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Não irei alongar a narrativa com injeções de descrições; então, subtende-se que nosso personagem Leônidas,

popular pela apelido de Léo, sempre fora uma pessoa normal (palavra habitualmente conceituada para pessoas
que vivem de forma condizente às demais) e de caráter complacente. Trazia na sua extensa gama de afetos,
amigos, família. Inclusive, uma formosa esposa. Matrimoniaram após longas investidas dele; contudo, o pulcro
relacionamento que fora próspero no princípio, despontou-se um emaranhado de consternações; sem contar
os inúmeros indos e vindos. No entanto, sua personalidade sempre fora instável. Desde criança, sempre sofrera
com transtornos bipolares, o que se agrava quando ingere grandes quantidades de drogas (leia-se álcool e
drogas ilícitas); o que não acontecia com frequência. Mas esta inconstância sempre assolou seu íntimo, e sempre
terá de viver com ela.

No dia quinze de Dezembro daquele ano, saiu para exercer seu ofício, que nada tinha de ostentoso, sequer
notável, embora fosse formidável e essencial para o dia a dia das pessoas comuns. Ora, carteiro. Meritório, não?
Pois. Deixou sua esposa em casa a findar os afazeres. Naquele que marchava para ser mais um nos monótonos
dias de Léo, foi se transviando. Quando regressava à sua casa, foi surpreendido por ex-colegas de faculdade,
dos quais ele não recordava. Um fortuito reencontro. Chamaram-no para solenizar os cinco anos pósteros à
formatura da turma.

- Que surpresa mais oportuna! – aparentemente alegre, Camila o abraçou.

- Que fazem por aqui? – Inquiriu.

- Viemos para reunir a turma de 2010 e confraternizar. – Respondeu Jackson.

- Então, vocês já estão bem desgastados, não?

- Sim, é que a galera já está reunida na casa do Diego. Há dois dias. – Disse Camila.

- Venha com a gente, cara. – Jackson sempre teve apresso pela companhia de Léo.

- Pode ser que eu vá, mas é difícil, porque tenho um dia longo de trabalho amanhã. Será na casa do Diego
mesmo?

- Não, será na Boate.

- Ora, conseguiram o alvará novamente?

- O Jack é sobrinho do prefeito, esqueceu? – Explicou.

- Assim vocês complicam mais a situação.

- Léo, você não pode perder, cara. Nossa turma, meu!

- É, Léo! Por favor, por favor – Camila implorou.

- E mais, é a Gurizada que vai tocar, rapaz!

- Então tá. Mas, sem confusões...


Aceitou, depois de muito esforço por parte dos camaradas. Mas as festividades já haviam começado há mais
de dois dias; a turma era extensa e Léo nunca fora muito disposto quando se trata de festas; aliás, nunca fora
da natureza de nenhum de sua família; não foi fácil persuadi-lo, naturalmente.

Ana, cônjuge de Léo, recém-formada em ciências contábeis, estava desempregada há sete meses, não se
portava com a mesma fidelidade que provinha do marido. Além do mais, lealdade e Ana são um paradoxo. Ela
nunca fora ajuizada. Anos antes de prestar vestibular e meritoriamente passar, residia numa modesta (menos,
digo) casa às margens de um lago, aonde anos depois viria a conhecer Léo. Ele não avisou a companheira sobre
a festa. Seria a primeira vez que ele esconderia algo durante os cinco anos de casados, que completara na
semana anterior. A aprazível relação dos dois estava tênue como a margarina posta no pão que Léo comera
antes de sair para entrega das correspondências pendentes.

- Não me espere para o jantar. Hei de ficar até tarde para entregar as demais cartas que restam, disse à
esposa.

Conquanto a amasse, Léo tinha pouca segurança em sua companheira. Todas as noites que o marido
passava no trabalho, ela saía para se encontrar com o irmão de Léo, Rafael. Como qualquer uma das noites
infielmente passadas, Ana teve relações sexuais com seu cunhado, às escuras. Ao remato, resolveram que
uma boa noite de bar e jogatina seria elementar para desagravar em suas consciências o impudente ato. O
que eles não cogitavam, era estarem na mesma Balada. Ana e Rafael encontravam-se no Bar, enquanto que
Léo gozava da festa na danceteria. A boate estava superlotada – Havia espaço suficiente para quem sabe,
seiscentos e noventa e uma pessoas. Não obstante aos sócios permitirem para lá de mil todas as noites. Há
mais ou menos dois meses não estava à disposição. Empolgado com a compleição dos amigos, ele resolveu ir
até o Bar, para pegar algumas bebidas.

- Vou pegar algumas bebidas pra galera.

- Isso. E vê se quando voltar bebe também. – Gracejou Jackson.

- Melhor não; o que será da cidade sem um carteiro?

- Está muito mudado, meu amigo. E não posso dizer que esta mudança em particular me agrada. – Eles riram
– Léo Seguiu.

Ana e Rafael estavam entrelaçados, aos beijos. Léo virou-se e se deparou com algo insonhável até aquele
miserável átimo. Efígie do inferno! O caos que se instaurara! Léo estava, agora, tomado por uma verdadeira
hipocondria das mais execráveis e vis cobiças que se pode arquitetar. Cabisbaixo, e visivelmente abatido,
seguiu rumo à sua casa, pois, mesmo com seu distúrbio, não era do seu feitio edificar caos, ainda mais sem
efeito algum de álcool (o que realmente o transformara). Chegando, foi à geladeira, e notou com uma garrafa
de Uísque. Exauriu cada gota de álcool que continha na garrafa, deitou-se no Sofá. Diante de um terror
latente, veio-lhe à mente um sussurro perturbador; subtendido e oculto nos confins de uma mente
perturbada: “mate-os, mate esses infelizes!”. Um murmúrio ululante. Presságio de uma mente que voltara à
penumbra. Ele não sabia de onde vinha aquela voz peculiar, mas julgou ser feminina. Que fazer? Horrorizar
como fez noutrora? Tão-só pensava nisto. Antes de chegar a um consenso, ponderou desistir voltar para
casa. A decisão que lhe ocorreu, mostrou ser tão mórbida quanto seu passado. Sua irrefreável belicosidade
despontou novamente.

Ele já havia padecido um violento acidente de carro, quando perdeu grande parte da memória. Seu passado
fora deveras triste. Tráficos, roubos, furtos. Vivia constantemente em manicômios e clínicas de
recuperação. Até o advento da aparição de Ana. A voz que ouvira, era de sua mãe, que havia assassinado
brutalmente por não ter uma quantia razoável de dinheiro. Para aquisição de drogas, decerto. Desta parte,
ele não aspira rememorar. Então, tornando homogêneo o efeito do álcool, mais alguma droga leve que havia
ingerido, pensou que o sussurro oculto que ouvira, na verdade era seu subconsciente, levando-o a fazer a
coisa certa: matar a esposa e o irmão. Antes de regressar à balada, conjecturou atraí-los para casa com o
pretexto mais pérfido possível, e findar suas vidas ali mesmo. Sua bipolaridade o afetava também, já que
cogitou tirar sua própria vida. Mas de que valeria, pensou. Nem mesmo a clemência de sua falecida mãe o
livraria deste destino. Regressou ao local, sustentando por uma mixórdia de lúgubres cobiças. Ana e Rafael
estavam, agora, numa parte reservada para casais, ao lado do bar. Léo os avistou. Apanhou a garrafa de uma
bebida qualquer, já enervado, aproximou-se dos dois e, de súbito, sem que Rafael percebesse, o apunhalou,
causando-lhe um corte letal. Os gritos quase inaudíveis, não se sobressaíam ante os ruídos sonoros que
envolviam o lugar. Os berros de Rafael não comoveram ou puseram medo em Léo, que não mostrava sequer
pena; a algazarra provocada pelos gritos do irmão causava terror em quem chegava sorrateiramente ao local.
Volitava pela opacidade da zona que estavam. Ação que destoou com Ana; antes, pediu que elucidasse os
motivos da dolente traição. O que ele ouvira não concernia com o que esperava; pior, o deixou mais tenso.

- Se revelou, finalmente! – Ainda rangendo os dentes, ela proferiu.

- Que fez? Por quê? Logo meu irmão? – Ainda sem compreender a totalidade daquilo tudo, Léo indagou.

- Teu irmão sempre foi mais homem que tu! Que é apenas um maluco em remissão; maldito o dia que me
casei contigo! Que pretende?

- Você é contadora. Faça as contas e me diga. – Disse, já frio e com ar de meticulosidade recém-adquirida.

- Não te entendo. Que faz aqui? Deveria estar entregando cartas! Maldito!

Agora, Ana coabitava a mesma raiva e desalento que vivia Léo. Enquanto ela proferia injúrias, ele ruminava
toda sua fúria. Talvez pela motivação mais que nefasta, tratou de considerar as piores variáveis possíveis.
Estarrecido e impermeável a qualquer conselho que viesse, partiu rumo à Ana, que, apesar de não equivaler
ao porte físico de Léo, continha alguma força para lutar contra o marido; resistiu enquanto clamava por ajuda;
mas o lugar ficava um pouco afastado dos demais. Quem se encontrava no bar, nada podia fazer, a não ser
chamar os seguranças, que ainda estavam longínquos. Diante de tamanha desvantagem, era questão de
tempo até ceder. Foi igualmente esfaqueada como o amante. Jackson chegou, mas já era tarde. Léo nem
aspirou ouvi-lo. Já virara um espectro do mal.

Perdido na multidão, sem saber o que fazer, sentou-se numa das cadeiras do bar e se pôs chorar. O edifício,
relativamente velho, não apresentava segurança suficiente para tal evento; pior, com míseros três seguranças.
Em meio ao motim que se formou, o vocalista da banda que agitava a boate, não tomou conhecimento do
acontecido (não percebeu, na verdade) e ascendeu um Sputnik (um tipo de sinalizador, bastante utilizado em
festas de réveillon). Eles sempre o faziam noutras baladas universitárias, mas aquela boate abrigava espumas
inflamáveis em toda parte (utilizada para isolamento acústico, foi recolocada a pedido dos integrantes). Logo
as chamas se alastraram. E o que era pra ser um cortês reencontro entre amigos, transformou-se numa
fatídica catástrofe.

- Salvem os equipamentos! – Gritava o vocalista. – Salvem!

- Sai daí, seu louco! Corra! - Alguém o alertou.


Pegou um extintor de incêndio que não funcionara como devia; o que exacerbava ainda mais as
irregularidades que contornava o local.

Os gritos de pânico tomaram conta da boate. As pessoas correram em direção ao pórtico de entrada e saída.
Era muita gente. Não era possível tantas saídas. Alguns seguranças que guardavam a saída obstruíram muitos
jovens. Talvez por julgarem ser uma briga que se generalizou. Grande parte morreu carbonizada, outra
esmagada e asfixiada.

Envolto numa súbita tristeza, deitou-se ao lado do Irmão e da esposa, e ali ficou. Justapostos a Léo, Ana e
Rafael permaneceram, mortos. Seu corpo doía. Carbonizava lentamente como sua metamorfose; morreu na
pele daquele que prometera ficar exilado; fora de sua rota. Seu outro ‘eu’, que permanecera por muito no seu
íntimo, trancafiado.

A tragédia fora noticiada em toda imprensa internacional. Aquela data entrara definitivamente para a
história (proeminente aos eventos que já ocorreram naquela urbe taciturna). Quinze de dezembro, a data que
hoje, quando recordada, é cingida por lúgubres veleidades acerca de Léo. Pais viram apenas as memórias
longínquas de seus filhos permanecerem, e deteriorarem-se conforme o tempo se esvanecia; jovens
universitários não puderam efetivar o sonho de se formarem; os colegas de Léo, que como qualquer outro
grupo, comemorara uma data especial. O prédio da boate foi adquirido por uma franquia de hotéis, que
arquitetaram uma nova filial. Alguns hospedes asseveram escutar os gritos de desesperança dos jovens. O
deplorar de Léo, as súplicas de remissão da esposa, e as desculpas de Rafael. Quem resistiu (escapou não seria
um termo digno de tamanha desgraça), tolera as dores e implicações colossais (no pior sentido da coisa; só
para estender) Filhos nascem desfigurados, às vezes até morrem no parto. Aquele parco município no Sul do
País jamais esquecerá o estopim desgraça, que revelou ser aquele dia. Um infortúnio que vai além das
compreensões rasas. Acentuou ainda mais a irresponsabilidade e a carência de respeito para com a vida.
Durante alguns meses, foram feitas várias investigações acerca do acontecido. Concluiu-se que a Boate estava
com as condições de funcionamento expiradas. O proselitismo clichê dos responsáveis foi facilmente aceito;
um ano depois, os responsáveis foram soltos e deleitam, impávidos, suas vidas.

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