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Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof.

Sonia Geisler

Trovadorismo

Designa-se por Trovadorismo o período que engloba a produção literária de


Portugal durante seus primeiros séculos de existência (séc. XII ao XV) e
corresponde à primeira fase da história de Portugal e está intimamente ligado à
formação do país como reino independente.

O conjunto de suas manifestações literárias reúne os poemas feitos por


trovadores para serem cantados em feiras, festas e castelos nos últimos séculos
da Idade Média.

No âmbito da poesia, aparecem as Cantigas em suas modalidades; enquanto a


prosa ,apresenta as Novelas de Cavalaria.

Contexto histórico

1ª Época Medieval

Cumpre dizer, antes de tudo, que o Trovadorismo se manifestou na Idade Média, período este que teve início com o fim do
Império Romano (destruído no século V com a invasão dos bárbaros vindos do norte da Europa), e se estendeu até o século
XV, quando se deu a época do Renascimento.

No que diz respeito ao aspecto econômico, toda a Europa dessa época sofria com as sucessivas invasões dos povos
germânicos, fato este que culminava em inúmeras guerras. Nessa conjuntura desenvolveu-se o sistema econômico
denominado de feudalismo, no qual o direito de governar se concentrava somente nas mãos do senhor feudal, o qual
mantinha plenos poderes sobre todos os seus servos e vassalos que trabalhavam em suas terras. Este senhor, também
chamado de suserano, cedia a posse de terras a um vassalo, que se comprometia a cultivá-las, repassando, assim, parte da
produção ao dono do feudo. Em troca dessa fidelidade e trabalho, os servos contavam com a proteção militar e judicial, no
caso de possíveis ataques e invasões. A essa relação subordinada dava-se o nome de vassalagem. As relações sociais
estavam baseadas também na submissão aos senhores feudais. Estes eram os detentores da posse da terra, habitavam
castelos e exerciam o poder absoluto sobre seus servos ou vassalos. Havia bastante distanciamento entre as classes sociais,
marcando bem a superioridade de uma sobre a outra.

Quanto ao contexto cultural e artístico, podemos afirmar que toda a Idade Média foi fortemente influenciada pela Igreja, a
qual detinha o poder político e econômico, mantendo-se acima até de toda a nobreza feudal. Nesse ínterim, figurava uma
visão de mundo baseada tão somente no teocentrismo, cuja ideologia afirmava que Deus era o centro de todas as coisas.
Assim, o homem mantinha-se totalmente crédulo e religioso, cujos posicionamentos estavam sempre à mercê da vontade
divina, assim como todos os fenômenos naturais.

A vida do homem medieval é totalmente norteada pelos valores religiosos e para a salvação da alma. O maior temor
humano era a idéia do inferno que torna o ser medieval submisso à Igreja e seus representantes.

Eram comuns procissões, romarias, construção de templos religiosos, missas etc. A arte refletia, então, esse sentimento
religioso em que tudo girava em torno de Deus.

Na arquitetura, toda a produção artística esteve voltada para a construção de igrejas, mosteiros, abadias e catedrais, tanto
na Alta Idade Média, na qual predominou o estilo romântico, quanto na Baixa Idade Média, predominando o estilo gótico.
No que tange às produções literárias, todas elas eram feitas em galego-português, denominadas de cantigas.

No intuito de retratar a vida aristocrática nas cortes portuguesas, as cantigas receberam influência de um tipo de poesia
originário da Provença – região sul da França, daí o nome de poesia provençal –, como também da poesia popular, ligada à
música e à dança. No que tange à temática elas estavam relacionadas a determinados valores culturais e a certos tipos de
comportamento difundidos pela cavalaria feudal, que até então lutava nas Cruzadas no intuito de resgatar a Terra Santa do
domínio dos mouros. Percebe-se, portanto, que nas cantigas prevaleciam distintos propósitos: havia aquelas em que se
manifestavam juras de amor feitas à mulher do cavaleiro, outras em que predominava o sofrimento de amor da jovem em
razão de o namorado ter partido para as Cruzadas, e ainda outras, em que a intenção era descrever, de forma irônica, os
costumes da sociedade portuguesa, então vigente. Assim, em virtude do aspecto que apresentavam, as cantigas se
subdividiam em:

CANTIGAS LÍRICAS DE AMOR


DE AMIGO
Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler

CANTIGAS SATÍRICAS DE ESCÁRNIO


DE MALDIZER

As cantigas, geralmente, eram acompanhadas de instrumentos (alaúde, flauta, viola, gaita etc.). Quem escrevia e cantava
essas poesias musicadas eram os jograis e os trovadores. Estes últimos deram origem ao nome deste estilo de época
português.

Mais tarde, as cantigas foram compiladas em Cancioneiros. Os mais importantes Cancioneiros desta época são o da Ajuda, o
da Biblioteca Nacional e o da Vaticana.

Do ponto de vista literário, as cantigas líricas apresentam maior potencial pois formam a base da poesia lírica portuguesa e
até brasileira. Já as cantigas satíricas, geralmente, tratavam de personalidades da época, numa linguagem popular e muitas
vezes obscena. As cantigas eram cantadas no idioma galego-português .

O marco inicial do Trovadorismo data da primeira cantiga feita por Paio Soares Taveirós, provavelmente em 1198, entitulada
Cantiga da Ribeirinha.

Características

 Cantigas de amor

Origem da Provença, região da França, trazidas através dos eventos religiosos e contatos entre as cortes. Tratam,
geralmente, de um relacionamento amoroso, em que o trovador canta seu amor a uma dama, normalmente de
posição social superior, inatingível. O sentimento oriundo da submissão entre o servo e o senhor feudal
transformou-se no que chamamos de vassalagem amorosa, preconizando, assim, um amor cortês. O amante vive
sempre em estado de sofrimento, também chamado de coita, visto que não é correspondido. Ainda assim dedica à
mulher amada (senhor) fidelidade, respeito e submissão. Nesse cenário, a mulher é tida como um ser inatingível, à
qual o cavaleiro deseja servir como vassalo.

Eu-lírico – masculino

A título de ilustração, observemos, pois, um exemplo:

Cantiga da Ribeirinha

No mundo non me sei parelha,


entre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e - ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraya
Quando vos eu vi em saya!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, desdaqueldi, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
Dhaver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, dalfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia dua correa.
Paio Soares de Taveirós

Vocabulário:
Nom me sei parelha: não conheço ninguém igual a mim.
Mentre: enquanto.
Ca: pois.
Branca e vermelha: a cor branca da pele, contrastando com o vermelho do rosto, rosada.
Retraya: descreva, pinte, retrate.
En saya: na intimidade; sem manto.
Que: pois.
Des: desde.
Semelha: parece.
D’haver eu por vós: que eu vos cubra.
Guarvaya: manto vermelho que geralmente é usado pela nobreza.
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Alfaya: presente.
Valia d’ua correa: objeto de pequeno valor

 Cantigas de amigo

Surgidas na própria Península Ibérica, as cantigas de amigo eram inspiradas em cantigas populares, fato que as
concebe como sendo mais ricas e mais variadas no que diz respeito à temática e à forma, além de serem mais
antigas. Diferentemente da cantiga de amor, na qual o sentimento expresso é masculino, a cantiga de amigo é
expressa em uma voz feminina, embora seja de autoria masculina, em virtude de que naquela época às mulheres
não era concedido o direito de alfabetização.. O trovador compõe a cantiga mostrando o outro lado do
relacionamento amoroso - o sofrimento da mulher à espera do namorado (chamado "amigo"), a dor do amor não
correspondido, as saudades, os ciúmes, as confissões da mulher a suas amigas, etc. O eu lírico, materializado pela
voz feminina, sempre tinha um confidente com o qual compartilhava seus sentimentos, representado pela figura da
mãe, amigas ou os próprios elementos da natureza, tais como pássaros, fontes, árvores ou o mar. Os elementos da
natureza estão sempre presente evidenciando o caráter popular da cantiga de amigo.

Eu-lírico – feminino

Constatemos um exemplo:

Ai flores, ai flores do verde pinho


se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,


se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,


aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,


aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?

(...)

D. Dinis

 Cantigas satíricas

De origem popular, essas cantigas retratavam uma temática originária de assuntos proferidos nas ruas, praças e
feiras. Tendo como suporte o mundo boêmio e marginal dos jograis, fidalgos, bailarinas, artistas da corte, aos quais
se misturavam até mesmo reis e religiosos, tinham por finalidade retratar os usos e costumes da época por meio de
uma crítica mordaz..Aqui os trovadores preocupavam-se em denunciar os falsos valores morais vigentes, atingindo
todas as classes sociais: senhores feudais, clérigos, povo e até eles próprios.

Assim, havia duas categorias:

 Cantigas de escárnio : crítica indireta e irônica


 Cantigas de maldizer : crítica direta e mais grosseira

a.- Cantigas de Escárnio: Apesar de a diferença entre ambas ser sutil, as cantigas de escárnio eram aquelas em que a
crítica não era feita de forma direta. Eram composições em que se criticava alguém através da zombaria do
sarcasmo. Essas sátiras indiretas encobriam a agressividade através do equívoco e da ambiguidade.

Rebuscadas de uma linguagem conotativa, não indicavam o nome da pessoa satirizada. Verifiquemos:

Ai, dona fea, foste-vos queixar


que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!...
João Garcia de Guilhade
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b.- Cantigas de Maldizer: Como bem nos retrata o nome, a crítica era feita de maneira direta, e mencionava o nome
da pessoa satirizada. Assim, envolvidas por uma linguagem chula, destacavam-se palavrões, geralmente envoltos
por um tom de obscenidade, fazendo referência a situações relacionadas a adultério, prostituição, imoralidade dos
padres, entre outros aspectos.

Vejamos, pois:

Roi queimado morreu con amor


Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!...
Pero Garcia Burgalês

Prosa Medieval

A prosa medieval retrata com mais detalhes o ambiente histórico-social desta época. A temática das novelas medievais está
ligada à vida dos cavaleiros medievais e também à religião.

A Demanda do Santo Graal é a novela mais importante para a literatura portuguesa. Ela retrata as aventuras dos cavaleiros
do Rei Artur em busca do cálice sagrado (Santo Graal). Este cálice conteria o sangue recolhido por José de Arimatéia, quando
Cristo estava crucificado. Esta busca (demanda) é repleta de simbolismo religioso, e o valoroso cavaleiro Galaaz consegue o
cálice.

http://youtu.be/fhRwuAkkIb0

Exercícios :
1. (Mackenzie - SP) Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é incorreto afirmar que:

a) refletiu o pensamento da época, marcada pelo teocentrismo, o feudalismo e valores altamente moralistas.
b) representou um claro apelo popular à arte, que passou a ser representada por setores mais baixos da sociedade.
c) pode ser dividida em lírica e satírica.
d) em boa parte de sua realização, teve influência provençal.
e) as cantigas de amigo, apesar de escritas por trovadores, expressam o eu-lírico feminino.

2. (UEL - PR) Sobre a cultura medieval ocidental, considere as seguintes afirmativas:

I - A maioria dos "não-romanos" desconhecia a escrita e utilizava-se da oralidade para orientar a vida social.
II - No campo da Filosofia, verificou-se a influência do pensamento escolástico, que retomou o debate entre fé e razão.
III - A arquitetura medieval caracterizou-se pela presença de grandes construções inspiradas em motivos religiosos, como
mosteiros e igrejas.
IV - O heroísmo da cavalaria e o amor, temas característicos da poesia trovadoresca, tornaram-se comuns na literatura
medieval.

Assinale a alternativa correta.


a) Apenas as afirmativas III e IV são verdadeiras.
b) Apenas as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
c) Apenas as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
d) Apenas as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
e) Todas as afirmativas são verdadeiras.

Fontes:
http://www.graudez.com.br
Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler
http://www.brasilescola.com
http://guiadoestudante.abril.com.br

Humanismo

Ao movimento intelectual e filosófico se deu o nome de Humanismo. O fundamento etimológico destas duas palavras (
humanismo , humanistas ) estava em que as obras dos autores greco-latinos, lidando diretamente com seres humanos,
procurando interpretá-los na poesia, no teatro, nos estudos filosóficos e morais, de que a Idade Média havia se afastado,
estudando de preferência as relações entre o homem cristão e Deus, colocando-o portanto em esfera superior, recolocava o
homem no seu plano meramente natural, não supranatural ou religioso.

O Humanismo caracteriza-se por uma nova visão do homem em relação a Deus e, em relação a si mesmo. Essa nova visão
decorre diante da nova realidade social e econômica vivida na época.
A pirâmide social da era Medieval, já não existe mais (essa pirâmide era formada pelos Nobres / Clero / e Povo), graças ao
surgimento de uma nova classe social: a Burguesia, cujo nome se origina da palavra burgos que quer dizer cidade.
O surgimento das cidades deve-se ao incremento do comércio que era a base de sustentação dessa nova classe social. As
cidades por sua vez, oferecem uma nova opção de vida para os camponeses que abandonam o campo. Esse fato iniciou o
afrouxamento do regime feudal de servidão.
Nessa época também tem início as grandes navegações, que levam as pessoas a valorizar crescentemente as conquistas
humanas. Esses fatores combinados levam a um processo que atinge seu ponto máximo no Renascimento.
Como conseqüência dessa nova realidade social, o Teocentrismo pregado e defendido durante tantos anos pelas classes
anteriores, passa a dar lugar para o Antropocentrismo, nova visão onde o homem se coloca como sendo o centro do
Universo. Portanto, os humanistas valorizarão os temas em torno do homem e a busca de conhecimentos e inspiração nas
obras da antigüidade clássica.
As obras dessa época, vão refletir em sua formação esse momento de transição de uma mentalidade para outra, ou seja, a
passagem de uma visão Teocêntrica para a visão antropocêntrica do mundo.
Portanto o Humanismo é considerado como um período de transição.

Na cultura, esse processo de mudanças também tem efeitos culturais pois, o homem passa a se encarar como ser humano, e
não mais como a imagem de Deus.
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Todas as Artes passam a expressar novas partículas que apareceram com essa nova visão, as pinturas os poemas e as
músicas da época por exemplo, tornam-se mais humanas, passam a retratar mais o ser humano em sua formação.
Essa nova concepção, não significa que a religião estava acabando mas, apenas que agora os artistas passavam a embutir em
suas obras também o lado humano derivado desse novo regime social.
A prosa, a poesia e principalmente o teatro produzidos nesse período refletem essa transição.
A poesia do período humanista compreende a chamada poesia palaciana, documentada através de uma coletânea feita por
Garcia de Resende e publicada em 1516 com o nome Cancioneiro Geral. A leitura dessa coletânea mergulha-nos em plena
vida palaciana. A corte ainda concentrada em torno do rei buscava novas formas de diversão e passatempos. A maioria das
composições do Cancioneiro Geral destinava-se aos serões do paço, onde se recitava, disputavam concursos poéticos,
ouviam música, galanteavam, jogavam, realizavam pequenos espetáculos de alegorias ou paródias. Tudo isso feito pelos
nobres, tendia a apurar-se, os vestuários, os gestos, os penteados e a linguagem mantendo forte influência da corte.
Nessa época a poesia, enfim, pode ter sua autonomia e separar-se da música, ou seja, até então todas as poesias eram feitas
para serem musicadas, e a partir desse momento, as poesias puderam ser apenas declamadas, sem acompanhamento
usando apenas a voz do poeta.
Humanismo = corrente filosófica

Pré-Renascimento
Desde o século XIII, surgem manifestações precursoras do espírito humanista que marcará o Renascimento. O processo de
depuração da teologia se deve a Santo Tomás de Aquino, cuja filosofia incorpora conceitos de Aristóteles; Francesco
Petrarca, no Cancioneiro, glorifica o amor na sua poesia lírica e fixa a forma do soneto; Dante Alighieri faz a síntese da alma
medieval com o espírito novo; Giovanni Boccaccio, no Decamerão, faz impiedosa radiografia da sociedade de seu tempo.
Outros nomes importantes nessa fase de transição: os poetas franceses Guilherme de Orleãs, de delicado lirismo, e François
Villon, cujo Grande testamento é um amargo testemunho sobre a condição humana nessa época; e Geoffrey Chaucer, cujos
Contos de Canterbury, em versos, sintetizam os costumes e a cultura ingleses do século XV.
Dante Alighieri (1265-1321) nasce em Florença e por questões políticas é obrigado a se exilar, morrendo em Ravena. Em
Sobre a língua do povo, escrita em latim para os eruditos da época, Dante defende o uso do italiano nas obras poéticas. E é
nessa língua que ele escreve a Divina Comédia, considerada a primeira obra da literatura italiana. Esse relato, de uma
viagem imaginária pelo inferno, purgatório e paraíso, é uma alegoria do percurso do homem em busca de si mesmo.
Giovanni Boccaccio (1313-1375) é filho de um mercador da região da Toscana, Itália. Seu pai o faz estudar em Nápoles e
Florença. Boccaccio lê os clássicos latinos e escreve poesias. Decamerão, escrito em prosa, traz cem histórias curtas contadas
por três moças e sete rapazes que se refugiam no campo para fugir da peste negra. Nas histórias se chocam os valores
cristãos e o espírito libertino, sinais da transição para o renascimento.

Renascimento

Renascimento é um termo usado para indicar o período da história do mundo ocidental aproximadamente entre fins do
século XIII e meados do século XVII (com significativa variação nas datas conforme a região
enfocada e o autor consultado). As transformações foram evidentes na cultura, sociedade,
economia, política e religião, caracterizando a transição do feudalismo para o capitalismo e
significando uma ruptura com as estruturas medievais.
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É importante ressaltar que dada a invasão dos povos bárbaros e a desagregação do império romano, foram os mosteiros, as
abadias, a Igreja Católica enfim, que recolheram os manuscritos, os multiplicaram por cópias, os comentaram mas quase
sempre com o objetivo religioso e moral. As obras de Aristóteles, de Platão, de Cícero, de Vergílio e Horácio bem como de
Sêneca foram profundamente estudadas e aproveitadas segundo as intenções filosófico-teológicas da época.
Se na esfera da filosofia e da teologia os gregos eram mais conhecidos e dos latinos Cícero e Vergílio fossem os mais
acatados, na esfera dos literatos predominava, ao lado de Vergílio, o lírico Ovídio, cuja influência se fez sentir, não só na
Idade Média, mas também no Renascimento. Não é, portanto, historicamente justo, afirmar-se que só no final do século XV
e em todo o século XVI, novamente "se descobriu o mundo greco-latino", havendo então verdadeiro renascer dos estudos
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clássicos. Passou muito tempo para que as obras greco-latinas não fossem estudadas com tanto ardor e imitadas na Idade
Média, o espírito de combate ao paganismo que os primeiros séculos do Cristianismo procurou criar, preservando a pureza
dos ensinamentos de Cristo em face das doutrinas pagãs contidas em tais obras. Isto, porém, não quer dizer que, em
determinados círculos culturais, não fossem os autores clássicos lidos e estudados.
O gosto das letras gregas e mais acentuadamente das latinas, despertou, primeiramente, na Itália, e depois em quase toda a
Europa, um sem-número de homens dedicados ao exame dos manuscritos clássicos, sobretudo, depois da invenção da
imprensa que podia multiplicar as cópias, tornando-as de mais fácil aquisição e consulta. Estudaram, de modo especial, a
língua, a métrica, o teatro. Eram os humanistas. Da Itália irradiou-se o movimento sob o nome de Renascimento porque, de
fato, os ensinamentos de Cícero, de Quintiliano, a famosa Arte Poética de Horácio, passaram a reger os escritos, em prosa e
verso, elevando-se o latim como o supremo modelo das línguas que iam se formando literariamente. Depois de Roma,
Florença, Nápoles, outros centros se tornaram famosos como Lovaina e Basiléia. Não só os estrangeiros se dirigiam a estas
cidades para a erudição clássica, mas também os humanistas lá radicados saíam contratados para Universidades e Cortes de
outros países.
Os humanistas consideravam a Idade Média um período de "Trevas Culturais", por terem sido esquecidos os modelos da
cultura greco-latina. O pensamento medieval, dominado pela religião, cede lugar a uma cultura voltada para os valores do
indivíduo: a desigualdade proporcional era um bem e não uma injustiça, pois era baseada não no amor próprio, mas na
humildade de reconhecer as carências individuais de cada um e a superioridade de outros. De maneira que a regra é a
admiração às superioridades de cada um (pois cada pessoa representa em si algo da perfeição de Deus, e representa esta
perfeição melhor do que qualquer outra). Em se admirando, algo daquilo a que se admira passa para quem admira, e assim
sucessivamente, existe uma constante progressão social para o mais alto, para o mais belo, para o mais perfeito. A função da
elite é, pois, a de elevar constantemente a sociedade e não, como querem os socialistas, oprimir e destruir.
Com o advento do Renascimento, esta "atitude de alma" admirativa, gradativamente, vai se transformando em inveja; e do
ideal de desigualdades harmônicas, passa-se a uma busca constante de igualdade e liberdade. Igualdade fruto do orgulho
que não aceita superioridade. Liberdade que não aceita a imposição de regras sociais e morais, que, segundo os
revolucionários, aprisionariam o homem . Da união destes dois princípios revolucionários, somos todos iguais e livres, surge
a fraternidade ecumênica e niveladora, onde a verdade é subjetiva e a moral apenas social (pelo menos até o advento das
chamadas sociedades alternativas, que praticamente preceituam a inexistência da moral).
A partir do século XIV, começam a surgir fissuras no grandioso edifício da Idade Média: uma gradual e profunda mudança de
mentalidade começa a se operar na Cristandade.
Essa mudança não ocorreu - principalmente, pelo menos - de forma explícita ainda no Renascimento, a transformação foi
muito mais tendencial do que ideológica.
Movimento cujo berço foi a Itália, o renascimento teve em Florença e Roma seus dois centros mais importantes. E pode ser
dividido em Duocento (1200 a 1299), Trecento (1300 a 1399), Quattrocento (1400 a 1499) e Cinquecento (1500 a 1599).
Os artistas, inspirando-se uma vez mais no legado clássico grego, buscam as dimensões ideais da figura humana e a
representação fiel da realidade. Embora grandes admiradores da cultura clássica, os artistas e intelectuais do Renascimento,
adquirindo maior confiança na sua própria capacidade, não se limitaram a imitar os modelos antigos passaram a buscar
inspiração na natureza que os cercava.
Duocento e Trecento – No século XIII, o gótico começa a dar lugar para uma arte que resgata a escala humana. São as
primeiras manifestações do que, mais tarde, se chamaria Renascimento. A principal característica dessa mudança é o
surgimento da ilusão de profundidade nas obras. Em Siena, Duccio da Buoninsegna e, em Florença, Cimabue e sobretudo
seu aluno Giotto são os pioneiros desse novo mundo. Nos afrescos de Giotto, na igreja de Santa Croce, em Florença, por
exemplo, pode-se ver figuras mais sólidas do que as góticas, situadas em ambientes arquitetonicamente precisos, dando
impressão de existência concreta: é o nascimento do naturalismo. No século XIV, escultores como Donatello (o
"Michelangelo" do Trecento) aprimoram a técnica.
Giotto da Bondone (1266?-1337?), pintor e arquiteto italiano. Nasce em Florença, estuda com o pintor Cimabue, com quem
trabalha também em Roma, e se torna um dos principais artistas de sua época. Os afrescos de Santa Croce e a torre do
Duomo são suas principais obras em sua cidade natal. Revoluciona a arte ao conseguir dar expressão e profundidade às
figuras humanas.
Quattrocento – No século XV, Piero della Francesca (afrescos na catedral de Arezzo) desenvolve uma pintura impessoal e
solene, misturando figuras geométricas e cores intensas. O arquiteto e escultor Filippo Brunelleschi, criador da cúpula do
Duomo de Florença, concebe a perspectiva, artifício geométrico que cria a ilusão de tridimensionalidade numa superfície
plana. Defende a técnica e seus princípios matemáticos em tratados. A ela aderem artistas como Paolo Uccello (Batalha de
São Romano), Sandro Botticelli (Nascimento de Vênus), Leonardo da Vinci (Mona Lisa), Michelangelo (Davi, Moisés e Pietá;
teto e parede da Capela Sistina, no Vaticano; cúpula da Basílica de São Pedro). Michelangelo chega a um grau de sofisticação
representativa que prenuncia o barroco em suas figuras. Na Bélgica e Holanda, nesse período, surgem os representantes do
renascimento flamengo como Jan van Eyck, Hans Memling e Rogier van der Weyden, que desenvolvem a pintura a óleo.
Rafael Sanzio (1483 - 1520), que se destacou por suas Madonas, série de quadros da Santíssima Virgem, diversos painéis nas
paredes do Vaticano e várias cenas da História Sagrada, conhecidas com Bíblias de Rafael.
Donatello (1386?-1466), escultor italiano. Donatto di Bardi nasce em Florença, começa como ourives e aos 17 anos aprende
a esculpir em mármore. Inicia-se, como assistente, nas portas do batistério de Florença e realiza uma obra imensa.
Esculturas como Davi, Madalena e São Jorge estão entre as mais marcantes, por seu poder de produzir tensão emocional.
Leonardo da Vinci (1452-1519), artista, arquiteto, inventor e escritor italiano. Nasce em Florença, se torna aprendiz de
Andrea Verrocchio e recebe a proteção de Lorenzo de Medici. Entre 1482 e 1499 vive em Milão, onde pinta o afresco da
Última ceia. Em Florença, entre 1503 e 1506, pinta a Mona Lisa. Vive em Roma, entre 1513 e 1517, onde se envolve em
intrigas do Vaticano, e decide ir se juntar à corte do rei francês Francisco I. Nos estudos científicos, prenuncia a invenção de
peças modernas como o escafandro, o helicóptero e o pára-quedas. Seu Tratado sobre a pintura é um dos livros mais
influentes da história da arte. O maior representante do Renascimento, Da Vinci inaugura o antropomorfismo em sua arte e
pensamento: "O homem é a medida de todas as coisas".
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Michelangelo Buonarroti (1475-1564) escultor, pintor, poeta e arquiteto italiano. Nasce em Caprese, estuda em Florença e
ganha a proteção de Lorenzo Medici. Em Roma, aos 23 anos, inicia a Pietá. De volta a Florença, esculpe Davi e pinta A
Sagrada Família. Em 1508 começa a pintar sozinho os afrescos do teto da Capela Sistina, trabalho que dura quatro anos. Em
1538 pinta a parede do Juízo Final, na mesma capela. Oito anos depois, projeta a cúpula da Basílica de São Pedro. Ao mesmo
tempo, retoma a Pietá e esculpe também a Pietá Palestrina e a Pietá Rondanini.
Cinquecento – Em Veneza, no século XVI, com pintores como Tintoretto, com sua grandiosidade, Ticiano, com seu uso de
cores, Veronèse, com seu senso espacial, e Giorgione, com sua expressividade, começa a última fase do Renascimento.
Abandonam a primazia da forma sobre a cor e a perspectiva rigorosa. Na Espanha, influenciado por Tintoretto, El Greco
(pseudônimo de Domenico Theotokopoulos) alonga as figuras, usa cores mais expressivas e contrastes dramáticos de luz e
sombra (O enterro do conde de Orgaz). Na França, além do maneirismo (o naturalismo levado ao máximo de detalhes e
efeitos) da Escola de Fontainebleau, destacam-se os retratos alegóricos de François Clouet (Diana). Na Holanda, Pieter
Bruegel cria uma rica pintura narrativa, documentando costumes de época (Caçadores na neve), e Hieronymus Bosch pinta
figuras oníricas, em cenários fantásticos, repletos de simbolismo (O jardim das delícias terrenas). Na Alemanha, surge uma
pintura mais clássica, próxima do renascimento romano-florentino. O grande mestre é Albrecht Dürer, que influencia Lucas
Cranach, Albrecht Altdorfer, Matthias Grünewald e os dois Hans Holbein, pai e filho.
Jacopo Robusti Tintoretto (1518-1594), pintor italiano. Nasce em Veneza. Pouco se sabe de sua vida. Em 1564, pinta cenas
do Velho Testamento no teto da irmandade de San Rocco, da qual é membro. Influenciado por Michelangelo e Ticiano,
experimenta composições grandiosas e efeitos de luz que influenciam a arte posterior. Revoluciona a forma narrativa,
modificando a hierarquia clássica das histórias religiosas.
Renascimento = época histórica

A Revolução Tendencial

O foco inicial do Renascimento foi a Itália, que já dispunha de prósperas cidades mercantis e para onde chegou a principal
leva de intelectuais bizantinos, entre outros fatores – maior contato com outras culturas e civilizações por “projetar-se” no
Mar Mediterrâneo e ser na prática o berço da civilização greco-romana.
Os costumes mudam, isto é, a maneira de viver, mas também as de pensar e de crer. Em princípio, na Idade Média, a
autoridade da Igreja se exerce em todos os domínios. Ela é a primeira classe da sociedade, ou melhor, é a própria sociedade,
representada e conduzida por seus sacerdotes. Ela ignora as fronteiras. Utiliza uma língua internacional, o latim evoluído da
Idade Média.
No século XIV começa a observar-se na Europa cristã, uma transformação de mentalidade que ao longo do século XV cresce
cada vez mais em nitidez. Este novo estado de alma continha um desejo possante, se bem que mais ou menos inconfessado,
de uma ordem de coisas fundamentalmente diversa da que chegara a seu apogeu nos séculos XII e XIII.
Cada vez mais se descobrem no século XIV sinais do espírito novo. É-se sensível aos contrastes de uma vasta cultura sem
ordem nem regras, muito diferente neste ponto da unidade cristã, tal como a tinha sonhado a Idade Média.
Discernem-se aí, na literatura, na filosofia, nas artes, etc., uma corrente racionalista e crítica e uma corrente metafísica e
mística; uma corrente de ascese e de austeridade e uma corrente de indulgência e de leviandade; muita fé e muito
ceticismo.
Entretanto, a Renascença tem esta unidade: a que é assegurada por um amor extremo da independência em todas as sua
formas. A procura e o culto da riqueza; o individualismo artístico ou religioso, o nacionalismo; a curiosidade erudita; o
recurso aos textos que se libertam da glosa, do rito ou da rotina; o amor ao luxo e à carne; em suma, à vida, são
manifestações diversas deste único espírito de liberdade.

Como contraponto, a nobreza decadente – tal como o faz hoje a burguesia decadente – buscava cooptar os intelectuais e
artistas do renascimento patrocinando suas pesquisas e seus trabalhos com vistas a manter o statu quo ante, ou seja, o
Absolutismo Monárquico. Esta tensão durará até o período do Iluminismo que finalmente depõe a Nobreza e o Clero,
entronizando a burguesia endinheirada – se já detinham o poder econômico e contestavam os dogmas religiosos, o que lhes
podia impedir de deter o poder político?
A burguesia, enriquecida com o comércio, estava ainda presa a um Modo de Produção contraditório em tudo e por tudo a
seus interesses. Estava presa a valores da Igreja e da Nobreza medievais; para contestá-los e difundir seus valores,
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mercadores e banqueiros, burgueses em geral, promoveram um estilo de Artes, Letras, Religião e Ciências mais de acordo
com suas concepções racionalistas, antropocêntricas e valorizadoras do acúmulo de riquezas a qualquer custo.
Não se deve, contudo, separar ou valorizar apenas alguns destes fatores. Devem ser considerados como um todo! O aspecto
econômico, em última instância, é fator determinante – aqui se enfatizam os interesses mercantis da burguesia em
ascenção.
Quatro séculos depois do inicio do trovadorismo, surge em Portugal o classicismo, também chamado de Quinhentismo por
ter se manifestado no século XVI, em 1527 (pela data), quando o poeta Sá de Miranda retorna da Itália trazendo as
características desse novo estilo.
Essas tendências se acentuaram no século XV e produziram profunda metamorfose nos espíritos, conforme assinala o
renomado historiador dos Papas, Ludwig Von Pastor:
O século XV, principalmente em sua segunda metade, e o começo do XVI, foram para a Europa em geral, e particularmente
para a Itália, uma época de transição dos antigos modos de ser para outra disposição de coisas totalmente diversa.
Em todos os campos da vida operou-se uma profunda transformação, na qual se manifestaram os mais rudes contrastes, de
modo que o político e o social, a literatura e a arte, e os próprios assuntos eclesiásticos, achavam-se em estado de
fermentação que pressagiava a aurora de um novo período.
Um dos mais poderosos fatores desse período, repleto dos mais acentuados contrastes, foi o profundo e amplo estudo das
coisas antigas, que se costuma designar com o nome de Renascimento da Antigüidade clássica.
Com o Renascimento começa um lento abandono da austeridade medieval e uma alucinada procura dos prazeres, como no
caso da corte dos Valois. Bruxarias, cabalas, cortesãs que aparecem com um obscuro mundo de feitiçarias e bruxedos, a arte
começa a se paganizar e a buscar cada vez mais o culto do corpo humano, etc.
Vários tipos humanos podem ser colocados como símbolos da Renascença, entre eles citamos, por exemplo, Francisco I , o
Papa Júlio II, Cosme de Médicis, etc.
A isso se soma a decadência do clero e o aparecimento de uma série de movimentos paralelos, como os legistas no campo
político e jurídico, os trovadores nas artes, a literatura sentimental e amorosa...
No nível filosófico, diversas foram as doutrinas que eclodiram. A principal foi o Nominalismo, que tentava quebrar certos
pressupostos da escolástica, como a "união objetiva" entre o sujeito e o objeto.
Desta forma, a Renascença foi quebrando a base de sustentação da Idade Média, que era, sobretudo, hierárquica, austera e
sacral.

Formação da Mentalidade Antropocêntrica

O apetite dos prazeres terrenos se vai transformando em ânsia. As diversões se vão tornando mais freqüentes e mais
suntuosas. Os homens se preocupam sempre mais com elas.
Nos trajes, nas maneiras, na linguagem, na literatura e na arte o anelo crescente por uma vida cheia de deleites da fantasia e
dos sentidos vai produzindo progressivas manifestações de sensualidade e moleza. Tudo tende ao risonho, ao gracioso, ao
festivo.
Esta civilização, nascida na Itália, que desde o século XIII se tinha colocado à frente do progresso intelectual (cuja liderança
tinha sido exercida até então pela França), recebeu o nome de Renascimento; na realidade não foi nenhum renascimento da
Antigüidade clássica como o teriam desejado seus adeptos mais ardentes, mas tão-só a transição da sociedade para um
estado intelectual, social e político inteiramente novo. Com a transformação da Cristandade em vários estados políticos
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modernos, o Cristianismo parecia transformar-se em um estado intelectual que cifrava sua religião, não tanto na fé na
divindade, como na fé na humanidade.
Aquela civilização moderna, no seu verdadeiro fundo, não tinha afinidade com a essência do Cristianismo, nem nada a ver
com os ideais da Igreja na Idade Média.
Desta forma, a mentalidade medieval - sobretudo de austeridade, sacrifício e seriedade - começa, primeiramente no nível
tendencial, a ser transformada. Da busca incessante da glória de Deus, o ser humano passa a procurar a sua glória; do
sacrifício, começa-se, paulatinamente, a buscar-se o gozo; da seriedade medieval, chega-se ao riso renascentista, etc. Toda a
civilização é transformada em seus costumes.
Surgem, no contexto das novas tendências, diversas teorias. Cada uma, a seu modo, começa a demolir os pressupostos
transcendentes e naturais da Idade Média. A vida não mais foi feita para o heroísmo e para a santidade, mas para o prazer. A
felicidade não está em servir a Deus e ao seu rei, mas no prazer e nos divertimentos da vida.
O entusiasmo pela religião esfria, a admiração cede lugar às questões pessoais, a Cruz perde o seu significado. Enfim, o
homem Renascentista não entende mais a transcendência que a Idade Média conferia à vida.

A arte, antes tendo como objeto a sacralidade, passa a retratar o cotidiano da vida humana. Antes, [na Idade Média],
conhecer significava apreender a essência das coisas, chegar até elas como se chega ao pensamento divino. Agora [na Idade
Moderna], porém, o conhecimento liga-se intimamente à produção: a procura das leis da natureza é feita em função do seu
aproveitamento para satisfazer às necessidades do homem. Procura-se conhecer a movimentação das águas e os ventos
para se construir navios; investiga-se a lei do movimento dos corpos para a produção de máquinas de trabalho e de guerra.
A ciência liga-se definitivamente à técnica, passando da mera contemplação da essência das coisas para a intervenção direta
na natureza.
O Cristianismo sempre professara a criação do homem à imagem e semelhança de Deus; mas, a partir do Renascimento, a
ênfase é dada muito mais à imagem do que ao próprio original. Esse processo foi denominado Humanismo. Nos primeiros
tempos, os humanistas eram eruditos que transferiram os métodos de interpretação da Bíblia para os textos greco-latinos,
mantendo a mesma posição servil diante da palavra escrita. Logo, porém, percebem a insistência com que os gregos
representavam sues deuses sob formas humanas, o valor que conferiam aos acontecimentos da vida eterna e a atitude
racionalista com a qual tratavam esses episódios; encontram, assim, os padrões nos quais puderam projetar seus próprios
ideais de racionalidade e de solidariedade humana. É com esse espírito que o artista do Renascimento procura, na
Antigüidade, os temas para a literatura e as formas para a escultura e a pintura .
Retratando mais os valores da vida humana - naturalmente falando - do que os da sacralidade medieval - sobrenatural em
sua essência, os humanistas quebraram os costumes medievais. Mas não quebraram apenas os costumes, houve uma
verdadeira Revolução em todos os campos da sociedade. O homem renascentista não podia mais entender a civilização
medieval, não podia mais compreender a finalidade medieval da vida.
As grandes navegações fazem com que o homem do inicio do século XVI se sinta orgulhoso e confiante em sua capacidade
criativa e em sua força: desafiar os mares, percorrer os oceanos, descobrir novos mundos, produzir saberes, desenvolver as
ciências e transformá-las em tecnologia, tudo isso resulta no surgimento de um Homem muito diferente daquele existente
na idade media e esse homem volta a ser o centro da sua própria vida.
O tema predominante nas obras artísticas e literárias do renascimento é sempre o homem e tudo que diz respeito a ele.
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Arquitetura Renascentista
Caracterizou-se pelos grandes monumentos e pelas construções de grande porte, destacando-se a Catedral de São Pedro,
em Roma, obra magestral do arquiteto italiano Bramante (1444 – 1514), da qual também participaram o pintor Rafael e o
arquiteto Michelangelo, autor da grandiosa Cúpula dessa Igreja.

A escultura Renascentista
Teve em Michelangelo sua maior expressão. Dentre suas óbras destacam-se: David, Moisés e Pietá. Neste campo também
sobressaíram Donatello (1386 – 1466), autor da primeira estátua eqüestre de caráter monumental; Guiberti (1378 – 1455),
que lavrou as portas de bronze do batistério de Florença; e Gian Lorenzo Bermini (1598 – 1680).

O renascimento Científico
O Renascimento trouxe à ciência um notável desenvolvimento, sobretudo com a introdução dos métodos experimentais de
pesquisa, em oposição aos estudos teóricos da Idade Média.
Nessa época, a teoria geocêntrica , sistematizada por Cláudio Ptolomeu , segundo a qual a Terra era considerada o centro do
Universo, foi refutada por Nicolau Copérnico (1473 – 1543). Este astrônomo polonês provou ser o Sol, e não a Terra, o centro
do sistema planetário, estabelecendo a teoria heliocêntrica.
Pouco mais tarde, outro astrônomo, o alemão Johann Kepler (1571 – 1630), aperfeiçoou a teoria de Copérnico, ao
descobrir ,graças a minuciosos cálculos, que os planetas descreviam órbitas elípticas em torno do Sol, em não circulares,
como afirmava o polonês.
O italiano Galileu Galilei (1564 – 1642), foi quem introduziu e difundiu a luneta na Itália. Galileu descobriu os satélites de
Júpiter e os anéis de Saturno.
Na medicina também houve grandes progressos. O médico espanhol Miguel de Servet descobriu a pequena circulação entre
o coração e os pulmões; o francês Ambroise Paré (1517 – 1590) combateu o uso do fogo e do azeite quente no tratamento
das feridas ocasionadas por armas de fogo; e o alemão Paracelso estudou a aplicação de drogas medicinais
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Gil Vicente
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Auto da Barca do Inferno

Inferno.quadro português
anônimo de 1520
Antes de mais nada, "auto" é uma designação genérica para peça, pequena
representação teatral. Originário na Idade Média, tinha de início caráter religioso; depois
tornou-se popular, para distração do povo. Foi Gil Vicente (1465-c. 1537) que introduziu
esse tipo de teatro em Portugal.

Escrita em 1517, durante a transição entre Idade Média e Renascimento, o Auto da


Barca do Inferno, é uma das obras mais representativas do teatro vicentino. Como em
tantas outras peças, nesta o autor aproveita a temática religiosa como pretexto para a
crítica de costumes.

É uma das peças mais famosas do dramaturgo. Segundo a edição original, foi composto
para contemplação da sereníssima e muito católica rainha Lianor, nossa senhora, e representado por seu mandado ao
poderoso príncipe e mui alto rei Manuel, primeiro de Portugal deste nome.

Gil Vicente, ao apresentar seu Auto da Barca do Inferno, utiliza a expressão "auto de moralidade", com a qual os
historiadores da literatura designam algumas produções do final da Idade Média em que os personagens (alegóricos)
personificam exclusiva ou predominantemente idéias abstratas dispostas entre o Bem e o Mal. Pouco tempo antes, a palavra
francesa moralité era empregada para designar obras poéticas de caráter didático-moral, tal como, a nosso ver, o termo
deve ser entendido na obra.

Em seguida, o escritor julga necessário declarar o argumento utilizado para compor a trama. As almas, após se libertarem de
seus corpos terrestres, dirigem-se a um braço de mar onde dois barcos as esperam: um deles, conduzido por um Anjo,
levará as almas ao Paraíso e outro, tripulado pelo Diabo e seu Companheiro, dirige-se ao Inferno. E de se supor que o porto
em que estão as barcas seja o Purgatório.

Primeira das três "barcas" escritas por Gil Vicente, a do Inferno tem como personagens almas de representantes das
variadas classes sociais e de algumas atividades diversas, além de quatro cavaleiros cruzados. Cada personagem é julgada e
condenada ao seu destino, embarcando em companhia do Diabo ou do Anjo.
O "Auto da Barca do Inferno" representa o juízo final católico de forma satírica e com forte apelo moral. O cenário é uma
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espécie de porto, onde se encontram duas barcas: uma com destino ao inferno, comandada pelo diabo, e a outra, com
destino ao paraíso, comandada por um anjo. Ambos os comandantes aguardam os mortos, que são as almas que seguirão
ao paraíso ou ao inferno.

Foi escrita em versos rimados, fundindo poesia e teatro, fazendo com que o texto, cheio de ironia, trocadilhos, metáforas e
ritmo, fluísse naturalmente. Faz parte da trilogia dos Autos da Barca (do Inferno, do Purgatório, do Céu).

Temática
Sátira social - Esta obra tem dado margem a leituras muito resumidas, que grosseiramente nela só vêem uma farsa. Mas se
Gil Vicente fez a análise impiedosa das "doenças" que corroíam a sociedade em que viveu, não foi para ficar por aí, como
nas farsas, mas para propor um caminho decidido de transformação.

Esta obra é normalmente classificada como "auto de moralidade", mas muitas vezes aproximando-se da farsa. Esta obra
retrata um pouco do que era a sociedade portuguesa do século XVI, e apesar de este auto se designar como o Auto da Barca
do Inferno, este é mais o auto do julgamento das almas. Talvez tenha este nome pois quase todas as personagens têm como
destino a Barca do Inferno.

Na peça, é clara a intenção do autor em expor de forma satírica e despojada dos grandes vícios humanos. A forma
encontrada para isso reside nos personagens, ou melhor, nas almas que se apresentam no porto em busca do transporte
para o outro lado, dentro da visão católica e platônica de céu e inferno.

Ela proporciona uma amostra do que era a sociedade lisboeta das décadas iniciais do século XVI, embora alguns dos
assuntos discorridos sejam pertinentes à atualidade.

Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, é um auto onde o barqueiro do inferno e o do céu esperam à margem os
condenados e os agraciados. Os que morrem chegam e são acusados pelo Diabo e pelo Anjo, mas apenas o Anjo absolve.

Estilo
Obra escrita em versos heptassílabos, em tom coloquial e com intenção marcadamente doutrinária, fundindo em algumas
passagens o português, o latim e o espanhol. Cada personagem apresenta, através da fala, traços que denunciam sua
condição social.

Estrutura
Como já citado, a peça se caracteriza como um auto, designação genérica para peças cuja finalidade é tanto divertir quanto
instruir; seus temas, podendo ser religiosos ou profanos, sérios ou cômicos, devem, no entanto, guardar um profundo
sentimento moralizador. O auto não tem uma estrutura definida, não estando dividido em atos ou cenas, é uma peça teatral
em um único ato, subdividido em cenas marcadas pelos diálogos que o Anjo ou o Diabo travam com os personagens.

Cenário
Um ancoradouro, no qual estão atracadas duas barcas. Todos os mortos, necessariamente, têm de passar por esta paragem,
sendo julgados e condenados ou à barca da Glória ou à barca do Inferno.

A peça tem seu início quando as almas chegam subitamente a um rio (ou braço de mar) que, forçosamente, todos os mortos
terão de atravessar, não sem antes sofrerem um julgamento.

Ao que tudo indica, o cenário da peça era rudimentar, possivelmente um salão (quarto) e alguns poucos móveis e panos. A
mímica tem lugar de destaque, servindo de marcação e de direcionamento da ação.

Chegam os mortos
Os mortos começam a chegar. Um fidalgo é o primeiro. Ele representa a nobreza, e é condenado ao inferno por seus
pecados, tirania e luxúria. O diabo ordena ao fidalgo que embarque. Este, arrogante, julga-se merecedor do paraíso, pois
deixou muita gente rezando por ele. Recusado pelo anjo, encaminha-se, frustrado, para a barca do inferno; mas tenta
convencer o diabo a deixá-lo rever sua amada, pois esta "sente muito" sua falta. O diabo destrói seu argumento, afirmando
que ela o estava enganando.

Um agiota chega a seguir. Ele também é condenado ao inferno por ganância e avareza. Tenta convencer o anjo a ir para o
céu, mas não consegue. Também pede ao diabo que o deixe voltar para pegar a riqueza que acumulou, mas é impedido e
acaba na barca do inferno.

O terceiro indivíduo a chegar é o parvo (um tolo, ingênuo). O diabo tenta convencê-lo a entrar na barca do inferno; quando
o parvo descobre qual é o destino dela, vai falar com o anjo. Este, agraciando-o por sua humildade, permite-lhe entrar na
barca do céu.

O frade e a alcoviteira
A alma seguinte é a de um sapateiro, com todos os seus instrumentos de trabalho. Durante sua vida enganou muitas
pessoas, e tenta enganar também o diabo. Como não consegue, recorre ao anjo, que o condena como alguém que roubou
do povo.
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O frade é o quinto a chegar... com sua amante. Chega cantarolando. Sente-se ofendido quando o diabo o convida a entrar na
barca do inferno, pois, sendo representante religioso, crê que teria perdão. Foi, porém, condenado ao inferno por falso
moralismo religioso.

Brísida Vaz, feiticeira e alcoviteira, é recebida pelo diabo, que lhe diz que seu o maior bem são "seiscentos virgos postiços".
Virgo é hímen, representa a virgindade. Compreendemos que essa mulher prostituiu muitas meninas virgens, e "postiço"
nos faz acreditar que enganara seiscentos homens, dizendo que tais meninas eram virgens. Brísida Vaz tenta convencer o
anjo a levá-la na barca do céu inutilmente. Ela é condenada por prostituição e feitiçaria.

De judeus e "cristãos novos"


A seguir, é a vez do judeu, que chega acompanhado por um bode. Encaminha-se direto ao diabo, pedindo para embarcar,
mas até o diabo recusa-se a levá-lo. Ele tenta subornar o diabo, porém este, com a desculpa de não transportar bodes, o
aconselha a procurar outra barca. O judeu fala então com o anjo, porém não consegue aproximar-se dele: é impedido,
acusado de não aceitar o cristianismo. Por fim, o diabo aceita levar o judeu e seu bode, mas não dentro de sua barca, e, sim,
rebocados.

Tal trecho faz-nos pensar em preconceito antissemita do autor, porém, para entendermos por que Gil Vicente deu tal
tratamento a esse personagem, precisamos contextualizar a época em que o auto foi escrito. Durante o reinado de dom
Manuel, de 1495-1521, muitos judeus foram expulsos de Portugal, e os que ficaram, tiveram que se converter ao
cristianismo, sendo perseguidos e chamados de "cristãos novos". Ou seja, Gil Vicente segue, nesta obra, o espírito da época.

Representantes do judiciário
O corregedor e o procurador, representantes do judiciário, chegam, a seguir, trazendo livros e processos. Quando
convidados pelo diabo para embarcarem, começam a tecer suas defesas e encaminham-se ao anjo. Na barca do céu, o anjo
os impede de entrar: são condenados à barca do inferno por manipularem a justiça em benefício próprio. Ambos farão
companhia à Brísida Vaz, revelando certa familiaridade com a cafetina - o que nos faz crer em trocas de serviços entre eles e
ela...

O próximo a chegar é o enforcado, que acredita ter perdão para seus pecados, pois em vida foi julgado e enforcado. Mas
também é condenado a ir ao inferno por corrupção.

Por fim, chegam à barca quatro cavaleiros que lutaram e morreram defendendo o cristianismo. Estes são recebidos pelo
anjo e perdoados imediatamente.

O bem e o mal
Como você percebeu, todos os personagens que têm como destino o inferno possuem algumas características comuns,
chegam trazendo consigo objetos terrenos, representando seu apego à vida; por isso, tentam voltar. E os personagens a
quem se oferece o céu são cristãos e puros. Você pode perceber que o mundo aqui ironizado pelo autor é maniqueísta: o
bem e o mal, o bom e o ruim são metades de um mundo moral simplificado.

O "Auto da Barca do Inferno" faz parte de uma trilogia (Autos da Barca "da Glória", "do Inferno" e "do Purgatório"). Escrito
em versos de sete sílabas poéticas, possui apenas um ato, dividido em várias cenas. A linguagem entre os personagens é
coloquial - e é através das falas que podemos classificar a condição social de cada um dos personagens.

Valores de duas épocas


Escrita na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, a obra oscila entre os valores morais de duas épocas: ao mesmo
tempo que há uma severa crítica à sociedade, típica da Idade Moderna, a obra também está religiosamente voltada para a
figura de Deus, o que é uma característica medieval.

A sátira social é implacável e coloca em prática um lema, que é "rindo, corrigem-se os defeitos da sociedade". A obra tem,
portanto, valor educativo muito forte. A sátira vicentina serve para nos mostrar, tocando nas feridas sociais de seu tempo,
que havia um mundo melhor, em que todos eram melhores. Mas é um mundo perdido, infelizmente. Ou seja, a mensagem
final, por trás dos risos, é um tanto pessimista.
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Fontes:
http://vestibular.uol.com.br
http://www.passeiweb.com

EXERCÍCIOS

01. (FUVEST) Aponte a alternativa correta em relação a Gil Vicente:

a) Compôs peças de caráter sacro e satírico.


b) Introduziu a lírica trovadoresca em Portugal.
c) Escreveu a novela Amadis de Gaula.
d) Só escreveu peças em português.
e) Representa o melhor do teatro clássico português.

02. (FUVEST-SP) Caracteriza o teatro de Gil Vicente:

a) A revolta contra o cristianismo.


b) A obra escrita em prosa.
c) A elaboração requintada dos quadros e cenários apresentados.
d) A preocupação com o homem e com a religião.
e) A busca de conceitos universais.

03. (FUVEST-SP) Indique a afirmação correta sobre o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente:

a) É intricada a estruturação de suas cenas, que surpreendem o público com a inesperado de cada situação.
b) O moralismo vicentino localiza os vícios, não nas instituições, mas nos indivíduos que as fazem viciosas.
c) É complexa a critica aos costumes da época, já que o autor primeiro a relativizar a distinção entre Bem e o Mal.
d) A ênfase desta sátira recai sobre as personagens populares mais ridicularizadas e as mais severamente punidas.
e) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada, não fazendo referência a qualquer exemplo de valor positivo.

04. (FUVEST-SP) Diabo, Companheiro do Diabo, Anjo, Fidalgo, Onzeneiro, Parvo, Sapateiro, Frade, Florença, Brísida Vaz,
Judeu, Corregedor, Procurador, Enforcado e Quatro Cavaleiros são personagens do Auto da Barca do Inferno, de Gil
Vicente.
Analise as informações abaixo e selecione a alternativa incorreta cujas características não descrevam adequadamente a
personagem.

a) O Onzeneiro idolatra o dinheiro, é agiota e usurário; de tudo que juntara, nada leva para a morte, ou melhor, leva a bolsa
vazia.
b) O Frade representa o clero decadente e é subjugado por suas fraquezas: mulher e esporte; leva a amante e as armas de
esgrima.
c) O Diabo, capitão da barca do inferno, é quem apressa o embarque dos condenados; é dissimulado e irônico.
d) O Anjo, capitão da barca do céu, é quem elogia a morte pela fé; é austero e inflexível.
e) O Corregedor representa a justiça e luta pela aplicação integra e exata das leis; leva papéis e processos.

05. Leia com atenção o fragmento do Auto da Barco do Inferno, de Gil Vicente:

Parvo - - Hou, homens dos breviários,


Rapinastis coelhorum
Et pernis perdigotorum
E mijais nos campanários.

Não é correto afirmar sobre o texto:

a) As falas do Parvo, como esta, sempre são repletas de gracejos e de palavrões, com intenção satírica.
b) Nesta fala, o Parvo está denunciando a corrupção do Juiz e do Procurador.
c) O latim que aparece na passagem é exemplo de imitação paródia dessa língua.
d) Por meio de seu latim, o Parvo afasta-se de seu simplicidade, mostrando-se conhecedor de outra línguas.
e) Ao misturar um falso latim com palavrões, Gil Vicente demonstra a natureza popular de seu teatro e de seus canais de
expressão.

AUTO DA BARCA DO INFERNO


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Marque nas afirmações verdadeiras. Em cada item pode haver mais do que uma resposta verdadeira.

1. O Auto da Barca do Inferno é uma alegoria porque:

Tem uma personagem que é um anjo

As suas personagens representam tipos sociais

Usa uma linguagem adequada a cada personagem

Dá forma humana a seres espirituais e materializa ideias abstractas

2. O Anjo e o Diabo representam respectivamente:

O bem e o mal

Uma força positiva e uma força negativa

A salvação e a perdição

O paraíso e a terra

3. As personagens (excepto o Anjo e o Diabo) são tipos sociais porque:

São definidas só por alguns traços psicológicos

São definidas pelos traços característicos de grupos sociais

São definidas por traços físicos e psicológicos

4. As personagens (excepto o Anjo e o Diabo):

Vão todas para o mesmo barco excepto o Parvo e os Cavaleiros

Vão metade para um barco e a outra metade para o outro

Vão todas para o mesmo barco excepto o Parvo, os Cavaleiros e o Judeu

5. As personagens chegam ao cais com símbolos porque:

Cometeram erros graves;


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São os objectos de que gostavam mais;

Foram obrigados a trazê-los;

6. O Auto da Barca do Inferno é uma moralidade porque:

Critica a sociedade;

Serve apenas para divertimento;

Moraliza de forma cómica;

Apresenta personagens reais.

7. O Fidalgo é condenado:

Pela sua vaidade e despotismo;

Pela sua generosidade;

Pela sua riqueza;

Pelo seu orgulho e avareza.

8. O Fidalgo defende-se dizendo:

Ter gente que reza por ele;

Ser adorado por todos;

Ser uma pessoa muito importante.

9. O objecto que simboliza o Onzeneiro é:

Um bolsão para arrecadar o dinheiro;

Um bolsão com os seus pertences;

Um bolsão vazio.
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10. O Onzeneiro é condenado:

Pelo amor que tem ao dinheiro;

Porque não traz consigo dinheiro para pagar ao barqueiro;

Porque se dedicou à usura.

11. O Onzeneiro defende-se dizendo

Que o saco está vazio;

Que foi perseguido em vida;

Que o Diabo lhe vai bater por vir


sem dinheiro.

12. O Parvo caracteriza-se:

Pela sua linguagem;

Pelo seu traje;

Pela sua falta de educação.

13. O Parvo vai na barca do Anjo porque:

Praticou o bem;

Rezou muito;

Nunca agiu com maldade.

14. A função do Parvo é:

Apenas cómica e lúdica;

Apenas crítica;

Cómica e crítica.
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15. O Sapateiro traz consigo:

As formas dos sapatos e as ferramentas;

As formas dos sapatos;

Um saco cheio de sapatos.

16. O Sapateiro é acusado:

De roubar no material;

De roubar o povo através da sua profissão;

De roubar os ricos.

17. O Sapateiro defende-se dizendo:

Que confessou todos os pecados antes de morrer;

Que cumpriu todos os deveres religiosos;

Que se arrependeu antes de morrer.

18. O Frade é acusado:

De ser muito namoradeiro;

De ser mundano;

De não se preocupar com os outros.

19. O Frade defende-se dizendo:

Que rezou muitos salmos;

Que veste um hábito;


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Que sabe jogar esgrima;

Que faz belos sermões.

20. A Alcoviteira é condenada:

Por se dedicar à prostituição;

Por só se preocupar com coisas mundanas;

Por ser ladra e mentirosa.

21. A Alcoviteira defende-se dizendo:

Que foi em vida muito perseguida e castigada;

Que trabalhava muito;

Que todas as meninas gostavam dela;

Que criara as meninas para os


cónegos da Sé.

22. O Judeu é acusado:

De desrespeitar os preceitos cristãos;

De vir carregado com um bode;

De ser mentiroso.

23. O Judeu:

Oferece dinheiro ao Diabo para ele o levar;

Entra na barca do Diabo;


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Insulta o Diabo;

Oferece dinheiro ao Diabo para ele levar o bode;

Vai à toa.

24. O Corregedor e o Procurador aparecem em cenas carregados:

Com os processos judiciais e com livros, respectivamente;

Com os bens com que foram subornados;

Com dinheiro e perdizes.

25. O Corregedor e o Procurador são acusados:

De serem corruptos e desonestos;

De não se prepararem para exercer correctamente a sua profissão;

De receberem subornos até de judeus.

26. O Corregedor defende-se dizendo:

Que a mulher é que era culpada;

Que era pessoa importante;

Que sempre foi justo e imparcial.

27. O Procurador defende-se dizendo:

Que era bacharel;


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Que não pensava que ia morrer;

Que não era responsável.

28. O Enforcado é condenado porque:

Não se arrependeu;

Foi enganado por Garcia Moniz;

Um enforcado pela justiça não tem salvação.

29. Os quatro Cavaleiros são aceites na Barca do Anjo porque:

Não cometeram pecados;

Morreram a combater pela fé;

São simpáticos.

30. A mensagem deste Auto é:

As pessoas salvam-se ou perdem-se conforme as acções que praticam;

As pessoas salvam-se por rezarem muito;

As pessoas salvam-se pela sua importância social;

As pessoas salvam-se se forem sinceras no seu arrependimento.

31. A frase "Ridendo castigat mores" significa:

A rir moraliza-se a sociedade;


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A rir corrigem-se os costumes;

A rir castigam-se as pessoas.

32. O Auto da Barca tem aspectos medievais porque:

As personagens não têm personalidades bem vincadas;

Contém mitologia pagã;

Utiliza personagens tipo;

É uma peça alegórica.

33. O Auto da Barca tem características renascentistas porque:

Critica a sociedade;

Não é o homem que interessa mas Deus;

É uma peça satírica;

Só recorre a elementos cristãos.

Classicismo
O Classicismo refere-se à valorização da Antiguidade Clássica como padrão por excelência do sentido estético, que os
classicistas pretendem imitar. A arte classicista procura a pureza formal, o equilíbrio, o rigor ou - segundo a nomenclatura
proposta por Friedrich Nietzsche- pretende ser mais apolínea que dionisíaca.
O homem renascentista busca inspiração nos modelos artísticos e literários – nas obras – das antigas civilizações,
principalmente nas da Grécia antiga. Assim, as características das obras da antiguidade são trazidas de volta .
Marcada pela consolidação do capitalismo mercantilista (século XV a meados do século XVI), é muito livre em relação às
imposições morais, levando a uma atitude de epicurismo e busca de uma moral naturalista. Nasce uma atitude
antropocentrista, semelhante à da Antiguidade clássica, em oposição ao teocentrismo medieval. A natureza é o modelo
básico para o conhecimento humano.
Ao redescobrirem os valores do ser humano, abafados pela Igreja durante a Idade Média, os artistas deste período voltam-
se para a Antiguidade. religiosa, que só mantinha os aspectos que não feriam a moral cristã.
Foi da Arte Poética de Aristóteles que os artistas do Classicismo retiraram o conceito de imitação ou mímesis. Segundo
Aristóteles, a poesia devia imitar a perfeição da natureza ou da sociedade ideal, além de retomar idéias de outros poetas,
reconhecidamente importantes por sua obra. Não se trata de copiar outros autores, e sim de assemelhar-se à sua obra.
Petrarca comparava esta semelhança à que existe entre pai e filho: é inegável que se pareçam, mas o filho tem suas
características próprias, que o individualizam. O mesmo aconteceria à obra literária: seria semelhante à de Virgílio, Horácio e
outros autores da Antiguidade, usando o que eles tivessem de melhor, mas conservando seus traços próprios.
Para os clássicos, a obra de arte prende-se a uma realidade idealizada; uma concepção artística transcendente, baseada no
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Bem, no Belo, no Verdadeiro – valores passíveis de imitação. A função do artista é a de criar a realidade circundante naquilo
que ela tem de universal.
Com frequência, utilizam-se cenas mitológicas, as quais simbolizam com propriedade as emoções que o autor quer
exteriorizar. Assim, a imagem do Cupido, por exemplo, simboliza o amor.No entanto, às emoções são submetidas ao controle
da razão. A cultura clássica é uma cultura da racionalidade, já que ao abandonar o teocentrismo, o homem deste período
afasta os temores da Idade Média e passa a crer em suas potencialidades, incluindo nelas a habilidade de raciocinar.
Há, também, uma preocupação com o equilíbrio e a harmonia de seus textos- A chamada medida nova é adotada para os
poemas: versos decassílabos e uso freqüente de sonetos (anteriormente, usava-se medida velha: redondilhas).
Elitismo Os clássicos evitam a vulgaridade. Este período tende à realização de uma arte de elite, o que reflete a organização
social da época (a aristocracia era a classe dominante).
O marco inicial do Classicismo português é em 1527, quando se dá o retorno do escritor Sá de Miranda de uma viagem feita
à Itália, de onde trouxe as idéias de renovação literária e as novas formas de composição poética, como o soneto. O período
encerra em 1580, ano da morte de Luís Vaz de Camões e do domínio espanhol sobre Portugual..
A influência greco-romana está presente nos Lusíadas, de Luís de Camões; na poesia pastoral de Angelo Poliziano; nos
escritos eróticos de Pietro Aretino; e na lírica do espanhol Jorge Manrique, dos franceses Joachim du Bellay e Pierre de
Ronsard, ou dos portugueses Sá de Miranda e Cristóvão Falcão. Aumenta o interesse pela cultura, em seus termos mais
abrangentes, no Elogio da loucura, do holandês Erasmo de Roterdã; em O príncipe, de Nicolau Maquiavel, pragmático
manual da arte de governar; ou nos romances satíricos de François Rabelais, Gargantua e Pantagruel.
Luís de Camões (1525?-1580), freqüenta a nobreza e os círculos boêmios de Lisboa. Viaja muito, chegando até a Índia e a
China, quase sempre a serviço do governo português. Sua obra mais importante, Os Lusíadas (1572), funde elementos
épicos e líricos. Mescla fatos da história portuguesa às intrigas dos deuses do Olimpo, que buscam ajudar ou atrapalhar
Portugal. Sintetiza duas importantes vertentes do renascimento português: as expedições ultramarinas e o humanismo.
François Rabelais (1493-1553) viaja pelo interior da França como padre e entra em contato com dialetos, lendas e costumes
que influenciam sua obra. Em 1530, abandona o hábito e estuda medicina. A epopéia de Pantagruel e seu pai Gargantua,
gigantes de apetites imensos, critica a estagnação medieval, atacando a igreja, a cavalaria e as convenções e é considerada
obscena, na época, devido à expressão dos instintos.

A Cavalaria Medieval, Um Estudo de Caso


"A Cavalaria, outrora uma das mais altas expressões da austeridade cristã, se torna amorosa e sentimental, a literatura de
amor invade todos os países, os excessos de luxo e a conseqüente avidez de lucros se estendem por todas as classes
sociais".
O ideal religioso e temporal do homem medieval estava em larga medida consubstanciado na Cavalaria. As noções de
piedade, sacralidade, honra, combatividade a serviço do Bem, encontravam no Cavaleiro sua personificação. Ele era antes de
tudo o defensor da Fé, o gládio a serviço da Igreja contra hereges e infiéis.
O cavaleiro medieval era, sobretudo, o leal vassalo que prestava submissão ao seu senhor e por ele combatia. O lema do
brasão de um nobre espanhol, o Duque de Tebas, bem exprime esse ideal: "Meu Rei, mais do que meu sangue".
O historiador flamengo Johan Huizinga apresenta alguns traços da concepção que o homem medieval fazia da Cavalaria:
"O pensamento medieval estava na generalidade saturado das concepções da fé cristã. De igual modo, e numa esfera mais
limitada, o pensamento de todos aqueles que viviam nos círculos da corte ou dos castelos estava impregnado do ideal da
cavalaria. (...)
Esta concepção tende mesmo a invadir o domínio do transcendente. O feito de armas primordial de São Miguel Arcanjo é
glorificado por Jean Molinet como "o maior feito de cavalaria e das proezas cavalheirescas jamais realizado". Foi do arcanjo
que "a cavalaria terrestre e as proezas cavalheirescas" extraíram a sua origem, e por isso imitam as hostes angélicas em volta
do trono de Deus".
Um conhecido compêndio católico de História Universal apresenta outros aspectos da Cavalaria, em seu período de
esplendor na Idade Média:
"Essa associação guerreira, espécie de sacerdócio militar, era assim chamada porque os nobres só combatiam a cavalo.
Já aos sete anos de idade, o futuro cavaleiro deixava o castelo paterno e entrava no serviço do senhor suserano. Estudava o
manejo da lança e o da espada, tornando-se sucessivamente pequeno vassalo, pequeno senhor, pagem, escudeiro, enfim
aos vinte anos era feito cavaleiro. O senhor lhe impunha o gládio e lhe dava o abraço. Depois batia-lhe três vezes no ombro
dizendo: "Eu te faço cavaleiro em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo, de São Miguel e de São Jorge. Sê valente,
destemido e leal".
Um torneio encerrava de ordinário a cerimônia. A Cavalaria gerou uma pléiade de heróis católicos; veio a ser um como
vínculo de parentesco e de honra entre os povos do Ocidente."
Mas as novas doutrinas em voga investiram contra a Cavalaria, que não soube defender-se como nos campos de batalha. O
texto seguinte é do escritor francês Puy de Clichamps:
"O cavaleiro que deseja continuar a ser campeão dos combates singulares que compunham a guerra, terá apenas o pálido
derivativo numa coisa semelhante: os torneios. (...)
Mas, também aí, onde está o velho ideal cavalheiresco, que era servir a Deus, à Igreja e àqueles a quem a desgraça
perseguir? E, se não estiver totalmente esquecida, já não está muito na moda a velha oração, rezada no dia da investidura
de armas, sobre a espada nova:
"Que o teu servo não se sirva nunca dessa espada... para lesar impunemente alguém, mas que se sirva dela para defender a
justiça e o direito".
A Cavalaria tornou-se apenas uma palavra. (...)
A lenta pacificação dos reinos tinha dado lugar, além da formação e promoção da burguesia, ao início de uma nova força: a
mulher. (...)
À falta de poderem lançar-se ao assalto uns aos outros, os cavaleiros, entre dois torneios disputados, de resto, sob o olhar
da castelã, tentarão tudo para obter de sua dama uma fita, uma manga ou um anel. A Cavalaria submeteu-se de tal maneira
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ao poder feminino que podemos ver em canções de gesta, como "Doon de Mayence" (século XIII) ou "Gaufrey" (século XIII),
mulheres armarem cavaleiros aos seus pretendentes. (...) Assim pode ler-se no "Joudain de Blaivies" (século XIII):
‘E a jovem traz-lhe a espada/ Ela própria lha coloca à cinta. (...) Agora dá-lhe a "colée"/ ‘Sede cavaleiro, diz a dama de gentil
figura/ Que Deus te conceda honra e coragem/ e se tiverdes vontade de um beijo/ tomai esse e outros também/ Então
Jourdain diz: "Obrigado lhe digo cem vezes". / Beija-a por três vezes (...)"

A cena, que pode parecer infantil à primeira vista, é encantadora, até talvez demasiadamente encantadora e transparece
dela uma ironia apenas camuflada que ridiculariza um pouco o apaixonado cavaleiro. Hércules fiando aos pés de Onfala faz
pelo menos sorrir.
Mas podemos verificar que mais uma vez estamos bem longe da sólida virilidade da primeira Cavalaria. Esta intromissão da
mulher na velha instituição guerreira é sinal (...) de que a instituição perdeu a força - um sinal e em parte uma das causas
dessa perda de força".
Debilitado o espírito de abnegação, a Cavalaria transformou-se gradualmente numa indigna caricatura de si mesma. Os
romances que escolheram a Cavalaria como tema exprimem bem essa transformação: já não é por Deus e pelos desvalidos
que luta o cavaleiro, mas pelos belos olhos de uma dama... Abel Lefranc descreve o triste sucesso do protótipo desses
romances, o "Amadis de Gaule":
"Dentre os romances de cavalaria o que conheceu uma mais firme e duradoura aceitação, (...) foi certamente o ‘Amadis de
Gaule’.
‘Amadis’ é filho de Périon, fabuloso rei da Gália, e da bela Elisène, filha de Garinter, rei da pequena Bretanha. A dama dos
seus pensamentos é Oriana, filha do rei da Dinamarca. Para obter a sua mão, trava combates sem conta, através dos quais se
cobre de glória. Arrisca-se, diversas vezes, a perder para sempre aquela que ama, mas sua coragem e constância triunfam de
todos os obstáculos. Vencedor de tantas provas, torna-se finalmente o esposo de Oriana.
De 1540 a 1556, aparecem doze livros de ‘Amadis’, em igual número de volumes in-fólio [formato de um livro, no qual a
folha de impressão é dobrada apenas em duas e não forma por conseguinte senão quatro páginas], com numerosas e
notáveis gravuras em madeira. Todos estes belos volumes cedo foram reimpressos, alguns deles mesmo várias vezes. (...)
Enfim, de 1561 a 1615 foram publicados, (...) traduções francesas de romances espanhóis ou romances compostos em
francês imitando o ‘Amadis’.
Esta simples enumeração, que não abarca as numerosíssimas reimpressões das edições citadas, permite fazer uma idéia da
prodigiosa difusão das diversas partes do romance e das seqüências que lhe foram dadas em italiano, alemão, inglês,
holandês e até em hebraico. (...)
Desde o início, foi imenso o sucesso desta obra. A versão francesa do ‘Amadis’ penetrou em toda parte, na corte, nos meios
aristocráticos e burgueses e até nos conventos. Durante um longo período, tornou-se o código da cavalaria, o "breviário"
mundano, um verdadeiro livro de cabeceira para uma infinidade de leitores e leitoras, que ele seduziu e encantou. (...)
Mas não devemos esperar encontrar ali um modelo de virtudes, muito menos de austeridade, nem sequer uma disciplina
moral: os costumes revelam-se bastante fáceis e as personagens não opõem grande resistência ao ímpeto das paixões
amorosas. Nenhum outro romance parece ter exercido tamanha influência sobre a sensibilidade e a imaginação dos homens
da época durante quase meio século. Os contemporâneos de Francisco I e de Henrique II aprenderam nestes livros a pensar
e a sentir de uma outra maneira.
Como refere ainda Bourciez, ‘sendo embora este romance, menos o espelho em que se reflete uma geração do que o
modelo por ela seguido, nem por isso deixa de existir entre ambos certa conformidade. Neste sentido, o ‘Amadis’ é, pois, um
documento".
Pari passu com os romances de Cavalaria, outra influência deletéria corrompe os costumes: a poesia cortês dos trovadores
provençais . Semelhante literatura, túmida de sentimentalismo, abre caminho para a literatura "erótico-espiritual". Esse
processo é descrito pelo historiador flamengo Johan Huizinga:
"Quando, no século XII, o desejo insatisfeito foi colocado pelos ‘Trovadores da Provença’ no centro da concepção poética do
amor, deu-se uma virada importante na história da civilização.
A Antigüidade também tinha cantado os sofrimentos do amor, mas, nunca os tinha concebido como esperanças de
felicidade ou como frustrações lamentáveis dela. (...)
A poesia cortês, por outro lado, faz do próprio desejo o motivo essencial e cria assim uma concepção do amor com uma
nota de fundo negativo. (...) O amor tornou-se então terreno onde todas as perfeições morais e culturais floresceram.
Devido a este amor o amante cortesão é puro e virtuoso. O elemento espiritual domina cada vez mais até os fins do século
XIII, o ‘dolce stil nuovo’ de Dante e dos seus amigos termina por atribuir ao amor o dom de provocar um estado de piedade
e santa intuição. Atingiu-se um ponto extremo.
Não tarda que o sistema artificial do amor cortesão seja abandonado, e as suas sutis distinções não serão renovadas quando
o platonismo do Renascimento, já latente na concepção cortesã, der lugar a novas formas de poesia erótica com uma
tendência espiritual.
O ‘Roman de la Rose’ (...) começado antes de 1240 por Guillaume de Lourris, estava completo, antes de 1280, por Jean
Chopinel. Poucos livros têm exercido uma influência mais profunda e duradoura na vida dum período do que o ‘Roman de la
Rose’. A sua popularidade durou pelo menos dois séculos. Ele determinou a concepção aristocrática do amor dos fins da
Idade Média. Em virtude do seu alcance enciclopédico tornou-se o manancial de onde a sociedade laica tirou a melhor parte
de sua erudição. (...)
É surpreendente que a Igreja, que tão rigorosamente reprimiu os mais leves desvios do dogma em casos de caráter
especulativo, permitisse que o ensino deste breviário da aristocracia fosse disseminado impunemente."
Influenciada pelo clima geral de decadência, a Cavalaria torna-se uma instituição mundana. As proezas em defesa da Fé já
não são seu principal objetivo. Os torneios e as exibições vaidosas ocupam agora lugar preponderante. A libertação da Terra
Santa é substituída pela conquista amorosa de uma dama...
"Que seria do jovem nobre, ao receber o cavalo e a lança, sem a Cavalaria? Um soldado mais afortunado ou menos, mais
sanguinário ou menos... A Igreja soube transformar um ato puramente militar e feudal num ato religioso. Ela disse aos
Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler
bárbaros do século IX: ‘Regulai vossa coragem’. Eles a regulam e sua selvajeria pouco a pouco se tornou proeza. ‘Não há
cavaleiro sem proeza’, diz um velho provérbio. Todas as outras virtudes virão depois e se darão as mãos: lealdade,
liberalidade, moderação, cortesia e honra, que a tudo coroa; toda a cavalaria está contida nestas seis palavras. O cavaleiro
autêntico é já um eleito, mas em toda a sua vida deve merecer a felicidade futura, lutando duramente contra si mesmo e
contra os outros. Tudo pode estar perdido para ele, exceto a honra e a eternidade..."
Classicismo = movimento artístico

http://youtu.be/PtTx2gQJer8

Divisão da Escola Quinhentista


Existem dois grupos distintos e perfeitos: o grupo dos que marcaram a transição da época precedente a esta, poetas que
seguiram ainda a inspiração popular e se serviram de métricas menores, da redondilha ou como então se dizia, poetas da
medida velha: Gil Vicente, Cristóvão Falcão, Bernardim Ribeiro e outros. "Em oposição a estes os poetas clássicos, surgiram
aqueles, que seguiam as regras do renascimento italiano: assuntos mitológicos, verso decassílabo, gêneros gregos": Sá de
Miranda, António Ferreira, Camões, etc. Alguns mais geniais compartilharam as duas escolas, como por exemplo, o grande
Luís de Camões.

1 - POESIA DE INSPIRAÇÃO POPULAR


Bernardim Ribeiro
A maioria dos historiadores dá como tendo vivido entre 1482 e 1552. Supõe-se que tenha freqüentado a Universidade em
Lisboa, tendo sido colega de Sá de Miranda, cuja amizade durou sempre. Por causa de amores impossíveis, provavelmente,
despertados pela prima Joana Tavares Zagalo, teve de abandonar a corte e o país, vivendo algum tempo na Itália. Enquanto
viveu na corte, fez umas onze composições de pequeno valor literário como foi toda a produção desse momento. Na Itália,
conheceu certamente as obras de Sannazzaro de quem foi discípulo, trazendo para Portugal o bucolismo literário. Vivia
então na casa de António Pereira, em Cabeceiras de Basto. A natureza desses sítios muito inspiram em seu bucolismo,
gênero italiano desde Teócrito a Vergílio e desde Vergílio a Sannazzaro. Foi neste mesmo lugar que Bernardim começou a
sua famosa novela inacabada, Menina e Moça, ou As Saudades, outro nome pelo qual alguns, intitulam essa obra em prosa
do poeta.

Cristóvão de Sousa Falcão


Nasceu em Portalegre, no Alentejo, provavelmente, em 1518 e morreu, talvez, em 1557. Pouco se sabe de sua vida ao redor
da qual existe muita lenda, por exemplo, a de seu casamento aos 14 anos com Maria Brandão que contava apenas 12.
Quando os pais de Maria souberam do feito, colocaram a filha no convento de Lorvão de onde saiu para casar-se com Luís
da Silva Meneses. Sobre este fato o poeta escreveu a sua famosa Égloga de Crisfal. Deixou ainda uma Carta na qual narra
que esteve preso durante cinco anos.
A Égloga de Crisfal contém 900 versos, dispostos em estrofes de dez cada uma. É a "mais extensa e melhor poesia bucólica
da literatura portuguesa e talvez de todas as literaturas modernas".

2 - POESIA DE INSPIRAÇÃO ITALIANA


Sá de Miranda
Francisco de Sá de Miranda, filho de Gonçalo Mendes de Sá e Inês de Melo, nasceu em Coimbra a 28 de agosto de 1481 e
faleceu, no retiro da Tapada, em 1558. Casou-se tardiamente com Briolanja de Azevedo. Freqüentou a Universidade então
em Lisboa, formando-se em Direito. Chegou a ser desembargador do Paço, abandonando a corte por ser fechado e arredio,
foi para a Itália onde permaneceu cinco anos. A vida na Itália colocou-o dentro das correntes renascentistas do momento.
De volta a Portugal, demorou-se na Espanha onde conheceu Boscán, Garcilaso de la Vega que seguiam também as correntes
modernas da Itália. Era natural que achasse a poesia portuguesa muito atrasada, de modo especialíssimo o teatro de Gil
Vicente, de cunho popular, sem as receitas do teatro clássico predominante em outros países renascentistas. Lutou então
por introduzir em Portugal as novidades da Itália: o soneto com acentuação nas sílabas pares; as églogas, a canção de
Petrarca, os tercetos de Dante, a oitava rima de Policiano e Ariosto. Investindo contra o teatro de Gil Vicente, escreveu duas
peças: Estrangeiros ( comédia ) e Vilhalpandos ( comédia ) em prosa, cujas representações redundaram em completo
fracasso, pois, nem a corte, nem o povo estavam preparados para essa novidade, preferindo sempre as facécias de Gil
Vicente. O soneto, em suas mãos, é, duro, mal feito, como aliás, quase toda a sua obra poética. Além de ter sido autor de
poucas obras, escrevendo 33 sonetos, 20 em português e 13 em castelhano; 9 églogas, 8 cartas, 3 elegias, nunca teve ouvido
educado. Sá de Miranda é um poeta que se lê com pouca satisfação.
Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler
Diogo Bernardes
Nasceu em Ponte da Barca, em 1530, falecendo em 1595. Pertence ao círculo literário de Sá de Miranda, cuja amizade
cultivou. Foi indicado para acompanhar Dom Sebastião à África: faria um poema sobre o assunto, mas o revés de Alcácer-
Quebir frustou-lhe os planos, levando-o a prisão de Marrocos. Resgatado, voltou a Portugal, estava bem informado do
movimento literário renascentista da Itália, fazendo poesias à maneira de Petrarca, e seus sonetos, à maneira de Dante, em
tercetos. Deixou-nos Elegias, Sonetos, Odes, Églogas que reuniu em Rimas Várias, Flores do Lima. Pertence ao ciclo
renascentista português de que Camões foi o maior expoente. Há tanta semelhança entre os sonetos de Bernardes com os
de Camões, que vários autores confunde-os. Eis um exemplo de sua poesia:
"À borda de um ribeiro que corria
Por meio de um florido e verde prado,
O triste pastor Délio, debruçado
Sobre um tronco de freixo, assim dizia:
Ah! Marília cruel! Quem te desvia
Esse cuidado teu do meu cuidado ?
Quem fez um coração desenganado
Amar coisa que tanto aborrecia ?
Que foi de aquela fé que tu me deste ?
Que foi de aquele amor que me mostraste ?
Como se mudou tudo tão asinha ?
Quando tua afeição noutro puseste,
Como te não lembrou que me juraste
Que não serias nunca senão minha ?

António Ferreira
Nasceu em Lisboa, em 1528, onde faleceu em 1569. Formado em direito canônico pela Universidade de Coimbra, conviveu
com os mestres do renascimento italiano, vindo a ser o introdutor da tragédia clássica, ao modo grego, nas artes
portuguesas. A sua versificação é áspera e imperfeita ainda que a sua linguagem seja correta e clássica. Deixou-nos a sua
famosa tragédia Castro e mais ainda Bristo e Cioso. Escreveu também várias poesias menores tais como églogas,
epitalâmios, odes e elegias.

Luís Vaz de Camões(1524?-1580)


Pensa-se que tenha nascido em Lisboa, em 1524 e falecido em 1580. Sepultado na igreja de Sant'Ana, os seus ossos
desapareceram. Seus pais foram Simão Vaz de Camões e Ana de Macedo, ambos fidalgos. Educado em Coimbra, humanista
como muito bem se revela em seu poema, nada pode conseguir na vida por causa do seu gênio ardente e dado a valentias.
O seu grande valor suscitou sempre invejas e malquerenças, enchendo-lhe de amarguras a agitada vida que levou em
Portugal, África e Ásia. Diz-se que amara loucamente a D. Catarina de Ataíde, filha do conde de Castanheira, segundo alguns;
filha de D. António de Lima, segundo outros. José M. Rodrigues sustenta que a paixão máxima de Camões foi a Infanta Dona
Maria, filha de Dom Manuel III. Dois sonetos do poeta celebram Catarina sob o anagrama Natércia. Entrou na corte em
1546, de 1547 a 1549 esteve na África como soldado, onde perdeu uma das vistas. Em 1552, foi preso em Portugal por ter
ferido um homem da corte, Gonçalo Borges. Em 1553 parte para as Índias como soldado. Em 1558 foi para Macau como
Procurador de Órfãos e Viúvas, Defuntos e Ausentes. Em 1558 naufragou nas costas de Anã ( foz do rio Mekongue - Vietnã
do Sul ) salvando o manuscrito dos Lusiadas. Em 1567 foi para Moçambique. Em 1570 em Lisboa, pobre e doente, espera a
publicação de sua epopéia. Em 1572 publicou Os Lusíadas. Após alguns anos de intensos sofrimentos e absoluto abandono,
faleceu entre 1579 e 1580.
Obras: Camões, verdadeiro gênio literário, passou por todos os gêneros da literatura clássica, em todos fazendo valer o seu
talento extraordinário. É o maior poeta épico da língua, escrevendo Os Lusíadas; como lírico ninguém o iguala nos Sonetos;
escreveu ainda para o teatro: El-rei Seleuco e Filodemo.
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Assunto: Descobrimento do caminho das Índias.


Herói: Vasco da Gama
Forma: Poema clássico em 10 cantos. Estrofes ditas oitavas camonianas, mas, imitadas de Ariosto. Para este poeta, a oitava
era a estrofe heróica por excelência. Versos decassílabos.
Caráter: Como toda obra do Renascimento, Os Lusíadas trazem nitidamente um caráter cristiano-pagão. Toda a mitologia
greco-romana está misturada com os santos e as crenças do catolicismo. A influência da Eneida de Vergílio é clara em muitos
pontos. Nisto tinha o exemplo dos poetas épicos italianos que fizeram ainda mais do que ele, como Dante, por exemplo.
Camões está para a língua portuguesa como Dante para a Italiana: é o fundamento, é quem lhe deu maleabilidade perfeita,
elevando-a à maior perfeição expressiva, equiparando-a aos demais idiomas europeus. Ele foi quem deu o poema épico, à
literatura portuguesa obra notabilíssima que não possuem os espanhóis nem os franceses, de cunho eminentemente
nacional..
Como tema para o seu poema épico, Luís de Camões escolheu a história de Portugal, intenção explicitada no título do
poema: Os lusíadas.
O cerne da ação desenvolve-se em torno da viagem de Vasco da Gama às Índias.A palavra “lusíada” é um neologismo
inventado por André de Resende para designar os portugueses como descendentes de Luso (filho ou companheiro do deus
Baco).
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A EstruturaOs lusíadas apresenta 1102 estrofes, todas em oitava-rima (esquema ABABABCC), organizadas em dez cantos.
Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler
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Divisão dos Cantos


1ª parte:
Introdução: Estende-se pelas 18 estrofes do Canto I e subdivide-se em:
Proposição: é a apresentação do poema, com a identificação do tema e do herói (constituem as três primeiras estrofes do
canto I).
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Invocação: o poeta invoca as Tágides, ninfas do rio Tejo, pedindo a elas inspiração para fazer o poema.

Dedicatória: o poeta dedica o poema a D. Sebastião, rei de Portugal.

2ª parte:
Narração
Na narração (da estrofe 19 do Canto I até a estrofe 144 do Canto X), o poeta relata a viagem propriamente dita dos
portugueses ao Oriente.
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3ª parte: Epílogo
É a conclusão do poema (estrofes 145 a 156 do Canto X), em que o poeta pede às musas que o inspiraram que calem a voz
de sua lira, pois está desiludido com uma pátria que já não merece as glórias do seu canto.
O herói
Como o título indica, o herói desta epopeia é coletivo, os Lusíadas, ou os filhos de Luso, os portugueses.

Episódios interessantes:
1) O concílio dos deuses onde se decide da sorte dos portugueses protegidos por Vênus e atacados por Baco.
2) Os doze de Inglaterra.
3) A morte de Inês de Castro.
4) O gigante Adamastor.

Episódio O Velho da praia do Restelo


Um dos episódios mais célebres da obra: o Velho do Restelo (canto IV, estrofes 94-104). O sentido do discurso atribuído ao
Velho é bastante claro; não obstante, o episódio coloca alguns problemas quanto ao pensamento do poeta relativamente à
questão tratada.
Os navios portugueses estão prestes a largar; esposas, filhos, mães, pais e amigos dos marinheiros apinham-se na praia (do
Restelo) para dar seu adeus, envolto em muitas lágrimas e lamentos, àqueles que partiam para perigos inimagináveis e
talvez para não mais voltar.
No meio desse ambiente emocionado, destaca-se a figura imponente de um velho que, com sua "voz pesada", ouvida até
nos navios, faz um discurso veemente, condenando aquela aventura insana, impelida, segundo ele, pela cobiça -o desejo de
riquezas, poder, fama. Diz o velho que, para ir enfrentar desnecessariamente perigos desconhecidos, os portugueses
abandonavam os perigos urgentes de seu país, ainda ameaçado pelos mouros e no qual já se instalava a desorganização
social que decorreu das grandes navegações.
Segundo parece, o velho representa a opinião conservadora (alguns diriam "reacionária") da época -opinião da aldeia, do
torrão natal, da vida segura, mas não heróica.
Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler
O discurso do Velho contém uma condenação enfática da guerra, de acordo com o ponto de vista do Humanismo, que era
antibelicista. Mas o Velho, como Camões, abre exceção (sob a forma de concessão) para a guerra na África (lembremos que
o poeta, no início e no fim do poema, recomenda enfaticamente a D. Sebastião que embarque nessa aventura). Sabemos
que havia, na época, uma corrente de opinião em Portugal que condenava a política ultramarina do país, direcionada desde
D. João 3º em favor da Índia, com o abandono das conquistas africanas.

O episódio de Inês de Castro


Dona Inês, da importantíssima família castelhana Castro, veio a Portugal como dama de companhia da princesa Constança,
noiva de D. Pedro, herdeiro do rei D. Afonso 4º. O príncipe apaixonou-se loucamente pela moça, de quem teve filhos ainda
em vida da princesa, sua esposa. Com a morte desta, em 1435, ter-se-ia casado clandestinamente com Inês, segundo o que
ele mesmo declarou tempos depois, quando já se tornara rei. Talvez tal declaração, embora solene, fosse falsa; é fato,
porém, que o príncipe rejeitou diversos casamentos, politicamente convenientes, que lhe foram propostos depois que ficou
viúvo.
A ligação entre o príncipe e sua amante não foi bem vista pelo rei, que temia fosse seu filho envolvido em manobras pró-
Castela da família de Pérez de Castro, pai de Inês. (Aqui é preciso lembrar que o conflito entre Portugal e Castela, ou seja, a
Espanha, remonta à fundação de Portugal, que nasceu de um desmembramento do território castelhano e que Castela
sempre almejou reintegrar a si.) Em conseqüência, o rei, estimulado por seus conselheiros, decidiu-se pelo assassinato de
Inês, que foi degolada quando o príncipe se achava caçando fora de Coimbra, onde vivia o casal. O crime motivou um longo
conflito entre o príncipe e o pai. Depois que se tornou rei, D. Pedro ordenou a exumação (desenterramento) do cadáver,
para que Inês fosse coroada como rainha.

O episódio do Gigante Admastor


Cinco dias depois da paragem na Baía de Santa Helena, chega Vasco da Gama ao Cabo das Tormentas e é surpreendido por
uma nuvem negra “tão temerosa e carregada” que pôs nos corações dos portugueses um grande “medo” e leva Vasco da
Gama a evocar o próprio Deus todo poderoso.
Foi o aparecimento do Gigante Adamastor, uma figura mitológica criada por Camões para significar todos os perigos, as
tempestades, os naufrágios e “perdições de toda sorte” que os portugueses tiveram de enfrentar e transpor nas suas
viagens.
Esta aparição do Gigante é caracterizada directa e fisicamente com uma adjectivação abundante e é conotada a imponência
da figura e o terror e estupefacção de Vasco da Gama, e seus companheiros, que o leva a interrogar o Gigante quanto à sua
figura, perguntando-lhe simplesmente “Quem és tu?”.
Mas mesmo os gigantes têm os seus pontos fracos. Este que o Gama enfrenta é também uma vítima do amor não
correspondido, e a questão de Gama leva o gigante a contar a sua história sobre o amor não correspondido.
Apaixona-se pela bela Tétis que o rejeita pela “grandeza feia do seu gesto”. Decide então, “tomá-la por armas” e revela o seu
segredo a Dóris, mãe de Tétis, que serve de intermediária. A resposta de Tétis é ambígua, mas ele acredita na sua boa fé.
Acaba por ser enganado. Quando na noite prometida julgava apertar o seu lindo corpo e beijar os seus “olhos belos, as faces
e os cabelos”, acha-se abraçado “cum duro monte de áspero mato e de espessura brava, junto de um penedo, outro
penedo”.
Foi rodeado pela sua amada Tétis, o mar, sem lhe poder tocar.

Trajeto da Viagem de Vasco da Gama

Camões lírico
Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler
No lirismo da sua época, sob influência petrarquiana, não se distingue Camões de maneira extraordinária como se distinguiu
na poesia épica. Era poeta ao modo do tempo e de tal jeito que muitas de suas composições líricas, sobretudo sonetos,
passaram como sendo de outros poetas, exemplo de Diogo Bernardes. Nas redondilhas e églogas apenas se notam a
profundeza de seus pensamentos e a excelente qualidade do idioma. Foi no lirismo que bem marcou o período de transição,
servindo-se da velha escola de Bernardim Ribeiro, Gil Vicente, em suas redondilhas, canções, glosas, vilancetes, e do
classicismo nos sonetos, nas églogas, observando os cânones do decassílabo italiano em substituição ao decassílabo
lemusino de acentuação ímpar. O recurso das oposições e dos contrastes, ao modo de Petrarca, fez de seus sonetos
amorosos verdadeiras obras-primas. Outra nota petrarquiana foi o do amor platônico, ardentemente desejado, mas não
conseguido e daqui toda a melancolia das aspirações que não puderam ser realizadas. Todos os meios estilísticos de que,
mais tarde, abusará o gongorismo: as antíteses, os trocadilhos, o jogo das mesmas palavras, mas em sentido diferente; as
comparações e as metáforas estão elegantemente empregados pelo grande poeta, dentro da medida justa, sem os exageros
que farão a ruína dos culteranistas sem talento. Pelo sentimentalismo destas composições líricas, precedeu Camões ao
próprio romantismo, vazando em seus sonetos, odes e canções todo o seu delicado e melancólico subjetivismo. O bucolismo
inaugurado por Bernardino Ribeiro continua em Camões que se emociona com os aspectos da natureza, da vida campestre.
O bucolismo serve-lhe de contraste com a sua vida interior:
"Contente pasce o gado ao pé do monte,
Contente a beber vai na fonte fria.
...............................................................
Eu só, só pensativo, triste e mudo".

( Égloga III )
"Caminha, o dia todo, o caminhante,
E, enfim, lhe chega a noite, em que descansa;
Trabalha na tormenta o navegante,
Traz-lhe a clara manhã feliz bonança;
Recobra o fruto fértil e abundante
Da terra o lavrador, se nela cansa;

Características da poesia de Luis Vaz de Camões

1- Poesia elaborada sobre uma experiência pessoal múltipla.


2- Síntese entre a tradição literária portuguesa e as inovações introduzidas pelos ilalianizozntes do "dolce stil nuevo":
redondilhas > inovações formais (decassílabo) Mote glosado > inovações temáticas (amor platônico e seus paradoxos)
3- Visão da natureza (idal clássico que se caracteriza pela harmonia, ordem e racionalidade (a natureza é um exemplo)).
4-Concepção do amor: (Platonismo: O verdadeiro amor, amor puro, está no mundo das idéias).
5- O desconcerto do mundo (a razão desvenda o mundo sem sentido e sofre).

RESUMO:

Principais Características do Classicismo


Estética: Valorização da estética artística da antiguidade clássica (greco-romana). Os artistas renascentistas defendiam a
ideia de que a arte na Grécia e Roma antigas tinha um valor estético e cultural muito maior do que na Idade Média. Por isso,
que uma escultura renascentista, por exemplo, possui uma grande semelhança como as esculturas da Grécia Antiga. Os
poetas clássicos revivem a idéia de Platão de que o amor deve ser sublime, elevado, espiritual, puro, não-físico.
Outros:. Preciosismo vocabular.Obediência à versificação. Uso de uma linguagem sóbria, simples, sem excesso de figuras
literárias.
Mitología: Os deuses e as musas, inspiradoras dos clássicos gregos e latinos aparecem também nos clássicos renascentistas:
Os Lusíadas: (Vênus) = a deusa do amor; Marte (o deus da guerra), protegem os portugueses em suas conquistas marítimas.
Antropocentrismo: Visão de que o homem é o principal e decisivo elemento na condução da história da humanidade. Essa
visão é conhecida como antropocentrismo ("homem no centro") e fez oposição a visão teocêntrica ("Deus no centro") da
Idade Média.
O classicismo aborda os homens ideais, libertos de suas necessidades diárias, comuns. Os personagens centrais das epopéias
(grandes poemas sobre grandes feitos e heróicos) são apresentados como seres superiores, verdadeiros semideuses, sem
defeitos. Ex.: Vasco da Gama em os Lusíadas: é um ser dotado de virtudes extraordinárias, incapaz de cometer qualquer erro.
Racionalismo: Grande importância dada às ciências e a razão. Os renascentistas defendiam a ideia de que há explicação
científica para a maioria das coisas. Portanto, desprezavam as explicações elaboradas pela Igreja Católica ou por outras fontes
que não fossem científicas. Este período da história foi muito significativo no tocante ao desenvolvimento das experiências
científicas e do pensamento racional e lógico.
A linguagem clássica não é subjetiva nem impregnada de sentimentalismos e de figuras, porque procura coar, através da
razão, todas os dados fornecidos pela natureza e, desta forma expressou verdades universais.
Universalismo: : A obra clássica torna-se a expressão de verdades universais, eternas e despreza o particular, o individual,
aquilo que é relativo.
Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler
Busca do conhecimento em várias áreas. Os renascentistas buscavam entender o mundo através do estudo de várias ciências
(Biologia, Matemática, Física, Astronomia, Botânica, Anatomia, Química, etc.). Um ótimo exemplo desta visão de mundo foi
Leonardo da Vinci que, além de ser pintor, também desenvolveu trabalhos e estudos em várias áreas do conhecimento.

Fontes:
http://www.suapesquisa.com
http://www.brasilescola.com
http://www.mundovestibular.com.br

QUINHENTISMO
O Descobrimento das Américas marca, antes de mais nada, a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna. A Europa
vive o auge do Renascimento, o capitalismo mercantil toma o lugar dos feudos, e o êxodo rural provoca o início da
urbanização. Houve também, neste período, uma crise na Igreja: o novo grupo dos protestantes contra o grupo dos fiéis
católicos (estes últimos no movimento da Contra-Reforma).
No primeiro século do Brasil , de colônia a metrópole , procurou-se garantir o domínio sobre a terra descoberta,
organizando-a em capitanias hereditárias e enviando jesuítas da Europa para catequizar os índios e negros da África a fim de
povoar a colônia.
Durante a maioria deste período, os documentos eram escritos por jesuítas e colonizadores portugueses; o primeiro autor
brasileiro apareceria, mais tarde, somente no movimento barroco, Gregório de Matos.
O Quinhentismo foi o primeiro movimento literário no Brasil. Em relação aos demais, sua importância é um tanto quanto
menos expressiva na literatura, por não apresentar nenhum escritor brasileiro; ou, ainda, nenhum "escritor".
No século XVI, as primeiras manifestações literárias eram relatos das incursões religiosas para catequização dos índios. A
esta literatura denomina-se de Literatura de Informação e soma-se outra chamada de Literatura Jesuítica.
Seu fim foi marcado pela publicação de Prosopopéia, de Gonçalves de Magalhães, que já tinha algumas tendências barrocas.

Referências históricas
 Capitalismo mercantil e grandes navegações
 Auge do Renascimento
 Ruptura na Igreja (Reforma, Contra-Reforma e Inquisição)
 Colonização no BR a partir de 1530
 Lit. jesuítica a partir de 1549

Momento sócio-cultural
 Início da exploração da colônia: extração de pau-brasil e do cultivo da cana de açúcar.
 Expedições de exploração e reconhecimento da nova terra.
 Vinda dos jesuítas: trabalho de catequese dos índios e formação dos primeiros colégios.

Características literárias
 Literatura de caráter documental sobre o Brasil de cronistas e viajantes estrangeiros.
 Literatura "pedagógica" dos jesuítas, visando à catequese dos índios.

Quinhentismo divide-se em:


1. Lit. Informativa - conquista material para o governo português
2. Lit. Jesuítica - conquista espiritual, num movimento resultante da Contra-Reforma

Embora a literatura brasileira tenha nascido no período colonial, é difícil precisar o momento em que passou a se configurar
como uma produção cultural independente dos vínculos lusitanos.
É preciso lembrar que, durante o período colonial, ainda não eram sólidas as condições essenciais para o florescimento da
literatura, tais como existência de um público leitor ativo e influente, grupos de escritores atuantes, vida cultural rica e
abundante, sentimento de nacionalidade, liberdade de expressão, imprensa e gráficas. Justamente por isso, a literatura de
informação e a literatura dos jesuítas não são consideradas um estilo de época, mas sim, um período no qual houve os
primeiros registros da arte e da escrita em língua portuguesa no Brasil.

Manifestações Artísticas
A língua e a religião eram os únicos fatores a representar alguma unidade cultural. A cultura indígena foi aos poucos sendo
suplantada pela visão de mundo dos jesuítas, marcada pela religiosidade medieval. A dança e a música dos grupos
dominados (negros e índios) foram as únicas manifestações artísticas que efetivamente, conseguiram deixar sua marca
nesse processo de transplantação cultura.

1. Literatura de Informação, de Viagem ou dos Cronistas


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Também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, reflexo das Grandes Navegações, empenha-se
em fazer um levantamento da “terra nova”: sua flora, sua fauna, sua gente. De caráter descritivo, esses
documentos são a única fonte de informação sobre o Brasil do século XVI. A principal característica dessa
informação é a exaltação da terra, resultado do assombro do homem europeu saído do mundo temperado ao se defrontar
com um mundo tropical, totalmente diferente, novo, exótico. Além da descrição, os textos revelam as idéias dos
portugueses em relação à nova terra e seus habitantes.
Com relação à linguagem, o louvor à terra transparece no uso exagerado de adjetivos, quase sempre empregados no
superlativo.

Características
 Textos descritivos em linguagem simples.
 Muitos substantivos seguidos de adjetivos.
 Uso exagerado de adjetivos empregados, quase sempre, no superlativo.

Autores
Pero Vaz Caminha
Autor da "certidão de nascimento" do BR, onde relatava ao rei de Portugal a "descoberta" da Terra de Vera Cruz (1500)
Pero Lopes de Souza
Diário da navegação da armada que foi à terra do BR em 1500 (1530)
Pero Magalhães Gândavo
Tratado da terra do BR e A história da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamam BR (1576)
Gabriel Soares de Sousa
Tratado descritivo do BR (1587)
Ambrósio Fernandes Brandão
Diálogo das grandezas do BR (1618)
Frei Vicente do Salvador
História do Brasil (1627)
Pe. José de Anchieta
Obra vasta a ser tratada com mais detalhes a seguir

2. Literatura Jesuítica
O melhor da produção literária do Quinhentismo, do ponto de vista estético, surge na segunda metade do século XVI, com a
chegada dos padres jesuítas. Seus textos, com forte traço da cultura medieval, representam manifestações de uma literatura
mais organizada, seja pela cultura dos membros da Companhia de Jesus, seja pelo cultivo de gêneros como a poesia e o
teatro. Refletindo o momento religioso da Contra-Reforma, é uma literatura de cunho pedagógico, voltada ao trabalho de
catequese.

Junto às expedições de reconhecimento e colonização, vinham ao BR os jesuítas, preocupados em expandir a fé católica e


catequizar os índios. Eles escreveram principalmente a outros missionários sobre os costumes indígenas, sua língua, as
dificuldades de catequese etc.
Esta literatura compõe-se de poesias de devoção, teatro de caráter pedagógico e religioso, baseado em textos bíblicos e
cartas que informavam o andamento dos trabalhos na Colônia.

Autores
Pe. Manuel da Nóbrega
Diálogo sobre a conversão dos gentios (1558)

José de Anchieta
Papel de destaque na fundação de São Paulo e na catequese dos índios. Iniciou o teatro no BR e foi pesquisador do folclore e
da língua indígena.
Produção diversificada, sendo autor de poesias líricas e épicas, teatro, cartas, sermões e uma gramática do tupi-guarani.
De sua obra destacam-se: Do Santíssimo Sacramento, A Santa Inês (poesias) e Na festa de São Lourenço, Auto da Pregação
Universal (autos).
Usava em seus textos uma linguagem simples, revelando acentuadas características de tradição medieval portuguesa.
Suas poesias estão impregnadas de idéias religiosas e conceitos morais e pedagógicos. As peças de teatro lembram a
tradição medieval de Gil Vicente e foram feitas para tornar vivos os valores e ideais cristãos. Nas peças, ele está sempre
preocupado em caracterizar os extremos como Bem e Mal, Anjo e Diabo, característica pré-barroca.

Obras
A carta de Caminha faz um relato dos dias passados na Terra de Vera Cruz (nome antigo do Brasil) em Porto
Seguro, da primeira missa, dos índios que subiram a bordo das naus, dos costumes destes e da aparência deles (com
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uma certa obsessão por suas "vergonhas"), assim como fala do potencial da terra, tanto para a mineração (relata
que não se achou ouro ou prata, mas que os nativos indicam sua existência), exploração biológica (a fauna e a
flora) e humana, já que fala sempre em "salvar" os nativos, convertendo-os.
"Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um
grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com
grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra
de Vera Cruz!"
--Carta de Caminha
"Viu um deles [índios] umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com
elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de
novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo. Isso
tomávamos nós por assim o desejarmos"
--Carta de Caminha
"Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos,
porque eles, segundo parece, não têm nem entendem em nenhuma crença"
--Carta de Caminha
"Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela
tudo, por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar me parece que
será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar"
--Carta de Caminha
A História da Província Santa Cruz a que vulgarmente chamam Brasil é o relato do viajante Pero de Magalhães
Gândavo em sua viagem pelo BR. Tal qual no Tratado da Terra do Brasil, Gândavo descreve a terra, flora e a fauna.
História, propriamente dita, há pouca em seu relato. Existe a narrativa do descobrimento e menções a vários
ocorridos, como a expulsão dos franceses de São Sebastião (cidade do Rio de Janeiro hoje em dia) e a morte do
filho de Mem de Sá, assim como fala-se dos costumes e das guerras de povos indígenas. É nesta parte que se
destaca o forte preconceito do autor, que sustenta que os índios são maus e que os Portugueses deveriam salvá-
los…
"Não acho que preciso, mas vou lembrar a todos que os portugueses e espanhóis quando vieram
para ca cometeram tantas e tão horríveis atrocidades motivados por ganância cega que a
antropofagia dos nativos parece tão horrível quanto esmagar uma formiga."
--História da Província Santa Cruz, Pero de Magalhães Gândavo
"Esta planta é mui tenra e não muito alta, não tem ramos senão umas fôlhas que serão seis ou sete
palmos de comprido. A fruita se chama banana. Parecem-se na feição com pepinos e criam-se em
cachos. (...) Esta fruta é mui saborosa, e das boas, que há na terra: tem uma pele como de figo
(ainda que mais dura) a qual lhe lançam fora quando a querem comer: mas faz dano à saúde e
causa fevre a quem se demanda dela"
--História da Província Santa Cruz, Pero de Magalhães Gândavo

"Teme a Deus, juiz tremendo,


que em má hora te socorra,
em Jesus tão só vivendo,
pois deu sua vida morrendo
para que tua morte morra."
--Auto de São Lourenço, Pe José de Anchieta

Não há cousa segura.


Tudo quanto se vê
se vai passando.
A vida não tem dura.
O bem se vai gastando.
Toda criatura
passa voando.

Em Deus, meu criador,


está todo meu bem
e esperança
meu gosto e meu amor
e bem-aventurança.
Quem serve a tal Senhor
não faz mudança.

Contente assim, minha alma,


do doce amor de Deus
toda ferida,
o mundo deixa em calma,
buscando a outra vida,
na qual deseja ser
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toda absorvida.

Do pé do sacro monte
meus olhos levantando
ao alto cume,
vi estar aberta a fonte
do verdadeiro lume,
que as trevas do meu peito
todas consume

Correm doces licores


das grandes aberturas
do penedo.
Levantam-se os errores,
levanta-se o degredo
e tira-se a amargura
do fruto azedo!
--Em Deus, meu criador, José de Anchieta
"Há no Brasil grandíssimas matas e árvores agrestes, cedros, carvalhos, vinháticos, angelins e outras
não conhecidas em Espanha, de madeiras fortíssimas para se poderem fazer delas fortíssimos
galeões (...). Mas os índios naturais da terra as embarcações de que usam são canoas de um só pau,
que lavram a fogo e a ferro (...)"
--História da Custória do Brasil, Frei Vicente do Salvador

http://portalliterario.sites.uol.com.br
http://www.graudez.com.br
http://paraiso.etfto.gov.br

Arcadismo no Brasil

O Balanço (década de 1730), de Nicolas Lancret

O Arcadismo, também conhecido como Setecentismo ou


Neoclacissismo, é o movimento que compreende a produção
literária brasileira na segunda metade do século XVIII.
Esta última denominação, Neoclassicismo, surgiu do fato dos
autores do período imitarem, não de uma forma pura, mas alguns
aspectos da antiguidade greco-romana ou o chamado Classicismo, e
também os escritores do Renascimento, os quais vieram logo
após a idade clássica.

O nome de Arcadismo faz referência à Arcádia, região campestre do


Peloponeso ,na Grécia antiga que, por sua vez, foi nomeada em
referência ao semideus Arcas (filho de Zeus e Calisto). Denota-se,
logo de início, as referências à mitologia grega que perpassa o movimento. Um dos principais escritores árcades foi o poeta
latino Horácio, que viveu entre 68 a.C. e 8 a.C., e foi influenciador do pensamento do “carpe diem”, viver agora, desfrutar do
presente, adotado pelo Arcadismo e permanente até os dias de hoje.
Harmonia entre os homens e os animais (pastoralismo) e a referência arquitetônica à Grécia - concluindo ser esta uma
representação da Arcádia Pastoralismo Um dos aspectos mais artificiais da estética árcade são o fato de os poetas e de suas
musas e amadas serem identificados como pastores e pastoras. A troca dos nomes dos membros das Arcádia era uma forma
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eficiente de eliminar as marcas de sua origem nobre ou plebeia. O bucolismo (integração serena entre o indivíduo e a
paisagem física) torna-se um imperativo social, e os neoclássicos franceses retornam às fontes da antiguidade que definiam
a poesia como cópia da natureza. O modelo de vida ideal adotado pelos autores do período envolve a representação
idealizada na natureza com um espaço acolhidos, primeiramente, alegre. Os poemas apresentam cenários em que a vida
rural é sinônima de tranquilidade e harmonia.
Profundas mudanças no contexto histórico mundial caracterizam o período, tais como a ascenção doIluminismo burguês
( século das luzes), que pressupunha o racionalismo, o progresso e as ciências. O Iluminismo é determinado pela revolução
intelectual ocasionada por volta dos séculos XVII e XVIII, o qual trazia como lema: liberdade, igualdade e fraternidade, o que
influenciou os pensamentos artísticos da época na Europa, e principalmente a Revolução Francesa (1789), a independência
das colônias inglesas da América Anglo-Saxônica(1776) e no Brasil, a Inconfidência Mineira até a chegada da Família Real em
1808.

Algumas questões importantes.


 A Burguesia atinge a hegemonia econômica. Multiplicam-se os bancos
 Montesquieu publica O espírito das Leis , propondo a divisão dos três poderes.
 Rosseau, apregoa o mito do bom selvagem: o homem nasce bom e a sociedade que o corrompe ( Ver E. Kant)
 Em 1776 ocorre a Independência dos EUA e em 1789, a Revolução Francesa .
 MG torna-se o centro econômico-político-cultural do Brasil.
 Na primeira metade do século O reinado suntuoso de D. João V vive as grandes riquezas do ciclo do ouro de Minas
Gerais. Desperdício, obra monumentais.Manutenção da Inquisição.Influência aristocrática e clerical.Monarquia
absolutista.
 Na segunda metade do século (1750-1777) O déspota esclarecido Marquês de Pombal, ministro de D. José I,
procurou, com reformas, alinhar Portugal com a Europa iluminista. O Neoclassicismo corresponde ao período do
governo pombalino. Em 1759, Pombal expulsa os jesuítas dos domínios portugueses. Tal fato acelera a
marginalização do clero na vida lusitana e estabelece o fim da influência e do ensino jesuítico.

Segundo o crítico Alfredo Bosi em seu livro História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo: editora Cultrix, 2006) houve
dois momentos do Arcadismo no Brasil:
a) poético: retorno à tradição clássica com a utilização dos seus modelos, e valorização da natureza e da mitologia.
b) ideológico: influenciados pela filosofia presente no Iluminismo, que traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da
nobreza e do clero.
Seus principais autores são Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama e Santa Rita Durão. No Brasil,
o ano convencionado para o início do Arcadismo é 1768, quando houve a publicação de Obras, do poeta Claudio Manoel da
Costa.
O movimento tem características reformistas, pois seu intuito era dar novos ares às artes e ao ensino, aos hábitos e atitudes
da época. A aristocracia em declínio viu sua riqueza esvair-se e dar lugar a uma nova organização econômica liderada pelo
pensamento burguês.
Ao passo que os textos produzidos no período convencionado de Quinhentismo sofreram influência direta de Portugal e
aqueles produzidos durante o Barroco, da cultura espanhola, os do Arcadismo, por sua vez, foram influenciados pela cultura
francesa devido aos acontecimentos movidos pela burguesia que sacudiram toda a Europa (e o mundo Ocidental).

Arcádia Ultramarina
Trata-se de uma sociedade literária fundada na cidade de Vila Rica (MG), influenciada pela Arcádia italiana (fundad em 1690)
e cujos membros adotavam pseudônimos, isto é, nomes artísticos, de pastores cantados na poesia grega ou latina. Por isso
que alguns dos principais nomes do Arcadismo brasileiro publicavam suas obras com nomes inspirados na mitologia grega e
romana.

Principais características
 inspiração nos modelos clássicos greco-latinos e renascentistas, como por exemplo, em O Uraguai (gênero épico),
em Marília de Dirceu (gênero lírico) e em Cartas Chilenas (gênero satírico)
 influência da filosofia francesa
 mitologia pagã como elemento estético
 o bom selvagem, expressão do filósofo Jean-Jacques Rousseau, denota a pureza dos nativos da terra fazem menção
à natureza e à busca pela vida simples, bucólica e pastoril. “a civilização corrompe os costumes do homem, que
nasce naturalmente bom.”
 tensão entre o burguês culto, da cidade, contra a aristocracia(expressa a crítica da burguesia aos abusos da nobreza
e do clero praticados no Antigo Regime)
 pastoralismo: poetas simples e humildes
 bucolismo: busca pelos valores da natureza
 nativismo: referências à terra e ao mundo natural
 tom confessional
 exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza.
 uso de pseudônimos
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 ausência de subjetividade :autor não expressa o seu próprio eu, adota uma forma pastoril (era comum os escritores
usarem pseudônimos em seus poemas,sonetos e obras, como exemplo: Cláudio Manuel da Costa é Glauceste
Satúrnio, Tomás Antônio Gonzaga é Dirceu, Basílio da Gama é Termindo Sipílio)
 amor galante: amor é entendido como um conjunto de fórmulas convencionais.
 convencionalismo amoroso : na poesia árcade, as situações são artificiais; não é o próprio poeta quem fala de si e de
seus reais sentimentos. No plano amoroso, por exemplo, quase sempre é um pastor que confessa o seu amor por
uma pastora e a convida para aproveitar a vida junto à natureza. Porém, ao se lerem vários poemas, de poetas
árcades diferentes, tem-se a impressão de que se trata sempre de um mesmo homem, de uma mesma mulher e de
um mesmo tipo de amor. Não há variações emocionais. Isso ocorre devido ao convencionalismo amoroso, que
impede a livre expressão dos sentimentos. O que mais importava ao poeta árcade era seguir a convenção, fazer
poemas de amor como faziam os poetas clássicos, e não expressar os sentimentos. A mulher é vista como um ser
superior, inalcançável e imaterial.

O uso de expressões em latim era comum no neoclacisssimo. Elas estavam associados ao estilo de vida simples e bucólico.
Conheça algumas delas:

Inutilia truncat: "cortar o inútil", referência aos excessos cometidos pelas obras do barroco. No arcadismo, os poetas
primavam pela simplicidade.
Fugere urbem: "fugir da cidade", do escritor clássico Horácio;
Locus amoenus: "lugar ameno", um refúgio ameno em detrimento dos
centros urbanos monárquicos;
Carpe diem: "aproveitar a vida", o pastor, ciente da efemeridade do tempo,
convida sua amada a aproveitar o momento presente. o desejo é de Cláudio Manoel da
aproveitar o dia e a vida. Essa ideia é retomada pelos árcades e faz parte do Costa, o poeta
convite amoroso. mineiro nascido em
Aurea mediocritas : “dourado equilíbrio”vida medíocre materialmente mais 1729, ilustrado por
rica em realizações espirituais.A idealização de uma vida pobre e feliz no Newton Resende.
campo, em oposição à vida luxuosa e triste na cidade

Cabe ressaltar, no entanto, que os membros da Arcádia eram todos


burgueses e habitantes dos centros urbanos. Por isso a eles são atribuídos um fingimento poético, isto é, a simulação de
sentimentos fictícios.

Cláudio Manoel da Costa (1729-1789)

Também conhecido como o "guardador de rebanhos" Glauceste Satúrnio, seu pseudônimo, Cláudio Manoel da Costa nasceu
na cidade de Mariana (em Minas Gerais). Estudou Direito em Coimbra, onde teve contato com as principais ideias do
Iluminismo e, ao voltar para o Brasil, fundou da Arcádia Ultramarina em Vila Rica. Era um homem muito rico e de posses que
influenciou a elite intelectual da época. Por ter participado da Inconfidência Mineira, foi preso e encontrado enforcado na
cadeia em 1789.
Os temas iniciais de sua obra giram em torno das reflexões morais e das contradições da vida com forte inspiração nos
modelos barrocos.
Posteriormente, dedicou-se à poesia bucólica e pastoril na qual a natureza funciona como um refúgio para o poeta que
busca a vida longe da cidade e reflete o as angustias e o sofrimento amoroso com sua musa inacessível Nise. Estes poemas
fazem parte do conjunto intitulado Obras (1768).
Cláudio Manoel da Costa também se dedicou à exaltação dos bandeirantes, fundadores de inúmeras cidades da região
mineradora e desbravadores do interior do país e de contar a história da cidade de Ouro Preto no poemeto épico Vila Rica
(1773).

Veja um exemplo de sua poesia bucólica:


Sonetos
X
Eu ponho esta sanfona, tu, Palemo,
Porás a ovelha branca, e o cajado;
E ambos ao som da flauta magoado
Podemos competir de extremo a extremo.
Principia, pastor; que eu te não temo;
Inda que sejas tão avantajado
No cântico amebeu: para louvado
Escolhamos embora o velho Alcemo.
Que esperas? Toma a flauta, principia;
Eu quero acompanhar te; os horizontes
Já se enchem de prazer, e de alegria:
Parece, que estes prados, e estas fontes
Já sabem, que é o assunto da porfia
Nise, a melhor pastora destes montes.
Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler
E de sua poesia épica:
Vila Rica
Canto VI

Levados de fervor, que o peito encerra


Vês os Paulistas, animosa gente,
Que ao Rei procuram do metal luzente
Co'as próprias mãos enriquecer o erário.
Arzão é este, é Este, o temerário,
Que da Casca os sertões tentou primeiro:
Vê qual despreza o nobre aventureiro,
Os laços e as traições, que lhe prepara
Do cruento gentio a fome avara.

Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810)

Nasceu na cidade de Porto, em Portugal, porém, filho de mãe portuguesa e pai brasileiro, vive parte da vida no Brasil.
Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, muda para o Brasil para trabalhar como ouvidor e juiz. Aqui, pretendia
se casar com a jovem Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, sua musa Marília.
No entanto, como participara da Inconfidência Mineira, é preso e levado para o Rio de Janeiro. Quando sai da prisão, muda-
se para Moçambique, na África, onde casa com Juliana de Sousa
Mascarenhas. Tomás Antônio Gonzaga,
Tomás Antônio Gonzaga é o pastor Dirceu, pseudônimo criado pelo poeta árcade, ilustrdo por
poeta para seu conjunto de liras famosas intitulado Marília de artista desconhecido. Patrono
Dirceu, publicadas em três partes nos anos de 1792, 1799 e 1812. da cadeira de número 37 da
Nessa obra, Dirceu é o pastor que cultiva o ideal da vida Academia Brasileira de Letras,
campestre, que vive entre ovelhas em uma choupana e aproveita o Gonzaga deixou como legado
momento presente ao lado da amada Marília. importantes obra líricas e
satíricas.
Lira I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Lira XIX
Enquanto pasta alegre o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive, nos descobre
A sábia natureza.

Atende, como aquela vaca preta


O novilhinho seu dos mais separa,
E o lambe, enquanto chupa a lisa teta.
Atende mais, ó cara,
Como a ruiva cadela
Suporta que lhe morda o filho o corpo,
E salte em cima dela.

Repara, como cheia de ternura


Entre as asas ao filho essa ave aquenta,
Como aquela esgravata a terra dura,
E os seus assim sustenta;
Como se encoleriza,
E salta sem receio a todo o vulto,
Que junto deles pisa.

Que gosto não terá a esposa amante,


Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler
Quando der ao filhinho o peito brando,
E refletir então no seu semblante!
Quando, Marília, quando
Disser consigo: “É esta
“De teu querido pai a mesma barba,
“A mesma boca, e testa.”

Lira XV
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua aldeia;
Vestia finas lãs, e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal, e o manso gado,
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.

Curiosidade: como aponta o crítico Alfredo Bosi em seu História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo: Cultrix, 2006),
há uma mudança na cor dos cabelos de Marília, que ora são negros, ora dourados, como se pode observar nos trechos a
seguir:
Os seus compridos cabelos,
que sobre as costas odeiam,
são que os de Apolo mais belos,
mas de loura cor não são.
Têm a cor da negra noite;
e com o branco do rosto
fazem, Marília, um composto
da mais formosa união.
Em outra passagem, observa-se:
Os teus olhos espelham a luz divina,
a quem a luz do sol em vão se atreve;
papoila ou rosa delicada e fina
te cobre as faces, que são da cor da neve.
Os teus cabelos sao uns fios d'ouro;
teu lindo corpo bálsamos vapora.
Essa oscilação, segundo o crítico, demonstraria o compromisso árcade entre o real e os padrões de beleza do lirismo
inspirado no poeta clássico Petrarca. Outra oscilação presente nos poemas é entre o pastor bucólico e o intelectual da
cidade.
Percebe-se, no entanto, uma mudança considerável no discurso do poeta, coincidindo com a época em que o autor esteve
preso e passa a refletir sobre as angústias do aprisionamento, a justiça e o destino dos homens.
Cabe ressaltar, no entanto, que, embora o conjunto de liras seja dedicado à amada Marília, em momento algum temos a voz
da personagem idealizada. É apenas Dirceu quem discorre acerca dos seus sentimentos. Segundo alguns críticos literários,
esse fato é um reflexo da sociedade patriarcal em que Gonzaga vivia, não permitindo que suas personagens pudessem
expressar suas vozes.

Por fim, Tomás Antônio Gonzaga também ficou conhecido por suas Cartas Chilenas, compostas por 13 poemas satíricos
escritos antes da Inconfidência Mineira. Novamente, Gonzaga cria personagens e pseudônimos: aqui, Critilo assina as cartas
e as envia para Doroteu. O conteúdo das "cartas" são críticas ao suposto governador do Chile (onde vive Critilo) Fanfarrão
Minésio, uma referência ao governador de Minas Gerais Luís da Cunha Meneses. Veja um exemplo:
Amigo Doroteu, prezado amigo,
Abre os olhos, boceja, estende os braços
E limpa, das pestanas carregadas,
O pegajoso humor, que o sono ajunta.
Critilo, o teu Critilo é quem te chama;
Ergue a cabeça da engomada fronha
Acorda, se ouvir queres coisas raras.
(...)
Ah! pobre Chile, que desgraça esperas!
Quanto melhor te fora se sentisses
As pragas, que no Egito se choraram,
Do que veres que sobe ao teu governo
Carrancudo casquilho, a quem rodeiam
Os néscios, os marotos e os peraltas!
Seguido, pois, dos grandes entra o chefe
No nosso Santiago junto à noite.
A casa me recolho e cheio destas
Tristíssimas imagens, no discurso,
Mil coisas feias, sem querer, revolvo.
Por ver se a dor divirto, vou sentar-me
Na janela da sala e ao ar levanto
Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler
Os olhos já molhados. Céus, que vejo!
Não vejo estrelas que, serenas, brilhem,
Nem vejo a lua que prateia os mares:
Vejo um grande cometa, a quem os doutos
Caudato apelidaram. Este cobre
A terra toda co’ disforme rabo.

Santa Rita Durão (1722-1784)

Seu trabalho mais conhecido é o Caramuru (1781), cujo subtítulo,


Poema épico do descobrimento da Bahia, remonta ao tempo em José de Santa Rita Durão
que os primeiros europeus chegaram ao Brasil e travaram contato nasceu em Cata-Preta, nas
com os nativos. proximidades de Mariana em
Caramuru é o nome dado ao português Diogo Álvares Correia que Minas Gerais. Ingressa na
passa a viver entre os índios Tupinambás após sobreviver a um Ordem de Santo Agostinho, em
naufrágio no litoral baiano. Considerado um herói "cultural", que Portugal, e lá permanece até
ensina as leis e as virtudes aos "bárbaros" que aqui viviam, ganha sua morte em 1784.
o respeito dos índios ao disparar uma arma de fogo. Os índios,
assustados, equiparam-no a Tupã e passam a respeitá-lo como uma entidade eviada. Ele se encanta com Paraguaçu, a bela
índia de pele branca. Já instalado na tribo, Diego percebe a possibilidade de difundir a fé cristã para os índios, doutrinando-
os após ter encontrado uma gruta que se assemelharia a uma igreja.
Mais adiante, Diego ajuda a resgatar a tripulação de um barco espanhol que havia naufragado e vê a possibilidade de
retornar à Europa através da nau francesa que viera resgatar aquela tripulação. Parte, com Paraguaçu, deixando para trás as
belas índias que haviam se apaixonado por ele, incluindo Moema, a mais bela, que atira-se ao mar em direção ao navio na
tentativa de alcançar o seu amado. Ao chegar na Europa, Paraguaçu é batizada de Catarina, ambos são festejados e recebem
as honras da realeza lusitana.

Moema (1866), por Victor Meireles


O poema segue a estrututura dos versos camonianos (de Camões) e da epopeia clássica, com fortes influências da mitologia
grega: composto por 10 cantos, versos decassílabos, oitava rima camoniana. Segue também com a divisão tradicional das
epopeias: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo.
Conheça um trecho do poema épico em que é narrada a morte da índia Moema, uma das mais belas cenas já descritas na
literatura brasileira:

Canto VI
XXXVII
Copiosa multidão da nau francesa
Corre a ver o espetáculo assombrada;
E, ignorando a ocasião de estranha empresa,
Pasma da turba feminil que nada.
Uma, que às mais precede em gentileza,
Não vinha menos bela do que irada;
Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.
XXXVIII
"- Bárbaro (a bela diz), tigre e não homem...
Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças amor que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem.
Como não consumis aquele infame?
Mas apagar tanto amor com tédio e asco...
Ah que o corisco és tu... raio... penhasco?
(...)
XLI
Enfim, tens coração de ver-me aflita,
Flutuar moribunda entre estas ondas;
Nem o passado amor teu peito incita
A um ai somente com que aos meus respondas!
Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,
(Disse, vendo-o fugir), ah não te escondas!
Dispara sobre mim teu cruel raio..."
Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler
E indo a dizer o mais, cai num desmaio.
XLII
Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,
- Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.

Basílio da Gama (1741-1795)

Foi para o Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio dos Jesuítas José Basílio da Gama nasceu em
e era noviço quando os jesuítas foram expulsos do país. Exilou- 1741 na cidade de São José do
se na Itália e filiou-se na Arcádia Romana, sob o pseudônimo de Rio das Mortes, atual Tiradentes,
Termindo Sipílio. É preso por jesuitismo, em Lisboa, e enviado em Minas Gerais. Falece em
para Angola, livrando-se do exílio ao escrever um poema para a Lisboa no dia 31 de julho de
filha do Marquês de Pombal. 1795.
Em 1769 publica o poema épico O Uraguai, criticando os
jesuítas e defendendo a política do Marquês de Pombal que o transforma em oficial da Secretaria do Reino. A crítica recaía
no fato de que os jesuítas não defendiam os índios, apenas pretendiam falsamente libertá-los e usar a mão de obra indígena
para proveito próprio.
Em 1750, com o Tratado de Tordesilhas, a missão dos Sete Povos passaria aos portugueses enquanto que Colônia de
Sacramento, no Uruguai, passaria para os espanhóis. O poema narra a luta dos portugueses contra os índios das Missões
(instigados pelos jesuítas espanhóis) que se recusam a sair de suas terras, dando início aos conflitos conhecidos como as
Guerra Guaranítica (1754-56).
A crítica recai, principalmente, sobre o personagem Balda, padre jesuíta que encarna o mal. Corrupto e desleal, seduz uma
índia e tem um filho com ela, Baldeta. Na aldeia moram também o chefe da tribo Cacambo e sua mulher Lindóia, casal que
representa a força do guerreiro e a beleza e delicadeza da índia. Balda quer forçar Lindóia a se casar com Baldeta, enviando
Cacambo para as batalhas na esperança de que o índio morra para uní-la a seu filho.
No Canto II, Basílio da Gama relata o encontro entre os caciques Sepé Tiaraju e Cacambo com o comandante português
Gomes Freire de Andrada, ocorrido às margens do rio Uruguai (chamado então de "Uraguai"). O comandante tenta
estabelecer um acordo com os índios, sem sucesso, dando início aos combates.
O cacique Sepé Tiaraju lidera a disputa e acaba morto. Cacambo, seu sucessor, é capturado e descobre que o perigo estava o
tempo todo na mão dos jesuítas. Os portugueses, então, permitem que ele retorne a sua aldeia para alertar seus
companheiros contra os perigos dos jesuítas. De volta, o valente guerreiro é envenenado por Balda e Lindóia, vendo-se
forçada a casar com Baldeta, comete suicídio, deixando-se picar por uma cobra venenosa.
Segundo o crítico literário Alfredo Bosi no estudo História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo: Cultrix, 2006), Basílio
da Gama é o homem do fim do século XVIII "cujos valores pré-liberais prenunciam a Revolução e se manteriam com o
idealismo romântico". Assim, pode-se dizer que O Uraguai prenuncia muitos dos aspectos que serão desenvolvidos durante
o movimento do Romantismo.

Características principais do poema


- exaltação da natureza e do "bom selvagem", atribuíndo aos jesuítas a culpa pelo envolvimento dos índios na luta;
- rompimento da estrutura poética camoniana;
- inovação no gênero epico: versos decassílabos brancos, isto é, sem rima, sem divisão de estrofes e divididos em apenas
cinco cantos;
- ao contrário da tradição épica, o poema conta um acontecimento recente na história do país;
- inicia o poema pela narração;
- discursos permeados por ideias iluministas;

A cena da morte de Lindóia mostra as características típicas do movimento árcade:


Canto IV
(...)
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim, sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia, e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo co’a ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste,
Que os corações mais duros enternece
Tanto era bela no seu rosto a morte!

Quem foi Sepé Tiaraju?


Importante personagem na história do país, o Sepé Tiaraju é retratado em O Uraguai como
um guerreiro defensor de seu território na tentativa de impedir que os portugueses se
apropriassem de suas terras e de seus gados. Morto em batalha, quando lutava contra a
decisão que dava as terras aos portugueses, o índio é considerado um herói nacional,
sendo nomeado "herói guarani missioneiro rio-grandense", e também santo popular por
alguma religiões brasileiras.

Desenho
representando o
índio guerreiro Sepé Tiaraju

RESUMO
O Arcadismo: século XVIII
CONTEXTO HISTÓRICO
- Iluminismo;
- Lutas pela independência do Brasil.
CARACTERÍSTICAS
- Modelo greco-romano e renascentista;
- Mitologia pagã;
- Pastoralismo, nativismo, bucolismo;
- Expressões em latim.
PRINCIPAIS AUTORES
- Claudio Manoel da Costa;
- Tomás Antônio Gonzaga;
- Basílio da Gama;
- Santa Rita Durão.

Assistir ao vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=LcbIS-Xf474


Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler
Fontes:
http://www.soliteratura.com.br
http://www.slideshare.net/jairnascimento/arcadismo-9798724

EXERCÍCIOS
1- Uma das afirmações abaixo não se refere ao Neoclassicismo nem se relaciona com seu contexto histórico-social.Aponte-a.
a) “O poeta que não seguir os Antigos perderá de todo o norte, e não poderá jamais alcançar aquela força, energia e
majestade que nos retratam o famoso e angélico semblante da Natureza. Devemos imitar e seguir os antigos: assim no-lo
ensina Horácio, no-lo dita a razão; e o confessa todo o mundo literário.”
b) “Este é o chamado Século das Luzes, na medida exata em que se opõe a um certo obscurantismo do século anterior e
propaga a ciência, o saber e o progresso: Iluminismo, Ilustração, Enciclopedismo.”
c) “Nomear um objeto significa suprimir as três quartas partes do gozo de uma poesia, que consiste no prazer de adivinhar
pouco a pouco. Sugerir, eis o sonho.”
d) “... recriam, em seus textos, as paisagens campestres de outras épocas, com pastores e pastoras cantando e vivendo uma
existência sadia e amorosa, preocupados apenas em cuidar de seus rebanhos.”
e) “A parte deveria ser universal, isto é, preocupar-se com problemas, verdades e situações eternas do homem, do homem
de todos os tempos, e não se limitar a sentimentos de ordem individual ou a situações puramente pessoais.”

2- Considerado o “mais árcade” dos poetas brasileiros do fim do século XVIII, ele realizou plenamente o ideal áurea
mediocritas (áurea mediana): Dirceu, o pastor, louvou a vida campestre e a simplicidade; elevou a mulher à categoria de
musa inspiradora constante – como foi comum no Neoclassicismo europeu–
e defendeu a utópica superioridade do homem natural. O poeta a que se refere o trecho acima é:
a) Cláudio Manuel da Costa
b) Castro Alves
c) Casimiro de Abreu
d) Tomás Antônio Gonzaga
e) Gonçalves Dias

3- Uma das afirmações abaixo é incorreta. Assinale-a.


a) O escritor árcade reaproveita os seres criados pela mitologia greco-romana, deuses e entidades pagãs. Mais esses
mesmos deuses convivem com outros seres do mundo cristão.
b) A produção literária do Arcadismo brasileiro constitui-se sobretudo de poesia, que pode ser lírico-amorosa, épica e
satírica.
c) O árcade recusa o jogo de palavras e as complicadas construções da linguagem barroca, preferindo a clareza, a ordem
lógica na escrita.
d) O poema épico Caramuru, de Santa Rita Durão, tem como assunto o descobrimento da Bahia, levado a efeito por Diogo
Álvares Correia, misto de missionário e colono português.
e) A morte de Moema, índia que se deixa picar por uma serpente, como prova de fidelidade e amor ao índio Cacambo, é o
trecho mais conhecido da obra O Uraguai, de Basílio da Gama.

4- Dadas as afirmações:
I) O Uraguai, poema épico clássico que antecipa em várias direções o Romantismo, é motivado por dois propósitos
indisfarçáveis: exaltação da política pombalina e antijesuitismo radical.
II) O (a) autor (a) do poema épico Vila Rica, no qual exalta os bandeirantes e narra a história atual de Ouro Preto, desde a
sua fundação, cultivou a poesia bucólica, pastoril, na qual menciona a natureza como refúgio.
III) Em Marília Dirceu, Marília é quase sempre um vocativo; embora tenha a estrutura de um diálogo – só Gonzaga fala,
raciocina; constantemente cai em contradição quanto à sua postura de pastor e sua realidade de burguês.
Está (ão) correta (s):
a) Apenas I;
b) Apenas II;
c) Apenas I e II;
d) Apenas I e III;
e) Todas;

5–
Acaso são estes
os sítios formosos,
onde passava
os anos gostosos?
São estes os prados,
aonde brincava,
enquanto pastava,
o manso rebanho
que Alceu me deixou?
Os versos acima, de Tomás Antônio Gonzaga, são expressão de um momento estético em que o poeta:
a) Buscava expressão para o sentimento religioso associado à natureza, revestindo freqüentemente o poema do tom solene
da meditação.
Apostila de Literaturas Lusófonas. Prof. Sonia Geisler
b) Tentava exprimir a insatisfação do mundo contemporâneo, dava grande ênfase à vida sentimental, tornando o coração a
medida mais exata da existência.
c) Buscava a “naturalidade”. O que havia de mais simples, mais “natural”, que a vida dos pastores e a contemplação direta da
natureza?
d) Tinha predileção pelo soneto, exercitando a precisão descritiva e dissertativa, o jogo intelectual, a famosa “chave de
ouro”.
e) Acentuava a busca da elegância e do requinte formal, perdendose na minúcia descritiva de objetos raros: vasos, taças,
leques.

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