmo objeto de
análise.

No entanto, ao darmos continuidade a tal estudo, e subsequentemente


aprofundando-o, entende-se que Atenas, mesmo sendo uma das póleis mais importantes da
Hélade, não era a única existente.

Embora tenha adquirido um caráter democrático, e todos os cidadãos atenienses


tivessem a isonomia, ou seja, a igualdade de direitos, em Atenas sempre existiu uma
diferença social estabelecida pela riqueza e pelo nascimento, e anteriormente a essa
instituição democrática estabelecida, a princípio por Clístenes 1, a pólis ateniense tinha
características aristocráticas.

A aristocracia parece ter se mantido em Atenas, mesmo após a hegemonia política


democrática e das tentativas de golpes oligárquicos. Graças a isso, muitos documentos
antidemocráticos tenham sido escritos, remetendo-se as antigas práticas das elites sociais
de outrora, e seu detrimento devido a ascensão popular. Aqui se torna digno de menção
que para Aristóteles, tanto a Oligarquia, quanto a democracia eram desvios de governo,
sendo um dos desvios correspondentes a aristocracia e o outro a república. Tais desvios
consistiam em prezar pelo bem de um único segmento, e não pelo bem comum da
sociedade2.

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Essa pequena introdução se tornou necessária para que pudéssemos prosseguir a


nossa análise, a partir da obra de Xenofonte, dentro dos contextos necessários para um
melhor entendimento das práticas sociais que defendia.

Xenofonte, era cidadão ateniense. Como está descrito na obra de Magalhães3,


Xenofonte não nasceu em Atenas, mas em Érquia, uma colônia ateniense, e por isso
detinha plenos direitos de cidadão em Atenas. Segundo Magalhães e os escritos
documentais do próprio Xenofonte, entende-se que este pertencia a um segmento social
mais abastado dentro da sociedade ateniense, levando-nos a concluir que era integrante da
aristocracia, onde haveria recebido uma educação que poucos membros da sociedade
ateniense poderiam receber, sendo algumas dessas práticas exercidas somente por aqueles
que tinham uma renda mínima para se equipar/armar como hoplíta, e arcar com os custos
das mesmas4. Uma prática exercida por poucos e muito bem descrita por Xenofonte, era a
prática eqüestre. Esse tipo de atividade fazia com que aquele que a praticasse tivesse gastos
exorbitantes, além de serem necessários longos períodos de tempo para o aperfeiçoamento
de tais práticas. Xenofonte escreveu duas obras voltadas para essa prática estilizada, essas
seriam “Tratado de Equitação” e o “Comandante de Cavalaria”5. A prática eqüestre, como
mostra Moura, já era valorizada em Atenas desde a época de Sólon, sendo utilizada como
senso de riqueza, e os membros deste grupo participavam ativamente das cerimônias
públicas mais importantes6.

Tendo Xenofonte, e a obra República dos Lacedemônios, como nossos documentos


principais, devemos ter conhecimento do momento histórico em que se encontrava, e o
que, ou quem, pretendia atingir com seus escritos.

Xenofonte viveu em um período de “pós – Guerras do Peloponeso”. Tal


acontecimento histórico parece ter enfraquecido boa parte das póleis gregas, afinal, foram
quase trinta anos de conflito, com pequenos momentos de trégua. Os dois principais
protagonistas desta guerra foram: Atenas, líder da Liga de Delos, que através de sua
política de alianças com diversas póleis, acabou adquirindo um poder político considerável
no Mar Egeu; e Esparta, líder da Liga do Peloponeso, pólis de caráter militar e com notória
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supremacia sobre a região do Peloponeso (pelo menos em boa parte de sua história)7, além
do que, pelo que nos mostra a documentação, era a única dentre as póleis que mantinha o
comando político como uma diarquia, forma de governo com dois reis, provenientes de
duas famílias nobres, os Ágidas e os Euripôntidas. Devido a essa peculiaridade política,
percebe-se que havia um pleno domínio aristocrático fazendo com que integrantes da
aristocracia de outras pólis se identificassem com o modelo político espartano.

Fig.01 - http://z.about.com/d/ancienthistory/1/0/8/9/2/Reference-Map-of-Ancient-Greece---
Southern-Part-.jpg

Neste momento já podemos situar Xenofonte. Xenofonte, na obra “República dos


Lacedemônios”, menciona em todo momento as medidas e procedimentos utilizados para
ter “a melhor de todas as constituições” 8, o faz em comparação com “outras póleis”.
Analisando esse documento, e levando em consideração o momento histórico e a maneira

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como vivia, podemos concluir que o termo “outras póleis”, seja apenas para designar sua
cidade-estado de origem, porém de uma maneira não explícita, ou seja, Atenas.

Em todo momento Xenofonte exalta os quesitos educacionais da constituição de


Licurgo, enfatizando o fato de que, a responsabilidade pela educação do cidadão, desde a
sua infância até a sua vida adulta, era do Estado9.

Mesmo após o casamento, tendo completado o treinamento militar básico e se


tornando um cidadão efetivo, um esparciata (aos 30 anos); o homem espartano continuava
com seus afazeres em relação ao Estado.

Em relação ao cidadão espartano, segundo Xenofonte, Licurgo estabeleceu que


deveriam se dedicar a caça de animais terrestres, pois essa prática manteria seus corpos
treinados para o serviço militar 10.

Em Esparta haviam também os “repastos públicos”, que consistiam em banquetes


noturnos entre os cidadãos, em mesas de 15 pessoas, onde cada um ficaria responsável por
trazer os elementos que compunham tal refeição (tais como: cevada, vinho, queijo, figo,
caças)11. Durante tais banquetes, os mais jovens poderiam assisti-los, para que assim
adquirissem a experiência dos veteranos12.

Geralmente, os autores clássicos – tais como Plutarco, Xenofonte e até mesmo


Aristóteles13 – se referem a Esparta como Lacedemônia, no entanto, essa seria uma
designação para relativizar boa parte da região do Peloponeso, onde Esparta seria a
principal cidade, assim como Atenas era na Ática.

Seu modelo político se baseava na figura de Licurgo, legislador que adquiriu um


caráter mítico, ao qual teria formulado sua constituição a partir da análise de outras
constituições que teria visto em suas viagens ao longo do Mediterrâneo, como constaria em
Plutarco, na obra “Vida de Licurgo”. O mesmo autor, ainda mencionaria que Licurgo só se
utilizou destas leis, após consultar o oráculo de Delfos, e este aprová-la como algo
sublime14.

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Em Esparta haveria um completo aparato de controle social 15, e seu corpo de


cidadãos efetivos, denominados “esparciatas”, era diminuto se comparado ao das demais
póleis; o fato de ter um corpo de cidadãos relativamente pequeno, pode explicar em partes
o porquê do sucesso político desta “constituição divina” (controle nas mãos de poucos).

Segundo Plutarco, Esparta contava com outros dois segmentos sociais; estes eram
os periecos e os hilotas16. A origem dos dois, e o motivo de sua submissão, ainda não
foram completamente entendidos, mas através da leitura de autores contemporâneos, e até
mesmo dos autores clássicos, sabemos que os periecos habitavam a periferia das terras da
Lacedemônia, sendo estas menos férteis, tinham liberdade social, direito de produção
agrícola e comércio, no entanto, não gozavam de nenhum direito político. Os periecos
eram obrigados a participar do serviço militar. Os hilotas tinham a condição de servos, que
se mantinham a disposição do Estado, e sem nenhum tipo de liberdade ou direito político;
Como geralmente eram fonte de revoltas, sobre eles era mantido um rigoroso controle
social17, sendo os mesmos alvo do ritual de passagem por parte dos jovens em treinamento
militar, a Kryptéia. Segundo Plutarco a Kryptéia consistia em:

“chefes dos jovens mandavam de vez em quando para o


campo (...) aqueles que passavam por mais inteligentes, sem deixá-
los levar mais que o punhal e os víveres necessários. Durante o dia
esses rapazes mantinham-se escondidos, descansando em sítios
cobertos; chegada a noite, desciam as estradas e degolavam
quantos hilotas pudessem surpreender.18”

Não eram somente estes fatores que caracterizavam a sociedade espartana. Ainda
em um âmbito social, mas voltado para um caráter político, temos ainda as diferenciações
de suas instituições políticas, se comparada com as demais póleis helênicas.

Para Mossé, as instituições políticas espartana consistiam nos seguintes segmentos:


ápella (assembléia de cidadãos iguais); gerúsia (conselho dos anciãos); eforato
(magistrados); e os reis. Tais instituições só poderiam ser formadas, e seus cargos
ocupados, pelos homoioi (cidadãos com plenos direitos). Somente os cargos de rei, não

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poderiam ser ocupados por qualquer cidadão, pois os reis eram tirados de duas famílias
tradicionais de Esparta: os Ágidas e os Euripôntidas.

Dialogando com as idéias de Plutarco19, a assembléia tinha poderes muito


limitados, e sua função nesta obra de Plutarco, é um tanto confusa. No entanto, Mossé nos
afirma o seguinte: “..., se teoricamente a assembléia espartana decidia da paz e da guerra e
procedia à eleição dos magistrados e à designação dos gerontes, ela não tinha qualquer
influência política efetiva” 20, logo, essa afirmação mostra que Ápella não tinha nenhuma
influência política significativa.

A gerúsia, nas palavras de Plutarco, era formada “pelas pessoas de maior mérito
escolhidas entre os cidadãos com mais de sessenta anos” 21, tinha um caráter vitalício, e nos
dizeres de Mossé22, os gerontes poderiam formular projetos de leis, dissolver a ápella e
detinha em seu controle uma alta instância de justiça criminal. O eforato era constituído
por um colégio de cinco magistrados, e como indica Mossé 23, parecia não existir nenhuma
condição de nascimento ou censo, para ter acesso a essa magistratura. Quanto a sua criação
utilizaremos a afirmação de Sosícrates, encontrada na obra de Mossé: “o eforato terá sido
instituído em meados do séc. VI como proteção contra as ambições tirânicas de certos
reis“24. Essa sentença mostra que, como eram uma espécie de defensores e mantenedores
das leis, tinham o direito de “atuar contra todos (reis ou gerontes) que pudessem pôr em
causa (as leis)”. O mandato dos éforos durava um ano.

Após termos descrito as instituições políticas de Esparta, cabe-nos uma


interrogação: Por que este modelo de “politéia” gerava, ao que parece, tanta admiração na
aristocracia das demais póleis, principalmente a ateniense?

Alguns autores clássicos, tais como Aristóteles, Platão e Sócrates, chegam a exaltar
o modelo político lacedemônio como ideal, em algumas de suas obras. Utilizaremos a
documentação de Xenofonte para tentarmos dar uma resposta para a pergunta formulada.

Como consta na documentação utilizada e na obra de Peter Jones, O Mundo de


Atenas, Xenofonte viveu após a Guerra do Peloponeso. Para as póleis envolvidas, depois
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de quase 30 anos de guerra, encontrava-se um momento de crises política, social e


econômica. Embora Esparta tenha saído como vencedora, muitas perdas ocorreram, e até
padrões sociais antes imodificáveis, tiveram que se adaptar a esta nova realidade, como nos
mostra Jones.

Entretanto, a vitória de uma pólis com características aristocráticas, nos leva a crer
que tenha servido de motivo para criticar práticas democráticas, por parte de membros de
uma antiga aristocracia, que sobreviviam como oligarcas 25 nestas póleis. Utilizando uma
afirmação de Moura, onde diz:

“as imagens de Esparta no século IV são, em geral, (...)


produzidas por e para membros de um mesmo grupo social,
contextos fechados (...). Não eram destinadas ao grande público, já
que eram produzidas e consumidas pelos poucos ricos atenienses
letrados, com funções educativas, informativas e políticas”26.

Os escritos de Xenofonte, independentemente de quais sejam, tentam promover


práticas sociais de membros abastados da sociedade em que vivia, no entanto, a sociedade
da qual fazia parte já parecia não compartilhar de tais práticas, nem mesmo a própria
Esparta.

Na República dos Lacedemônios, Xenofonte superestima a educação espartana, e


exalta a figura do legislador Licurgo, e a maneira como este controlou as tendências sociais
para com as riquezas, e os manteve conscientes para o bem de toda a pólis. Plutarco
quando faz a “biografia” de Licurgo diz as mesmas coisas. Entretanto, a crítica de
Xenofonte vai de encontro, assim como a crítica da maioria dos oligarcas, com o modelo
político ateniense e o acesso de todos os cidadãos a vida política.

Ainda sobre a crítica de Xenofonte, Moura diz que:

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“o importante, na visão de Xenofonte, era ser rico, ter o que


os ricos podiam ter, mas não ficar preso a essas riquezas pelo valor
material delas, e sim pelo estilo e virtude que elas podiam
proporcionar”27.

Com isso percebemos que Xenofonte não era contra a riqueza, mas sim, contra a
maneira como esta era utilizada em detrimento de um “fazer estilizado e correto”. Torna-se
perceptível, também, que era contra essa “igualdade social” pregada pela democracia, pois
para ele, só aos melhores cabia gerenciar a pólis. Na visão de Moura, isso se chamava
“Ideologia Oligárquica”28.

Xenofonte ao escrever a República dos Lacedemônios parece querer mostrar para


os seus pares atenienses, como seria uma sociedade ideal em seu apogeu. Entretanto, o
próprio Xenofonte afirma que em Esparta, tal modelo político e social, já não se
encontrava da maneira como este havia descrito, pois os lacedemônios “... já não
obedecem nem aos deuses e nem as leis de Licurgo”29. Mas qual o motivo que levaram os
lacedemônios a procederem desta maneira, tão crítica aos olhos de Xenofonte? Ao tentar
atingir seus pares atenienses, através deste panfleto político, esperava deles uma reação?

As transformações políticas que ocorrem devido aos interesses de alguns setores da


sociedade, seria uma prática tanto utilizada na atualidade quanto na antiguidade. E o que
para Xenofonte parece ser um ultraje, também pode ser observado como uma modificação
de interesses políticos. Como já citamos anteriormente, o número de cidadãos espartanos
eram demasiadamente inferiores se comparado ao de outras póleis, e sucessivos períodos
de guerra levariam a uma diminuição ainda menor. Com essa diminuição no número de
cidadãos ativos, ficaria difícil de manter a supremacia militar de Esparta. Embora diversos
fatores sejam possíveis para explicar essa modificação política, neste trabalho nos
limitaremos a questão do isolamento da sociedade e para o interesse na obtenção de
“bens”.
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Como o próprio Xenofonte descreve, a política espartana prezava pela manutenção


de sua tradição. Uma das tradições criticadas por Xenofonte, seria o contato com o
estrangeiro, fato que antes não era aceito pelo Estado. Sair do território sem autorização
não era permitido, pois o contato com o estrangeiro faria com que o modo de pensar do
cidadão se modificasse, e este corromperia seus compatriotas30. Mesmo após as Guerras do
Peloponeso, outras batalhas foram travadas, e com a profissionalização do exército,
qualquer um que tivesse condições de pagar teria um exército eficiente e bem preparado ao
seu comando. O contínuo de guerras e a queda no número de cidadãos, pode ter sido uma
das causas para a modificação institucional espartana. Mossé31 fala brevemente sobre a
política externa do vencedor de Egospotamos, Lisandro, e o rei persa Dario, e Cawkwell32
nos fala que após as Guerras do Peloponeso, Lisandro leva para Esparta todo ouro e prata
em seu poder. Anteriormente Licurgo, em suas leis, havia proibido esse tipo de riquezas,
como consta em Plutarco33, entretanto, essa nova realidade e os contatos externos,
modificaram essa parte da constituição dos lacedemônios, e associado ao mercenarismo
crescente em todo mundo helênico, alguns esparciatas em busca de riquezas e poder, se
submeteram a tais práticas34.

A conclusão que podemos tirar é que, após vivenciar esta “nova realidade”
espartana, Xenofonte tenta mostrar os motivos que levaram a decadência do governo dos
mesmos, para que seus pares não os cometessem a mais, ou revertessem o que já haviam
feito. Tal consideração é um tanto ousada, e levanta diversos questionamentos. Entretanto,
nossa proposta é ampliar o conhecimento sobre esta temática, e em outra ocasião,
podermos até mesmo criticar nosso posicionamento atual.

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Documentação Textual:
ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Editora Escala;
JENOFONTE. Obras Menores – La República de los Lacedemonios. Trad. O. Guntiñas
Tuñon. Madrid: Editorial Gredos, 1997;
PLUTARCO. Vidas Paralelas. Vol.I. Trad. Gilson C. Cardoso. São Paulo: Paumape, 1991;

Documentação on-line:
http://z.about.com/d/ancienthistory/1/0/8/9/2/Reference-Map-of-Ancient-Greece---
Southern-Part-.jpg ; Acessado no dia 19/10/2009;

Bibliografia:
CAWKWELL, G.B. The Decline of Sparta. IN.: WHITBY, Michael (ed.). Sparta.
Edinburgh: Edinburgh University Press, 2002;
JONES, Peter (org.). O Mundo de Atenas: uma introdução a cultura clássica ateniense.
Trad. Ana Lia de A. Prado. São Paulo: Martins Fontes, 1997;
MAGALHÃES, J.B. Estudo Histórico sobre a Guerra Antiga: antes das armas de fogo. -
2ª Ed.. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 2006;
MOSSÉ, Claude. As Instituições Gregas. Lisboa: Edições 70;
MOURA, José Francisco de. Imagens de Esparta: Xenofonte e a Ideologia Oligárquica. –
Rio de Janeiro: Laboratório de História Antiga, 2000.

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1
MOSSÉ, Claude. pp.29,30;
2
ARISTÓTELES. pp.72-74;
3
O autor faz uma pequena introdução biográfica a figura de Xenofonte. MAGALHÃES, J.B.: 2006. p.42;
4
Tal prática poderia ser o treinamento hoplítico e o de cavalaria. IDEM. pp. 43-51;
5
Como nos mostra Magalhães, Xenofonte parecia ter grande habilidade e prática nesta “arte” IDEM. pp.75-
117;
6
MOURA, José Francisco de. 2000. p.63;
7
JONES, Peter. Op.Cit. pp.47-49;
8
PLUTARCO. 1991. p.98;
9
XENOFONTE. 1997. Cap. II, §2;
10
IDEM. Cap. IV, §7;
11
PLUTARCO. Op.Cit. p.106;
12
XENOFONTE. Op.Cit. Cap.V, §5;
13
Essa designação pode ser encontrada nas obras: Vida de Licurgo, de Plutarco; A Política, de Aristóteles, A
República dos Lacedemônios, de Xenofonte. Entretanto, podemos encontrar em outros autores clássicos essa
nomenclatura, mas devido a extensão do presente trabalho, não tivemos tempo hábil para analisá-las;
14
PLUTARCO. Ibidem. p.98;
15
Plutarco se refere as intenções de Licurgo ao formular suas leis, e a intenção de manter os interesses
individuais da população sob controle. IDEM.pp.98-107;
16
A maioria dos autores clássicos que se referem a Esparta falam dos seus segmentos sociais, e a maneira
como seus cidadãos lidavam com eles. Podemos citar autores como Platão, Aristóteles, Xenofonte, Plutarco.
17
O controle social sobre os hilotas parece sempre ter existido entre os cidadãos de Esparta, devido a
tentativas de revoltas por parte destes. Uma dessas revoltas foi em 464, quando um terremoto devastou a
pólis espartana, e os hilotas escolheram esse momento para se rebelarem. Por fim, os hoplitas espartanos
conseguiram contê-los. JONES,Peter. Op.Cit. p.25;
18
PLUTARCO. Op.Cit. p.126;
19
PLUTARCO. Op.Cit. p.100;
20
MOSSÉ, Claude. Op.Cit. p.99;
21
PLUTARCO. Op.Cit. p.123;
22
MOSSÉ, Claude. Op.Cit. p.100;
23
IDEM. pp. 100,101;
24
IDEM. p.101. Xenofonte nos fala no cap. VII (§3,4), da República dos Lacedemônios que o eforato não foi
uma criação de Licurgo, mas sim, uma criação dos ”melhores cidadãos”, onde se eles obedecessem às leis de
prontidão , os demais membros da sociedade obedeceriam da mesma maneira;

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25
Aristóteles fala das três formas de governos ideais em sua “Política”. Para Aristóteles as três formas de
governo são: a monarquia, a aristocracia e o governo constitucional. Todas essas formas de governo ideais
prezariam pelos interesses do grupo social. No entanto, dessas formas de governo poderiam surgir desvios,
onde o da monarquia seria a tirania, o da aristocracia a oligarquia, do governo constitucional a democracia. O
desvio consistiria na tentativa de prezar pelo bem da figura individual do monarca, no caso da tirania; no bem
dos ricos, na questão oligárquica; e no bem dos pobres no caso da democracia. ARISTÓTELES. Política. São
Paulo: Editora Escala. pp.86,87;
26
MOURA, José Francisco de. Op. Cit. p.58;
27
IDEM. pp.64,65;
28
IDEM. p.53;
29
XENOFONTE. Op.Cit. Cap.XIV, §7;
30
IDEM. p.127;
31
MOSSÉ, Claude. Op.Cit. p.106;
32
CAWKWELL, G.B. IN.: WHITBY,Michael. 2002. p.251;
33
PLUTARCO. Op.Cit. p.103;
34
MOSSÉ,Claude. Op.Cit. p.107.

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