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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 21.805 - MG (2007/0185304-2)

RELATOR : MINISTRO FELIX FISCHER


RECORRENTE : LUIZ FELIPE NEDER SILVA (PRESO)
ADVOGADO : FERNANDO COSTA OLIVEIRA MAGALHÃES E OUTRO(S)
RECORRIDO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

EMENTA

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.


ARTIGOS 33 E 35 DA LEI Nº 11.343/06, 1º DA LEI Nº 2.252/54, 303, 288, 121, § 2º, V,
C/C ART. 14, II, DO CP, 14 E 15 DA LEI Nº 10.826/03. AUSÊNCIA DE PROVAS DE
AUTORIA E MATERIALIDADE. EXCESSO DE PRAZO PARA O FIM DA
INSTRUÇÃO CRIMINAL. MATÉRIAS NÃO APRECIADAS PELA CORTE A
QUO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. PRISÃO EM FLAGRANTE. LIBERDADE
PROVISÓRIA. PROIBIÇÃO DECORRENTE DE TEXTO LEGAL E DE NORMA
CONSTITUCIONAL.
I - Se as alegações do recorrente referente a inexistência de provas da
materialidade e autoria dos delitos a ele imputados e o excesso de prazo para o fim da
instrução criminal não foram apreciadas em segundo grau de jurisdição, delas não se
conhecem sob pena de supressão de instância.
II - A proibição de concessão do benefício de liberdade provisória para os autores
do crime de tráfico ilícito de entorpecentes está prevista no art. 44 da Lei nº 11.343/06, que
é, por si, fundamento suficiente por se tratar de norma especial especificamente em
relação ao parágrafo único do art. 310, do CPP.
III - Além do mais, o art. 5º, XLIII, da Carta Magna, proibindo a concessão de
fiança, evidencia que a liberdade provisória pretendida não pode ser concedida.
IV - Precedentes do Pretório Excelso (AgReg no HC 85711-6/ES, 1ª Turma,
Rel. Ministro Sepúlveda Pertence; HC 86118-1/DF, 1ª Turma, Rel. Ministro Cezar
Peluso; HC 83468-0/ES, 1ª Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence; HC 82695-4/RJ, 2ª
Turma, Rel. Ministro Carlos Velloso).
V - "De outro lado, é certo que a L. 11.464/07 - em vigor desde 29.03.07 -
deu nova redação ao art. 2º, II, da L. 8.072/90, para excluir do dispositivo a
expressão “e liberdade provisória”. Ocorre que – sem prejuízo, em outra
oportunidade, do exame mais detido que a questão requer -, essa alteração legal não
resulta, necessariamente, na virada da jurisprudência predominante do Tribunal,
firme em que da “proibição da liberdade provisória nos processos por crimes
hediondos (...) não se subtrai a hipótese de não ocorrência no caso dos motivos
autorizadores da prisão preventiva” (v.g., HHCC 83.468, 1ª T., 11.9.03, Pertence ,
DJ 27.2.04; 82.695, 2ª T., 13.5.03, Velloso , DJ 6.6.03; 79.386, 2ª T., 5.10.99, Marco
Aurélio , DJ 4.8.00; 78.086, 1ª T., 11.12.98, Pertence , DJ 9.4.99). Nos precedentes,
com efeito, há ressalva expressa no sentido de que a proibição de liberdade
provisória decorre da própria “inafiançabilidade imposta pela Constituição” (CF,
art. 5º, XLIII)." (STF - HC 91550/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ
06/06/2007).
Recurso parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
conhecer parcialmente do recurso e, nessa parte, negar-lhe provimento. Os Srs. Ministros Laurita
Vaz, Arnaldo Esteves Lima e Jane Silva (Desembargadora convocada do TJ/MG) votaram com
o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho.

Brasília (DF), 27 de setembro de 2007. (Data do Julgamento).

MINISTRO FELIX FISCHER


Relator

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RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 21.805 - MG (2007/0185304-2)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Cuida-se de recurso ordinário


em habeas corpus interposto por LUIZ FELIPE NEDER SILVA, preso em flagrante e
denunciado como incurso nas sanções dos artigos 330, 288, 121, § 2º, V c/c 14, II, do CP, 14 e 15
da Lei nº 10.826/03, 33 e 35 da Lei nº 11.343/06, e 1º da Lei nº 2.252/54, atacando v. acórdão
prolatado pelo e. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, que denegou o writ ali
impetrado, mantida a custódia cautelar do recorrente.
Eis a ementa do v. julgado:

"HABEAS CORPUS - HOMICÍDIO QUALIFICADO,


FORMAÇÃO DE QUADRILHA, DESOBEDIÊNCIA, PORTE ILEGAL DE
MUNIÇÃO, DISPARO DE ARMA DE FOGO EM VIA PÚBLICA E TRÁFICO
DE ENTORPECENTES - PRISÃO PREVENTIVA - RÉU PRIMÁRIO E DE
BONS ANTECEDENTES - DECISÃO FUNDAMENTADA - GARANTIA DA
ORDEM PÚBLICA - DENEGAÇÃO. Toda e qualquer espécie de prisão,
antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, tem natureza
cautelar, o que significa dizer, deve estar devidamente comprovada a
necessidade de tal restrição da liberdade. Estando a prisão preventiva
devidamente fundamentada na garantia da ordem pública, é correta a
decisão que nega ao réu a liberdade provisória. A primariedade e os bons
antecedentes não podem servir de argumentos isolados para a obtenção da
liberdade provisória, quando a medida cautelar restritiva se impõe para a
garantia da ordem pública, como forma de resguardar a credibilidade da
sociedade na Justiça criminal. Ordem denegada" (fl. 142).

Aduz o recorrente que não há prova da mercancia de drogas, da existência da


arma utilizada, que o veículo utilizado para furar o bloqueio policial não era eficaz para execução
do crime de homicídio tentado, que não há qualquer unidade de desígnios para o crime de
formação de quadrilha, que transcorridos mais de 79 dias, ainda, não foi realizado seu
interrogatório. Acrescenta, por fim, que não há justa causa para prisão uma vez que é primário,
possui bons antecedentes, residência fixa e ausentes os requisitos autorizadores da custódia
cautelar.
Contra-razões às fls. 179/186.
A douta Subprocuradoria-Geral da República se manifestou pelo não
conhecimento da ordem (fls. 191/192).
É o relatório.

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RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 21.805 - MG (2007/0185304-2)

EMENTA

PROCESSUAL PENAL. RECURSO


ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ARTIGOS 33
E 35 DA LEI Nº 11.343/06, 1º DA LEI Nº 2.252/54, 303,
288, 121, § 2º, V, C/C ART. 14, II, DO CP, 14 E 15 DA
LEI Nº 10.826/03. AUSÊNCIA DE PROVAS DE
AUTORIA E MATERIALIDADE. EXCESSO DE
PRAZO PARA O FIM DA INSTRUÇÃO CRIMINAL.
MATÉRIAS NÃO APRECIADAS PELA CORTE A
QUO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. PRISÃO EM
FLAGRANTE. LIBERDADE PROVISÓRIA.
PROIBIÇÃO DECORRENTE DE TEXTO LEGAL E
DE NORMA CONSTITUCIONAL.
I - Se as alegações do recorrente referente a
inexistência de provas da materialidade e autoria dos
delitos a ele imputados e o excesso de prazo para o fim
da instrução criminal não foram apreciadas em segundo
grau de jurisdição, delas não se conhecem sob pena de
supressão de instância.
II - A proibição de concessão do benefício de
liberdade provisória para os autores do crime de tráfico
ilícito de entorpecentes está prevista no art. 44 da Lei nº
11.343/06, que é, por si, fundamento suficiente por se
tratar de norma especial especificamente em relação ao
parágrafo único do art. 310, do CPP.
III - Além do mais, o art. 5º, XLIII, da Carta
Magna, proibindo a concessão de fiança, evidencia que a
liberdade provisória pretendida não pode ser concedida.
IV - Precedentes do Pretório Excelso (AgReg
no HC 85711-6/ES, 1ª Turma, Rel. Ministro Sepúlveda
Pertence; HC 86118-1/DF, 1ª Turma, Rel. Ministro
Cezar Peluso; HC 83468-0/ES, 1ª Turma, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence; HC 82695-4/RJ, 2ª Turma, Rel.
Ministro Carlos Velloso).
V - "De outro lado, é certo que a L. 11.464/07 -
em vigor desde 29.03.07 - deu nova redação ao art.
2º, II, da L. 8.072/90, para excluir do dispositivo a
expressão “e liberdade provisória”. Ocorre que –
sem prejuízo, em outra oportunidade, do exame mais
detido que a questão requer -, essa alteração legal
não resulta, necessariamente, na virada da
jurisprudência predominante do Tribunal, firme em
que da “proibição da liberdade provisória nos
processos por crimes hediondos (...) não se subtrai a
hipótese de não ocorrência no caso dos motivos
autorizadores da prisão preventiva” (v.g., HHCC
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83.468, 1ª T., 11.9.03, Pertence , DJ 27.2.04; 82.695,
2ª T., 13.5.03, Velloso , DJ 6.6.03; 79.386, 2ª T.,
5.10.99, Marco Aurélio , DJ 4.8.00; 78.086, 1ª T.,
11.12.98, Pertence , DJ 9.4.99). Nos precedentes, com
efeito, há ressalva expressa no sentido de que a
proibição de liberdade provisória decorre da própria
“inafiançabilidade imposta pela Constituição” (CF,
art. 5º, XLIII)." (STF - HC 91550/SP, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, DJ 06/06/2007).
Recurso parcialmente conhecido e, nesta parte,
desprovido.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Sustenta o recorrente, em


suma, que não há provas suficientes da autoria e materialidade dos delitos, que transcorridos mais
de 79 dias, ainda, não foi realizado seu interrogatório, que falta de justa causa para a custódia
cautelar eis que é primário, com bons antecedentes, residência fixa e ausentes os requisitos
autorizadores da custódia cautelar.
De início, constato que as diversas alegações referentes a inexistência de provas
de autoria e materialidade dos delitos, que justificassem a prisão em flagrante do paciente, e o
excesso de prazo na prisão não foram examinadas pelo e. Tribunal a quo. Cumpre salientar que
tais questões, sob pena de supressão de instância, só poderiam ser conhecidas nesta Corte se
apreciadas em segundo grau de jurisdição. Nesse sentido, colho os seguintes precedentes desta
Corte:

"CRIMINAL. HC. FRAUDES POR MEIO DA INTERNET.


NULIDADE DO PROCESSO E NULIDADE DOS LAUDOS PERICIAIS.
QUESTÕES NÃO ANALISADAS PELO TRIBUNAL A QUO. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. NÃO CONHECIMENTO. PRISÃO PREVENTIVA. INDÍCIOS
SUFICIENTES DE MATERIALIDADE E AUTORIA. POSSIBILIDADE
CONCRETA DE REITERAÇÃO CRIMINOSA. NECESSIDADE DA
CUSTÓDIA DEMONSTRADA. PRESENÇA DOS REQUISITOS
AUTORIZADORES. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS.
IRRELEVÂNCIA. ORDEM DENEGADA.
I. Se as questões relativas à nulidade do processo a partir
das escutas telefônicas apresentadas como prova, bem como de nulidade
dos laudos periciais não foram objeto de decisão pelo Tribunal a quo, não
pode ser analisados por esta Corte, sob pena de indevida supressão de
instância.
II. Hipótese na qual o paciente foi denunciado pela suposta
prática dos crimes de furto qualificado, violação de sigilo bancário e

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formação de quadrilha, pois seria integrante de grupo hierarquicamente
organizado com o fim de praticar fraudes por meio da Internet, consistentes
na subtração de valores de contas bancárias, em detrimento de diversas
vítimas.
III. Os autos revelam a forma de atuação do paciente,
demonstrando indícios suficientes da materialidade e da autoria dos fatos,
mediante interceptações telefônicas e quebras de sigilo, bem como através
de documentos e do próprio computador apreendido.
IV. Não há ilegalidade na decretação da custódia cautelar do
paciente, tampouco no acórdão confirmatório da segregação, pois a
fundamentação encontra amparo nos termos do art. 312 do Código de
Processo Penal e na jurisprudência dominante.
V. A situação em que foram perpetrados os delitos imputados
ao réu enseja a possibilidade concreta de reiteração criminosa, tendo em
vista que o crime é praticado via computador, podendo ser cometido no
interior do próprio lar, bem como em diversos locais, sem alarde e de forma
ardilosa, indicando necessidade de manutenção da custódia cautelar.
Precedentes.
VI. Condições pessoais favoráveis do agente não são
garantidoras de eventual direito subjetivo à liberdade provisória, se a
manutenção da custódia encontra respaldo em outros elementos dos autos.
VII. Ordem parcialmente conhecida e denegada."
(HC 61512/RJ, 5ª Turma, Rel. Min. Gilson Dipp, DJU de
05/02/2007).
.
"HABEAS CORPUS . DIREITO PROCESSUAL PENAL.
TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PRISÃO EM FLAGRANTE. LIBERDADE
PROVISÓRIA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. NULIDADE DO FLAGRANTE.
INOCORRÊNCIA.
1. Não se conhece de habeas corpus cuja matéria não se
constituiu em objeto de decisão da Corte de Justiça Estadual, pena de
supressão de um dos graus de jurisdição.
2. Em nada compromete a flagrância do crime o fato da
apreensão de mais de 6 kg de cocaína ocorrer já na posse de quem a
recebera das mãos do transportador, sendo induvidosamente legal a prisão
de todos, mormente quando persiste a atualidade do fato, assegurada pela
presença contínua de todos os agentes do crime.
3. Ordem parcialmente conhecida e denegada."
(HC 54055/GO, 6ª Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido,
DJU de 05/02/2007).

"PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


ORDINÁRIO. ART. 157, § 2º, INCISOS I E II, E ART. 288, TODOS DO CP.
PRISÃO EM FLAGRANTE. FUNDAMENTOS. ORDEM ESTABELECIDA NO
ART. 304 DO CPP. MATÉRIAS NÃO APRECIADAS PELA CORTE A QUO.
SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. FLAGRANTE PRESUMIDO CONFIGURADO.
I - Se as alegações referentes à inobservância da ordem
estabelecida no art. 304 do CPP, quando da lavratura do auto de prisão,
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bem como a ausência de fundamentos para a custódia cautelar não foram
apreciadas em segundo grau de jurisdição, delas não se conhecem sob pena
de supressão de instância (Precedentes).
II - Não há que se falar em irregularidade da prisão em
flagrante, se os pacientes foram encontrados, logo depois da prática do
delito, com instrumentos e objetos do crime que os façam presumir autores
do delito. É o que se chama de flagrante presumido (art. 302, VI, CPP).
(Precedentes ).
Writ parcialmente conhecido e, nesta parte, denegado."
(HC 59171/PA, 5ª Turma, de minha relatoria, DJU de
05/02/2007).

Quanto ao segundo tópico, pedido de liberdade provisória sob alegação de que o


recorrente é primário, com bons antecedentes, e não estão presentes fundamentos adequados
para a custódia cautelar, a súplica não merece acolhida.
A questão no presente caso versa sobre a necessidade, ou não, de
fundamentação, ex vi parágrafo único, do art. 310, do CPP (prisão em flagrante), na hipótese
de negativa de liberdade provisória quando se tratar de crime hediondo ou equiparado. Afinal,
dentre os inúmeros crimes pelo qual o recorrente foi denunciado está elencado o tráfico ilícito de
entorpecentes e a tentativa de homicídio.
Revendo a posição até agora adotada nesta Corte nos últimos tempos, é de ser
seguida a ensinança exposta em reiterados acórdãos da Augusta Corte que, em síntese, dizem
que a proibição para concessão, exteriorizada em texto legal é, por si só, fundamento
suficiente. Não é necessário que se motive concretamente a negativa. A regra geral insculpida
no parágrafo único, do art. 310, do CPP, resta aí, afastada pelo contido na norma específica do
art. 44 da Lei nº 11.343/06.
Aliás, a própria exigência introduzida no parágrafo único, do art. 310, do CPP
(regra geral), é de difícil realização na prática, no dia a dia, sendo quase um exigência legal
inexeqüível. Despiciendo lembrar que a situação aventada no referido parágrafo único
dificilmente, ou quase nunca, possibilita que o juiz no início da persecutio criminis, tendo em
mãos somente o auto de prisão em flagrante, possa negar liberdade provisória com dados
concretos (uma vez que predomina o entendimento de que a gravidade em abstrato e, em
algumas vezes, até mesmo a gravidade em concreto, permita, como tal, a segregação cautelar).
Neste particular, é de destacado interesse jurídico o voto-condutor do e. Ministro Hamilton
Carvalhido, no HC 54.475/SP (julgado em 03/08/03 e confirmado pela douta 1ª Turma, do
Pretório Excelso, no HC 89.491-7/SP, julgado em 26/09/2006, Relatora a e. Ministra Carmen
Lúcia), in verbis:
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"A excepcionalidade da prisão cautelar, no sistema de direito positivo


pátrio, é necessária conseqüência da presunção de não culpabilidade, insculpida como
garantia individual na Constituição da República, somente se a admitindo nos casos legais
de sua necessidade, quando certas a autoria e a existência do crime (Código de Processo
Penal, artigo 312).
Tal necessidade, por certo, sem ofensa aos princípios regentes do Estado
Democrático e Social de Direito, pode ser presumida em lei ou na própria Constituição,
admitindo ou não prova em contrário, segundo se cuide de presunção juris tantum , como
nos casos de inafiançabilidade de que trata o artigo 323 do Código de Processo Penal, ou
de presunção iuris et de iure, como no caso do inciso II do artigo 2º da Lei dos Crimes
Hediondos.
A inafiançabilidade do delito é, pois, expressão legal, no sistema normativo
processual penal em vigor, de custódia cautelar de necessidade presumida, cuja
desconstituição, quando admitida, como o é nos casos de necessidade presumida juris
tantum , reclama prova efetiva da desnecessidade da medida, a demonstrar seguras a
ordem pública, a instrução criminal e a aplicação da lei penal, sendo desenganadamente
do réu o ônus de sua produção (Código de Processo Penal, artigo 310, parágrafo único).
Por certo, não oferecendo o auto de prisão em flagrante senão a notícia que
lhe é própria, vale dizer, do crime flagrante que determinou a prisão do agente, não se há
de exigir do juiz que demonstre a necessidade da preservação da constrição cautelar, até
porque presumido em lei.
Como no magistério de Weber Martins Batista, "Para ser mais exato, o juiz
não precisa verificar se a prisão é necessária, pois essa necessidade se presume juris
tantum : o que deve fazer é examinar se ela não é desnecessária, ou seja, se há prova em
contrário, mostrando que, no caso, inexiste o periculum in mora" (in Liberdade
Provisória, 2ª edição, página 74, Forense, Rio).
Daí por que a liberdade provisória de que cuida o artigo 310, parágrafo
único, do Código de Processo Penal, no caso, pois, de prisão em flagrante, está
subordinada à certeza da inocorrência de qualquer das hipóteses que autorizam a prisão
preventiva, decorrente dos elementos existentes nos autos ou de prova da parte onerada,
bastante para afastar a presunção legal de necessidade da custódia".

Sob outro prisma, a Augusta Corte tem concluído pela negativa da liberdade
provisória calcando a diretriz de tal entendimento, também, no art. 5º, inciso XLIII, da Carta
Magna. É que proibida constitucionalmente a concessão de fiança para crimes hediondos e
assemelhados (tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e terrorismo), inexiste razão
para que se possa questionar a liberdade provisória cuja proibição está exposta no art. 44 da Lei
nº 11.343/06. Por exemplo, a douta fundamentação no voto-condutor (Relator o e. Ministro
Sepúlveda Pertence) do HC 83.468-0/ES, da e. 1ª Turma do Pretório Excelso, verbis:

"A proibição legal de concessão da liberdade provisória seria inócua, se a


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afastasse o juízo da não ocorrência, no caso concreto, dos motivos autorizadores da prisão
preventiva: precisamente porque a inocorrência deles é uma das hipóteses de liberdade
provisória do preso em flagrante (CPrPen, art. 310, parág. único cf. L. 6416/77), o que a
L. 8072 a vedou, se se cuida de prisão em flagrante de crime hediondo.
De outro lado, a proibição da liberdade provisória, nessa hipótese, deriva
logicamente do preceito constitucional que impõe a inafiançabilidade das referidas
infrações penais: como acentuou, com respaldo na doutrina, o voto vencido, no Tribunal do
Espírito Santo, do il. Desemb. Sérgio Teixeira Gama, seria ilógico que, vedada pelo art. 5°,
XLIII, da Constituição, a liberdade provisória mediante fiança nos crimes hediondos, fosse
ela admissível nos casos legais liberdade provisória sem fiança. " (grifei).

Seguindo a referida linha de pensamento, tem-se no voto-condutor (Relator o e.


Ministro Joaquim Barbosa) do HC 86814-2/SP, da c. 2ª Turma, o seguinte:

"Inicialmente, destaco que o Supremo Tribunal Federal tem reconhecido a


plena aplicabilidade da vedação à concessão do benefício da liberdade provisória em
crimes hediondos ou equiparados, nos termos do inciso II do art. 2º da Lei 8.072/1990.
Com efeito, o dispositivo legal citado atende à previsão de inafiançabilidade
constante do inciso XLIII do art. 5º da Constituição federal. " (grifei).

No mesmo sentido, entre outros, os seguintes vv. arestos da c. Suprema Corte:


"EMENTA: 1. Agravo regimental: necessidade de
impugnação dos fundamentos da decisão agravada (RISTF, art. 317, § 1º).
2. Liberdade provisória: proibição do seu deferimento a preso em flagrante
por crime hediondo; legalidade da prisão do paciente afirmada pelo STF
desde o HC 83.468 (1ª T., 11.09.03, DJ 27.2.2004)."
(AgReg no HC 85711-6/ES, 1ª Turma, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, DJ de 03/06/2005, grifei).

"EMENTA: AÇÃO PENAL. Homicídio qualificado. Crime


hediondo. Prisão em flagrante. Liberdade provisória. Inadmissibilidade.
Infração penal inafiançável. HC indeferido. Inteligência do art. 5º, XLIII,
da CF, cc. art. 2º, II, das Lei nº 8.072/90 . Precedentes. Não se admite
liberdade provisória em caso de prisão em flagrante por homicídio
qualificado, tido por crime hediondo."
(HC 86118-1/DF, 1ª Turma, Rel. Min. Cezar Peluso, DJ de
14/10/2005, grifei).

"EMENTA: I. Habeas corpus: cabimento: decisão do STJ em


recurso especial. Em tese, admite-se a impetração de habeas corpus ao
Supremo Tribunal contra decisão do Superior Tribunal de Justiça, pelo
menos para rever as questões jurídicas, mesmo infraconstitucionais,
decididas contra o réu no julgamento de recurso especial: vertentes do
entendimento da Primeira Turma no HC 71097 (RTJ 162/612).
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II. Crime hediondo: prisão em flagrante proibição da
liberdade provisória: inteligência. Da proibição da liberdade provisória nos
processos por crimes hediondos - contida no art. 2º, II, da L 8072 e
decorrente, aliás, da inafiançabilidade imposta pela Constituição -, não se
subtrai a hipótese de não ocorrência no caso dos motivos autorizadores da
prisão preventiva."
(HC 83468/ES, 1ª Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ
de 27/02/2004).

"EMENTA: PROCESSUAL PENAL. PENAL. HABEAS


CORPUS. FLAGRANTE DELITO. PRONÚNCIA. CPP, ART. 408, § 2º. LEI
8.072/90 I. - Writ não conhecido quanto ao pedido de conversão da
custódia em prisão domiciliar, dado que tal questão não foi posta à
apreciação do Superior Tribunal de Justiça. II. - Impossibilidade de
concessão de liberdade provisória a réu que, preso em flagrante delito e
denunciado por crime hediondo, permanece preso durante todo o curso do
processo. III. - A circunstância de o réu ser primário e de bons antecedentes
não é o bastante para impedir a manutenção da sua prisão, quando da
pronúncia."
(HC 82695-4/RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de
06/06/2003).

Confira-se, ainda, a orientação do Exmo. Sr. Ministro Sepúlveda Pertence, no


r. decisum proferido no HC 91550/SP, publicado no DJU de 06/06/2007, verbis:

"(...)
De outro lado, é certo que a L. 11.464/07 - em vigor desde 29.03.07 - deu
nova redação ao art. 2º, II, da L. 8.072/90, para excluir do dispositivo a expressão “e
liberdade provisória”.
Ocorre que – sem prejuízo, em outra oportunidade, do exame mais detido
que a questão requer -, essa alteração legal não resulta, necessariamente, na virada da
jurisprudência predominante do Tribunal, firme em que da “proibição da liberdade
provisória nos processos por crimes hediondos (...) não se subtrai a hipótese de não
ocorrência no caso dos motivos autorizadores da prisão preventiva” (v.g., HHCC 83.468,
1ª T., 11.9.03, Pertence , DJ 27.2.04; 82.695, 2ª T., 13.5.03, Velloso , DJ 6.6.03; 79.386, 2ª
T., 5.10.99, Marco Aurélio , DJ 4.8.00; 78.086, 1ª T., 11.12.98, Pertence , DJ 9.4.99).
Nos precedentes, com efeito, há ressalva expressa no sentido de que a
proibição de liberdade provisória decorre da própria “inafiançabilidade imposta pela
Constituição” (CF, art. 5º, XLIII).
(...)".

Sobre o tema, colaciono os seguintes precedentes desta Corte:

"PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO


DE RECURSO ORDINÁRIO. ART. 33 DA LEI Nº 11.343/06. PRISÃO EM
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FLAGRANTE. LIBERDADE PROVISÓRIA. PROIBIÇÃO DECORRENTE DE
NORMA CONSTITUCIONAL.
I - A proibição de concessão do benefício de liberdade
provisória para os autores do crime de tráfico ilícito de entorpecentes está
prevista no art. 44 da Lei nº 11.343/06, que é, por si, fundamento suficiente
por se tratar de norma especial especificamente em relação ao parágrafo
único do art. 310, do CPP.
II - Além do mais, o art. 5º, XLIII, da Carta Magna, proibindo
a concessão de fiança, evidencia que a liberdade provisória pretendida não
pode ser concedida.
III - Precedentes do Pretório Excelso (AgReg no HC
85711-6/ES, 1ª Turma, Rel. Ministro Sepúlveda Pertence; HC 86814-2/SP,
2ª Turma, Rel. Min. Joaquim Barbosa; HC 86703-1/ES, 1ª Turma, Rel.
Ministro Sepúlveda Pertence; HC 89183-7/MS, 1ª Turma, Rel. Ministro
Sepúlveda Pertence; HC 86118-1/DF, 1ª Turma, Rel. Ministro Cezar Peluso;
HC 79386-0/AP, 2ª Turma, Rel. Ministro Maurício Corrêa; HC 83468-0/ES,
1ª Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence; HC 82695-4/RJ, 2ª Turma, Rel.
Ministro Carlos Velloso)
Habeas corpus denegado."
(HC 78.237/RS, 5ª Turma, de minha relatoria, DJU de
24/09/2007).

"CRIMINAL. HC. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PRISÃO


EM FLAGRANTE. LIBERDADE PROVISÓRIA INDEFERIDA. CRIME
HEDIONDO. VEDAÇÃO LEGAL. LEI ESPECIAL. INAFIANÇABILIDADE.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. ORDEM DENEGADA.
Hipótese em que o paciente foi preso em flagrante pela
suposta prática do crime de tráfico de entorpecentes, tendo sido indeferido
pelo Magistrado singular o benefício da liberdade provisória.
O entendimento anteriormente consolidado nesta Corte
orientava-se no sentido de que, ainda que se cuidasse de crime de natureza
hedionda, o indeferimento do benefício da liberdade provisória deveria
estar fulcrado em suficiente e adequada fundamentação, com base nos
requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal.
Revisão da jurisprudência em virtude de entendimento do
Supremo Tribunal Federal, sentido de que o disposto no art. 2º, inciso II, da
Lei dos Crimes Hediondos, por si só, constitui fundamento suficiente para o
indeferimento da liberdade provisória, sem a necessidade de explicitação de
fatos concretos que justifiquem a manutenção da custódia.
A proibição da liberdade provisória a acusados pela prática
de crimes hediondos deriva da inafiançabilidade dos delitos dessa natureza
preconizada pela Constituição Federal em seu art. 5º, inciso XLIII.
A superveniência da modificação trazida pela Lei
11.464/2007 não possibilitou a concessão da liberdade provisória aos réus
que respondem ação penal pela prática do crime de tráfico de
entorpecentes.
A Lei 11.343/2006 cuida de legislação especial, e contém
disposição expressa quanto à proibição do deferimento da liberdade
provisória nas hipóteses de tráfico de entorpecentes.
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Em se tratando de lei especial, não se mostra plausível a tese
de que tal dispositivo foi derrogado tacitamente pela Lei 11.464/2007.
Superveniência de sentença, tendo o réu sido condenado à pena de 12 anos
e 02 meses de reclusão, em regime inicialmente fechado, vedado o apelo em
liberdade por ter permanecido preso durante a instrução criminal.
Ordem denegada."
(HC 83.101/MG, 5ª Turma, Rel. Min. Gilson Dipp, DJU de
06/08/2007).

Ante o exposto, conheço parcialmente do recurso e, nesta parte, nego-lhe


provimento.
É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2007/0185304-2 RHC 21805 / MG


MATÉRIA CRIMINAL
Números Origem: 10000074548736 10000074548756 200701053571 693070611902 693070624525

EM MESA JULGADO: 27/09/2007

Relator
Exmo. Sr. Ministro FELIX FISCHER
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. ÁUREA MARIA ETELVINA N. LUSTOSA PIERRE
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : LUIZ FELIPE NEDER SILVA (PRESO)
ADVOGADO : FERNANDO COSTA OLIVEIRA MAGALHÃES E OUTRO(S)
RECORRIDO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

ASSUNTO: Penal - Crimes contra a Pessoa (art.121 a 154) - Crimes contra a vida - Homicídio ( art. 121 ) -
Tentado

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, conheceu parcialmente do recurso e, nessa parte, negou-lhe
provimento."
Os Srs. Ministros Laurita Vaz, Arnaldo Esteves Lima e Jane Silva (Desembargadora
convocada do TJ/MG) votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho.

Brasília, 27 de setembro de 2007

LAURO ROCHA REIS


Secretário

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