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ISSN: 1984 -3615
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
NÚCLEO DE ESTUDOS DA ANTIGUIDADE
I ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS SOBRE O MEDITERRÂNEO ANTIGO
&
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supremacia sobre a região do Peloponeso (pelo menos em boa parte de sua história)7, além
do que, pelo que nos mostra a documentação, era a única dentre as póleis que mantinha o
comando político como uma diarquia, forma de governo com dois reis, provenientes de
duas famílias nobres, os Ágidas e os Euripôntidas. Devido a essa peculiaridade política,
percebe-se que havia um pleno domínio aristocrático fazendo com que integrantes da
aristocracia de outras pólis se identificassem com o modelo político espartano.
Fig.01 - http://z.about.com/d/ancienthistory/1/0/8/9/2/Reference-Map-of-Ancient-Greece---
Southern-Part-.jpg
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como vivia, podemos concluir que o termo “outras póleis”, seja apenas para designar sua
cidade-estado de origem, porém de uma maneira não explícita, ou seja, Atenas.
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Segundo Plutarco, Esparta contava com outros dois segmentos sociais; estes eram
os periecos e os hilotas16. A origem dos dois, e o motivo de sua submissão, ainda não
foram completamente entendidos, mas através da leitura de autores contemporâneos, e até
mesmo dos autores clássicos, sabemos que os periecos habitavam a periferia das terras da
Lacedemônia, sendo estas menos férteis, tinham liberdade social, direito de produção
agrícola e comércio, no entanto, não gozavam de nenhum direito político. Os periecos
eram obrigados a participar do serviço militar. Os hilotas tinham a condição de servos, que
se mantinham a disposição do Estado, e sem nenhum tipo de liberdade ou direito político;
Como geralmente eram fonte de revoltas, sobre eles era mantido um rigoroso controle
social17, sendo os mesmos alvo do ritual de passagem por parte dos jovens em treinamento
militar, a Kryptéia. Segundo Plutarco a Kryptéia consistia em:
Não eram somente estes fatores que caracterizavam a sociedade espartana. Ainda
em um âmbito social, mas voltado para um caráter político, temos ainda as diferenciações
de suas instituições políticas, se comparada com as demais póleis helênicas.
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poderiam ser ocupados por qualquer cidadão, pois os reis eram tirados de duas famílias
tradicionais de Esparta: os Ágidas e os Euripôntidas.
A gerúsia, nas palavras de Plutarco, era formada “pelas pessoas de maior mérito
escolhidas entre os cidadãos com mais de sessenta anos” 21, tinha um caráter vitalício, e nos
dizeres de Mossé22, os gerontes poderiam formular projetos de leis, dissolver a ápella e
detinha em seu controle uma alta instância de justiça criminal. O eforato era constituído
por um colégio de cinco magistrados, e como indica Mossé 23, parecia não existir nenhuma
condição de nascimento ou censo, para ter acesso a essa magistratura. Quanto a sua criação
utilizaremos a afirmação de Sosícrates, encontrada na obra de Mossé: “o eforato terá sido
instituído em meados do séc. VI como proteção contra as ambições tirânicas de certos
reis“24. Essa sentença mostra que, como eram uma espécie de defensores e mantenedores
das leis, tinham o direito de “atuar contra todos (reis ou gerontes) que pudessem pôr em
causa (as leis)”. O mandato dos éforos durava um ano.
Alguns autores clássicos, tais como Aristóteles, Platão e Sócrates, chegam a exaltar
o modelo político lacedemônio como ideal, em algumas de suas obras. Utilizaremos a
documentação de Xenofonte para tentarmos dar uma resposta para a pergunta formulada.
Entretanto, a vitória de uma pólis com características aristocráticas, nos leva a crer
que tenha servido de motivo para criticar práticas democráticas, por parte de membros de
uma antiga aristocracia, que sobreviviam como oligarcas 25 nestas póleis. Utilizando uma
afirmação de Moura, onde diz:
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Com isso percebemos que Xenofonte não era contra a riqueza, mas sim, contra a
maneira como esta era utilizada em detrimento de um “fazer estilizado e correto”. Torna-se
perceptível, também, que era contra essa “igualdade social” pregada pela democracia, pois
para ele, só aos melhores cabia gerenciar a pólis. Na visão de Moura, isso se chamava
“Ideologia Oligárquica”28.
A conclusão que podemos tirar é que, após vivenciar esta “nova realidade”
espartana, Xenofonte tenta mostrar os motivos que levaram a decadência do governo dos
mesmos, para que seus pares não os cometessem a mais, ou revertessem o que já haviam
feito. Tal consideração é um tanto ousada, e levanta diversos questionamentos. Entretanto,
nossa proposta é ampliar o conhecimento sobre esta temática, e em outra ocasião,
podermos até mesmo criticar nosso posicionamento atual.
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Documentação Textual:
ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Editora Escala;
JENOFONTE. Obras Menores – La República de los Lacedemonios. Trad. O. Guntiñas
Tuñon. Madrid: Editorial Gredos, 1997;
PLUTARCO. Vidas Paralelas. Vol.I. Trad. Gilson C. Cardoso. São Paulo: Paumape, 1991;
Documentação on-line:
http://z.about.com/d/ancienthistory/1/0/8/9/2/Reference-Map-of-Ancient-Greece---
Southern-Part-.jpg ; Acessado no dia 19/10/2009;
Bibliografia:
CAWKWELL, G.B. The Decline of Sparta. IN.: WHITBY, Michael (ed.). Sparta.
Edinburgh: Edinburgh University Press, 2002;
JONES, Peter (org.). O Mundo de Atenas: uma introdução a cultura clássica ateniense.
Trad. Ana Lia de A. Prado. São Paulo: Martins Fontes, 1997;
MAGALHÃES, J.B. Estudo Histórico sobre a Guerra Antiga: antes das armas de fogo. -
2ª Ed.. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 2006;
MOSSÉ, Claude. As Instituições Gregas. Lisboa: Edições 70;
MOURA, José Francisco de. Imagens de Esparta: Xenofonte e a Ideologia Oligárquica. –
Rio de Janeiro: Laboratório de História Antiga, 2000.
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MOSSÉ, Claude. pp.29,30;
2
ARISTÓTELES. pp.72-74;
3
O autor faz uma pequena introdução biográfica a figura de Xenofonte. MAGALHÃES, J.B.: 2006. p.42;
4
Tal prática poderia ser o treinamento hoplítico e o de cavalaria. IDEM. pp. 43-51;
5
Como nos mostra Magalhães, Xenofonte parecia ter grande habilidade e prática nesta “arte” IDEM. pp.75-
117;
6
MOURA, José Francisco de. 2000. p.63;
7
JONES, Peter. Op.Cit. pp.47-49;
8
PLUTARCO. 1991. p.98;
9
XENOFONTE. 1997. Cap. II, §2;
10
IDEM. Cap. IV, §7;
11
PLUTARCO. Op.Cit. p.106;
12
XENOFONTE. Op.Cit. Cap.V, §5;
13
Essa designação pode ser encontrada nas obras: Vida de Licurgo, de Plutarco; A Política, de Aristóteles, A
República dos Lacedemônios, de Xenofonte. Entretanto, podemos encontrar em outros autores clássicos essa
nomenclatura, mas devido a extensão do presente trabalho, não tivemos tempo hábil para analisá-las;
14
PLUTARCO. Ibidem. p.98;
15
Plutarco se refere as intenções de Licurgo ao formular suas leis, e a intenção de manter os interesses
individuais da população sob controle. IDEM.pp.98-107;
16
A maioria dos autores clássicos que se referem a Esparta falam dos seus segmentos sociais, e a maneira
como seus cidadãos lidavam com eles. Podemos citar autores como Platão, Aristóteles, Xenofonte, Plutarco.
17
O controle social sobre os hilotas parece sempre ter existido entre os cidadãos de Esparta, devido a
tentativas de revoltas por parte destes. Uma dessas revoltas foi em 464, quando um terremoto devastou a
pólis espartana, e os hilotas escolheram esse momento para se rebelarem. Por fim, os hoplitas espartanos
conseguiram contê-los. JONES,Peter. Op.Cit. p.25;
18
PLUTARCO. Op.Cit. p.126;
19
PLUTARCO. Op.Cit. p.100;
20
MOSSÉ, Claude. Op.Cit. p.99;
21
PLUTARCO. Op.Cit. p.123;
22
MOSSÉ, Claude. Op.Cit. p.100;
23
IDEM. pp. 100,101;
24
IDEM. p.101. Xenofonte nos fala no cap. VII (§3,4), da República dos Lacedemônios que o eforato não foi
uma criação de Licurgo, mas sim, uma criação dos ”melhores cidadãos”, onde se eles obedecessem às leis de
prontidão , os demais membros da sociedade obedeceriam da mesma maneira;
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Aristóteles fala das três formas de governos ideais em sua “Política”. Para Aristóteles as três formas de
governo são: a monarquia, a aristocracia e o governo constitucional. Todas essas formas de governo ideais
prezariam pelos interesses do grupo social. No entanto, dessas formas de governo poderiam surgir desvios,
onde o da monarquia seria a tirania, o da aristocracia a oligarquia, do governo constitucional a democracia. O
desvio consistiria na tentativa de prezar pelo bem da figura individual do monarca, no caso da tirania; no bem
dos ricos, na questão oligárquica; e no bem dos pobres no caso da democracia. ARISTÓTELES. Política. São
Paulo: Editora Escala. pp.86,87;
26
MOURA, José Francisco de. Op. Cit. p.58;
27
IDEM. pp.64,65;
28
IDEM. p.53;
29
XENOFONTE. Op.Cit. Cap.XIV, §7;
30
IDEM. p.127;
31
MOSSÉ, Claude. Op.Cit. p.106;
32
CAWKWELL, G.B. IN.: WHITBY,Michael. 2002. p.251;
33
PLUTARCO. Op.Cit. p.103;
34
MOSSÉ,Claude. Op.Cit. p.107.
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